A ambulância chegou a tempo?

A chamada big data – coleta massiva de dados – parece ter se tornado uma espécie de mapa do tesouro para quem pretende aumentar a eficiência de suas ações. Afinal, quanto mais se sabe, melhor se pode avaliar se uma atuação está correta ou precisa de ajustes. Produzir informações, no entanto, pode ser muito caro, quase proibitivo para muitas organizações da sociedade civil.

A Acumen – instituição que financia projetos de impacto social em várias partes do mundo – lançou uma nova forma de coleta, barata e com grande capilaridade: o uso de celulares de seus beneficiados, aos quais envia torpedos com perguntas sobre o serviço prestado. Assim, cortou radicalmente o custo de angariar subsídios sobre suas iniciativas. Por isso, foi considerada pela revista Fast Company uma das dez instituições sem fins lucrativos mais inovadoras de 2015.

A estratégia, batizada de Lean Data Initiative, começou em um projeto que a Acumen financia na Índia, um negócio social que oferece serviços baratos de ambulâncias para milhares de pessoas. O desafio era ter certeza de que o atendimento de urgência estava chegando aos mais pobres.

O pilar dessa tática é o fato de que o acesso a celulares hoje é quase universal. Utilizando instrumentos como SMS e mensagens automáticas de voz, o projeto na Índia conseguiu obter respostas de mil pessoas atendidas – e constatou que, de fato, chegava ao mais carentes.

Organização centenária conquista lugar na lista das mais inovadoras

Com mais de 100 anos de história e um orçamento anual que ultrapassa U$ 100 milhões, não é exagero dizer que a Rockefeller Foundation está entre os principais atores do Investimento Social Privado.

A idade e o tamanho, contudo, não a tornaram vagarosa. Em vez disso, resultaram em experiência para perceber que, mais do que investir muito, é necessário investir bem e estrategicamente. Não à toa, a entidade foi escolhida uma das dez mais inovadoras iniciativas sem fins lucrativos de 2015 pela revista Fast Company.

A organização norte-americana afirma, em seu site, que seu objetivo é o mesmo desde 1913: promover o bem-estar da humanidade. O modo de fazê-lo, no entanto, mudou muito. Como diz a revista, a Rockefeller tem muito dinheiro para gastar, mas o que a distingue é a maneira como seleciona os (muito poucos) projetos que beneficia.

“Apenas um punhado chega ao estágio de desenvolvimento, quando recebe um investimento teste para ver se alcança um impacto maior”, diz a Fast Company. Por isso, quando a organização financia uma iniciativa, quase certamente o faz por avaliar que ela tem possibilidade de atingir muita gente.

É o caso da Smart Power, desenvolvida na Índia e para a qual a Rockefeller Foundation destinou U$ 75 milhões. O dinheiro parece muito? A ambição é igualmente grande: levar energia elétrica para 290 milhões de indianos que não têm acesso ao recurso. E o impacto pode ser ainda maior, pois há a expectativa de ampliar a experiência para outros países da Ásia e para a África.

A Rockefeller Foundation, por meio de uma parceria, apoia financeiramente o IDIS no Fórum Brasileiro e nos Encontros Regionais de Investidores Sociais.

Gigante filantrópica inova ao abordar saúde de um ponto de vista holístico

Inovação radical não é apenas para jovens. A Robert Wood Johnson Foundation, por exemplo, existe há 43 anos e, com U$ 10 bilhões em recursos, é a maior organização a lidar com saúde nos Estados Unidos. Apesar de sua idade e de seu tamanho, a instituição foi audaciosa o bastante para fazer uma mudança radical em sua abordagem. Ao adotar uma perspectiva holística, passou a apoiar programas que focam não só em médicos e remédios, mas também na promoção do bem-estar em diversos âmbitos da vida social para criar uma “cultura de saúde”. A ousadia valeu a pena, e rendeu à Robert Wood Johnson Foundation o título de uma das dez mais inovadoras iniciativas de 2015, segundo a revista Fast Company.

Antes, a fundação tinha uma abordagem tradicional, financiando projetos que promovessem tratamentos melhores e mais baratos para pessoas doentes. Em 2014, no entanto, a organização passou também a lidar com o tema do ponto de vista da saúde pública, de uma maneira mais holística, promovendo o que chama de “cultura da saúde”.

O nome meio enigmático esconde uma ideia muito simples: olhar para os mais diversos fatores que afetam o bem-estar das pessoas. Assim, entraram na mira da organização preocupações como segurança alimentar, moradias de qualidade e até ciclovias nas cidades.

Um exemplo citado pela revista é o programa “Health Leads”, que permite uma abordagem mais holística para tratamentos de saúde. Assim, além de prescrever remédios, os médicos e outros agentes de saúde também recomendam coisas tão diferentes quanto uma alimentação mais saudável ou o uso de sistemas de aquecimento no inverno.

Organização doa equipamentos de laboratório para promover inovação em saúde

Inovações em saúde dependem basicamente de duas coisas: boas ideias e condições materiais de pesquisa. As primeiras podem aparecer em qualquer lugar do mundo. Já as segundas estão concentradas em um punhado de países. Foi por ampliar esse grupo de beneficiados, e dar equipamentos a cientistas inovadores de países em desenvolvimento, que a organização Seeding Labs está entre as iniciativas mais inovadoras de 2015 destacadas pela revista Fast Company.

Sua estratégia é doar, para centros de pesquisa em nações emergentes, equipamentos de países ricos que estão sendo trocados por outros mais novos. A iniciativa, fundada em 2007 pela norte-americana Nina Dudnik, já encaminhou cerca de U$ 2,2 milhões em maquinário de laboratório para mais de 20 mil estudiosos em 23 mercados, incluindo o  Brasil.

O projeto busca um impacto duplo. Permite inovações em saúde para resolver problemas locais e, também, tenta evitar a fuga de cérebros de países com condições mais precárias para a prática científica ao dar condições materiais para o desenvolvimento local de pesquisas.

A perspectiva é de que a Seeding Labs consiga um impacto ainda maior nos próximos anos: em 2014, a organização fechou uma parceria de U$ 3 milhões com a Usaid, agência norte-americana de apoio ao desenvolvimento internacional.

Uma manhã na Ponta do Farol, na capital do Maranhão

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Descubra como conciliar o social com o investimento: esse foi o convite que atraiu mais de uma centena de empresários e empreendedores sociais para um Encontro de Investidores Sociais, em São Luiz, no Maranhão. Eles se reuniram para ouvir as experiências de três empresas que incorporaram a sustentabilidade social e ambiental em seu cotidiano, e também para entender um pouco melhor o que são negócios sociais e conhecer os que investem nessas iniciativas e os que recebem o financiamento.

Tudo isso aconteceu na manhã do dia 28 de maio, no Hotel Luzeiros, na Ponta do Farol, na capital maranhense. O IDIS e o Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão (ICE-MA), que organizaram o encontro, contavam com cerca de sessenta participantes, mas quando as inscrições chegaram a cem, foi preciso encerrá-las.

O empresário paulistano Ricardo Vacaro (terceiro na foto, da esquerda para a direita), dono da RL Higiene, explicou como conseguiu transformar uma empresa do setor de limpeza em um modelo de sustentabilidade sem sacrificar a operação financeira da companhia. Darci Fontes (quinto na foto), um empresário radicado no Maranhão, contou como levou seu engajamento nas causas sociais para dentro de sua empresa, a Fonmart Tecnologia, e como essa história acabou transformando-o em um empresário-ativista. E Janaína Costa (quarta na foto), da Companhia Energética do Maranhão (CEMAR), falou sobre os desafios de aproveitar a capilaridade e os serviços da empresa para contribuir para o desenvolvimento das populações mais vulneráveis espalhadas pelo estado.

Os depoimentos foram inspiradores e a grande quantidade de perguntas direcionas aos palestrantes mostrou o interesse do público.

Na segunda parte do evento, Rebecca Obara, do fundo Vox Capital, que investe em negócios sociais, contou sua história pioneira e explicou os critérios para que uma iniciativa seja considerada um negócio social e possa receber seu apoio financeiro. Logo depois, falou Maurício Prado (primeiro na foto), sócio do Instituto de Pesquisas Plano CDE, uma das empresas apoiadas pelo Fundo Vox Capital, que se dedica a conhecer melhor o perfil das classes CDE. Maurício aproveitou a ocasião para mostrar uma pesquisa que identificou as principais fortalezas e vulnerabilidades dessas classes sociais.

O resultado positivo do Encontro de Investidores Sociais do Maranhão mostrou como é importante levar a mensagem do Investimento Social Privado para além da região Sudeste e dos grandes centros político-financeiros do país.

O IDIS agradece ao todos os palestrantes que contribuíram voluntariamente para o evento, assim como ao grande parceiro ICE-MA, aos divulgadores Associação Comercial do Maranhão, Associação dos Jovens Empresários do Maranhão e Start-Up Maranhão e ao grande apoio dado pelo Hotel Luzeiros, que acolheu o Encontro.

Fortuna que transforma

Exame

A reportagem de capa da edição do dia 24 de junho da revista Exame, “Bilionários com causa”, surgiu como um raio de luz em meio aos demais veículos, que há meses trazem manchetes desalentadoras sobre os escândalos de corrupção que abalam o país. Apesar de sabermos do papel fundamental da imprensa na investigação e divulgação das irregularidades realizadas por políticos e empresários, faz muito bem ver que uma revista influente como a Exame apostou em uma capa trazendo histórias de pessoas que dedicam parte de suas fortunas a melhorar as condições de vida da população e a construir uma sociedade mais acolhedora.

São dez páginas traçando um panorama do Investimento Social realizado por famílias e explicando suas motivações, foco de atuação e modelo de investimento, além das facilidades e dificuldades desse caminho, A reportagem também traz números de um levantamento realizado pelo IDIS e pelo Gife especialmente para essa publicação, além de um estudo inédito, feito pela Universidade de Harvard.

Vale muito a pena ler a reportagem e lançar um olhar sobre um Brasil mais iluminado.

 

 

 

Mesmo hospital, novos rumos

fachada Hospital Rio das Pedras

Rio das Pedras é uma cidade de 32 mil habitantes perto de Piracicaba. O Hospital Maternidade São Vicente de Paulo atende mensalmente mais de cinco mil pessoas no pronto-socorro e quase duas mil no ambulatório. Há sete meses no cargo, o administrador Luiz Gonzaga da Cunha acredita que o Projeto de Captação de Recursos Fehosp/IDIS veio em boa hora.

“Aprendemos que antes de captar é preciso se planejar, e muito bem”, explica Cunha. Com 65 anos de história, o Hospital Maternidade São Vicente de Paulo precisa de investimentos em infraestrutura, como reformas na parte elétrica e no telhado. Acompanhe abaixo a entrevista com o administrador.

 

Idis: Vocês já participaram das Oficinas e do coaching?
HMSVP: Sim, participamos.

Idis: O que acharam dessa experiência?
HMSVP: Estou há sete meses na administração do hospital e digo que o Projeto de Captação de Recursos veio em momento muito oportuno. Nosso hospital necessita com urgência de uma revitalização, tanto estrutural quanto humana, e o projeto tem nos ajudado muito.

Idis: Como vocês avaliam a captação de recursos do hospital antes e depois do curso?
HMSVP: Como estou aqui há sete meses, não tenho nenhuma informação sobre captação de recursos de antes do meu tempo. Hoje temos um bom projeto pra executá-lo graças às Oficinas.

Idis: O que aprenderam e vão colocar em prática?
HMSVP: Aprendemos que para fazer uma boa captação é preciso saber planejar e também mostrar que nossa entidade tem uma história sólida e crescente ao longo de 65 anos.

Idis: Qual o projeto que estão desenvolvendo?
HMSVP: “Mesmo hospital. Novos rumos…” O projeto trata da revitalização: troca do telhado, de toda a parte elétrica, aquisição de um raio X digital, troca de computadores, reforma dos quartos do hospital e da maternidade e troca dos pisos.

Idis: Em que fase está?
HMSVP: O comitê de vínculos já está formado; estamos aguardando o término dos orçamentos para apresentação ao comitê e em seguida começar a captação.

Conheça 15 obras fundamentais para quem trabalha com Investimento Social Privado

A consolidação do Investimento Social Privado (ISP), no Brasil e no mundo, já resultou em inúmeras obras sobre o assunto. A bibliografia na área se ramifica em abordagens distintas – de compêndios técnicos a textos teóricos, brasileiros e estrangeiros. Mas o que não se pode deixar de ler sobre o tema?

O site do IDIS pediu a alguns dos especialistas brasileiros no campo que indicassem as obras que consideram fundamentais, explicando por que são importantes. O resultado foi bem diverso: nenhum livro ou relatório foi citado duas vezes. Veja abaixo a lista completa.

 

Anna Maria PelianoAnna Maria Peliano, pesquisadora do IPEA, coordenadora da pesquisa Benchmark do Investimento Social Corporativo (BISC)

Giving in Numbers 2014 Corporate Giving Standard, Committee Encourage Corporate Philanthropy. Disponível aqui.

Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC) 2014, Comunitas. Disponível aqui.

Las Fundaciones Empresariales en Colombia: una aproximación a su estructura y dinâmicas, Fundación Promigas e Fundación DIS. Disponível aqui.

As três pesquisas focalizam as características da participação das empresas e das suas relações com a sociedade e buscam oferecer ao leitor um conhecimento prático sobre o tema. A primeira analisa o comportamento das empresas nos Estados Unidos; a segunda, no Brasil; e a terceira, na Colômbia. Os gestores sociais podem extrair elementos para entender o contexto de sua atuação, comparar suas atividades com as de seus pares e conhecer avanços, dificuldades e tendências que se apresentam para os Investimentos Sociais Privados.

Sustentabilidade das ONGs no Brasil : acesso a recursos privados, Associação Brasileira de ONGs (Abong). Disponível aqui.

Corporate-NGO Partnerships Barometer 2014, C&E Advisory Services Limited. Disponível aqui.

Na origem dos Investimentos Sociais Privados, destaca-se a preocupação com as questões relacionadas à reputação, à legitimidade e à aproximação das empresas com a sociedade. As pesquisas exploram o tema de forma bastante objetiva. A primeira, da Associação Brasileira de ONGs (Abong), aborda a percepção das suas associadas sobre a experiência de um trabalho conjunto com as empresas. A segunda é uma pesquisa anual realizada na Inglaterra e capta não só a percepção das ONGs sobre essas relações, mas também a das empresas.

 

Marcos Flávio Azzi, fundador do Instituto AzziMarcos Azzi

A Cabeça do Brasileiro, de Antônio Carlos Almeida, Ed. Record. Sinopse aqui.

Com perguntas bem elaboradas e boas tabelas, consegue primorosamente apresentar como nós brasileiros somos diferentes em termos etários, regionais, culturais, sociais

O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro. Companhia das Letras. Sinopse e aquisição aqui.

Obra-prima que conta a história da formação de nossa sociedade ao longo dos anos, facilitando o entendimento da razão de nossas diferenças.

The Heart of Altruism, de Kristen Renwick Monroe, Princeton University Press. Sinopse e aquisição aqui.

Toda a cultura de doação ou a ausência dela passa pelo conhecimento das razões de nos colocarmos ou não no lugar do outro, sentirmos as suas dores. Se após isso agirmos, surge a filantropia. Digo aqui o ato voluntário, recorrente e sem visar a nenhuma consequência.

 

Dr. MarcosMarcos Kisil, consultor estratégico do IDIS

The Foundation: a great American secret, de Joel Fleishman, Public Affairs. Sinopse e aquisição aqui.

