Fábricas de Cultura Abrem Espaço para Parcerias Entre Setores Público e Privado

O modelo de gestão das Fábricas de Cultura – projeto de difusão e educação cultural voltado a localidades com alto índice de vulnerabilidade juvenil – realizado por uma parceria de organizações sociais (OSs – entidades privadas sem fins lucrativos), de acordo com contratos de gestão firmados com o poder público, tem se mostrado exitoso. Na avaliação da Secretaria de Cultura, responsável por construir as instalações e fiscalizar o trabalho das OSs, a parceria confere mais agilidade administrativa à gestão da cultura, o que significa mais qualidade no serviço prestado à população.

O modelo de gestão das Fábricas de Cultura – projeto de difusão e educação cultural voltado a localidades com alto índice de vulnerabilidade juvenil – realizado por uma parceria de organizações sociais (OSs – entidades privadas sem fins lucrativos), de acordo com contratos de gestão firmados com o poder público, tem se mostrado exitoso. Na avaliação da Secretaria de Cultura, responsável por construir as instalações e fiscalizar o trabalho das OSs, a parceria confere mais agilidade administrativa à gestão da cultura, o que significa mais qualidade no serviço prestado à população.

“Este modelo reflete uma visão realista de que se encontram na sociedade civil entidades competentes para administrar serviços públicos”, afirma Clóvis Carvalho, diretor-executivo da Poiesis, organização social que gere quatro fábricas: Vila Nova Cachoeirinha, Jardim São Luís, Capão Redondo e Jaçanã. “Temos um núcleo, que coordena o projeto artístico e pedagógico, e mantemos a equipe de educadores que dão diversos ateliês”, diz Carvalho. As outras quatro unidades paulistanas são tocadas pela organização Catavento Cultural. Cada uma delas atende em média cerca de 700 ‘aprendizes’ – termo usado para designar os beneficiários, de idades entre 8 e 21 anos (http://www.seade.gov.br/produtos/ivj/).

Uma das possibilidades abertas por essa flexibilidade de gestão é a busca de parceiros no setor privado que possam trazer novas experiências para as fábricas. Foi assim que, no final de 2012, a Poiesis firmou um contrato inédito com a Fundação Stickel – instituição voltada a projetos de arte e acesso à cultura. Pelo acordo, a fundação utiliza o espaço da Fábrica de Cultura da Vila Nova Cachoeirinha para desenvolver o projeto “Aproximação com a Arte”, curso anual gratuito para professores e educadores ampliarem seus conhecimentos sobre arte.

Fernando Stickel, diretor-executivo da fundação, explica que, nesse caso, a Poiesis entra com o espaço físico – construído pelo governo estadual –, a estrutura de divulgação e a seleção dos alunos, enquanto a fundação oferece o curso aos educadores. “Organizações como a Fundação Stickel têm, para algumas coisas, um know how que o poder público e as OSs não têm”, afirma Stickel.

Ele ressalta, no entanto, a importância de a aproximação entre a fundação e a unidade cultural ter se dado com intermédio de uma organização social. “Se não fosse administrada por uma OS, talvez o contato com a fábrica não desse certo”, completa Stickel, ressaltando as vantagens da flexibilidade administrativa das organizações sociais.

Aproveitando a abertura de espaço para parcerias, a Fundação Stickel está estruturando melhor o “Aproximação com a Arte” para estender o projeto a outras fábricas. Ao mesmo tempo, tem outro projeto engatilhado para a Vila Nova Cachoeirinha: o “Contrapartida”. A ideia é apoiar artistas com exposições, material e divulgação – que, em contrapartida, darão oficinas para os membros da comunidade local.

No sistema de organizações sociais, as parcerias com outras entidades privadas são importantes não só pelas experiências que estas aportam, mas também pelo investimento que significam. “A Poiesis tem um orçamento de cerca de R$ 7 milhões por ano para gerir cada fábrica”, diz Carvalho. “Tem também o compromisso de captar cerca de 7% desse valor, e as parcerias acabam entrando como investimento”, acrescenta. “Nosso projeto acaba entrando como captação de recursos do Poiesis”, afirma Stickel. Assim, é vantajoso para as OSs buscarem parcerias com outros projetos privados, pois eles complementam os valores que as organizações têm de aportar segundo os contratos com o poder público.

Parcerias devem ser expandidas

O sistema de organizações sociais foi criado em 1998, pela lei 9.637, que permitiu ao poder público entregar a administração de determinados serviços a entidades privadas. Quando foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, Clóvis Carvalho era ministro-chefe da Casa Civil e estava na linha de frente do governo pela aprovação da norma.

Ainda que o tema desperte polêmicas – o hoje prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), por exemplo, prometeu em campanha rever os contratos entre a prefeitura e as organizações sociais na área da saúde –, Carvalho defende que a administração pelas entidades é bem mais flexível. Elas podem, por exemplo, contratar pessoal sem a mesma burocracia do setor público. Além disso, os contratos firmados entre Estado e entidades são, segundo ele, detalhados e demandam um grau de transparência que, por vezes, nem o setor público tem. “Nós precisamos preencher uma quantidade enorme de relatórios”, completa ele.

O governo de São Paulo deve ampliar as Fábricas de Cultura. Hoje, a iniciativa é restrita à capital, onde estreou em dezembro de 2010. Desde então, foram construídas mais sete, e o objetivo é chegar a dez. Mas a Secretaria Estadual de Cultura planeja expandir a ideia para a região metropolitana de São Paulo – o próprio secretário, Marcelo Mattos Araújo, chegou a fazer uma reunião com o prefeito de Diadema sobre isso. E, com mais unidades, aparecem também mais possibilidades de parcerias entre os setores público e privado.

 

 

Brasil é um Dos Países Com Menos Apoio Governmental Para Organizações da Sociedade Civil, Diz Abong

Os escândalos dos repasses de recursos públicos para algumas organizações da sociedade civil (OSCs) levaram a uma tendência de criminalização de todo o setor. Trouxeram, ainda, a ideia de que muito dinheiro público estava indo para entidades sociais privadas. A realidade, no entanto, é outra, segundo a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong).

“Ao contrário do que se pensa, o Brasil é um dos países em que OSCs menos têm apoio governamental”, afirmou a diretora-executiva da entidade, Vera Masagão, durante a palestra “As parcerias entre Estado e organizações da sociedade civil e o marco regulatório”. O debate foi organizado pela Secretaria-Geral da Presidência da República durante a ONG Brasil, feira que aconteceu em São Paulo entre 28 e 30 de novembro. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, cujos resultados preliminares foram apresentados durante o evento, embasa a queixa da diretora da Abong. Entre 2008 e 2011, apenas 1% das entidades nacionais firmaram parcerias com governo. Além disso, cerca de metade dos convênios envolveram valores menores que R$ 200 mil.

Já pequeno, o apoio minguou após a eclosão dos escândalos. “O governo para o financiamento a todo o setor quando há um problema isolado”, reclamou Vera, observando que isso não acontece, por exemplo, quando se verificam desvios envolvendo empresas privadas. “É fundamental que entidades que atuem no interesse público recebam apoio do governo, algo que acontece em muitos lugares.”

O governo federal busca aprimorar sua relação com o terceiro setor, disse a assessora especial da Secretaria-Geral Lais de Figueiredo Lopes, na mesma palestra. “Nós desenvolvemos uma agenda com três eixos de trabalho interministerial: contratualização, sustentabilidade e certificação.” A presidente Dilma Rousseff, lembrou Lais, comprometeu-se com as demandas das OSCs, que estão sendo tocadas pelo ministro-chefe da Pasta, Gilberto de Carvalho.

Vera Masagão, no entanto, relativizou o comprometimento do governo federal: “Não há um compromisso orgânico. Precisamos de política de governo, não apenas de ações de alguns setores do governo”. Para a diretora da Abong, o poder público federal emite sinais divergentes ao, por um lado, discutir um marco legal para o setor e, por outro, paralisar convênios com as OSCs.

