Novos grupos começam a participar de programa de capacitação nas Santas Casas

Em abril, novos grupos do interior de São Paulo vão iniciar o Programa de Sustentabilidade Fehosp/Idis, que visa à profissionalização da captação de recursos das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo. A ideia é melhorar e garantir a sustentabilidade financeira das instituições envolvidas, por meio da reaproximação com as comunidades, que tradicionalmente se envolviam na gestão e manutenção dos hospitais filantrópicos.

Uma das consultoras do IDIS que aplicará as oficinas, Rosana Kasil, afirma que vai ensinar os participantes a ter um olhar mais panorâmico e estratégico para converter a comunidade em ativos. Entre cada uma das oficinas, cada unidade recebe a visita de equipes do IDIS para um trabalho de coaching que verifica, in loco, como os participantes estão lidando com as “lições de casa” que receberam. A ideia é que cada oficina sirva para retomar e consolidar o conteúdo a partir do que os profissionais encontram na prática.

O projeto, feito em parceria com Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes de São Paulo (Fehosp) e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, vai capacitar representantes de 117 Santas Casas do Estado para captação de recursos e doações.

Próximas cidades:

6 de abril

Adamantina, Dracena, Guararapes, Osvaldo Cruz, Penápolis e Tupi Paulista

8 de abril

Batatais, Ituverava, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Ribeirão Preto, São Joaquim da Barra e Sertãozinho

13 de abril

Águas de Lindóia, Amparo, Atibaia, Bragança Paulista, Campinas, Espírito Santo do Pinhal, Mogi Mirim, Socorro, Valinhos, Mococa e Porto Ferreira

15 de abril

Aparecida, Caraguatatuba, Cruzeiro, Guaratinguetá, Jacareí, Lorena, Mogi das Cruzes e Pindamonhangaba

Trabalhar em rede para potencializar o investimento social privado

Em um cenário de fragmentação de entidades e escassez de recursos, trabalhar em rede é uma das melhores maneiras de impulsionar o investimento social privado.

Mais do que ser instituição que impõe sua visão de mundo, uma organizações da sociedade civil podem cumprir diversos papéis para unir colaboradores estatais e privados em prol de uma causa. Uma publicação do IDIS descreve algumas das possibilidades de engajamento em redes.

O documento, intitulado “A participação de organizações empresariais em redes comunitárias”, mostra formas de participação bem diversas. Desde atuações mais complexas, como a criação dessas iniciativas, até modos menos comprometidos, mas não menos importantes – como o investimento em projetos já em andamento.

As entidades sociais privadas podem, por exemplo, fomentar um grupo de colaboradores. Como diz o texto, “quando uma empresa – ou um instituto ou fundação empresarial – decide incentivar a formação de uma rede comunitária para contribuir com o desenvolvimento de determinada comunidade, ela está assumindo o papel de ‘produtor social’ do processo, isto é, aquele que tem condições econômicas, organizacionais, técnicas e profissionais para viabilizar um processo de desenvolvimento social, neste caso, uma rede”.

O texto destaca que não basta meramente incentivar a criação dos grupos: “Todo produtor social é também membro da rede, na medida em que dela participa, ao agregar conhecimento e disponibilizar ativos. O fato de existirem consultores aplicando metodologias para facilitar a formação da rede não deve diminuir a participação ativa da empresa. Ao contrário, o projeto precisa ser desenvolvido junto com seus representantes”.

De qualquer modo, é possível (e isso ocorre com frequência em projetos bem-sucedidos) que a rede seja assumida pela comunidade. A empresa, nesses casos, faz parte do grupo, mas apenas como integrante, “com atribuições definidas coletivamente”.

Pode-se, também, estabelecer parcerias para apoiar a criação de uma estratégia proposta por outra instituição. Ou investir em uma já existente.

Em qualquer caso, deve-se ter em mente que as redes não são fenômenos passageiros. “Elas aumentam o capital humano e ampliam o capital social, viabilizando a mobilização de recursos em prol da comunidade. Por isso, incluir as redes nas estratégias de investimento social das empresas é uma excelente forma de gerar mais resultados e impacto social”, aponta a publicação do IDIS.

Clique aqui para ler o documento.

Confiança dos brasileiros nas organizações sociais cresce, e elas voltam ao segundo lugar no ranking

Apesar de terem ocorrido em 2011, os escândalos envolvendo convênios entre organizações não governamentais e poder público tiveram efeito duradouro na opinião pública brasileira, que generalizou os maus feitos de poucos e passou a desconfiar de todo o setor. A boa notícia é que a tendência parece ter se revertido: a confiança nas organizações da sociedade civil voltou a crescer, e elas novamente são a segunda instituição mais confiável do país.

A constatação é da edição 2015 da pesquisa Trust Barometer, da agência de pesquisa de tendências Edelman Significa. O estudo avalia a confiança em quatro instituições: governos, empresas, mídia e ONGs. Desde 2011, estas amargavam um terceiro lugar, atrás da mídia e das empresas – no resto do mundo, sempre estiveram no topo.

“Foi um período difícil, justamente por conta das poucas instituições que serviram como dutos de dinheiro público”, diz o jornalista Rodolfo Araújo, diretor de Pesquisa, Conhecimento e Inovação da Edelman. Ele menciona mais um item que jogou contra o setor: “Em 2010, ocorreu um pico na confiança dos brasileiros e, ao declínio natural, juntaram-se os escândalos”.

Depois de ficar na terceira posição também nas pesquisas referentes a 2012 e 2013, as ONGs finalmente passaram para o segundo lugar em 2014, resultado de um ganho de oito pontos percentuais em relação ao ano anterior. Elas foram citadas como confiáveis por 70% dos entrevistados, pouco abaixo das empresas, que mantiveram a liderança, com 73%. A mídia perdeu sete pontos percentuais e registrou 56%. Já os governos ficaram na lanterna (37%).

As ONGs, segundo Araújo, se beneficiaram do fato de não terem sido registrados novos escândalos desde 2011. “O efeito memória se dissipou, e elas recuperaram a credibilidade por não ter aparecido nada mais contra elas”.

O segundo lugar, lembra Araújo, não é resultado apenas da melhoria na percepção sobre o terceiro setor. A desconfiança em outras duas instituições caiu. “A mídia foi afetada pelo excesso de notícias negativas dadas, enquanto, em outro momento, elas eram equilibradas com notícias positivas. Houve também um desapontamento da sociedade com os governos em relação a questões públicas.”

As organizações da sociedade civil não devem, portanto, acomodar-se com essa situação. “As ONGs precisam ficar atentas para o cumprimento das expectativas da sociedade. Há desafios de eficácia, gestão e profissionalização a serem enfrentados”, comenta o diretor.

Ao colocar as empresas e as ONGs no topo da confiança, a sociedade também está esperando uma ação conjunta desses dois atores, interpreta Araújo. “Os dois estão dividindo responsabilidade, e as organizações da sociedade civil deveriam atuar em parcerias com as empresas.”

Ele alerta que as ONGs continuam com o mesmo problema de comunicação que as impediram de reagir enquanto setor durante os escândalos de 2011. “Elas têm de aparecer mais para o público, e não ficar falando apenas para os iniciados, até para reverter certos estereótipos. Isso passa menos pelas OSCs individualmente e mais por falarem coletivamente.”

Presidente do IDIS é palestrante no FIFE 2015

Sem títuloPaula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, foi uma das palestrantes do Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica (FIFE), que aconteceu entre os dias 24 e 27 de março, em Gramado/RS.   O evento reuniu mais de 400 pessoas e contou com mais de 100 atividades e 40 palestrantes, debatendo temas relativos à gestão de organizações sociais.

A presidente do Idis ministrou a palestra “Fundos patrimoniais e investimentos financeiros” e integrou a mesa no debate “Institutos e fundações – como se relacionar e trabalhar em conjunto”, com Ana Carolina Velasco (gerente de relacionamento institucional do GIFE) e mediação de Roberto Ravagnani.

Fabiani se mostrou entusiasmada com o evento: “o Fórum encontra-se apenas em sua segunda edição e já apresenta um expressivo aumento de tamanho, impactando significativamente a melhoria dos processos de gestão nas organizações”.

Saiba mais sobre o FIFE clicando aqui.

IDIS articula apoio de lideranças empresariais brasileiras em carta à ONU

ONG norte-americana Ready Nation envia carta ao Secretário-Geral da ONU, Ban-Ki-moon, pedindo que Primeira Infância tenha espaço próprio nas Metas do Milênio Pós-2015. Lideranças empresariais assinaram a carta, destacando a importância dos cuidados na Primeira Infância para a preparação de uma geração mais saudável e produtiva. O IDIS articulou o apoio de 4 líderes brasileiros que endossaram a carta, junto com outros 47 grandes líderes do mundo todo. Clique aqui para ler a carta.

 

 

Dia Mundial da Justiça Social: Rádio ONU convida o Idis para falar sobre o papel do Investimento Social Privado

As Nações Unidas celebraram o Dia Mundial para Justiça Social neste 20 de fevereiro, com o secretário-geral Ban Ki-moon destacando que todos merecem uma vida digna, com respeito aos direitos humanos.

Mas o que é exatamente justiça social? A Rádio ONU ouviu a diretora-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social: “Envolve pessoas em situação de vulnerabilidade, como a pobreza e até mesmo a falta de saneamento, falta de acesso aos serviços básicos.”
Paula Fabiani foi entrevistada por Leda Letra. A especialista explica ainda a responsabilidade das empresas e do cidadão comum para a justiça social e avalia que o Brasil tem muito espaço para melhorar no setor de investimentos sociais. Ouça a entrevista concedida por Paula Fabiani.

IDIS desenvolve projeto para que Santas Casas conquistem sustentabilidade

Desde o começo do ano o IDIS vem trabalhando num projeto para capacitar representantes de 117 Santas Casas do Estado de São Paulo para captação de recursos e doações. O projeto é feito em parceria com Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes de São Paulo (Fehosp) e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. No total, são 117 Santas Casas ou Hospitais Filantrópicos participantes em todo estado, organizados em 11 grupos, para tornar mais fácil entender a realidade de cada instituição.

A programação das capacitações inclui a realização de 3 oficinas, de 20 horas cada, ministradas por professores convidados e pela equipe do IDIS. Três temas centrais são abordados nos treinamentos: como fazer um diagnóstico da situação de cada hospital e identificar as possíveis pessoas e organizações que podem ser mobilizadas; decidir quais sais as necessidades prioritárias e traçar um plano estratégico para sensibilização da comunidade; e, por fim, como implementar o plano, prevendo os pontos críticos que podem comprometer o sucesso. Entre cada uma das oficinas, cada unidade recebe a visita de equipes do IDIS para um trabalho de coaching que verifica, in loco, como os participantes estão lidando com as ‘lições de casa’ que receberam. A ideia é que cada oficina sirva para retomar e consolidar o conteúdo a partir do que os profissionais encontram na prática.

A primeira rodada de treinamentos começou em janeiro e segue até o fim de março, envolvendo quatro grupos de santas-casas, que se reuniram em quatro municípios: Ourinhos, Votuporanga, São Carlos e Limeira. O segundo grupo receberá capacitação entre os meses de abril e junho, em outros quatro municípios: Araçatuba, Franca, Mogi Guaçu e São José dos Campos. E de julho a setembro, o terceiro grupo, reunindo as cidades de Catanduva, Marília e Marcelina.

Ainda como parte do projeto, será estabelecida uma rede virtual para uso dos hospitais participantes, e para sua interação com a Fehosp. Por meio de uma plataforma, os participantes terão acesso a um espaço virtual para compartilhamento de experiências, documentos de interesse, grupos específicos, realizar fóruns virtuais, postar fotos e vídeos, estabelecer uma sala de bate-papo.

AS SANTAS CASAS HOJE

As Santas Casas e Hospitais Beneficentes são responsáveis por 1/3 do sistema de saúde do País. No Estado de São Paulo, respondem por 33 mil dos 65 mil leitos existentes. Além disso, 70% das unidades estão localizadas em municípios com até 30 mil habitantes, onde, em grande parte, representa a única alternativa de atendimento hospitalar público.

Faz alguns anos que os repasses recebidos do sistema público de Saúde não cobrem as despesas e, diante desta realidade, está cada vez mais difícil para as Santas Casas cumprirem o papel social. Algumas fecharam as portas e muitas estão diminuindo o número de atendimentos para o SUS como forma de atenuar o déficit operacional. A ideia da parceria do IDIS com a Fehosp é criar mecanismos de sustentabilidade para esses hospitais.

Estima-se que as doações no Brasil somam aproximadamente 20 bilhões de reais por ano. A área que mais recebe esse tipo de recurso é a da Educação, e a Saúde aparece em nono lugar, segundo levantamento do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas. Por isso, existe uma oportunidade real de que o setor da Saúde possa ser redescoberto como área de interesse para uma crescente filantropia no Brasil.

Uma das principais fontes de financiamento desses hospitais no passado, e que caracterizaram as Santas Casas como verdadeiros hospitais comunitários, foi o apoio da sociedade local para a sua construção, instalação e operação. “Antes de serem integradas ao SUS, as Santas Casas eram sustentadas pelas comunidades locais, que cobravam sua boa gestão”, diz Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS.

A realidade atual é que o apoio comunitário foi diminuindo na medida em que o SUS avançou como principal fonte compradora de serviços. Se a saúde passou a ser um dever constitucional e universal do governo, já não haveria necessidade da participação da comunidade local em seu financiamento. Porém, a conta não fecha.

Terceiro setor precisa unificar voz na relação com a imprensa

As organizações não governamentais podem, vez ou outra, aparecer com destaque positivo no noticiário – mas não como conjunto. Embora já encarado como um segmento específico da sociedade, a ponto de frequentemente vir agrupado sob a designação de “terceiro setor”, esse universo quase sempre é retratado de maneira fragmentado pela mídia. Quando o enfoque é setorial, a tendência é que seja negativo. Foi o que ocorreu, por exemplo, no escândalo de 2011 envolvendo convênios com o governo: o problema era restrito a poucas organizações da sociedade civil (OSC), mas todo o campo acabou sob suspeita frente à opinião pública.

Para especialistas, esse é um sinal de que passou da hora de as organizações da sociedade civil terem atuação mais coordenada para falar com a imprensa. “O modo fragmentado do noticiário sobre as OSCs tem relação direta com o modo de operação desse setor, e isso precisa ser repensado”, avalia a jornalista Suzana Varjão, gerente de qualificação de mídia da Andi Comunicação e Direitos, instituição que promove um diálogo mais qualificado entre organizações da sociedade civil e imprensa.

Um estudo da própria Andi respalda a fala de Suzana. Em 2014, a entidade publicou a pesquisa A imprensa brasileira e as organizações da sociedade civil, análise da relação entre os dois atores. Uma das conclusões é que a mídia nacional tem uma visão muito compartimentada do setor social privado, pulverizado em uma miríade de instituições.

“Há uma característica determinante nesse tipo de noticiário, que tem implicações boas e ruins: seu modo individualizado de produção, centrado em organizações ou ações/projetos específicos (82,8% dos textos analisados), em detrimento de registros sobre o funcionamento geral do setor, seus desafios e potencialidades – 9,2%”, diz o relatório.

Cursos
Por ser um campo com conceitos próprios, por vezes falta aos jornalistas entendimento sobre como funciona o setor social privado. Por isso, cursos de formação também ajudam a aprimorar a cobertura jornalística. “Criar cursos seria uma coisa interessante, e nós temos a intenção de explorar mais isso, e promover encontros e discussões sobre o setor dentro das redações”, afirma Vera.

Em 2013, o IDIS ofereceu uma formação gratuita para profissionais de mídia. A capacitação, que durou uma semana, abordou alguns aspectos do investimento social privado, como os fundos patrimoniais e o marketing relacionado à causa. Além disso, lideranças do setor também participaram de conversas com os jornalistas.

“Claro que existem profissionais preparados para cobrir o assunto – e tão gabaritados que vêm participando, com as OSCs, desse processo de retomada do capital ético desse setor fundamental da democracia brasileira. Mas é preciso compreender que as notícias são construídas por atores das duas esferas, e que ambas são extensas e complexas. Nessa perspectiva, são sempre necessárias iniciativas de qualificação de seus atores”, comenta Suzana.

Forbes-Insight divulga as principais tendências do investimento social mundial

De acordo com estudo 2015 BNP Paribas Individual Philanthropy Index, encomendado pela Forbes-Insight, braço da famosa revista norte-americana, as cinco principais tendências do investimento social mundial em 2015 são as seguintes.

  1. Impact Investment (apontado por 52% dos entrevistados)
  2. Filantropia colaborativa (51%)
  3. Compartilhamento de dados, práticas e expertises (51%)
  4. Atacar as raízes dos problemas sociais (48%)
  5. Venture philanthropy (45%)

A colaboração e o compartilhamento  estão entre as cinco tendências para o investimento social privado neste ano, citadas por 51% dos entrevistados. Ambas, analisa a Forbes, refletem o ambiente de fragmentação do setor, com pulverização de um grande número de organizações.

Podem ser resumidas numa frase do executivo-chefe Gerry Salole, do European Foundation Centre, citada pela publicação: “Não tenho problema com o grande número de organizações, desde que elas conversem umas com as outras”.

Desde 2012, o IDIS tem tido um papel relevante no incentivo desse diálogo com a realização do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais. O evento anual abre espaço para troca de experiências, discussão de temas pertinentes ao campo e exposição de boas práticas do setor.

Um pouco à frente de colaboração e compartilhamento, a sondagem apontou o investimento de impacto como a tendência mais citada pelos filantropos (52%). Esta é outra área que também tem se expandido no Brasil – e foi um dos temas tratados no primeiro fórum organizado pelo IDIS.

Em quarto lugar, 48% dos entrevistados apontaram a tendência de lidar com as raízes dos problemas, em vez de tratar apenas das consequências. Uma abordagem convencional sobre o sem-teto, por exemplo, seria “fornecer serviços diretos, como contribuir com abrigos ou programas de alimentação”, diz a revista. Já um enfoque de “mudança sistêmica” detectaria o que está levando as pessoas a morar na rua e o que seria preciso fazer para que isso não acontecesse mais.

A quinta tendência, indicada por 45% dos filantropos, é a venture philanthropy, que une os objetivos sociais da filantropia com a estrutura de capital típica dos venture investments, no qual o investidor social se torna sócio de uma parte do projeto. “Este tipo de filantropia pode ser muito efetiva em certas áreas intensivas em capital, como as pesquisas médicas”, afirma a Forbes.

Mário Magalhães Chave: a perda do Mestre

Marcos Kisil*

Sou uma das pessoas que tiveram o privilégio de conhecer, trabalhar, e principalmente ter em Mário um mestre da vida. Seja ela a vida profissional, a vida em sociedade, a vida em família.

O Dr. Mário, como era mais conhecido, faleceu no último sábado dia 28 de fevereiro tendo a família ao seu lado.

Sua formação profissional como Odontólogo (1941) e Médico (1948) ocorreu na antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, na cidade do Rio de Janeiro onde nasceu. Na mesma Universidade viria a completar seu doutoramento em Odontologia (1953) e Livre Docência em Patologia e Terapêutica (1953). Tendo em 1951 concluído a sua primeira especialização na Universidade de Illionois, na área de Farmacologia, volta aos Estados Unidos para seu Mestrado em Saúde Pública na Michigan University (1955). E é nesta área de Saúde Pública, que hoje também pode ser chamada de Medicina Coletiva, que Mário passa a atuar de maneira relevante para o benefício da humanidade.

