Diaspora Giving: Imigrantes que Promovem o Desenvolvimento de Seus Países Natais

Estudo realizado pela The Philanthropic Initiative (TPI) e pela Global Equitity Initiative (GEI), da Harvard University, estuda o crescimento de doações de imigrantes para seus países de origem. As transferências, que sempre ocorreram com fins privados (para uso da família ou investimento pessoal), cada vez mais visam a promoção do benefício público.

A pesquisa Diaspora Philanthropy: Influences, Initiatives and Issues aponta a evolução de práticas de filantropia estratégica nesse setor. A ação, chamada de filantropia de diáspora (diaspora giving, em inglês), está se tornando um importante ator no desenvolvimento de comunidades locais. Além de traçar um panorama do cenário global,  o estudo analisa casos nas Filipinas, Vietnã, Quênia e Colômbia.

A transferência de recursos de residentes de um país em direção a suas nações de origem aumentou rapidamente nas últimas duas décadas. O Banco Mundial estima que, em 2006, as remessas dessa natureza tenham atingido os 275 bilhões de dólares (206 bilhões foram direcionados a países em desenvolvimento). A maior parte foi enviada para as famílias ou para investimentos pessoais. Porém, uma porção das transferências foi realizada com fins públicos.

As doações oriundas de comunidades de imigrantes (também chamadas de comunidades de diáspora) tradicionalmente beneficiam programas relacionados à educação e infra-estrutura ou são repostas a calamidades.

Organizações facilitadoras

Várias fundações e instituições (como a American India Foundation, a Give2Asia e a Brazil Foundation) criaram mecanismos dedicados à transmissão de contribuições de comunidades de diáspora para programas e projetos de suas comunidades originais. Esses intermediários criam canais eficientes para as doações, ao mesmo tempo em que servem como fontes de informações confiáveis sobre causas legítimas que precisam de recursos.

Nesse sentido, a parceria entre organizações internacionais e os grupos de promoção da diáspora tem aparecido como uma tendência. Em 2006, o Banco Interamericano de Desenvolvimento criou o Promoting Diaspora and Local Support for Productive Initiatives. O objetivo é dar suporte a projetos de desenvolvimento local, facilitando parcerias entre comunidades de diáspora de países como Argentina,  República Dominicana, El Salvador, Guatemala, México e Nicarágua.

Embora a maioria das pesquisas no setor estude transferências monetárias, o voluntariado e a transferência de conhecimento podem ser tão ou mais importantes em alguns países. Com base nessa constatação, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) desenvolveu o programa Transfer of Knowledge Through Expatriate Nationals (Tokten), que facilita a assistência e a consultoria de curto-prazo de profissionais qualificados a seus países de origem. Até 2007, o programa já tinha mobilizado mais de 5 mil pessoas em 49 países.

 

 

Gestão de Redes Sociais

Consultora em desenvolvimento de grupos, redes e comunidades, Célia Schlithler aborda os principais elementos para a gestão de redes sociais. A especialista destaca a função dos facilitadores e analisa como algumas ferramentas podem potencializar socialização e resultados. O documento foi a base teórica da sétima oficina de formação das Redes Pela Educação Infantil (REDINS).

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Investimento Social é Assunto de Família

Diretora de Empresas e Famílias do IDIS, Juliana Gazzotti Schneider discute o engajamento social de indivíduos de alto poder aquisitivo. Segundo ela, o planejamento estratégico da filantropia familiar garante resultados positivos e fortalece os valores dos membros da família.

“Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
e quer construir um país”
Burguesia, de Cazuza

Quando Cazuza lançou, em 1989, uma de suas canções de protesto mais conhecidas e polêmicas – Burguesia – quis ressaltar, em curtos versos, que não se pode generalizar as críticas. Quase vinte anos depois, a crescente disposição por parte das famílias ricas em colaborar com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável mostra que aquele cuidado do compositor não foi em vão.

Esse comportamento vem sendo observado desde 1999 no cotidiano de trabalho do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), que presta apoio técnico a famílias, empresas e indivíduos que desejam realizar seu investimento social forma estratégica e assertiva.

O 11º relatório Riqueza Mundial produzido pelas empresas Merrill Lynch e Capgemini e publicado em junho de 2007 apontou que, no Brasil, em 2006, havia 120 mil pessoas com patrimônio acima de um milhão de dólares investido em ativos. Um crescimento de 10,1% em relação a 2005, acima da média mundial (8,3%). Esses números evidenciam o crescimento da riqueza acumulada no País e a intensificação da desigualdade social.

Cientes de seu papel como cidadãos, as famílias de alto poder aquisitivo vêm engajando-se em questões sociais. Mas como nem sempre sabem aplicar seus recursos de maneira estratégica nessa área, contentam-se com a realização de ações de forma aleatória, pontual e assistencialista, como a doação de bens para creches, asilos, escolas etc.

Embora essa preocupação com a redistribuição de recursos seja louvável, é imprescindível que as famílias passem a se debruçar na destinação inteligente de seus recursos, como a que ocorre no caso de ações de investimento social bem-feitas. Esse processo é importante porque é capaz de ampliar os impactos positivos da doação e contribuir para uma efetiva transformação social.

Quando o investimento social da família é pensado de forma eficiente e eficaz, garante-se que o dinheiro investido seja empregado corretamente, beneficiando o público-alvo. Possibilita-se também que a família controle e monitore os resultados do investimento, como faz com suas aplicações financeiras. E criam-se condições para dar continuidade ao desejo da família de doar, pois, nesse processo de estruturação do investimento, ela tem a oportunidade de estreitar as relações entre seus membros, fortalecer e preservar seus valores, além de desenvolver e deixar um legado familiar de responsabilidade social.

Por ser um trabalho complexo, que parte de princípios como definição de um foco de atuação com a qual seus membros da família se identificam, avaliação conjunta do valor do patrimônio a ser revertido, e estabelecimento da maneira de empregar o recurso, a iniciativa pode ser árdua e exigir da família um apoio profissional.

Num tempo em que a área social está amplamente em evidência, surgem cada vez mais estratégias para eliminar as desigualdades do país. Nesse sentido, é necessário reconhecer o papel da família brasileira e apoiá-la para que ela possa contribuir de maneira eficiente a mudar esse quadro.

 

Juliana Gazzotti Schneider é Diretora de Empresas e Famílias do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.

Desfios de Escala: Fator para Desenvolvimento Comunitário

No artigo, Célia Schlithler, diretora de Desenvolvimento Comunitário do IDIS, fala sobre o desafio de dar escala aos investimentos sociais privados. Um tema que deve entrar na agenda de discussões de representantes dos três setores da sociedade.

O volume de recursos alocados por institutos e fundações empresariais em ações sociais já é significativo e vem crescendo nos últimos anos. O estudo Ação Social das Empresas, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que 69% das empresas brasileiras (quase 600 mil) destinaram cerca de 4,7 bilhões de reais (0,27% do PIB) para fins públicos em 2004. Porém, a demanda social do país ainda é enorme, por isso é essencial que representantes do setor público, privado e terceiro setor desenvolvam estratégias para potencializar os efeitos de iniciativas bem-sucedidas.

Nesse cenário, a criação de tecnologias sociais facilmente reaplicáveis pode ser encarada como um caminho a ser traçado, inclusive com a contribuição da comunidade acadêmica. Mas é preciso salientar que o processo de multiplicação não pode ser a simples duplicação mecânica de uma metodologia em diversas localidades, ou replicação das soluções. Para alcançar bons resultados, as iniciativas devem ser adaptadas às características de cada comunidade em que elas serão implantadas.

Como afirmou Jacques Pena, presidente da Fundação Banco do Brasil, durante o 5º Congresso Gife sobre Investimento Social Privado, o monitoramento de milhares de iniciativas pontuais é difícil e caro. A melhor alternativa é a instituição oferecer produtos, técnicas e metodologias reaplicáveis a outras pessoas e organizações. Isso estimula a apropriação dessas ferramentas por diversas comunidades e gera a escala pretendida. Andrés Thompson, diretor de programas da Fundação Kellogg para América Latina e Caribe, vai além. Para ele, a consciência da mudança é mais importante do que a tecnologia social em si. Por isso, defende que idéias sejam disseminadas, não apenas projetos ou tecnologias sociais.

Exemplos a seguir

Duas organizações que estão obtendo bons resultados com a reaplicação de suas metodologias são o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e própria a Fundação Banco do Brasil. Por meio do programa 1 Milhão de Cisternas, o Unicef, com a organização da sociedade civil Articulação do Semi-árido Brasileiro (ASA), construiu 222 mil cisternas no Nordeste, até o final de 2007. Esses equipamentos beneficiaram mais de 1 milhão pessoas em 1.031 municípios. A organização pretende implantar um milhão de cisternas, beneficiando 5 milhões de pessoas até 2010.

Já a Fundação Banco do Brasil usou a estratégia para aplicar 146 milhões de reais no Nordeste brasileiro entre 2003 e 2007. As tecnologias dos programas Água Doce (dessalinizadores de água e técnicas sustentáveis no semi-árido), Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (práticas de agricultura sustentáveis), Uma Terra e Duas Águas (alternativas de captação de água) e Saneamento Básico Rural (substituição de fossas negras por fossas sépticas biodigestoras, que produzem adubo orgânico) foram reaplicadas nos estados da região.

Quando uma instituição deseja reaplicar sua metodologia, o mais recomendado é que ela pense no assunto durante o planejamento da ação. Nesse momento, é mais fácil encaminhar a iniciativa rumo à criação de uma tecnologia social. Isso não significa, porém, que seja impossível extrair uma tecnologia de uma metodologia já existente.

Um bom exemplo disso é a experiência do IDIS com o programa de Formação de Redes para a Educação Infantil (REDINs). A iniciativa nasceu de um projeto piloto, realizado em Belo Horizonte em 2003. Depois, ele foi expandido, reaplicado e aprimorado em outros municípios graças ao financiamento de parceiros. Hoje, o programa rende ao instituto uma metodologia consolidada de formação de redes intersetoriais em prol do desenvolvimento comunitário. Mas a iniciativa ainda não se apresenta como um modelo de reaplicação autônoma, isto é, que funcione sem a orientação direta do IDIS.

O esforço do IDIS agora vai no sentido de transformar o conhecimento adquirido em metodologia de fácil apropriação e aplicação em quaisquer comunidades. Serão criadas propostas que unam simplicidade de reaplicação e participação comunitária.

 

 

Livro Mostra Como Emprendedores Sociais Mudam o Mundo

Como empreendedores podem resolver problemas econômicos, sociais e ambientais e, ao mesmo tempo, criar mercados promissores? O livro “The power of unreasonable people: How Social Entrepreneurs create markets that change the world”, de John Elkington, diretor e fundador da consultoria internacional SustainAbility, e Pamela Hartigan, diretora da Schwab Foundation, mostra exemplos bem-sucedidos e não-convencionais de empreendimentos sociais.

The power of unreasonable people: How Social Entrepreneurs create markets that change the worldO livro, publicado em fevereiro de 2008 pela editora da Universidade de Harvard (Estados Unidos) e distribuído no Fórum Econômico Mundial, explora o conceito de empreendimento social, um movimento que, segundo os autores, vem ganhando força nos Estados Unidos e no resto do mundo. A prática é encarada como a busca por oportunidades para criar padrões de mudança social.

O conceito nasceu a partir da comparação com outras organizações do setor social. Enquanto muitas dessas concentram esforços na redução dos efeitos de um problema, os empreendedores sociais buscam a solução para o problema. Segundo os especialistas, as novas figuras do terceiro setor desenvolvem teorias sobre as causas dos problemas sociais, criam organizações para eliminá-las e adaptam estratégias a partir dos resultados obtidos.

Os autores revelam que os empreendedores sociais bem-sucedidos adicionam um novo ponto de vista ao mercado ao criar negócios que levam em consideração múltiplas dimensões: econômica, social e ambiental. Elkington e Hartigan continuam. Segundo eles, o trabalho desses líderes vai ajudar a moldar oportunidades de mercado nos próximos anos. A publicação traz exemplos em diversas áreas: finanças, saúde, tecnologia, indústria ambiental, engenharia e educação.

Combate a deficiência visual na Índia

Um capítulo é dedicado à organização indiana Aravind Eye Care System. Criado há mais de 30 anos pelo Dr. Venkataswamy, o sistema de atendimento no interior do país combate doenças oftalmológicas.

A Aravind foi pioneira em um modelo de funcionamento sustentável que segue princípios de serviços em grande volume, alta qualidade e centrados em várias comunidades. A combinação resulta em baixo custo e viabilidade em longo prazo. O atendimento à população pobre ainda é garantida por meio da cobrança proporcional à riqueza do paciente: os mais ricos pagam mais e os mais pobres, menos. Por ano, a Aravind atende mais de 2 milhões de pacientes e, desde que iniciou atividades, realizou quase 3 milhões de cirurgias.

Cerca de 37 milhões de pessoas no mundo possuem deficiência visual total. Estimativas apontam que quase 12 milhões delas estejam na Índia. Além disso, 60% desse número é decorrência de catarata, doença quase sempre curável. O peso econômico da deficiência visual é estimado em cerca de 50 bilhões de reais por ano.

