As cem principais companhias negociadas na Bolsa de Valores de Londres, que compõem o índice FTSE 100, doam menos ano a ano. Cerca de 70% delas estão presentes em várias partes do mundo e contribuem com causas sociais dentro e fora do Reino Unido. A conclusão é do estudo divulgado pela britânica CAF (Charities Aid Foundation), representada no Brasil pelo IDIS. Apesar do relatório não trazer dados específicos sobre outros países, o estudo serve com uma espécie de guia para entender as tendências e perspectivas das doações corporativas em escala global. Foram analisados os relatórios anuais e de responsabilidade social de 2009 a 2017, considerando doações em dinheiro, tempo, serviços de gestão e doações em espécie.
As doações totais em termos absolutos do FTSE 100 chegaram a £ 1,9 bilhão em 2016. Em perspectiva, caíram 11% (£ 235 milhões) desde 2014 e em 26% (£ 655 milhões) desde 2013. Apesar da queda no volume total de investimentos sociais, as empresas doaram, em média, 1,9% dos lucros pré-imposto – e esse percentual é o maior desde 2009. Um total de 15 empresas optaram por não especificar suas doações corporativas para o exercício de 2015/16, portanto, seus valores não estão incluídos no relatório.
“É lamentável constatar que as grandes corporações estão andando em direção contrária ao que se espera, que é um maior esforço das empresas para a redução das desigualdades sociais e para as causas ambientais, uma vez que elas atuam globalmente e provocam impacto em todo o planeta”, reflete Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS.
Os números mostram que as empresas ligadas aos setores financeiro, óleo e gás, tecnologia e telecomunicações foram as que registraram a maior queda em doações, enquanto as empresas farmacêuticas continuam na liderança, representando 55% das doações em 2016.
Opinião do público E pela primeira vez, o estudo trouxe também uma pesquisa com o público. Foram entrevistados 1.004 pessoas com mais de 16 anos de idade, no período de 20 a 30 de Abril de 2017, para saber a opinião delas sobre a responsabilidade social empresarial. O principal resultado mostra que enquanto as doações corporativas continuam a cair, quase metade da população do Reino Unido acha que as empresas têm a obrigação de apoiar causas benéficas.
A pesquisa descobriu também que 56% se declararam mais inclinados a comprar um produto ou serviço de uma empresa que faz doações. Em média, as pessoas acreditam que apenas 35% das empresas que compõem o índice FTSE 100 doam para causas sociais. E um fato surpreendente: 60% dos entrevistados concordaram que “a responsabilidade social corporativa é apenas um exercício de relações públicas para empresas”.
Os dados levam à conclusão de que as companhias que optam por não ser transparentes podem perder a oportunidade de envolver os consumidores positivamente.
BREXIT – Vale a pena citar que essa é uma avaliação pós-Brexit. Com um cenário político, social e econômico ainda em construção e uma reavaliação da confiança, o relatório conclui que o voto para deixar a União Européia não trouxe mudanças significativas no comportamento de doações de grandes empresas.
FTSE 100 – O FTSE 100 é o principal indicador de desempenho do mercado acionário do Reino Unido, representando a variação das cem principais companhias negociadas na Bolsa de Valores de Londres, a London Stock Exchange (LSE). O índice é calculado por uma empresa independente (FTSE The Index Company), de propriedade da própria London Stock Exchange, em conjunto com o The Financial Times.
O relatório completo (em inglês) pode ser acessado no site da CAF https://www.cafonline.org/about-us/publications/2018-publications/corporate-giving-by-the-ftse-100/read-our-corporate-giving-by-the-ftse-100-report