Como sanitarista trabalhou durante dois anos na Fundação SESP (Serviço Especial de Saúde Pública), doze anos na Organização Pan-Americana da Saúde e na Organização Mundial da Saúde, tendo ocupado postos em Washington, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Genebra. Chefiou o Departamento de Administração de Saúde na antiga Escola Nacional de Saúde Pública, hoje Instituto Presidente Castello Branco. Foi Diretor Adjunto da Associação Latino-americana de Faculdades de Odontologia e da Federação Pan-Americana de Associações de Faculdades de Medicina.

No mesmo período atuava como diretor de programa da Fundação W. K. Kellogg, tendo sob responsabilidade o programa da Fundação na América Latina. Mário emprestou seu talento e tirocínio para disseminar a fluoração da água e do sal como meios preventivos para a cárie bucal, atuou para a criação de um corpo de conhecimento que hoje conhecemos como Medicina Familiar, participou intensamente da criação e desenvolvimento dos Núcleos de Tecnologia para o ensino profissional na área da Saúde (centros conhecidos como NUTES/CLATES), atuou na criação e ativação de entidades como a Associação de Faculdades de Medicina (FEPAFEM, ABEM), Odontologia (ALAFO), Enfermagem (ABEn), Associação de Programas e Departamentos de Medicina Coletiva (ABRASCO), e na Rede UNIDA (Programas de articulação docente/assistência/comunidade). Colaborou no planejamento e implantação de programas acadêmicos em odontologia social e sanitária, entre outros, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Sua intensa atividade acadêmica também se reflete nos livros e artigos que publicou (alguns em co-autoria), sendo seminais e pioneiros na discussão de temas valorosos para o entender e agir no setor da Saúde, e que se tornaram verdadeiros oráculos para os estudiosos do setor, tais como: Manual de odontologia sanitária (1960); Odontologia sanitária (1962); Saúde e sistemas (1972); Saúde, uma estratégia de mudança (1982); Odontologia social (edições de 1977 e 1986); Cambios en la educación medica: un analisis de la integración docente asistencial en América Latina (1884); Perspectivas da integração docente-assistencial (1983); Algumas reflexões sobre IDA: antecedentes do ideário UNI (1994)

Suas ações, profissionais e acadêmica, foram reconhecidas com vários títulos honoríficos, cabendo destacar: Doutor Honoris Causa da Universidade do Brasil (1964) da Universidade Federal da Bahia (1985), Universidad de Buenos Aires (1995), bem como de universidades em Medellín, Colômbia (1965), Lima, Peru (1972), Cochabamba, Bolívia (1978) e Santiago de Los Caballeros, República Dominicana (1986).

Mário ocupou a Cadeira 42 da Academia Brasileira de Odontologia

Também será lembrado pelo estímulo, apoio, e generosidade para com os jovens profissionais, especialmente ao recomendar os candidatos às bolsas de estudo da Fundação Kellogg, permitindo assim que uma liderança acadêmica e profissional fosse formada na América Latina e especialmente no Brasil. Contamos em centenas os agraciados que galgaram posições de liderança na região, seja na Universidade, Ministérios da Saúde, ou na própria carreira internacional dentro do sistema OPS/OMS. Mário, como ex-bolsista, conhecia o poder que esta decisão acarretava na vida de um jovem.

Fui bolsista, consultor, e vim a substituir Mário quando de sua aposentadoria como Diretor da Fundação Kellogg. Tive o privilégio de tê-lo como conselheiro e amigo na concepção e implantação de programas extremamente exitosos para a nossa região, entre os quais destaco a Fluoração do Sal, o Programa UNI para as profissões da saúde, e Kellogg International Leadership Program em liderança.
Mário, por meio dessas ações com a Fundação Kellogg, introduziu e nutriu de maneira antecipatória o que viria a ser uma filantropia estratégica, desenvolvimentista, e voltada à emancipação de seus beneficiários como se propõe atualmente em oposição direta ao assistencialismo e paternalismo de doadores.

Sua paciência, mansidão e entusiasmo eram características que ampliavam a importância de sua sabedoria

Não existiria o IDIS, e toda a transformação proposta para o investimento social privado na América Latina, e especialmente no Brasil, se não fosse o seu denodo em fazer da doação um instrumento de mudança social.

Obrigado, Dr. Mário. Descanse em paz!

(*) Ex-Diretor da Fundação W.K.Kellogg para América Latina e Caribe, Fundador do IDIS

Voluntariado é bom para a sociedade e para a empresa; aprenda a fazer

Uma empresa é naturalmente um agregado de pessoas que trabalham por um retorno econômico. Mas por que não mobilizar os trabalhadores também para a busca de um retorno social? A iniciativa privada é um espaço especialmente privilegiado para a criação de projetos de voluntariado.

A principal pesquisa de solidariedade no mundo, o World Giving Index, da organização britânica Charities Aid Foundation, aponta o Brasil como oitavo país em número absoluto de voluntários – um ambiente propício, portanto, para programas corporativos nessa área.

As companhias colhem os frutos do envolvimento dos funcionários em ações sociais, segundo uma monografia apresentada no curso Administração para Organizações do Terceiro Setor, da FGV-SP. A pesquisa analisou as iniciativas de diversos grupos, como Itaú e Philips, e concluiu que “os ganhos indiretos do programa superam os investimentos, pois um funcionário que compreende as ações da empresa passa a respeitá-la pela transparência e se sente parte integrante da companhia e tende a produzir mais e melhor”.

Para ajudar a criação de projetos que consigam efetivamente atuar nos grandes temas nacionais, o IDIS publicou um manual  com um passo a passo. O texto defende que iniciativas desse tipo são mais bem-sucedidas quando envolvem todos os escalões da instituição.

Uma sugestão é começar com a formação de um comitê que mapeie ações já existentes, pesquisar os temas que mais interessam aos funcionários e mobilizar aqueles que queiram se tornar voluntários. Num segundo momento, o alto escalão deve ser envolvido, pois é a ele que cabe a decisão de alinhar o programa às diretrizes corporativas e de sustentabilidade do negócio.

O IDIS tem grande experiência em assessorar tanto empresas que querem montar seus planos de voluntariado quanto aquelas que pretendem dar mais efetividade a ações já existentes. Está interessado? Venha conversar conosco (http://idis.org.br/contato/).

Foco: elé é fundamental para que o Investimento social privado dê resultados concretos

Fazer investimento social privado (ISP) não é apenas assinar cheques ou criar ações pontuais, sem continuidade. Uma transformação duradoura requer estratégia muito bem definida, que potencialize ao máximo os efeitos dos recursos. Foco, portando, é fundamental.

Algumas dicas para acertar o alvo estão num breve manual elaborado pelo IDIS, intitulado “Como definir o foco do investimento social corporativo”.

O documento recomenda que o processo comece com uma análise benfeita da própria companhia. “É importante levantar não apenas as doações, projetos e programas sociais da empresa, mas também seus patrocínios, para avaliar se, mesmo que de forma inconsciente, a empresa já tem uma lógica de apoio, porém ainda não explicitada”, recomenda a publicação.

Num segundo momento, o foco deve se voltar para fora: as necessidades socioambientais da região em que a empresa está instalada ou as ações dos concorrentes. “Se ela tem planta industrial, é interessante escutar a comunidade em que está inserida, tentando entender suas características e necessidades. Se é do ramo do varejo, pode montar uma pesquisa junto a seus consumidores, para identificar que causas os clientes gostariam que ela apoiasse”, exemplifica o texto do IDIS.

Vale lembrar que mesmo instituições que já fazem investimento social privado podem aprender muito com um trabalho de avaliação periódica de suas atividades. Por vezes, elas precisam estar abertas a mudanças (http://idis.org.br/organizacoes-da-sociedade-civil-precisam-estar-abertas-a-mudancas/) para aperfeiçoar sua atuação e, se necessário, adotar uma linha de ISP mais estratégica e efetiva.

O manual é apenas um ponto de partida. Fazer mudanças ou estruturar do zero um investimento social privado exige ajuda de especialistas experientes e acostumados com as pedras que muitas vezes surgem no caminho. E o IDIS pode ajudá-lo neste caminho. Fale conosco no http://idis.org.br/contato/

Desigualdade: os mais beneficiados fazem parte da solução, dizem especialistas.

Um relatório recente da Oxfam, organização britânica de combate à pobreza, indicou que 1% da população detém 48% da riqueza mundial – e que a tendência é que essa fatia chegue a 50% em 2016. O paradoxo é que essa pequena elite econômica pode ser parte da solução para reverter a trajetória de concentração.

Uma das maneiras é por meio do investimento social privado (ISP). “O ISP consegue amenizar muito o problema e ter um impacto social brutal, caso os recursos sejam bem manejados”, afirma Marcos Azzi, fundador do Instituto Azzi, organização da sociedade civil especializada no aconselhamento a investimentos sociais de pessoas e famílias de alta renda. “Imagine um bilionário que doe 1% de seus ganhos anuais para a filantropia. É nada em termos do que ele tem, mas é muito em valores absolutos”, comenta Azzi.

A questão passa, então, por atrair tal público para o investimento social privado. Um trabalho considerável, a julgar pela experiência de Azzi em São Paulo, onde o instituto atua — a cidade abriga o sexto maior número de bilionários no mundo, à frente de Paris, Los Angeles e Genebra, segundo uma pesquisa do banco suíço UBS e da consultoria Wealth-X. “Em geral, é um grupo que se aliena do coletivo, vive numa ilha de bonança”, diz. “É aberto para ouvir, mas acaba ficando meio que por isso mesmo”.

Para a diretora-executiva do IDIS, Paula Fabiani, “o grupo de milionários e bilionários brasileiros é muito heterogêneo; alguns são engajados e outros nem tanto”. Ela avalia que falta, no país, uma cultura de doação consolidada: “Pelo que podemos ver no World Giving Index 2014, publicado pela CAF, o Brasil não tem uma cultura de doação, ocupando a 90ª posição em um ranking de 135 países. É claro que as camadas mais ricas da população também partilham desse mesmo comportamento”.

Além do investimento social privado, há outro modo de o 1% colaborar para reverter a concentração, segundo o diretor da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst: as pessoas de alta renda precisam parar de sustentar políticas que contribuam para a desigualdade. “Elas influenciam indevidamente o processo político-democrático, conseguindo benefícios do poder público, como vantagens tributárias que mantêm um sistema fiscal no qual quem tem mais paga proporcionalmente menos”, diz Simon, ecoando uma parte do relatório da Oxfam, divulgado em janeiro, que fala justamente sobre os grandes gastos com o lobby sobre questões tributárias.

Ticehurst argumenta que o público de alta renda está, na verdade, agindo contra seus interesses ao apoiar medidas que resultam em concentração de renda. “No longo prazo, é de interesse deles também ter um sistema mais igualitário, pois sociedades mais iguais são comprovadamente mais seguras.” Paula reforça: “No Brasil, as pessoas, por mais privilegiadas que sejam, convivem diretamente com os problemas sociais, ao contrário do que acontece em outros países mais desenvolvidos. Em qualquer parte, somos obrigados a olhar nos olhos da pobreza e da injustiça.”

Novo consumidor espera engajamento social também de pequenas empresas

Cada vez mais, o investimento social privado deixa de ser apenas uma opção nas grandes empresas e passa a ser necessidade. Os consumidores, sobretudo os mais jovens, esperam que as companhias se engajem em iniciativas que realmente resultem em melhorias socioeconômicas, aponta uma pesquisa da consultoria inglesa Trendwatching. Em um relatório sobre as dez principais tendências de consumo para 2015, a empresa colocou o “branded government” entre elas.

“Atuar nessa área é agir quase como governo, perceber onde o poder público não está atuando e fazer parcerias para ajudar as pessoas”, diz a pesquisadora da Trendwatching no Brasil, Rebeca de Moraes. Mas tais mudanças, frisa o estudo, têm de ser palpáveis.

O estudo menciona dados de um levantamento do MSLGroup – que trabalha com relações públicas – segundo os quais 73% das pessoas nascidas entre 1980 e 2000 (geração chamada de millennials) “não acreditam que o governo consiga resolver sozinho todos os problemas, e 83% deles querem que as empresas se envolvam mais”.

A expectativa de que o setor privado participe mais de questões socioeconômicas de certa forma reflete o fato de que as companhias e as organizações da sociedade civil são mais bem vistas que os governos em pesquisas que captam credibilidade da população. Por exemplo: no Trust Barometer de 2014, índice global da consultoria de relações públicas Edelman Significa, as ONGs ficaram em primeiro lugar, seguidas das empresas e da mídia. O setor público ficou em quarto e último.

No Brasil, segundo a mesma pesquisa, as empresas gozam de ainda mais confiança (primeiro lugar), à frente da mídia e das organizações da sociedade civil. O governo, novamente, está em último. “Esses dados dão espaço para os negócios agirem”, comenta Rebeca.

A atuação social do setor privado, porém, não precisa estar ligada a grandes temas. Mais interessante é detectar problemas atuais que estão impactando a vida das pessoas. “As marcas devem ler jornais para entender quais questões afetam diretamente a sociedade”, continua Rebeca.

Assim, ela ressalta, a ação social não fica restrita apenas aos grandes grupos: “É preciso trabalhar coisas mais visíveis e propor ações pequenas. Não precisa ser a Coca-Cola e ter um departamento enorme: as marcas menores também podem fazer iniciativas localizadas impactantes”.

E impacto é fundamental nesse caso. O público percebe quando um projeto é só publicidade, avalia a pesquisadora. “Se as pessoas veem que o trabalho é apenas marketing e que não causa impacto nenhum na sociedade, as empresas serão malvistas e mal faladas”, diz. A percepção tende a ser mais ou menos esta, como resume o texto da Trendwatching: “Se parece um golpe de relações públicas, é provável que seja mesmo”.

Isso não significa que a empresa não possa se beneficiar de sua ação. O relatório cita um caso da montadora Volvo, que fez parceria com a agência nacional de transportes da Suécia para criar estruturas de abastecimento de veículos elétricos. O projeto inclui um sistema sem fio que alimenta baterias da frota de ônibus elétricos da cidade de Gotemburgo, no sudoeste do país. “A empresa ganha, claro, mas não era prioridade do governo criar o sistema. As pessoas veem com olhos positivos a iniciativa da fabricante”, aponta Rebeca. O estudo faz referência também a um projeto do aplicativo Waze, que fechou acordo de compartilhamento de dados de tráfego com prefeituras para ajudar a melhorar as condições de trânsito.

Falar sobre questões mais imediatas e cotidianas, no entanto, exige ousadia. A pesquisadora da Trendwatching lembra, por exemplo, que os “rolezinhos” de jovens em shoppings de alguns municípios brasileiros, no ano passado, tinham por trás uma identificação forte com marcas de roupas e calçados. Ainda assim, várias delas não tiveram coragem de falar sobre o tema, conforme reportagens registraram na época.

“É muito difícil ver marcas que se pronunciem sobre questões polêmicas: elas têm medo de afastar seus consumidores. Mas há problemas que simplesmente não podem ser ignorados e que devem, na verdade, até mesmo ser abraçados”, defende Rebeca, mencionando as crises de abastecimento de água e energia elétrica e a corrupção.

As grandes empresas e o desafio de avaliar investimentos sociais

Mais de 70% das grandes companhias publicam relatórios sobre suas atividades sociais, segundo pesquisa da consultoria KPMG. Poucas delas, porém, avaliam de fato o impacto de suas ações para a sociedade e para a própria empresa.

“Os orçamentos de responsabilidade social e de sustentabilidade não são usados em seu potencial máximo e os possíveis impactos sociais, econômicos e ambientais são drasticamente reduzidos”, afirma a consultora Gundula Cöllen, em texto publicado em seu blog no site Social Value Matters, da SROI Network, negócio social voltado para a medição de impacto. “Deixando de lado a responsabilidade social como apenas uma estratégia de marketing para fortalecer uma marca, os estudos de impacto social são uma ferramenta valiosa para aumentar a reputação corporativa entre consumidores e empregados ao contar histórias convincentes de mudanças”, escreve Gundula.

A tática mais usada pelas grandes empresas é fazer relatórios recheados de números (outputs), usando sobretudo as recomendações da Global Reporting Initiative (GRI). “Estas recomendações já ajudaram a elevar o nível dos relatórios de sustentabilidade”, afirma Gundula, para depois ponderar: “No entanto, a maioria dos indicadores não ajuda as empresas a medir mudanças com as quais contribuiu”.

A consultora dá um exemplo claro. Há relatórios que citam o número de horas dedicadas ao treinamento de empregados, mas não abordam a questão mais relevante: qual foi o resultado efetivo desse treinamento? Isso, sim, seria analisar a mudança causada pela atividade social de uma empresa, os outcomes de seu investimento.

Algumas companhias, contudo, começam a adotar um novo padrão. “Mais e mais empresas com interesse genuíno em fazer diferença para a sociedade têm começado a usar recursos para medir melhor e acompanhar o impacto de suas atividades de responsabilidade social e melhorar o nível de seus relatórios.”

Uma das técnicas para avaliação das mudanças é o Social Return On Investment (SROI), metodologia na qual Gundula é especialista. Essa é também a ferramenta que o IDIS adota para oferecer uma avaliação de impacto mais completa a seus parceiros. A britânica Jennifer Rouse, da New Economics Foundation, veio ao Brasil no final de 2013 para ensinar a técnica à equipe do instituto.

Como explicou Rouse, “a SROI é uma análise de custos e benefícios, na medida em que você sabe o retorno sobre o dinheiro investido. Mas, em vez de dados apenas sobre retornos financeiros, vê os impactos econômicos, sociais e ambientais”. Ou, como conclui Gundula, agora as empresas estão indo de “simplesmente comunicar ‘o que fizemos’ para ‘qual mudança nós ajudamos a fazer’”.

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O investimento social em prol do esporte de alto desempenho

A relação mais clara entre empresas e esporte aparece em bonés, camisetas, chuteiras, casacos e até cuecas: o patrocínio. Esse aporte de recursos é fundamental para cobrir custos em áreas tão distintas como futebol, vôlei, ginástica rítmica e luta greco-romana. Mas há outras parcerias, menos visíveis, em que o investimento privado é igualmente importante.

Quando, por exemplo, a judoca Rafaela Silva chegou ao ponto mais alto do pódio no Mundial de Judô, em 2013, não só inscreveu seu nome na história de uma das modalidades mais vitoriosas do Brasil. Ela representou uma vitória do Instituto Reação, projeto de investimento social privado que mirou no esporte como fator de inclusão de crianças pobres e acertou o alvo da formação de atletas de elite.

“A organização foi criada voltando-se para o lado mais social mesmo”, diz a coordenadora executiva da entidade, Joana Miraglia. Olhando a história da entidade, não é difícil entender como também conseguiu formar atletas de alto rendimento. Por trás da iniciativa está o judoca Flávio Canto, campeão pan-americano e medalha de bronze nas Olimpíadas de 2004.

“Canto já fazia algumas coisas pontuais, como entregar comidas e roupas para populações carentes, mas ele percebeu que isso não mudava muita coisa”, conta Joana. Ao mesmo tempo, Geraldo Bernardes, que foi técnico da seleção brasileira de judô durante 20 anos, estava iniciando um trabalho na Cidade de Deus, na periferia do Rio de Janeiro. Canto se juntou, então, ao Bernardes e a outras pessoas e criou o instituto.