Caminhos para Empresas Sustentáveis

22/2/2008 – Escrito por Márcia Woods, diretora de Desenvolvimento Institucional do IDIS, o artigo discute experiências em sustentabilidade apresentadas na Conferência 2008 do Business in the Community.

Em uma de suas inúmeras viagens de negócios, o acaso fez com que Stephen Howard se sentasse ao lado de Madre Teresa de Calcutá. O encontro, que por si só representaria uma data memorável, foi decisivo para o então alto executivo de uma multinacional. Após poucos minutos de conversa, a missionária provocou “– O que você faz da vida?”. E ele, que já era sensível à necessidade de mudanças de comportamento no meio corporativo, decidiu que era hora de se dedicar a questões relativas à sustentabilidade.

Atualmente, Howard é managing director do Business in the Community(BiTC), uma organização inglesa com mais de 800 empresas cujo objetivo é promover a responsabilidade social empresarial. Sua experiência é a mesma de muitos outros executivos de grandes corporações. Responsáveis pela direção de importantes empresas, em algum momento de suas vidas, eles se encontraram em encruzilhadas nas quais deviam optar por práticas empresariais mais ou menos sustentáveis.

E foi justamente esse o propósito da última edição da conferência anual do BiTC. O encontro discutiu iniciativas bem-sucedidas de negócios pautados na lógica do triple bottom line (economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente justa). E foi realizado no Reino Unido, que segundo o relatório “O estado de competitividade responsável 2007 – fazendo a sustentabilidade ser levada em conta no mercado global”, elaborado pela AccountAbility e Fundação Dom Cabral, ocupa a 5ª posição num ranking de 108 países que adotam estratégias e práticas sustentáveis nos negócios.

Bom exemplo

Uma das iniciativas apresentadas no evento foi o “Plano A”, da empresa Marks & Spencer (M&S). A loja de departamentos inglesa possui mais de 570 unidades no Reino Unido, 70 mil funcionários, 2 mil fornecedores e cerca de 16 milhões de clientes. Segundo Stuart Rose, CEO da empresa, o “Plano A” é um programa de cinco anos, que estabelece 100 medidas objetivas de mudança de comportamento empresarial. São compromissos que serão implantados pela empresa em todas as suas esferas de atuação, e que estão espalhados por cinco áreas: mudança climática; lixo; materiais sustentáveis; negócios éticos com fornecedores; e saúde.

As propostas são ousadas. Até 2012, a empresa pretende neutralizar a emissão de carbono em suas operações na Irlanda e no Reino Unido, além de evitar que roupas ou embalagens da marca terminem em depósitos de lixo. “Nós chamamos esse programa de Plano A porque é a única maneira de fazer negócios. Não há plano B”, esclarece o site da iniciativa.

Os resultados do primeiro ano de operação já estão disponíveis. Entre abril e dezembro de 2007, a Marks & Spencer conseguiu reduzir em 37 milhões o número de sacolas plásticas distribuídas entre os clientes. A medida foi simples: primeiro, ela distribuiu a Free Bag for Life, uma sacola reutilizável. Quatro semanas depois, passou a cobrar 5 centavos por cada sacola plástica utilizada. A verba arrecadada com a venda foi encaminhada para projetos de conservação ambiental. Na Irlanda no Norte, a redução no uso dessas sacolas chegou a 66%.

Muito do trabalho da M&S está focado no engajamento do cliente, o que revela outra característica do posicionamento dos líderes em sustentabilidade. A empresa utiliza o vínculo que possui com o consumidor como ativo, ou seja, como oportunidade de imprimir maior alcance a suas proposições de mudança.

Ocupando 4,3% do mercado alimentício no Reino Unido, a empresa é responsável pela emissão anual de 3.3 mt de CO2. Além de propor mudanças em suas unidades, a empresa trabalhou com fornecedores do Sri Lanka e da China para a construção de fábricas sustentáveis. Os projetos foram avaliados pelo Leadership in Energy and Environmental Design (LEED).

Outras iniciativas

Outro trabalho destacado na conferência foi a parceria entre a empresaGlaxoSmithKline com o Scottish Crop Research Institute. Há cerca de cinco anos, o aquecimento global e a conseqüente suavização dos rigorosos invernos ingleses passaram a gerar impactos negativos na produção de cassis, uma fruta utilizada como matéria-prima para a Ribena (bebida fabricada há 70 anos pela empresa).

Para manter a cadeia original de fornecedores – 95% da matéria-prima era comprada de produtores ingleses – a GlaxoSmithKline investiu no aprimoramento genético da espécie, tornando-a resistente às inconstâncias climáticas e aos ambientes mais quentes.

A opção da empresa destoa de práticas comuns no meio corporativo. Há algumas décadas, o natural seria, pela avaliação estritamente econômica, sair em busca lugares mais frios para viabilizar o plantio. A escolha por manter os fornecedores mostrou zelo pela relação com antigos parceiros e visão do impacto social causado por uma eventual saída da empresa.

Novos desafios

O investimento em pesquisa e tecnologia que concorram para a criação e manutenção de negócios sustentáveis é uma tendência no meio corporativo. Mas nem sempre as soluções encontradas são financiáveis. Por isso, não são implantadas. O desafio, portanto, é transformar as inovações em ferramentas viáveis de aplicação em grande escala.

Na Conferência 2008 do Business in the Community, ficou evidente que as empresas líderes no futuro tratarão a sustentabilidade como uma questão competitiva. É a incorporação da filosofia de que não existe empresa forte dentro de uma comunidade destruída.

A Crise Ambiental da Filantropia

Publicado na revista Alliance Brasil, o artigo de Bernard Mercer aponta a carência de investimentos sociais em questões ambientais. Segundo Mercer, a preocupação dos investidores sociais contemporâneos não se reflete em apoio financeiro às organizações com escopo ambiental. O artigo foi baseado na pesquisa “Green Philanthropy: funding charitable solutions to environmental problems”, do mesmo autor.

A mudança climática e a perda de recursos naturais e da biodiversidade são dois dos maiores desafios do século XXI, embora sejam ignorados pela maioria das fundações estabelecidas, pelos novos “filantrocapitalistas” e pelos financiadores governamentais. Parece que a crise ambiental da filantropia é tanto cultural quanto financeira, uma vez que tem sua origem de uma falta de conexão entre mudança climática e outras questões ambientais e os problemas que são considerados questões “humanas”.

“Por favor, entendam, nós não somos protetores de árvores”, disse recentemente um importante banqueiro de investimentos, quando apresentou em um jantar o novo relatório da empresa sobre as ameaças da mudança climática aos negócios. Na mesma semana, um importante gestor de fundo de hedge, comentando a sua filantropia, disse “Nós podemos escolher. Podemos ajudar as pessoas ou podemos ajudar os animais.”

Praticamente ao mesmo tempo, o Departamento de Desenvolvimento Internacional do governo do Reino Unido (DFID) foi fustigado pelo Comitê Parlamentar de Auditoria Ambiental devido a uma “total falta de integração das prioridades ambientais na política de ajuda e desenvolvimento do Reino Unido”.

O que acontece com o meio ambiente que causa tanta confusão e mal-entendidos? Por que a crescente preocupação com a extensão e a gravidade dos desafios ambientais globais não se reflete no apoio financeiro para as organizações ambientais? Essas são algumas das questões levantadas em Green Philanthropy: Funding charitable solutions to environmental problems, um novo relatório da New Philanthropy Capital (NPC), baseado em 18 meses de pesquisas e mais de 130 entrevistas com os principais financiadores, organizações filantrópicas e especialistas em meio ambiente.

Financiamento inadequado das organizações ambientais

Descobrimos que menos de 2 por cento dos financiamento anuais das 100 maiores organizações filantrópicas do Reino Unido, £18,1 milhões em um orçamento de £1,1 bilhão, é alocado a causas ambientais. As prioridades do público no Reino Unido são similares: apenas 5 por cento dos doadores privados contribuem para o meio ambiente. Esses números estão alinhados com outro recente relatório, produzido pelo Environmental Funders Network do Reino Unido, Where the Green Grants Went 3: Patterns of UK funding for environmental and conservation work.1

Um artigo recente da Stanford Social Innovation Review2 mostra tendências similares na filantropia americana: no geral, apenas 5% dos gastos das fundações americanas vai para o meio ambiente. O autor do artigo, Charles Conn, observa também que a nova onda do “filantrocapitalismo” tem ficado longe das questões ambientais. Os dados relativos ao resto do mundo não estão disponíveis, mas parece provável que as tendências sejam similares às do Reino Unido e dos Estados Unidos.

No setor público, os orçamentos ambientais do Reino Unido e de outros membros da Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) são substanciais no contexto doméstico, mas os recursos para o trabalho internacional são mínimos, especialmente nos países tropicais e subtropicais, mais vulneráveis à mudança climática e onde estão os patrimônios naturais mais ameaçados e mais valiosos. Apenas 2% do orçamento de ajuda de £2,1 bilhões do governo do Reino Unido vão para a proteção ambiental.

Por que o financiamento para a mudança climática e outros problemas ambientais é tão inadequado?

Existem vários motivos para isso. Até recentemente, devido às dificuldades na obtenção de dados convincentes sobre a gravidade dos problemas ambientais, havia uma incerteza sobre a necessidade de ação. A pobreza é visível agora, mas a degradação ambiental é geralmente vista como remota, cujas conseqüências só serão sentidas no futuro.

Isso está mudando. Relatórios marcantes do Painel Internacional sobre a Mudança Climática (2001 e 2007) e a Millennium Ecosystem Assessment (2005) indicam que a comunidade científica conseguiu um nível sem precedentes de consenso sobre os problemas ambientais e está fornecendo ao público evidências abrangentes sobre o estado atual do planeta.

A falta de informações sobre o “mercado” filantrópico, especialmente quanto ao desempenho e os resultados das organizações, inibe os doadores em qualquer setor. A NPC descobriu que isso é ampliado no setor ambiental. Muitos doadores, incluindo os filantropos mais novos, querem doar para organizações ambientais, mas são impedidos pela incerteza quanto à forma mais eficaz de fazê-lo.

O que os doadores e financiadores podem fazer para ajudar?

São necessários mais financiadores. Um maior número de fontes de financiamento diluiria os riscos e aumentaria o valor dos financiamentos. As organizações que trabalham com a mudança climática e com outros problemas ambientais estão excessivamente dependentes de alguns poucos financiadores. Essas organizações não podem ter a segurança de que as inovações e as ambições terão um apoio crescente se não houver ninguém para fornecê-lo.

Mostrar paciência e compromisso – A solução de problemas ambientais leva tempo, mas as fontes de financiamento são escassas. Pode ser necessário que os novos financiadores forneçam fundos por prazos longos, até mesmo por dez anos, para maximizar o impacto de sua contribuição. O apoio à infra-estrutura das organizações e à atividade-fim trará uma melhoria no desempenho do setor.

Fomentar a colaboração – É preciso fortalecer o compartilhamento de conhecimentos e o diálogo entre os financiadores e entre os financiadores e as organizações. O incentivo e o financiamento para redes e fóruns bem organizados deve ajudar no compartilhamento do conhecimento e na maior colaboração nos objetivos e agendas comuns.

Ser ambicioso – Existe espaço para que os financiadores apóiem novas iniciativas tratem de algumas das lacunas no cenário das organizações. Neste setor, o risco de duplicação de esforços é pequeno.

Prioridades de financiamento

Financiamento inicial – Nossa pesquisa descobriu uma necessidade urgente de financiamento inicial. Como a mudança climática é um problema novo, as soluções estão apenas começando a emergir. Isso coloca um alto prêmio na inovação, na energia empreendedora e nas idéias. No entanto, existe atualmente uma lacuna entre o reconhecimento do desafio e a aplicação de recursos para a ação. Para muitas organizações e projetos novos, o acesso a fundos no intervalo de £10.000–£100.000 fará uma diferença muito significativa.

Escala e replicação – Outro requisito é que o financiamento amplie e replique iniciativas bem-sucedidas. Levará décadas para enfrentar a mudança climática, e dar apoio às organizações nos estágios iniciais é apenas o primeiro passo. Uma vez que os modelos e enfoques tenham sido comprovados, as organizações bem-sucedidas precisarão de apoio para ampliação e replicação. Isso exige que os financiadores – fundos e fundações filantrópicas que podem se comprometer com programas de financiamento de três a cinco anos – assumam compromissos de longo prazo para enfrentar o problema.

Fornecimento de melhores informações

A ausência de dados, evidências e análises inibe o progresso. Mesmo quando existem dados primários, a falta de energia, confiança e vontade impede que eles sejam usados para o desenvolvimento de uma boa orientação política. Os financiadores poderiam mudar essa situação em poucos anos dando apoio a organizações que coletam e analisam os resultados para levar a mudanças.

Evitar erros

Talvez não seja intuitivo, mas evitar os erros será tão valioso quanto produzir soluções efetivas. Existe um perigo real de que o tratamento da mudança climática se torne uma corrida do outro, com o progresso real na redução das emissões se tornando mais e mais intangível. A devastação da floresta da Indonésia para a produção de óleo para biocombustíveis é um exemplo atual. A melhor maneira de lidar com essa questão é obter e disseminar evidências sobre o que funciona e o que não funciona.

Muitas organizações podem colocar os objetivos ambientais no topo de suas agendas e elas estão em posição de garantir que não cometamos erros desastrosos. No entanto, para desenvolver informações e análise adequadas e com credibilidade, elas precisam de financiamento adequado.