Legislação

O marco legal é peça importante dessa busca por uma relação melhor entre governo e terceiro setor. “A situação atual é de insegurança jurídica, com ausência de uma lei específica para a relação entre governo e OSCs e interpretações distintas das normas existentes por parte dos órgãos de controle”, descreveu Lais. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apresentada pelo pesquisador Félix Lopez, reforçou a ideia de que parte do problema está em quem controla os convênios entre poder estatal e OSCs. A pesquisa foi feita com gestores públicos, que admitiram que a burocracia de controle é muito formalista e emite interpretações divergentes sobre as normas. “O controle anula as potencialidades da sociedade civil, e a prestação de contas é o maior gargalo”, disse Lopes.

Até por isso, uma das propostas do projeto de lei para um novo marco regulatório é facilitar a prestação de contas. “Propomos um modelo mais simples para valores abaixo de R$ 600 mil, no qual se encaixa a grande maioria dos convênios”, afirmou Lais.

 

 

Investimento que Alia Preocupação Social e Lucro Ganha Espaço No Brasil

Tradicionalmente, investir implica ter como objetivo primordial fazer o dinheiro render mais dinheiro. Nos últimos anos, porém, vem ganhando espaço no Brasil um conceito já bastante desenvolvido em países como o Reino Unido. Trata-se do investimento de impacto social, um tipo de injeção de recursos que visa promover mudanças na sociedade e gerar retorno financeiro ao mesmo tempo.

Aliando características do segundo e do terceiro setor, o investimento de impacto social já conta com vários adeptos no País. São dez fundos nacionais e internacionais que atuam no Brasil e apostam nesse conceito. “Juntos eles somam R$ 500 milhões, disponíveis para investimento direto em empresas que oferecem produtos e serviços para melhorar a vida da população brasileira”, afirma Daniel Izzo, diretor-executivo e cofundador da Vox Capital, fundo pioneiro no investimento de impacto social no Brasil.

De acordo com ele, apesar de este valor ainda ser pequeno quando comparado com mercados onde o conceito já é mais difundido, as taxas de crescimento no Brasil impressionam. Em 2009, o investimento de impacto social movimentava cerca de R$ 5 milhões no País e hoje esse valor é de R$ 500 milhões – um crescimento de 10.000% em menos de cinco anos. “O momento agora é de desenvolver modelos e empresas de sucesso e de grande escala para começar a provar que é possível unir as duas dimensões (retorno financeiro e impacto social)”, diz Izzo.

Por se tratar de uma iniciativa em fase de amadurecimento, o investimento de impacto social ainda esbarra em alguns obstáculos no País, afirma o diretor da Vox Capital. Segundo ele, o investidor brasileiro tem uma tendência a buscar sempre o maior retorno financeiro possível de suas aplicações, o que afasta alguns desse tipo de iniciativa. Entretanto, ele diz que um número de pessoas ainda pequeno, mas crescente, começa a apoiar o conceito. “Eles estão bastante motivados pela perspectiva de contribuir para o desenvolvimento do País através de algo lucrativo. Se o setor como um todo provar que isso é possível, esperamos ver um grande influxo de recursos.”

Entre as empresas que recebem esse tipo de investimento no Brasil, alguns projetos de sites e plataformas digitais se destacam: o Saútil, buscador que ajuda a população a encontrar serviços do SUS; o Geekie, plataforma de ensino que se adapta às características de cada aluno; o Tamboro, que aposta na aprendizagem por meio de jogos; e o WPensar, sistema de gestão escolar online.

“Os melhores ‘cases’ são aqueles em que o impacto está tão ligado à forma de se fazer dinheiro que a única forma de crescer e lucrar ainda mais será servir um número maior de pessoas e impactá-las positivamente através desse serviço”, finaliza o diretor da Vox Capital.

 

 

Brasil Cai Oito Posições em Ranking Mundial de Solidariedade e Ocupa Último Lugar na América do Sul

O Brasil caiu oito posições em relação ao ano passado e ocupa agora o 91º lugar entre 135 países no “ranking de solidariedade”, uma iniciativa da organização inglesa Charities Aid Foundation (CAF) e do Instituto Gallup.

Os dados são do World Giving Index 2013, lançado mundialmente nesta terça-feira (3 de dezembro) para coincidir com o Giving Tuesday, data criada para incentivar doações em países como Estados Unidos e que se espalhou para o Canadá, Singapura, Austrália, América Latina e outros países. O IDIS, parceiro brasileiro da CAF, realizou um evento no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo, para apresentar e debater os resultados.

A queda do Brasil no ranking é ainda maior em comparação a edições anteriores. Em 2009, o país era o 54º no World Giving Index. Em relação a outros países da América do Sul, o Brasil também vai mal: é o último, junto com a Venezuela. No continente, Chile e Colômbia estão empatados em primeiro.

O Instituto Gallup abordou 155 mil pessoas em vários países. Para avaliar o comportamento solidário, perguntou se, no mês anterior à aplicação do questionário, o entrevistado doou dinheiro, ajudou um estranho ou foi voluntário em alguma organização. O índice é composto por esses três aspectos.

No Brasil, 42% dos entrevistados disseram ter ajudado um estranho no mês anterior (90ª posição nesse quesito), 23% afirmaram ter doado (72ª posição) e 13% ajudaram um estranho (90ª). Ainda assim, ao extrapolar a amostra para toda a população e estimar o número absoluto de “solidários”, o Gallup pôs o Brasil entre os dez primeiros em todos os comportamentos. São 63 milhões que ajudaram estranhos (quinto maior contingente do mundo), 34 milhões que doaram dinheiro (oitavo maior) e 34 milhões de voluntários (nono).

“Existe em nosso país grande desconfiança em relação ao terceiro setor, causada, principalmente, pelos escândalos envolvendo transferências de recursos irregulares a organizações sociais”, afirmou a diretora-executiva do IDIS, Paula Fabiani, ao falar sobre a posição brasileira.

Neste sentido, o presidente do Instituto Arredondar, Ari Weinfeld, disse que, “para o investidor, a doação precisa ser fácil, segura e dar retorno”. Ele ainda ressaltou a necessidade de mais transparência no setor para garantir credibilidade.

Paula também observou que o incremento da renda dos brasileiros não tem se refletido em comportamento donativo: a percepção de que os mais pobres estão melhorando de vida levaria os mais ricos a diminuir a ajuda. “O mundo está economicamente mal, mas as doações subiram. Já o Brasil está economicamente bem, mas as doações caíram”, complementou Weinfeld.

Já o diretor do Instituto Doar, Marcelo Estraviz, iniciou sua fala dizendo ser um otimista, e ressaltou que os números absolutos mostram que, “ao redor de cada um de nós, há uma pessoa que doa”. Ao mesmo tempo, apontou a necessidade de criar uma cultura de pedir doações.

Surpresas no ranking

Os Estados Unidos recuperaram a liderança do ranking, posição que ocuparam em 2011, mas que haviam perdido para a Austrália no ano seguinte. Já os australianos caíram, em 2013, para o 7º lugar. Entre os 20 primeiros do índice há países de cultura de doação consolidada, como Canadá (2º), Nova Zelândia (também em 2º), Reino Unido (6º) e Holanda (8º). A surpresa fica por conta de nações como Mianmar (2º), Sri Lanka (10º), Líbia (14º) e Nigéria (20º). Em Mianmar, 85% dos entrevistados relataram ter feito doações no mês anterior à pesquisa, colocando o país no primeiro lugar para esse comportamento, à frente dos Estados Unidos.

Segundo Paula Fabiani, os dados mostram que “a riqueza de um país não necessariamente se traduz em solidariedade, pois Mianmar, por exemplo, é uma economia pequena, já a China é a segunda economia, mas não está entre os 20 primeiros”. De fato, apenas cinco países do G-20, grupo que reúne as maiores economias do planeta, estão entre os 20 primeiros.

