O 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), destacou justamente a face mais arrojada do investimento social privado no Brasil e no mundo, sem deixar de lado a importância crucial que as histórias inspiradoras têm para o setor. O evento, cujo tema foi “Inovação e impacto do investimento social privado”, aconteceu em São Paulo, em 6 de novembro, e reuniu alguns dos maiores nomes da filantropia brasileira, além de importantes palestrantes estrangeiros.
Durante as boas-vindas, a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, falou sobre a importância da criatividade (um ato individual que exige imaginação ) e da inovação (algo que é coletivo e demanda trabalho). “A programação foi montada para inspirar reflexão e transformação. Com isso em mente, eu convido todos vocês a pensarem fora da caixa nesta tarde”, diz Paula. A presidente do GPF, Jane Wales, relembrou o começo do fórum no Brasil e destacou a qualidade do evento, dos palestrantes e dos participantes: “O desenvolvimento do Brasil é rápido, mas não inclusivo. O que faz este grupo memorável é que vocês todos compartilham o comprometimento ao desenvolvimento inclusive neste país maravilhoso”.
A mesa “Investimento social familiar” trouxe para o centro do palco as motivações de duas das famílias mais socialmente ativas do país. Beatriz Gerdau Johannpeter e Jorge Gerdau Johannpeter contaram a história do Instituto Gerdau. “O trabalho social é um legado em nossa família, que já está na quinta geração. A criação do instituto foi um marco para garantir a perpetuação de nossos valores”, disse Beatriz, que contou que decidiu seguir pelo trabalho social inspirada pelos problemas de saúde de seu filho.
Na mesma mesa, Sandra Regina Mutarelli Setúbal e José Luiz Egydio Setúbal falaram sobre o trabalho da Fundação José Luiz Egydio Setúbal. “Na nossa família, o investimento social é central. Eu poderia ter participado tanto das ações do Itaú quanto de meus parentes, mas meus irmãos trabalham com educação, e eu queria abordar o tema da saúde”, contou Setúbal, que criou o Instituto Pensi, para pesquisas sobre pediatria.
A programação foi intensa e diversificada. Ao longo do dia, a mesa “Investimento social privado e inovação na Saúde” reuniu a diretora executiva do The End Fund, Ellen Agler, a diretora da Fundação AbbVie, Verónica Arroyave, e o secretário adjunto de Estado da Saúde de São Paulo, Wilson Modesto Pollara, para discutir o papel do setor social privado no setor, como o tratamento de doenças negligenciáveis e precariedade do atendimento hospitalar.
A sessão “Licença social para operar: o impacto do investimento social privado” abordou o tema do Investimento Social Privado na comunidade, uma grande tendência do setor nacional. O diretor do Instituto C&A, Paulo Castro, mediou a mesa, que contou com a gerente do Instituto Holcim, Juliana Cassilha Andrigueto, a diretora executiva do Instituto Coca-Cola, Daniela Redondo, e a diretora de sustentabilidade Juliana de Lavor Lopes, da Amaggi, grupo agroindustrial que criou a Fundação André e Lúcia Maggi.
A inovação também deu o tom da mesa “O papel da tecnologia na ampliação do impacto do investimento social”, mediada pela diretora executiva do Wings, Helena Monteiro. O diretor executivo do Instituto Arapyaú, Marcelo Furtado, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto, e o presidente da Fundação Banco do Brasil, José Caetano de Andrade Minchillo, explicaram como o uso da tecnologia impacta o trabalho de suas organizações.
A plenária “Arranjos inovadores para o desenvolvimento sustentável”, capitaneada pela associada sênior para a filantropia global na Rockefeller Philanthropy Advisors, Heather Grady, focou no papel que o investimento social privado terá na agenda mundial pós-2015, quando terminam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – série de metas que os países da ONU se comprometeram a atingir. Participaram da discussão a representante no Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Daniela Carrera, o diretor do Instituto Votorantim, Cloves Carvalho, e o chefe do grupo de Inovações e Alianças para o Desenvolvimento do Pnud, Marcos Neto.
Na hora do almoço, os participantes se dividiram em catorze mesas temáticas, conhecendo mais sobre diferentes assuntos relacionados ao investimento social privado.
Logo em seguida, houve um dos momentos mais emocionantes do fórum aconteceu durante a sessão “Em conversa com…”. O primeiro convidado a falar sobre seu trabalho foi o músico Peter Buffet, filho do filantropo bilionário Warren Buffet e copresidente da NoVo Foundation, que trabalha com direitos e meninas e mulheres. Entrevistado por Helena Monteiro, Peter Buffet disse que “a filantropia é uma maneira de ter um propósito na vida para acordar todos os dias”. Ao mesmo tempo, “o melhor mundo seria aquele em que todos tivessem o suficiente e a filantropia não fosse mais necessária”, comentou ele, cuja organização recebeu US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em ações beneficentes.
Na segunda rodada de conversas, Regina Helena Velloso, presidente voluntária do conselho de administração da AACD, e a norte-americana Swanee Hunt, presidente da Hunt Alternatives e criadora do Women Moving Millions contaram como ambas se aproximaram do investimento social privado. Enquanto o pai de Regina era engajado e transmitiu a ela o vírus da solidariedade (“quando era mais nova, meu pai já atuava na AACD e me transmitiu o cargo na entidade como uma das suas maiores heranças”), Hunt veio de uma família humilde que enriqueceu no ramo agrícola e contou que seu pai não valorizava o trabalho solidário. Sua vida mudou quando um de seus irmãos foi diagnosticado como esquizofrênico e sofreu lobotomia, o que a fez trabalhar com doentes mentais. “Ouço muitas coisas sobre investimento de impacto, mas não adianta fazer as coisas se não for visitar os locais. Tem de estar perto das pessoas e olhá-las no olho. A filantropia envolve principalmente amor ao outro, não dinheiro”, disse Hunt, arrancando aplausos da plateia.
Para finalizar, o professor Lester Salamon, da Johns Hopkins, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre um modelo chamado “philanthropication through privatization”, que teria potencial de canalizar bilhões de dólares para a filantropia. Trata-se da constituição de fundos patrimoniais com parte dos recursos que o Estado recebe pela venda de patrimônio ou concessão de serviços ao setor privado. “Mapeamos 539 casos pelo mundo todo, que garantiram bens num valor total de U$ 139 bilhões para o setor social privado”, disse Salamon. Para comentar o assunto, estiveram presentes o economista brasileiro José Guimar
Esse é o terceiro Brazilian Philanthropy Forum. Segundo Paula Fabiani, a iniciativa, que possui apoio financeiro do Rockefeller Philanthropy Advisors, “tem se consolidado com um importante espaço de discussão e um passo importante para a criação de uma rede de filantropos no país”.