O desafio cultural

É necessário realismo na busca de soluções para a mudança climática. Não sabemos que enfoques levarão aos melhores resultados, o sucesso será provavelmente resultado de liderança, criatividade e determinação, em vez de resultado de qualquer modelo.

Como em qualquer mercado emergente, é difícil indicar com antecedência quem serão os vencedores. Isso é um argumento a favor de estratégias de financiamento que tão abertas e ágeis quanto for possível, descartando noções preconcebidas sobre o valor do trabalho comunitário versus o lobby político, ou sobre as vantagens de eventos públicos sobre o agenciamento e negociação a portas fechadas.

No entanto, o maior desafio para a filantropia orientada à mudança climática seja a necessidade de entender que os problemas ambientais e os problemas do bem-estar humano são interconectados. No Chifre da África, a pobreza é exacerbada pela deterioração do ambiente natural, trazida pelo desflorestamento e pela mudança climática.

Quando as várzeas da Indonésia são queimadas, elas destroem a biodiversidade e os “serviços do ecossistema”, como fontes de água, empobrecendo a vida dos habitantes locais e liberando grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera. A proteção ao meio ambiente tem sido inibida no passado pela visão de que o mundo natural é separado e distante dos outros problemas sociais. Não desejamos repetir esses erros no futuro. As estratégias de redução das mudanças climáticas precisam incluir ações para preservar os recursos naturais e a biodiversidade, além da redução nas emissões resultantes da geração de energia e de outras atividades industriais e urbanas.

 

1 – 176 fundos de caridade engajados no financiamento de ações ambientais forneceram £33,6 milhões em financiamentos, apenas 1,6 por cento dos £2,04 bilhões doados por 498 dos maiores fundos de financiamento do Reino Unido.

– C Conn, “Robbing the Grandchildren: Foundations, shortsightedness is jeopardizing the planets future”, in Stanford Social Innovation Review, Verão de 2007.

 

Bernard Mercer foi CEO Fundador da New Philanthropy Capital. Ele é o autor de Green Philanthropy. E-mail:bmercer@mercerenvironment.net.

 

Fonte: http://www.gife.org.br/alliancebrasil/

 

Saiba Mais

Leia o artigo Green Philanthropy: Funding charitable solutions to environmental problems completo, em inglês.

Ação na Comunidade: Cartilha do BITC Orienta Empresas a Intervirem nas Localidades Onde Atuam

Publicação divulgada em dezembro de 2007 pelo Business in The Community (BiTC) dá dicas de como ser um bom investidor social na comunidade.

Cada vez mais as companhias percebem que, se quiserem se destacar num mercado competitivo, devem conhecer e corresponder às expectativas de seus empregados, consumidores e das comunidades em que atuam.

Reconhecendo a função estratégica que o investimento social corporativo desempenha, a cartilha “Community Impact” disponibiliza informações gerais para os interessados no assunto. A publicação é divida em três partes:Knowledge and expertise; Measurement and recognition; e Programmes for colaborative action.

Para potencializar os efeitos de suas ações, cada empresa deve adotar uma estratégia diferente. Os objetivos delimitados variam de acordo com o papel que ela cumpre na localidade. Porém, independentemente do tamanho ou da natureza da empresa, as características centrais para se tornar um bom investidor permanecem constantes.

A boa convivência com os diversos públicos de relacionamento é um dos termômetros da eficiência da atuação social da empresa. Entender os benefícios para a comunidade e para a própria companhia, além de identificar os assuntos em que é possível intervir são os pontos de partida.

Educação e trabalho e geração de renda foram identificados como os principais temas de investimento social corporativo. Nos primeiros, as empresas auxiliam jovens a alcançarem seus potenciais, por meio de parcerias com escolas. Já os projetos de trabalho e geração de renda, não só agem diretamente sobre a vida da população, como criam novos postos de trabalho, constroem economias locais e ajudam a recuperar áreas carentes.

Uma vez identificado o âmbito de atuação social, os pesquisadores do BiTC orientam as empresas a investirem recursos proporcionais ao tamanho de seu negócio. A cartilha aconselha a alinhar o foco do investimento social à função comercial da empresa.

De acordo com o documento, a intervenção social deve se tornar parte da cultura organizacional da empresa. Para tanto, é preciso capacitar e engajar os funcionários em atividades comunitárias. O estímulo também pode ser estendido aos consumidores e fornecedores.

O intercâmbio de experiências é bem-vindo. Para tanto, é recomendável estar atento às iniciativas filantrópicas de clientes e fornecedores, além de estabelecer parcerias com governos e com o terceiro setor.

Finalmente, monitorar, medir e avaliar os efeitos das ações na comunidade são alguns dos novos desafios das empresas. Somente a partir da avaliação é possível determinar em que sentido o projeto se alinha aos propósitos do investidor. Sem contar que dados objetivos sobre metas e conquistas são informações estratégicas.

Segundo a cartilha, “78% do público em geral quer ouvir sobre os compromissos assumidos pelas empresas em relação a seus consumidores, empregados, comunidades e meio ambiente”.

 

 

Gestão de Conhecimento em Investimento Social é Ferramenta para o Desenvolvimento

A grande quantidade de recursos que instituições dos três setores aplicam em investimento social muitas vezes não surte o efeito pretendido. Segundo Nelson Casarotto Filho e Liana Bettina Alves, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o problema não está na parte técnica da gestão dos projetos, mas na falta de informações em relação aos vetores de desenvolvimento.

No artigo “Sistema compartilhado em gestão do investimento social local: gestão do conhecimento em redes interorganizacionais”, os autores propõem a criação de redes de conhecimento entre os atores filantrópicos, por meio de um sistema tecnológico de computadores em rede. Esse sistema permitiria o compartilhamento de informações entre os diversos atores sociais, o que eles consideram como a base da atuação conjunta em investimento social.

Para Nelson e Liana, a cooperação permite às instituições tornar mais eficiente suas ações, ao alocar recursos de maneira mais estratégica, evitando desperdícios ou esforços duplicados. Segundo o artigo, o sistema de gestão de conhecimento deve conter informações sobre a realidade social, sobre a atuação das organizações sociais, sobre os investimentos que são realizados e sobre os resultados desses investimentos.

Tal mecanismo, que é uma adaptação dos sistemas de gestão do primeiro e segundo setores, seria útil tanto para as empresas, durante a avaliação dos investimentos em responsabilidade social, quanto para a atuação das organizações da sociedade civil.

No artigo, os autores citam o conceito de “Engenharia das Intervenções Regionais”, desenvolvido por Sergio Boisier, pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas (Ipea), e que é de grande serventia para a criação de uma rede horizontal de articulação. O conceito engloba elementos como: conhecimento de gestão de redes, mecanismos de desenvolvimento local, gestão de projetos, engenharia econômica, avaliação de projetos sociais e sistemas de informação.

De acordo com Nelson e Liana, já existe a tecnologia que permite um sistema compartilhado de gestão de conhecimento do investimento social. O maior empecilho reside na criação de mecanismos de articulação e gestão desse sistema. Nivelamento de informações, acesso a indicadores oficiais e uniformização de conceitos são as primeiras medidas que eles julgam fundamentais.

Os sistemas de cooperação, após implementados, devem ser colocados à disposição da sociedade. “Pois do contrário, estariam sendo criados apenas novos núcleos de poder político, quando é preciso que todos os processos que envolvem o desenvolvimento social estejam abertos à participação”, defendem os autores.

O trabalho foi apresentado no Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) 2006. Leia aqui o texto na íntegra.

 

 

CAF Lança Pesquisa Sobre Como o Diálogo Com os Públicos de Relacionamento da Empresa Influencia o Investimento Social Corporativo

No último 3 de dezembro, a Charities Aid Foundation (CAF) lançou uma pesquisa intitulada “The role of stakeholder engagement in Corporate Community Investment”. O estudo, realizado em parceria com o International Centre for Corporate Responsibility da Escola de Negócios da Universidade de Nottingham, Inglaterra, propõe-se a entender como e por que as empresas decidem dialogar com seus públicos de relacionamento, analisando os efeitos desse diálogo no investimento social corporativo.

De acordo com o levantamento, são muitos os benefícios do contato entre as empresas e seus stakeholders durante o desenvolvimento e implantação do investimento social corporativo. Essa aproximação pode diferenciar a empresa de seus concorrentes; promover soluções mais inovadoras para seus desafios e potencializar o resultado da iniciativa.

O estudo é um desdobramento do trabalho anterior da instituição, An evaluation of Corporate Community Investment in UK: Current developments, future challenges. Lançado em 2006, esse estudo avaliou a evolução do investimento social no Reino Unido e constatou que os melhores resultados vieram das empresas que valorizavam a troca de informações e experiências com seus públicos de relacionamento.

O novo trabalho foi realizado a partir da análise das iniciativas de doze empresas britânicas: BT; Cadbury Trebor Bassett; Anglo American; Sainsbury’s; Rolls-Royce; Lloyd’s; TSB; GlaxoSmithKline; British American Tobacco; British Airways; Marks& Spencer; Boots and Barclays.

Clique aqui para ler a íntegra da pesquisa em inglês.

 

 

É Hora de Atualizar Nossa Visão de Mundo

Publicado originalmente na revista Alliance Brasil, o artigo de Ben Tuxworth, diretor de comunicações do Forum for the Future, defende que fundações e organizações da sociedade civil renovem sua forma de pensar e passem a enfrentar o desafio da sustentabilidade global. Para ele, é necessário rever as estratégias de doação, dando um enfoque conjunto para as questões ambientais, sociais e econômicas.

Parece que os cientistas e os grupos de pressão finalmente venceram a discussão: mesmo entre os que antes negavam nos EUA, existe uma aceitação relutante de que as mudanças climáticas pode não ser apenas mais um item em uma longa lista de causas duvidosas, mas sim o desafio definitivo para a humanidade no século 21. Como os grandes desafios humanitários e sociais do século passado, a falta de tratamento das mudanças climáticas minará inteiramente qualquer progresso social ou econômico de possamos ter. Essa é a maior de todas as falhas do mercado, e infelizmente ela se apresenta em uma época em que a economia baseada no mercado é a única que existe.

Certamente, portanto, os grandes fundos e fundações vão colocar todos os recursos nessa questão. Qual é a vantagem de se microgerenciar os resultados de grupos de desprovidos aqui e ali se a base da sobrevivência universal está ameaçada? É como mover as cadeiras do convés do Titanic.

No entanto, a mudança climática, como outros desafios da sustentabilidade global, não parece emergir como uma grande prioridade para muitas fundações. Ela realmente não se encaixa. Resultado do relacionamento entre pessoas, economia e natureza, ela não pode ser enquadrada como uma questão ambiental, uma vez que suas causas são tudo menos ambientais. O trabalho para tratá-la não se encaixa nas estruturas convencionais de financiamento e não obtém imediatamente o tipo de resultados que os filantropos, velhos e novos, estão cada vez mais buscando. Ao se envolverem no desafio da mudança climática, como em outras questões de sustentabilidade, as fundações precisam renovar sua forma de pensar, seus objetivos e suas estruturas.

Felizmente, existe uma estrutura teórica perfeitamente adequada para o pensamento sobre questões como a mudança climática. O desenvolvimento sustentável tem sido considerado ao longo de pelo menos vinte anos e um número cada vez maior de organizações o usam como uma forma de tratar simultaneamente de questões sociais, econômicas e ambientais.

Eu sugiro que as organizações filantrópicas precisam urgentemente atualizar sua visão de mundo para levar em conta os desafios da sustentabilidade global. Sem esse tipo de enfoque conjunto, as fundações correm diversos riscos. Entre eles está o risco de serem marginalizadas por novos filantropos que não têm uma agenda passada e podem se movimentar com mais rapidez, e o risco de ter suas estratégias de doações minadas pelas suas próprias estratégias de investimento.

No entanto, aplicar os princípios do desenvolvimento sustentável oferece também às fundações a chance de aprimorar radicalmente sua eficácia no tratamento das causas da desigualdade em sua origem, em vez de enfrentar apenas as suas conseqüências sociais.

A primeira etapa deve ser atualizar a missão e o objetivo dos fundos para levar em conta a mudança climática e outros desafios da sustentabilidade global. Essas novas prioridades precisam ser refletidas na revisão das estratégias de doação, com um enfoque conjunto para as questões ambientais, sociais e econômicas. A mudança climática é agora uma prioridade tão premente que defendo uma posição de financiamento que declare que “se este projeto não contribuir para aliviar a mudança climática, nós não o financiaremos”.

As estratégias de investimento também devem ser alinhadas. É relativamente fácil encontrar fundos que têm responsabilidade social e ambiental, e que competem bem com fundos “convencionais” (ou seja, irresponsáveis). Por que então não usá-los? Essa pode ser a maior alavanca que as fundações têm para tratar de seus objetivos filantrópicos. No mínimo, elas poderiam ter certeza de que não estariam levantando dinheiro para combater a pobreza em um país através da criação de pobreza em outro.

Com esses “fatores higiênicos” tratados, a próxima etapa seria alocar parcelas significativas de recursos para tratar explicitamente de estratégias de redução e adaptação para a mudança climática.