O livro faz uma abordagem histórica da filantropia norte-americana e análises de casos práticos. Consegue equilibrar bem uma visão positiva das fundações com críticas construtivas a seu funcionamento, mostrando todo o potencial transformativo que o Investimento Social Privado pode ter.

Money Well Spent: a strategic plan for smart philanthropy, de Paul Brest e Hal Harvey, Bloomberg Press. Aquisição aqui.

Tão importante quanto ter recursos é saber usá-los bem. Este livro é um guia inestimável para criar um plano estratégico que possibilite maximizar os resultados do ISP.

Strategic Giving: the art and science of philanthropy, de Peter Frumkin, University of Chicago Press Books. Sinopse aqui.

Outro livro que aborda com profundidade a importância de se fazer um Investimento Social Privado estratégico. Além disso, traz uma série de conceitos que ajudam muito a entender o campo.

 

Paulo Castro, diretor-executivo do Instituto C&APaulo de Castro

Abertura: desmitificando a transparência de Investidores Sociais, Grant Craft/Gife. Disponível aqui.

A publicação apresenta como e por que os Investidores Sociais podem ser mais transparentes e traz sugestões de caminhos a serem seguidos e ferramentas de apoio.

Financiando a organização de comunidades: a mudança social por meio da participação cidadã, Grant Craft/Gife. Disponível aqui.

Demonstra as vantagens do ISP na organização de pessoas e no estabelecimento de boas parcerias para o desenvolvimento e fortalecimento das sociedades

O momento de os Investidores Sociais seguirem em frente, Grant Craft/Gife. Disponível aqui.

Apresenta as estratégias que Investidores Sociais desenvolvem para fazer uma saída responsável ao encerrarem operações ou finalizarem programas. Mostra a importância de o Investidor Social deixar um legado, de se investir em programas que gerem transformação e autonomia dos beneficiários e do reconhecimento coletivo dessas transformações.

Desenvolvimento de Iniciativas Sociais: da visão inspiradora à ação transformadora, de Christopher Schaefer e Tyno Voors. Ed. Antroposófica/Instituto Fonte. Sinopse e aquisição aqui.

Indicado para aqueles Investidores Sociais Privados que trabalham em parceria com outros e, em especial, com Organizações da Sociedade Civil. O livro propõe o desenvolvimento de instituições em coerência com valores humanos e éticos e com a concretização de iniciativas para uma vida socioeconômica sustentável.

Fundação transforma segurança na internet em causa filantrópica

O desenvolvimento do automóvel revolucionou o transporte e as cidades, mas exigiu a criação de inúmeras regras para tornar o trânsito mais seguro. Do mesmo modo, a internet está pondo de cabeça para baixo muitos meio de produção e hábitos de consumo, e igualmente requer medidas para garantir a privacidade e a segurança das informações.

Foi com essa premissa que a The William and Flora Hewlett Foundation trouxe para o terceiro setor uma preocupação antes restrita a governos e empresas. Criou uma iniciativa para estudar como proteger a intimidade e os dados nos meios on-line. Por isso, foi considerada uma das dez organizações sem fins lucrativos mais inovadoras de 2015 pela revista norte-americana Fast Company.

A entidade decidiu dedicar-se ao assunto por avaliar que os setores público e privado atuam no tema de forma fragmentada e têm dificuldade de olhar para além de seus problemas e interesses imediatos. A Fundação Hewlett comprometeu-se a investir US$ 65 milhões para conceber soluções bem planejadas e de longo prazo para as questões trazidas pela popularização dos meios eletrônicos e da internet, combinando esforços dos três setores. Mais que isso, o objetivo é catalisar novos investimentos, ajudando a ampliar a rede de especialistas no tema.

Com brincadeira na internet, ONG arrecadou US$ 100 milhões em 30 dias

Uma campanha do terceiro setor espalhar-se rapidamente pela internet (“viralizar”) é incomum. Disseminar-se com apoio de celebridades do primeiro escalão – tão diversas como Leonardo DiCaprio, Lady Gaga e Cristiano Ronaldo – é um feito histórico. Não foi por acaso que a ALS Association, responsável pela proeza, está entre as dez iniciativas mais inovadoras do terceiro setor em 2015, segundo a revista de negócios Fast Company.

A ideia era insólita: usar uma brincadeira que rodava a internet – virar um balde de água com gelo sobre a própria cabeça – com objetivo de chamar a atenção para uma doença chamada esclerose lateral amiotrófica (ALS, na sigla em inglês). E convencer as personalidades a fazerem parte da farra, divulgando a entidade.

Deu certo. Muito certo. Atores como Matt Damon, esportistas como o tenista Novak Djokovic e cantoras como Katy Perry divulgaram, nas redes sociais, vídeos em que cumpriam o que ficou conhecido como “desafio do balde de gelo”.

Cada participante, depois de tomar o banho de água gelada, era convidado a intimar mais três pessoas a fazerem o mesmo, ou doar US$ 100 para o combate à doença. E foi justamente esse caráter de desafio que garantiu o grande sucesso da brincadeira. Com isso, a organização, que financia pesquisas e tratamentos para os portadores daquele tipo de esclerose, recebeu US$ 100 milhões em menos de 30 dias.

A iniciativa se tornou uma febre também no Brasil, contando com a participação de nomes como Neymar, Ivete Sangalo, Galvão Bueno, Reynaldo Gianecchini e Eduardo Suplicy.

Doações nos EUA crescem e superam, pela primeira vez, os níveis pré-recessão

Foi lançado nesta terça-feira, nos Estados Unidos, o relatório Giving USA de filantropia de 2015. Feito pelo The Giving Institute, ele também marca o 60º aniversário da publicação, que é a mais antiga e a mais completa em relatar a filantropia no país.

O relatório assinala 2014 como um ano recorde em filantropia. As doações subiram 7,1% em relação a 2013, atingindo o valor de US$ 358,38 bilhões, assim chegando, pela primeira vez, a valores acima dos níveis pré-recessão. Oito setores filantrópicos superaram picos anteriores estabelecidos em 2007, enquanto somente um, que lida com ações internacionais, teve declínio de 2 %.

No geral, este foi o quinto ano consecutivo de crescimento da filantropia nos Estados Unidos. À medida que a economia cresceu, a filantropia também cresceu, porém sempre mais do que o PIB. Em 2014, esse crescimento foi 2,1% acima do PIB americano.

As Mega-Doações continuaram a crescer, sendo responsáveis por um terço do aumento das doações por doadores individuais. Suas motivações continuam a manter um padrão “coração/cabeça”, no sentido que resultam de ações humanitárias de caráter assistencialista, bem como de ações estrategicamente planejadas e executadas para transformar a qualidade de vida de indivíduos e da sociedade.

As campanhas de doação cresceram em popularidade por meio de diferentes formatos, como #GivingTuesday e Ice Bucket Challenge, e pelos exitosos esforços de grandes universidades em assegurar o apoio de doadores em compromissos de múltiplos anos.

As doações on-line continuaram a crescer, porém mostrando, por sua competitividade, que algumas organizações souberam planejar melhor e executar as suas ações de captação de recursos.

As doações às fundações, especialmente comunitárias, também cresceram de maneira importante for meio de fundos designados pelo doador para propósitos específicos, e que garantem sua participação no processo decisório de como e para quem devem ser distribuídas.

Em resumo, os resultados de 2014 nos Estados Unidos nos mostram a importante relação entre o PIB e a doação, bem como o papel estratégico que o ato de doar assumiu na cultura americana como instrumento permanente de apoio à mudança social.

Por Marcos Kisil
Fundador do IDIS

CLIQUE NA IMAGEM PARA VISUALIZAR O INFOGRÁFICO FEITO PELO BENEFACTOR GROUP

 

Fundações se unem para tentar recolocar nos eixos a falida Detroit

É comum fundações ou doadores direcionarem recursos para combater doenças, lutar contra a fome, ajudar a construir alas de hospitais ou a equipar escolas. Uma delas adotou um foco diferente: liderou esforços para salvar uma cidade inteira nos Estados Unidos – e, por isso, foi eleita uma das dez mais inovadoras de 2015 pela revista de negócios Fast Company.

O nome da eleita é autoexplicativo: Foundation for Detroit’s Future. Desde o ano passado vem angariando verba para tirar da falência o tradicional polo automotivo norte-americano. Não é modo de dizer: com dívidas superando os US$ 20 bilhões, Detroit de fato pediu concordata em 2013.

Até meados do século 20 chamado de Motor Town por ser berço de empresas como Ford, General Motors e Chrysler (além de fábricas de autopeças e pneus), o município sofreu uma dura deterioração nas últimas décadas. Boa parte das montadoras lá instaladas migrou para outros países ou regiões dos EUA de menor custo. O resultado, influenciado também pela automação no setor, foi uma marcha a ré nos níveis de emprego e de qualidade de vida. A população, que era de quase 2 milhões em 1950, hoje está em torno de 700 mil. A arrecadação também caiu vertiginosamente. O desespero foi tamanho que o prefeito cogitou vender o acervo do museu local, que inclui obras-primas de Van Gogh e Matisse.

A cidade começou a sair do ponto-morto quando um juiz federal, encarregado de administrar a concordata, sugeriu que se criasse uma organização da sociedade civil para apoiar a recuperação. Nascia assim a Foundation for Detroit’s Future, formada por 12 entidades privadas – inclusive algumas ligadas a companhias que estão entre os pivôs da crise, como a Ford Foundation.

Juntas, elas se comprometeram a doar US$ 366 milhões em 20 anos. O dinheiro será destinado a recuperar o sistema público de pensões dos servidores e a tirar Detroit da falência. E há um fundo adicional de US$ 100 milhões para o museu. Ao que tudo indica, Van Gogh e Matisse vão ficar.

Uma nova régua para medir o impacto social

É possível monetizarmos o resultado do investimento social e medir seu grau de sucesso?

A avaliação é uma parte crítica do investimento social estratégico. Por isso, o IDIS reuniu dezessete representantes das áreas de responsabilidade social de diversas empresas para debater o tema e apresentar o SROI (Social Return on Investment), uma ferramenta de avaliação de impacto de projetos sociais.

O encontro contou com Luis Fernandez, da Charities Aid Foundation (CAF ) Global Alliance, falando sobre a relevância da avaliação de impacto.

A mensuração dos resultados de projetos sociais ainda é relativamente incipiente no Brasil, apesar de ser estratégica em várias partes do mundo, como no Reino Unido, onde 75% das ONGs medem, de alguma forma, o retorno de seus trabalhos.

A presidente do IDIS, Paula Fabiani, única brasileira capacitada pela New Economics Foundation (NEF) a aplicar o SROI, apresentou o caso da Fundação Lucia e Pelerson Penido (FLUPP), cujo programa Valorizando uma Infância Melhor (VIM) foi o primeiro projeto no Brasil a quantificar o impacto por meio do SROI.

A avaliação mediu o impacto em crianças entre 0 e 5 anos, suas famílias, professores e cuidadores no município de Roseira, no estado de São Paulo. Foram 3 meses de trabalho intenso, conversando com educadores, crianças, familiares, levantando dados e calculando os valores dos benefícios.

O resultado final mostrou que a cada R$1 investido no programa, foram gerados R$4,08 em benefícios sociais.

“O VIM foi o primeiro caso no Brasil e conseguimos entender e medir o impacto que a ação causou para todo o grupo envolvido. O SROI mostrou-se uma ferramenta estratégica, que combina aspectos quantitativos e qualitativos e pode ser usada para avaliar ou rever resultados. Ele dialoga com os atores e investidores sociais”, explica Paula Fabiani.

Segunda Eduarda Penido Dalla Vecchia, diretora-executiva da FLUPP, o resultado do trabalho gerou a sensação de dinheiro bem investido e do dever mais do que cumprido.

Foi uma manhã de bastante aprendizado e troca de experiências. O IDIS agradece ao Demarest Advogados, que cedeu o espaço, aos palestrantes e convidados.

Shared Value: mais do que um investimento social, uma estratégia de negócios

Demarest

Ainda há muitas dúvidas e interpretações, por vezes erradas, sobre o que é e qual a importância do Shared Value. O IDIS convidou o Diretor Sênior de Desenvolvimento de Negócios na Charities Aid Foundation (CAF) America, John Holm, para uma conferência online sobre o tema.  Um dos maiores nomes no assunto, tendo passado por empresas como IKEA, Subway e Starbucks, John fez uma palestra muito objetiva, chamando as empresas para uma reflexão.

Segundo ele, é preciso entender que Shared Value é uma estratégia de negócios, mais do que uma ação social.

“Trata-se de uma estratégia de negócios rentável que entrega benefícios sociais tangíveis”, explica o diretor da CAF. É importante que a empresa foque na questão social com critérios e faça a escolha correta na hora de investir, sempre pensando na comunidade, mas também na melhoria do seu negócio.

Ele deixou claro que o Shared Value não pretende resolver os problemas do mundo, mas está relacionado a melhorar os ganhos da empresa com os ganhos da sociedade.

Há uma escala de priorização dos temas sociais que pode servir de parâmetro para uma empresa:

  1. Tema Social Genérico – não é significativamente afetado pelas operações de longo prazo da empresa.
  2. Tema Social de Impacto Social na Cadeia de Valor – é significativamente afetado pela atividade da empresa.
  3. Tema Social de Contexto Competitivo – afeta significativamente a competitividade da empresa, na localidade em que atua.

Para facilitar a compreensão, John exemplificou: “se o McDonald’s adotar a causa da malária, será um Tema Social Genérico porque não está diretamente ligado à sua cadeia produtiva; se a Glaxo, uma empresa farmacêutica, adotar esse mesmo tema, será um Impacto Social na Cadeia de Valor, porque tem relação com a atividade da empresa. Mas se a Anglo American adotar este tema na África, onde os funcionários perdem dias de trabalho por estarem com a doença, será um Tema Social de Contexto Competitivo e terá impacto direto na produtividade”, completa.

Conheça as dez iniciativas de terceiro setor mais inovadoras de 2015, de acordo com revista norte-americana

O que um sistema de mapeamento interativo dos casos de ebola na África tem em comum com a venda online de biscoitos por escoteiras dos Estados Unidos? Ambos são exemplos inovadores de como o investimento social privado pode fazer diferença – e foram destacados pela revista de negócios norte-americana Fast Company.

A publicação, uma versão mais cult dos periódicos que cobrem economia e empresas, fez uma lista com dez iniciativas de vanguarda no terceiro setor. Trata-se de uma espécie de subproduto de um ranking já tradicional na revista, com as dez companhias mais inovadoras. Para chegar à relação final, os editores passaram meses coletando e analisando dados sobre empresas e organizações em várias partes do mundo.

As selecionadas se sobressaíram por conta de estratégias ágeis e incomuns, pela liderança no uso da tecnologia, pela criatividade das soluções e pelo alcance dos resultados.

A lista das organizações vencedoras está abaixo. Nas próximas semanas, o site do IDIS vai trazer um pequeno texto sobre cada uma das iniciativas escolhidas.  Acompanhe!

1. The Foundation for Detroit´s Future

2. The ALS Association

3. The William and Flora Hewlett Foundation

4. Seeding Labs

5. The Robert Wood Johnson Foundation

6. The Rockefeller Foundation

7. Acumen

8. Direct Relief

9. The Howard G. Buffer Foundation

10. Girl Scouts of the USA

Duzentas camisetas e uma maca

Itapeva

O projeto de capacitação em captação de recursos para as Santas Casas do estado de São Paulo, desenvolvido pelo IDIS, está rendendo frutos para a Santa Casa de Itapeva. Mais de 200 pessoas compraram camisetas e participaram de uma passeata contra o câncer, realizada no mês passado, para ajudar o hospital.

