Os impactos que a pandemia provocou no mundo promoveram transformações em diversas áreas, entre elas a filantropia. O debate volta-se agora a buscar oportunidades que possam definir um horizonte melhor para o setor. Neste painel, reunimos lideranças globais para compartilharem suas perspectivas.
“Temos discutido vários temas relacionados às mudanças climáticas, às questões econômicas, à turbulência social. Nada voltará a ser como antes. Os hábitos da sociedade mudaram, e podemos pensar nisso como uma oportunidade ou um problema”, ponderou Philip Yun, presidente e CEO do World Affairs e do Global Philanthropy Forum. Ele lembrou que tudo está se acelerando – não apenas na área tecnológica – e esse crescimento exponencial continuará.
Para Yun, nesse processo é importante dar atenção às mudanças climáticas com urgência porque, acredita, “em dez ou quinze anos talvez não tenhamos mais chance de consertar o que é preciso em relação ao clima”. Por isso, considera esse talvez o maior problema a enfrentar, junto com um aspecto interno que também coloca como uma ameaça: a ansiedade, ampliada pela falta de confiança, de certezas e da polarização política. “Vejo o importante papel da filantropia, para a intersecção do governo com o setor privado, onde alcançaremos avanços. Precisamos trabalhar em conjunto, porque só assim conseguiremos encontrar respostas e acabar com as desigualdades”.
Apesar dos grandes desafios, Yun diz-se otimista, porque vê uma mudança de paradigma num novo sentido. “Nos últimos 50 anos deixamos de nos preocupar tanto com os outros e pensamos em nós mesmos de maneira egoísta. Os mais jovens estão mudando, e isso vai virar; vão pensar na comunidade, no grupo, no todo, e as coisas vão evoluir dessa forma”.
Michael Mapstone, diretor de Relações Externas e Engajamento Global da Charities Aid Foundation (CAF), também aponta as mudanças aceleradas como uma característica atual. Além de destacar toda a ajuda oferecida durante a pandemia, extrapolando os limites que existiam até então, cita como relevante mudança que a fase trouxe a atenção à transparência dos dados e à prestação de contas, além da conscientização sobre a importância de uma boa estrutura que possa garantir respostas mais ágeis. “A pandemia trouxe uma visão maior sobre as desigualdades e injustiças sociais, além de novos modelos de doação. Vamos ver como avançamos e onde chegaremos com isso”. Para ele, o desafio é fazer com que as conquistas se mantenham.
Mapstone situa como prioridade a relação entre os filantropos e o governo, que deve avançar de maneira positiva e construtiva. “O setor público está olhando para o setor filantrópico com novos olhos, como colaboradores. Será um diálogo muito importante entre esses atores, que poderá produzir bons resultados. Devemos também pensar nos incentivos e como o governo poderá apoiar o setor filantrópico”. Ele acha bastante positivo o fortalecimento da estrutura filantrópica nos últimos meses e reforça que com mais investimento em infraestrutura, haverá mais inovação.
Para Matthew Bishop, autor do livro Philanthrocapitalism, os filantropos podem ter um papel importante, de protagonismo, para mudar as coisas para melhor. “Temos a mudança de paradigma em relação ao capitalismo, uma oportunidade incrível de parcerias e coalizões promissoras; precisamos encontrar uma maneira de controlar e vencer a revolução digital, unir o mundo através dela, e não separar mais”, avalia. Ele pontua que a tecnologia pode ser a força do bem, promovendo mudanças maravilhosas. “Precisamos ter a coragem de assumir nosso papel e aproveitar a oportunidade; encontrar exemplos que nos inspirem e aprender com os erros do passado”. Ele apresentou o movimento global do qual faz parte, o Catalyst 2030 e que já começa a ser gestado no Brasil. Destacou que colaboração será a palavra de ordem para o atingimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
A diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, chamou atenção para a necessidade de dar atenção às mudanças climáticas, que não podem esperar. “Temos que agir em todos os setores; há tantas coisas novas surgindo, tantas incertezas”. Apesar das dificuldades, sente-se esperançosa e acredita que o futuro será promissor. “A raça humana já se mostrou bastante capaz de se adaptar e encontrar soluções para os desafios”.
Assista aqui ao painel completo:
Assista aqui a versão traduzida: https://youtu.be/wh0i6Fja2Ig
O Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais é realizado pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social com o Global Philanthropy Forum. São parceiros ouro desta edição Fundação José Luiz Egydio Setubal e Santander, e parceiros bronze BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, BNP Paribas Asset Management, Bradesco Private Bank, Instituto ACP, Mattos Filho Advogados e Movimento Bem Maior.