Já o posicionamento da Líbia, segundo o relatório, reflete algo já percebido em pesquisas anteriores. O país se destacou no quesito a ajuda a pessoas estranhas (comportamento relatado por 72% dos entrevistados), repetindo um fenômeno observado em estudos anteriores: o auxílio a desconhecidos tende a aumentar em territórios pós-conflitos, como já ocorrera com Serra Leoa e Libéria.

O relatório também mostra o descolamento entre desempenho econômico e ação solidária ao apontar que os três componentes do índice registraram aumento de 2011 para 2012, enquanto a economia mundial retraiu-se no período.

Houve também o destaque no comportamento dos jovens entre 15 e 24 anos, faixa etária que, em 2008, menos participava de atividades voluntárias. Em 2013, ela passou para o segundo lugar nessa prática – atrás apenas daqueles com 35 a 49 anos. Mais ainda, com 20,6% de participação voluntária, foi a única faixa etária a superar seu pico de 2008. Todas as outras continuam abaixo da participação recorde daquele ano.

Para Weinfeld, isso salienta a necessidade de usar ferramentas tecnológicas para atrair a juventude ao terceiro setor. Paula, por sua vez, lembrou outro estudo da CAF sobre a importância de incentivar o altruísmo já na escola. Estraviz afirmou ter “esperança não em nós, mas nos jovens que têm outra forma de entender a ação social, mas que ainda não têm o dinheiro para doar”.

 

 

Investimento Social Privado Gesta Programas que se Tornam Políticas Públicas

Um dos mais destacados papéis do investimento social privado é servir de laboratório para projetos que tenham potencial de serem adotados por governos. “A consciência de corresponsabilidade pelo desenvolvimento tem levado a um número crescente de políticas públicas baseadas em experiências bem-sucedidas de organizações sociais, empresas, institutos e fundações privadas”, afirmam Helena Monteiro, Marcos Kisil e Márcia Kalvon Woods no livro “Tendências do investimento social privado na América Latina”, coeditado pelo IDIS. “Quando um projeto se transforma em política pública, ganha maior abrangência e, além de beneficiar mais pessoas, ajuda a disseminar ações de sucesso”, acrescentam os autores.

O Observatório de Favelas, do Rio de Janeiro, surgiu exatamente para desenvolver programas com possibilidade de aplicação ampla. Como diz a coordenadora de educação da entidade, Patrícia Santos, “um dos grandes objetivos é criar metodologias que fomentem políticas públicas”.

É o caso, por exemplo, do projeto Rede Universitários de Espaços Populares (Ruep), elaborado em 2003. A iniciativa era um programa de extensão voltado para estudantes do ensino superior oriundos de favelas e regiões periféricas, aproximando universidade e comunidades populares.

O Ruep começou na favela da Maré, sede do Observatório. Pouco depois de o Ministério da Educação criar a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), surgiu a oportunidade de uma parceria. O programa foi então renomeado, no final de 2004, como Conexões de Saberes, e passou a ser aplicado em cinco universidades federais: a Fluminense, a do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, de Pernambuco e do Pará.

Apesar de ter sido encampado pelo poder público, o programa continuou sendo acompanhado pelo Observatório. “Nós fazíamos o monitoramento do Conexões junto à Secadi, e havia uma coordenação composta pelo governo, por nós e por professores universitários”, afirma Patrícia.

A coordenadora de educação, no entanto, considera que foi apenas em 2008 que o programa tornou-se de fato uma política pública: “Até 2007, a adesão das universidades ocorria depois de um convite, mas, no ano seguinte, é publicado o primeiro edital do Conexões de Saberes”. Foi também em 2008 que o projeto fez uma parceria com a Secretaria de Educação Superior (Sesu), juntando-se ao Programa de Educação Tutorial (PET), que incentiva a extensão universitária, oferecendo, inclusive, bolsas aos participantes. O PET Conexões é voltado exclusivamente para alunos de baixa condição socioeconômica.

A partir de 2009, diz Patrícia, o Observatório se afastou do Conexões, na medida em que o governo federal o assume de vez como política pública. “Isso é natural, pois existem outras questões com as quais o Observatório tem de lidar e, além disso, há a autonomia universitária. Portanto, era lógico o afastamento.”

Outra ponta
A educação também foi o foco de um projeto do Instituto Ayrton Senna que se tornou política pública. Ao contrário do Conexões de Saberes – que trabalha com universitários –, o Acelera Brasil é voltado a estudantes do ensino fundamental – especificamente, aos que estudam numa série inadequada para a idade que têm.

“Um dos grandes problemas da rede pública é a distorção idade-série, que se torna um entrave para uma educação de qualidade”, diz a coordenadora de projetos do Instituto, Inês Miskalo, explicando a criação, em 1997, do primeiro programa em grande escala da organização. O objetivo é que, em um ano, o aluno com no mínimo dois anos de distorção cumpra todo o conteúdo das séries em defasagem, colocando-o de novo no período correto.

O próprio objetivo do projeto requer um trabalho muito próximo com o poder público. “É importante que os secretários de educação e a gestão pública se comprometam com algumas coisas, como o fornecimento de salas de aula e o comprometimento dos professores – até porque o programa não é do Instituto, mas da rede de ensino”, afirma Inês.

O Acelera Brasil começou em 15 municípios das cinco regiões do País. Já em 1998, os bons resultados do Acelera chamaram a atenção de outros municípios, que buscaram o Instituto. Em 1999, o governo de Goiás procurou a organização para aplicar o programa em toda a rede pública do estado. As administrações do Ceará, do Mato Grosso do Sul, de Pernambuco, do Piauí, do Rio Grande do Sul e do Sergipe igualmente adotaram o Acelera.

As relações entre o Instituto e as redes de ensino variam muito. Em Goiás, o governo estadual comprou o material didático, mas a metodologia e a formação foram fornecidas gratuitamente pela ONG (que tem seu orçamento financiado pela venda de produtos com a marca Ayrton Senna ou por doação de terceiros). Em outros casos, grandes empresas procuram o Instituto para bancar integralmente o Acelera em algum município.

A maior flexibilidade de um ente privado ajuda no funcionamento do programa, avalia Inês, pois é fundamental cumprir 160 dias de aula por ano para que o Acelera funcione, e isso, por vezes, esbarra em barreiras burocráticas que o Instituto consegue vencer. “Você vai fazer uma compra, por exemplo, de material didático e precisa ser via licitação, mas pode haver alguma demora nesse processo, comprometendo o programa. Então há a possibilidade de o Instituto fazer a compra”, declara.

Também ao contrário do que ocorreu com o Conexões de Saberes, a adoção como política pública não afasta o Instituto Ayrton Senna do Acelera Brasil – até porque um dos pilares do projeto é exatamente um sistema de dados mantido pela organização e alimentado pelos gestores públicos.

Outra diferença entre ambos é que, por lidar com um número muito maior de gestores públicos, o Instituto tem problemas de descontinuidade em alguns lugares. “No Brasil, ainda temos uma visão de política partidária, e não cidadã, e a troca de governos é um obstáculo por vezes intransponível”, constata Inês. No entanto, ela vê com otimismo o fato de o Acelera continuar mesmo em alguns casos nos quais a oposição assumiu o poder.

 

 

Forma Invovadora de Financiamento Renumera Investidor Pelo Sucesso de Projetos Social

Uma experiência em andamento no sistema prisional inglês está chamando a atenção para um tipo inovador de financiamento para projetos sociais: os social impact bonds (SIBs), ou títulos financeiros de impacto social. Nesse sistema, investidores privados aportam dinheiro para uma iniciativa e, se ela for comprovadamente bem-sucedida, o poder público devolve o montante, acrescido de um valor pré-contratado. Com isso, o setor privado financia inovações sociais, e o governo premia os prestadores do serviço por economizar recursos públicos decorrentes do sucesso do projeto.

Como noticiado pela revista inglesa The Economist, a pequena cidade de Peterborough, na Inglaterra, é o marco inicial dessa modalidade ainda incipiente. Em 2010, foi lançado um projeto com duração de seis anos que busca diminuir a reincidência criminal. Trata-se, basicamente, de um amplo programa de acompanhamento de ex-detentos sob o nome de One Service, financiado por investidores privados.