Aristeu de Almeida Camargo Filho, superintendente da Santa Casa, avaliou que a participação da entidade no projeto de captação de recursos é muito interessante: “estamos aprendendo a captar recursos e a nos aproximar da comunidade”, afirmou. Com a venda das camisetas, o hospital comprou uma maca. Uma comissão da Santa Casa também visitará o comércio da cidade. Ele explica que uma maca pode parecer pouco à primeira vista, mas representa muito para um hospital em uma região pobre do Estado e que atende a 15 municípios do entorno.

A Santa Casa de Itapeva pretende continuar a captação por meio de uma urna que será colocada nos estabelecimentos comerciais da cidade para receber as doações da Nota Fiscal Paulista.

Projeto brasileiro voltado para Primeira Infância traz retorno de R$ 4,08 para cada real investido em impacto social

Quatro vezes o valor investido: esse foi o retorno apontado pela primeira avaliação de projeto social feita por meio do instrumento Social Return on Investment (SROI) no Brasil. O projeto avaliado foi o “Valorizando uma Infância Melhor” (VIM), desenvolvido pela Fundação Lúcia e Pelerson Penido (FLUPP) em municípios do Vale do Paraíba, no interior do estado de São Paulo.

O SROI, uma metodologia trazida para o Brasil pelo IDIS, faz uma avaliação completa dos impactos sociais do projeto sobre todos os envolvidos, além do grupo-alvo principal, e, após compreender e medir todos esses impactos, aplica uma proxy. Esta permite atribuir valores financeiros aos benefícios, de modo a poder comunicar os resultados de uma maneira mais facilmente compreensível para financiadores ligados ao setor privado.

A Charities Aid Foundation (CAF), da Inglaterra, publicou um estudo de caso sobre a primeira aplicação do SROI no Brasil. Clique na imagem abaixo para fazer download do documento.

Social Impact Bonds – ou Títulos de Impacto Social – propõem que governo remunere projetos sociais com impacto comprovado

Historicamente, filantropia e investimentos governamentais são complementares: desde os primórdios do investimento social, os atores privados sempre financiaram iniciativas que visavam preencher lacunas deixadas pelas administrações públicas. Agora, uma nova modalidade de investimento de impacto se propõe a modificar um pouco esta relação e fazer com que o governo remunere os projetos sociais com impacto comprovado.

O mecanismo funciona como se o governo emitisse um título público para captar recursos privados para financiar um projeto social, mas só precisa devolver o dinheiro se a iniciativa der resultado. “Neste modelo, investidores privados colocam capital para financiar um projeto social e os governos só pagam o investidor se um resultado pré-acordado for atingido. Um avaliador independente, então, confirma se o resultado foi alcançado ou não por meio de uma rigorosa avaliação de impacto”, explicam as economistas Emily Gustafsson-Wright e Tamar Manuelyan Atinc em artigo publicado no site do Centro para a Educação Universal do Instituto Brookings, centro de pesquisa norte-americano sediado em Washington, D.C.

Os Títulos de Impacto Social podem ser utilizados para financiar projetos em qualquer área, mas têm uma vocação especial para subsidiar iniciativas voltadas para a primeira infância. Isso porque “uma das principais características de um título de impacto social é financiar programas de prevenção que têm potencial para reduzir ações remediadoras mais caras no futuro”, escrevem as autoras do artigo.

PIR

Essa vocação fez dos Títulos de Impacto Social um dos principais temas da conferência “Financiamento de Impacto para o Desenvolvimento da Primeira Infância”, organizada em abril pelo Centro para a Educação Universal do Instituto Brooking. O evento foi realizado na Fundação Lego, na cidade de Billund, Dinamarca, e contou com a participação da presidente do IDIS, Paula Fabiani. “Os Títulos de Impacto Social representam um novo caminho para o financiamento de programas sociais. Este é um mecanismo que pode aproximar o capital do social e financiar iniciativas inovadoras em que o governo não pode se aventurar”, afirmou após o evento.

Paula foi à Dinamarca falar sobre a participação do IDIS na implantação e avaliação de impacto social do projeto Primeira Infância Ribeirinha (PIR), que visa instituir um programa de políticas públicas voltadas para crianças de comunidades ribeirinhas no estado do Amazonas. A expertise desenvolvida pelo IDIS no PIR habilita o instituto a atuar como avaliador em projetos financiados por meio de Títulos de Impacto Social, o que pode abrir as portas para a implantação desse novo mecanismo de financiamento. “Para o desenvolvimento deste mecanismo no Brasil novas formas de contratualização com o governo serão requeridas, assim como mais rigor com o monitoramento e avaliação dos projetos financiados”, afirma Paula.

Apesar de ainda não ter chegado por aqui, o mecanismo já é utilizado para financiar projetos em países como Austrália, Canadá, Colômbia, Índia, Irlanda, Reino Unido e Estados Unidos. Em todos eles, oferece vantagens para todos os envolvidos. “O governo ganha porque só paga quando o projeto dá certo. O investidor social tem a oportunidade de alcançar um retorno maior do que se fosse uma doação direta e conta com uma estrutura que garante um mínimo de padrão de qualidade. E a entidade que realiza o projeto se beneficia porque, se a iniciativa der certo, o governo vai pagar o investidor e este pode querer reinvestir no projeto”, conclui a gerente financeira do IDIS, Priscila Matuda.

Fórum de Investidores Sociais vai discutir o papel da filantropia em tempos de crise

O tema do IV Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais já está definido e a escolha responde à necessidade clara de discutir qual o papel da Filantropia em um momento no qual o país atravessa uma profunda crise de valores.

Como resgatar a confiança nas instituições? Como estabelecer parcerias? Como atuar em conjunto com o poder público? Essas e outras questões estão presentes no cotidiano de filantropos que atuam no sentido de criar uma sociedade mais justa e acolhedora e, ao mesmo tempo, veem o enfraquecimento de conceitos éticos e morais que deveriam servir de arrimo para essa construção.

Pensar em conjunto, trocar ideias, ouvir a experiência de quem já atuou ou ainda atua em cenários semelhantes, conhecer estratégias que ajudem a reconstruir o arcabouço de valores… Essas são algumas das propostas para o próximo Fórum, que está marcado para o dia 12 de novembro.

O IDIS está trabalhando na organização do evento buscando trazer exemplos instigantes e inspiradores – vindos do Brasil e de fora –, antecipar novas tendências, mostrar a relação entre diferentes gerações de investidores sociais e, como sempre, criar um espaço de diálogo e interação entre os participantes.

Um grande encontro para grandes questões

Por Paula Fabiani, presidente do IDIS

Levamos ao Global Philanthropy Forum uma delegação de doze brasileiros, a maior presente, e trouxemos os principais desafios e tendências do maior encontro mundial de filantropia.

Delegação Brasileira no GPF15

Delegação brasileira no GPF15

A delegação organizada pelo IDIS em parceria com o GIFE levou um importante grupo de brasileiros envolvidos com o investimento social no País para ouvir e compartilhar nossas experiências com filantropos do mundo todo.

“Quando um mundo sem pobreza vai deixar de ser um sonho para começar a ser um projeto?”. Com esta pergunta, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, abriu a 13ª edição do Global Philanthropy Forum (GPF), que aconteceu em Washington, EUA, entre os dias 22 e 24 de abril. A questão colocada pelo médico e antropologista sul-coreano, que está ao comando do Banco desde 2012, transmite a inquietação daqueles que buscam a solução para os grandes problemas sociais e veem seus esforços se diluírem em uma realidade persistentemente desigual.

Os que participaram do GPF – entre eles, três representantes do IDIS – tiveram a oportunidade de assistir a muitas palestras, depoimentos e debates ricos em conteúdo e questionamentos. Registro aqui algumas das mensagens mais significativas do evento, que representam tendências e desafios da filantropia global.

 

Desafio: Precisamos aprender a usar o imenso potencial transformador da internet.

Tendência: “A mudança geracional é grande e só quem entende das novas gerações é a nova geração” – Hadeel Ibrahim, diretora executiva da Mo Ibrahim Foundation.

Alerta: “O alto retorno no capital versus o baixo retorno do trabalho está intensificando a desigualdade social”  Sean Cleary, chairman de Conceitos Estratégicos da Future World Foundation.

Desafio: “Sustentabilidade não é uma maneira de mitigar riscos mas de aumentar os negócios, se colocada como central na condução das atividades da empresa” – Alessandro Carlucci, ex-CEO da Natura.

Alerta: “Onde você tiver pobres marginalizados, pessoas marginalizadas, você terá uma oportunidade para a escravidão”  Stella Dawson, responsável pela área de Governança e Anticorrupção da Thomson Reuters Foundation.

Desafio: As cadeias terceirizadas de produção tornam difícil chegar até quem está na ponta final. O trabalho infantil ainda atinge mais de 2 milhões de crianças no mundo todo e as empresas precisam se comprometer com esse controle.

Tendência: “Que tal lançar um selo ‘produto livre de conflito’?” – Justin Dillon, CEO da Made in a Free World.

Tendência: “Somos pobres pela forma como conduzimos nosso país e administramos nossos recursos… Como mudar isso? Melhorando o governo!” – Mo Ibrahim, fundador e CEO da Mo Ibrahim Foundation, filantropo e empresário que abandonou seu país natal, o Sudão, para progredir nos negócios. Criou um índice para avaliar a qualidade dos governos africanos.

Tendência: “A filantropia tem de parar de evitar o governo. Em vez disso, precisa colaborar com ele para aumentar a capacidade dele de solução dos problemas” – Tony Blair, filantropo e ex-primeiro ministro da Inglaterra.

Desafio: “Precisamos fazer da democracia mais do que apenas eleições. Precisamos conseguir monitorar e avaliar os eleitos” – Tony Blair, filantropo e ex-primeiro ministro da Inglaterra.

 

Vale mencionar a última sessão do evento com Peggy Dulany, filha do filantropo David Rockefeller, que morou e fez vários projetos no Brasil. Peggy reforça a importância de consultar os beneficiários, de buscar a solução dos problemas de forma coletiva. E também a atuação de Jane Wales, a incrível condutora deste evento, que consegue juntar nomes tão importante como Jim Yong Kim, do Banco Mundial, e Tony Blair, ex-primeiro ministro da Inglaterra, e que inicia e finaliza o fórum ressaltando que precisamos de todos para realizar a transformação social que buscamos (“it takes us all”): o setor sem fins lucrativos, o governo e o setor privado. O Brasil já possui modelos interessantes de parceria entre os setores, mas como levar à escala estas soluções ainda é uma questão que partilhamos com outros ao redor do mundo.

O GPF inspirou e trouxe conexões com investidores sociais de todo o mundo, com muitas oportunidades de interação e networking, como o “Speed Networking”, uma sessão na qual a cada 6 minutos conversamos com um participante diferente. As experiências musicais ao longo do evento também nos trouxeram mais sensibilidade para conectar com os outros e com os problemas de outras realidades.

As palestras e as histórias nos fizeram pensar como conduzimos nossas ações no Brasil. Além disso, reforçou a importância de refletir sobre qual nosso papel na filantropia global. O País possui um grande potencial de se tornar um celeiro de inovação social, pois possui problemas socioambientais de grande envergadura e a infraestrutura filantrópica para buscar soluções a estes problemas. Construir as parcerias necessárias é o ponto de partida para colocar o Brasil na liderança da filantropia dos países emergentes.

Quem quiser saber mais pode assistir aos vídeos em http://philanthropyforum.org/talks.

 

Membros da delegação brasileira no Global Philanthropy Forum 2015

  1. Adriana Norte – Instituto Estre
  2. Ana Carolina Velasco – GIFE
  3. Antônio Florence – Florence & Advogados
  4. Helena Monteiro – WINGS
  5. Izabel Toro – Editora FTD
  6. Juliana Ramalho – Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados
  7. Marcos Kisil – IDIS
  8. Paula Fabiani – IDIS
  9. Rafael Gioielli – Instituto Votorantim
  10. Raquel Coimbra – IDIS
  11. Vinícios M. Malfatti – Instituto Lojas Renner
  12. Virgílio Vianna – Fundação Amazonas Sustentável

 

 

 

Presidente do IDIS é palestrante no International Grantmaking Symposium, em Washington

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Paula Fabiani, presidente do IDIS, está entre os palestrantes do International Grantmaking Symposium, realizado entre os dias 30 de abril e 1º de maio em Washington. O evento vai reunir especialistas globais em filantropia para dividir experiências sobre como maximizar o impacto das estratégias de doação.

Paula participará do simpósio com o tema “International Grantmaking Best Practices. Overcoming Challenges and Seizing Opportunities” (“Melhores Práticas de Doação Internacional. Superando desafios e aproveitando oportunidades”, em tradução livre). Ela vai falar sobre o papel da doação na construção da sociedade civil, no aumento da transparência e na criação de oportunidades para investimentos estrangeiros. Outro tópico explorado será a importância da medição de impacto dos projetos sociais.

O evento é organizado pela CAF (Charities Aid Foundation of America) em conjunto com a SAIS (The Johns Hopkins University’s Paul H. Nitze School of Advanced International Studies). Entre os principais assuntos tratados, estão: melhores práticas internacionais de doação, desenvolvimento e doação sustentáveis, regulamentação e medição de impacto. O simpósio pretende discutir e esclarecer os mecanismos de doações internacionais, bem como colaborar para a superação dos desafios da filantropia internacional.

Clique aqui para acessar o site do IGS (em inglês).

Clique aqui para conferir a programação detalhada (em inglês).

Presidente do IDIS participa de debate sobre Primeira Infância na Dinamarca

Paula Fabiani, presidente do IDIS, participará de um debate sobre Financiamento de Impacto para o Desenvolvimento da Primeira Infância em Billund, Dinamarca. O evento é organizado pelo Center for Universal Education (organização voltada para a melhoria na qualidade da educação oferecida nos países em desenvolvimento).

O objetivo é reunir um grupo diversificado de participantes a fim de debater sobre o potencial de Financiamentos de Impacto Sociais e de Desenvolvimento (Social Bonds) no combate aos problemas de países em desenvolvimento, focados especialmente na Primeira Infância.

Fabiani apresentará o projeto Primeira Infância Ribeirinha (PIR), conduzido no Amazonas pelo IDIS em conjunto com a Secretaria de Saúde do Amazonas (SUSAM) e a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e financiamento da Fundação Bernard van Leer. O PIR criou um modelo de promoção ao desenvolvimento na Primeira Infância por meio da visita domiciliar do agente comunitário de saúde, e agora, após realização de piloto em 19 comunidades ribeirinhas pertencentes à Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, procura transpor o modelo para todo o estado do Amazonas por meio da criação de uma política pública.

Programas de Desenvolvimento da Primeira Infância cobrem serviços oferecidos durante a gravidez e os primeiros anos de vida das crianças nas áreas de saúde, nutrição, orientação a pais e proteção social. Tais projetos são extremamente efetivos porque seus impactos favoráveis se estendem por toda a vida adulta, quando bem implementados.

Para saber mais sobre o PIR, assista ao vídeo.

Novos grupos começam a participar de programa de capacitação nas Santas Casas

Em abril, novos grupos do interior de São Paulo vão iniciar o Programa de Sustentabilidade Fehosp/Idis, que visa à profissionalização da captação de recursos das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo. A ideia é melhorar e garantir a sustentabilidade financeira das instituições envolvidas, por meio da reaproximação com as comunidades, que tradicionalmente se envolviam na gestão e manutenção dos hospitais filantrópicos.

