Publicado originalmente na revista Caritas, o artigo de Shanta Acharya apresenta uma macro visão sobre o papel do investimento socialmente responsável. Shanta é diretora da Initiative on Foundation and Endowment Asset Management da London Business School.
Definições e implementação
Quando nos referimos a IRS, diversas questões surgem com relação às definições e avaliação. O problema das definições – o que nós acreditamos ser ético ou socialmente responsável – é importante porque tais decisões são assuntos para diversas vertentes. Quando um pequeno grupo de trustees de uma organização social ou um grupo de indivíduos (assim como Quakers) concordam sobre o que é ético, ou sabem “qual é a coisa certa a ser feita”, eles também são solicitados para servir o seu grupo de influência sem o compromisso de obter um retorno. Para um grande grupo de investidores, o conceito por si só é frágil com vertentes cognitivas que podem criar armadilhas éticas. Diversos acordos e tratados, alguns internacionais, têm sido estabelecidos, mas o nível de implementação varia. Países desenvolvidos ainda têm que investir adequadamente no monitoramento de questões sobre o IRS. Em países em desenvolvimento, a má gestão e a corrupção freqüentemente resultam no desperdício dos recursos financeiros. A população pobre ao redor do globo não tem participado da criação da riqueza. Ao contrário, a degradação ambiental, a decadência dos serviços públicos e bem-estar social – em muitos casos a inexistência destes serviços – somado à ausência de oportunidades tem afetado a confiança sobre a eficácia do mercado capital global. A história recente tem nos ensinado que a liberalização do mercado pode falhar dramaticamente se o governo responsável, a solidez do mercado financeiro e o papel da lei estão ausentes. Assim que examinamos nosso mundo no século 21, é uma triste realidade que um terço da população ainda viva abaixo da linha de pobreza.
Measurement e valor
Investidores reconhecem a urgente necessidade por uma nova arquitetura ética que se iguale ao novo sistema financeiro global, mas reconhecem a inexistência de um mecanismo eficaz para a implementação e monitoramento. E este é o segundo e mais prejudicial problema: o que não pode ser medido não pode ser gerenciado. A razão pela qual um banqueiro investidor recebe milhões é, simplesmente, devido a sua habilidade para gerar receita para a firma que parece ser mensurável, apesar de que o ponto cego de uma avaliação a curto-prazo tem resultado em erros maciços de julgamento, como a crise a crise sub-prime. Tanto a estrutura de compensação lucrativa relativa na indústria financeira quanto os profissionais exercem influência para agir de maneira não-ética e atrai pessoas com essas tendências de comportamento para auto selecioná-las para entrar nesta indústria. Enquanto uns não podem legislar contra a ganância ou estupidez, nós podemos coletivamente influenciar políticas públicas que não exigem tais comportamentos. Professores, doutores e enfermeiras, entre outros profissionais, têm trabalhado sem expectativa de obter um bônus; mas nós não temos problema em pagar por um gerente de hedg fund 2% a 3% de taxas anuais e 20% a 30% do resultado. Recompensar as pessoas pela sua capacidade de gerar riqueza é significativo; mas recompensar os diretores e presidentes por falhar ou por fazerem o melhor em seus trabalhos é, em minha opinião, um suicídio financeiro. Além de termos sido desapontados pos economistas, acadêmicos, especialistas em investimentos que têm dedicado tempo e dinheiro para desenvolver diferentes estratégias de comércio, nós também não sabemos a melhor maneira de mensurar a contribuição que os professores, enfermeiras, policiais ou bombeiros podem trazer para a sociedade. Nem mesmo sabemos como mensurar uma “boa” empresa. A ausência de informações relevantes representa uma significativa barreira para a nossa habilidade para valorar as coisas. O Produto Interno Bruto (PIB), a mais visível estatística econômica, é a soma das transações econômicas. Mas não é reflexo da saúde financeira, bem-estar social ou questões ambientais. Enquanto alguns países estão produzindo “contas satélites”, medindo o trabalho da casa, o trabalho social e o impacto das atividades no meio ambiente, as evidências são pequenas de que essas estatísticas estão exercendo alguma influência nas políticas públicas. No nível micro, a lista da maioria das folhas do balanço patrimonial destes pontos cegos é impressionante: eles raramente incluem o valor da marca ou a contabilidade para os recursos intangíveis relacionados a pesquisa e desenvolvimento e ao capital intelectual e, certamente, nunca capitalizaram o valor para os recursos humanos ou para o valor do empreendimento. Relatórios anuais não são suficientes como justificativa para os stakeholders que apóiam a