Penso que as fundações deveriam agregar seus esforços em uma estrutura compartilhada baseada nos princípios do desenvolvimento sustentável. O Woburn Place Collaborative, no Reino Unido, é um experimento interessante na união de agendas dessa maneira. Embora ainda não tenha tratado da urgência das questões de sustentabilidade, existe potencial para que um grupo de corpos financiadores tenha um enfoque compartilhado no qual mapeiem o desafio e, então, cada um faça contribuições distintas, com um efeito coletivo muito maior.

Com esses blocos construtivos posicionados, acredito que um setor filantrópico rejuvenescido pode ter um papel crucial de liderança em nossa resposta coletiva à mudança climática, iniciando o trabalho vital que nos permitirá encontrar um caminho para o progresso humano.
E-mail: b.tuxworth@forumforthefuture.org.uk.
Fonte:http://www.gife.org.br/alliancebrasil/

Filantropia 4.0: Rumo ao Investimento Social Privado num Mundo Globalizado

Publicado originalmente em outubro de 2007 no site do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), o artigo de Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, apresenta as sete faces do doador: o devoto, o comunitário, o retribuidor, o herdeiro, o socialite, o altruísta e o investidor.

O desafio que nós, investidores sociais temos, é transformar qualquer motivação de um indivíduo ou empresa em compromisso social permanente. Para isso, no entanto, é importante que conheçamos as sete faces do doador tal como foi proposto por Prince e File: o devoto, o comunitário, o retribuidor, o herdeiro, o socialite, o altruísta e o investidor.

O doador devoto é aquele que acredita que fazer o bem é vontade de Deus. Ele é motivado a apoiar entidades por motivos religiosos e canaliza suas doações – que têm caráter caritativo – a organizações religiosas. Por sua vez, o doador comunitário é aquele que acredita que ser solidário com os problemas da comunidade faz sentido. Normalmente, são donos de estabelecimentos comerciais locais e acreditam que fazer parte de conselhos e de comitês de entidades locais pode ser bom tanto para a comunidade quanto para seu negócio, devido às relações de confiança cultivadas. Geralmente, sua doação não segue nenhum plano estratégico.

Já o doador retribuidor, acredita que a doação é uma devolução, uma retribuição ao que já recebeu. Se já se beneficiou pessoalmente de uma faculdade ou de um centro médico, apóia, por exemplo, a mesma instituição em função de lealdade ou por um sentimento de obrigação.

Há também o doador herdeiro, para o qual fazer o bem é uma tradição familiar. Sua motivação filantrópica originou-se na sua criação. A família sempre teve o investimento social como valor. A tendência é que novas gerações busquem formas diferentes de investimento social daquelas que seus pais fizeram. Outro doador característico é o socialite, para o qual os eventos beneficentes são divertidos. Ele é membro de círculos sociais exclusivos e seleciona organizações dirigidas por parentes ou por amigos para apoiar e para colaborar em atividades de mobilização de recursos. Sua preocupação está mais voltada a criar eventos sociais do que a participar do dia-a-dia das organizações.

Também existe o doador altruísta, para o qual a doação o faz se sentir bem. Ele doa em função da bondade e da empatia por causas urgentes. Prefere, na maioria dos casos, ficar anônimo. Ele doa por uma questão moral, que o ajuda a crescer e a evoluir espiritualmente. Mais do que qualquer outro grupo, o altruísta direciona sua doação a causas sociais.

O último perfil é o do doador-investidor, que é o indivíduo de alto poder aquisitivo, que doa com um olho na causa social e o outro no impacto que pode causar. É inovador e transformador. Tem preocupação com o planejamento estratégico, com a gestão da doação e com a avaliação de seus resultados e de seus impactos. O investidor busca o profissionalismo em suas ações e procura fechar parcerias. O perfil desse investidor é o que chama a atenção: são pessoas jovens, públicas e possuem um currículo que inclui voluntariado e filantropia. São pessoas como Sergei Brin, Larry Page, Bill Gates.

Segundo a revista Forbes, há 946 bilionários no mundo, com 3,5 trilhões de dólares em ativos consolidados. O que surpreende, no entanto, é que da lista da Forbes das cem pessoas mais ricas no mundo, 33 bilionários são de países fora do eixo EUA-Europa Ocidental e 17 deles têm menos que 50 anos. Hoje há 14 bilionários na Rússia, oito na Índia, sete no Oriente Médio, três em Hong-Kong e um na América Latina.

E o que eles querem? Eles querem ver a transformação social acontecer enquanto estão vivos. São pessoas que conseguiram enriquecer durante sua vida profissional. Não são herdeiros de fortunas. Para eles, o tempo é agora. Suas decisões são baseadas em valores humanos. Percebem que o investimento social é um bom negócio tanto para aliar credibilidade a sua marca quanto para promover mudanças sociais.

É nesse contexto que surge o conceito de filantropia 4.0, criado pela russa Olga Alexeeva, diretora da CAF Global Trustees. Ela propõe um entendimento da evolução da filantropia similar ao entendimento da evolução de programas de software que progressivamente são apresentados em novas versões. A filantropia 4.0 é a evolução de uma filantropia tradicional. Assim, a filantropia 1.0 representa a filantropia dos primeiros doadores que buscavam contemplar a sociedade com uma infra-estrutura que atendesse as necessidades de escolas, universidades, museus, bibliotecas. A filantropia 2.0 representa a filantropia introduzida pelos grandes doadores do início do Século XX, onde fundos patrimoniais foram alocados para cobrir as necessidades sociais presentes e futuras que estivessem no foco de atuação de uma fundação. Ela teria permanência no tempo e fundos para garantir a sua sustentabilidade futura.

A filantropia 3.0 é uma filantropia feita pelas mesmas organizações doadoras descritas no item anterior, e que decidem assumir uma face mais global, internacionalizando suas operações para países ou regiões do mundo, porém com o viés de ser uma atuação do Norte para o Sul. A filantropia 4.0, que está no título deste artigo, é uma filantropia que se caracteriza não mais pelo fluxo de fundos de países desenvolvidos para o Sul Global, mas pelo desenvolvimento da filantropia autóctone dos países em desenvolvimento, gerando modelos e transformações sociais que podem ser úteis numa escala global.

Nós, do Sul Global, temos os recursos; não somos mais apenas receptores. As economias dos países em desenvolvimento estão crescendo. Mas, ao mesmo tempo, as diferenças sociais também. No Brasil, por exemplo, dados do imposto de renda mostram que o número de milionários aumentou dez vezes mais rápido do que o crescimento da população. O rendimento dos 20% mais ricos é 33 vezes maior que o rendimento dos 20% mais pobres. Por isso, não podemos mais esperar.

Precisamos criar uma filantropia que resulte do envolvimento dessa parcela mais rica da população em melhor usar seus próprios recursos para investir no social. E, nesse cenário, a parceria com os beneficiários é fundamental, já que devem participar das decisões que afetam sua qualidade de vida.

Hoje, parte da riqueza gerada pelos países em desenvolvimento deve ser investida nesses próprios países. É isso que é a filantropia 4.0: é o investimento social global, na qual recursos do Sul Global são investidos na própria região e que a maior troca entre o Sul e o Norte é a de conhecimento. É a globalização da economia gerando a globalização do conhecimento e, em conseqüência, a globalização da filantropia.

1. Prince, R.A and Maru, K.M. The seven faces of philanthopy: A new approach in cultivating major donors. Jossey-Bass, 2001.

 

*Marcos Kisil é diretor-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social Privado (IDIS)

MRC é Estratégica para Aliar Ativos Empresariais à Geração de Impacto Social

10/01/2007 – Escrito por Ana Biglione*, o artigo apresenta como as empresas podem usar seus recursos, expertise e conhecimento gerencial para apoiar organizações sociais e as vantagens do Marketing Relacionado a Causas (MRC), uma parceria entre empresa e organização social, que gera benefício para as duas partes e para a sociedade.

Ao olharmos para o cenário econômico mundial, um dado impressiona: das 100 maiores entidades econômicas, 51 são empresas e 49 são países [1]. O poder das empresas é cada vez mais significativo e seu papel na sociedade é cada vez mais cobrado para a geração de um desenvolvimento sustentável, que prioriza, além do desempenho econômico, o impacto ambiental e a atuação social.Não é à toa que, na edição de dezembro de 2006 da Harvard Business Review, os professores Michael Porter (especialista em estratégias de competitividade) e Mark Kramer (especialista em responsabilidade social) afirmam que, quando uma empresa bem-gerida aplica recursos, expertise e conhecimento gerencial em questões sociais em que ela compreende e tem interesse, pode vir a gerar maior impacto social do que qualquer organização da sociedade civil.

É neste contexto que o Marketing Relacionado a Causas (MRC) figura como uma produtiva ferramenta para as empresas inserirem a atuação social em seu negócio. Quando falamos de MRC, falamos de parcerias de benefício mútuo entre empresas e organizações da sociedade civil, nas quais a empresa entra com grandes ativos – como sua estrutura comercial e de marketing -, e a organização com sua maior especialidade: o conhecimento sobre a causa.

Além de ser uma grande oportunidade das empresas expressarem aos seus consumidores e à sociedade seus valores sócio-ambientais, um programa bem estruturado de Marketing Relacionado a Causas costuma gerar um enorme impacto social. Um bom exemplo é o programa implementado pela Avon que, ao desenvolver a Campanha Um Beijo pela Vida, de apoio à prevenção ao câncer de mama, envolve suas mais de 1 milhão de revendedoras na disseminação de informações sobre detecção precoce da doença – uma base de voluntárias que pouquíssimas organizações da sociedade civil têm acesso.

No Brasil, uma estratégia de MRC bastante utilizada é a venda de produtos específicos que apóiam causas sociais, como é o caso da Havaianas IPÊ ou da Coleção Flores Online Doutores da Alegria. Nesse caso, a empresa utiliza, além de sua estrutura comercial e de marketing, sua estrutura de produção, para criar ou redesenhar um produto. Dentre outros benefícios, muitas vezes, esse procedimento faz com que ela repense seu processo produtivo, implementando um olhar mais atento ao desenvolvimento sustentável – um grande ganho social.

Mesmo em se tratando de um licenciamento para uso de imagem, como é o caso da parceria entre a Tilibra e a Associação Rodrigo Mendes, pode-se perceber o ganho social, na medida em que a empresa disponibiliza sua rede de distribuidores para revender os cadernos ilustrados com as obras dos alunos da Associação, gerando renda para a organização e para os artistas.

Por meio desse tipo de parceria, que está intimamente atrelado à estratégia de negócios da empresa – seu core business -, as empresas brasileiras deixam para trás a visão assistencialista de atuação social e passam a exercer seu investimento social de maneira mais estratégica e sustentável no longo prazo.

No Brasil, de acordo com pesquisas feitas pelo IDIS e Enfoque [2], 27% das empresas já utilizam o MRC, mas há ainda um grande espaço de crescimento, já que 88% dos consumidores consideram importante que as empresas comuniquem o que estão fazendo pelo social e o MRC é uma estratégia inovadora para que essa comunicação beneficie, ao mesmo tempo, a empresa e a sociedade.

Vale aqui ressaltar que os programas de MRC terão maior impacto conforme a legitimidade das práticas de desenvolvimento sustentável e responsabilidade social da empresa, pois é assim que acontece a efetiva geração de valor para a sociedade.
[1] Fonte: David Grayson & Adrian Hodges
[2] Pesquisa IDIS/Enfoque 2005 – Cenário Brasileiro do Marketing Relacionado a Causas – Atitudes e Comportamento do Consumidor e Pesquisa IDIS/Enfoque 2003 – Cenário Brasileiro do Marketing Relacionado a Causas – Atitudes e Comportamento das Empresas.

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* Ana Biglione é especialista em Marketing Relacionado a Causas e atua na iniciativa de MRC do IDIS. Formada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, atuou anteriormente na Hedging-Griffo Asset Management quando participou do processo de formação do Instituto Hedging-Griffo e redirecionou sua carreira para a área social, trabalhando em organizações como FICAS e Ashoka.

Generosidade: Valor Intrínseco ao Investimento Social

Escrito por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, o artigo foi apresentado pelo autor, em novembro de 2006, durante o Encontro Ibero-americano do Terceiro Setor, realizado no México.

Ouvimos neste encontro por diversas vezes as palavras filantropia, investimento social privado, justiça social. Mas como se coloca a generosidade no interior dessas palavras, conceitos e interpretações? Acredito que a generosidade é a virtude, que está por trás de uma decisão que nos impele a atuar como voluntários de ações sociais, a decidir investir um percentual do faturamento de nossa empresa em projetos socialmente responsáveis, ou ainda a colocar os próprios talentos em benefício do outro.

Tal como é definida nos dicionários, generosidade é a ”virtude daquele que se dispõe a sacrificar os seus próprios interesses em benefício de outrem”. A ela podem juntar-se outras palavras com significado próximo: magnanimidade (Aristóteles), caridade (teologia cristã), benevolência (Spaemann).

Segundo Yves de La Taille, a generosidade contempla pelo menos três atributos: o altruísmo (no ato generoso, o outro é o beneficiário da ação); o sacrifício (a pessoa possuidora de algo deixa de ser seu possuidor); e doação ao outro de algo que não lhe cabe por direito, mas que corresponde a uma necessidade concreta que deva ser atendida.