Uma das consultoras do IDIS que aplicará as oficinas, Rosana Kasil, afirma que vai ensinar os participantes a ter um olhar mais panorâmico e estratégico para converter a comunidade em ativos. Entre cada uma das oficinas, cada unidade recebe a visita de equipes do IDIS para um trabalho de coaching que verifica, in loco, como os participantes estão lidando com as “lições de casa” que receberam. A ideia é que cada oficina sirva para retomar e consolidar o conteúdo a partir do que os profissionais encontram na prática.

O projeto, feito em parceria com Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes de São Paulo (Fehosp) e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, vai capacitar representantes de 117 Santas Casas do Estado para captação de recursos e doações.

Próximas cidades:

6 de abril

Adamantina, Dracena, Guararapes, Osvaldo Cruz, Penápolis e Tupi Paulista

8 de abril

Batatais, Ituverava, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Ribeirão Preto, São Joaquim da Barra e Sertãozinho

13 de abril

Águas de Lindóia, Amparo, Atibaia, Bragança Paulista, Campinas, Espírito Santo do Pinhal, Mogi Mirim, Socorro, Valinhos, Mococa e Porto Ferreira

15 de abril

Aparecida, Caraguatatuba, Cruzeiro, Guaratinguetá, Jacareí, Lorena, Mogi das Cruzes e Pindamonhangaba

Trabalhar em rede para potencializar o investimento social privado

Em um cenário de fragmentação de entidades e escassez de recursos, trabalhar em rede é uma das melhores maneiras de impulsionar o investimento social privado.

Mais do que ser instituição que impõe sua visão de mundo, uma organizações da sociedade civil podem cumprir diversos papéis para unir colaboradores estatais e privados em prol de uma causa. Uma publicação do IDIS descreve algumas das possibilidades de engajamento em redes.

O documento, intitulado “A participação de organizações empresariais em redes comunitárias”, mostra formas de participação bem diversas. Desde atuações mais complexas, como a criação dessas iniciativas, até modos menos comprometidos, mas não menos importantes – como o investimento em projetos já em andamento.

As entidades sociais privadas podem, por exemplo, fomentar um grupo de colaboradores. Como diz o texto, “quando uma empresa – ou um instituto ou fundação empresarial – decide incentivar a formação de uma rede comunitária para contribuir com o desenvolvimento de determinada comunidade, ela está assumindo o papel de ‘produtor social’ do processo, isto é, aquele que tem condições econômicas, organizacionais, técnicas e profissionais para viabilizar um processo de desenvolvimento social, neste caso, uma rede”.

O texto destaca que não basta meramente incentivar a criação dos grupos: “Todo produtor social é também membro da rede, na medida em que dela participa, ao agregar conhecimento e disponibilizar ativos. O fato de existirem consultores aplicando metodologias para facilitar a formação da rede não deve diminuir a participação ativa da empresa. Ao contrário, o projeto precisa ser desenvolvido junto com seus representantes”.

De qualquer modo, é possível (e isso ocorre com frequência em projetos bem-sucedidos) que a rede seja assumida pela comunidade. A empresa, nesses casos, faz parte do grupo, mas apenas como integrante, “com atribuições definidas coletivamente”.

Pode-se, também, estabelecer parcerias para apoiar a criação de uma estratégia proposta por outra instituição. Ou investir em uma já existente.

Em qualquer caso, deve-se ter em mente que as redes não são fenômenos passageiros. “Elas aumentam o capital humano e ampliam o capital social, viabilizando a mobilização de recursos em prol da comunidade. Por isso, incluir as redes nas estratégias de investimento social das empresas é uma excelente forma de gerar mais resultados e impacto social”, aponta a publicação do IDIS.

Clique aqui para ler o documento.

Confiança dos brasileiros nas organizações sociais cresce, e elas voltam ao segundo lugar no ranking

Apesar de terem ocorrido em 2011, os escândalos envolvendo convênios entre organizações não governamentais e poder público tiveram efeito duradouro na opinião pública brasileira, que generalizou os maus feitos de poucos e passou a desconfiar de todo o setor. A boa notícia é que a tendência parece ter se revertido: a confiança nas organizações da sociedade civil voltou a crescer, e elas novamente são a segunda instituição mais confiável do país.

A constatação é da edição 2015 da pesquisa Trust Barometer, da agência de pesquisa de tendências Edelman Significa. O estudo avalia a confiança em quatro instituições: governos, empresas, mídia e ONGs. Desde 2011, estas amargavam um terceiro lugar, atrás da mídia e das empresas – no resto do mundo, sempre estiveram no topo.

“Foi um período difícil, justamente por conta das poucas instituições que serviram como dutos de dinheiro público”, diz o jornalista Rodolfo Araújo, diretor de Pesquisa, Conhecimento e Inovação da Edelman. Ele menciona mais um item que jogou contra o setor: “Em 2010, ocorreu um pico na confiança dos brasileiros e, ao declínio natural, juntaram-se os escândalos”.

Depois de ficar na terceira posição também nas pesquisas referentes a 2012 e 2013, as ONGs finalmente passaram para o segundo lugar em 2014, resultado de um ganho de oito pontos percentuais em relação ao ano anterior. Elas foram citadas como confiáveis por 70% dos entrevistados, pouco abaixo das empresas, que mantiveram a liderança, com 73%. A mídia perdeu sete pontos percentuais e registrou 56%. Já os governos ficaram na lanterna (37%).

As ONGs, segundo Araújo, se beneficiaram do fato de não terem sido registrados novos escândalos desde 2011. “O efeito memória se dissipou, e elas recuperaram a credibilidade por não ter aparecido nada mais contra elas”.

O segundo lugar, lembra Araújo, não é resultado apenas da melhoria na percepção sobre o terceiro setor. A desconfiança em outras duas instituições caiu. “A mídia foi afetada pelo excesso de notícias negativas dadas, enquanto, em outro momento, elas eram equilibradas com notícias positivas. Houve também um desapontamento da sociedade com os governos em relação a questões públicas.”

As organizações da sociedade civil não devem, portanto, acomodar-se com essa situação. “As ONGs precisam ficar atentas para o cumprimento das expectativas da sociedade. Há desafios de eficácia, gestão e profissionalização a serem enfrentados”, comenta o diretor.

Ao colocar as empresas e as ONGs no topo da confiança, a sociedade também está esperando uma ação conjunta desses dois atores, interpreta Araújo. “Os dois estão dividindo responsabilidade, e as organizações da sociedade civil deveriam atuar em parcerias com as empresas.”

Ele alerta que as ONGs continuam com o mesmo problema de comunicação que as impediram de reagir enquanto setor durante os escândalos de 2011. “Elas têm de aparecer mais para o público, e não ficar falando apenas para os iniciados, até para reverter certos estereótipos. Isso passa menos pelas OSCs individualmente e mais por falarem coletivamente.”

Presidente do IDIS é palestrante no FIFE 2015

Sem títuloPaula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, foi uma das palestrantes do Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica (FIFE), que aconteceu entre os dias 24 e 27 de março, em Gramado/RS.   O evento reuniu mais de 400 pessoas e contou com mais de 100 atividades e 40 palestrantes, debatendo temas relativos à gestão de organizações sociais.

A presidente do Idis ministrou a palestra “Fundos patrimoniais e investimentos financeiros” e integrou a mesa no debate “Institutos e fundações – como se relacionar e trabalhar em conjunto”, com Ana Carolina Velasco (gerente de relacionamento institucional do GIFE) e mediação de Roberto Ravagnani.

Fabiani se mostrou entusiasmada com o evento: “o Fórum encontra-se apenas em sua segunda edição e já apresenta um expressivo aumento de tamanho, impactando significativamente a melhoria dos processos de gestão nas organizações”.

Saiba mais sobre o FIFE clicando aqui.

IDIS articula apoio de lideranças empresariais brasileiras em carta à ONU

ONG norte-americana Ready Nation envia carta ao Secretário-Geral da ONU, Ban-Ki-moon, pedindo que Primeira Infância tenha espaço próprio nas Metas do Milênio Pós-2015. Lideranças empresariais assinaram a carta, destacando a importância dos cuidados na Primeira Infância para a preparação de uma geração mais saudável e produtiva. O IDIS articulou o apoio de 4 líderes brasileiros que endossaram a carta, junto com outros 47 grandes líderes do mundo todo. Clique aqui para ler a carta.

 

 

Dia Mundial da Justiça Social: Rádio ONU convida o Idis para falar sobre o papel do Investimento Social Privado

As Nações Unidas celebraram o Dia Mundial para Justiça Social neste 20 de fevereiro, com o secretário-geral Ban Ki-moon destacando que todos merecem uma vida digna, com respeito aos direitos humanos.

Mas o que é exatamente justiça social? A Rádio ONU ouviu a diretora-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social: “Envolve pessoas em situação de vulnerabilidade, como a pobreza e até mesmo a falta de saneamento, falta de acesso aos serviços básicos.”
Paula Fabiani foi entrevistada por Leda Letra. A especialista explica ainda a responsabilidade das empresas e do cidadão comum para a justiça social e avalia que o Brasil tem muito espaço para melhorar no setor de investimentos sociais. Ouça a entrevista concedida por Paula Fabiani.

IDIS desenvolve projeto para que Santas Casas conquistem sustentabilidade

Desde o começo do ano o IDIS vem trabalhando num projeto para capacitar representantes de 117 Santas Casas do Estado de São Paulo para captação de recursos e doações. O projeto é feito em parceria com Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes de São Paulo (Fehosp) e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. No total, são 117 Santas Casas ou Hospitais Filantrópicos participantes em todo estado, organizados em 11 grupos, para tornar mais fácil entender a realidade de cada instituição.

A programação das capacitações inclui a realização de 3 oficinas, de 20 horas cada, ministradas por professores convidados e pela equipe do IDIS. Três temas centrais são abordados nos treinamentos: como fazer um diagnóstico da situação de cada hospital e identificar as possíveis pessoas e organizações que podem ser mobilizadas; decidir quais sais as necessidades prioritárias e traçar um plano estratégico para sensibilização da comunidade; e, por fim, como implementar o plano, prevendo os pontos críticos que podem comprometer o sucesso. Entre cada uma das oficinas, cada unidade recebe a visita de equipes do IDIS para um trabalho de coaching que verifica, in loco, como os participantes estão lidando com as ‘lições de casa’ que receberam. A ideia é que cada oficina sirva para retomar e consolidar o conteúdo a partir do que os profissionais encontram na prática.

A primeira rodada de treinamentos começou em janeiro e segue até o fim de março, envolvendo quatro grupos de santas-casas, que se reuniram em quatro municípios: Ourinhos, Votuporanga, São Carlos e Limeira. O segundo grupo receberá capacitação entre os meses de abril e junho, em outros quatro municípios: Araçatuba, Franca, Mogi Guaçu e São José dos Campos. E de julho a setembro, o terceiro grupo, reunindo as cidades de Catanduva, Marília e Marcelina.

Ainda como parte do projeto, será estabelecida uma rede virtual para uso dos hospitais participantes, e para sua interação com a Fehosp. Por meio de uma plataforma, os participantes terão acesso a um espaço virtual para compartilhamento de experiências, documentos de interesse, grupos específicos, realizar fóruns virtuais, postar fotos e vídeos, estabelecer uma sala de bate-papo.

AS SANTAS CASAS HOJE

As Santas Casas e Hospitais Beneficentes são responsáveis por 1/3 do sistema de saúde do País. No Estado de São Paulo, respondem por 33 mil dos 65 mil leitos existentes. Além disso, 70% das unidades estão localizadas em municípios com até 30 mil habitantes, onde, em grande parte, representa a única alternativa de atendimento hospitalar público.

Faz alguns anos que os repasses recebidos do sistema público de Saúde não cobrem as despesas e, diante desta realidade, está cada vez mais difícil para as Santas Casas cumprirem o papel social. Algumas fecharam as portas e muitas estão diminuindo o número de atendimentos para o SUS como forma de atenuar o déficit operacional. A ideia da parceria do IDIS com a Fehosp é criar mecanismos de sustentabilidade para esses hospitais.

Estima-se que as doações no Brasil somam aproximadamente 20 bilhões de reais por ano. A área que mais recebe esse tipo de recurso é a da Educação, e a Saúde aparece em nono lugar, segundo levantamento do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas. Por isso, existe uma oportunidade real de que o setor da Saúde possa ser redescoberto como área de interesse para uma crescente filantropia no Brasil.

Uma das principais fontes de financiamento desses hospitais no passado, e que caracterizaram as Santas Casas como verdadeiros hospitais comunitários, foi o apoio da sociedade local para a sua construção, instalação e operação. “Antes de serem integradas ao SUS, as Santas Casas eram sustentadas pelas comunidades locais, que cobravam sua boa gestão”, diz Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS.

A realidade atual é que o apoio comunitário foi diminuindo na medida em que o SUS avançou como principal fonte compradora de serviços. Se a saúde passou a ser um dever constitucional e universal do governo, já não haveria necessidade da participação da comunidade local em seu financiamento. Porém, a conta não fecha.

Terceiro setor precisa unificar voz na relação com a imprensa

As organizações não governamentais podem, vez ou outra, aparecer com destaque positivo no noticiário – mas não como conjunto. Embora já encarado como um segmento específico da sociedade, a ponto de frequentemente vir agrupado sob a designação de “terceiro setor”, esse universo quase sempre é retratado de maneira fragmentado pela mídia. Quando o enfoque é setorial, a tendência é que seja negativo. Foi o que ocorreu, por exemplo, no escândalo de 2011 envolvendo convênios com o governo: o problema era restrito a poucas organizações da sociedade civil (OSC), mas todo o campo acabou sob suspeita frente à opinião pública.

Para especialistas, esse é um sinal de que passou da hora de as organizações da sociedade civil terem atuação mais coordenada para falar com a imprensa. “O modo fragmentado do noticiário sobre as OSCs tem relação direta com o modo de operação desse setor, e isso precisa ser repensado”, avalia a jornalista Suzana Varjão, gerente de qualificação de mídia da Andi Comunicação e Direitos, instituição que promove um diálogo mais qualificado entre organizações da sociedade civil e imprensa.

Um estudo da própria Andi respalda a fala de Suzana. Em 2014, a entidade publicou a pesquisa A imprensa brasileira e as organizações da sociedade civil, análise da relação entre os dois atores. Uma das conclusões é que a mídia nacional tem uma visão muito compartimentada do setor social privado, pulverizado em uma miríade de instituições.

“Há uma característica determinante nesse tipo de noticiário, que tem implicações boas e ruins: seu modo individualizado de produção, centrado em organizações ou ações/projetos específicos (82,8% dos textos analisados), em detrimento de registros sobre o funcionamento geral do setor, seus desafios e potencialidades – 9,2%”, diz o relatório.

Cursos
Por ser um campo com conceitos próprios, por vezes falta aos jornalistas entendimento sobre como funciona o setor social privado. Por isso, cursos de formação também ajudam a aprimorar a cobertura jornalística. “Criar cursos seria uma coisa interessante, e nós temos a intenção de explorar mais isso, e promover encontros e discussões sobre o setor dentro das redações”, afirma Vera.

Em 2013, o IDIS ofereceu uma formação gratuita para profissionais de mídia. A capacitação, que durou uma semana, abordou alguns aspectos do investimento social privado, como os fundos patrimoniais e o marketing relacionado à causa. Além disso, lideranças do setor também participaram de conversas com os jornalistas.

“Claro que existem profissionais preparados para cobrir o assunto – e tão gabaritados que vêm participando, com as OSCs, desse processo de retomada do capital ético desse setor fundamental da democracia brasileira. Mas é preciso compreender que as notícias são construídas por atores das duas esferas, e que ambas são extensas e complexas. Nessa perspectiva, são sempre necessárias iniciativas de qualificação de seus atores”, comenta Suzana.

