Stephen P. Johnson é vice-presidente da The Philanthropic Initiative, uma organização sem fins lucrativos que, há duas décadas, orienta ações em filantropia estratégica. No artigo escrito exclusivamente para o IDIS, Johnson analisa as bases para doar bem.
Investimento social estratégico – ou, como é mais conhecida nos Estados Unidos, “filantropia estratégica” – tem diversos significados. No The Philanthropic Initiative, Inc. (TPI) nós acreditamos que o investimento social estratégico tenha os seguintes componentes principais:
- Doação e voluntariado que combinam “cabeça e coração”
- Doação e voluntariado que é focado, impulsionador e “mão na massa”
- Doação e voluntariado que tem o objetivo transformações a longo prazo e sistemáticas
Investidores sociais estratégicos tendem a ser exatamente o que o nome se propõe: que se comportam como investidores de qualquer mercado. Estes investidores são direcionados por uma visão e por valores. Eles conhecem suas metas e objetivos. Eles possuem um processo de validação das organizações em que investem. Eles estão interessados em análise de riscos, mas também estão dispostos a assumir riscos para atingir suas metas. Eles estão interessados em medir o retorno de seus investimentos. E eles estão dispostos a assumir diversos papéis além de financiadores para atingir seus objetivos.
TPI é um organização da sociedade civil que presta serviço de consultoria para indivíduos, famílias, fundações e corporações que queiram fazer investimento social. Fundada em 1989, nossa missão é ampliar o impacto do investimento social na sociedade. Nós temos o compromisso de assessorar nossos clientes a desenvolver e implementar abordagens estratégicas de alto impacto para a filantropia. Como apresentado com mais detalhes no site do TPI, os serviços oferecidos para os doadores incluem planejamento estratégico, facilitação, pesquisa e design programático, e implementação e avaliação de iniciativas estratégicas. Durante os últimos 20 anos, nós trabalhamos com mais de 350 clientes, incluindo um número crescente de doadores que possuem interesses internacionais.
Iniciando o Investimento Social
Os doadores com quem o TPI tem trabalhado ao longo dos anos são sérios com relação ao investimento social estratégico. Nós temos um cliente que freqüentemente nos conta que ganhar dinheiro foi fácil – a conseqüência natural de se fazer algo em que ele é bom. Entretanto, doar “bem” era menos intuitivo e mais difícil. Apoiar a sua universidade, a campanha capital do hospital da região, eram escolhas óbvias para destinar suas doações. E escolhas importantes, mas descobrir maneiras de fazer a diferença na sociedade; de como alinhar seus valores e suas paixões com as suas ações de filantropia; e de como criar estratégias que alavancavam suas doações; de como determinar o impacto de seu investimento; e de como e quando envolver a sua família; estas eram desafios muito mais difíceis para ele.
Por que aqueles que doam tão bem, que buscam mudar o mundo ou suas comunidades, decidem se tornar “investidores inovadores”? Como e com quem eles aprendem a como fazer uma boa doação? Quão importante é um missão filantrópica? Metas e estratégias? Quais são os riscos e oportunidades ao envolver esposa e filhos em sua iniciativa? Qual é a forma de atuação correta para as doações? E onde é possível buscar e encontrar conselho suporte necessário para criar e avançar os programas de doação que satisfazem os interesses e são efetivos?
Muito tem sido escrito sobre essas questões, mas assim como muitos assuntos na Era da Informação, o desafio para adquirir conhecimento e habilidades para se tornar um doador de alto-impacto não é a ausência de informação, mas sim o excesso. O que muitos doadores que estão embarcando na odisséia de doações efetivas realmente precisam são dados – ou ao menos um bom norte – para guiá-los no oceano de uma filantropia e investimento inovadores. Esse artigo tem a intenção de proporcionar aos investidores ferramentas básicas de navegação para aventurar no oceano do investimento social estratégico.
Por que doar?
A pergunta “Por que doar?” parece óbvia até que ela venha a ser aparentemente não óbvia. A resposta é única para cada e todo doador. Algumas vezes o cálculo é muito simples – “Minha esposa faleceu de câncer de mama e eu quero ajudar a encontrar a cura e imortalizar a sua vida extraordinária”. Mas com maior freqüência isto tem se tornado complexo, uma rica mistura de motivações, sonhos e objetivos.
Nos vinte anos de trabalho do TPI com indivíduos e famílias de alto poder aquisitivo, nós já nos deparamos com temos quase todos os motivos para doar, como a quantidade de nossos doadores. Algumas das motivações mais freqüentes incluem:
- Legado – Entre alguns doadores, o desejo de criar um legado espiritual como uma forma de equilíbrio ou um complemento para o legado material é forte
- Comunidade – Muitos doadores se sentem abençoados por sua inteligência, educação, cuidado da família, suporte da comunidade, trabalho árduo, sucesso e sorte. Alguns devem se sentir privilegiados por serem capazes de apoiar suas comunidades com uma parte de sua riqueza. Outros devem se sentir moralmente obrigados a “dar um retorno”. Alguns devem sentir ambas as coisas.