sustentabilidade das empresas a longo prazo como uma entidade econômica e, assim, deixa de revelar a verdadeira fonte do valor da corporação. Transpor a lacuna entre a avaliação das questões sociais e ambientais da análise financeira no processo de investimento é o desafio que os analistas e investidores encaram atualmente. Isto não é para sugerir que pode ser feito. Ao contrário, eu encorajaria investidores “responsáveis” para investir no que eles acreditam: um mercado eficiente depende do crescimento do ativo. Investidores “convictos”, como os gerentes de hedge funds altamente capacitados. E dessa maneira, além de provocar a transformação das atividades de investimento ético em um compromisso sério, também envolverá uma melhor compreensão sobre o que cada um está “engajado”. Como Warren Buffet apontou, nunca invista em algo em que você não tem compreensão. Os investidores reconhecem que há um dividendo da governança corporativa anexa às corporações; eles usualmente comandam um mercado superior de avaliação, têm acesso mais barato ao capital e benefícios de uma base forte de acionistas. O ativismo dos acionistas está se tornando um importante caminho para influenciar as empresas a abordar as questões sociais e de políticas públicas. Desde 2000, fundos de pensão ocupacionais no Reino Unido têm sido responsabilizados pelas suas políticas de ética e de votação assim como pela performance de seus fundos financeiros. A legislação não retira os requisitos para que os trustees tomem decisões para alcançar os melhores interesses para o plano dos beneficiários. A lei endossa a primazia para preservar os interesses financeiros dos beneficiários e as cortes consideram que os trustees das corporações estão sujeitos aos princípios da lei de investimento.
Investimento ético e IRS
Se os investidores optam por marginalizar as corporações indesejadas (como neste caso, por exemplo, com os Comissionários da Igreja que impedem o investimento em companhias cujas receitas são derivadas de negócios associados ao comércio de armas, álcool, tabaco ou jogos) ou engajar ativamente na gestão de companhias que possuem ações em (como é o caso de diversos fundos administrados pelo grupo Hermés, por exemplo), não há razão para não engajar-se ativamente no processo de investimento. Enquanto IRSou investimentos éticos precisam ser diferenciados do “investimento social”, que não é um investimento no sentido financeiro do termo. O Investimento Ético é um investimento no sentido financeiro, e os trustees são obrigados pela lei a atuar adequadamente. O documento de governança de uma organização social geralmente impõe restrições éticas no escopo do poder de investimento da organização. Tais restrições devem, certamente, ser observadas pelos trustees. Usualmente, serão os próprios trustees que decidirão adotar uma política de investimento ética. Ao adotar tal política, a Comissão de Caridade estipulará: “Eles (trustees) precisam ter consciência dos princípios reais que o seu poder de investimento deve ser utilizado para avançar as propostas do conselho e estas propostas serão melhor atendidas buscando o máximo retorno consistente com a prudência comercial. Como o juiz coloca … “A maioria das organizações sociais precisam de dinheiro; e o quanto mais estiver disponível, mais os trustees buscarão realizar”. Uma política de investimento ético é esperada a ser inteiramente consistente com o desejo do investimento de buscar os melhores retornos. Há um ponto de vista que tem crescido de que as companhias que atuam de uma maneira socialmente responsável tem mais chances de oferecer o melhor balanço a longo-prazo entre o risco e o retorno do investimento. Os trustees são livres para adotar qualquer política de investimento ético que eles acreditem que irá resultar em um melhor equilíbrio entre o risco e a recompensa pelo seu trabalho filantrópico. Assim como qualquer outra estratégia de investimento, eles devem ter cuidado ao desempenhar as suas funções; particularmente, eles devem considerar a necessidade em diversificar e devem pedir conselhos quando necessário. Os investidores do setor de filantropia desejam investir os seus recursos de uma maneira responsável refletindo os seus objetivos em um investimento a longo-prazo. Ainda que a insistência em “ser bom” com a garantia de um retorno financeiro pode desnecessariamente confundir a questão. Assim como os hedges funds oferecem riscos atrelados ao retorno, investidores éticos devem ter como objetivo alcançar os aspectos intangíveis e de longo-prazo de serem investidores responsáveis. O risco para um investidor responsável é não ter a coragem da sua convicção ética em desenvolver uma estratégia apropriada de investimento, e não se satisfazer com um baixo retorno se requisitado como o verdadeiro custo para conduzir um negócio de maneira ética.