Forbes-Insight divulga as principais tendências do investimento social mundial

De acordo com estudo 2015 BNP Paribas Individual Philanthropy Index, encomendado pela Forbes-Insight, braço da famosa revista norte-americana, as cinco principais tendências do investimento social mundial em 2015 são as seguintes.

  1. Impact Investment (apontado por 52% dos entrevistados)
  2. Filantropia colaborativa (51%)
  3. Compartilhamento de dados, práticas e expertises (51%)
  4. Atacar as raízes dos problemas sociais (48%)
  5. Venture philanthropy (45%)

A colaboração e o compartilhamento  estão entre as cinco tendências para o investimento social privado neste ano, citadas por 51% dos entrevistados. Ambas, analisa a Forbes, refletem o ambiente de fragmentação do setor, com pulverização de um grande número de organizações.

Podem ser resumidas numa frase do executivo-chefe Gerry Salole, do European Foundation Centre, citada pela publicação: “Não tenho problema com o grande número de organizações, desde que elas conversem umas com as outras”.

Desde 2012, o IDIS tem tido um papel relevante no incentivo desse diálogo com a realização do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais. O evento anual abre espaço para troca de experiências, discussão de temas pertinentes ao campo e exposição de boas práticas do setor.

Um pouco à frente de colaboração e compartilhamento, a sondagem apontou o investimento de impacto como a tendência mais citada pelos filantropos (52%). Esta é outra área que também tem se expandido no Brasil – e foi um dos temas tratados no primeiro fórum organizado pelo IDIS.

Em quarto lugar, 48% dos entrevistados apontaram a tendência de lidar com as raízes dos problemas, em vez de tratar apenas das consequências. Uma abordagem convencional sobre o sem-teto, por exemplo, seria “fornecer serviços diretos, como contribuir com abrigos ou programas de alimentação”, diz a revista. Já um enfoque de “mudança sistêmica” detectaria o que está levando as pessoas a morar na rua e o que seria preciso fazer para que isso não acontecesse mais.

A quinta tendência, indicada por 45% dos filantropos, é a venture philanthropy, que une os objetivos sociais da filantropia com a estrutura de capital típica dos venture investments, no qual o investidor social se torna sócio de uma parte do projeto. “Este tipo de filantropia pode ser muito efetiva em certas áreas intensivas em capital, como as pesquisas médicas”, afirma a Forbes.

Mário Magalhães Chave: a perda do Mestre

Marcos Kisil*

Sou uma das pessoas que tiveram o privilégio de conhecer, trabalhar, e principalmente ter em Mário um mestre da vida. Seja ela a vida profissional, a vida em sociedade, a vida em família.

O Dr. Mário, como era mais conhecido, faleceu no último sábado dia 28 de fevereiro tendo a família ao seu lado.

Sua formação profissional como Odontólogo (1941) e Médico (1948) ocorreu na antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, na cidade do Rio de Janeiro onde nasceu. Na mesma Universidade viria a completar seu doutoramento em Odontologia (1953) e Livre Docência em Patologia e Terapêutica (1953). Tendo em 1951 concluído a sua primeira especialização na Universidade de Illionois, na área de Farmacologia, volta aos Estados Unidos para seu Mestrado em Saúde Pública na Michigan University (1955). E é nesta área de Saúde Pública, que hoje também pode ser chamada de Medicina Coletiva, que Mário passa a atuar de maneira relevante para o benefício da humanidade.

Como sanitarista trabalhou durante dois anos na Fundação SESP (Serviço Especial de Saúde Pública), doze anos na Organização Pan-Americana da Saúde e na Organização Mundial da Saúde, tendo ocupado postos em Washington, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Genebra. Chefiou o Departamento de Administração de Saúde na antiga Escola Nacional de Saúde Pública, hoje Instituto Presidente Castello Branco. Foi Diretor Adjunto da Associação Latino-americana de Faculdades de Odontologia e da Federação Pan-Americana de Associações de Faculdades de Medicina.

No mesmo período atuava como diretor de programa da Fundação W. K. Kellogg, tendo sob responsabilidade o programa da Fundação na América Latina. Mário emprestou seu talento e tirocínio para disseminar a fluoração da água e do sal como meios preventivos para a cárie bucal, atuou para a criação de um corpo de conhecimento que hoje conhecemos como Medicina Familiar, participou intensamente da criação e desenvolvimento dos Núcleos de Tecnologia para o ensino profissional na área da Saúde (centros conhecidos como NUTES/CLATES), atuou na criação e ativação de entidades como a Associação de Faculdades de Medicina (FEPAFEM, ABEM), Odontologia (ALAFO), Enfermagem (ABEn), Associação de Programas e Departamentos de Medicina Coletiva (ABRASCO), e na Rede UNIDA (Programas de articulação docente/assistência/comunidade). Colaborou no planejamento e implantação de programas acadêmicos em odontologia social e sanitária, entre outros, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Sua intensa atividade acadêmica também se reflete nos livros e artigos que publicou (alguns em co-autoria), sendo seminais e pioneiros na discussão de temas valorosos para o entender e agir no setor da Saúde, e que se tornaram verdadeiros oráculos para os estudiosos do setor, tais como: Manual de odontologia sanitária (1960); Odontologia sanitária (1962); Saúde e sistemas (1972); Saúde, uma estratégia de mudança (1982); Odontologia social (edições de 1977 e 1986); Cambios en la educación medica: un analisis de la integración docente asistencial en América Latina (1884); Perspectivas da integração docente-assistencial (1983); Algumas reflexões sobre IDA: antecedentes do ideário UNI (1994)

Suas ações, profissionais e acadêmica, foram reconhecidas com vários títulos honoríficos, cabendo destacar: Doutor Honoris Causa da Universidade do Brasil (1964) da Universidade Federal da Bahia (1985), Universidad de Buenos Aires (1995), bem como de universidades em Medellín, Colômbia (1965), Lima, Peru (1972), Cochabamba, Bolívia (1978) e Santiago de Los Caballeros, República Dominicana (1986).

Mário ocupou a Cadeira 42 da Academia Brasileira de Odontologia

Também será lembrado pelo estímulo, apoio, e generosidade para com os jovens profissionais, especialmente ao recomendar os candidatos às bolsas de estudo da Fundação Kellogg, permitindo assim que uma liderança acadêmica e profissional fosse formada na América Latina e especialmente no Brasil. Contamos em centenas os agraciados que galgaram posições de liderança na região, seja na Universidade, Ministérios da Saúde, ou na própria carreira internacional dentro do sistema OPS/OMS. Mário, como ex-bolsista, conhecia o poder que esta decisão acarretava na vida de um jovem.

Fui bolsista, consultor, e vim a substituir Mário quando de sua aposentadoria como Diretor da Fundação Kellogg. Tive o privilégio de tê-lo como conselheiro e amigo na concepção e implantação de programas extremamente exitosos para a nossa região, entre os quais destaco a Fluoração do Sal, o Programa UNI para as profissões da saúde, e Kellogg International Leadership Program em liderança.
Mário, por meio dessas ações com a Fundação Kellogg, introduziu e nutriu de maneira antecipatória o que viria a ser uma filantropia estratégica, desenvolvimentista, e voltada à emancipação de seus beneficiários como se propõe atualmente em oposição direta ao assistencialismo e paternalismo de doadores.

Sua paciência, mansidão e entusiasmo eram características que ampliavam a importância de sua sabedoria

Não existiria o IDIS, e toda a transformação proposta para o investimento social privado na América Latina, e especialmente no Brasil, se não fosse o seu denodo em fazer da doação um instrumento de mudança social.

Obrigado, Dr. Mário. Descanse em paz!

(*) Ex-Diretor da Fundação W.K.Kellogg para América Latina e Caribe, Fundador do IDIS

Voluntariado é bom para a sociedade e para a empresa; aprenda a fazer

Uma empresa é naturalmente um agregado de pessoas que trabalham por um retorno econômico. Mas por que não mobilizar os trabalhadores também para a busca de um retorno social? A iniciativa privada é um espaço especialmente privilegiado para a criação de projetos de voluntariado.

A principal pesquisa de solidariedade no mundo, o World Giving Index, da organização britânica Charities Aid Foundation, aponta o Brasil como oitavo país em número absoluto de voluntários – um ambiente propício, portanto, para programas corporativos nessa área.

As companhias colhem os frutos do envolvimento dos funcionários em ações sociais, segundo uma monografia apresentada no curso Administração para Organizações do Terceiro Setor, da FGV-SP. A pesquisa analisou as iniciativas de diversos grupos, como Itaú e Philips, e concluiu que “os ganhos indiretos do programa superam os investimentos, pois um funcionário que compreende as ações da empresa passa a respeitá-la pela transparência e se sente parte integrante da companhia e tende a produzir mais e melhor”.

Para ajudar a criação de projetos que consigam efetivamente atuar nos grandes temas nacionais, o IDIS publicou um manual  com um passo a passo. O texto defende que iniciativas desse tipo são mais bem-sucedidas quando envolvem todos os escalões da instituição.

Uma sugestão é começar com a formação de um comitê que mapeie ações já existentes, pesquisar os temas que mais interessam aos funcionários e mobilizar aqueles que queiram se tornar voluntários. Num segundo momento, o alto escalão deve ser envolvido, pois é a ele que cabe a decisão de alinhar o programa às diretrizes corporativas e de sustentabilidade do negócio.

O IDIS tem grande experiência em assessorar tanto empresas que querem montar seus planos de voluntariado quanto aquelas que pretendem dar mais efetividade a ações já existentes. Está interessado? Venha conversar conosco (http://idis.org.br/contato/).

Foco: elé é fundamental para que o Investimento social privado dê resultados concretos

Fazer investimento social privado (ISP) não é apenas assinar cheques ou criar ações pontuais, sem continuidade. Uma transformação duradoura requer estratégia muito bem definida, que potencialize ao máximo os efeitos dos recursos. Foco, portando, é fundamental.

Algumas dicas para acertar o alvo estão num breve manual elaborado pelo IDIS, intitulado “Como definir o foco do investimento social corporativo”.

O documento recomenda que o processo comece com uma análise benfeita da própria companhia. “É importante levantar não apenas as doações, projetos e programas sociais da empresa, mas também seus patrocínios, para avaliar se, mesmo que de forma inconsciente, a empresa já tem uma lógica de apoio, porém ainda não explicitada”, recomenda a publicação.

Num segundo momento, o foco deve se voltar para fora: as necessidades socioambientais da região em que a empresa está instalada ou as ações dos concorrentes. “Se ela tem planta industrial, é interessante escutar a comunidade em que está inserida, tentando entender suas características e necessidades. Se é do ramo do varejo, pode montar uma pesquisa junto a seus consumidores, para identificar que causas os clientes gostariam que ela apoiasse”, exemplifica o texto do IDIS.

Vale lembrar que mesmo instituições que já fazem investimento social privado podem aprender muito com um trabalho de avaliação periódica de suas atividades. Por vezes, elas precisam estar abertas a mudanças (http://idis.org.br/organizacoes-da-sociedade-civil-precisam-estar-abertas-a-mudancas/) para aperfeiçoar sua atuação e, se necessário, adotar uma linha de ISP mais estratégica e efetiva.

O manual é apenas um ponto de partida. Fazer mudanças ou estruturar do zero um investimento social privado exige ajuda de especialistas experientes e acostumados com as pedras que muitas vezes surgem no caminho. E o IDIS pode ajudá-lo neste caminho. Fale conosco no http://idis.org.br/contato/

Desigualdade: os mais beneficiados fazem parte da solução, dizem especialistas.

Um relatório recente da Oxfam, organização britânica de combate à pobreza, indicou que 1% da população detém 48% da riqueza mundial – e que a tendência é que essa fatia chegue a 50% em 2016. O paradoxo é que essa pequena elite econômica pode ser parte da solução para reverter a trajetória de concentração.

Uma das maneiras é por meio do investimento social privado (ISP). “O ISP consegue amenizar muito o problema e ter um impacto social brutal, caso os recursos sejam bem manejados”, afirma Marcos Azzi, fundador do Instituto Azzi, organização da sociedade civil especializada no aconselhamento a investimentos sociais de pessoas e famílias de alta renda. “Imagine um bilionário que doe 1% de seus ganhos anuais para a filantropia. É nada em termos do que ele tem, mas é muito em valores absolutos”, comenta Azzi.

A questão passa, então, por atrair tal público para o investimento social privado. Um trabalho considerável, a julgar pela experiência de Azzi em São Paulo, onde o instituto atua — a cidade abriga o sexto maior número de bilionários no mundo, à frente de Paris, Los Angeles e Genebra, segundo uma pesquisa do banco suíço UBS e da consultoria Wealth-X. “Em geral, é um grupo que se aliena do coletivo, vive numa ilha de bonança”, diz. “É aberto para ouvir, mas acaba ficando meio que por isso mesmo”.

Para a diretora-executiva do IDIS, Paula Fabiani, “o grupo de milionários e bilionários brasileiros é muito heterogêneo; alguns são engajados e outros nem tanto”. Ela avalia que falta, no país, uma cultura de doação consolidada: “Pelo que podemos ver no World Giving Index 2014, publicado pela CAF, o Brasil não tem uma cultura de doação, ocupando a 90ª posição em um ranking de 135 países. É claro que as camadas mais ricas da população também partilham desse mesmo comportamento”.

Além do investimento social privado, há outro modo de o 1% colaborar para reverter a concentração, segundo o diretor da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst: as pessoas de alta renda precisam parar de sustentar políticas que contribuam para a desigualdade. “Elas influenciam indevidamente o processo político-democrático, conseguindo benefícios do poder público, como vantagens tributárias que mantêm um sistema fiscal no qual quem tem mais paga proporcionalmente menos”, diz Simon, ecoando uma parte do relatório da Oxfam, divulgado em janeiro, que fala justamente sobre os grandes gastos com o lobby sobre questões tributárias.

Ticehurst argumenta que o público de alta renda está, na verdade, agindo contra seus interesses ao apoiar medidas que resultam em concentração de renda. “No longo prazo, é de interesse deles também ter um sistema mais igualitário, pois sociedades mais iguais são comprovadamente mais seguras.” Paula reforça: “No Brasil, as pessoas, por mais privilegiadas que sejam, convivem diretamente com os problemas sociais, ao contrário do que acontece em outros países mais desenvolvidos. Em qualquer parte, somos obrigados a olhar nos olhos da pobreza e da injustiça.”

Novo consumidor espera engajamento social também de pequenas empresas

Cada vez mais, o investimento social privado deixa de ser apenas uma opção nas grandes empresas e passa a ser necessidade. Os consumidores, sobretudo os mais jovens, esperam que as companhias se engajem em iniciativas que realmente resultem em melhorias socioeconômicas, aponta uma pesquisa da consultoria inglesa Trendwatching. Em um relatório sobre as dez principais tendências de consumo para 2015, a empresa colocou o “branded government” entre elas.

“Atuar nessa área é agir quase como governo, perceber onde o poder público não está atuando e fazer parcerias para ajudar as pessoas”, diz a pesquisadora da Trendwatching no Brasil, Rebeca de Moraes. Mas tais mudanças, frisa o estudo, têm de ser palpáveis.

O estudo menciona dados de um levantamento do MSLGroup – que trabalha com relações públicas – segundo os quais 73% das pessoas nascidas entre 1980 e 2000 (geração chamada de millennials) “não acreditam que o governo consiga resolver sozinho todos os problemas, e 83% deles querem que as empresas se envolvam mais”.

A expectativa de que o setor privado participe mais de questões socioeconômicas de certa forma reflete o fato de que as companhias e as organizações da sociedade civil são mais bem vistas que os governos em pesquisas que captam credibilidade da população. Por exemplo: no Trust Barometer de 2014, índice global da consultoria de relações públicas Edelman Significa, as ONGs ficaram em primeiro lugar, seguidas das empresas e da mídia. O setor público ficou em quarto e último.