Aliar a modalidade de seus fundadores à educação foi algo natural. “O judô é um instrumento educacional privilegiado, por causa de seus rituais, da necessidade de respeito ao mestre e da disciplina”, diz Joana. O esporte de alto rendimento acabou se tornando uma das vertentes do instituto na medida em que as crianças, que entram no projeto a partir dos 4 anos, começaram a envelhecer.

Atualmente, a organização conta com cinco polos de treinamento em comunidades vulneráveis cariocas, e atende cerca de mil pessoas, entre as quais cerca de 200 fazem parte do programa de alto rendimento.

Se, no começo, os recursos vinham principalmente de amigos de Canto, hoje há patrocínios mais sólidos, como o da Petrobrás, Multiplus e do fundo de investimentos Gap. Além disso, a Universidade Estácio de Sá oferece bolsa de estudo integral aos participantes. O Instituto Reação também conta com doações de pessoas físicas.

O financiamento é uma questão de extrema importância para a organização, cujo orçamento está em torno de R$ 3 milhões por ano. “O esporte de rendimento é muito caro, e, às vezes, custa mais sustentar os 200 atletas de elite do que os outros 800”, constata Joana, que ainda levanta outra preocupação: “O Brasil está muito visível por causa da Copa e das Olimpíadas, mas como será depois de 2016?”

Tênis

O Instituto Tênis é outro exemplo de como o investimento social privado pode fomentar atividades de alto rendimento. Nesse caso, no entanto, os objetivos esportivos são os principais, e não uma consequência de outro trabalho. A meta é ter um brasileiro no topo do tênis mundial até 2022.

A organização foi criada em 2002 em Santa Catarina pelos empresários Jorge Paulo Lemann e Nelson Aerts, na esteira do sucesso do tenista catarinense Gustavo Kuerten – hoje conselheiro do instituto –, e sempre teve a finalidade de formar atletas de elite. No início, trabalhava com tenistas entre 17 e 18 anos, mas, como explica o diretor executivo da organização, Cristiano Borrelli, “vimos que era difícil trabalhar com uma idade já avançada, e decidimos buscar pessoas mais jovens para trabalhar mais na formação”.

O instituto passou a escolher atletas a partir dos 11 anos e, em 2014, vai passar a trabalhar até com crianças de 6. “O tênis é um esporte muito precoce. Aos 17 anos, o tenista já está em fase de transição para o profissional”, justifica Borrelli.

A mudança de faixa etária e de cidade – o instituto agora funciona em São Paulo – não foram as únicas. O projeto se baseia muito na meritocracia, de certa forma refletindo o pensamento de Lemann, pentacampeão brasileiro de tênis e um dos homens mais ricos do mundo, e que agora faz parte do conselho do Instituto, no qual também há outros empresários.

Para atingir a meta de ter um tenista no topo, o instituto adotou um “ambiente competitivo, mas lúdico, em termos de treinamento, até para criar atividades atrativas aos jovens”, diz Borrelli. Segundo ele, a meritocracia é medida menos por resultados do que pelo comprometimento dos jovens.

“Entendemos que o trabalho depende de três fatores: os critérios de seleção dos atletas, um ambiente de treinamento altamente competitivo e desafiador, e capacidade de executar um planejamento adequado para que os jovens sempre compitam com os melhores de suas categorias”, afirma o diretor executivo.

O custo para criar o novo Guga é alto: em 2014, deve ficar em torno de R$ 5 milhões. “O orçamento vem crescendo na medida em que aumentamos a base de atletas com os quais trabalhamos”, explica Borrelli. No momento, 37 tenistas são auxiliados por 17 profissionais, entre treinadores, fisioterapeutas, psicólogos e educadores.

“Nós mantemos um bom relacionamento institucional com grandes empresas, e 90% dos nossos recursos estão vinculados à lei de incentivo ao esporte”, comenta. No momento, o Itaú é o principal parceiro do instituto, que também conta com apoio da Tetrapak e da Braskem. “Buscamos sempre diversificar nossos apoiadores, ampliar nossa base, até para não ficarmos muito dependentes”, finaliza Borrelli.

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O advocacy como ação fundamental para fortalecer a democracia

Governos de vários países têm limitado a influência das organizações da sociedade civil sobre as políticas públicas. Um dos argumentos é de que o advocacy minaria a democracia, pois as entidades não respondem aos eleitores e, por isso, não teriam legitimidade para negociar com representantes eleitos. Na verdade, porém, a ação das OSCs tem exatamente o efeito contrário: ajuda a fortalecer o sistema democrático, principalmente como instrumento de voz para minorias.

Este é o argumento que o especialista em políticas internacionais Adam Pickering, da britânica Charities Aid Foundation, desenvolve no artigo “Is advocacy and campaigning by not-for-profits undemocratic?”. O texto, publicado no site do Future World Giving – iniciativa da CAF que mapeia oportunidades de fortalecimento do investimento social privado nos próximos anos –, repercute uma pesquisa que demonstrou justamente o avanço de medidas para cercear a ação das OSCs.

Pickering escreve que, ao contrário dos argumentos de vários governos, a atividade de organizações da sociedade civil não é algo novo nem inconsistente com a democracia. Ele lembra diversas campanhas humanitárias, inclusive internacionais, que ocorreram no século XIX, como as que lutaram pela abolição da escravatura. Ou seja, mesmo o fenômeno das organizações de alcance mundial está longe de ser um fruto exclusivo da globalização das últimas décadas.

O autor escreve ainda que, ao contrário de ser uma ameaça à democracia, as OSCs são um fruto deste sistema. “Com o surgimento da esfera pública, desenvolveu-se uma mídia livre e crítica, bem como organizações sem fins lucrativos; por isso, é justo dizer que o advocacy destas últimas é mais responsável por criar do que por minar aquilo que pensamos ser um governo democrático”, defende.

O especialista ressalta que a democracia eleitoral, por ser naturalmente uma imposição da maioria, “não necessariamente representa os direitos e necessidades das minorias”. E acrescenta: “A sociedade civil e, particularmente, o advocacy das organizações sem fins lucrativos têm um papel vital na representação dos marginalizados e em contrabalancear a tirania da maioria”. Pickering rebate, então, a ideia de que estaria havendo uma transferência de poder dos governos para as organizações, como se “a relação entre ambos fosse de soma zero”.

Para o articulista, retomar o uso da palavra “política” ajudaria a melhorar a visão que se tem das OSCs. “Muitas vezes, o termo ‘atividade política’ é usado de maneira pejorativa, mas as organizações são, sempre foram e deveriam continuar a ser políticas”, afirma.

Ainda assim, o autor termina seu texto com uma nota realista, pedindo mais regulação sobre a partidarização das atividades das OSCs, pois “claramente, a situação na qual uma organização se engaja no apoio a partidos e candidatos é inconsistente com o que consideramos filantropia”.

Organizações da sociedade civil se juntam para propor soluções para a crise hídrica

Desde 2008, as organizações da sociedade civil (OSCs) vêm alertando os governos estadual e federal sobre os riscos de escassez de água na Região Metropolitana de São Paulo, mas os repetidos avisos não foram suficientes para fazer com que o poder público agisse para evitar a mais grave crise ambiental da história paulista. Diante da passividade dos políticos, a própria sociedade civil decidiu se mobilizar para discutir possíveis soluções para a falta de água no estado de São Paulo.

Assim surgiu a Aliança Pela Água, coalizão criada em outubro de 2014 que reúne 38 organizações da sociedade civil em torno do tema da segurança hídrica. “Consultamos mais de 280 especialistas no assunto para levantar propostas de combate ao problema da água”, diz Marussia Whately, coordenadora do grupo.

A aliança surgiu de uma iniciativa do Instituto Socioambiental (ISA) e busca elaborar propostas tanto de curto quanto de longo prazo para fazer frente à crise hídrica. No primeiro caso, o objetivo é fazer com que São Paulo chegue a abril de 2015 em condições de enfrentar um novo período de estiagem. Já no longo prazo, a meta é estabelecer um novo modelo sustentável de gestão dos recursos do estado. Até agora, a coalizão já apresentou 196 propostas de emergência e 191 de longo prazo.

Além de tentar influenciar as políticas públicas, a Aliança Pela Água também busca divulgar boas práticas. Até agora a coalizão já apresentou 310 indicações de ações que podem ajudar na mitigação da atual crise e garantir que ela não se repita. Algumas dessas iniciativas, já aplicadas na prática, são divulgadas no site da Aliança Pela Água. É o caso, por exemplo, do Movimento Cisterna Já, que busca incentivar o reaproveitamento da água de chuva em residências. O site está aberto para receber novos projetos da sociedade civil.

O objetivo principal da Aliança Pela Água, no entanto, é mesmo fazer um trabalho de advocacy. “No ano passado, houve muito ruído na comunicação com o poder público, tinha uma falta de transparência na Sabesp e aconteceu, por causa das eleições, uma negação de que havia uma crise hídrica”, ressalta Marussia.

Se o passado foi problemático, a coordenadora diz estar otimista sobre as conversas futuras entre poder público e as organizações da sociedade civil. “O diálogo tende a melhorar com a chegada do Benedito Braga, novo secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do estado”.

O otimismo de Marussia se baseia em conquistas concretas. Já em 2014, a Aliança Pela Água conseguiu aprovar no Conselho da Cidade, espaço criado pela prefeitura de São Paulo para dialogar com a sociedade civil, uma carta com diversas recomendações para lidar com a crise hídrica. “O documento trata de ações emergenciais que podem ser tomadas no âmbito das políticas municipais, e foi bem recebido pela prefeitura”, comemora a coordenadora da Aliança Pela Água.

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Organização da área da saúde cria negócio social para diversificar fonte de recursos

Aparentemente, negócios sociais e organizações da sociedade civil (OSCs) sem fins lucrativos estão em lados diferentes. Os primeiros buscam retorno econômico ao fazer ações que beneficiam grupos vulneráveis, as segundas não buscam lucro. Uma iniciativa na área de saúde, no entanto, está derrubando as fronteiras entre os dois campos.

O texto “Foundation-owned social enterprises: a new way forward?”  para o site da Stanford Social Innovation Review descreve a experiência da Gradian Health Systems, negócio social na área de saúde cujos ganhos são revertidos para uma OSC que forma profissionais de saúde na região rural do Nepal, o Nick Simon Institute. “A empresa na qual trabalho se beneficia de um investimento muito promissor: pertence totalmente a uma fundação familiar”, diz o autor do texto, Mike Miesen, analista da Gradian.

A organização vende um equipamento de anestesia de fácil manutenção para áreas com poucos recursos, que funciona até mesmo com fornecimento intermitente de eletricidade. “Em vez de doar a máquina para hospitais, nós vendemos o equipamento a preço de custo, permitindo que mantenhamos o valor mais baixo possível, que escalemos sua produção para atender demandas de mercado e que conservemos recursos filantrópicos para o treinamento de pessoal e a manutenção da máquina”, descreve Miesen.

Entre as vantagens citadas pelo autor para uma fundação criar um negócio social está o fato de que “o investimento reduz, ou elimina, a necessidade de gastar tempo e recursos na captação e nos relatórios financeiros, o que ajuda o empreendimento social a focar na operação”.

Além disso, avalia, “manter um negócios social permite à fundação fazer mudanças efetivas usando mecanismos de mercado para vender um bem ou serviço, enquanto usa os recursos filantrópicos para combater falhas de mercado e avançar uma causa”.

O autor pondera que, se o negócio social for muito rentável, o ideal é que os fundos sejam investidos em atividades de maior risco e menor retorno, já que o empreendimento pode buscar recursos em fontes mais tradicionais, como no mercado de private equity. Miesen considera que há uma chance de diminuir “as lacunas existentes entre os empreendimentos sociais típicos e as organizações sem fins lucrativos tradicionais”.

O analista conclui dizendo que o modelo funcionará melhor com negócios sociais que usam o mercado sem esperar grandes retornos financeiros, ao mesmo tempo em que também depende de organizações da sociedade civil que estejam buscando maneiras eficientes de atingir suas metas. Ou seja, a prática funciona bem em um ambiente no qual se procura diversificar a fonte de recursos das OSCs. Como o Brasil.

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Foto: Site Nick Simmons Institute

Empresa de gestão patrimonial alia negócios e investimento social com programa de educação financeira

A Victoire é uma empresa que atua com gestão patrimonial. Da vontade de alguns sócios de fazer investimento social privado, surgiu a ideia de desenvolver um programa que tivesse relação com o negócio: oferecer educação financeira para jovens de comunidades socialmente vulneráveis. Na hora de transformar o plano em realidade, foi preciso muito planejamento e trabalho para a criação de um projeto estratégico e transformador.

“Vários de nós já atuavam individualmente em projetos sociais paralelos, mas sem ligação uns com os outros, e buscávamos uma atuação mais integrada e transformadora”, diz o sócio fundador da Victoire, Paulo Del Priore, que ainda acrescenta: “Queríamos fazer algo além de só gerar lucros para nossos clientes, mas não desejávamos apenas assinar um cheque e, sim, participar ativamente”.

Logo, os sócios da Victoire sentiram a necessidade de buscar ajuda para transformar suas aspirações em ações concretas. “Surgiu a ideia de trazer alguém que conhecesse o terceiro setor para nos orientar, ajudar a entender os desafios, explicar que tipo de impacto social podemos ter, que temas poderíamos abordar”, continua Del Priore. Foi então que entraram em contato com o IDIS, para ajudá-los a fazer uma “reflexão estratégica”.

“Começamos com algumas perguntas essenciais para eles: ‘que transformação queriam fazer? Como?’ Além disso, fizemos muita pesquisa, entrevistas e reuniões com as pessoas da Victoire”, recorda a gerente de projetos do IDIS, Raquel Coimbra.

A ideia de um investimento social alinhado com o negócio da empresa apareceu naturalmente. “Desejávamos trabalhar com educação, mas já havia muita coisa na área, não seríamos relevantes”, diz Del Priore.

Raquel acrescenta: “os sócios são experts na gestão de patrimônio, fez sentido total sentido para eles trabalhar com a educação financeira para jovens com menos oportunidades, para ajudá-los a consumir de forma ponderada e a planejar suas as finanças para projetos de médio e longo prazo”.

Na busca de um parceiro para implementar o projeto, o IDIS chegou ao CEPAC, organização da sociedade civil que atua no Parque Imperial, no município de Barueri (SP), área de grande vulnerabilidade social. “A instituição já faz programas de profissionalização com jovens da região, e estamos desenvolvendo com eles um projeto piloto”, diz Luciana André, da área de projetos sociais do IDIS.

O trabalho está focado em participantes do Programa Jovem Aprendiz, que oferece oportunidades de primeiro emprego para adolescentes. “No caso do público do CEPAC, aqueles que participam do programa são os que geralmente têm a maior renda da família e, por isso, educação financeira é fundamental para eles”, afirma Luciana.

No piloto, os professores do CEPAC passaram por uma imersão e capacitação para a condução de aulas de educação financeira. Depois, 101 alunos tiveram três horas de aula por semana sobre o tema, durante um mês. No momento, está sendo realizada uma avaliação da primeira experiência. “Vamos ver qual foi o impacto e melhorar alguns pontos para o próximo ano”, diz Raquel.

Animado, Del Priore já sonha com o futuro próspero do projeto: “Queremos que ele tenha vida própria e que possa ser sustentável, atraindo outras pessoas do setor econômico no qual trabalhamos”.

O sócio da Victoire finaliza com uma ressalva a um dos mitos sobre a dificuldade de relacionamento entre os setores privado e social: a diferença nos tempos de cada um. “Assim como o terceiro setor, nós também trabalhamos com um horizonte de investimentos de longo prazo, estamos acostumados com um tempo de trabalho mais estendido, menos imediato”.

 

ONU ressalta importância do ISP para metas de desenvolvimento

O prazo para as nações cumprirem os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) está acabando! Os ODM são uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir, envolvendo áreas como renda, educação, saúde e meio ambiente. Dois mil e quinze era o prazo limite e, ainda que tenha havido melhorias sensíveis em vários temas, resta muito por fazer. E, na negociação da agenda pós-2015, um importante ator emerge: o investimento social privado.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) aponta que o investimento social privado (ISP) pode contribuir de modo decisivo para o progresso global nos próximos anos. Segundo o estudo Philantropy as an emerging contributor to development cooperation, “a filantropia traz um novo grupo de atores, práticas e tipos de financiamento benéficos e complementares” à ajuda internacional.

O texto faz uma série de recomendações para que investidores sociais privados atuem em cooperação com governos e organismos multilaterais, que compõem a comunidade oficial de assistência. O foco recai sobretudo em países emergentes que tiveram avanços socioeconômicos nos últimos anos, como Brasil, China e Índia.

O capital privado aplicado em áreas sociais tem qualidades relevantes, avalia o documento: apoia a inovação e fornece capital “paciente” para desafios de longo prazo que “precisem de esforços que vão além dos humores políticos e dos interesses de curto prazo das empresas”. Governos e ONU precisam maximizar tais características do ISP.

O próprio investidor se beneficia da cooperação. “As instituições filantrópicas precisam entender que seus próprios objetivos de ter mais escala, atingir resultados mais profundos e conseguir sustentabilidade financeira podem ganhar na colaboração com a comunidade oficial de assistência para o desenvolvimento”.

O estudo sublinha que o terceiro setor já tem contribuído sensivelmente para o avanço nos Objetivos do Milênio. Apenas nos Estados Unidos, segundo a Foundation Center, as entidades doaram em 2011 mais de U$ 4 bilhões para as metas – com destaque para o combate a Aids, malaria e outras doenças, que recebeu em torno de U$ 1,5 bilhão.

“Uma das grandes preocupações no campo do desenvolvimento internacional é sobre como a agenda pós-2015 será financiada”, observa o relatório, lembrando que os fluxos de recursos da comunidade oficial de assistência para os países emergentes têm diminuído nos últimos anos. Em contraposição, aumentou o volume de recursos privados, entre eles os relacionados ao investimento social privado internacional.

O texto aponta a britânica Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo IDIS, como exemplo de internacionalização do ISP. “A CAF aconselha e distribui recursos ao redor do mundo, com escritórios em nove países”, diz o relatório, que acrescenta: “Tais iniciativas mostram que há uma expansão constante no envolvimento de fundações com o desenvolvimento mundial”.

Ao abordar o Brasil, o estudo cita Gife, IDIS e Ethos como casos de consolidação do setor no país. “Essas instituições têm trabalhado há mais de 15 anos para apoiar e inspirar corporações, famílias e comunidades a fazerem investimentos sociais que criem uma nação inclusiva.”

O estudo apresenta evidências de que a filantropia tem se expandido no país: “O número de membros do Gife vem crescendo, e cada vez mais fundações e doadores têm procurado o IDIS em busca de conselhos”. No entanto, o montante de ISP brasileiro ainda é limitado: “Alguns especialistas dizem que o tamanho e a escala dos problemas internos diminuem o interesse em doações internacionais”.

Entre as sugestões para ampliar a participação internacional do setor filantrópico está um maior reconhecimento dos atores privados por parte dos organismos multilaterais, que devem abrir mais espaços de participação. Já os governos têm de trabalhar para criar um ambiente propício para a filantropia tanto interna quanto internacional. As instituições sociais privadas têm de adaptar sua governança para atuar em parceria com a comunidade oficial de assistência.