Além disso, o autor pondera que, nos debates filosóficos, as reflexões sobre a generosidade quase sempre visam a situá-las em relação ao conceito de justiça. Para Aristóteles, a justiça ocupa o topo da hierarquia das virtudes morais. Adam Smith, em “A Teoria dos Sentimentos Morais” (1759), observa que a falta da generosidade não é sancionada por nenhum castigo; já o ato injusto recebe tal sanção. Isso aconteceria porque enquanto a ausência de generosidade não acarreta por ela mesma nenhum mal, o ato injusto traz um mal à pessoa injustiçada.

Yves de La Taille detalha três diferenças básicas entre a generosidade e a justiça. Em primeiro lugar, a generosidade é intrinsecamente altruísta, isto é, direcionada ao outro, enquanto a justiça pode ser objeto de reivindicação pessoal. Assim, se uma pessoa tem o direito de exigir que ela mesma ou o outro sejam tratados de forma justa, não pode exigir ser tratada de forma generosa; pode apenas desejar que isso aconteça. Além disso, como a justiça visa sempre o bem-comum, inclui também o bem da própria pessoa que reivindica a justiça. Logo, tanto o auto-interesse quanto o interesse pelo outro estão presentes na justiça. Já na generosidade, somente o interesse pelo outro está em jogo.

Em segundo lugar, a generosidade pressupõe um sacrifício, ou um “dom de si”. Enquanto o ser justo não implica obrigatoriamente em privação, o ser generoso sempre se desfaz de algo que é possuidor. Para concluir, o autor agrega que a dimensão do direito corresponde ao terceiro diferencial entre esses dois conceitos. Se a justiça refere-se ao “sujeito de direito” – e, portanto, “todos os seres humanos” -, a generosidade contempla o “sujeito singular”.

Outro autor que discute a generosidade é André Comte-Sponville. Em “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, no capítulo sobre a generosidade, ele aponta essa virtude como a consciência da própria liberdade e a firme resolução de bem usá-la. “Ser generoso é saber-se livre para agir bem e querer-se assim. O homem generoso não é prisioneiro de seus afetos, nem de si; ao contrário, é senhor de si e, por isso, não tem desculpas nem as procura. À vontade lhe basta. A virtude lhe basta. (…) Ser generoso é ser livre de si, das próprias pequenas covardias, pequenas posses, pequenas cóleras, pequenos ciúmes…”, afirma.

E completa que a generosidade, como a maioria das virtudes, obedece ao primeiro mandamento evangélico: “Amar ao próximo como a si mesmo”, expresso em formas similares em religiões não-cristãs. “Por exemplo, se você amasse um estranho com quem se defronta e que sofre ou que tem fome, você ficaria sem fazer nada para ajudá-lo? Se você amasse esse miserável, você lhe recusaria o socorro que ele lhe pede? Se você o amasse como a você mesmo, o que faria? A resposta, que é de uma simplicidade cruel e louca, é a resposta moral e o que exige – ou exigiria – a virtude”, defende.

E assim chegamos a uma palavra importante para os cristãos: misericórdia. Mas não estamos falando de ações de misericórdia que conhecemos, e que muitas vezes assumem o papel de assistencialismo puro.

Vivi minha vida acadêmica durante os anos pesados de ditadura militar no Brasil e, como uma liderança estudantil, pude assistir ao mais completo desrespeito aos direitos humanos. Porém, também experimentei a presença de uma Igreja Católica solidária, e com misericórdia para com a situação vigente. No caso da Igreja Católica, ela desempenhou um importante papel de resistência ao regime militar, especialmente através de uma corrente mais progressista existente dentro da Igreja. Esta corrente inspirada pela Teologia da Libertação, e em atendimento a uma política de Direitos Humanos, apoiou o surgimento e desenvolvimento de um Movimento Eclesial de Base da Igreja Católica.

Assim, grupos comunitários, influenciados e criados pela Igreja passaram a apoiar o movimento sindical e outros movimentos sociais de diversas origens. Progressivamente, passaram da resistência ao regime militar a grupos reivindicatórios de atendimento às necessidades sociais, mas também da redemocratização do país. Influenciaram a própria Igreja a organizar-se através de diferentes pastorais com finalidades bastante concretas, tais como Pastoral da Terra (reforma agrária), o Conselho Indigenista Missionário (direitos da população indígena), a Pastoral da Criança (direitos da criança) ou as Comissões Diocesanas de Direitos Humanos.

A Igreja assumiu uma posição de vanguarda no processo de mudança do regime, seja denunciando abusos, defendendo os direitos dos excluídos ou organizando grupos sociais. Nesse mister destacaram-se líderes da Igreja, como o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, e bispos, como Ivo Lorscheider, Luciano Mendes de Almeida, Helder Câmara e Pedro Casaldáliga. Esses líderes religiosos progressistas deram o tom da Igreja, sobrepujando os conservadores.

Como bem descreve Jon Sobrino, esse momento da Igreja permite entender melhor o “princípio misericórdia” . Assim, ele demanda de cada ser humano uma ação, ou mais exatamente, uma “re-ação” diante do sofrimento alheio, ação essa motivada única e exclusivamente por esse sofrimento. É uma expressão do amor que está na origem de um processo, mas que, além disso, permanece presente e ativo ao longo dele, dá-lhe uma determinada direção e configura os diversos elementos dentro do processo.

Esse “princípio misericórdia” deveria orientar todo e qualquer ser humano, buscando alterar estruturas, e criando condições para o desenvolvimento pleno de cada ser. Isso implica numa mudança profunda de comportamento da Igreja, que passa a busca e a apoiar ações que transformam a sociedade.

A Igreja foi generosa no Brasil, ao apoiar movimentos pela doação de recursos coletados na Europa e dos Estados Unidos. Assim, gostaria de chamar atenção para o fato de, num encontro como este, não termos a participação da Igreja. Sabemos que ela recebe 2/3 das doações nos Estados Unidos, e aproximadamente 60% no Brasil. Sabemos que ela trabalha com as virtudes. Inclusive com as teologais: fé, esperança e caridade. E tem muito a dizer sobre caridade.

Gostaria de terminar, lembrando que, em minha experiência com a filantropia na América Latina, encontrei três tipos de motivação para os doadores:

Doadores por convicção: neles a generosidade, tal como descrevemos acima, o altruísmo e a misericórdia estão sempre presentes em qualquer ato de uso de seu tempo, talentos e recursos financeiros.

Doadores por conveniência: aqueles que doam porque é simpático fazê-lo. Ser tomado como um benfeitor da humanidade traz prestígio e oculta as mazelas realizadas em seu progresso econômico social, por isso eles doam.

Doadores por coerção: doam por exigência do mercado, dos colaboradores da empresa, das comunidades em que estão situadas e onde não atuam minimamente como cidadão, deixando de se responsabilizar pelos danos ambientais e sociais decorrentes de sua atuação.

Infelizmente, a maioria dos doadores atua ou por conveniência ou por coerção. Ainda são poucos o que atuam por convicção. Necessitamos atuar urgentemente para que os conceitos de Responsabilidade Social, individual ou coletiva, pessoal ou empresarial, não banalizem a conveniência e a coerção. Necessitamos atuar de maneira decidida, valorizando a convicção em torno de valores e virtudes. Temos que valorizar o altruísmo, a generosidade, a solidariedade. Temos que amar ao próximo.

Riovoluntário Lança Pesquisa Sobre Perfil do Voluntariado Empresarial

As empresas parecem estar cada vez mais preocupadas com o desenvolvimento de bons programas de voluntariado corporativo, segundo mostra a pesquisa “Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil”, recém-lançada pela organização da sociedade civil Riovoluntário. Das 89 empresas (de todos os portes e setores, que atuam em território nacional, sendo 61% delas na região sudeste) que responderam ao questionário, 45% possuem programas de voluntariado institucionalizado, com planejamento e orçamento anuais.

A seriedade com que o voluntariado empresarial vem sendo encarado pelas empresas reflete-se num maior engajamento dos colaboradores nessas ações. Segundo o estudo, as empresas que apresentam níveis de mobilização de seus funcionários acima dos 10% têm programas institucionalizados. Mas para as empresas, o principal fator responsável por aumentar o grau de participação dos colaboradores no serviço voluntário é a presença do profissional comunicação interna comprometido com o programa (79%).

Outro fator que contribui para o incremento da participação dos colaboradores, na avaliação dos entrevistados é o engajamento da diretoria. Para 84% deles, a existência de uma diretoria participativa está fortemente vinculada ao sucesso de um programa de voluntariado empresarial. No entanto, somente 25% das empresas declararam que seus diretores participavam maciçamente das ações de voluntariado incentivadas pela empresa.

A fim de promover a participação dos colaboradores em ações voluntárias, as empresas: estimulam a atuação em programas sociais da própria empresa (73%); oferecem recursos para os projetos em que os voluntários atuam (63%); apóiam a formação de grupos de voluntários (63%); divulgam oportunidades de serviços voluntários (61%); e premiam e/ou divulgam a atuação de voluntários em eventos e publicações (54%).

44% das empresas respondentes disseram que preferem planejar as ações de voluntariado durante o horário de trabalho, e realizá-las fora desse horário. Apesar desse dado, o estudo revela que 43% das empresas pesquisadas dispensam funcionários durante o expediente para a realização de serviço voluntário. O levantamento ainda indica que 18% das empresas valorizam a experiência em serviço voluntário na hora de contratar novos funcionários.

Independente do grau de institucionalização dos programas, as campanhas de doação são as que mobilizam um maior número de pessoas (71%), bem como as ações pontuais (51%). As ações continuadas, nas quais o voluntário pode desenvolver todas as suas potencialidades e experimentar o trabalho em equipe, com recursos escassos, mobilizam apenas 36% dos colaboradores. Isso, de acordo com a pesquisa, mostra que o voluntariado social não é uma cultura consolidada na sociedade brasileira.

O que mais motiva as empresas a desenvolverem programas de voluntariado é o desejo de atender as necessidades sociais das comunidades que estão em seu entorno (38%) e de fortalecer o relacionamento com essas comunidades (27%). Como era de se esperar, a maioria dos programas incentiva ações de voluntariado voltadas para a área da educação (72%), com público-alvo prioritário em crianças e adolescentes (79%). Mas surpreendentemente, ações voltadas para o meio ambiente têm grande atenção das empresas (54%), aparecendo à frente de áreas como saúde, esporte, lazer, assistência social e cultura. E ações voltadas para idosos aparecem em segundo lugar no ranking dos públicos-alvos prioritários, à frente do atendimento à família e adultos em geral. As atividades administrativas, nas quais o voluntariado empresarial poderia contribuir muito, aparecem como a última opção de ação voluntária a ser incentivada pelas empresas, com apenas 19% das citações.

Embora 28% da amostra não tenham um orçamento anual pré-fixado para ações de voluntariado, 19% das empresas investem mais de R$ 200 mil anuais nessas ações. 49% das empresas analisadas possuem uma equipe com duas ou mais pessoas dedicadas à promoção do voluntariado. 18% das empresas afirmaram contabilizar as horas dedicadas fora do horário de trabalho como investimento social da empresa. Mas apenas 43% delas afirmam possuir indicadores de avaliação do voluntariado.

Além de trazer dados quantitativos, a pesquisa apresenta textos de Joana Garcia, Fernando Rossetti, Paulo Haus Martins e Paulo Itacarambi sobre voluntariado empresarial e 29 casos desenvolvidos no Brasil.

Clique aqui para ler a íntegra da pesquisa.

 

 

Livro Conta História de Executivo que Deixou a Microsoft para Estimular a Leitura em Países Emergentes

Sair do segundo posto mais importante da unidade chinesa da Microsoft para criar uma organização da sociedade civil voltada à construção de escolas e bibliotecas em países em desenvolvimento da Ásia e África pode parecer loucura para muita gente, mas foi exatamente isso que John Wood decidiu fazer após uma viagem de férias ao Nepal.
John Wood

Com a intenção de afastar o estresse do dia a dia, o alto-executivo decidiu subir o Himalaia, em 1999. Mas acabou conhecendo diversas partes do Nepal. O que mais lhe sensibilizou nessa trajetória foi a falta de recursos que encontrou nas escolas locais, onde não havia nem livros para estudar. Foi nesse momento que ele descobriu seu verdadeiro objetivo de vida: incentivar a leitura nas comunidades de baixa renda.

Aproveitando sua experiência de nove anos na Microsoft, John Wood montou, em 2000, a organização Room to Read, que atualmente está presente no Nepal, Vietnã, Camboja, Índia, Sri Lanka, Laos e África do Sul. A organização trabalha engajando comunidades locais na construção, reforma e manutenção de escolas e bibliotecas. Também incentiva a produção de livros no idioma local e oferece bolsas de estudo de longo prazo para meninas que não poderiam estudar de outra forma.

Em sete anos de existência, a organização estabeleceu 287 escolas, 3600 bibliotecas e distribuiu mais de 2,8 milhões de livros nesses países. Em 2008, pretende instalar-se em algum país da América Latina.

No ano passado, o ex-executivo decidiu contar sua trajetória em um livro, que no último dia 25 foi lançado no Brasil, em português. Em 240 páginas, “Saí da Microsoft para Mudar o Mundo” mostra como Jonh Wood aliou sua experiência corporativa a seu sonho de vida. O livro pode ser encontrado nas principais livrarias do país.