Caso o projeto atinja as metas de declínio da reincidência, os investidores receberão do governo retornos financeiros sobre os recursos aplicados. Mas por que pagar além do que foi gasto? A ideia é que, ao reduzir o número de pessoas que voltam para trás das grades, o projeto reduz também as despesas públicas com o sistema prisional.

Uma das vantagens desse modelo é fornecer financiamento de longo prazo para o projeto, dando tempo para os investidores buscarem as melhores formas de atingir suas metas. Como aponta a diretora-executiva do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), Célia Cruz, “a prisão vai ter liberdade para eleger as melhores ações e liberdade para escolher modelos inovadores”.

A estratégia requer, portanto, um perfil muito específico de financiador. “Os investidores de impacto social são geralmente mais pacientes, diferentes daqueles que esperam retornos de curto prazo”, afirma o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Sérgio Lazzarini, que tem se dedicado ao estudo do tema.

Outro fator fundamental é fazer uma ótima avaliação de impacto ao longo do tempo, para saber se as mudanças de fato estão ocorrendo em decorrência do projeto. “Os ingleses são muito bons em usar grupos de controle, e, por isso, conseguem provar que o projeto funciona”, diz Célia.

Os resultados em Peterborough têm se mostrado bons o suficiente para fazer o Reino Unido planejar estender o One Service para outros lugares, o que levanta um questionamento da The Economist: se o programa de reabilitação for universalizado, qual prisão servirá de grupo de controle para avaliar resultados?

No Brasil
Os títulos financeiros de impacto social são tão novos que, segundo levantamento da empresa especializada Instiglio, há apenas seis iniciativas em andamento no mundo: quatro na Inglaterra, uma nos Estados Unidos e uma na Austrália. No Brasil, existem apenas alguns estudos preliminares. “O ICE já pesquisou um pouco o assunto, assim como o Insper”, aponta Célia. “A discussão ainda é muito incipiente por aqui”, concorda Lazzarini.

A implantação do modelo no Brasil enfrenta barreiras. “Um projeto como o de Peterborough, por exemplo, não poderia ser implantado por aqui, pois não temos uma base de dados unificada do sistema prisional”, diz Célia. Ainda assim, ela aponta que essa é uma pauta que teria apelo no País. “Não é uma causa fácil de investir, mas muitos empresários ligados ao ICE, por exemplo, têm interesse na questão da segurança pública”.

Outro ponto é a pouca cultura de medição de impacto social. “Tem de ter metodologia para avaliar os resultados, para provar o sucesso do projeto”, aponta Célia.

Esse problema está sendo abordado pelo Insper. “Nós estamos criando um centro para análise de impacto social, pois é preciso medir quanto da mudança está relacionada ao projeto, e não a outros fatores”, conta Lazzarini.

 

 

Maior Evento do 3º Setor na America Latina Reúne 15 Mil Pessoas e Tem Participação do Governo

A ONG Brasil firmou-se, em sua quinta edição, como o maior evento sobre responsabilidade social da América Latina. Cerca de 500 expositores e 15 mil visitantes foram ao Expo Center Norte, em São Paulo, entre 28 e 30 de novembro. A exposição contou com mais de 100 palestras e participação intensa do governo federal, representado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, que ocupou um dos maiores estandes e promoveu debates diariamente.

“Este é o segundo ano em que o governo federal participa do evento, e é a Secretaria-Geral quem apoia a presidenta no relacionamento com entidades da sociedade civil”, afirmou a assessora especial da Pasta, Lais de Figueiredo Lopes, no primeiro dia do evento, durante a palestra “As parcerias entre o Estado e organizações da sociedade civil e o marco regulatório”. O debate tratou da norma que está sendo elaborada para regulamentar as relações entre entes estatais e entidades sociais. “A sociedade civil propôs o diálogo em 2010, a presidenta Dilma Roussef se comprometeu e o ministro-chefe, Gilberto Carvalho, desenvolveu uma agenda”, contou Lais.

Entre os exemplos de diálogo do governo federal com a sociedade civil, a assessora especial chegou a citar a iniciativa do IDIS, que está desenvolvendo uma proposta de regulamentação específica para fundos patrimoniais no Brasil, com o objetivo de aprimorar a sustentabilidade do setor.

A diversidade dos debatedores nos seminários organizados pela Secretaria-Geral reforça o objetivo de dialogar com diversos setores: participaram representantes de ministérios, do terceiro setor (como Vera Masagão, diretora da Abong) e da área acadêmica (como o pesquisador Félix Lopes, do Ipea). Em seu estande, o órgão estatal também promoveu conversas sobre temas de interesse da área.

Primeira palestra

A primeira atividade da feira, no entanto, não contou com a presença do governo federal. O foco da palestra “Happy returns: Por que boas causas são bons negócios”, organizada pela Humanitare Foundation, foi justamente iniciativas sociais que passam por soluções de mercado. A fala de Joris Van Wijk, diretor da UBM Brasil – organizadora do evento, subsidiária de umas das maiores multinacionais de mídia de negócios –, resumiu bem o tom do resto do debate: “Boas causas são bons negócios, e juntos podemos mais”.

Na mesma linha, a jornalista Patrícia Trudes, coordenadora-executiva do Prêmio Folha Empreendedor Social, queixou-se da visão de que filantropos têm de ser pessoas “abnegadas”. “No Brasil, ainda se separa fazer o bem de fazer dinheiro, persiste a ideia de que filantropia não pode gerar lucros.”

Sheila Pimentel, da Humanitare Foundation – entidade que promove as ações da ONU com a sociedade civil –, também ressaltou a importância de mudar a mentalidade do setor social privado em relação ao lucro: “Antes, o terceiro setor tinha vergonha de falar em dinheiro, e o que a Humanitare quer é ajudar projetos a se bancarem empresarialmente”.

Soluções sociais que passam pelo mercado estão sendo discutidas até no Fórum de Davos, tradicionalmente associado apenas a discussões econômicas. O diretor global de cidadania corporativa da consultoria KPMG, Michael Hastings, citou inclusive um documento produzido no último encontro na cidade suíça. “Nas Metas do Milênio, da ONU, não havia empresas, mas agora elas são centrais para a discussão de desenvolvimento econômico, social e ambiental”, declarou Hastings.

Não poderiam faltar na mesa, portanto, exemplos de projetos sociais lucrativos. O cônsul honorário do Brasil na Áustria, Lothar Wolff, citou o caso de uma empresa austríaca que produz biogás com lixo orgânico e que está fazendo um projeto-piloto em dez churrascarias de Curitiba. O projeto tem não só apelo ambiental como impacto na alimentação, pois, como explicou Wolff, o “biogás costuma ser produzido com plantações que tomam áreas de cultura de alimentos”.

Outro exemplo foi o marketing relacionado à causa. A presidente do Banco de Alimentos, Luciana Quintão, falou do projeto de sua organização com a Tramontina – parte do dinheiro obtido com a venda de produtos exclusivos é destinada à entidade social. “É uma cultura nova no Brasil. É preciso procurar empresas, convencer de que é bom, quebrar uma série de barreiras”, defendeu.

 

 

IDIS Lança Documentário Sobre Investimento Social Privado

No próximo dia 05, quinta-feira, às 9h30, acontece no Itaú Cultural, em São Paulo, o lançamento do documentário “Investimento Social Privado – O Presente é o Futuro”. A produção conta com a participação rica e mobilizadora de 14 figuras emblemáticas do setor filantrópico no Brasil e busca estimular a ampliação e consolidação do investimento social privado no País.

Com direção do jornalista Albino Castro, que tem passagens pela TV Cultura, SBT, TV Gazeta, jornal O Globo e revista Veja, o documentário tem duração de 33 minutos e contou com o patrocínio da Alupar, Cemig e Lojas Renner, através da Lei de Incentivo à Cultura. A Fundação José de Paiva Netto colaborou com a produção e captura de imagens.