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Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil

Investimentos sociais de empresas caem pela primeira vez em sete anos, aponta pesquisa

Os resultados prévios de uma das mais importantes pesquisas brasileiras sobre investimento social privado, o Benchmark do Investimento Social Corporativo (Bisc), mostram que o valor destinado pelas empresas a projetos nessas áreas caiu pela primeira vez desde que o estudo começou a ser feito, há sete anos. Em 2013, o montante somou R$ 2 bilhões, 25% a menos que em 2012 (R$ 2,7 bilhões).

O levantamento anual é feito pela Comunitas (www.bisc.org.br/); no ano passado, participaram 336 organizações. Os dados prévios foram apresentados em 12 de dezembro. Os números consolidados serão publicados no começo de janeiro.

 

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“A redução dos investimentos sociais não foi homogênea nem generalizada entre os participantes. Ela pôde ser observada especialmente entre as empresas do setor industrial, que foram as mais afetadas pela situação econômica”, diz o relatório. O número de corporações que elevaram os aportes até subiu, mas não o suficiente para compensar a queda entre alguns grandes players.

O recuo não foi surpreendente: o Bisc do ano anterior já havia apontado que as companhias previam diminuir a injeção de recursos. Nesse sentido, o indicador de 2014 deve ser melhor. Na resposta que deram em 2013, segundo o relatório, o grupo estava “otimista” e a maioria (68%) projetava investir mais

Mesmo os dados referentes a 2013 dão espaço para algum ânimo. Além de 55% das firmas pesquisadas terem elevado seus aportes, a proporção média de investimento em relação aos lucros brutos atingiu recorde na série: 1,43%.

Como ocorre desde 2009, as empresas brasileiras destinaram uma porcentagem maior de seus lucros do que as norte-americanas. No levantamento do Committee Encouraging Corporate Philanthropy (CECP), a porcentagem foi de 1,01% em 2013.

A maioria dos recursos foi destinada à educação. Cerca de R$ 746 milhões (40% do total) foram para essa área, mais do que no ano anterior. O segundo lugar ficou com a categoria outros (22%), seguido de esportes e lazer (11%). Já meio ambiente nas comunidades (2%), defesa de direitos (1%) e geração de renda (1%) foram os menos mencionados.

Se o volume de recursos caiu, aumentou o número de voluntários entre as companhias que responderam à pesquisa. Em 2012, eles eram 55.240; em 2013, foram 59.475. A participação de funcionários em programas de voluntariado corporativo subiu de 8% para 11%.

A má notícia é que houve uma queda de 30% na verba para esse tipo de ação. Mas, como aponta o relatório, “o otimismo com o voluntariado continua elevado: 79% das empresas pretendem ampliar seus programas e a maioria considera que eles são bem ou muito bem sucedidos”.

 

 

Rules to Give By mapeia países com leis de incentivo

A proporção de pessoas que fazem contribuições financeiras a organizações sociais é significativamente maior em países que oferecem incentivos fiscais para doação. Isso é o que relata um estudo pioneiro realizado pela Charities Aid Foundation (CAF); McDermott Will & Emery LLP e  Nexus, juntamente com o apoio do NFP (National Financial Partners Corp).

O “Rules to Give By”, primeiro índice internacional do mundo sobre o apoio de governos a doações para organizações sociais, constatou que o percentual de pessoas que doam dinheiro para organizações sociais é de 12% a mais em nações que oferecem incentivos fiscais para pessoas físicas (33%) do que naquelas que não oferecem (21%).

O estudo comparou os incentivos fiscais e outros aspectos legislativos à probabilidade das pessoas doarem, conforme medido pelo World Giving Index, o índice internacional de solidariedade. Na comparação, constatou-se que a influência dos incentivos fiscais na doação não depende do nível de desenvolvimento econômico de um país. Por outro lado, os países que oferecem incentivos fiscais para pessoas físicas são os que mais possuem pessoas que fazem doações em dinheiro para organizações sociais, de acordo com o World Giving Index.

No entanto, existe uma disparidade entre o apoio para doações corporativas e suporte para doações de pessoas físicas. Ao todo, 77% dos países oferecem alguma forma de incentivo fiscal a empresas doadoras, mas apenas 66% oferecem incentivos aos doadores individuais.

Exceção nessa comparação, mesmo com uma colocação ruim no World Giving Index, o Brasil possui nota de 10 (em 11 pontos possíveis) no relatório Rules do Give By, o que mostra que a existência da lei por si só não é suficiente. Para a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, essa disparidade mostra que, apesar de possuir leis de incentivo, o país precisa rever a forma como estão sendo concedidos esses incentivos, diminuir a burocracia e buscar formas para que as isenções tributárias para doações sejam utilizadas amplamente.

Uma das alternativas que temos trabalhado para melhorar a situação é a aprovação do projeto de lei 4643/2012, hoje em tramitação no Congresso, que trata da criação dos Fundos Patrimoniais Vinculados e inclui incentivos fiscais mais amplos, promovendo inclusive a doação-pessoa física”, comenta a presidente do IDIS (que é o representante da CAF no Brasil).

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Para ver o relatório completo (em inglês), clique aqui.

Como doar seu imposto de renda para organizações da sociedade civil

Quem paga Imposto de Renda (IR) está mandando recursos para o governo sem ter certeza de como eles serão gastos. Como os gestores públicos costumam dizer, o dinheiro não é carimbado – não há como saber se a sua parte do tributo foi usada para pagar construir escola, pagar servidores ou fazer uma obra com a qual você não concorda (para não falar de fins menos nobres). E se você pudesse decidir o que fazer com parcela do que paga? Isso é possível. Os contribuintes podem direcionar até 8% do IR para organizações da sociedade civil. Veja abaixo como proceder

Quem pode doar:

  • Só podem fazer doações do IR as pessoas que optarem pelo modelo completo de declaração.
  • A base para calcular quanto se pode direcionar para os fundos é o imposto devido, não o imposto a pagar. O primeiro é o valor total – não inclui, por exemplo, deduções e recursos retidos na fonte. Ou seja, o imposto devido é maior do que o a pagar.

O limite total de doação do IR para pessoas físicas é de 8%, dividido dessa forma:

  • Até 6% são para Fundos da Infância e Adolescência, Fundos do Idoso coordenados pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal, bem como projetos aprovados pelos Ministérios da Cultura e do Esporte;
  • Até 1% para projetos do Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência (Pronas);
  • Até 1% para o Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon). Esse projeto se refere a pessoas com câncer.

O site da Receita Federal tem um simulador que permite saber até quanto o contribuinte poderá doar para respeitar o limite imposto pela Receita.

Prazo para fazer a doação:

  • É possível realizar doações dedutíveis até 31 de dezembro do ano corrente;
  • A exceção são os fundos da Criança e Adolescente que permitem doações até 30 de abril do ano seguinte. Porém, se fizer a destinação entre janeiro e abril de 2015, o contribuinte só poderá utilizar até 3% do imposto devido diretamente na declaração (mas sempre respeitando o limite de 6% no total para esse tipo de fundo) 

Passo a passo das principais leis de incentivo:

LEI ROUANET/FUMCAD/ LEI DO ESPORTE/ PRONAS/PRONON

 LEI ROUANET

  • Podem investir em projetos culturais aprovados pelo MinC (Ministério da Cultura) na Lei Rouanet, pessoas físicas contribuintes do Imposto de Renda, deduzindo até 6% do IR devido.
  • O investidor deve depositar o valor desejado para o patrocínio na conta bancária do projeto (aberta e supervisionada pelo MinC) até o último dia útil do ano corrente. Após o depósito, a entidade ou pessoa que propôs o projeto irá emitir um recibo e enviar ao patrocinador, sendo que este servirá como comprovante para que a renúncia fiscal se efetue. Guarde o recibo que você irá receber para apresentá-lo na sua
próxima declaração de Imposto de Renda.
  • O ressarcimento do patrocínio feito virá no ano seguinte, na forma de restituição ou abatendo do valor do IR a pagar.

FUNDO MUNICIPAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DE SÃO PAULO (FUMCAD)

  • Entrar no site http://fumcad.prefeitura.sp.gov.br/
  • Escolher o projeto e fazer a doação.
  • Na Declaração de Ajuste Anual, no anexo de pagamentos e doações efetuadas, deve ser utilizado o código correspondente às doações. Lembre-se de que, para o benefício fiscal, a destinação de recursos tem que ser feita na conta do FUMCAD e nunca na conta da entidade. E, na informação à Receita Federal, devem constar o Fundo da Criança e do Adolescente, com o respectivo CNJJ, e o valor destinado.

LEI DO ESPORTE

  • Para investir em um projeto, o primeiro passo é identificar as iniciativas esportivas das quais deseja incentivar. A lista dos projetos já aprovados pelo Ministério do Esporte e aptos a receber sua doação está publicada no Diário Oficial da União e pode ser consultada no site do Ministério dos Esportes, procurando em “como doar lei do esporte”
  • Escolhido o projeto, o passo seguinte é efetivar a doação. Você poderá investir até 6% do imposto devido diretamente na conta bloqueada do proponente, que emitirá um recibo do valor depositado.
  • Pronto! O Ministério do Esporte encaminha o recibo à Receita Federal, que abate o valor repassado do seu Imposto de Renda. Todos os projetos aprovados são avaliados e monitorados pelo Ministério do Esporte. É a garantia de que você está incentivando uma iniciativa esportiva de confiança.

PRONAS/PRONON

  • A pessoa física ou jurídica que quiser contribuir com os projetos, pode consultar a relação no site do Ministério da Saúde
  • Sugestão é em seguida entrar em contato com a entidade que será beneficiada
  • O depósito deverá ser feito diretamente no banco
  • Porém, para comprovar a doação é necessário pegar o recibo com a organização beneficiada.

Segunda edição do #diadedoar mobiliza mais de 400 OSCs e surpreende organizadores

A segunda edição do #diadedoar, movimento que busca fortalecer a cultura de doação no Brasil, mobilizou ao menos 400 organizações da sociedade civil, que adotaram o logotipo da causa e prepararam ações especiais em torno da campanha. A #diadedoar foi usada em 3 mil posts no Twitter, incluindo textos de esportistas e artistas famosos.

“Foi um sucesso muito maior do que o esperado”, diz Joana Mortari, diretora da Associação Acorde e um dos membros da rede Movimento por uma Cultura de Doação, articuladora do projeto. O apoio pode ter sido ainda maior, pois muitas entidades divulgaram a ideia sem pedir o símbolo da iniciativa. “Um monte de gente aderiu mesmo sem estar não cadastrada”, afirma Marcelo Estraviz, presidente do Instituto Doar e também participante da rede.

Estraviz também destaca “a impressionante bola de neve que são as redes sociais” na divulgação. No dia propriamente dito, 2 de dezembro, a hashtag oficial (#diadedoar) esteve no Twitter de personalidades como o jogador Paulo Henrique Ganso, o jornalista Rodrigo Boccardi e o apresentador Luciano Huck (um dos brasileiros com maior número de seguidores nessa rede social). O impulso das celebridades foi fundamental para que as 3 mil menções chegassem a cerca de 19 milhões de pessoas (soma de todos os seguidores dos perfis que citaram a hashtag).

Joana destaca também o espaço que a mídia deu para a campanha. “A Editora Abril noticiou ativamente a mobilização, com reportagens nos sites Planeta Sustentável e Superinteressante, e também nos cedeu uma página na revista Veja para divulgarmos o #diadedoar”, afirma.

O IDIS também se engajou no movimento e se juntou ao escritório Demarest Advogados para apresentar o #diadedoar a seus parceiros e convidá-los a participarem da mobilização e a criarem campanhas.

Para isso, o IDIS e o Demarest Advogados criaram um material de divulgação, explicando o que é o #diadedoar e dando dicas de como organizar ações para o movimento. O escritório de advocacia também acrescentou ao material uma lista de entidades da sociedade civil que ajuda, para dar sugestões aos parceiros de projetos a serem apoiados.

Já no próprio 2 de dezembro, o IDIS foi para as ruas distribuir 5 mil fitinhas e folhetos feitos para divulgar o #diadedoar. As fotos desse dia você pode ver aqui.

 

Atuação global

Pela primeira vez, o #diadedoar foi feito no mesmo dia e como parte do #GivingTuesday, uma mobilização global que ocorre em cerca de 20 países. A ação começou nos Estados Unidos, há três anos, em reação à queda nas doações por causa da crise econômica de 2008.

A ideia foi criar uma ação em torno da solidariedade numa data estrategicamente escolhida: sempre na terça-feira seguinte a um dos eventos nos quais os norte-americanos mais consomem: a Black Friday, quando centenas de lojas fazem grandes ofertas para abrir espaço no estoque para os produtos de Natal.

A ponte com o projeto internacional foi feita pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR). “Nós preenchemos um formulário dizendo que queríamos participar, mas, na verdade, não há uma centralização no #GivingTuesday. Fora a identidade visual parecida que todos devem adotar, cada organização tem liberdade para criar suas iniciativas”, diz o presidente da ABCR, João Paulo Vergueiro, também gerente de projetos do IDIS.

Para se ter uma ideia da importância que o #GivingTuesday alcançou em 2014, a campanha foi citada tanto pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quanto pelo primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron. “Aqui no Brasil, tentamos a Dilma Rousseff, mas não foi possível”, lamenta Vergueiro.

Mal colheram os resultados de 2014, os organizadores do #diadedoar já estão começando a se preparar para o próximo ano. Como afirma Estraviz, é preciso ter mais tempo para planejar e mobilizar instituições e pessoas.

“Precisamos avançar na divulgação com empresas, pois, fora a Abril, não conseguimos muitos contatos por falta de tempo”, afirma ele, já indicando um dos focos de 2015, quando a mobilização ocorrerá em 1º de dezembro.

Se você se interessou e já quiser planejar para o ano que vem, acesse o guia desenvolvido pelo IDIS e pelo Demarest com o passo a passo e veja as diferentes iniciativas cadastradas no site do #diadedoar.

Burocracia, falta de exemplos e de incentivos travam doações no Brasil, dizem investidores sociais

Quais são os principais desafios do investidor social? O site do IDIS fez essa pergunta a duas personalidades da área: Fernando Stickel, diretor da Fundação Stickel, e Denis Minev, um dos criadores da Fundação Amazonas Sustentável. Entre os pontos mencionados estão burocracia, incentivos legais ainda limitados e falta de doadores que sirvam de exemplo para a sociedade.

“O ambiente é péssimo, faltam incentivos e a burocracia é inacreditável”, reclama Stickel. A questão burocrática é tão grave, diz, que ele chegou a pensar em desistir do trabalho social depois de dois anos à frente da organização, fundada por seus pais em 1954. “O tempo que eu poderia gastar com meu objeto social eu gasto com entraves burocráticos, isso é ridículo”, queixa-se. Ele assumiu a entidade em 2004, e avalia que nada mudou nesse sentido desde então.

Já Denis Minev, que faz investimentos sociais variados no Amazonas, estado em que vive, lembra que existem incentivos para temas como cultura, mas faltam ainda normas para estimular, por exemplo, o trabalho voluntário. “Incentivos fiscais são importantes e certamente ajudam um ambiente filantrópico”, comenta.

Stickel diz que é preciso uma legislação que efetivamente fortaleça o setor social privado. “Tem que implementar várias coisas que são apenas faladas para, assim, mudar o padrão do comportamento”, diz, acrescentando que o projeto de lei para regulamentar os fundos patrimoniais foi um importante passo nessa direção.

Minev ressalta a necessidade de casos que sirvam de modelo para outras pessoas. “A liderança pelo exemplo é, em geral, mais eficiente do que pela fala. Precisamos de exemplos de porte como catalisadores. A inclinação geral para doar é baixa.”. Na mesma linha, Stickel diz que as “instituições sérias que recebem doações e conseguem mostrar seu trabalho acabam servindo de exemplo para incentivar a cultura de doação no Brasil”.

Mas há problemas também no modo de pensar da elite. “Acredita-se que é suficiente pagar impostos, e o governo deve cuidar do resto”, afirma Minev. “Nossas elites não têm bom conhecimento de nossa própria sociedade. A classe A se isolou, a distância entre as classes é grande e impede a formação de empatia social.”

Stickel, porém, vê alguns avanços importantes. “O terceiro setor tem se movimentado mais, há várias iniciativas interessantes de entidades como o Gife e o IDIS, que estão realizando encontros e também têm pressionado o governo para que se façam mudanças que beneficiem o setor”.

Para se manter informado sobre as principais ações do IDIS, curta nos perfis nas redes sociais:

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Modelo canaliza recursos de privatizações e concessões públicas para OSCs

Processos de privatização ou de concessão de serviços públicos costumam envolver bilhões de dólares. Imagine se uma parte desses recursos fosse destinada a fundos que financiem organizações da sociedade civil (OSCs). É isso o que propõe o professor Lester Salamon, diretor do Center for Civil Society Studies da John Hopkins University.

Ele falou sobre o assunto durante a mesa de encerramento do 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, que ocorreu em 6 de novembro, em São Paulo, com organização do IDIS e do Global Philanthropy Forum (GPF).

“Há um esforço mundial para criar fundações comunitárias, mas isso é prejudicado pela falta de capital”, disse Salamon, para então começar a expor o funcionamento daquilo que chama de “filantropização por meio da privatização” (Philanthropication Through Privatization).

“Em alguns países, havia muito capital em empresas estatais que viviam do dinheiro dos cidadãos quando foram privatizadas”, observou o professor, autor de um detalhado estudo sobre diversos casos em que a privatização foi acompanhada da criação de fundações.

Um dos exemplos mais conhecidos é o da Volkswagen. Quando a montadora alemã foi privatizada, na década de 1960, criou-se a Fundação Volkswagen com parte dos recursos da venda empresa. “Encontramos 539 casos pelo mundo, que mobilizaram um total de US$ 135 bilhões em bens para o setor social privado”, disse Salamon.

Mas a ideia já não seria um tanto datada, uma vez que as ondas de privatização atingiram seu pico nos anos 90? O professor contesta esse dado. “O ano de 2012 foi o terceiro da história em privatizações, e há planos massivos de privatizar bens públicos”.

O Brasil, por sinal, tem muito a se beneficiar com a estratégia. Paula Fabiani, diretora presidente do IDIS e moderadora da mesa, lembrou que “em 2013, o governo anunciou que espera obter U$ 600 bilhões com concessões nos próximos 10 anos; se pensarmos em destinar 1% disso a fundações, estamos falando de U$ 6 bilhões, o que resolve o problema da sustentabilidade do setor”.

O economista José Guimarães Monforte, por sua vez, lembrou que participou de privatizações brasileiras na década de 1990, mas que, naquele momento, não foi possível destinar parte dos recursos para fundações com finalidade públicas. “O processo foi feito por necessidades de caixa do estado”.

Monforte ponderou, ainda, que Brasil oscila entre momentos de maior preponderância do mercado ou do intervencionismo estatal e que, no momento, estamos nesse último ponto de grande presença do Estado.

Falando de um intenso processo que acontece no momento, a advogada portuguesa Cristina Paula Baptista abordou o caso de seu país: “As privatizações estão aumentando a concentração de recursos, já que as empresas estão sendo compradas por grandes grupos privados”. Ela afirmou que seria importante “conseguir canalizar parte dos recursos para instituições, de modo que o rendimento do capital possa financiar o desenvolvimento social”.

Cristina ressaltou, ainda, que o “PtP é um conceito revolucionário, pois coloca para a sociedade civil um instrumento de acumulação de capital financeiro para desenvolver capital social”.

O mexicano Jorge Villalobos, presidente executivo do Centro Mexicano para a Filantropia, também disse que tal instrumento pode ter grande impacto nos países latino-americanos. “Os Estados Unidos têm a cultura de retornar os lucros privados à sociedade, o que criou um poderoso sistema de fundações, enquanto na América Latina dá pra contar nos dedos tais casos”, disse Villalobos.

