Uma pesquisa das Nações Unidas feita com 1.712 empresas de 113 países concluiu que o setor privado fala muito sobre políticas de responsabilidade social, mas ainda está atrasado quando se trata de aplicar o discurso à realidade.
O Relatório Global de Sustentabilidade Empresarial 2013 foi organizado pelo Pacto Global, iniciativa da ONU que estimula companhias do mundo todo a aderir voluntariamente a dez princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.
O documento apresenta uma série de dados para sustentar sua principal conclusão. Pelo lado do discurso, 65% das empresas afirmaram que seus CEOs – o nível mais alto de direção – desenvolvem ou acompanham políticas socialmente sustentáveis, o que demonstraria forte comprometimento com a questão. No entanto, apenas 35% dos gerentes recebem treinamento para integrar a sustentabilidade às estratégias e operações das empresas, o que demonstra baixo nível de ação.
Da mesma forma, 90% afirmaram que seus conselhos de administração discutem ou atuam com a sustentabilidade social, mas apenas 8% relataram que esses grupos oferecem remuneração extra relacionada à performance na área socioambiental.
O relatório considera que as definições de políticas devem mesmo ocorrer na cúpula das empresas, que, de fato, estão se interessando e discutindo cada vez mais a sustentabilidade social corporativa. A ação – dividida em implementação, comunicação e medição de impacto –, no entanto, depende de um maior comprometimento dos colaboradores e dos recursos, o que os dados mostram não estar acontecendo.
A análise da atuação nos temas específicos do Pacto Global reforça a conclusão. Sete em cada dez empresas têm políticas anticorrupção, mas apenas três em cada dez criaram canais para receber denúncias anônimas. Do mesmo modo, 72% incluíram os direitos humanos em suas diretrizes, mas apenas 37% criaram mecanismos para reclamações relacionadas ao tema.
O trabalho de sustentabilidade com fornecedores das empresas também continua mais no discurso do que na prática. Entre os pesquisados, 57% disseram incluir o tema em seus contratos de fornecimento. No entanto, apenas 18% ajudam seus fornecedores a estabelecer e aplicar metas de responsabilidade social.
O relatório, no entanto, não adota um tom pessimista em relação a esses resultados. “Muitas empresas estão criando políticas que definem metas e requisitos de sustentabilidade, isso é um passo importante, na medida em que as políticas servem como uma declaração formal de intenções e estabelecem as bases para futuras ações de sustentabilidade.”
Fatores de influência
O relatório destaca que os princípios do Pacto Global são aplicáveis tanto para pequenas quanto para grandes empresas (com mais de 5 mil empregados), mas há uma distância “enorme” na atuação delas em quase todos as frentes analisadas.
O fosso entre discurso e prática existe em organizações de tamanhos diversos, mas é menor entre as grandes empresas: 58% possuem mecanismos para receber reclamações sobre direitos humanos, proporção que cai para 28% entre as pequenas. Entre as primeiras, 48% fazem avaliação de riscos de corrupção, enquanto apenas 15% das pequenas fazem a mesma coisa.
Ainda assim, o estudo destaca que os negócios de menor porte têm conseguido incrementar suas atividades de sustentabilidade social ao longo do tempo, aproximando-se de seus “colegas” maiores. O relatório destaca avanços principalmente em temas como direitos humanos e meio ambiente.
O tempo de comprometimento com o Pacto Global também influencia. Segundo a pesquisa, quanto mais recente o compromisso com a iniciativa da ONU, pior é o resultado da empresa. Isso fica claro na análise sobre a “turma de 2009”. Até 2012, as empresas que aderiram ao pacto naquele ano avançaram significativamente em todos os princípios. As políticas anticorrupção, por exemplo, aumentaram 24% no período; as medidas para incentivar a sustentabilidade na cadeia de fornecedores, 20% – mesmo aumento para a criação de sistemas de manejo ambiental.
Temas
Dentre os princípios preconizados pelo Pacto Global, os que mais recebem atenção das empresas são os relacionados a trabalho e meio ambiente. Entre os respondentes, 69% afirmaram ter políticas definidas para o primeiro tema, e 63% para o segundo. Já os direitos humanos e ações anticorrupção tiveram ações definidas, respectivamente, por 51% e 50% dos pesquisados.
Para o relatório, a proeminência dos temas trabalhistas e de direitos humanos se deve a “forças externas”: há décadas as empresas lidam com regulações governamentais em torno desses temas, o que levou à formação de equipes dedicadas apenas a lidar com esses assuntos.
A pesquisa, no entanto, aponta que direitos humanos e combate à corrupção deverão ganhar mais prioridade à medida em que esses assuntos vão sendo percebidos como fundamentais para o sucesso das empresas. “Para se manterem competitivas, um número cada vez maior de companhias vai ter de colocar mais ênfase em todos os aspectos da sustentabilidade”, conclui o relatório.