No Brasil, segundo a mesma pesquisa, as empresas gozam de ainda mais confiança (primeiro lugar), à frente da mídia e das organizações da sociedade civil. O governo, novamente, está em último. “Esses dados dão espaço para os negócios agirem”, comenta Rebeca.

A atuação social do setor privado, porém, não precisa estar ligada a grandes temas. Mais interessante é detectar problemas atuais que estão impactando a vida das pessoas. “As marcas devem ler jornais para entender quais questões afetam diretamente a sociedade”, continua Rebeca.

Assim, ela ressalta, a ação social não fica restrita apenas aos grandes grupos: “É preciso trabalhar coisas mais visíveis e propor ações pequenas. Não precisa ser a Coca-Cola e ter um departamento enorme: as marcas menores também podem fazer iniciativas localizadas impactantes”.

E impacto é fundamental nesse caso. O público percebe quando um projeto é só publicidade, avalia a pesquisadora. “Se as pessoas veem que o trabalho é apenas marketing e que não causa impacto nenhum na sociedade, as empresas serão malvistas e mal faladas”, diz. A percepção tende a ser mais ou menos esta, como resume o texto da Trendwatching: “Se parece um golpe de relações públicas, é provável que seja mesmo”.

Isso não significa que a empresa não possa se beneficiar de sua ação. O relatório cita um caso da montadora Volvo, que fez parceria com a agência nacional de transportes da Suécia para criar estruturas de abastecimento de veículos elétricos. O projeto inclui um sistema sem fio que alimenta baterias da frota de ônibus elétricos da cidade de Gotemburgo, no sudoeste do país. “A empresa ganha, claro, mas não era prioridade do governo criar o sistema. As pessoas veem com olhos positivos a iniciativa da fabricante”, aponta Rebeca. O estudo faz referência também a um projeto do aplicativo Waze, que fechou acordo de compartilhamento de dados de tráfego com prefeituras para ajudar a melhorar as condições de trânsito.

Falar sobre questões mais imediatas e cotidianas, no entanto, exige ousadia. A pesquisadora da Trendwatching lembra, por exemplo, que os “rolezinhos” de jovens em shoppings de alguns municípios brasileiros, no ano passado, tinham por trás uma identificação forte com marcas de roupas e calçados. Ainda assim, várias delas não tiveram coragem de falar sobre o tema, conforme reportagens registraram na época.

“É muito difícil ver marcas que se pronunciem sobre questões polêmicas: elas têm medo de afastar seus consumidores. Mas há problemas que simplesmente não podem ser ignorados e que devem, na verdade, até mesmo ser abraçados”, defende Rebeca, mencionando as crises de abastecimento de água e energia elétrica e a corrupção.

As grandes empresas e o desafio de avaliar investimentos sociais

Mais de 70% das grandes companhias publicam relatórios sobre suas atividades sociais, segundo pesquisa da consultoria KPMG. Poucas delas, porém, avaliam de fato o impacto de suas ações para a sociedade e para a própria empresa.

“Os orçamentos de responsabilidade social e de sustentabilidade não são usados em seu potencial máximo e os possíveis impactos sociais, econômicos e ambientais são drasticamente reduzidos”, afirma a consultora Gundula Cöllen, em texto publicado em seu blog no site Social Value Matters, da SROI Network, negócio social voltado para a medição de impacto. “Deixando de lado a responsabilidade social como apenas uma estratégia de marketing para fortalecer uma marca, os estudos de impacto social são uma ferramenta valiosa para aumentar a reputação corporativa entre consumidores e empregados ao contar histórias convincentes de mudanças”, escreve Gundula.

A tática mais usada pelas grandes empresas é fazer relatórios recheados de números (outputs), usando sobretudo as recomendações da Global Reporting Initiative (GRI). “Estas recomendações já ajudaram a elevar o nível dos relatórios de sustentabilidade”, afirma Gundula, para depois ponderar: “No entanto, a maioria dos indicadores não ajuda as empresas a medir mudanças com as quais contribuiu”.

A consultora dá um exemplo claro. Há relatórios que citam o número de horas dedicadas ao treinamento de empregados, mas não abordam a questão mais relevante: qual foi o resultado efetivo desse treinamento? Isso, sim, seria analisar a mudança causada pela atividade social de uma empresa, os outcomes de seu investimento.

Algumas companhias, contudo, começam a adotar um novo padrão. “Mais e mais empresas com interesse genuíno em fazer diferença para a sociedade têm começado a usar recursos para medir melhor e acompanhar o impacto de suas atividades de responsabilidade social e melhorar o nível de seus relatórios.”

Uma das técnicas para avaliação das mudanças é o Social Return On Investment (SROI), metodologia na qual Gundula é especialista. Essa é também a ferramenta que o IDIS adota para oferecer uma avaliação de impacto mais completa a seus parceiros. A britânica Jennifer Rouse, da New Economics Foundation, veio ao Brasil no final de 2013 para ensinar a técnica à equipe do instituto.

Como explicou Rouse, “a SROI é uma análise de custos e benefícios, na medida em que você sabe o retorno sobre o dinheiro investido. Mas, em vez de dados apenas sobre retornos financeiros, vê os impactos econômicos, sociais e ambientais”. Ou, como conclui Gundula, agora as empresas estão indo de “simplesmente comunicar ‘o que fizemos’ para ‘qual mudança nós ajudamos a fazer’”.

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O investimento social em prol do esporte de alto desempenho

A relação mais clara entre empresas e esporte aparece em bonés, camisetas, chuteiras, casacos e até cuecas: o patrocínio. Esse aporte de recursos é fundamental para cobrir custos em áreas tão distintas como futebol, vôlei, ginástica rítmica e luta greco-romana. Mas há outras parcerias, menos visíveis, em que o investimento privado é igualmente importante.

Quando, por exemplo, a judoca Rafaela Silva chegou ao ponto mais alto do pódio no Mundial de Judô, em 2013, não só inscreveu seu nome na história de uma das modalidades mais vitoriosas do Brasil. Ela representou uma vitória do Instituto Reação, projeto de investimento social privado que mirou no esporte como fator de inclusão de crianças pobres e acertou o alvo da formação de atletas de elite.

“A organização foi criada voltando-se para o lado mais social mesmo”, diz a coordenadora executiva da entidade, Joana Miraglia. Olhando a história da entidade, não é difícil entender como também conseguiu formar atletas de alto rendimento. Por trás da iniciativa está o judoca Flávio Canto, campeão pan-americano e medalha de bronze nas Olimpíadas de 2004.

“Canto já fazia algumas coisas pontuais, como entregar comidas e roupas para populações carentes, mas ele percebeu que isso não mudava muita coisa”, conta Joana. Ao mesmo tempo, Geraldo Bernardes, que foi técnico da seleção brasileira de judô durante 20 anos, estava iniciando um trabalho na Cidade de Deus, na periferia do Rio de Janeiro. Canto se juntou, então, ao Bernardes e a outras pessoas e criou o instituto.

Aliar a modalidade de seus fundadores à educação foi algo natural. “O judô é um instrumento educacional privilegiado, por causa de seus rituais, da necessidade de respeito ao mestre e da disciplina”, diz Joana. O esporte de alto rendimento acabou se tornando uma das vertentes do instituto na medida em que as crianças, que entram no projeto a partir dos 4 anos, começaram a envelhecer.

Atualmente, a organização conta com cinco polos de treinamento em comunidades vulneráveis cariocas, e atende cerca de mil pessoas, entre as quais cerca de 200 fazem parte do programa de alto rendimento.

Se, no começo, os recursos vinham principalmente de amigos de Canto, hoje há patrocínios mais sólidos, como o da Petrobrás, Multiplus e do fundo de investimentos Gap. Além disso, a Universidade Estácio de Sá oferece bolsa de estudo integral aos participantes. O Instituto Reação também conta com doações de pessoas físicas.

O financiamento é uma questão de extrema importância para a organização, cujo orçamento está em torno de R$ 3 milhões por ano. “O esporte de rendimento é muito caro, e, às vezes, custa mais sustentar os 200 atletas de elite do que os outros 800”, constata Joana, que ainda levanta outra preocupação: “O Brasil está muito visível por causa da Copa e das Olimpíadas, mas como será depois de 2016?”

Tênis

O Instituto Tênis é outro exemplo de como o investimento social privado pode fomentar atividades de alto rendimento. Nesse caso, no entanto, os objetivos esportivos são os principais, e não uma consequência de outro trabalho. A meta é ter um brasileiro no topo do tênis mundial até 2022.

A organização foi criada em 2002 em Santa Catarina pelos empresários Jorge Paulo Lemann e Nelson Aerts, na esteira do sucesso do tenista catarinense Gustavo Kuerten – hoje conselheiro do instituto –, e sempre teve a finalidade de formar atletas de elite. No início, trabalhava com tenistas entre 17 e 18 anos, mas, como explica o diretor executivo da organização, Cristiano Borrelli, “vimos que era difícil trabalhar com uma idade já avançada, e decidimos buscar pessoas mais jovens para trabalhar mais na formação”.

O instituto passou a escolher atletas a partir dos 11 anos e, em 2014, vai passar a trabalhar até com crianças de 6. “O tênis é um esporte muito precoce. Aos 17 anos, o tenista já está em fase de transição para o profissional”, justifica Borrelli.

A mudança de faixa etária e de cidade – o instituto agora funciona em São Paulo – não foram as únicas. O projeto se baseia muito na meritocracia, de certa forma refletindo o pensamento de Lemann, pentacampeão brasileiro de tênis e um dos homens mais ricos do mundo, e que agora faz parte do conselho do Instituto, no qual também há outros empresários.

Para atingir a meta de ter um tenista no topo, o instituto adotou um “ambiente competitivo, mas lúdico, em termos de treinamento, até para criar atividades atrativas aos jovens”, diz Borrelli. Segundo ele, a meritocracia é medida menos por resultados do que pelo comprometimento dos jovens.

“Entendemos que o trabalho depende de três fatores: os critérios de seleção dos atletas, um ambiente de treinamento altamente competitivo e desafiador, e capacidade de executar um planejamento adequado para que os jovens sempre compitam com os melhores de suas categorias”, afirma o diretor executivo.

O custo para criar o novo Guga é alto: em 2014, deve ficar em torno de R$ 5 milhões. “O orçamento vem crescendo na medida em que aumentamos a base de atletas com os quais trabalhamos”, explica Borrelli. No momento, 37 tenistas são auxiliados por 17 profissionais, entre treinadores, fisioterapeutas, psicólogos e educadores.

“Nós mantemos um bom relacionamento institucional com grandes empresas, e 90% dos nossos recursos estão vinculados à lei de incentivo ao esporte”, comenta. No momento, o Itaú é o principal parceiro do instituto, que também conta com apoio da Tetrapak e da Braskem. “Buscamos sempre diversificar nossos apoiadores, ampliar nossa base, até para não ficarmos muito dependentes”, finaliza Borrelli.

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O advocacy como ação fundamental para fortalecer a democracia

Governos de vários países têm limitado a influência das organizações da sociedade civil sobre as políticas públicas. Um dos argumentos é de que o advocacy minaria a democracia, pois as entidades não respondem aos eleitores e, por isso, não teriam legitimidade para negociar com representantes eleitos. Na verdade, porém, a ação das OSCs tem exatamente o efeito contrário: ajuda a fortalecer o sistema democrático, principalmente como instrumento de voz para minorias.

Este é o argumento que o especialista em políticas internacionais Adam Pickering, da britânica Charities Aid Foundation, desenvolve no artigo “Is advocacy and campaigning by not-for-profits undemocratic?”. O texto, publicado no site do Future World Giving – iniciativa da CAF que mapeia oportunidades de fortalecimento do investimento social privado nos próximos anos –, repercute uma pesquisa que demonstrou justamente o avanço de medidas para cercear a ação das OSCs.

Pickering escreve que, ao contrário dos argumentos de vários governos, a atividade de organizações da sociedade civil não é algo novo nem inconsistente com a democracia. Ele lembra diversas campanhas humanitárias, inclusive internacionais, que ocorreram no século XIX, como as que lutaram pela abolição da escravatura. Ou seja, mesmo o fenômeno das organizações de alcance mundial está longe de ser um fruto exclusivo da globalização das últimas décadas.

O autor escreve ainda que, ao contrário de ser uma ameaça à democracia, as OSCs são um fruto deste sistema. “Com o surgimento da esfera pública, desenvolveu-se uma mídia livre e crítica, bem como organizações sem fins lucrativos; por isso, é justo dizer que o advocacy destas últimas é mais responsável por criar do que por minar aquilo que pensamos ser um governo democrático”, defende.

O especialista ressalta que a democracia eleitoral, por ser naturalmente uma imposição da maioria, “não necessariamente representa os direitos e necessidades das minorias”. E acrescenta: “A sociedade civil e, particularmente, o advocacy das organizações sem fins lucrativos têm um papel vital na representação dos marginalizados e em contrabalancear a tirania da maioria”. Pickering rebate, então, a ideia de que estaria havendo uma transferência de poder dos governos para as organizações, como se “a relação entre ambos fosse de soma zero”.

Para o articulista, retomar o uso da palavra “política” ajudaria a melhorar a visão que se tem das OSCs. “Muitas vezes, o termo ‘atividade política’ é usado de maneira pejorativa, mas as organizações são, sempre foram e deveriam continuar a ser políticas”, afirma.

Ainda assim, o autor termina seu texto com uma nota realista, pedindo mais regulação sobre a partidarização das atividades das OSCs, pois “claramente, a situação na qual uma organização se engaja no apoio a partidos e candidatos é inconsistente com o que consideramos filantropia”.

Organizações da sociedade civil se juntam para propor soluções para a crise hídrica

Desde 2008, as organizações da sociedade civil (OSCs) vêm alertando os governos estadual e federal sobre os riscos de escassez de água na Região Metropolitana de São Paulo, mas os repetidos avisos não foram suficientes para fazer com que o poder público agisse para evitar a mais grave crise ambiental da história paulista. Diante da passividade dos políticos, a própria sociedade civil decidiu se mobilizar para discutir possíveis soluções para a falta de água no estado de São Paulo.

Assim surgiu a Aliança Pela Água, coalizão criada em outubro de 2014 que reúne 38 organizações da sociedade civil em torno do tema da segurança hídrica. “Consultamos mais de 280 especialistas no assunto para levantar propostas de combate ao problema da água”, diz Marussia Whately, coordenadora do grupo.

A aliança surgiu de uma iniciativa do Instituto Socioambiental (ISA) e busca elaborar propostas tanto de curto quanto de longo prazo para fazer frente à crise hídrica. No primeiro caso, o objetivo é fazer com que São Paulo chegue a abril de 2015 em condições de enfrentar um novo período de estiagem. Já no longo prazo, a meta é estabelecer um novo modelo sustentável de gestão dos recursos do estado. Até agora, a coalizão já apresentou 196 propostas de emergência e 191 de longo prazo.

Além de tentar influenciar as políticas públicas, a Aliança Pela Água também busca divulgar boas práticas. Até agora a coalizão já apresentou 310 indicações de ações que podem ajudar na mitigação da atual crise e garantir que ela não se repita. Algumas dessas iniciativas, já aplicadas na prática, são divulgadas no site da Aliança Pela Água. É o caso, por exemplo, do Movimento Cisterna Já, que busca incentivar o reaproveitamento da água de chuva em residências. O site está aberto para receber novos projetos da sociedade civil.