Como a ideia é ajudar a divulgar a relevância do investimento social privado brasileiro, a distribuição será ampla. “Além de estar gratuitamente disponível na internet, serão distribuídas no mínimo 500 cópias para organizações, bibliotecas e escolas de todo o País”, diz João Paulo Vergueiro, gerente de comunicação do IDIS.

Interessados em realizar o lançamento do documentário do IDIS em sua cidade, podem entrar em contato conosco pelo e-mail comunicacao@idis.org.br.

Serviço:

Lançamento Oficial: INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO – O PRESENTE É O FUTURO
Data: 5 de dezembro, quinta-feira
Horário: 9h30
Local: Itaú Cultural [Av. Paulista, 149 – São Paulo – SP]
VAGAS LIMITADAS: Garanta seu ingresso cadastrando-se aqui.
Outras informações: comunicação@idis.org.br ou (11)3037.8212.

 

 

Empresas Falam Muito de Responsabilidade Social Empresarial, Mas Practicam Pouco, Aponta ONU

Uma pesquisa das Nações Unidas feita com 1.712 empresas de 113 países concluiu que o setor privado fala muito sobre políticas de responsabilidade social, mas ainda está atrasado quando se trata de aplicar o discurso à realidade.

Relatório Global de Sustentabilidade Empresarial 2013 foi organizado pelo Pacto Global, iniciativa da ONU que estimula companhias do mundo todo a aderir voluntariamente a dez princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.

O documento apresenta uma série de dados para sustentar sua principal conclusão. Pelo lado do discurso, 65% das empresas afirmaram que seus CEOs – o nível mais alto de direção – desenvolvem ou acompanham políticas socialmente sustentáveis, o que demonstraria forte comprometimento com a questão. No entanto, apenas 35% dos gerentes recebem treinamento para integrar a sustentabilidade às estratégias e operações das empresas, o que demonstra baixo nível de ação.

Da mesma forma, 90% afirmaram que seus conselhos de administração discutem ou atuam com a sustentabilidade social, mas apenas 8% relataram que esses grupos oferecem remuneração extra relacionada à performance na área socioambiental.

O relatório considera que as definições de políticas devem mesmo ocorrer na cúpula das empresas, que, de fato, estão se interessando e discutindo cada vez mais a sustentabilidade social corporativa. A ação – dividida em implementação, comunicação e medição de impacto –, no entanto, depende de um maior comprometimento dos colaboradores e dos recursos, o que os dados mostram não estar acontecendo.

A análise da atuação nos temas específicos do Pacto Global reforça a conclusão. Sete em cada dez empresas têm políticas anticorrupção, mas apenas três em cada dez criaram canais para receber denúncias anônimas. Do mesmo modo, 72% incluíram os direitos humanos em suas diretrizes, mas apenas 37% criaram mecanismos para reclamações relacionadas ao tema.

O trabalho de sustentabilidade com fornecedores das empresas também continua mais no discurso do que na prática. Entre os pesquisados, 57% disseram incluir o tema em seus contratos de fornecimento. No entanto, apenas 18% ajudam seus fornecedores a estabelecer e aplicar metas de responsabilidade social.

O relatório, no entanto, não adota um tom pessimista em relação a esses resultados. “Muitas empresas estão criando políticas que definem metas e requisitos de sustentabilidade, isso é um passo importante, na medida em que as políticas servem como uma declaração formal de intenções e estabelecem as bases para futuras ações de sustentabilidade.”

Fatores de influência
O relatório destaca que os princípios do Pacto Global são aplicáveis tanto para pequenas quanto para grandes empresas (com mais de 5 mil empregados), mas há uma distância “enorme” na atuação delas em quase todos as frentes analisadas.

O fosso entre discurso e prática existe em organizações de tamanhos diversos, mas é menor entre as grandes empresas: 58% possuem mecanismos para receber reclamações sobre direitos humanos, proporção que cai para 28% entre as pequenas. Entre as primeiras, 48% fazem avaliação de riscos de corrupção, enquanto apenas 15% das pequenas fazem a mesma coisa.

Ainda assim, o estudo destaca que os negócios de menor porte têm conseguido incrementar suas atividades de sustentabilidade social ao longo do tempo, aproximando-se de seus “colegas” maiores. O relatório destaca avanços principalmente em temas como direitos humanos e meio ambiente.

O tempo de comprometimento com o Pacto Global também influencia. Segundo a pesquisa, quanto mais recente o compromisso com a iniciativa da ONU, pior é o resultado da empresa. Isso fica claro na análise sobre a “turma de 2009”. Até 2012, as empresas que aderiram ao pacto naquele ano avançaram significativamente em todos os princípios. As políticas anticorrupção, por exemplo, aumentaram 24% no período; as medidas para incentivar a sustentabilidade na cadeia de fornecedores, 20% – mesmo aumento para a criação de sistemas de manejo ambiental.

Temas
Dentre os princípios preconizados pelo Pacto Global, os que mais recebem atenção das empresas são os relacionados a trabalho e meio ambiente. Entre os respondentes, 69% afirmaram ter políticas definidas para o primeiro tema, e 63% para o segundo. Já os direitos humanos e ações anticorrupção tiveram ações definidas, respectivamente, por 51% e 50% dos pesquisados.

Para o relatório, a proeminência dos temas trabalhistas e de direitos humanos se deve a “forças externas”: há décadas as empresas lidam com regulações governamentais em torno desses temas, o que levou à formação de equipes dedicadas apenas a lidar com esses assuntos.

A pesquisa, no entanto, aponta que direitos humanos e combate à corrupção deverão ganhar mais prioridade à medida em que esses assuntos vão sendo percebidos como fundamentais para o sucesso das empresas. “Para se manterem competitivas, um número cada vez maior de companhias vai ter de colocar mais ênfase em todos os aspectos da sustentabilidade”, conclui o relatório.

 

 

Falta de Cultura de Doação e de Estrutura Dificulta Investimento Social de Micro e Pequenas Empresas

A cada 100 empresas brasileiras, 99 são micro ou pequenas (MPEs) – ou seja, faturam até R$ 3,6 milhões ao ano, segundo dados do Sebrae. A participação desse grupo no investimento social, porém, é quase nula. Isso ocorre em razão tanto da falta de cultura de doação quanto da ausência de uma estrutura para esse tipo de prática, avalia o professor Marcelo Aidar, coordenador-adjunto do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).

“Essas empresas mal dão conta de atender a seus requisitos sociais, como estar de acordo com a legislação ambiental e trabalhista, quanto mais tratar de questões que extrapolam a própria missão delas”, constata. Além disso, “elas não enxergam oportunidades de utilizar o apoio a causas sociais como meio de alavancar seus negócios”.

A visão do professor da FGV é compartilhada pelo secretário-geral do Grupo de Instituto, Fundações e Empresas (Gife), André Degenszajn. “As micro e pequenas empresas não têm um investimento tal que justifique a criação de um corpo profissional para isso”. Para Degenszajn, há, também, no Brasil, a “ideia cultural de que o Estado precisa assumir as funções sociais, de que isso é responsabilidade dele”.

O resultado é que o investimento em causas sociais por micro e pequenos empresários, quando existe, é quase sempre irrelevante. “Fica tudo com cara de doação, mais assistencialista. Não tem uma coisa maior, mais estruturada, mais permanente, como uma prática de gestão”, constata Aidar. “A tendência são atividades mais pontuais. Valores menores levam a menor continuidade de ações e maior dificuldade de construir investimento social mais estratégico”, complementa Degenszajn.

A união faz a força
“Eu, particularmente, não acredito que é necessário ser grande ou ter muito dinheiro para fazer isso”, afirma Aidar. A questão, portanto, é como potencializar os recursos que as micro e pequenas empresas talvez tenham para investir socialmente. A resposta pode estar na união de forças. “As fundações comunitárias são criadas para desenvolver determinada região e têm apoio principalmente de organizações locais, de micro e pequenas empresas, de indivíduos e até do poder público local” explica Degenszajn.

