Filantropia luta por um mundo em que ela não seja necessária, diz Peter Buffet

26 de novembro de 2014

Filho do bilionário Warren Buffet, um dos maiores filantropos do mundo, Peter Buffet tornou-se ele mesmo um grande investidor na área ao receber US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em causas sociais. Com a experiência de sua própria atuação, e da atuação de seus familiares, ele sugere que a filantropia se assenta sobre um paradoxo: trabalha para melhorar o mundo, mas “o melhor mundo seria aquele no qual a filantropia não fosse necessária”, disse ele durante evento promovido pelo IDIS em São Paulo.

O norte-americano, presidente da NoVo Foundation, foi um dos participantes da mesa “Em conversa com…”, uma espécie de bate-papo com investidores sociais durante o 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), que aconteceu em 6 de novembro.

Em videoconferência com a diretora-executiva da Worldwide Initiatives for Grantmaking Support (Wings), Helena Monteiro, Buffet afirmou que a ação social “dá um propósito à vida” e que, mesmo que o US$ 1 bilhão doado por seu pai não tivesse obrigatoriamente de ir para a filantropia, alocaria para essa área mesmo assim. “Eu teria feito a mesma coisa, tenho sorte de ter dinheiro e sinto que não preciso de mais”.

Ainda assim, reforçou: “o melhor seria se nada disso existisse. Quero um mundo em que eu não tenha de estar nessa posição de investidor social, e é preciso se lembrar disso”.

O empresário também mostrou uma perspectiva pouco comum ao tratar de um dos temas candentes no setor: a medição de impacto. O bilionário concordou que avaliar os efeitos de um projeto é muito importante, mas destacou que frequentemente programas sociais têm seu próprio prazo. “Falo para as pessoas que trabalham comigo que elas podem estar mortas antes de terem resultados tangíveis.”

Emoção

A segunda parte da mesa “Em conversa com…” foi também a mais emocionante do fórum. Regina Helena Scripilliti Velloso, presidente voluntária do Conselho de Administração da AACD, e Swanee Hunt, presidente da Hunt Initiatives – organização que destinou, desde 1981, mais de US$ 130 milhões para a filantropia –, contaram como se envolveram com trabalhos sociais.
“Meu pai trabalhou na AACD, e essa foi a herança que ele me deixou”, afirmou Regina. Não foi algo forçado. Ao contrário, quando ela mostrou interesse, ele logo alertou: “Quem vai lá ou se apaixona ou nunca mais volta”.

Swanee veio de um ambiente bem diferente. Filha de um agricultor pobre que enriqueceu, seu pai “achava que a contribuição dele era gerar trabalho para os outros”. Ela mesma se dedicou a uma “filantropia mais tradicional” até lidar com a doença mental de um de seus irmãos, o que acabou definindo sua atuação a partir de então.

“Comecei a trabalhar com doentes mentais que não ofereciam riscos para si, e decidi tentar reformar o sistema de saúde de Denver, cidade onde eu morava.” Quando servia como embaixadora dos Estados Unidos na Áustria, engajou-se num trabalho social voltado ao público feminino. “Na época, juntei várias mulheres para discutir a situação humanitária na Guerra dos Bálcãs, que acontecia naquele momento”, disse. “Lidamos com o fato de vivermos num patriarcado e termos de lutar por nosso lugar no mundo.”

Foi a visão de um mundo machista, por sinal, que fez Peter Buffet também voltar sua ação para a melhoria da condição das mulheres. A NoVo Foundation, presidida por ele, tem entre suas metas empoderar adolescentes do sexo feminino.