Leia Mais

Leia a resenha do livro “Saí da Microsoft para Mudar o Mundo”, escrita por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, e originalmente publicada na edição de agosto da Revista Update – uma publicação mensal da Câmara Americana de Comércio.

 

 

Como Definir o Foco do Investimento Social Corporativo

Publicada em maio de 2007, a nota técnica explica a importância da definição do foco do investimento social corporativo e seu processo de construção. Também descreve o que a empresa deve observar na hora de estabelecer o foco de um programa de Marketing Relacionado a Causas.

Foco investimento social corporativo

 

 

A participação de Organizações Empresariais em Redes Sociais

Diversas empresas estão construindo seus códigos de Ética e de Conduta, isto é, documentos públicos que explicitam seu compromisso com a orientação ética do negócio. Mas daí a fazer com que esses valores sejam realmente introjetados, passando a fazer parte da cultura da empresa, há um longo caminho. O processo de construção e implementação desses códigos influencia a forma como eles são absorvidos por todos dentro da empresa. Conheça, neste documento, para que servem os códigos, quais suas diferenças e confira algumas dicas de como implementá-los na empresa.

A participação de organizações empresariais em redes sociais

 

Princípios e Premissas de Programas de MRC de Sucesso

A partir de documentos e artigos produzidos pelo Business in The Community (BiTC) e pelo IDIS, os integrantes do Comitê de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) de Marketing Relacionado a Causas construíram dez princípios e premissas de um programa bem-sucedido de MRC, apresentados neste documento.

MRC

 

 

Por Que as Pessoas Doam?

Escrito por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, o artigo apresenta os diversos motivos pelos quais as pessoas são motivadas a fazer doações: altruísmo, egoísmo, competição, devoção, culpa, tradição ou pressão do grupo.

Essa é uma questão básica para o sucesso de qualquer campanha de levantamento de fundos, e de grande importância para apoiar um investidor social que busca organizar o seu doar. Quando se entende os motivos dos doadores, suas expectativas e necessidades, é possível construir estratégias duradouras de benefício imediato para o doador, e também para as organizações e/ou causas por ele atendidos.Ao longo dos anos, e com base na experiência acumulada por nosso Instituto, pudemos identificar diferentes razões que motivam o investidor social. Elas podem ser definidas como: altruísmo; egoísmo; competição; devoção; culpa; tradição; e pressão do grupo.

Altruísmo

É quando o doador, com base no entendimento que dá à sua própria vida e nas oportunidades que teve de acumular riquezas que julga resultado de dons que lhe foram gratuitamente contemplados por um Deus, acredita que deve compartilhar esses dons e bens com o próximo, de maneira altruísta, sem buscar nenhum benefício pessoal. Acredita que o mundo pode ser melhor se todos derem sua contribuição. Doar de maneira altruística representa um exercício de convicção sobre valores maiores da existência humana.

Egoísmo

Embora pareça contraditório em relação ao item anterior, existem doadores que buscam ativamente serem reconhecidos pela sociedade. Esses doadores querem associar seu nome, ou o de sua família ao resultado de sua doação, seja sob forma de denominação de espaços físicos, placas de reconhecimento, ou mesmo através de premiações que levam seu nome. Podem também abdicar do uso de seu nome em função de serem reconhecidos como associados a algum outro nome ou figura pública que atestem seu comportamento de doador. E quanto mais público isto se fizer, melhor será sua reputação. Muitas vezes, sentem-se os maiores beneficiários de suas doações.

Competição

O doador, neste caso, gosta de fazer comparações: primeiro com outros doadores (dar mais representa um símbolo de riqueza a ser ostentado, e que o diferencia de outros doadores); segundo, com ele mesmo, quando busca ultrapassar a cada ano o que doou no ano anterior.

Devoção

É quando a religião ou a crença religiosa exerce forte influência nas decisões do doador. Embora na maioria das vezes esta doação se faça por piedade ou misericórdia para com o próximo, mediada pela presença de uma organização religiosa, tomando alguma fórmula de dízimo, ela também pode representar uma forma de garantir um espaço futuro na eternidade. Dar representa uma moeda de troca para o futuro da alma. Infelizmente, esta é uma forma bastante utilizada por seitas e religiões conduzidas por aumentar seus patrimônios, ou de seus dirigentes.

Culpa

O doador sente-se culpado ou responsável por algumas circunstâncias negativas que recaem sobre ele, especialmente no que tange a maneira como acumulou seu patrimônio. Dar alivia esse sentimento.

Tradição

Quando o doador pertence a uma família, ou grupo onde se tornou hábito doar recursos para determinadas organizações, especialmente se criadas por um ancestral.

Pressão do Grupo

O doador por pertencer a determinado grupo social de amigos, vizinhos, companheiros de trabalho, clube etc sente-se obrigado a participar de iniciativas filantrópicas nas quais não participou da decisão, não acredita, ou não dá nenhuma importância ou significado. Participa apenas porque, caso contrário, pode ficar mal em suas relações. E como valoriza estas relações, comporta-se para mantê-las ou fortificá-las.

Em resumo, essas razões podem ser agrupadas como determinadas por convicção, conveniência ou coerção. Reconhecer essas motivações é extremamente importante para se traçar uma estratégia de apoio ao doador, de forma a transformá-lo em um investidor social. Isto porque, na verdade, o que se busca, independentemente da motivação original, é ajudar cada doador a perceber seu papel para transformar a sociedade através de sua contribuição.

Na verdade, busca-se comprometer o doador com a importância estratégica do investimento social privado para o bem comum. Isto permitirá que, progressivamente, perceba outras motivações para além da motivação inicial; faz com que se torne um ator consciente de seu papel, de seus recursos, e de sua importância.

Os Principais Erros do Investimento Social

29/03/2007 – A alocação estratégica e voluntária de recursos privados para fins públicos (Investimento Social Privado) está presente na pauta das empresas. Mas estar atento para a questão não significa realizar ações de forma efetiva e impacto positivo. Confira os erros mais comuns, que devem ser evitados.

Erros do Investimento Social

Como Incorporar os Valores da Sustentabilidade Corporativa na Empresa?

Publicado pelo IDIS em fevereiro de 2007, o documento apresenta um roteiro simplificado de como inserir os valores da sustentabilidade corporativa na empresa, advertindo que esse processo deve permear todas as atividades da organização e ser revisitado periodicamente, dada sua constante mutação.

COMO INCORPORAR OS VALORES DA SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA NA EMPRESA?

 

 

Livro Apresenta, a Partir de Depoimentos de Lideranças Sociais, Visão Coletiva de um Mundo Ideal

A AltaMira Press, em parceria com a The Philanthropic Initiative (TPI), acabam de lançar o livro “O mundo que queremos – Novas dimensões na filantropia e na mudança social”, escrito por H. Peter Karoff e Jane Maddox. A partir de conversas compartilhadas com cerca de 40 empreendedores sociais, ativistas, líderes de organizações não-governamentais e filantropos que estão mudando as condições de vida na África, Ásia, Leste Europeu, América Latina e América do Norte, os autores apresentam no livro uma visão coletiva de um mundo ideal e descrevem como parcerias intersetoriais e multidisciplinares estão contribuindo para reduzir o sofrimento das populações e aumentar a justiça social em diversas partes do mundo.

O livro mostra como o engajamento cidadão pode ser um fator decisivo na construção de um mundo melhor, apresentando exemplos de visionários engajados em diversas tipos de luta. Marcos Kisil, diretor presidente do IDIS, foi um dos entrevistados do livro. Ao lado de seu depoimento estão conversas realizadas com John Abele, Henry Becton, Dave Bergholz, Lucy Bernholz, Angelica Berrie, Deepak Bhargava, Allen Bildner, Alan Broadbent, Bob Buford, Emmett Carson, Steve Case, Elyse Cherry, Phil Cubeta, Bill Drayton, Peggy Dulany, Rory Francisco-Tolentino, Bob Hohler, Rob Hollister, John Isaacson, Henry Izumizaki, Alan Khazei, Martin Lehfeldt, Margaret Leonard, Leslie Lilly, Ted Mallon, Melinda Marble, Cora Marret, Stephen Melville, Jack Murrah, Jim O’Connell, Pierre Omidyar, Jono Quick, Shirley Strong, Tom Tierney, Priya Viswanath, Peter White, and Chad Wick.

Mais informações nos sites do TPI e da AltaMira Press.

 

 

2002: Relatório Sobre Doação e Voluntariado no Vale do Silício

Pesquisa da Community Foundation Silicon Valley mostra como a implantação de empresas de alta tecnologia transformou uma região tradicionalmente agrícola dos EUA (Califórnia), gerando aumento da população jovem e da riqueza local, e como essa riqueza passou a ser investida socialmente na própria região, em outras áreas dos EUA, e em outros países, pois muitos dos trabalhadores preferiam doar para suas comunidades natais.

Entre os dados interessantes da pesquisa, destaca-se o fato de que o vale do silício está se tornando uma comunidade que abraça a filantropia. 96% dos residentes dizem se engajar em alguma forma de doação e 81% afirmam participar de atividades voluntárias. 87% dos doadores locais doam para duas ou mais causas ou organizações sem fins lucrativos.

Ao contrário do estereótipo difundido de que trabalhadores da área da alta tecnologia não doam – ao menos no Vale do Silício -, eles doam mais do que os que não trabalham nesse setor (84% versus 78%). Também costumam usar mais a internet para conhecer um grupo ou organização não governamental (39% versus 26%), para fazer doações a uma organização sem fins lucrativos (25% versus 12%) e para saber sobre oportunidades de voluntariado (26% versus 19%). Mais da metade dos moradores da região doa dinheiro para ajudar as vítimas de ataques terroristas.

Clique aqui para obter a íntegra do Relatório.

 

 

Pesquisa Ação Social das Empresas

Realizada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), em 2006, a segunda edição da Pesquisa Ação Social das Empresas aponta que houve um crescimento significativo na proporção de empresas que realizaram ações sociais entre 2000 e 2004.

De acordo com o estudo, em 2000, 59% das empresas brasileiras (cerca de 465 mil) desenvolviam ações em benefício da comunidade. Quatro anos depois, o índice saltou para 69% (ou cerca 600 mil empresas). A região que teve o maior crescimento de organizações atuantes foi a Sul (21 pontos percentuais), seguida do Nordeste, com 19 pontos. A que menos cresceu foi a Centro-Sul (de 50% para 61%). Saiba Mais.

 

 

O Diálogo dos Investidores Sociais com as Organizações da Sociedade Civil

14/12/2006 – Escrito por Célia Schlithler, especialista em redes sociais e coordenadora da iniciativa de investimento social na comunidade do IDIS, o texto apresenta os desafios da relação entre investidores sociais e organizações sociais, apontando possíveis caminhos para melhorar o diálogo entre eles.

O investimento social que faz jus ao nome, ou seja, que gera dividendos sociais, é um fenômeno relativamente recente. Cerca de vinte anos atrás, as entidades sociais pediam doações às empresas por meio de “ofícios”. E a entrega do cheque encerrava o relacionamento.

Com o advento do terceiro setor, as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) tiveram de aprender a elaborar outros tipos de proposta. O investimento social privado realizado por empresas, institutos e fundações, por meio de parcerias e financiamento de projetos, tem gerado inúmeras oportunidades de capacitação, ampliação de atendimento, adequação de instalações e melhorias de equipamentos.

É fácil constatar que esses investimentos resultaram em gestões mais profissionais e em expressivas mudanças na qualidade do trabalho realizado com os beneficiários em várias OSCs. No entanto, outras conseqüências precisam ser discutidas e analisadas. Hoje, as OSCs precisam canalizar energias e recursos para a gestão da implementação dos projetos aprovados e a elaboração de novas propostas. É preciso dar conta de reuniões internas e externas, leitura de textos e livros, participação em capacitações, elaboração de relatórios…

Toda parceria tem intenção de provocar mudanças, porém, toda mudança precisa ser administrada porque gera resistências. Sempre haverá membros da organização social que relutam em mudar, sejam eles dirigentes, funcionários, voluntários ou familiares dos beneficiários. Em muitos casos, a equipe precisa ser modificada, porque as mudanças na linha de trabalho demandam novas competências, habilidades e atitudes. As tensões internas são inevitáveis e, por conseguinte, o atendimento pode ficar comprometido. De fato, algumas vezes parece que o beneficiário acaba ficando quase esquecido em meio a tanta coisa pra fazer e gerir.

Em workshop promovido dia 17 de outubro pelo Centro de Competência Mercosul para a Responsabilidade Social Empresarial – da Câmara Brasil-Alemanha – com a participação de 11 organizações sociais (de atendimento direto ou não, como é o caso do IDIS), as experiências com a realização de projetos sociais, em parceria ou com o apoio de empresas, foram amplamente debatidas.

Em termos de ganhos provenientes das parcerias foram mencionados “aprendizados e trocas riquíssimos”, tais como:

  • Fortalecimento organizacional, por meio de apoio à gestão, melhorias na infra-estrutura e divulgação da organização;
  • Solidificação de programas e viabilização de estratégias;
  • Desenvolvimento de novas metodologias sociais dissemináveis;
  • Formação e desenvolvimento de redes e de comunidades;
  • Aprendizado de negociação, relação profissional, planejamento, material adequado e funcional (documentos, relatórios, valorização de práticas).