O objetivo principal da Aliança Pela Água, no entanto, é mesmo fazer um trabalho de advocacy. “No ano passado, houve muito ruído na comunicação com o poder público, tinha uma falta de transparência na Sabesp e aconteceu, por causa das eleições, uma negação de que havia uma crise hídrica”, ressalta Marussia.

Se o passado foi problemático, a coordenadora diz estar otimista sobre as conversas futuras entre poder público e as organizações da sociedade civil. “O diálogo tende a melhorar com a chegada do Benedito Braga, novo secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do estado”.

O otimismo de Marussia se baseia em conquistas concretas. Já em 2014, a Aliança Pela Água conseguiu aprovar no Conselho da Cidade, espaço criado pela prefeitura de São Paulo para dialogar com a sociedade civil, uma carta com diversas recomendações para lidar com a crise hídrica. “O documento trata de ações emergenciais que podem ser tomadas no âmbito das políticas municipais, e foi bem recebido pela prefeitura”, comemora a coordenadora da Aliança Pela Água.

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Organização da área da saúde cria negócio social para diversificar fonte de recursos

Aparentemente, negócios sociais e organizações da sociedade civil (OSCs) sem fins lucrativos estão em lados diferentes. Os primeiros buscam retorno econômico ao fazer ações que beneficiam grupos vulneráveis, as segundas não buscam lucro. Uma iniciativa na área de saúde, no entanto, está derrubando as fronteiras entre os dois campos.

O texto “Foundation-owned social enterprises: a new way forward?”  para o site da Stanford Social Innovation Review descreve a experiência da Gradian Health Systems, negócio social na área de saúde cujos ganhos são revertidos para uma OSC que forma profissionais de saúde na região rural do Nepal, o Nick Simon Institute. “A empresa na qual trabalho se beneficia de um investimento muito promissor: pertence totalmente a uma fundação familiar”, diz o autor do texto, Mike Miesen, analista da Gradian.

A organização vende um equipamento de anestesia de fácil manutenção para áreas com poucos recursos, que funciona até mesmo com fornecimento intermitente de eletricidade. “Em vez de doar a máquina para hospitais, nós vendemos o equipamento a preço de custo, permitindo que mantenhamos o valor mais baixo possível, que escalemos sua produção para atender demandas de mercado e que conservemos recursos filantrópicos para o treinamento de pessoal e a manutenção da máquina”, descreve Miesen.

Entre as vantagens citadas pelo autor para uma fundação criar um negócio social está o fato de que “o investimento reduz, ou elimina, a necessidade de gastar tempo e recursos na captação e nos relatórios financeiros, o que ajuda o empreendimento social a focar na operação”.

Além disso, avalia, “manter um negócios social permite à fundação fazer mudanças efetivas usando mecanismos de mercado para vender um bem ou serviço, enquanto usa os recursos filantrópicos para combater falhas de mercado e avançar uma causa”.

O autor pondera que, se o negócio social for muito rentável, o ideal é que os fundos sejam investidos em atividades de maior risco e menor retorno, já que o empreendimento pode buscar recursos em fontes mais tradicionais, como no mercado de private equity. Miesen considera que há uma chance de diminuir “as lacunas existentes entre os empreendimentos sociais típicos e as organizações sem fins lucrativos tradicionais”.

O analista conclui dizendo que o modelo funcionará melhor com negócios sociais que usam o mercado sem esperar grandes retornos financeiros, ao mesmo tempo em que também depende de organizações da sociedade civil que estejam buscando maneiras eficientes de atingir suas metas. Ou seja, a prática funciona bem em um ambiente no qual se procura diversificar a fonte de recursos das OSCs. Como o Brasil.

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Foto: Site Nick Simmons Institute

Empresa de gestão patrimonial alia negócios e investimento social com programa de educação financeira

A Victoire é uma empresa que atua com gestão patrimonial. Da vontade de alguns sócios de fazer investimento social privado, surgiu a ideia de desenvolver um programa que tivesse relação com o negócio: oferecer educação financeira para jovens de comunidades socialmente vulneráveis. Na hora de transformar o plano em realidade, foi preciso muito planejamento e trabalho para a criação de um projeto estratégico e transformador.

“Vários de nós já atuavam individualmente em projetos sociais paralelos, mas sem ligação uns com os outros, e buscávamos uma atuação mais integrada e transformadora”, diz o sócio fundador da Victoire, Paulo Del Priore, que ainda acrescenta: “Queríamos fazer algo além de só gerar lucros para nossos clientes, mas não desejávamos apenas assinar um cheque e, sim, participar ativamente”.

Logo, os sócios da Victoire sentiram a necessidade de buscar ajuda para transformar suas aspirações em ações concretas. “Surgiu a ideia de trazer alguém que conhecesse o terceiro setor para nos orientar, ajudar a entender os desafios, explicar que tipo de impacto social podemos ter, que temas poderíamos abordar”, continua Del Priore. Foi então que entraram em contato com o IDIS, para ajudá-los a fazer uma “reflexão estratégica”.

“Começamos com algumas perguntas essenciais para eles: ‘que transformação queriam fazer? Como?’ Além disso, fizemos muita pesquisa, entrevistas e reuniões com as pessoas da Victoire”, recorda a gerente de projetos do IDIS, Raquel Coimbra.

A ideia de um investimento social alinhado com o negócio da empresa apareceu naturalmente. “Desejávamos trabalhar com educação, mas já havia muita coisa na área, não seríamos relevantes”, diz Del Priore.

Raquel acrescenta: “os sócios são experts na gestão de patrimônio, fez sentido total sentido para eles trabalhar com a educação financeira para jovens com menos oportunidades, para ajudá-los a consumir de forma ponderada e a planejar suas as finanças para projetos de médio e longo prazo”.

Na busca de um parceiro para implementar o projeto, o IDIS chegou ao CEPAC, organização da sociedade civil que atua no Parque Imperial, no município de Barueri (SP), área de grande vulnerabilidade social. “A instituição já faz programas de profissionalização com jovens da região, e estamos desenvolvendo com eles um projeto piloto”, diz Luciana André, da área de projetos sociais do IDIS.

O trabalho está focado em participantes do Programa Jovem Aprendiz, que oferece oportunidades de primeiro emprego para adolescentes. “No caso do público do CEPAC, aqueles que participam do programa são os que geralmente têm a maior renda da família e, por isso, educação financeira é fundamental para eles”, afirma Luciana.

No piloto, os professores do CEPAC passaram por uma imersão e capacitação para a condução de aulas de educação financeira. Depois, 101 alunos tiveram três horas de aula por semana sobre o tema, durante um mês. No momento, está sendo realizada uma avaliação da primeira experiência. “Vamos ver qual foi o impacto e melhorar alguns pontos para o próximo ano”, diz Raquel.

Animado, Del Priore já sonha com o futuro próspero do projeto: “Queremos que ele tenha vida própria e que possa ser sustentável, atraindo outras pessoas do setor econômico no qual trabalhamos”.

O sócio da Victoire finaliza com uma ressalva a um dos mitos sobre a dificuldade de relacionamento entre os setores privado e social: a diferença nos tempos de cada um. “Assim como o terceiro setor, nós também trabalhamos com um horizonte de investimentos de longo prazo, estamos acostumados com um tempo de trabalho mais estendido, menos imediato”.

 

ONU ressalta importância do ISP para metas de desenvolvimento

O prazo para as nações cumprirem os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) está acabando! Os ODM são uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir, envolvendo áreas como renda, educação, saúde e meio ambiente. Dois mil e quinze era o prazo limite e, ainda que tenha havido melhorias sensíveis em vários temas, resta muito por fazer. E, na negociação da agenda pós-2015, um importante ator emerge: o investimento social privado.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) aponta que o investimento social privado (ISP) pode contribuir de modo decisivo para o progresso global nos próximos anos. Segundo o estudo Philantropy as an emerging contributor to development cooperation, “a filantropia traz um novo grupo de atores, práticas e tipos de financiamento benéficos e complementares” à ajuda internacional.

O texto faz uma série de recomendações para que investidores sociais privados atuem em cooperação com governos e organismos multilaterais, que compõem a comunidade oficial de assistência. O foco recai sobretudo em países emergentes que tiveram avanços socioeconômicos nos últimos anos, como Brasil, China e Índia.

O capital privado aplicado em áreas sociais tem qualidades relevantes, avalia o documento: apoia a inovação e fornece capital “paciente” para desafios de longo prazo que “precisem de esforços que vão além dos humores políticos e dos interesses de curto prazo das empresas”. Governos e ONU precisam maximizar tais características do ISP.

O próprio investidor se beneficia da cooperação. “As instituições filantrópicas precisam entender que seus próprios objetivos de ter mais escala, atingir resultados mais profundos e conseguir sustentabilidade financeira podem ganhar na colaboração com a comunidade oficial de assistência para o desenvolvimento”.

O estudo sublinha que o terceiro setor já tem contribuído sensivelmente para o avanço nos Objetivos do Milênio. Apenas nos Estados Unidos, segundo a Foundation Center, as entidades doaram em 2011 mais de U$ 4 bilhões para as metas – com destaque para o combate a Aids, malaria e outras doenças, que recebeu em torno de U$ 1,5 bilhão.

“Uma das grandes preocupações no campo do desenvolvimento internacional é sobre como a agenda pós-2015 será financiada”, observa o relatório, lembrando que os fluxos de recursos da comunidade oficial de assistência para os países emergentes têm diminuído nos últimos anos. Em contraposição, aumentou o volume de recursos privados, entre eles os relacionados ao investimento social privado internacional.

O texto aponta a britânica Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo IDIS, como exemplo de internacionalização do ISP. “A CAF aconselha e distribui recursos ao redor do mundo, com escritórios em nove países”, diz o relatório, que acrescenta: “Tais iniciativas mostram que há uma expansão constante no envolvimento de fundações com o desenvolvimento mundial”.

Ao abordar o Brasil, o estudo cita Gife, IDIS e Ethos como casos de consolidação do setor no país. “Essas instituições têm trabalhado há mais de 15 anos para apoiar e inspirar corporações, famílias e comunidades a fazerem investimentos sociais que criem uma nação inclusiva.”

O estudo apresenta evidências de que a filantropia tem se expandido no país: “O número de membros do Gife vem crescendo, e cada vez mais fundações e doadores têm procurado o IDIS em busca de conselhos”. No entanto, o montante de ISP brasileiro ainda é limitado: “Alguns especialistas dizem que o tamanho e a escala dos problemas internos diminuem o interesse em doações internacionais”.

Entre as sugestões para ampliar a participação internacional do setor filantrópico está um maior reconhecimento dos atores privados por parte dos organismos multilaterais, que devem abrir mais espaços de participação. Já os governos têm de trabalhar para criar um ambiente propício para a filantropia tanto interna quanto internacional. As instituições sociais privadas têm de adaptar sua governança para atuar em parceria com a comunidade oficial de assistência.

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Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil

Investimentos sociais de empresas caem pela primeira vez em sete anos, aponta pesquisa

Os resultados prévios de uma das mais importantes pesquisas brasileiras sobre investimento social privado, o Benchmark do Investimento Social Corporativo (Bisc), mostram que o valor destinado pelas empresas a projetos nessas áreas caiu pela primeira vez desde que o estudo começou a ser feito, há sete anos. Em 2013, o montante somou R$ 2 bilhões, 25% a menos que em 2012 (R$ 2,7 bilhões).

O levantamento anual é feito pela Comunitas (www.bisc.org.br/); no ano passado, participaram 336 organizações. Os dados prévios foram apresentados em 12 de dezembro. Os números consolidados serão publicados no começo de janeiro.

 

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“A redução dos investimentos sociais não foi homogênea nem generalizada entre os participantes. Ela pôde ser observada especialmente entre as empresas do setor industrial, que foram as mais afetadas pela situação econômica”, diz o relatório. O número de corporações que elevaram os aportes até subiu, mas não o suficiente para compensar a queda entre alguns grandes players.

O recuo não foi surpreendente: o Bisc do ano anterior já havia apontado que as companhias previam diminuir a injeção de recursos. Nesse sentido, o indicador de 2014 deve ser melhor. Na resposta que deram em 2013, segundo o relatório, o grupo estava “otimista” e a maioria (68%) projetava investir mais

Mesmo os dados referentes a 2013 dão espaço para algum ânimo. Além de 55% das firmas pesquisadas terem elevado seus aportes, a proporção média de investimento em relação aos lucros brutos atingiu recorde na série: 1,43%.

Como ocorre desde 2009, as empresas brasileiras destinaram uma porcentagem maior de seus lucros do que as norte-americanas. No levantamento do Committee Encouraging Corporate Philanthropy (CECP), a porcentagem foi de 1,01% em 2013.

A maioria dos recursos foi destinada à educação. Cerca de R$ 746 milhões (40% do total) foram para essa área, mais do que no ano anterior. O segundo lugar ficou com a categoria outros (22%), seguido de esportes e lazer (11%). Já meio ambiente nas comunidades (2%), defesa de direitos (1%) e geração de renda (1%) foram os menos mencionados.

Se o volume de recursos caiu, aumentou o número de voluntários entre as companhias que responderam à pesquisa. Em 2012, eles eram 55.240; em 2013, foram 59.475. A participação de funcionários em programas de voluntariado corporativo subiu de 8% para 11%.

A má notícia é que houve uma queda de 30% na verba para esse tipo de ação. Mas, como aponta o relatório, “o otimismo com o voluntariado continua elevado: 79% das empresas pretendem ampliar seus programas e a maioria considera que eles são bem ou muito bem sucedidos”.

 

 

Rules to Give By mapeia países com leis de incentivo

A proporção de pessoas que fazem contribuições financeiras a organizações sociais é significativamente maior em países que oferecem incentivos fiscais para doação. Isso é o que relata um estudo pioneiro realizado pela Charities Aid Foundation (CAF); McDermott Will & Emery LLP e  Nexus, juntamente com o apoio do NFP (National Financial Partners Corp).

O “Rules to Give By”, primeiro índice internacional do mundo sobre o apoio de governos a doações para organizações sociais, constatou que o percentual de pessoas que doam dinheiro para organizações sociais é de 12% a mais em nações que oferecem incentivos fiscais para pessoas físicas (33%) do que naquelas que não oferecem (21%).

O estudo comparou os incentivos fiscais e outros aspectos legislativos à probabilidade das pessoas doarem, conforme medido pelo World Giving Index, o índice internacional de solidariedade. Na comparação, constatou-se que a influência dos incentivos fiscais na doação não depende do nível de desenvolvimento econômico de um país. Por outro lado, os países que oferecem incentivos fiscais para pessoas físicas são os que mais possuem pessoas que fazem doações em dinheiro para organizações sociais, de acordo com o World Giving Index.

No entanto, existe uma disparidade entre o apoio para doações corporativas e suporte para doações de pessoas físicas. Ao todo, 77% dos países oferecem alguma forma de incentivo fiscal a empresas doadoras, mas apenas 66% oferecem incentivos aos doadores individuais.

Exceção nessa comparação, mesmo com uma colocação ruim no World Giving Index, o Brasil possui nota de 10 (em 11 pontos possíveis) no relatório Rules do Give By, o que mostra que a existência da lei por si só não é suficiente. Para a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, essa disparidade mostra que, apesar de possuir leis de incentivo, o país precisa rever a forma como estão sendo concedidos esses incentivos, diminuir a burocracia e buscar formas para que as isenções tributárias para doações sejam utilizadas amplamente.

Uma das alternativas que temos trabalhado para melhorar a situação é a aprovação do projeto de lei 4643/2012, hoje em tramitação no Congresso, que trata da criação dos Fundos Patrimoniais Vinculados e inclui incentivos fiscais mais amplos, promovendo inclusive a doação-pessoa física”, comenta a presidente do IDIS (que é o representante da CAF no Brasil).