Salamon lembrou ainda que algumas das fundações surgidas no modelo PtP “estão entre as mais transparentes do mundo, devem respostas ao público porque surgiram com recursos públicos, e, por isso, servem de modelo para todos”. Segundo ele, várias dessas fundações foram constituídas pelo modelo de endowments (ou fundos patrimoniais), o que dá mais segurança para o investidor e uma maior certeza na boa utilização dos recursos. A necessidade de uma legislação específica para os endowments, suja tramitação corre no Congresso, é uma das bandeiras do IDIS. Saiba mais aqui.

WGI: Brasil sobe uma posição em ranking anual de solidariedade, mas perde 36 posições em cinco anos

O World Giving Index (WGI), pesquisa anual sobe a solidariedade no mundo, trouxe uma pequena boa notícia para o Brasil: depois de quatro anos seguidos de queda, o país subiu uma posição no ranking, chegando a 90º entre 135 nações. Ainda assim, perdeu 36 lugares desde 2009, quando o estudo começou a ser feito. A lista é liderada por Estados Unidos e Mianmar.

O indicador faz parte de uma pesquisa global encomendada ao Instituto Gallup pela Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica que trabalha pelo fortalecimento do ambiente para o investimento social privado. O índice baseia-se em três perguntas sobre o comportamento dos entrevistados no mês anterior à sondagem: se doou dinheiro, se ajudou um estranho e se fez voluntariado.

O Brasil só avançou no terceiro quesito: cresceu de 13% para 16% a proporção de entrevistados que disseram ter se engajado em atividades voluntárias. Já a porcentagem dos que responderam ter ajudado alguém que não conheciam recuou de 42% para 40%, e a dos que fizeram doação em dinheiro, de 23% para 22%.

Quando se extrapolam as porcentagens para números absolutos, o país é o 9º em doação de dinheiro, o 8º em voluntariado e o 6º em ajuda a um estranho. “Em números absolutos o Brasil aparece nos três índices entre os dez primeiros colocados por ser um país populoso, mas em termos de percentual da população ainda estamos mais próximos do fim da lista e temos enorme potencial para evoluir”, comentou Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, que representa a CAF no Brasil.

Economia e cultura

A liderança do ranking, dividida entre Estados Unidos e Mianmar, mostra que a cultura importa mais que o tamanho da economia quando se trata de solidariedade. O pobre país asiático está na ponta impulsionado principalmente pelo elevadíssimo índice de doações financeiras (91%).

“Isso é reflexo da forte comunidade budista Theravada, com cerca de 500 mil monges (a maior proporção de monges em relação à população em qualquer país budista) recebendo apoio financeiro de devotos simples. A posição de Mianmar nos lembra quão importante é a cultura de cada país na predisposição de seu povo pela solidariedade”, diz o relatório.

Por outro lado, os norte-americanos não estão acompanhados de outras grandes economias nas primeiras posições do ranking. Apenas cinco países mais bem colocados no WGI faz parte do G20. Como observa o texto do documento, 11 participantes do G20 estão fora do TOP 50 e três, fora do TOP 100.

Mais ainda, a pesquisa mostra que, “dos 15 países que demonstraram maior aumento entre sua pontuação de 2013 e a de cinco anos, somente um é classificado como país de alta renda pelo Banco Mundial, demonstrando com clareza o maior potencial de crescimento nos mercados nascentes”.

Além disso, esporadicamente tragédias naturais desencadeiam uma onda de solidariedade, como mostra o desempenho da Malásia. Em 2013, o país estava em 71º no ranking; em 2014, saltou para o 7º lugar. “A Malásia experimentou um incremento significativo em todas as três formas de doação. Essa mudança de comportamento provavelmente reflete os esforços humanitários após o tufão Hayan no arquipélago vizinho das Filipinas, e está de acordo com os aumentos de doações registrados após outros desastres naturais na China e no Japão”, comenta o relatório.

Mulheres e jovens

Outra tendência apontada depois de cinco anos de pesquisas é que as mulheres são mais inclinadas a doarem dinheiro nos países mais ricos, onde as disparidades de renda entre os gêneros são menores. Já nas nações de renda média ou baixa, os homens a lideram nesse quesito.

No entanto, enquanto a ajuda a estranhos e o voluntariado têm sistematicamente crescido nos últimos cinco anos, a doação apresentou queda substancial na pesquisa mais recente. Isso pode ser explicado, segundo o relatório, pelo alto desemprego entre os jovens.

“A queda geral na doação de dinheiro reflete uma queda na proporção de jovens que disseram sim a este item da pesquisa, particularmente aqueles com idades entre 15 e 29 anos. Nos últimos anos, o desemprego juvenil tem se mantido alto e continua a crescer. Essa tendência, aliada a uma consequente redução na renda disponível, pode ter contribuído para uma participação reduzida na doação de dinheiro entre os jovens”, afirma o texto.

Encontro internacional de investidores sociais aliou inovação social e histórias emocionantes

Tecnologia e estratégias ousadas estão revolucionando a forma como investidores sociais privados alavancam seus recursos para atingir resultados transformadores. A boa e velha emoção, porém, continua sendo uma excelente força motivadora para os filantropos.

O 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), destacou justamente a face mais arrojada do investimento social privado no Brasil e no mundo, mas sem deixar de lado a importância crucial que as histórias inspiradoras têm para o setor. O evento, cujo tema foi “Inovação e impacto do investimento social privado”, aconteceu em São Paulo, em 6 de novembro, e reuniu palestrantes brasileiros e estrangeiros.

Logo na apresentação, a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, afirmou que “a criatividade é um ato individual que exige imaginação, já a inovação é coletiva e demanda transpiração”. Disse que a programação havia sido montada para inspirar reflexão e transformação, de modo que os presentes pensassem “fora da caixa”.

O fórum, cujo objetivo era discutir inovação, começou, no entanto, com o coração. A mesa “Investimento social familiar” trouxe para o centro do palco as motivações de duas das famílias mais socialmente ativas do país.

Beatriz Gerdau Johannpeter e Jorge Gerdau Johannpeter contaram a história do Instituto Gerdau. “O trabalho social é um legado em nossa família, que já está na quinta geração. A criação do instituto foi um marco para garantir a perpetuação de nossos valores”, disse Beatriz, que também expôs as razões pessoais que a fizeram enveredar pelo trabalho social: os problemas de saúde de seu filho.

Sandra Regina Mutarelli Setúbal e José Luiz Egydio Setúbal falaram sobre o trabalho da Fundação José Luiz Egydio Setúbal. “Na nossa família, o investimento social é central. Eu poderia ter participado tanto das ações do Itaú quanto de meus parentes, mas meus irmãos trabalham com educação, e eu queria abordar o tema da saúde”, contou Setúbal, que criou o Instituto Pensi, para pesquisas sobre pediatria.

Se abriu dando espaço à emoção, o fórum fechou mergulhando na inovação. O professor Lester Salamon, da Johns Hopkins, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre um modelo chamado “philanthropication through privatization”, que teria potencial de canalizar bilhões de dólares para a filantropia.

Trata-se da constituição de fundos patrimoniais com parte dos recursos que o Estado recebe pela venda de patrimônio ou concessão de serviços ao setor privado. “Mapeamos 539 casos pelo mundo todo, que garantiram bens num valor total de U$ 139 bilhões para o setor social privado”, disse Salamon.

Recheando o evento, a mesa “Investimento social privado e inovação na Saúde” reuniu a diretora executiva do END Fund, Ellen Agler, a diretora da Fundação AbbVie, Verónica Arroyave, e o secretário adjunto de Estado da Saúde de São Paulo, Wilson Modesto Pollara, para discutir o papel do setor social privado no setor, como o tratamento de doenças negligenciáveis e precariedade do atendimento hospitalar.

Ellen, por exemplo, afirmou que a “filantropia fornece o capital de risco necessário para a inovação, criando projetos pilotos que possam ser adotados por governos”. Já Pollara falou sobre a reorganização hospitalar do estado de São Paulo, que tem no IDIS um parceiro para inovar em uma das áreas mais antigas da filantropia brasileira: criar novos métodos de captação para as santas-casas.

A sessão “Licença social para operar: o impacto do investimento social privado” abordou o tema do ISP comunitário, uma grande tendência do setor nacional. O diretor do Instituto C&A, Paulo Castro, mediou a mesa, que contou com a gerente do Instituto Holcim, Juliana Cassilha Andrigueto, a diretora executiva do Instituto Coca-Cola, Daniela Redondo, e a diretora de sustentabilidade Juliana de Lavor Lopes, da Amaggi, grupo agroindustrial que criou a Fundação André e Lúcia Maggi.

A inovação também deu o tom da mesa “O papel da tecnologia na ampliação do impacto do investimento social”, mediada pela diretora executiva do Wings, Helena Monteiro. O diretor executivo do Instituto Arapyaú, Marcelo Furtado, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto, e o presidente da Fundação Banco do Brasil, José Caetano de Andrade Minchillo, explicaram como o uso da tecnologia impacta o trabalho de suas organizações.

A plenária “Arranjos inovadores para o desenvolvimento sustentável”, capitaneada pela associada sênior para a filantropia global na Rockefeller Philanthropy Advisors, Heather Grady, focou no papel que o investimento social privado terá na agenda mundial pós-2015, quando vencerão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – série de metas que os países da ONU se comprometeram a atingir. Participaram da discussão a representante no Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Daniela Carrera, o diretor do Instituto Votorantim, Cloves Carvalho, e o chefe do grupo de Inovações e Alianças para o Desenvolvimento do Pnud, Marcos Neto.

Um dos momentos mais emocionantes do fórum aconteceu durante a sessão “Em conversa com…”, conduzida por Paula Fabiani. O primeiro convidado a falar sobre seu trabalho foi o músico Peter Buffet, filho do filantropo bilionário Warren Buffet e copresidente da NoVo Foundation, que trabalha com direitos e meninas e mulheres.

A filantropia, disse Peter Buffet, “é uma maneira de ter um propósito na vida para acordar todos os dias”. Ao mesmo tempo, “o melhor mundo seria aquele em que todos tivessem o suficiente e a filantropia não fosse mais necessária”, comentou ele, cuja organização recebeu US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em ações beneficentes.

Na segunda rodada de conversas, Regina Helena Velloso, presidente voluntária do conselho de administração da AACD, contou sua aproximação com o investimento social privado: “Meu pai trabalhou na mesma entidade, e isso foi uma das grandes heranças que ele me deixou”.

Já as falas da norte-americana Swanee Hunt, presidente da Hunt Alternatives e criadora do Women Moving Millions, emocionaram o público. Vinda de uma família humilde que enriqueceu no ramo agrícola, contou que seu pai não valorizava o trabalho solidário. Sua vida mudou quando um de seus irmãos foi diagnosticado como esquizofrênico e sofreu lobotomia, o que a fez trabalhar com doentes mentais.

“Ouço muitas coisas sobre investimento de impacto, jovens falam muito sobre isso. Mas não adianta fazer as coisas se não for visitar os locais. Tem de estar perto das pessoas e olhá-las no olho. A filantropia envolve principalmente amor ao outro, não dinheiro”, disse Hunt, arrancando aplausos da plateia.

Filantropia luta por um mundo em que ela não seja necessária, diz Peter Buffet

Filho do bilionário Warren Buffet, um dos maiores filantropos do mundo, Peter Buffet tornou-se ele mesmo um grande investidor na área ao receber US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em causas sociais. Com a experiência de sua própria atuação, e da atuação de seus familiares, ele sugere que a filantropia se assenta sobre um paradoxo: trabalha para melhorar o mundo, mas “o melhor mundo seria aquele no qual a filantropia não fosse necessária”, disse ele durante evento promovido pelo IDIS em São Paulo.

O norte-americano, presidente da NoVo Foundation, foi um dos participantes da mesa “Em conversa com…”, uma espécie de bate-papo com investidores sociais durante o 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), que aconteceu em 6 de novembro.

Em videoconferência com a diretora-executiva da Worldwide Initiatives for Grantmaking Support (Wings), Helena Monteiro, Buffet afirmou que a ação social “dá um propósito à vida” e que, mesmo que o US$ 1 bilhão doado por seu pai não tivesse obrigatoriamente de ir para a filantropia, alocaria para essa área mesmo assim. “Eu teria feito a mesma coisa, tenho sorte de ter dinheiro e sinto que não preciso de mais”.

Ainda assim, reforçou: “o melhor seria se nada disso existisse. Quero um mundo em que eu não tenha de estar nessa posição de investidor social, e é preciso se lembrar disso”.

O empresário também mostrou uma perspectiva pouco comum ao tratar de um dos temas candentes no setor: a medição de impacto. O bilionário concordou que avaliar os efeitos de um projeto é muito importante, mas destacou que frequentemente programas sociais têm seu próprio prazo. “Falo para as pessoas que trabalham comigo que elas podem estar mortas antes de terem resultados tangíveis.”

Emoção

A segunda parte da mesa “Em conversa com…” foi também a mais emocionante do fórum. Regina Helena Scripilliti Velloso, presidente voluntária do Conselho de Administração da AACD, e Swanee Hunt, presidente da Hunt Initiatives – organização que destinou, desde 1981, mais de US$ 130 milhões para a filantropia –, contaram como se envolveram com trabalhos sociais.
“Meu pai trabalhou na AACD, e essa foi a herança que ele me deixou”, afirmou Regina. Não foi algo forçado. Ao contrário, quando ela mostrou interesse, ele logo alertou: “Quem vai lá ou se apaixona ou nunca mais volta”.

Swanee veio de um ambiente bem diferente. Filha de um agricultor pobre que enriqueceu, seu pai “achava que a contribuição dele era gerar trabalho para os outros”. Ela mesma se dedicou a uma “filantropia mais tradicional” até lidar com a doença mental de um de seus irmãos, o que acabou definindo sua atuação a partir de então.

“Comecei a trabalhar com doentes mentais que não ofereciam riscos para si, e decidi tentar reformar o sistema de saúde de Denver, cidade onde eu morava.” Quando servia como embaixadora dos Estados Unidos na Áustria, engajou-se num trabalho social voltado ao público feminino. “Na época, juntei várias mulheres para discutir a situação humanitária na Guerra dos Bálcãs, que acontecia naquele momento”, disse. “Lidamos com o fato de vivermos num patriarcado e termos de lutar por nosso lugar no mundo.”

Foi a visão de um mundo machista, por sinal, que fez Peter Buffet também voltar sua ação para a melhoria da condição das mulheres. A NoVo Foundation, presidida por ele, tem entre suas metas empoderar adolescentes do sexo feminino.

IDIS e Demarest juntos pelo #DiaDeDoar

O IDIS (Instituto para o Desenvolvimento Social) e o Demarest Advogados estão juntos apoiando o #DiadeDoar.

O #DiadeDoar inspira a filantropia pessoal e encoraja doações maiores, melhores e mais inteligentes durante a época de festas, mostrando que o mundo, de fato, doa da melhor forma possível. O #DiadeDoar não é uma plataforma de doação, mas sim um princípio norteador para encorajar a criatividade e a energia de pessoas no Brasil e no mundo para trabalharem juntas para o bem. Para mais informações, acesse http://www.diadedoar.org.br/.

Em 2014, o #DiadeDoar acontecerá no dia 2 de dezembro, no Brasil todo, e terá, pela primeira vez o apoio do movimento internacional #GivingTuesday, do qual a CAF (à quem o IDIS é afiliado) é um dos maiores incentivadores.

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O IDIS incentivando o #DiadeDoar

Para fazer parte do #DiadeDoar, o IDIS criou em parceria ao Demarest Advogados uma campanha para divulgar a iniciativa a seus parceiros, incentivando que cada um crie a sua forma de contribuir. A campanha inclui uma apresentação que será enviada a seus parceiros e o uso do site e das redes sociais para promover o movimento. Veja aqui o arquivo.

Criar uma ação no dia de doar é uma maneira de trabalhar a interação entre os funcionários, promover uma cultura de doação no grupo de trabalho e destacar a imagem da empresa.

A definição da ação para o Dia de Doar inclui ainda a escolha do projeto, algo que deve ser feito com responsabilidade, possibilitando que as pessoas conheçam o trabalho apoiado e quem sabe possam aumentar o vínculo com os projetos em outras épocas do ano.

Você também pode aproveitar o #DiaDeDoar para promover uma ação que a empresa ou algum funcionário já realiza, trazendo mais visibilidade e melhores resultados à iniciativa!

Para quem não sabe a quem destinar as doações, o Demarest selecionou instituições que foram apoiadas pelo Grupo de Responsabilidade Social RS360º no ano de 2014, pois são iniciativas que conhecem por ter um trabalho sério e responsável (veja detalhes na lista abaixo).

 

Você não precisa ser um líder mundial ou milionário para doar,
#DiadeDoar é sobre pessoas normais se juntando para fazer coisas extraordinárias. Junte-se a nós!

 

Lista das organizações indicadas pelo Demarest:

Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural
http://www.institutoolgakos.org.br/
Bradesco, Agência 0134-1, c/c115306-4, CNPJ 08.745.680/0001-84

Associação das Voluntárias do Hospital Infantil Darcy Vargas
http://voluntarias-amarelinhas.blogspot.com.br/
HSBC 399, Agência 0268, c/c 11 351-46, CNPJ 52.631.033/0001-33

GRAACC
https://www.graacc.org.br/
Bradesco 237, Agência 0548-7, c/c  87087-0 ou 71.000-8, CNPJ 67185694000150

Casa do Pequeno Cidadão Nossa Senhora Aparecida
http://www.casadopequenocidadao.com.br/index.htm
Bradesco, Agência 0313, c/c 108.109-8, CNPJ: 04.436.297/0001-93

Unibes – União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social
http://www.unibes.org.br/
Itaú, Agência 0064, c/c 35.720-5 CNPJ 60.978.723/0001-91
(entre em contato para saber outras possibilidades de depósito)

WORLD GIVING INDEX: BRASIL SOBE UMA POSIÇÃO EM RANKING GLOBAL DE DOAÇÕES

O Brasil subiu uma posição no índice mundial de doações que abrange 135 países ao redor do globo. O país saiu da 91ª para a 90ª posição, de acordo com a pesquisa World Giving Index 2014 divulgada pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, nesta terça-feira, em São Paulo. O estudo, divulgado anualmente desde 2010, é encomendado pela instituição britânica CAF, Charities Aid Foundation, ao instituto de pesquisa Gallup World Pool.

Apesar da 90ª colocação, o país apresentou uma evolução positiva. Porém, desde o início do levantamento, perdeu 36 posições. Os dados mostram que 22% dos brasileiros entrevistados afirmaram ter doado dinheiro para organizações da sociedade civil, 40% ajudaram desconhecidos e 16% fizeram algum tipo de trabalho voluntario.

“Em números absolutos o Brasil aparece nos três índices (doação, voluntariado e ajudar um estranho) entre os 10 primeiros colocados por ser um país populoso. Mas em termos de percentual da população ainda estamos mais próximos do fim da lista e temos enorme potencial para evoluir”, diz a presidente do IDIS, Paula Fabiani.

Em relação aos dados do ano passado, o único ponto em que o Brasil cresceu foi no voluntariado – de 13% para 16%. Por outro lado, a doação caiu de 23% para 22% e o ato de ajudar a um estranho caiu de 42% para 40%.