Mas as dificuldades encontradas no relacionamento com os investidores também foram abordadas, destacando-se:

  • Impessoalidade e burocracia;
  • Excesso de demandas;
  • Limitada visão do trabalho social;
  • Pressão por resultados em curto prazo;
  • Valorização dos resultados quantitativos em detrimento dos qualitativos;
  • Falta de participação mais ativa no desenvolvimento do projeto;
  • Falta de apoio para a gestão de mudanças;
  • Exigência de auto-sustentabilidade;
  • Impossibilidade de incluir no orçamento recursos para a gestão do projeto (reuniões, elaboração de relatórios, leituras, etc.);
  • Ansiedades e expectativas (das empresas) em relação ao impacto dos projetos.

Os ganhos mencionados indicam que as parcerias das empresas com as OSCs já estão trazendo resultados muito consistentes. No entanto, as dificuldades advertem para a necessidade de se ampliar as oportunidades de diálogo entre financiadores e financiados, para que seu relacionamento amadureça. Como resultado desse amadurecimento, novas formas de parcerias podem ser estabelecidas para gerar o que é almejado por todos: impactos sociais significativos.

Esse diálogo pode acontecer de várias formas:

  • Deixar claro os critérios que as empresas utilizarão na hora de escolher os projetos a serem financiados, e ser transparente em relação a que tipo de atividade receberá ou não recursos;
  • Criar um processo de constante conversa entre o financiador e o financiado durante a implantação do projeto; e
  • Estabelecer um fórum para a troca de experiências, que reúna diversos financiadores e organizações sociais apoiadas.

PPPs Sociais Precisam de Competência, não Apenas de Dinheiro

14/12/2006 – Escrito por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, este artigo faz uma reflexão sobre o qual o papel do Estado, das empresas e das organizações sociais nas parcerias público-privado (PPP) sociais.

As parcerias com a iniciativa privada e organizações do terceiro setor já são uma realidade, em maior ou menor grau, nas diversas esferas do poder público.  O modelo de Parceria Público-Privada (PPP), desenvolvido para atender às demandas na área de infra-estrutura, pode também ser um poderoso instrumento para abordar questões sociais.

No caso brasileiro, o interesse pela PPP Social resulta de uma conjunção de fatores: de um lado o setor público, por restrições orçamentárias, não consegue atender às necessidades básicas da população mais pobre em áreas como educação, saúde, habitação e transporte. De outro, as empresas estão cada vez mais conscientes de que seu papel na sociedade vai muito além de promover o desenvolvimento econômico, englobando também a preservação dos recursos ambientais e a responsabilidade social. O fortalecimento da sociedade civil, traduzido pelo crescente número de organizações não-governamentais, é fator de grande importância para fomentar o estabelecimento da parceria, tanto na fase de mobilização da sociedade, quanto na execução dos projetos.

Observando o trabalho das ONGs no cenário nacional, notam-se diversas mudanças positivas, entre elas a crescente preocupação em aproximar-se dos investidores sociais privados para compartilhar experiências e atuar conjuntamente na soluções dos problemas sociais, a partir de suas causas. Assim, o engajamento entre o setor privado lucrativo (empresa) e o não-lucrativo (entidades da sociedade civil) passou a ser uma realidade em nossa sociedade.

A partir desse contexto é que se busca compreender o papel importante que pode ter o Estado. É sabido que o governo, por meio de leis, pode atuar como facilitador, oferecendo incentivos ao engajamento das empresas. Porém, o que temos assistido no atual governo é uma busca de recursos privados, que compete com a busca por financiamento das entidades da sociedade civil, ou – o que é mais preocupante – o governo viabilizando financeiramente organizações da sociedade civil para programas e projetos de sua inteira competência.

Isso tem gerado descalabros e provocado auditorias de ONGs pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e propostas de instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Em outras palavras, a ação governamental parece contribuir para uma desconfiança generalizada em relação às organizações da sociedade civil.

Diante de tal quadro, o engajamento de empresas com a sociedade civil ganha uma dimensão política importante, já que representa um alargamento do entendimento do que é agir em função do beneficio público, além de criar novos espaços, onde idéias inovadoras são testadas, melhoradas, avaliadas, e disseminadas. As PPPs tornam-se úteis para formulação de políticas públicas abrangentes e universais, atendendo toda a sociedade. Isso representa uma verdadeira tarefa de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em políticas públicas, sejam elas nas áreas da saúde, educação, desenvolvimento comunitário, geração de renda, ou em outras necessidades sociais.

Enquanto a área de P&D é comum no mundo empresarial, ela é rara no mundo das políticas públicas. E essa é uma contribuição única que pode advir de PPP Social: o Estado ajudando, através de incentivos, a que mais empresas se disponham a contribuir com organizações da sociedade civil. Assim, programas e projetos passam a ser áreas de P&D para políticas públicas. Com isso, o fracasso da participação empresarial no Fome Zero  poderia ter sido evitado, e seguramente, o próprio programa como política pública poderia ser melhor concebido e implantado.

O Instituto Ayrton Senna alcançou ótimos resultados com as PPPs. Trabalhando na educação com foco no ensino fundamental, melhorou muito o nível de escolaridade dos alunos nos estados de Goiás, Pernambuco e Tocantins. Outro exemplo de sucesso desse tipo de parceria é a Pastoral da Criança, cujo trabalho tem reduzido de tal forma a mortalidade infantil que começou a influenciar positivamente as políticas sociais governamentais.

Levando-se em consideração a crescente disparidade entre o fortalecimento da economia brasileira e os péssimos indicadores de desenvolvimento social, fica claro que crescimento, desenvolvimento, melhoria da qualidade de vida são todos integrantes da mesma equação, que leva a justiça e sustentabilidade para a sociedade brasileira.

“Empresa na Comunidade: o Papel das Corporações no Apoio à Filantropia Comunitária no Brasil”

Elaborado por Helena Monteiro, diretora de capacitação e disseminação de conhecimento do IDIS, em novembro de 2006, o documento mostra como as Organizações de Filantropia e Investimento Social Comunitário (OFISCs) podem facilitar o processo de investimento social das empresas nas comunidades, contribuindo para o engajamento ativo desses atores no desenvolvimento local sustentável. De acordo com o documento, as OFISCs podem facilitar a colaboração entre empresas e organizações da sociedade civil porque conhecem as questões comunitárias, promovem a criação de redes sociais intersetoriais e são um ator independente e autônomo, com poder de accountability. Por outro lado, adotam uma perspectiva ampla e positiva do envolvimento empresarial na comunidade, reconhecendo que as corporações podem contribuir não apenas com dinheiro e outros materiais doados, mas também com suas habilidades, recursos humanos, tecnologia e conhecimento.

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Britãnicos Valorizam Marcas que Adotam MRC

Escrito por Melissa Davis, consultora em Responsabilidade Social Empresarial e autora do livro “Mais que um nome: uma introdução à criação de marcas”, o artigo “Cause-Related Consumerism” apresenta as vantagens e os desafios enfrentados por marcas que adotam programas de Marketing Relacionado a Causas. Publicado originalmente em 23 de outubro de 2006, pela BrandChannel, em inglês.

De acordo com o artigo, os consumidores estão valorizando cada vez mais as marcas que oferecem opções de compra de artigos não apenas cuja produção é socialmente responsável, mas que também estão engajados com algum tipo de causa. São consumidores com alto poder de consumo, que desejam comprar bons produtos, de postura progressista.

Esse consumidor, conforme aponta o texto, coloca um novo desafio para as marcas varejistas. No ano passado, algumas marcas britânicas adotaram diferentes estratégias para fazer uma responsabilidade tangível. A varejista Marks&Spencer, por exemplo, lançou a campanha “Veja atrás da Etiqueta”, que promove a origem ética de seus produtos, trazendo aos consumidores informações sobre o comércio justo de alimentos e roupas, além de uma linha de produtos que parte desses princípios. A campanha foi criada após a realização de uma pesquisa que identificou que 80% dos consumidores da empresa queriam saber as origens dos artigos da companhia.

Outra estratégia importante adotada na Grã-Bretanha no ano passado foi a dos produtos Red (Vermelho). Lançada pelo vocalista do U2, Bono Vox, Red é uma marca que angariou diversos parceiros – entre eles Motorola, Empório Armani, Gap, American Express, Converse, e Apple. Essas empresas licenciaram a marca e lançaram produtos “vermelhos”. Parte do valor arrecadado com as vendas dos artigos é doada para o Fundo Global, o maior fundo de financiamento para programas contra a HIV/AIDS, tuberculose e malária.

O produto Red oferece uma diferente abordagem no mercado varejista, pois dá aos consumidores a opção de compra de uma versão Red de um determinado produto existente – e pelo mesmo valor do artigo não-Red. A estratégia é interessante, na avaliação de Melissa Davis, pois estimula a criação de um novo modelo de negócios, desenhado para dar lucro para as marcas, mais do que ser apenas algo que se faz por caridade. Por um lado, as pessoas que compram o produto Red compram uma causa (alívio do problema da Aids na África). Por outro, as marcas participantes ganham credibilidade.

A especialista diz que o oferecimento de um leque mais amplo de boas escolhas de compra nos próximos anos dependerá de como as grandes marcas vão responder a esse novo mercado. Os consumidores permanecem céticos em relação a grandes marcas. A maioria delas ainda opta pelo caminho mais fácil, usando a responsabilidade social corporativa como um mecanismo para motivar seus empregados (através do oferecimento de iniciativas voluntárias e parcerias com organizações não governamentais, por exemplo) e alinhar a reputação interna da empresa, mais que focando no consumidor.

Mas há espaço para que o MRC cresça dentro das empresas e surjam projetos inovadores nessa área, que diminuam a distância entre o que os consumidores estão pedindo como opção de compra e a relutância das marcas em se envolver nessas questões. Sem esquecer, como aponta o texto de Melissa Davis, que as estratégias de consumo consciente ou de MRC são apenas uma parte da abordagem socialmente responsável de cada marca.

Clique aqui para ler a íntegra do documento em inglês.

Livro Mostra a Empresas Como Implementar Programa de Investimento Social

Embora desde o início dos anos 2000 o Brasil tenha registrado um crescimento significativo no número de empresas que realizam ações sociais – a Pesquisa Ação Social das Empresas, realizada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (www.ipea.gov.br/asocial) e lançada em julho de 2006, por exemplo, mostra que, entre 2000 e 2004, a participação empresarial na área social aumentou de 59% para 69% e que 600 mil empresas já desenvolvem ações voluntariamente – termos como Investimento Social Privado ou Responsabilidade Social ainda geram confusões conceituais.

 Carla Duprat100

O livro “A Empresa na Comunidade: um passo-a-passo para estimular sua participação social”, de Carla Cordery Duprat, que faz parte da Coleção IDIS de Investimento Social, pretende não só esclarecer pontos como esses, mas também apresentar a evolução do papel das empresas na área social, mostrar como elas podem se envolver e atuar de forma estratégica em suas comunidades e descrever as premissas que orientam a ação social. 

De maneira bastante didática e prática, a publicação apresenta sete passos para a implantação de um Programa Empresarial de Investimento Social:

  • 1. Formação do comitê de Investimento Social – de acordo com a autora, o comitê deve ser composto de três a cinco pessoas, preferencialmente de áreas distintas da empresa. Será responsável por conduzir o processo de planejamento do investimento social, promover ações de sensibilização na empresa e na comunidade, bem como implementar, acompanhar, avaliar e comunicar o Programa. Por sua função estratégica, o comitê deve estar capacitado e ter o aval da diretoria ou presidência da empresa.
  • 2. Realização de levantamentos quantitativo e qualitativo das ações sociais da empresa – o diagnóstico qualitativo deve identificar as opiniões, experiências pessoais, sonhos e aspirações dos dirigentes da empresa. Já o quantitativo, avaliar o volume de recursos financeiros que foram investidos pela empresa nos dois últimos anos. Esses levantamentos são importantes porque ajudam a identificar os pontos fortes, as oportunidades, os pontos fracos e as ameaças da estratégia de investimento social da empresa. Devem ser o ponto de partida da elaboração da nova estratégia.
  • 3. Definição do foco de atuação – como os problemas sociais são complexos e variados, é preciso definir o foco de atuação da ação da empresa. Com isso definido, a empresa deve adquirir e gerar conhecimento sobre a temática, avaliando qual a melhor forma de fazer uso de seus limitados recursos. Segundo Carla Duprat, o ideal é que o investimento social esteja alinhado ao negócio da empresa e que se esteja atento não apenas aos problemas da comunidade, mas também aos talentos e oportunidades.
  • 4. Definição da estrutura – a empresa deve decidir se criará um departamento específico para o investimento social dentro da própria instituição ou se criará uma nova pessoa jurídica, por meio da constituição de uma associação civil sem fins econômicos ou de uma fundação. A publicação apresenta as vantagens e desvantagens das duas situações.
  • 5. Estabelecimento da forma de atuação – a empresa que deseja estruturar seu investimento social pode atuar como financiadora ou operadora de projetos. A partir de casos ilustrativos, o livro apresenta as diferenças entre o operador e o financiador social, mostrando o papel de cada um deles.
  • 6. Identificação de recursos disponíveis – são apresentados casos de empresas que oferecem tipos de recursos diferentes, como serviços de comunicação, funcionários capacitadores, melhoria da infra-estrutura de organizações sociais, doações em dinheiro, material ou pessoal, investimento em projetos de captação de recursos, promoção de concursos de projetos, oferecimento de bolsas de estudos, assistência em informática, cessão de espaço para reuniões ou para a sede de organizações etc.
  • 7. Desenvolvimento e implantação do Programa – a autora recomenda que se inicie a implantação por meio de um projeto-piloto, com duração aproximada de um ano. O livro mostra como elaborar essa etapa do Programa, que deve ser cuidadosamente acompanhada e monitorada para que seja aperfeiçoada e fortalecida. Recomenda-se a realização de relatórios trimestrais, que avaliem os principais resultados, tarefas realizadas ou não, e principais dificuldades.