- Cura – Em hebraico há uma bela frase “tikkun olan,” que significa “para curar o mundo em pedaços”. Há muito a ser curado – fome, moradores sem lar, doenças, negligência infantil, degradação do meio ambiente, e infelizmente, a lista não tem fim.
- Desafios – Entre os empreendedores, o desafio de resolver um vergonhoso e, aparentemente, problema social sem solução, pode ser a motivação para a filantropia criativa.
- Família – Agora que o negócio da família foi vendido, quais são as oportunidades para se trabalhar com a família? Para muitos, a filantropia pode funcionar como essa plataforma.
- Honra – Aqueles que patrocinaram uma sinfonia e bibliotecas e laboratórios de pesquisa em memória da família e amigos, assim o fazem para honrar aqueles que amam.
Reconhecimento – Para alguns, o desejo se ter o reconhecimento da sociedade, ou estar com as “pessoas certas” é uma importante motivação para doar. - Tradição – Em algumas famílias, é uma tradição de muitos anos.
- Satisfação – Talvez a principal motivação para doar seja somente “sentir-se bem”. Doar faz as pessoas se sentirem bem. Satisfaz superar um desafio, causar impacto, mudar o mundo (e, às vezes, a si mesmo) para o melhor.
Compreender as motivações para doar é importante. A ausência do entendimento do eu motiva as doações, de que forma atuar, em que foco, e decidir a estratégia; nada mais que uma caminhada aleatória onde todos os caminhos são possíveis.
Algumas questões preliminares
Trabalhando com clientes individuais e familiares que pretende melhorar suas doações ou considerando um novo nível de filantropia, TPI geralmente entrevista o doador e faz as seguintes perguntas:
- Por que doar?
- Por que você está interessado em filantropia?
- Quais são seus valores? Seus objetivos filantrópicos? Suas paixões sobre a sociedade e o mundo em que você vive?
- O que você espera alcançar com a sua doação?
- É importante que sua família esteja envolvida com a sua filantropia? Por quê? Como você gostaria que eles se envolvessem?
Considerações Financeiras
- Quanto você pode doar?
- Quanto você quer doar agora? Quanto mais tarde? Quanto ao morrer?
- A decisão de como doar é sensível ao tempo?
- Você precisa de renda no momento, mas gostaria de beneficiar uma organização filantrópica na sua morte?
Quanto tempo você pode investir em suas ações filantrópicas?
- Você imagina que sua filantropia será principalmente e exclusivamente a doação de dinheiro, ou você imagina investir quantidade significativa de tempo também?
- Você se encontra em um momento da vida quando pode investir uma considerável quantidade de tempo em suas ações?
- Se você fosse criar uma fundação privada você teria a disponibilidade para realizar visitas de campo, participar e gerenciar encontros regulares com o conselho?
- Você acredita no modelo da “filantropia engajda” trazendo seus conhecimentos profissionais assim como seus ativos financeiros para a governança e operação de uma organização.
Quanto “mão na massa” você pretende ser?
- Você pretende doar para organizações não-governamentais e ser capaz de dirigir os programas contemplados pela sua doação?
- Você gostaria de conhecer as pessoas que trabalham com a organização para as quais você pretende destinar suas doações? Encontrá-los em suas bases de trabalho?
- Você é intolerante com relação às funções administrativas e burocracias? Você prefere delegar essas funções para os outros?
Doando Bem – Qualidades de um Investimento Social Efetivo
No decorrer do trabalho com mais de centenas de clientes ao longo dos anos, TPI descobrir que os doadores que provocam maior impacto e que a partir de suas práticas filantrópicas obtém suas maiores realizações e que são caracterizados por alguns – e raramente, por todos – pelas qualidades a seguir. (Aqui, agradeço a meus colegas Leslie Pine, Melinda Marble e Joe Breiteneicher, que prepararam uma versão preliminar da lista abaixo).
Valores-Direcionadores
O investimento social é geralmente dirigida por fortes valores familiares e pessoais, crenças sobre o que é importante para a vida. Estes valores, e paixões pessoais e familiares que geralmente os acompanham, necessitam de uma orientação para doar. Ao trabalhar com famílias e tentar ajudá-las a identificar seus valores nós geralmente fazemos perguntas como:
- Quais são os seus valores pessoais/ familiares? O que você e/ou a sua família defende?
- Quais são os valores que guiam as escolhas que você faz na vida?
- Como os seus valores estão coerentes com o tipo de doador que você gostaria de ser?
- Quais são as histórias que você conta em sua família sobre a sua família e seus ancestrais? Que valores eles representam?
- Quais foram os exemplos de valores que basearam suas decisões sobre as doações passadas?
Pró-atividade
Doadores eficazes são freqüentemente doadores pró-ativos. Suas doações são destinadas de acordo com suas visões e paixões, e não a partir de pedidos dos outros. Esses filantropos decidem o que eles têm interesse em investir, quais as questões e causas a serem combatidas, e depois desenhar estruturas para direcionar esses objetivos.