Trata-se, portanto, de uma estratégia que busca unir as poucas forças de diversos atores. As fundações comunitárias “recebem aporte de diversas fontes, conseguem desenvolver prioridades, estratégias de ação e são um tipo de investimento que faz sentido como canal e estratégia para micro e pequenas empresas”, afirma o secretário-geral do Gife.

O impacto desse tipo de ação, segundo Degenszajn, é maior do que pegar todos estes recursos e dispersá-los de forma não estratégica. “É um caminho interessante para pensar investimentos de micro e pequenas empresas, para tentar lidar com os desafios da regularidade, de algo não tão pontual, que é uma das principais dificuldades quando investidores privados decidem atuar na área social.”

Esse é, contudo, um tipo de organização ainda muito pouco estruturada no Brasil, embora bastante comum na Europa e nos Estados Unidos. Um dos poucos exemplos é o Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom), que mobiliza investidores sociais da região.

Incentivar a cultura
Para Aidar, o desenvolvimento do investimento social das micro e pequenas empresas passa pela educação dos empresários. “Precisa haver uma capacitação para que entendam que investir em causas sociais significa também cuidar da marca, cria valor para seu produto”, diz o professor da FGV. Ele percebe, por exemplo, uma nova mentalidade naqueles que se dedicam a criar os chamados negócios sociais, que buscam suprir algum tipo de demanda social ao mesmo tempo em que geram lucros.

Para Degenszajn, “começa a se consolidar a máxima da Rio 92 de que não existe empresa bem-sucedida em sociedade falida”, o que leva a uma demanda por mais ações sociais por parte dos empresários. O secretário-geral do Gife admite que a tendência é mais forte entre as grandes empresas, mas lembra que as micro e pequenas também têm de cuidar dos impactos negativos que geram.

Até por isso, Aidar afirma que “o negócio não pode mais ser visto de maneira isolada, pois vai ser mais bem-sucedido se pensar em seu entorno”.

 

 

Oraganização Social Mineira Redireciona Atuação e Mostra Importância do Planejamento Estratégico

Para ampliar as chances de atingir seus objetivos, uma organização social precisa de planejamento estratégico. Ainda que essa proposição pareça óbvia, poucas entidades traçam esse tipo de plano quando começam a atuar, e depois de anos de existência, é ainda mais raro lançarem mão desse recurso. Mas foi exatamente isso o que fez a Associação Ortópolis Barroso (AOB), criada há nove anos no município mineiro de Barroso.

“Com o planejamento, ficou mais claro o nosso papel na comunidade, e a Associação, que atuava mais como executora de projetos, reforçou sua postura de articuladora dos diversos atores do município”, afirma a gerente executiva da AOB, Regina Couto.

“O planejamento é uma revisão de estratégias e ajuda a dar norte em um contexto de diversas possibilidades”, diz Adriana Deróbio, gerente de projetos do IDIS, que foi contratado pelo Instituto Holcim, principal financiador da AOB, para assessorar  na redefinição  da sua estratégia de atuação em Barroso.

Inicialmente, segundo Adriana, a Associação tinha uma atuação pulverizada. Em encontros realizados em 2012, envolvendo diversos representantes da comunidade, foram definidos cinco eixos de atuação: meio ambiente; fortalecimento institucional; trabalho e geração renda; cultura, esporte e lazer e influência em políticas públicas.

Parte dos eixos inclui temas antes já abordados, como aqueles ligados a meio ambiente e geração de trabalho e renda. A mudança foi, principalmente, na forma de atuação. “A Associação deixa de ser apenas mais um agente colocando projetos em funcionamento no município para ser também o articulador de outras iniciativas, fazendo o link entre outros atores, olhando o contexto e unindo forças”, comenta Adriana.

A Associação Ortópolis Barroso até já se autoatribuía a missão de também funcionar como articuladora, mas, como diz Regina, isso ficara apenas no papel. Assumir essa linha de ação, no entanto, não significa que a entidade vá deixar de tocar projetos próprios. No momento, por exemplo, a AOB desenvolve o Observatório Social de Barroso, um levantamento coletivo de diversos indicadores municipais. Com os dados, a organização pretende ajudar Barroso a implementar um Plano de Desenvolvimento Participativo, com o envolvimento de diversos atores municipais.

Fortalecimento
A AOB nasceu do Projeto Ortópolis, criado há dez anos pelo Instituto Holcim e baseado em  uma proposta inovadora com o objetivo de buscar alternativas para o desenvolvimento sustentável do município. Dado o grande desafio, surgiu um importante eixo de fortalecimento institucional, para conferir à Associação maior autonomia, ampliação das fontes de recursos e organização de papéis internos.

O processo de fortalecimento inclui um foco na sustentabilidade da Associação. “Esse é o primeiro ano em que a Ortópolis está fazendo captação própria, de forma estruturada e estratégica”, ressalta Adriana. A diversificação de fontes de financiamento estava no horizonte do planejamento estratégico, tanto que a AOB tem metas graduais de aumentar a captação de recursos, para reduzir a dependência em relação à Holcim. “Em 2013, nossa meta foi de arrecadar 30% do orçamento com outras fontes, proporção que deve crescer nos próximos anos”, afirma Regina.

Para saber mais sobre investimento social comunitário e o trabalho desenvolvido pelo IDIS, escreva para comunicacao@idis.org.br.

Investimento Social Desenvolve Não Só Quem Recebe, Mas Também Quem Faz

O investimento social privado (ISP) tem efeitos não só sobre os beneficiários de suas ações, mas também sobre aqueles que praticam a filantropia. Essa foi uma das conclusões a que chegaram os participantes do Encontro de Investidores Sociais de Santa Catarina, organizado pelo IDIS e pelo Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom) em 6 de novembro, na capital catarinense. O evento foi o último das três reuniões regionais com investidores sociais programadas para 2013 – os anteriores aconteceram em Minas Gerais e Pernambuco.

“O foco do Encontro foi o investimento social privado como garantidor da liberdade do indivíduo e de sua possibilidade de autorrealização”, afirmou o gerente executivo do ICom, Anderson Giovani, em entrevista depois do evento. Ele participou da mesa “Impacto do ISP: mudando a vida das pessoas”, que também contou com a presença do gerente geral de programas da Fundação Amazonas Sustentável, Leandro Pinheiro, e foi moderada pela professora da Universidade do Estado de Santa Catarina, Paula Schommer.

Giovani também destacou a importância que o evento deu ao outro lado do investimento social privado: o daqueles que o praticam. “Falou-se do investimento social privado para além da técnica, pois ficamos sabendo também como os investidores se sentem como membros da comunidade em que atuam.”

O Encontro trouxe pessoas que “entendem que não é só doar, é preciso também se ver no outro”, disse o gerente de comunicação do IDIS, João Paulo Vergueiro. Ele citou, como exemplo, a fala do presidente da construtora Pedra Branca, Valério Gomes Neto: “É uma pessoa que se reconhece não só como empresário, mas também como investidor social comprometido.”

Gomes Neto participou da mesa “Impacto do ISP: desenvolvendo a economia”. Esteve ao lado do diretor financeiro do Instituto Vilson Groh, Leo Mauro Xavier Filho, moderada pela presidente do conselho deliberativo do ICom, Lucia Dellagnelo.

Vergueiro mencionou também a última mesa, “Diálogos do bem: motivação para fazer a diferença”, que trouxe Alice Kuerten (Instituto Guga Kuerten) e o Padre Vilson Groh. “Eles mostraram que existem pessoas que saem da lógica do investimento financeiro e investem algo ainda mais caro, que é a própria vida”, ressaltou Giovani.

Investimento comunitário
O Encontro acabou discutindo profundamente o investimento comunitário. Para Vergueiro, a existência do ICom fez com que em Florianópolis exista um “entendimento já mais estabelecido de o que é investimento social e comunitário, permitindo um debate mais profundo quanto às ações”.

Esse foi o foco, inclusive, da mesa “Impacto do ISP: fortalecendo comunidades”, que reuniu Lucia Dellagnelo e o cientista social , atualmente consultor da Agência de Desenvolvimento Ecos da Mata, Marcelo Dino Fraccaro, em conversa mediada por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS. “No investimento comunitário, a comunidade lida com questões pertinentes a ela mesma, e o investimento social privado tem a oportunidade de testar novas formas de melhorar a vida das pessoas”.