Outras dicas apresentadas pela autora são: obter o comprometimento da alta direção da empresa, para que se crie um programa de longo prazo; desenvolver a iniciativa em um momento de crescimento e não de crise da empresa; pautar o programa na política e na prática da responsabilidade social a empresa; e garantir recursos financeiros para a elaboração e implantação do Programa.

O livro “A Empresa na Comunidade: um passo-a-passo para estimular sua participação social” pode ser adquirido junto ao IDIS, a um custo de R$ 28,80. Mais informações: (11) 3044-4686.

 

 

“Saí da Microsoft para Mudar o Mundo”

Escrita por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, esta resenha do livro “Saí da Microsoft para Mudar o Mundo”, de John Wood, foi publicada originalmente na edição de agosto de 2006 da Revista Update, uma publicação mensal da Câmara Americana de Comércio.
Quando recebi a incumbência de fazer a revisão e crítica do livro Leaving Microsoft to Change the World, de John Wood, o amigo que fez o pedido disse: “Marcos, este livro é também sobre você”. E realmente ele tinha razão.

John é extremamente feliz ao abordar questões sérias que um executivo bem-sucedido enfrenta em uma empresa que a cada dia lhe ensina mais, lhe paga mais, lhe dá maior responsabilidade, lhe exige total dedicação, lhe consome todo o seu tempo, e finalmente assume total controle sobre a sua vida.

Após nove anos de uma carreira de sucesso profissional na Microsoft, John descobre, durante um trekking no Nepal, a realidade dura de crianças sem escolas, sem materiais de estudo, sem livros. Condição que faz do Nepal um dos países com pior taxa de analfabetismo do mundo (70% são analfabetos).

Tocado pela situação, e descobrindo como individualmente poderia mobilizar recursos a seu alcance através de parentes, amigos, colegas de trabalho, John descobre que haveria um outro sentido para a vida além de expandir os negócios da Microsoft.

Após um processo doloroso de examinar os prós e os contras, meditar sobre sua existência e existência de crianças que não têm acesso a escolas, sobre as oportunidades que teve e as mesmas oportunidades que são simplesmente negadas para crianças desenvolverem seus potenciais, olhar para dentro de si e descobrir o egoísmo com o qual normalmente buscamos o sucesso, John toma a difícil decisão de abandonar o emprego, e buscar um sentido maior para sua vida.

Porém, ao abandonar o emprego, se dá conta de que sua decisão é mal-recebida por sua companheira, por seus colegas de trabalho, por seu círculo de amizade. Afinal das contas estava abandonando o segundo posto da Microsoft na China, mercado em franca expansão, e ávido por consumir novas tecnologias.

Assim descobre que ao abandonar o emprego está também abandonando velhos hábitos, certos padrões de consumo, e entrando num novo mundo. Porém, tudo isto era necessário para que saísse em busca de seu Graal, uma organização que toma o nome de Room to Read.

E assim, John deixa o mundo corporativo e entra no mundo do Terceiro Setor, ou da sociedade civil organizada, onde cria uma organização com uma missão clara, necessária, e crucial para o desenvolvimento de crianças e jovens excluídos de seus direitos básicos de acesso à educação. Cria uma organização sem fins lucrativos, baseada no voluntariado de pessoas amigas, mas principalmente de pessoas desconhecidas, tocadas pela missão e proposta de trabalho da organização. E mais importante, sem recursos, dependendo única e exclusivamente em sua fase inicial dos recursos de John.

Aí, quando John deixa de ser o executivo de empresa para ser o empreendedor social é que se manifesta a importância dos anos que passou na Microsoft durante os anos 90, período excepcionalmente crítico para o sucesso da empresa. As lições aprendidas de Bill Gates e de diretivos da empresa para o sucesso do negócio são recapturados por John para fazer da Room to Read um empreendimento social com o mesmo sucesso.

John, de maneira fluida e perspicaz, consegue nos envolver em seus sonhos, dilemas, dificuldades, estratégias e vitórias para constituir uma organização vitoriosa que, em sete anos, doou mais de 1,2 milhão de livros, estabeleceu mais de 200 escolas, e ofereceu mais de 1.700 bolsas de estudo para meninas completarem sua educação. No total, influenciou a vida de 875.000 crianças em países da Ásia.

Se John soube desenvolver seus talentos nos anos de Microsoft e ser um executivo de sucesso, soube também usar esses talentos e experiências em benefício de um projeto altruísta, e de alto impacto.

Tive experiência similar. Sei dos desafios que representam deixar uma organização muita bem posicionada no mercado, e no imaginário das pessoas, para assumir o desafio de perseguir um sonho. E, por absoluta coincidência, no mesmo ano que John o fez. Também me sinto realizado e feliz.

Ainda não escrevi a minha estória. Quando tiver a oportunidade de fazê-lo espero ter o mesmo prazer que John demonstra ao escrever seu livro. Espero que também tenha a mesma capacidade de John em transmitir um fio de esperança para este mundo que se apresenta cada vez mais injusto, cada vez mais negando oportunidades para suas crianças e adolescentes.

Um fio de esperança… Isto é o que todo ser humano que teve o privilégio de aprender a ler e a escrever, estudar e ter emprego deveria colocar, para que cada fio pudesse tecer uma nova sociedade mais justa e sustentável.

 

 

Pesquisa IDIS de Investimento Social na Comunidade

Realizada entre os dias 14 de setembro e 21 de outubro de 2004, teve o objetivo de identificar para que tipos de ação na comunidade as empresas dirigem seus investimentos, verificar se as ações são avaliadas, de que forma, e dimensionar as perspectivas de ampliação desse tipo de investimento.

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Voluntariado Empresarial Como Ferramenta de Gestão de Pessoas

Elaborada por Alessandra A. Cherubino Luz, Ana Lúcia Caloi Neves, Élica Fernandes, Norival de Oliveira e Tatiana M. Otani, em agosto de 2004, a monografia mostra como o voluntariado empresarial, mesmo não sendo implantado com a finalidade de “gerir pessoas” ou “humanizar relações”, acaba proporcionando mudanças comportamentais positivas naqueles que dele fazem parte.

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Diretrizes Para a Avaliação de Projetos e Programas de Investimento Social Privado

A tese de Eduardo Marino, concluída em 2003, apresenta um estudo da aplicabilidade dos Standards de Avaliação de Programas definidos pelo The Joint Comittee of Standards for Educational Evaluation em programas e projetos de investimento social privado nacionais. O documento apresenta 30 parâmetros, a maioria deles aceita como aplicáveis nos projetos brasileiros.

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Investimento Social Também Tem Risco e Taxa de Retorno

Publicado em 21 de julho de 2002, no jornal Valor Econômico (Especial – Empresa&Comunidade), o artigo de Marcos Kisil* defende que a definição sobre a forma de doar e para que atividade ou projeto deve ser tão racional e planejada quanto na área financeira.

Quando um investidor está em busca de uma boa opção para aplicar seu dinheiro, cerca-se de cuidados. Procura conhecer a solidez da organização em que o dinheiro será depositado, os ativos que compõem a carteira do investimento, sua liquidez e seu risco. Com base nessas informações e na meta que deseja alcançar – a taxa de retorno -, escolhe a aplicação que parece mais promissora. Por mais paradoxal que pareça, o investidor social deve cercar-se de cuidados similares. Embora a decisão de doar para uma entidade ou uma causa possa ser emocional, seja o doador uma empresa ou um indivíduo, a definição sobre a forma de doar, para que atividade ou projeto, deve ser tão racional e planejada quanto qualquer investimento financeiro.

Em nosso trabalho de apoiar tecnicamente e capacitar empresas, famílias e indivíduos que querem se transformar em investidores sociais eficientes, temos detectado algumas dificuldades comuns. A primeira delas é pensar que a doação termina quando os recursos são enviados para as instituições que deles necessitam. Conhecer a entidade que recebe não é o mesmo que saber onde os recursos estão sendo aplicados. Simplesmente enviar o recurso a entidades é ter o comportamento de um doador. Saber em que o recurso foi empregado, e com que resultados, é o comportamento de um investidor social.

Existe uma demanda crescente por recursos. Indivíduos e empresas são “bombardeados” por diferentes pedidos para atender diferentes necessidades. Todos são aparentemente urgentes, e todos são meritórios. É comum o doador reagir então de maneira instintiva à solicitação. Dessa forma, os doadores acabam colaborando com entidades de forma casuística, pontual. Fazem doações diluídas, sem foco determinado, a grande número de organizações. O resultado é que o benefício social é pouco efetivo por estar diluído. O doador não consegue perceber os resultados e isso, mais tarde, pode servir de desestímulo a novas doações.

Outra dificuldade resulta da não avaliação das entidades para conhecer se elas têm capacidade técnica para utilizar, da forma mais eficiente possível, o recurso doado. Não estamos falando aqui de entidades que desviam dinheiro oriundo da filantropia – essas são casos de polícia. Estamos falando de entidade íntegras, dirigidas por pessoas honestas e verdadeiramente ligadas a uma causa, mas que muitas vezes não conseguem gerir o investimento da forma mais adequada.

A maior parte das organizações que recebem recursos são extremamente competentes em relação à causa. Não necessariamente têm a mesma competência quando o assunto é gestão. O investidor social corporativo ou individual deve pensar não apenas em ajudar a causa, mas também em apoiar a instituição beneficiada em sua performance gerencial. Assim, poderia estar protegendo o seu investimento, bem como ajudando outros possíveis investidores que se sentiriam mais seguros em doar para essas entidades.

Hoje, a tendência dos novos investidores sociais em todo o mundo é reservar um percentual da doação à qualificação da entidade: planejamento estratégico, gerência de projetos, captação de recursos, comunicação, entre outras. Aplicados corretamente, esses recursos podem ajudar não apenas a aumentar o benefício do dinheiro utilizado diretamente na causa, mas também a criar um círculo virtuoso de empreendedorismo social eficiente e eficaz.

Da mesma forma, é preciso avaliar corretamente o projeto que receberá a doação. As quatro qualidades básicas de um investimento financeiro são: liquidez, risco, prazo e taxa de retorno. De forma simplificada, podemos dizer que o investimento social estratégico também tem quatro qualidades básicas, em maior ou menor grau.

A primeira: ser catalisador. O investimento deve ser capaz de apressar um processo, permitir que os resultados sejam mais rápidos, por maior que seja o prazo do projeto – e projetos realmente transformadores costumam ser de longo prazo.

A segunda qualidade é a capacidade de provocar mudanças. Um bom exemplo de projeto que tem essa qualidade em seu mais alto grau é o Acelera Brasil, do Instituto Ayrton Senna. Os recursos foram aplicados em 15 municípios com o objetivo de desenvolver um modelo que pudesse acelerar a aprendizagem de jovens em idades e séries defasadas. Este modelo, que evitou que dezenas desses jovens desistissem de ir à escola, acabou por influenciar políticas públicas e já está sendo replicado em vários estados.

A terceira qualidade é o poder de inovação, que pode ser traduzido por propor um olhar e uma solução diferentes para um problema antigo, que ninguém conseguiu resolver. Embora os projetos mais inovadores tenham as maiores taxas de risco, podem trazer também altas taxas de retorno. Há instituições financiadoras, como a Fundação W. K. Kellogg, dos EUA, que se dedicam a apoiar projetos que têm como principal característica a inovação.

A última qualidade é a capacidade de alavancagem. O investimento pode ajudar a trazer mais investidores, criando uma rede de filantropia forte e crescente. Um bom exemplo é a Fundação Acesita, que financia vários projetos, mas sempre procurando parcerias com outros investidores sociais. A solidez do trabalho da fundação ajuda a sensibilizar e atrair novos investidores sociais, aumentando o bolo da filantropia no país.

Finalmente, é preciso medir a taxa de retorno do investimento social, ou seja, o benefício social resultante do investimento, em termos quantitativos e qualitativos. Alguns exemplos representam o aumento de crianças em escolas, ou mães atendidas em pré-natal, ou jovens que receberam educação profissionalizante. Mas o benefício também pode ser entendido como a melhora da qualidade de vida. Um bom exemplo desse indicador é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), parâmetro utilizado pelas Nações Unidas para medir o desenvolvimento de uma sociedade através de um indicador composto por indicadores econômicos, educacionais e de saúde.

O investidor social tem condições de tomar suas decisões em termos do risco e de beneficio social resultante. Para tanto deve se cercar de informações e de profissionais que possam orientá-lo. São as mesmas atitudes que toma para o investimento financeiro.

 

*Marcos Kisil é presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), São Paulo, Brasil. E-mail para contato:mkisil@idis.org.br