Focado
TPI uma vez foi descrito pelos membros do seus próprio conselho como os “propagandistas para o foco”. Se é ou não uma “propaganda”, trata-se de um credo. O foco para o investimento social cria a capacidade de concentrar recursos. Ajuda a definir e clarear objetivos filantrópicos. Ter foco possibilita ao doador adquirir conhecimento e inteligência sobre uma questão particular e a avaliar e para avaliar oportunidades de financiamento tendo como pano de fundo este conhecimento. Além disso, foco também ajuda o doador a dizer “não” para os pedidos que não do seu interesse.
O foco vem de diversas maneiras. Pode ser:
- Programático. Exemplo: erradicando doenças; ajudar os moradores de rua; preservação das florestas
- Geográfica. Exemplo: a comunidade que foi base para os negócios da família durante gerações
- Minorias. Exemplo: mulheres, mães solteiras
- Valores específicos. Exemplo: organizações comprometidas com a preservação das famílias
- Estratégica. Exemplo: construindo infra-estrutura e capacidade das não-governamentais
Orientado por Meta/ Resultado
Muitos doadores eficazes têm clareza sobre suas metas e resultados esperados, e pedem aos seus parceiros o mesmo. Quando possível, o filantropo desenvolve indicadores concretos e mensuráveis de sucesso para a sua filantropia. Por exemplo, um financiador interessado em promover oportunidades econômicas para a população local deve medir o impacto do financiamento a partir de informações como criação de novas oportunidades de trabalho, crescimento salarial, ou, menos tangível, mas ainda mensurável, desenvolvimento de novos conhecimentos entre os residentes da comunidade.
Baseado em Pesquisa e Contexto Social
A filantropia mais eficaz envolve uma combinação da “cabeça com o coração”. Enquanto as questões sobre as áreas e objetivos podem ser direcionadas de acordo com a visão e valores, a filantropia estratégica envolve uma pesquisa rigorosa e a análise, por exemplo, das lacunas dos serviços, necessidades, oportunidades, melhores práticas, abordagens eficazes. Equipado com essas ferramentas, os doadores podem determinar a maneira mais eficaz de direcionar os seus recursos para fazer a diferença.
Estratégias e Papéis claramente definidos
Uma vez que a visão está clara e que o foco e os objetivos estão definidos, o próximo passo é selecionar as estratégias que contribuirão para alcançar os objetivos do doador. Ainda, que papéis que o doador gostaria de ter em suas ações filantrópicas? Alguns papéis incluem:
- Melhoria da Capacidade e infra-estrutura (de organizações, vizinhança, ou até mesmo de campos de interesse)
- Inovador/ incubador (de novas idéias, programas ou organizações)
- Disseminador/ replicador (de modelos efetivos e melhores práticas)
- Agente transformador (da estrutura cultural, social e legal, ou de expectativas, direcionando causas subjacentes e sistemas)
- Desenvolvimento Comunitário (desenvolver capital humano, social ou físico na área)
- Crítico ou advogado (de políticas públicas ou sociais)
- “Venture philanthropist” (apoiar empresários sociais que estão começando ou construindo organizações, ou tentando novas abordagens)
- Desenvolvimento de líderes (de organizações, escolas ou comunidades)
Os papéis que os financiadores escolhem influenciam a forma que eles vão ativar e que ferramentas vão utilizar: financiamento a projetos, capacitação técnica, articulação de doadores que pensam da mesma maneira, empréstimo para organizações sociais, e/ou mobilização da mídia.
Processo de Validação
Assim como um investidor financeiro, o investidor social prudente condiciona o financiamento de projetos significativos a um processo de validação apropriado, por exemplo, acessar as habilidades da organização para qual a doação será destinada assim como o projeto específico a ser financiado. O processo de validação deve incluir, por exemplo, revisão cuidadosa da proposta, visita de campo, e conferir referências.
Conclusão
Tomar boas decisões sobre as doações é como tomar boas decisões sobre qualquer outro investimento – parte arte, parte ciência. Não existe um processo mágico que garantirá o sucesso de todas as doações ou financiamentos. Mas para aqueles doadores que obtém sucesso no casamento de sua visão e valores com um pensamento provocativo, pesquisa, e processo de validação; o impacto de suas doações pode ser virtualmente ilimitado.
Tornar-se um sábio doador pode levar tempos. Demanda um trabalho árduo, persistência, paciência, disponibilidade para experimentar e, algumas vezes, para falhar. Mas também deve e pode ser divertido – “divertido” não no sentido leviano, mas “divertido” como proveitoso e capaz de trazer alegria. A filantropia, enquanto trabalho sério, não deveria ser tão séria a ponto de se tornar um peso. Se o trabalho parecer opressivo em alguns momentos, não hesite em buscar pares ou parceiros, e ajuda externa.
Talvez o mais importante de tudo, lembre-se: os investidores sociais têm a permissão para sonhar grande sobre o que é importante para o futuro que buscamos para nossos filhos e os filhos de nossos filhos. Estes sonhos, seguidos de maneira ponderada e criativa, são oportunidades reais de filantropia, e eventualmente sua essência. Dinheiro bem investido pode transformar o mundo, e algumas vezes, apenas uma vida por vez.