O Encontro de Investidores Sociais de Santa Catarina contou com a parceria institucional da Charities Aid Foundation (CAF) e apoio financeiro da Rockefeller Foundation. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Grupo de Líderes Empresariais (LIDE) de Santa Catarina também foram parceiros do evento.

Caso você tenha interesse em nos ajudar a levar o Encontro para a sua região em 2014, entre em contato pelo e-mail comunicacao@idis.org.br.

 

 

Conversa é a Melhor Maneira de Incentivar Filantropia Entre Jovens, Aponta Pesquisa

Conversar com as crianças e os jovens é a melhor forma de engajá-los em um comportamento filantrópico, concluiu o estudo Women Give 2013, realizado pela Lilly Family School of Philanthropy, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa, o diálogo é até mais eficiente do que os pais praticarem filantropia e servirem de modelo para os filhos.

relatório baseia-se num acompanhamento de 903 pessoas nos Estados Unidos, nascidas entre 1980 e 2000 (a geração chamada deMillenials), com idade média de 15,7 anos – à época em que foram entrevistadas. As conversas aconteceram em dois momentos diferentes: entre 2002 e 2003 e entre 2007 e 2008.

Uma das conclusões do levantamento é que, mantendo iguais os outros fatores, há uma forte correlação entre a conversa dos pais sobre filantropia e o engajamento dos filhos: 0,765 (quanto mais próximo de 1, maior a correlação). Quando a questão não é discutida em casa, o número cai para 0,640. O comportamento filantrópico dos pais não afeta as probabilidades.

Women Give 2013 detectou ainda que a conversa funciona tanto com filhos quanto com filhas e independe do perfil racial, da idade e da renda dos entrevistados. Ou seja, falar sobre o tema funciona sempre como o melhor incentivo.

Ao que parece, os pais já perceberam. As respostas às questões sobre comportamento filantrópico mostram que 87% dos jovens conversaram sobre ação social com seus responsáveis, nos dois períodos pesquisados. Mais uma vez, há homogeneidade entre as diversas classes sociais: 87% dos jovens de famílias de alta renda afirmaram ter falado sobre o tema com os pais, a mesma porcentagem verificada entre os de renda mais baixa e muito parecida com a dos entrevistados de renda média (89%).

Comportamento
O estudo analisou ainda o comportamento dos entrevistados em relação a atitudes filantrópicas, e os resultados foram positivos. Segundo os dados, 9 em cada 10 jovens dos Estados Unidos doaram para projetos sociais. Mais ainda: esse é um comportamento recorrente: 55% dos entrevistados afirmam ter doado tanto entre 2002 e 2003 quanto entre 2007 e 2008.

A prática é comum nos dois gêneros: entre os garotos, 87% disseram ter doado ao menos uma vez no período pesquisado, proporção semelhante ao de garotas (88%). Os números também foram bem homogêneos em relação às diversas faixas de renda. Entre os entrevistados de alta renda, 90% disseram ter feito doações nos períodos pesquisados, apenas um pouco mais que os de renda baixa (87%) e média (86%).

Por todos esses dados, o estudo traz uma conclusão bem otimista: “Os resultados significativos do Women Give 2013 demonstram ótima perspectiva para o futuro da filantropia”.

Embora no Brasil não haja estudos semelhantes, os números do Women Give 2013 oferecem boas indicativas de como as organizações sociais podem – e devem – estruturar suas estratégicas de captação de recursos. Por isso, é um importante instrumento para a filantropia e o investimento social também no nosso país.

Para conhecer mais sobre o estudo, acesse o relatório na íntegra (em inglês) aqui.

 

 

Plataforma Virtual Incentiva Transparência e Fortalece Organizações de Sociedade Civil

Dois dos principais desafios das organizações da sociedade civil (OSCs) no País são comunicar-se bem e mostrar-se idônea num ambiente com muitos escândalos envolvendo repasses suspeitos de dinheiro público ao Terceiro Setor. Para enfrentar essas dificuldades, 30 entidades de Santa Catarina, apoiadas pelo Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom), criaram uma plataforma virtual em que as organizações inserem inúmeros dados sobre suas atividades e sua estrutura e o sistema gera automaticamente um relatório de atividades consolidado.

Trata-se do Portal Transparência, lançado em 2010. Seu objetivo é justamente facilitar a comunicação entre as OSCs e a sociedade e estimular as ONGs a aplicarem a si mesmas um rigoroso processo de transparência pública, aprimorando sua gestão.

“Havia uma questão: como mostrar que eram diferentes de outras organizações e que faziam um bom trabalho?”, lembra a coordenadora de projetos do ICom, Renata Pereira Machado, ao falar sobre as motivações da iniciativa.

A resposta não veio facilmente. Foi ainda no Fortalecer, projeto do ICom  para fortalecimento institucional das organizações, que o portal começou a ser gestado. Depois, as entidades passaram 2009 discutindo os parâmetros de funcionamento da plataforma. “Consultamos outros portais e fizemos oficinas para criar os indicadores do site”, conta Renata.

Os indicadores são coletados a partir de uma extensa lista de perguntas a que as organizações devem responder. Dividem-se em quatro eixos: identidade, gestão, resultados e parcerias. “A ideia é que as organizações repensem sua estrutura e atuação enquanto respondem ao questionário. Ele faz com que elas voltem a seus estatutos, levantem seus resultados e mobilizem vários setores internos, como diretoria e coordenadores de projetos”, explica a representante do ICom.

Quem passa pelo trabalhoso processo de inscrição ganha não só um importante instrumento de comunicação, mas também de gestão. Pela plataforma, as organizações conseguem gerar um relatório completo de atividades, inclusive com gráficos e tabelas que facilitam a visualização dos dados.

“Algumas OSCs adotaram o documento do portal como sua publicação oficial, e elas entregam os relatórios para possíveis investidores quando vão buscar recursos”, diz Renata. O site serve, assim, para criar o chamado relatório de atividades consolidado, documento exigido, por exemplo, em inscrições para prêmios ou para prestação de contas em algumas instâncias públicas.

Não é toda entidade que se dispõe a (ou que tem condições de) passar por todas as etapas. Há cerca de 200 organizações que já têm login e senha na plataforma, mas não publicaram suas informações. “Nem todas conseguem levantar dados com facilidade. A rapidez do processo depende muito da estrutura interna da entidade”, constata Renata.

Uma avaliação de impacto realizada pela Fundação Itaú Social apontou que o projeto, de fato, faz diferença. “O estudo mostrou que as organizações que participam têm maior clareza de identidade, melhores processos de governança e gestão e maior quantidade de parceiros”, declara a coordenadora do ICom.

Nacionalização
O Portal Transparência concentrou-se, nos seus dois primeiros anos, em entidades da grande Florianópolis. Isso aconteceu em parte porque o ICom, cuja sede fica na região, faz visitas in loco às organizações inscritas, para ajudá-las a se adequar aos parâmetros da plataforma. Depois desse período, foi iniciado um processo de nacionalização da iniciativa.

Se a distância impossibilita as visitas, a rede virtual apareceu como solução. “Nós criamos um curso à distância com a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), voltado para gestores de ONGs, e que tem como linha mestra os quatro eixos abordados pelo portal”, explica Renata. Além de abordar conceitos teóricos do setor, o trabalho prático é inscrever a OSC na plataforma.

O resultado é que hoje há 70 organizações cadastradas no Portal Transparência. Por participarem da plataforma, recebem o selo “Compromisso com a Transparência”. Renata ressalta que isso não significa que o ICom certifique os participantes, até porque eles são inteiramente responsáveis pelas informações que prestam. O importante é, na verdade, as OSCs terem assumido voluntariamente um compromisso de se mostrarem claramente à sociedade.

Para saber mais, visite o Portal Transparência.