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Para ver o relatório completo (em inglês), clique aqui.

Como doar seu imposto de renda para organizações da sociedade civil

Quem paga Imposto de Renda (IR) está mandando recursos para o governo sem ter certeza de como eles serão gastos. Como os gestores públicos costumam dizer, o dinheiro não é carimbado – não há como saber se a sua parte do tributo foi usada para pagar construir escola, pagar servidores ou fazer uma obra com a qual você não concorda (para não falar de fins menos nobres). E se você pudesse decidir o que fazer com parcela do que paga? Isso é possível. Os contribuintes podem direcionar até 8% do IR para organizações da sociedade civil. Veja abaixo como proceder

Quem pode doar:

  • Só podem fazer doações do IR as pessoas que optarem pelo modelo completo de declaração.
  • A base para calcular quanto se pode direcionar para os fundos é o imposto devido, não o imposto a pagar. O primeiro é o valor total – não inclui, por exemplo, deduções e recursos retidos na fonte. Ou seja, o imposto devido é maior do que o a pagar.

O limite total de doação do IR para pessoas físicas é de 8%, dividido dessa forma:

  • Até 6% são para Fundos da Infância e Adolescência, Fundos do Idoso coordenados pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal, bem como projetos aprovados pelos Ministérios da Cultura e do Esporte;
  • Até 1% para projetos do Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência (Pronas);
  • Até 1% para o Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon). Esse projeto se refere a pessoas com câncer.

O site da Receita Federal tem um simulador que permite saber até quanto o contribuinte poderá doar para respeitar o limite imposto pela Receita.

Prazo para fazer a doação:

  • É possível realizar doações dedutíveis até 31 de dezembro do ano corrente;
  • A exceção são os fundos da Criança e Adolescente que permitem doações até 30 de abril do ano seguinte. Porém, se fizer a destinação entre janeiro e abril de 2015, o contribuinte só poderá utilizar até 3% do imposto devido diretamente na declaração (mas sempre respeitando o limite de 6% no total para esse tipo de fundo) 

Passo a passo das principais leis de incentivo:

LEI ROUANET/FUMCAD/ LEI DO ESPORTE/ PRONAS/PRONON

 LEI ROUANET

  • Podem investir em projetos culturais aprovados pelo MinC (Ministério da Cultura) na Lei Rouanet, pessoas físicas contribuintes do Imposto de Renda, deduzindo até 6% do IR devido.
  • O investidor deve depositar o valor desejado para o patrocínio na conta bancária do projeto (aberta e supervisionada pelo MinC) até o último dia útil do ano corrente. Após o depósito, a entidade ou pessoa que propôs o projeto irá emitir um recibo e enviar ao patrocinador, sendo que este servirá como comprovante para que a renúncia fiscal se efetue. Guarde o recibo que você irá receber para apresentá-lo na sua
próxima declaração de Imposto de Renda.
  • O ressarcimento do patrocínio feito virá no ano seguinte, na forma de restituição ou abatendo do valor do IR a pagar.

FUNDO MUNICIPAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DE SÃO PAULO (FUMCAD)

  • Entrar no site http://fumcad.prefeitura.sp.gov.br/
  • Escolher o projeto e fazer a doação.
  • Na Declaração de Ajuste Anual, no anexo de pagamentos e doações efetuadas, deve ser utilizado o código correspondente às doações. Lembre-se de que, para o benefício fiscal, a destinação de recursos tem que ser feita na conta do FUMCAD e nunca na conta da entidade. E, na informação à Receita Federal, devem constar o Fundo da Criança e do Adolescente, com o respectivo CNJJ, e o valor destinado.

LEI DO ESPORTE

  • Para investir em um projeto, o primeiro passo é identificar as iniciativas esportivas das quais deseja incentivar. A lista dos projetos já aprovados pelo Ministério do Esporte e aptos a receber sua doação está publicada no Diário Oficial da União e pode ser consultada no site do Ministério dos Esportes, procurando em “como doar lei do esporte”
  • Escolhido o projeto, o passo seguinte é efetivar a doação. Você poderá investir até 6% do imposto devido diretamente na conta bloqueada do proponente, que emitirá um recibo do valor depositado.
  • Pronto! O Ministério do Esporte encaminha o recibo à Receita Federal, que abate o valor repassado do seu Imposto de Renda. Todos os projetos aprovados são avaliados e monitorados pelo Ministério do Esporte. É a garantia de que você está incentivando uma iniciativa esportiva de confiança.

PRONAS/PRONON

  • A pessoa física ou jurídica que quiser contribuir com os projetos, pode consultar a relação no site do Ministério da Saúde
  • Sugestão é em seguida entrar em contato com a entidade que será beneficiada
  • O depósito deverá ser feito diretamente no banco
  • Porém, para comprovar a doação é necessário pegar o recibo com a organização beneficiada.

Segunda edição do #diadedoar mobiliza mais de 400 OSCs e surpreende organizadores

A segunda edição do #diadedoar, movimento que busca fortalecer a cultura de doação no Brasil, mobilizou ao menos 400 organizações da sociedade civil, que adotaram o logotipo da causa e prepararam ações especiais em torno da campanha. A #diadedoar foi usada em 3 mil posts no Twitter, incluindo textos de esportistas e artistas famosos.

“Foi um sucesso muito maior do que o esperado”, diz Joana Mortari, diretora da Associação Acorde e um dos membros da rede Movimento por uma Cultura de Doação, articuladora do projeto. O apoio pode ter sido ainda maior, pois muitas entidades divulgaram a ideia sem pedir o símbolo da iniciativa. “Um monte de gente aderiu mesmo sem estar não cadastrada”, afirma Marcelo Estraviz, presidente do Instituto Doar e também participante da rede.

Estraviz também destaca “a impressionante bola de neve que são as redes sociais” na divulgação. No dia propriamente dito, 2 de dezembro, a hashtag oficial (#diadedoar) esteve no Twitter de personalidades como o jogador Paulo Henrique Ganso, o jornalista Rodrigo Boccardi e o apresentador Luciano Huck (um dos brasileiros com maior número de seguidores nessa rede social). O impulso das celebridades foi fundamental para que as 3 mil menções chegassem a cerca de 19 milhões de pessoas (soma de todos os seguidores dos perfis que citaram a hashtag).

Joana destaca também o espaço que a mídia deu para a campanha. “A Editora Abril noticiou ativamente a mobilização, com reportagens nos sites Planeta Sustentável e Superinteressante, e também nos cedeu uma página na revista Veja para divulgarmos o #diadedoar”, afirma.

O IDIS também se engajou no movimento e se juntou ao escritório Demarest Advogados para apresentar o #diadedoar a seus parceiros e convidá-los a participarem da mobilização e a criarem campanhas.

Para isso, o IDIS e o Demarest Advogados criaram um material de divulgação, explicando o que é o #diadedoar e dando dicas de como organizar ações para o movimento. O escritório de advocacia também acrescentou ao material uma lista de entidades da sociedade civil que ajuda, para dar sugestões aos parceiros de projetos a serem apoiados.

Já no próprio 2 de dezembro, o IDIS foi para as ruas distribuir 5 mil fitinhas e folhetos feitos para divulgar o #diadedoar. As fotos desse dia você pode ver aqui.

 

Atuação global

Pela primeira vez, o #diadedoar foi feito no mesmo dia e como parte do #GivingTuesday, uma mobilização global que ocorre em cerca de 20 países. A ação começou nos Estados Unidos, há três anos, em reação à queda nas doações por causa da crise econômica de 2008.

A ideia foi criar uma ação em torno da solidariedade numa data estrategicamente escolhida: sempre na terça-feira seguinte a um dos eventos nos quais os norte-americanos mais consomem: a Black Friday, quando centenas de lojas fazem grandes ofertas para abrir espaço no estoque para os produtos de Natal.

A ponte com o projeto internacional foi feita pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR). “Nós preenchemos um formulário dizendo que queríamos participar, mas, na verdade, não há uma centralização no #GivingTuesday. Fora a identidade visual parecida que todos devem adotar, cada organização tem liberdade para criar suas iniciativas”, diz o presidente da ABCR, João Paulo Vergueiro, também gerente de projetos do IDIS.

Para se ter uma ideia da importância que o #GivingTuesday alcançou em 2014, a campanha foi citada tanto pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quanto pelo primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron. “Aqui no Brasil, tentamos a Dilma Rousseff, mas não foi possível”, lamenta Vergueiro.

Mal colheram os resultados de 2014, os organizadores do #diadedoar já estão começando a se preparar para o próximo ano. Como afirma Estraviz, é preciso ter mais tempo para planejar e mobilizar instituições e pessoas.

“Precisamos avançar na divulgação com empresas, pois, fora a Abril, não conseguimos muitos contatos por falta de tempo”, afirma ele, já indicando um dos focos de 2015, quando a mobilização ocorrerá em 1º de dezembro.

Se você se interessou e já quiser planejar para o ano que vem, acesse o guia desenvolvido pelo IDIS e pelo Demarest com o passo a passo e veja as diferentes iniciativas cadastradas no site do #diadedoar.

Burocracia, falta de exemplos e de incentivos travam doações no Brasil, dizem investidores sociais

Quais são os principais desafios do investidor social? O site do IDIS fez essa pergunta a duas personalidades da área: Fernando Stickel, diretor da Fundação Stickel, e Denis Minev, um dos criadores da Fundação Amazonas Sustentável. Entre os pontos mencionados estão burocracia, incentivos legais ainda limitados e falta de doadores que sirvam de exemplo para a sociedade.

“O ambiente é péssimo, faltam incentivos e a burocracia é inacreditável”, reclama Stickel. A questão burocrática é tão grave, diz, que ele chegou a pensar em desistir do trabalho social depois de dois anos à frente da organização, fundada por seus pais em 1954. “O tempo que eu poderia gastar com meu objeto social eu gasto com entraves burocráticos, isso é ridículo”, queixa-se. Ele assumiu a entidade em 2004, e avalia que nada mudou nesse sentido desde então.

Já Denis Minev, que faz investimentos sociais variados no Amazonas, estado em que vive, lembra que existem incentivos para temas como cultura, mas faltam ainda normas para estimular, por exemplo, o trabalho voluntário. “Incentivos fiscais são importantes e certamente ajudam um ambiente filantrópico”, comenta.

Stickel diz que é preciso uma legislação que efetivamente fortaleça o setor social privado. “Tem que implementar várias coisas que são apenas faladas para, assim, mudar o padrão do comportamento”, diz, acrescentando que o projeto de lei para regulamentar os fundos patrimoniais foi um importante passo nessa direção.

Minev ressalta a necessidade de casos que sirvam de modelo para outras pessoas. “A liderança pelo exemplo é, em geral, mais eficiente do que pela fala. Precisamos de exemplos de porte como catalisadores. A inclinação geral para doar é baixa.”. Na mesma linha, Stickel diz que as “instituições sérias que recebem doações e conseguem mostrar seu trabalho acabam servindo de exemplo para incentivar a cultura de doação no Brasil”.

Mas há problemas também no modo de pensar da elite. “Acredita-se que é suficiente pagar impostos, e o governo deve cuidar do resto”, afirma Minev. “Nossas elites não têm bom conhecimento de nossa própria sociedade. A classe A se isolou, a distância entre as classes é grande e impede a formação de empatia social.”

Stickel, porém, vê alguns avanços importantes. “O terceiro setor tem se movimentado mais, há várias iniciativas interessantes de entidades como o Gife e o IDIS, que estão realizando encontros e também têm pressionado o governo para que se façam mudanças que beneficiem o setor”.

Para se manter informado sobre as principais ações do IDIS, curta nos perfis nas redes sociais:

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Modelo canaliza recursos de privatizações e concessões públicas para OSCs

Processos de privatização ou de concessão de serviços públicos costumam envolver bilhões de dólares. Imagine se uma parte desses recursos fosse destinada a fundos que financiem organizações da sociedade civil (OSCs). É isso o que propõe o professor Lester Salamon, diretor do Center for Civil Society Studies da John Hopkins University.

Ele falou sobre o assunto durante a mesa de encerramento do 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, que ocorreu em 6 de novembro, em São Paulo, com organização do IDIS e do Global Philanthropy Forum (GPF).

“Há um esforço mundial para criar fundações comunitárias, mas isso é prejudicado pela falta de capital”, disse Salamon, para então começar a expor o funcionamento daquilo que chama de “filantropização por meio da privatização” (Philanthropication Through Privatization).

“Em alguns países, havia muito capital em empresas estatais que viviam do dinheiro dos cidadãos quando foram privatizadas”, observou o professor, autor de um detalhado estudo sobre diversos casos em que a privatização foi acompanhada da criação de fundações.

Um dos exemplos mais conhecidos é o da Volkswagen. Quando a montadora alemã foi privatizada, na década de 1960, criou-se a Fundação Volkswagen com parte dos recursos da venda empresa. “Encontramos 539 casos pelo mundo, que mobilizaram um total de US$ 135 bilhões em bens para o setor social privado”, disse Salamon.

Mas a ideia já não seria um tanto datada, uma vez que as ondas de privatização atingiram seu pico nos anos 90? O professor contesta esse dado. “O ano de 2012 foi o terceiro da história em privatizações, e há planos massivos de privatizar bens públicos”.

O Brasil, por sinal, tem muito a se beneficiar com a estratégia. Paula Fabiani, diretora presidente do IDIS e moderadora da mesa, lembrou que “em 2013, o governo anunciou que espera obter U$ 600 bilhões com concessões nos próximos 10 anos; se pensarmos em destinar 1% disso a fundações, estamos falando de U$ 6 bilhões, o que resolve o problema da sustentabilidade do setor”.

O economista José Guimarães Monforte, por sua vez, lembrou que participou de privatizações brasileiras na década de 1990, mas que, naquele momento, não foi possível destinar parte dos recursos para fundações com finalidade públicas. “O processo foi feito por necessidades de caixa do estado”.

Monforte ponderou, ainda, que Brasil oscila entre momentos de maior preponderância do mercado ou do intervencionismo estatal e que, no momento, estamos nesse último ponto de grande presença do Estado.

Falando de um intenso processo que acontece no momento, a advogada portuguesa Cristina Paula Baptista abordou o caso de seu país: “As privatizações estão aumentando a concentração de recursos, já que as empresas estão sendo compradas por grandes grupos privados”. Ela afirmou que seria importante “conseguir canalizar parte dos recursos para instituições, de modo que o rendimento do capital possa financiar o desenvolvimento social”.

Cristina ressaltou, ainda, que o “PtP é um conceito revolucionário, pois coloca para a sociedade civil um instrumento de acumulação de capital financeiro para desenvolver capital social”.

O mexicano Jorge Villalobos, presidente executivo do Centro Mexicano para a Filantropia, também disse que tal instrumento pode ter grande impacto nos países latino-americanos. “Os Estados Unidos têm a cultura de retornar os lucros privados à sociedade, o que criou um poderoso sistema de fundações, enquanto na América Latina dá pra contar nos dedos tais casos”, disse Villalobos.

Salamon lembrou ainda que algumas das fundações surgidas no modelo PtP “estão entre as mais transparentes do mundo, devem respostas ao público porque surgiram com recursos públicos, e, por isso, servem de modelo para todos”. Segundo ele, várias dessas fundações foram constituídas pelo modelo de endowments (ou fundos patrimoniais), o que dá mais segurança para o investidor e uma maior certeza na boa utilização dos recursos. A necessidade de uma legislação específica para os endowments, suja tramitação corre no Congresso, é uma das bandeiras do IDIS. Saiba mais aqui.