Estados Unidos e Mianmar compartilham o primeiro lugar no ranking. Os Estados Unidos são o único país a ranquear em números porcentuais no Top 10 nos três tipos de doação. A liderança de Mianmar no ranking se deve principalmente a uma incidência muito alta de doações de dinheiro. Nove em cada dez pessoas em Mianmar seguem a escola Theravada de budismo, com uma forte cultura de solidariedade, o que contribui para que o país esteja na primeira posição em doação de dinheiro. Os países que formam o Top 10 permanecem sendo, em sua maioria, os mesmos relatados em 2013.

A exceção mais evidente foi a Malásia, que em decorrência do Tufão HAYAN subiu da 71ª para a 7ª colocação, reflexo dos esforços humanitários para ajudar a população após o desastre.

Para a presidente do IDIS, Paula Fabiani, o levantamento mostra a necessidade de investir na promoção de uma cultura de doação no país. “No Brasil, sete em cada dez pessoas não fazem doações e oito em cada dez não praticam qualquer ação de voluntariado. Temos que fomentar a cultura de doação no país, seja em dinheiro ou tempo. Os dados mostram que a doação não está apenas relacionada com a questão da riqueza. Uma prova disso são os Estados Unidos e Mianmar que permanecem empatados em primeiro lugar”, afirma.

Na America do Sul, Venezuela é a nação menos generosa, ocupando a posição 134º, situação parecida com a do Equador, em 132º lugar. O país mais solidário do continente é o Chile, em 50° lugar na lista, seguido da Colômbia, em 53°.

Alguns destaques do relatório:
O World Giving Index 2014 traz uma série de recomendações os governos ao redor do mundo. O estudo ressalta a relevância de uma regulamentação das organizações sem fins lucrativos justa, consistente e aberta. Cobra mais facilidade para as pessoas doarem e a importância de oferecer incentivos para a doação. Lembra ainda que é preciso encorajar a doação solidária à medida que as nações desenvolvem suas economias, aproveitando o crescimento das classes médias ao redor do globo.

“Para melhorarmos esse cenário, é necessário trabalhar por uma cultura de doação mais presente e menos assistencialista, investir nas áreas de captação de recursos das organizações e criar um ambiente legal e tributário que incentive a doação, motivando as pessoas a doarem”, complementa Paula Fabiani.

O World Giving Index 2014 está disponível online por meio dos links:
(PORTUGUÊS)
https://www.idis.org.br/wp-content/uploads/2014/11/CAF_WGI2014_PT.pdf

(ORIGINAL, EM INGLÊS):
https://www.idis.org.br/wp-content/uploads/2014/11/CAF_WGI2014_EN.pdf

Encontro internacional de investidores sociais alia inovação social e histórias emocionantes

O 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), destacou justamente a face mais arrojada do investimento social privado no Brasil e no mundo, sem deixar de lado a importância crucial que as histórias inspiradoras têm para o setor. O evento, cujo tema foi “Inovação e impacto do investimento social privado”, aconteceu em São Paulo, em 6 de novembro, e reuniu alguns dos maiores nomes da filantropia brasileira, além de importantes palestrantes estrangeiros.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Durante as boas-vindas, a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, falou sobre a importância da criatividade (um ato individual que exige imaginação ) e da inovação (algo que é coletivo e demanda trabalho).  “A programação foi montada para inspirar reflexão e transformação. Com isso em mente, eu convido todos vocês a pensarem fora da caixa nesta tarde”, diz Paula. A presidente do GPF, Jane Wales, relembrou o começo do fórum no Brasil e destacou a qualidade do evento, dos palestrantes e dos participantes: “O desenvolvimento do Brasil é rápido, mas não inclusivo. O que faz este grupo memorável é que vocês todos compartilham o comprometimento ao desenvolvimento inclusive neste país maravilhoso”.

A mesa “Investimento social familiar” trouxe para o centro do palco as motivações de duas das famílias mais socialmente ativas do país. Beatriz Gerdau Johannpeter e Jorge Gerdau Johannpeter contaram a história do Instituto Gerdau. “O trabalho social é um legado em nossa família, que já está na quinta geração. A criação do instituto foi um marco para garantir a perpetuação de nossos valores”, disse Beatriz, que contou que decidiu seguir pelo trabalho social inspirada pelos problemas de saúde de seu filho.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Na mesma mesa, Sandra Regina Mutarelli Setúbal e José Luiz Egydio Setúbal falaram sobre o trabalho da Fundação José Luiz Egydio Setúbal. “Na nossa família, o investimento social é central. Eu poderia ter participado tanto das ações do Itaú quanto de meus parentes, mas meus irmãos trabalham com educação, e eu queria abordar o tema da saúde”, contou Setúbal, que criou o Instituto Pensi, para pesquisas sobre pediatria.

A programação foi intensa e diversificada. Ao longo do dia, a mesa “Investimento social privado e inovação na Saúde” reuniu a diretora executiva do The End Fund, Ellen Agler, a diretora da Fundação AbbVie, Verónica Arroyave, e o secretário adjunto de Estado da Saúde de São Paulo, Wilson Modesto Pollara, para discutir o papel do setor social privado no setor, como o tratamento de doenças negligenciáveis e precariedade do atendimento hospitalar.

A sessão “Licença social para operar: o impacto do investimento social privado” abordou o tema do Investimento Social Privado na comunidade, uma grande tendência do setor nacional. O diretor do Instituto C&A, Paulo Castro, mediou a mesa, que contou com a gerente do Instituto Holcim, Juliana Cassilha Andrigueto, a diretora executiva do Instituto Coca-Cola, Daniela Redondo, e a diretora de sustentabilidade Juliana de Lavor Lopes, da Amaggi, grupo agroindustrial que criou a Fundação André e Lúcia Maggi.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

A inovação também deu o tom da mesa “O papel da tecnologia na ampliação do impacto do investimento social”, mediada pela diretora executiva do Wings, Helena Monteiro. O diretor executivo do Instituto Arapyaú, Marcelo Furtado, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto, e o presidente da Fundação Banco do Brasil, José Caetano de Andrade Minchillo, explicaram como o uso da tecnologia impacta o trabalho de suas organizações.

A plenária “Arranjos inovadores para o desenvolvimento sustentável”, capitaneada pela associada sênior para a filantropia global na Rockefeller Philanthropy Advisors, Heather Grady, focou no papel que o investimento social privado terá na agenda mundial pós-2015, quando terminam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – série de metas que os países da ONU se comprometeram a atingir. Participaram da discussão a representante no Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Daniela Carrera, o diretor do Instituto Votorantim, Cloves Carvalho, e o chefe do grupo de Inovações e Alianças para o Desenvolvimento do Pnud, Marcos Neto.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Na hora do almoço, os participantes se dividiram em catorze mesas temáticas, conhecendo mais sobre diferentes assuntos relacionados ao investimento social privado.

Logo em seguida, houve um dos momentos mais emocionantes do fórum aconteceu durante a sessão “Em conversa com…”. O primeiro convidado a falar sobre seu trabalho foi o músico Peter Buffet, filho do filantropo bilionário Warren Buffet e copresidente da NoVo Foundation, que trabalha com direitos e meninas e mulheres. Entrevistado por Helena Monteiro, Peter Buffet disse que “a filantropia é uma maneira de ter um propósito na vida para acordar todos os dias”. Ao mesmo tempo, “o melhor mundo seria aquele em que todos tivessem o suficiente e a filantropia não fosse mais necessária”, comentou ele, cuja organização recebeu US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em ações beneficentes.

Na segunda rodada de conversas, Regina Helena Velloso, presidente voluntária do conselho de administração da AACD, e a norte-americana Swanee Hunt, presidente da Hunt Alternatives e criadora do Women Moving Millions contaram como ambas se aproximaram do investimento social privado. Enquanto o pai de Regina era engajado e transmitiu a ela o vírus da solidariedade (“quando era mais nova, meu pai já atuava na AACD e me transmitiu o cargo na entidade como uma das suas maiores heranças”), Hunt veio de uma família humilde que enriqueceu no ramo agrícola e contou que seu pai não valorizava o trabalho solidário. Sua vida mudou quando um de seus irmãos foi diagnosticado como esquizofrênico e sofreu lobotomia, o que a fez trabalhar com doentes mentais. “Ouço muitas coisas sobre investimento de impacto, mas não adianta fazer as coisas se não for visitar os locais. Tem de estar perto das pessoas e olhá-las no olho. A filantropia envolve principalmente amor ao outro, não dinheiro”, disse Hunt, arrancando aplausos da plateia.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Para finalizar, o professor Lester Salamon, da Johns Hopkins, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre um modelo chamado “philanthropication through privatization”, que teria potencial de canalizar bilhões de dólares para a filantropia. Trata-se da constituição de fundos patrimoniais com parte dos recursos que o Estado recebe pela venda de patrimônio ou concessão de serviços ao setor privado. “Mapeamos 539 casos pelo mundo todo, que garantiram bens num valor total de U$ 139 bilhões para o setor social privado”, disse Salamon. Para comentar o assunto, estiveram presentes o economista brasileiro José Guimar

Esse é o terceiro Brazilian Philanthropy Forum. Segundo Paula Fabiani, a iniciativa, que possui apoio financeiro do Rockefeller Philanthropy Advisors, “tem se consolidado com um importante espaço de discussão e um passo importante para a criação de uma rede de filantropos no país”.

Com soluções de longo prazo e mais efetividade nas doações, milionários estão mudando a cara da filantropia

Não é de hoje que os donos de grandes fortunas figuram entre os principais doadores de projetos sociais, mas uma nova categoria de milionários está mudando a cara da filantropia mundial: são os indivíduos de alto poder aquisitivo.

Detentores de ativos líquidos no valor de US$ 30 milhões ou mais, estes indivíduos se caracterizam cada vez por investimentos em iniciativas filantrópicas que promovam soluções de longo prazo e pelo uso de seus conhecimentos empresariais para medir a efetividade dos projetos e maximizar seus retornos.

Isso é o que diz o relatório Philanthropy Report 2014, realizado pelas consultorias Wealth-X e Arton Capital com o objetivo de apresentar o perfil dos filantropos de alto poder aquisitivo e mostrar como eles estão impactando o ambiente do investimento social privado.

De acordo com o levantamento, o “ultra wealthy” (como é chamado em inglês) típico tem 64 anos e uma fortuna de cerca de US$ 240 milhões. Suas decisões acompanham a tendência de deixar de lado a filantropia tradicional em prol de um investimento social privado cada vez mais preocupado com seus impactos na sociedade. Nos próximos 30 anos, esses indivíduos devem fazer investimentos sociais privados (ISP) de US$ 300 bilhões.

Normalmente, a escolha de investimentos possui ênfase no empreendedorismo como instrumento de combate a desigualdades socioeconômicas e isso não é por acaso: o estudo aponta que 69% dessas pessoas criaram seus negócios a partir do zero.

“O debate vai além da ideia de ‘ensinar a pescar’ e se estende para garantir a infraestrutura financeira e institucional necessária para apoiar o surgimento de novos empreendedores”, afirma o relatório.

O desenvolvimento de metodologias de avaliação de impacto também teve um efeito importante sobre o novo perfil da filantropia. “Os novos retornos quantificáveis tornaram possíveis novos tipos de ação filantrópica, como a venture philanthropy e os investimentos de impacto.”

Um dos casos estudados pelo relatório é a atuação da Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica de apoio ao setor de investimento social privado representada pelo IDIS no Brasil. “Vários filantropos com os quais trabalhamos querem doar recursos para o fundo de impacto social da CAF, que já investiu em 46 organizações no mundo todo nos últimos dois anos, e cujos recursos retornam aos doadores ou são reinvestidos em outras entidades”, diz o relatório.

IDIS e Gife reúnem investidores e organizações para apresentar o PL de Fundos Patrimoniais Vinculados

A sustentabilidade financeira é um desafio de toda organização social, mas, em países como Estados Unidos, Inglaterra ou França, os Fundos Patrimoniais Vinculados (ou endowments) funcionam como uma das formas de amenizar esse problemas e garantir recursos.

Por acreditar nos benefícios que os fundos patrimoniais podem trazer para as organizações, o IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) é uma das organizações que mais incentiva a criação dos endowments no país e, juntamente com o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), promoveu encontros com instituições do terceiro setor e financiadores para apresentar e debater o projeto de lei 4643/2012, que trata dessa questão e atualmente está tramitando no Congresso.

Originalmente, o projeto, de autoria da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), tinha alcance restrito: previa a criação de endowments  exclusivamente para universidades federais. Um grupo formado por entidades da sociedade civil e membros do Ministério Público sugeriu um texto substitutivo, que foi apresentado pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

“Antes, os fundos seriam apenas para instituições de educação, mas ampliamos o projeto para que ele contemplasse associações e fundações de qualquer tipo”, comentou o advogado Felipe Sotto-Maior, sócio da Vérios Investimentos e um dos participantes do grupo que elaborou o substitutivo.

“O fundo patrimonial é uma estrutura de doação com a condição de que o valor principal seja investido para financiar as atividades de uma organização social com os ganhos do investimento”, explicou a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, acrescentando que um dos principais efeitos desse instrumento é dar mais previsibilidade orçamentária para as organizações da sociedade civil. “As entidades corporativas, por exemplo, dependem do orçamento das empresas a que estão vinculadas e sofreram com a crise de 2008”, relembra.

Algumas organizações brasileiras da sociedade civil, como a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, já têm fundos patrimoniais, mas sem as regras de transparência e investimentos específicas, que dão mais segurança ao investidor e ajudam a garantir a perenidade da organização. Já com o projeto de lei, cria-se uma “figura jurídica autônoma e critérios mínimos de administração, o que significa”, afirmou Sotto-Maior.

A aprovação do projeto de lei, entretanto, não significa que todas as organizações precisem aderir ao novo sistema. “Essa é uma opção a mais”, enfatiza Paula.

Nesse momento, um dos principais empecilhos para os fundos patrimoniais é a questão fiscal. O secretário geral do Gife, André Degenszajn, avisa que as empresas que já têm fundos patrimoniais e queiram adequar-se à nova lei teriam de pagar o tributo de doação para o fundo constituído e que o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) é estadual. “Essa é uma batalha que deve ser travada nos estados. A Assembleia de São Paulo já apresentou uma moção para que haja isenção em doações”, lembrou.

Após as eleições, a tramitação continua. A Secretaria-Geral da Presidência é um dos grandes incentivadores do projeto, que inclui como pontos o fim do título de utilidade pública, ponto defendido por grande parte das organizações. Para acompanhar as novidades, siga as redes sociais do IDIS.

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Doação ainda não é tratada como tema relevante no Brasil, diz Carol Civita

A necessidade de doar para entidades sociais é assunto ignorado no Brasil, avalia a investidora social Carol Civita, conselheira de uma das principais instituições sociais familiares do país, a Fundação Victor Civita, ligada a educação. “A cultura de doação não é uma coisa da qual se fala. Não é assunto em sala de aula, em rodas sociais. Não é uma questão falada, a não ser entre os poucos players que já fazem doação”, afirma ela em entrevista ao site do IDIS.

Entre os obstáculos para tal cultura se disseminar está o fato de que poucos doadores divulgarem que doam. “Quando as pessoas começarem a expor o que fazem, os outros vão entender.” O investimento social privado, no entanto, não depende apenas dos doadores, mas também das entidades, que, muitas vezes, falham na captação. Um dos erros, segundo Carol, é basear a captação em projetos. “Isso de uma organização sair fazendo projeto para conseguir captar é um desperdício e um desespero. Quero que o doador veja o que eu já fiz, e não aquilo que eu vou fazer.”

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

 

IDIS: Como você vê o ambiente para o investimento social privado no Brasil?

Carol Civita: Temos alguns players, e continuam sendo os mesmos há bastante tempo. São muito poucas as pessoas engajadas em fazer doações, ou em se modernizar e fazer um endowment, ou se organizar com uma filantropia focada e direcionada. Continuamos com assistencialismo, caridade, mas muito pouco de doação organizada e focada. São sempre os mesmos players.

IDIS: Por que há esta limitação, a manutenção dos mesmos, sem a entrada de novas pessoas no mundo do investimento social privado?

Carol Civita: Muita gente diz que é porque o campo não é propício para a doação. Você pode, sim, alegar que não existem benefícios estabelecidos em leis. Mas eu não acredito que seja por isso. É muito mais uma questão cultural. Ainda não existe cultura da doação. Em outros países, a questão da doação – e eu não digo apenas financeira, mas também pessoal, o voluntariado, o engajamento com alguma causa – vem desde criança. Há escolas na Europa e nos Estados Unidos nas quais o serviço comunitário é obrigatório. Nós estamos muito longe disso. Não acho que temos de ter serviço comunitário obrigatório nas escolas, mas a cultura de doação não é uma coisa da qual se fala. Não é assunto em sala de aula, em rodas sociais. Não é uma questão falada, a não ser entre os poucos players que já fazem doação e que falam entre si.

IDIS: Existe um receio dos grandes players de exporem suas doações, de se colocarem como exemplo do investimento social privado para atraírem outras pessoas?

Carol Civita: Muita gente confunde a exposição com vaidade, e as pessoas não gostam de se mostrar dessa maneira. Se as pessoas não começarem a expor aquilo que fazem, fica difícil ter escala e seguir exemplos. Quando as pessoas começarem a expor o que fazem, os outros vão entender. Todo mundo quer fazer parte de um time que está ganhando. Se vejo que uma doação ou algum movimento em prol de uma causa está surtindo efeito, vou querer fazer parte disso. Agora, se eu for pensar sempre num projeto, num futuro, numa coisa que pode vir a acontecer, não me sinto tão empolgada com a história. A gente se empolga muito vendo os resultados. As pessoas podem ter receio do fisco, de ser mal interpretadas com as suas doações, mas tudo depende do seu ativismo e do seu discurso. Se tiver medo, não faz nada, porque tudo pode ter várias interpretações.

IDIS: Também falta às organizações “saber pedir”?

Carol Civita: Sem dúvida alguma. Vai cair uma enxurrada de críticas no que eu vou dizer: eu não acredito em projeto. Toda organização foi um projeto que se concretizou e se viabilizou. Isso de uma organização sair fazendo projeto para conseguir captar é um desperdício e um desespero. Quero que o doador veja o que eu já fiz, e não aquilo que eu vou fazer. É muito complicado dizer o que se vai fazer, pois se está oferecendo para a pessoa comprar uma promessa, uma possibilidade. Hoje, o grande problema está nos projetos, especialmente aqueles feitos para agradar ao doador, e não necessariamente para beneficiar a instituição. Outra coisa: pedir não é vergonha. Temos no Brasil a questão de que aquele que está pedindo é um necessitado. Não, aquele que está pedindo é uma pessoa que está vislumbrando melhorias, não está necessitado.

IDIS: Além dos exemplos, que outras iniciativas poderiam ajudar a despertar a cultura de doação no Brasil?

Carol Civita: Muitas vezes, as pessoas captam recursos com dados, números, projetos, mas não envolvem o doador. Conhecer a causa que você abraça é fundamental. O que te move? Pelo que você quer ser lembrado? Qual o seu legado? Tenho muito medo das doações esporádicas e não focadas. A pessoa que doa uma vez para a saúde, depois para educação, outra para o meio ambiente acaba não se envolvendo com a causa. Cedo ou tarde ela para de ser uma doadora. É fundamental conhecer sua causa e ficar com ela, pelo menos por um bom tempo. Mesmo porque, dentro de famílias, quando se abraça uma causa deixa-se para os filhos e para as próximas gerações um legado de ativismo naquilo em que você acredita.

