Jogo de dinheiro escondido vira febre nos EUA, mas está longe de ser investimento social

21 de outubro de 2014

Parece cena de ficção. Num dos municípios mais populosos da Califórnia, São Francisco, uma pessoa esconde dezenas de pacotes de dinheiro com de US$ 20 a US$ 200 e dá pistas do “tesouro” por meio do Twitter. Centenas de internautas saem correndo por ruas e parques, seguindo as dicas postadas na rede social.

Foi assim que começou uma das febres recentes nos Estados Unidos, o @HiddenCash, que já tem mais de 700 mil seguidores. O autor da ideia, logo chamado de “filantropo anônimo” por parte da mídia norte-americana e europeia, repetiu a iniciativa em outras cidades: Sacramento (também na Califórnia), Los Angeles, Nova York, Cidade do México, Londres, Madri.

Sua identidade foi revelada em junho. Trata-se de Jason Buzi, um empresário do setor imobiliário. Durante suas manifestações, anônimas ou não, ele fez diferentes tipos de declarações: já classificou o @HiddenCash como apenas um jogo divertido, como algo que “não substitui o investimento social privado” e como um movimento para estimular outros ricos a fazerem o mesmo. Na página na rede social, a ideia é oficialmente autodenominada “uma experiência social anônima em prol do bem”.

“Retribuir é pelo menos tão recompensador quanto fazer um bom investimento, receber grandes pagamentos ou fazer muito dinheiro”, disse Buzi em entrevista à CNN. Em outro momento da conversa, afirmou: “não tem nada de movimento político, não tem nada de movimento religioso, não tem nada de movimento empresarial. O movimento é distribuir atos de bondade e pôr um sorriso no rosto das pessoas”.

Ainda que a iniciativa tenha sido chamada várias vezes de filantropia anônima, está claro que não se trata disso. “Deixar quantias relativamente pequenas de dinheiro para pessoas aleatórias (que estão no Twitter com tempo de sobra) pode não ser classificado como ‘retribuir’ na avaliação de todos”, escreve a colunista Susan Berfield, da Bloomberg Businessweek. Ela cita, por exemplo, que as pessoas postam no Twitter que gastam o dinheiro com ingressos para jogo de beisebol, pizza com colegas de trabalho ou uma noite num bar.

O professor Richard Marker, da Universidade de Nova York, resumiu bem a questão, explicando que a filantropia envolve três estágios: compaixão, estratégia (em que se pergunta: está dando certo?) e sistematização (em que se pergunta: minha ação está impactando todo o contexto do problema?). “O @HiddenCash está apenas no primeiro estágio”, diz Marker.

 

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