14/12/2006 – Escrito por Célia Schlithler, especialista em redes sociais e coordenadora da iniciativa de investimento social na comunidade do IDIS, o texto apresenta os desafios da relação entre investidores sociais e organizações sociais, apontando possíveis caminhos para melhorar o diálogo entre eles.
Com o advento do terceiro setor, as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) tiveram de aprender a elaborar outros tipos de proposta. O investimento social privado realizado por empresas, institutos e fundações, por meio de parcerias e financiamento de projetos, tem gerado inúmeras oportunidades de capacitação, ampliação de atendimento, adequação de instalações e melhorias de equipamentos.
É fácil constatar que esses investimentos resultaram em gestões mais profissionais e em expressivas mudanças na qualidade do trabalho realizado com os beneficiários em várias OSCs. No entanto, outras conseqüências precisam ser discutidas e analisadas. Hoje, as OSCs precisam canalizar energias e recursos para a gestão da implementação dos projetos aprovados e a elaboração de novas propostas. É preciso dar conta de reuniões internas e externas, leitura de textos e livros, participação em capacitações, elaboração de relatórios…
Toda parceria tem intenção de provocar mudanças, porém, toda mudança precisa ser administrada porque gera resistências. Sempre haverá membros da organização social que relutam em mudar, sejam eles dirigentes, funcionários, voluntários ou familiares dos beneficiários. Em muitos casos, a equipe precisa ser modificada, porque as mudanças na linha de trabalho demandam novas competências, habilidades e atitudes. As tensões internas são inevitáveis e, por conseguinte, o atendimento pode ficar comprometido. De fato, algumas vezes parece que o beneficiário acaba ficando quase esquecido em meio a tanta coisa pra fazer e gerir.
Em workshop promovido dia 17 de outubro pelo Centro de Competência Mercosul para a Responsabilidade Social Empresarial – da Câmara Brasil-Alemanha – com a participação de 11 organizações sociais (de atendimento direto ou não, como é o caso do IDIS), as experiências com a realização de projetos sociais, em parceria ou com o apoio de empresas, foram amplamente debatidas.
Em termos de ganhos provenientes das parcerias foram mencionados “aprendizados e trocas riquíssimos”, tais como:
- Fortalecimento organizacional, por meio de apoio à gestão, melhorias na infra-estrutura e divulgação da organização;
- Solidificação de programas e viabilização de estratégias;
- Desenvolvimento de novas metodologias sociais dissemináveis;
- Formação e desenvolvimento de redes e de comunidades;
- Aprendizado de negociação, relação profissional, planejamento, material adequado e funcional (documentos, relatórios, valorização de práticas).
Mas as dificuldades encontradas no relacionamento com os investidores também foram abordadas, destacando-se:
- Impessoalidade e burocracia;
- Excesso de demandas;
- Limitada visão do trabalho social;
- Pressão por resultados em curto prazo;
- Valorização dos resultados quantitativos em detrimento dos qualitativos;
- Falta de participação mais ativa no desenvolvimento do projeto;
- Falta de apoio para a gestão de mudanças;
- Exigência de auto-sustentabilidade;
- Impossibilidade de incluir no orçamento recursos para a gestão do projeto (reuniões, elaboração de relatórios, leituras, etc.);
- Ansiedades e expectativas (das empresas) em relação ao impacto dos projetos.
Os ganhos mencionados indicam que as parcerias das empresas com as OSCs já estão trazendo resultados muito consistentes. No entanto, as dificuldades advertem para a necessidade de se ampliar as oportunidades de diálogo entre financiadores e financiados, para que seu relacionamento amadureça. Como resultado desse amadurecimento, novas formas de parcerias podem ser estabelecidas para gerar o que é almejado por todos: impactos sociais significativos.
Esse diálogo pode acontecer de várias formas:
- Deixar claro os critérios que as empresas utilizarão na hora de escolher os projetos a serem financiados, e ser transparente em relação a que tipo de atividade receberá ou não recursos;
- Criar um processo de constante conversa entre o financiador e o financiado durante a implantação do projeto; e
- Estabelecer um fórum para a troca de experiências, que reúna diversos financiadores e organizações sociais apoiadas.