IDIS: Qual seria a diferença entre fazer investimento social como família e pela empresa da família?

Carol Civita: Se você atrela a doação à empresa, ela fatalmente vai ter outro sabor, o de estar ligada ao negócio, e não à causa da família. Quando consegue sentar para conversar sobre a doação como família, você raramente traz à tona algum assunto da empresa. Como empresa, fatalmente alguma coisa vai acontecer: estamos com problemas de caixa nesse mês, não podemos nos envolver nisso porque não combina com a linha de pensamento da empresa. Doar como família é uma excelente razão para juntar os familiares. Assim que as gerações vão passando, os membros vão aumentando, e isso faz com que cada vez menos eles se encontrem. Mas, se eles se encontrarem por uma causa, por uma paixão em comum, a vontade de ir ao encontro familiar é muito maior.

Cresce número de fundações que esgotam os recursos ainda durante a vida dos doadores

Algumas fundações criadas por famílias e indivíduos norte-americanos e as doações feitas por eles têm passado por uma mudança importante nos últimos anos. É cada vez mais comum que, em vez de deixar a administração de seus recursos também para as próximas gerações, eles invistam tudo enquanto estão vivos.

“Há cerca de 50 anos, apenas 5% do total dos recursos das 50 maiores fundações norte-americanas estava previsto para ser integralmente utilizado. Em 2010, a proporção é de 24%”, constata a colunista Veronica Dagher em artigo publicado no The Wall Street Journal.

A articulista cita uma conversa com o consultor financeiro Cassidy Burns, que lhe falou sobre um casal que tentava encontrar um sucessor para seu investimento social privado. “Seus filhos adultos tinha carreiras bem-sucedidas, estavam criando família em diferentes partes do país e simplesmente não tinham interesse nas mesmas causas que moviam seus pais”, escreve Veronica.

Assim, o casal decidiu gastar todos os recursos da fundação. “Eles não queriam que a organização social se tornasse um fardo”, relatou Burns. Mais do que uma história isolada, isto parece estar se tornando uma tendência. O mais famoso – e mais pródigo – casal do mundo filantrópico, Bill e Melinda Gates, é um dos exemplos dessa opção.

A colunista vê no desinteresse dos herdeiros um dos motivos para a mudança comportamental. Além disso, nota um interesse crescente dos filantropos em alcançar maior impacto com seu investimento social privado. “Há o desejo da parte deles de alcançarem mudanças efetivas ainda durante suas vidas.” Um terceiro motivo seria o controle maior que os doadores teriam sobre seus investimentos sociais.

Conselheiros entrevistados por Veronica alertam, porém, que a prática pode acarretar alguns problemas. Organizações que queiram esgotar seus recursos trabalham com um prazo limitado e não têm tempo de aprender com os erros. Tendem, ainda, a ter aversão ao risco, afastando-se de causas em que se leva mais tempo para obter resultados.

As fundações que fazem doações também têm de preparar seus beneficiários para o momento em que não mais poderão contar com os recursos. “Comunicar-se com os beneficiários os ajudaria a se preparar para quando as doações se encerrarem”, diz Veronica.

Essas fundações deveriam ainda se comunicar com outros doadores que possam levar adiante a missão quando aquelas tiverem usado todos os seus recursos.

Relatório da ONU ressalta importância do investimento social privado para metas de desenvolvimento

Em 2015, termina o prazo para as nações cumprirem os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) – uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir, envolvendo áreas como renda, educação, saúde e meio ambiente. Ainda que tenha havido melhorias sensíveis em vários temas, resta muito por fazer. E, na negociação da agenda pós-2015, um importante ator emerge: o investimento social privado.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) aponta que o investimento social privado (ISP) pode contribuir de modo decisivo para o progresso global nos próximos anos. Segundo o estudo “Philantropy as an emerging contributor to development cooperation”, “a filantropia traz um novo grupo de atores, práticas e tipos de financiamento benéficos e complementares” à ajuda internacional.

O texto faz uma série de recomendações para que investidores sociais privados atuem em cooperação com governos e organismos multilaterais, que compõem a comunidade oficial de assistência. O foco recai sobretudo em países emergentes que tiveram avanços socioeconômicos nos últimos anos, como Brasil, China e Índia.

O capital privado aplicado em áreas sociais tem qualidades relevantes, avalia o documento: apoia a inovação e fornece capital “paciente” para desafios de longo prazo que “precisem de esforços que vão além dos humores políticos e dos interesses de curto prazo das empresas”. Governos e ONU precisam maximizar tais características do ISP.

Para isso, aponta o material, o investimento deve ser feito de forma estratégica e com metas bem traçadas: “As instituições filantrópicas precisam entender que seus próprios objetivos de ter mais escala, atingir resultados mais profundos e conseguir sustentabilidade financeira podem ganhar na colaboração com a comunidade oficial de assistência para o desenvolvimento”.

O estudo sublinha que o terceiro setor já tem contribuído sensivelmente para o avanço nos Objetivos do Milênio. Apenas nos Estados Unidos, segundo a Foundation Center, as entidades doaram em 2011 mais de US$ 4 bilhões para as metas – com destaque para o combate a AIDS, malária e outras doenças, que recebeu em torno de US$ 1,5 bilhão.

“Uma das grandes preocupações no campo do desenvolvimento internacional é como a agenda pós-2015 será financiada”, observa o relatório, lembrando que os fluxos de recursos da comunidade oficial de assistência para os países emergentes têm diminuído nos últimos anos. Em contraposição, aumentou o volume de recursos privados, entre eles os relacionados ao investimento social privado internacional.

O texto aponta a britânica Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo IDIS, como exemplo de internacionalização do ISP. “A CAF aconselha e distribui recursos ao redor do mundo, com escritórios em nove países”, diz o relatório, que acrescenta: “Tais iniciativas mostram que há uma expansão constante no envolvimento de fundações com o desenvolvimento mundial”.

Ao abordar o Brasil, o estudo cita Gife, IDIS e Ethos como casos de consolidação do setor no país. “Essas instituições têm trabalhado há mais de 15 anos para apoiar e inspirar corporações, famílias e comunidades a fazerem investimentos sociais que criem uma nação inclusiva.”

O estudo apresenta evidências de que a filantropia tem se expandido no país: “O número de membros do Gife vem crescendo e cada vez mais fundações e doadores têm procurado o IDIS em busca de conselhos”. No entanto, o montante de investimento social privado brasileiro ainda é limitado: “Alguns especialistas dizem que o tamanho e a escala dos problemas internos diminuem o interesse em doações internacionais”.

Entre as sugestões para ampliar a participação internacional do setor filantrópico está um maior reconhecimento dos atores privados por parte dos organismos multilaterais, que devem abrir mais espaços de participação. Já os governos têm de trabalhar para criar um ambiente propício para a filantropia tanto interna quanto internacional. As instituições sociais privadas têm de adaptar sua governança para atuar em parceria com a comunidade oficial de assistência.

 

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Especialista sugere a utilização de práticas do Google no trabalho de advocacy

A inovação é um dos grandes temas do momento. Fala-se dela em todo lugar, tenta-se aplicá-la em todas as atividades. O setor social privado, claro, não poderia ficar de fora da onda. No entanto, a inovação ainda está distante de uma das práticas mais importantes do terceiro setor: o advocacy. E qual o melhor lugar para buscar inspiração senão o Google, uma das mais inovadoras empresas da atualidade?

Esta é a sugestão que Duncan Green, conselheiro estratégico da organização internacional de combate à pobreza Oxfam, faz em um texto publicado na página do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

A inovação, escreve Green, está sendo discutida principalmente em áreas como projetos, gestão interna, pensamento inovador no setor privado, no governo e na academia, mas “outra área cada vez mais importante do nosso trabalho – o advocacy – está um pouco ausente de todo este circo da inovação”.

O autor reconhece que já existem algumas práticas muito inovadoras na área – como campanhas em torno de tributos que surgiram depois da crise de 2008 e sites virtuais de campanha, como Avaaz e Change.org – mas levanta a questão de como tornar a inovação algo mais sistemático no trabalho de advocacy de organizações da sociedade civil. Green dá cinco sugestões, quatro delas baseadas em práticas do Google.

A primeira delas, por mais estranho que pareça, é roubar mais. Da mesma forma que o Google está sempre de olho nas startups mais interessantes para comprá-las, as grandes organizações internacionais também deveriam olhar para as práticas de advocacy das menores para copiá-las. “Quando eu estava na Cafod (organização confessional britânica de combate à pobreza), ter minhas ideias roubadas pela Oxfam era um dos meus objetivos”, confessa Green.

O Google também tem a prática de criar suas próprias startups, braços com ideias incrivelmente inovadoras, mas ainda não testadas. A gigante da tecnologia simplesmente coloca tais projetos para funcionar no mundo real, e as deixa seguir livremente o rumo do sucesso ou do fracasso. Essa é outra lição que o setor social privado podia aprender com a empresa norte-americana – derivar ideias ousadas enquanto se mantém a atuação principal.

A aposta no incerto é a base de outra proposta de Green: ele sugere que as organizações mantenham um portfólio de projetos de risco, assim como o Google faz. “Eu temo que, no momento, nós tentemos minimizar os riscos em cada uma de nossas atividades separadas, criando um portfólio geral enviesadamente conservador e com objetivos de pouco risco ou pouco inovadores”, escreve o conselheiro da Oxfam.

Green também prega que as grandes organizações deem tempo de reflexão para seus funcionários. “Às vezes, parece uma medalha de honra estar 120% comprometido com uma causa, mas isso traz o risco de que aqueles que trabalham intensamente com advocacy não tenham tempo para ler, pensar e inovar”, diz Green. E, mais uma vez, a gigante da tecnologia dá o exemplo: “Compare isso com os famosos ‘20% de tempo’ do Google, que permite que todos os funcionários tirem um dia da semana para trabalhar em projetos paralelos”.

Por fim, um conselho que parece óbvio, mas que é muito pouco praticado: as pessoas do setor devem sair mais. “É preciso dar um dia por mês para elas visitarem o ‘mundo lá fora’, sem outro objetivo a não ser olhar e aprender”, escreve Green. “Busque pessoas que sejam relevantes, mas diferentes – líderes comunitários, think tanks, líderes religiosos e até organizações de direita, afinal, elas têm feito um ótimo trabalho no negócio de influenciar pessoas”, finaliza o conselheiro da Oxfam.

 

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Organizações sociais familiares também devem ser transparentes, diz especialista

A sucessão de gerações é um desafio no investimento social familiar. O envolvimento dos membros da família é fundamental, mas traz consigo dificuldades para a gestão de projetos, para um consenso entre visões de mundo diferentes e para o convívio pacífico entre os parentes. Nada disso, no entanto, afasta a necessidade de transparência nesse tipo de investimento.

Jean Whitney, membro da Associated Grant Makers e experiente consultora de filantropia familiar, escreveu sobre o assunto no site Family Giving News. Em seu artigo, ela pondera que muitas famílias preferem investir na área social de forma reservada, sem chamar atenção. Por outro lado, existe a necessidade de que todas as organizações da sociedade civil prestem contas ao público, o que obriga a algum grau de abertura.

De acordo com Jean, a discussão interfere até no impacto das ações do investimento social familiar. “Será que uma fundação pode ser confiável, criar parcerias e conseguir seus objetivos sem transparência?”, questiona a autora, que deixa bem clara sua posição: “com os avanços da tecnologia e das mídias sociais, a questão hoje não é ser ou não ser transparente, mas sim como ser transparente”.

No artigo, ela apresenta o site Glasspockets (http://www.glasspockets.org/), que elenca 23 indicadores de transparência para organizações da sociedade civil de perfil familiar e cujo nome vem de uma frase do banqueiro Russell Leffingwell, membro da diretoria da Carnegie Foundation e que afirmava que todas “as fundações deveriam ter bolsos de vidro”, (glasspockets, em inglês).

Relembrando um fórum de que participou recentemente, Jean citou que um dos temas discutidos foi se a transparência deveria envolver os “produtos” das organizações familiares (doações para projetos, resultados das estratégias) ou os “processos” (deliberações da diretoria, forma de tomada de decisões, planejamento interno).

Segundo ela, “muitas organizações familiares diriam que divulgar publicamente muitos de seus processos internos é difícil e desnecessário”. Porém, buscar a transparência pode ser um processo bem mais simples do que se pensa: “deve-se começar criando um site no qual a família conta sua história, fala sobre seus interesses e divide suas inspirações”, diz Jean, lembrando que muitas vezes estas histórias acabam sendo, de fato, muito inspiradoras.

 

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Jogo de dinheiro escondido vira febre nos EUA, mas está longe de ser investimento social

Parece cena de ficção. Num dos municípios mais populosos da Califórnia, São Francisco, uma pessoa esconde dezenas de pacotes de dinheiro com de US$ 20 a US$ 200 e dá pistas do “tesouro” por meio do Twitter. Centenas de internautas saem correndo por ruas e parques, seguindo as dicas postadas na rede social.

Foi assim que começou uma das febres recentes nos Estados Unidos, o @HiddenCash, que já tem mais de 700 mil seguidores. O autor da ideia, logo chamado de “filantropo anônimo” por parte da mídia norte-americana e europeia, repetiu a iniciativa em outras cidades: Sacramento (também na Califórnia), Los Angeles, Nova York, Cidade do México, Londres, Madri.

Sua identidade foi revelada em junho. Trata-se de Jason Buzi, um empresário do setor imobiliário. Durante suas manifestações, anônimas ou não, ele fez diferentes tipos de declarações: já classificou o @HiddenCash como apenas um jogo divertido, como algo que “não substitui o investimento social privado” e como um movimento para estimular outros ricos a fazerem o mesmo. Na página na rede social, a ideia é oficialmente autodenominada “uma experiência social anônima em prol do bem”.

“Retribuir é pelo menos tão recompensador quanto fazer um bom investimento, receber grandes pagamentos ou fazer muito dinheiro”, disse Buzi em entrevista à CNN. Em outro momento da conversa, afirmou: “não tem nada de movimento político, não tem nada de movimento religioso, não tem nada de movimento empresarial. O movimento é distribuir atos de bondade e pôr um sorriso no rosto das pessoas”.

Ainda que a iniciativa tenha sido chamada várias vezes de filantropia anônima, está claro que não se trata disso. “Deixar quantias relativamente pequenas de dinheiro para pessoas aleatórias (que estão no Twitter com tempo de sobra) pode não ser classificado como ‘retribuir’ na avaliação de todos”, escreve a colunista Susan Berfield, da Bloomberg Businessweek. Ela cita, por exemplo, que as pessoas postam no Twitter que gastam o dinheiro com ingressos para jogo de beisebol, pizza com colegas de trabalho ou uma noite num bar.

O professor Richard Marker, da Universidade de Nova York, resumiu bem a questão, explicando que a filantropia envolve três estágios: compaixão, estratégia (em que se pergunta: está dando certo?) e sistematização (em que se pergunta: minha ação está impactando todo o contexto do problema?). “O @HiddenCash está apenas no primeiro estágio”, diz Marker.

 

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O investimento em lideranças é fundamental para o setor social privado

Muitos fatores são cruciais para fortalecer o investimento social privado. Alguns enfatizam a necessidade de mais recursos, outros se voltam para a busca de um melhor apoio na área jurídica. Um ponto fundamental, no entanto, é frequentemente negligenciado: a importância de criar lideranças no setor.

“As pessoas não nascem com aquilo que é necessário para administrar e motivar uma equipe, construir parcerias e liderar as mudanças”, escreve o gestor Ira Hirschfield, presidente do Evelyn and Walter Haas Jr. Fund, entidade norte-americana de promoção de direitos fundamentais.

Em texto intitulado “Investing in leadership to accelerate philanthropic impact”, publicado no site da Stanford Social Innovation Review, ele observa que o setor privado gasta bilhões de dólares no desenvolvimento de lideranças, “pois sabe que líderes preparados são um investimento poderoso”. No setor social, porém, a despesa é relativamente baixa. “Vale questionar se estamos efetivamente capitalizando lideranças.”

A organização presidida por Hirschfield tem atuado nessa área. Ela iniciou, por exemplo, um programa para fomentar líderes na luta por direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT).

Representante do movimento, Rea Carey (diretora-executiva da National Gay and Lesbian Task Force) resume bem a importância de formar lideranças: “é como vitaminar o investimento social privado. Se você quiser que suas doações tenham sucesso, se você quiser que as entidades que você apoia façam o melhor possível para atingir suas metas, é preciso investir em desenvolvimento de lideranças”.

No Brasil, a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), fundada em 2012, faz um caminho um pouco diferente. Forma não propriamente lideranças do terceiro setor, mas que atuem em causas sociais dentro da esfera política. “Nós estimulamos as pessoas a conhecerem e participarem mais das estruturas institucionais existentes e queremos ter uma rede com uma visão compartilhada sobre o desenvolvimento do Brasil”, diz o fundador e diretor executivo da Raps, Marcos Vinícius de Campos.

Entre as características importantes de um líder estão, segundo Campos, ser uma pessoa “mobilizada”, conhecer metodologias de ação e métricas para avaliar resultados e trabalhar com transparência. “O Brasil precisa adensar sua sociedade civil. Temos muitas pessoas talentosas e hoje há muita gente qualificada abrindo mão de altos postos no mercado empresarial e voltando-se para uma atuação voltada ao bem coletivo”.

Um exemplo dessa trajetória do setor empresarial para o terceiro setor pode ser visto dentro do IDIS, com a história de Paula Fabiani, diretora-presidente desde setembro de 2014. “Sou economista por formação. Trabalhei no setor privado, no mercado financeiro, e então fiz um curso de gestão de organizações da sociedade civil na Fundação Getúlio Vargas”, conta Paula, lembrando que não basta uma formação qualificada para se tornar líder na área social: “é preciso gastar um tempo entendendo o setor para então se posicionar”.

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Burocracia, falta de exemplos e de incentivos travam doações no Brasil, dizem investidores sociais

Quais são os principais desafios do investidor social? O site do IDIS fez essa pergunta a duas personalidades da área: Fernando Stickel, diretor da Fundação Stickel, e Denis Minev, um dos fundadores da Fundação Amazonas Sustentável. Entre os pontos mencionados estão burocracia, incentivos legais ainda limitados e falta de doadores que sirvam de exemplo para a sociedade.

Segundo Stickel, faltam incentivos e a questão burocrática é tão grave,  que ele chegou a pensar em desistir do trabalho social depois de dois anos à frente da organização, fundada por seus pais em 1954.  Ele assumiu a entidade em 2004, e avalia que nada mudou nesse sentido desde então.

Já Denis Minev, que faz investimentos sociais variados no Amazonas, estado em que vive, lembra que existem incentivos para temas como cultura, mas faltam ainda normas para estimular, por exemplo, o trabalho voluntário. “Incentivos fiscais são importantes e certamente ajudam um ambiente filantrópico”, comenta.

Stickel diz que é preciso uma legislação que efetivamente fortaleça o investimento social privado. “Tem que implementar várias coisas que são apenas faladas para, assim, mudar o padrão do comportamento”, diz, acrescentando que o projeto de lei para regulamentar os fundos patrimoniais foi um importante passo nessa direção.

Minev ressalta a necessidade de casos que sirvam de modelo para outras pessoas. “A liderança pelo exemplo é, em geral, mais eficiente do que pelo discurso. Precisamos de exemplos de porte como catalisadores. A inclinação geral para doar é baixa.”. Na mesma linha, Stickel diz que as “instituições sérias que recebem doações e conseguem mostrar seu trabalho acabam servindo de exemplo para incentivar a cultura de doação no Brasil”.

