O coordenador no Brasil da Aliança Estratégica The Resource Alliance/Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), Rodrigo Alvarez, demonstra alguns dos caminhos a serem percorridos para se aumentar a disponibilidade de recursos para o investimento social no país. No artigo, ele explica como a aliança entre a The Resource Alliance e o IDIS chega para potencializar a mudança. O especialista possui 14 anos de carreira no setor.
Como aumentar o volume de doações no Brasil e atuar estrategicamente para gerar impacto profundo e contínuo no setor social? Para tentar atender a essa demanda iminente e responder à questão, o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social e a The Resource Alliance estabeleceram uma aliança no país.
Há poucas estatísticas que indiquem a quantidade de recursos que os investidores sociais brasileiros aplicam em projetos socioambientais. De acordo com o cruzamento de dados de pesquisas da Universidade John Hopkins e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), empresas e indivíduos doaram ao chamado terceiro setor R$ 7 bilhões, o que representa meros 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a quantidade de riqueza produzida.
Na América Latina, o nível de aplicação comparado à riqueza local chega a 0,4%. No mundo, é de 0,8%. Pela sua importância no cenário econômico latino-americano e mundial, o Brasil tem alto potencial.
Se analisarmos a evolução das doações, vemos o abismo entre a quantidade de recursos aplicados por empresas e por indivíduos. Ainda segundo as mesmas fontes de dados, as empresas, em 1995, investiram R$ 1 bilhão, enquanto em 2007 o valor saltou para R$ 6 bilhões – aumento de 16% ao ano. Entre os indivíduos, manteve-se sempre no mesmo patamar: R$ 1 bilhão anual.
Uma possível explicação seria o fato de a elite brasileira, detentora em sua maioria de grupos empresariais familiares, canalizarem seus investimentos sociais pelas suas corporações. O cenário legal do país também não é muito favorável à prática: nos Estados Unidos, as heranças direcionadas a fundações familiares ou individuais não pagam imposto sobre a transmissão – se o direcionamento for parental, a taxação é de 50%. Isso talvez ajude a explicar a existência de 75 mil fundações norte-americanas, sendo apenas 3,3% delas corporativas e 90% classificadas como independentes, segundo a organização norte-americana Foundation Center.
No Brasil, o cenário é diferente:
- De 10% a 20% do total de doações utiliza incentivo fiscal.
- 75% das doações deduzidas do imposto de renda direcionam-se à cultura, por meio de lei de incentivo.
- Se os indivíduos usufruíssem plenamente dos incentivos, de acordo com informações da Rceita Federal, estima-se que os recursos vindos desse público passariam de R$ 1 bilhão para R$ 3,9 bilhões por ano.
Assim como o perfil do filantropo evoluiu nas últimas duas décadas – e tende a se aprimorar ainda mais enquanto investidor social –, as organizações da sociedade civil (OSCs) precisam mudar antigas práticas e paradigmas para se perpetuar na nova realidade mundial.
Segundo Mapeamento das Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos (Fasfil), de 2002, das 276 mil OSCs existentes no Brasil, 62% nasceram durantes os anos 90, sendo financiadas prioritariamente pelo Estado, por empresas e pela cooperação internacional.
A partir de 2000, acontece a reviravolta: as grandes empresas passam a ser cada vez mais investidoras sociais privadas, ou seja, encaram a doação como elemento estratégico para o seu negócio e se preocupam cada vez mais em planejar, avaliar impacto e focar resultados. As organizações deixam de receber meras doações e patrocínios e ingressam como parceiras e prestadoras de serviço, executoras de um planejamento pré-determinado.
Os governos, por sua vez, passaram a ser cada vez mais seletivos, exigindo capacidades e habilidades complexas dessas instituições enquanto prestadoras de serviço. A cooperação internacional dá cada vez mais sinais de que diminuirá sua atuação no país, buscando nações mais prioritárias para investimento, como as da África.
Tudo isso leva a crer que uma nova onda de desenvolvimento do terceiro setor se inicia na segunda década do século XXI e, certamente as OSCs terão que reinventar – ou começar a inventar – a forma como mobilizam os recursos para suas causas.
De olho nos fatos, o IDIS e a Resource Alliance direcionam seus esforços para colaborar com a profissionalização da captação de recursos, aliando as necessidades do investidor social às capacidades de atendimento e execução das instituições. Três temas são prioritários: capacitação das OSCs, com oferecimento de cursos de curta e longa duração; fomento ao desenvolvimento de pesquisas sistemáticas; prestação de consultorias; e produção e disseminação de conteúdo sobre o tema.
Onde avançar
Das 276 mil organizações socioambientais brasileiras, apenas 2% possuem mais de 50 funcionários e 77% não remuneram seus profissionais. A Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), por exemplo, conta com 500 associados – a maioria trabalha parcialmente na captação de recursos ou está iniciando na área. AAssociation of Fundraising Professionals (AFP), similar norte-americana, possui cerca de 35 mil filiados.
Na questão da plataforma de intermediários, precisa-se avançar no desenvolvimento de um mercado de fornecedores de serviços para o setor social. Por exemplo, desenvolvimento de consultorias especializadas, formação de profissionais de comunicação e criação de inteligência em marketing direto para potencializar as doações são demandas urgentes e reais para se constituir um mercado ainda incipiente.
Outro ponto é atingir as pessoas em larga escala. Doadores individuais representam de 70% a 80% das doações para o terceiro setor em diversos países. No Brasil, esse montante não chega a 15%. É possível contar pouco mais de 20 organizações brasileiras realizando campanhas de massa arrecadação de recursos. Mais uma vez, é a capacitação dos profissionais de captação que pode dar início ao fomento desse mercado.
Por esses motivos, nosso foco está em fortalecer a capacidade das instituições como estratégia prioritária e central da parceria. Acreditamos haver um tremendo potencial a ser aproveitado. E cremos que profissionais de mobilização de recursos são os agentes estratégicos capazes de fazer a diferença.