Mas ressalta que há problemas também no modo de pensar da elite. “Acredita-se que é suficiente pagar impostos, e o governo deve cuidar do resto”, afirma Minev. “Nossas elites não têm bom conhecimento de nossa própria sociedade. A classe A se isolou, a distância entre as classes é grande e impede a formação de empatia social.”

Stickel, porém, vê alguns avanços importantes. “O terceiro setor tem se movimentado mais, há várias iniciativas interessantes de entidades como o Gife e o IDIS, que estão realizando encontros e também têm pressionado o governo para que se façam mudanças que beneficiem o setor”.

Planejamento estratégico ajuda instituto a definir seu futuro

Há 16 anos, o Instituto da Oportunidade Social (IOS), mantido pela gigante brasileira de software TOTVS, trabalha com a formação e empregabilidade de jovens e pessoas com deficiência. Tanto tempo de estrada, no entanto, exige momentos de parada para repensar os caminhos percorridos e avaliar quais deverão ser tomados.

“Em 2013, ao assumir uma nova gestão, começamos a refletir sobre o que é nosso trabalho e quais os nossos desafios nos próximos três anos”, diz a gerente geral do IOS, Kelly Christine Lopes. A organização sentiu necessidade de um planejamento estratégico que a ajudasse a definir uma visão de futuro. “Buscamos o IDIS para nos ajudar, pois entendemos que o instituto é uma referência no investimento social privado”, continua Kelly.

O primeiro passo foi fazer um diagnóstico, para obter informações precisas sobre o IOS, explica a gerente de projetos do IDIS, Raquel Coimbra, que coordenou o processo. Na etapa de diagnóstico foram feitas entrevistas com diversas pessoas que trabalham no IOS – cerca de 20% dos funcionários, segundo Kelly, participaram dessa fase de conversas.

A etapa de reflexão estratégica também contou com a participação da equipe do IOS. O IDIS utilizou a metodologia do Balanced Scorecard (BSC) adaptado a organizações da sociedade civil e, como resultado, construiu um mapa que apontou quatro grandes frentes estratégicas para o IOS. “Após a construção do mapa, desdobramos as quatro frentes estratégicas em programas e projetos dentro de um plano de ação com metas até 2016 para o IOS”, diz Raquel.

O trabalho do IDIS encerrou-se com a entrega de um relatório final. O documento está servindo de pilar para dois projetos que o IOS vem desenvolvendo. “Para termos ainda mais presença entre nosso público, estamos investindo em um modelo de capacitação por videoaulas”, diz Kelly. No momento, a equipe está avaliando quais são os modelos existentes no mercado e o que desperta o interesse dos jovens.

Além disso, o instituto também tenta transformar seus cursos em modelos de franquias sociais. “Estamos trabalhando com uma equipe jurídica e buscando parcerias com o Ministério do Trabalho, para nos expandirmos e aumentarmos nossa presença”, afirma Kelly. Ela afirma que os dois projetos devem ser implantados no começo de 2015.

Paula Jancso Fabiani comenta os 15 anos do IDIS

Comemorar os 15 anos de aniversário do IDIS é motivo de grande alegria e satisfação para todos que se relacionam ou já se relacionaram com esta organização. Como muitos de vocês testemunharam, foram 15 anos de árduo trabalho para apoiar a qualificação do investimento social privado no Brasil. O IDIS foi pioneiro no debate propositivo de vários temas como filantropia familiar e comunitária, marketing relacionado à causas e, mais recentemente, fundos patrimoniais. Hoje, vocês aqui presentes e muitos outros compreendem que a filantropia deve ser estratégica para contribuir com o desenvolvimento do país. O IDIS, junto com outras organizações do setor, colaborou de forma decisiva para esta evolução. Afinal, esta é a nossa missão: apoiar o investimento social privado para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e sustentável.

O Brasil e o mundo mudaram muito nestes últimos 15 anos e o ecossistema do investimento social privado também. Estamos presenciando a emergência de uma filantropia conectada, aberta e ágil, somando forças com a filantropia tradicional que tem muita experiência acumulada a oferecer. Debatemos como levar projetos à escala, como viabilizar parcerias com empresas e o poder público, como monitorar e avaliar, falamos sobre negócios sociais, crowdfunding e outros mecanismos para a promoção de uma cultura de doação e transformação social. Buscamos novos caminhos para compreender os problemas e desenhar soluções.

Nesse cenário de mudança acelerada, o IDIS segue buscando amplificar seu impacto na sociedade. Esperamos consolidar as parcerias atuais e estabelecer novas parcerias (dentro e fora do Brasil), aumentar nossa inserção digital e continuar batalhando por um ambiente ainda mais favorável para o investidor social. Ao assumir com muita honra e orgulho a liderança desta extraordinária organização, gostaria de reafirmar meu compromisso com o sucesso do IDIS, para que seu futuro possa ser tão admirável quanto sua trajetória até o presente.

Falando de trajetória, gostaria de destacar a inestimável contribuição de Marcos Kisil na construção e desenvolvimento do investimento social privado brasileiro, na criação deste IDIS que conhecemos e no meu desenvolvimento como profissional do setor. Marcos é, e sempre será, um grande estrategista. Sua visão de mundo e de onde podemos chegar sempre me surpreendeu e me inspirou. Levo comigo esta ambição de ir além, de realizar mais do que imaginamos possível. Os 15 anos do IDIS são um legado que assumo com muita responsabilidade e gratidão. Gratidão por ter o Marcos como um mentor que me ensinou a valorizar os seres humanos acima de tudo, a ter perseverança e resiliência na solução de questões difíceis.

Por fim, não posso deixar de agradecer à maravilhosa equipe (passada e a atual) e o Conselho do IDIS, que tem apoiado esta transição e com quem conto para a construção de um futuro ainda mais expressivo para o investimento social privado brasileiro. Convido a todos os nossos leitores do InVista a celebrar estes 15 anos de dedicação na construção de um Brasil mais justo e sustentável.

Aos 15 anos, IDIS lança novo site para marcar o realinhamento estratégico de sua comunicação

Acostumado a auxiliar organizações maduras a avaliarem o trabalho e fazerem ajustes depois de muito tempo de estrada, chegou a hora de o IDIS, ao completar 15 anos, rever sua própria atuação. O processo inclui reformulação da forma de se comunicar.

“Estamos fazendo um processo de revisão estratégica da comunicação e da atuação do IDIS”, afirma a diretora-executiva, Paula Fabiani. “Buscamos formas de nos comunicar de forma mais efetiva.”

A criação de um novo site é peça fundamental nessa etapa, e não se trata apenas de uma troca de roupagem, mas de uma mudança de postura. Afinal, se algo mudou muito nestes 15 anos foram justamente as ferramentas de comunicação, com o crescimento exponencial da internet e das redes sociais. “Vamos realinhar todos os nossos canais. Queremos aumentar a inserção digital do IDIS, utilizar as ferramentas de maneira mais ampla, trazer mais modernidade à comunicação”, explica Paula.

Não foi só o advento da internet e das mídias sociais que pressionou por mudanças na comunicação. O próprio investimento social privado mudou muito nesta década e meia. “Quando o IDIS surgiu, havia pouca informação sobre o tema; agora, há mais informação, queremos focar  nas inovações do setor”, diz Paula.

O instituto agora adota uma postura mais proativa para disseminar. Este posicionamento já havia ficado mais claro com a organização do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, realizado em 2012 e 2013. Além de produzir informação – como publicações, disponíveis no site –, o IDIS passa a discutir os grandes temas do setor.

A organização também tem se lançado com mais intensidade em ações de advocacy, como as voltadas para a aprovação, no Congresso Nacional, de um marco regulatório para criação e manutenção de fundos patrimoniais. Além disso, está envolvida em ações para desenvolver política pública para a primeira infância para populações ribeirinhas da Amazônia.

Outra iniciativa foi desenvolver o Redis, uma rede para colocar em contato direto investidores sociais privados de todo o Brasil. “A comunidade filantrópica brasileira é ainda muito fragmentada, o setor é recente e existem poucos institutos e fundações que trabalham em parceria”, afirma Paula, lembrando que o objetivo é criar uma rede de investidores sociais que colaborem uns com os  outros.

Com este reposicionamento estratégico, o IDIS acompanha as mudanças pelas quais o investimento social privado passou nos últimos anos. Mais ainda: continua a ser um dos impulsionadores do setor, como tem sido até agora.

Por Que as Empresas Estão Implantando Códigos de Ética?

16/08/2006 – Escrito por Maria do Carmo Whitaker* e publicado originalmente no livro “Ética na Vida das Empresas – Depoimentos e Experiências”, o artigo defende que o código de ética é um facilitador para se aliar lucros, produtividade, qualidade e eficiência de produtos e serviços, além de outros valores intangíveis que advêm das pessoas que as integram as empresas, tais como honestidade, justiça, cooperação, comprensão.

“Nossa empresa é ética. Temos uma filosofia de trabalho que prioriza a coerência entre o que se diz e o que se faz. Preservamos nossos valores. Somos reconhecidos no mercado por essa nossa postura. Não transigimos com nossos princípios. Assim, não precisamos de código de ética”.Não raro esse comentário advém de empresários que exercem importante papel de liderança, sem perceberem as reais vantagens de adotar, para suas empresas, códigos de ética ou guias de conduta.

Isso não quer dizer que para ser ética, seja imprescindível que a empresa adote um código de conduta. O importante é que, se optar por adotá-lo, deverá estimular a vivência prática de seu conteúdo no dia-a-dia.

 

Código de ética ou guia de conduta

O código de ética é um instrumento de realização da filosofia da empresa, de sua visão, missão e valores. “É a declaração formal das expectativas da empresa à conduta de seus executivos e demais funcionários.” 1

O código de ética deve ser concebido pela própria empresa, expressando sua cultura. Serve para orientar as ações de seus colaboradores e explicitar a postura da empresa em face dos diferentes públicos com os quais interage. É um instrumento que serve de inspiração para as pessoas que  aderem a ele e se comprometem com seu conteúdo. É imperioso que haja consistência e coerência entre o que está disposto no código de ética e o que se vive na organização. Se o código de conduta de fato cumprir o seu papel, sem dúvida significará um diferencial que agregará valor à empresa.

 

Por que as empresas estão implantando códigos de ética?

As empresas estão implantando códigos de ética porque esse documento tem a faculdade de:

  • Fornecer critérios ou diretrizes para que as pessoas se sintam seguras ao adotarem formas éticas de se conduzir.
  • Garantir homogeneidade na forma de encaminhar questões específicas.
  • Aumentar a integração entre os funcionários da empresa.
  • Favorecer ótimo ambiente de trabalho que desencadeia a boa qualidade da produção, alto rendimento e, por via de conseqüência, ampliação dos negócios e maior lucro.
  • Criar nos colaboradores maior sensibilidade que lhes permita procurar o bem-estar dos clientes e fornecedores e, em conseqüência, sua satisfação.
  • Estimular o comprometimento de todos os envolvidos na elaboração do documento.
  • Proteger interesses públicos e de profissionais que contribuem para a organização.
  • Facilitar o desenvolvimento da competitividade saudável entre concorrentes.
  • Consolidar a lealdade e a fidelidade do cliente.
  • Atrair clientes, fornecedores, colaboradores e parceiros que se conduzem dentro de elevados padrões éticos.
  • Agregar valor e fortalecer a  imagem da empresa.
  • Garantir a sustentabilidade da empresa.

Eis as razões2 que respondem à pergunta formulada no título. Elas levam as pessoas a acreditarem na possibilidade de explorar um caminho que abre espaço para que percorram juntos, sem antagonismo, os valores intangíveis e os resultados econômicos.

As pessoas que se dedicam à consultoria podem facilmente identificar, senão todos, ao menos alguns dos efeitos gerados nas empresas e nos seus colaboradores, durante e após o processo de implantação do código de ética ou do guia de conduta.

 

A crescente preocupação dos empresários

Os líderes empresariais perceberam que a ética passou a ser um fator de competitividade. Por isso é crescente a preocupação, entre os empresários brasileiros, com a adoção de padrões éticos para suas organizações. Sem dúvida, os integrantes dessas organizações serão analisados através do comportamento e das ações por eles praticadas, tendo como base um conjunto de princípios e valores.

Da mesma forma que o indivíduo é analisado pelos seus atos, as empresas (que são formadas por indivíduos) passaram a ter sua conduta mais controlada e analisada, sobretudo após a edição de leis que visam à defesa de interesses coletivos.

 

Todas as pessoas querem ser éticas . E a empresa?

De modo muito simples e resumido pode-se afirmar que é ético aquele que, livremente, com a consciência bem formada, responsabilidade e reta intenção, aplica a inteligência na procura da verdade e a vontade na busca do bem, em todas as circunstâncias. Nessa definição está a referência, o parâmetro da pessoa ética e pode-se afirmar com toda segurança, que existem muitas pessoas que se esforçam por atingir essa meta.

A fonte da Ética é a própria realidade humana, o ambiente em que se vive. Desta forma, o ambiente de trabalho, no qual se convive grande parte do dia, se desenvolve em uma sucessão de escolhas para tomadas de decisões e de práticas de virtudes, que nada mais são do que os valores transformados em ação.

A credibilidade de uma instituição é o reflexo da prática efetiva de valores como a integridade, honestidade, transparência, qualidade do produto, eficiência do serviço, respeito ao consumidor, entre outros. Conclui-se, portanto, que quando se fala em empresa ética, quer-se dizer que as pessoas que nela trabalham são éticas e buscam a excelência. Que os princípios e valores eleitos pelos seus fundadores e que impregnam a cultura da organização são éticos. Que os seus colaboradores, desde a alta administração até o último contratado, zelam pela conduta ética, e procuram exercer a liberdade com responsabilidade, tanto no seu relacionamento interno, como com o público externo.

Em suma, as pessoas são éticas; a empresa é uma pessoa jurídica, uma ficção de direito que, como se disse, refletirá a conduta daqueles que a representam.

 

Vulnerabilidade das empresas

Em conseqüência, se a ética é questão de conduta das pessoas  não cabe a indagação sobre que tipo de empresas são mais vulneráveis às fraudes e problemas éticos, se as pequenas ou as grandes. Cada ser humano desenvolve um papel na sociedade. São as convicções e comprometimentos das pessoas, que conduzidas pela sua consciência, bem ou mal formada, praticarão condutas éticas ou antiéticas. Qualquer um de nós está sujeito às fraquezas humanas e, portanto, torna-se um imperativo a manutenção de um esforço diário para a prática do bem.  Assim, o problema não é das pequenas ou grandes empresas, mas das pessoas que integram as grandes e pequenas empresas.

 

Dois grandes desafios

Nessa dimensão ética distinguem-se dois grandes planos de ação que são propostos como desafios às organizações: de um lado, em termos de projeção de seus valores para o exterior, fala-se em empresa cidadã, no sentido de respeito ao meio ambiente, incentivo ao trabalho voluntário, realização de algum benefício para a comunidade, responsabilidade social, sustentabilidade, etc.

De outro lado, sob a perspectiva de seu público mais próximo, como executivos, acionistas, empregados, colaboradores, fornecedores, envidam-se esforços para a criação de um sistema que assegure um modo ético de operar, sempre respeitando os princípios gerais da organização e os princípios do direito e da moral.

São muito pesados os ônus impostos às empresas que, despreocupadas com a ética, enfrentam situações que muitas vezes, em apenas um dia, destroem uma imagem que consumiu anos para ser conquistada. Multas elevadas, quebra da rotina, empregados desmotivados, fraude interna, perda da confiança na reputação da empresa, são exemplos desses ônus.

Daí o motivo de muitas empresas terem adotado elevados padrões pessoais de conduta para seleção de seus empregados, cientes de que, atualmente, a integridade nos negócios exige profissionais altamente capazes de conciliar princípios pessoais e valores empresariais.

 

Gestão da ética

Ao lidar com pessoas, é imprescindível considerar a dignidade da pessoa, facilitando e promovendo o seu crescimento integral. Não se pode considerar as pessoas como simples elementos de produção e geração de lucros, que estão a serviço da empresa. Ao contrário, a empresa ética torna-se um instrumento do desenvolvimento econômico, a serviço da mulher e do homem integral, um campo riquíssimo de aperfeiçoamento da pessoa.

O empresário ético, que tem visão de futuro, investe na formação de seus colaboradores e conquista o comprometimento deles; lança desafios para que cresçam e se superem.

Por essa razão, muitas empresas de respeito empreendem um esforço organizado, a fim de encorajar a conduta ética entre seus empregados. Para tanto, implantam códigos de ética, reciclam o aprendizado de seus executivos e colaboradores, idealizam programas (hoje em dia programas virtuais) de treinamento, criam comitês de ética, capacitam líderes que percorrem os estabelecimentos da organização incentivando o desenvolvimento de um clima ético. Nessa perspectiva, servem-se de consultores externos que os assessoram na elaboração de códigos de conduta e no desenvolvimento do clima ético, sensibilizando seus integrantes, mediante cursos e palestras, e participando ativamente de treinamentos, procurando adequar tudo à legislação e aos critérios oferecidos por instituições internacionais de renome.

 

O empresário ético no seu dia-a-dia

Após inúmeras conversas e entrevistas com empresários que privilegiam a ética foi possível identificar os seguintes itens em suas condutas:

  • Certificam-se de que sua consciência foi bem formada.
  • Seguem a voz de sua consciência.
  • Não transigem com seus princípios.
  • Agem com liberdade e responsabilidade.
  • Cercam-se de bons assessores.
  • Desenvolvem suas próprias competências e estabelecem planos estratégicos.
  • Aglutinam e mobilizam pessoas, estimulam iniciativas e novas idéias.
  • Conquistam a confiança de seus colaboradores e investem no seu treinamento.
  • Respeitam as pessoas, valorizando a dignidade de cada colaborador, cliente, fornecedor, concorrente, e todas as demais pessoas de seu círculo de relacionamento.

 

Aliar resultados econômicos aos valores intangíveis

Pode-se concluir, portanto, que o código de ética é um facilitador para se aliar lucros, resultados, produtividade, qualidade e eficiência de produtos e serviços, além de outros valores típicos de empresa, com valores intangíveis que advém das pessoas que a integram, tais como: honestidade, justiça, cooperação, tenacidade, compreensão, exigência, prudência, determinação, entre outros.

*Maria do Carmo Whitaker, professora universitária, sócia fundadora e ex-diretora da Associação Latino-Americana de Ética, Negócios e Economia, – Alene. Advogada, membro do Tribunal de Ética da OAB/SP. Membro do Grupo de Excelência em Ética e Responsabilidade Social do Conselho Regional de Administração – CRA/SP, consultora de Ética nas organizações e organizadora do site de ética empresarial do Portal Academus.

1 ARRUDA, Maria Cecilia Coutinho de, RAMOS, Jose Maria Rodriguez e WHITAKER, Maria do Carmo. Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica. São Paulo: Atlas, 2003. p.64.

2 ARRUDA, Maria Cecilia Coutinho de. Código de Ética: um instrumento que adiciona valor. São Paulo: Negócio Editora, 2002. p. 2-18. (com adaptações)

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O IDIS realiza o Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais desde 2012, e a partir de 2013 começou também a promover Encontros Regionais de Investidores Sociais, que já foram realizados no Amazonas, em Minas Gerais, Pernambuco e Santa Catarina.

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