Senso moral e identificação com causas

O que motiva as pessoas a doar? Foi esta pergunta que norteou a “Why we Give” (Por que doamos), mais recente pesquisa da Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica voltada ao incentivo à doação em vários países e parceira do IDIS no Brasil. Fatores como valores pessoais e comprometimento com alguma causa aparecem no topo, mas a religião também tem lugar de destaque entre os moradores do Reino Unido.

O estudo, entrevistou 722 pessoas, e incluiu também outros temas relacionados ao investimento social privado no país. O levantamento faz parte de uma campanha maior da CAF (#whywegive) para incentivar as pessoas a compartilhar suas experiências de doação nas mídias sociais.

Na sondagem, as motivações pessoais mostraram-se os principais fatores de incentivo à doação: 97% dos entrevistados mencionaram valores pessoais, 96% citaram seu senso de moralidade ou ética e 75%, a crença em alguma causa em particular. A religião aparece em seguida, com 71%. A intenção de deixar um legado positivo serve de motivo para apenas 38%.

O estudo cita o caso de uma entrevistada, a aposentada Amy Bright, que separa 10% de sua renda – o tradicional dízimo – para sua igreja e instituições sociais cristãs. “Nossa doação é baseada na crença de que tudo o que temos pertence a Deus e que devemos retribuir tanto à Igreja quanto a quem necessita”, disse a aposentada na pesquisa.

O dízimo religioso, por sinal, parece corroborar outro resultado do estudo. Na média, os entrevistados afirmam que os mais ricos deveriam doar 15% de sua renda. Porém, analisando os dados sob a ótica de outras medições estatísticas (moda e mediana), tem-se 10% para ambas. “Isto é um alinhamento com os 10% encorajados por grupos religiosos”, afirma o relatório.

A importância da fé, segundo o documento, é confirmada por uma pesquisa anual da CAF, “que mostra que doações ligadas a religiões e crenças têm atraído a maior média de recursos doados nos últimos três anos”.

O levantamento também questionou os entrevistados sobre o que eles pensam do investimento social privado, e 61% responderam que é fundamental que os mais ricos falem sobre suas doações para ajudar a incrementar esse comportamento no Reino Unido. O resultado deu força à campanha da CAF para que as pessoas falem mais sobre seus investimentos sociais.

Além disso, o estudo identificou um comportamento aparentemente paradoxal. Apesar de 79% dos entrevistados acreditarem que as organizações da sociedade civil têm problemas financeiros, somente 40% afirmaram que vão aumentar suas doações no próximo ano. Segundo o relatório, “isto pode estar ligado a uma falta de confiança na economia do Reino Unido”.

Arrecadar mais

Como captar recursos em um ambiente como esse? Outros resultados da pesquisa indicam alguns caminhos. A maioria (72%) afirma que só doaria para organizações que demonstrassem seu impacto de maneira clara. Questionados sobre como as entidades poderiam aumentar sua arrecadação, 81% dos entrevistados citaram a demonstração do impacto das ações como um fator decisivo. Já 78% cobraram das empresas que elas apoiem mais as ONGs.

A educação também apareceu como um dos fatores capazes de elevar os recursos doados: 62% disseram que “uma cooperação crescente entre escolas e organizações da sociedade civil provavelmente aumentaria as doações” ao incutir nas crianças um comportamento solidário. Outro trabalho da CAF, “Growing up giving”, havia apontado a importância do sistema educacional no encorajamento de um comportamento filantrópico.

Questões tributárias também são importantes. Mais de três quartos dos entrevistados (77%) avaliam que, se os doadores conhecessem melhor os incentivos fiscais existentes, as doações provavelmente cresceriam. Ao mesmo tempo, 76% deles dizem que novos incentivos seriam bem-vindos.

Semelhanças com Brasil

A religião é um fator importante para doadores não só no Reino Unido, mas também no Brasil. Segundo estudo do IDIS e da Ipsos Public Affairs, as instituições religiosas aparecem como as mais beneficiadas pelos doadores brasileiros: 30% dos entrevistados disseram doar para igrejas, porcentagem semelhante àquela dos que disseram doar para pedintes de rua. Apenas 14% dos entrevistados disseram doar para organizações não governamentais.

A grande maioria dos brasileiros (84%) desconhece os mecanismos nacionais de doações dedutíveis do Imposto de Renda. Se os britânicos estiverem certos ao acreditarem que um maior conhecimento sobre incentivos fiscais poderia aumentar o volume de doações, esse é um bom caminho para as entidades do Brasil.

Setor privado é fundamental para alcance de metas sociais, diz Pnud

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são um conjunto de oito metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015. Envolvem temas-chave como redução da pobreza, igualdade entre os sexos e universalização do ensino básico. Desde o momento em que foram firmados, há quase 15 anos, ganharam a adesão de boa parte do setor privado. E o Brasil tem tido um importante papel na articulação das empresas em torno das metas.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) – responsável capitanear a promoção dos ODM –, na assinatura da Declaração do Milênio, em 2000, já estava claro que não seria possível alcançar os Objetivos sem a participação da iniciativa privada.

No Brasil e em outros países, essa participação às vezes se dá em parcerias diretas entre órgãos da ONU e as empresas. No caso brasileiro, o Projeto ODM 2015, por exemplo, foi criado em 2011 e conta com recursos de empresas como Petrobras, Furnas e Banco do Brasil. A finalidade é municipalizar os Objetivos de Milênio, como forma de torná-los mais efetivos.

O projeto é alinhado com uma avaliação do Pnud de que, na média, o Brasil avançou nos Objetivos do Milênio, mas persistem desigualdades significativas. Por exemplo, os objetivos 5 (redução da mortalidade materna) e 7 (que inclui acesso a saneamento básico e água) apresentam resultados bastante diversos entre as regiões.

Outro tipo de parceria é a Aliança para o Desenvolvimento Local, firmada pelo Pnud e pela Fundação Vale, braço social da mineradora brasileira. A ideia é promover o desenvolvimento de municípios afetados pela indústria extrativista, e suas ações se concentram no Pará e no Maranhão.

Depois das metas

O papel fundamental do setor privado nos Objetivos do Milênio é tão reconhecido pela ONU que, no mesmo ano 2000 em que as metas foram traçadas, as Nações Unidas lançaram o Pacto Global, que busca envolver as corporações em torno de dez princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate a corrupção.

O Pacto Global é composto por redes nacionais, e o Brasil tem a quarta maior do mundo, com mais de 600 membros. Até por isso, o Pnud considera que o país é um grande influenciador das outras. Essa influência é especialmente relevante pelo fato de que é por meio do Pacto Global que o setor privado está participando da construção da agenda pós-2015, quando vencerem os Objetivos do Milênio.

A rede brasileira teve importância destacada, segundo o Pnud, no último encontro de líderes do Pacto Global, em setembro de 2013, em Nova York. Durante a conferência, foi lançada a iniciativa Arquitetos de um Mundo Melhor, que, nas palavras do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi projetada para “conduzir e ampliar ações corporativas que, diretamente, possam fazer os objetivos das Nações Unidas avançarem”.

A relação entre as empresas e a ONU só deve aumentar no cenário pós-2015, quando será elaborada uma nova agenda de prioridades. O tema ganhou fôlego durante a Rio+20, em 2012 e, segundo o Pnud, o setor privado surge como ator e parceiro indispensável na construção do novo paradigma de desenvolvimento sustentável, que contemple, simultaneamente, aspectos econômicos, sociais e ambientais.

Estudos tentam desvendar estímulos cerebrais ligados à doação

A oxitocina é um hormônio considerado fundamental para a criação de laços familiares, como as relações maternais e maritais. Mas também está por trás de atos de doação, a ponto de se poder dizer que doar é como participar de uma “família sintética”.

É isso que mostra o professor de finanças da Texas Tech University, Russell James 3º, no texto “Brain studies and donor decision making: what do we know”, publicado na edição de inverno do periódico Advancing Philantropy, da Association of Fundraising Professionais (a associação norte-americana, canadense e mexicana de captadores de recursos, semelhante à tupiniquim ABCR).

O autor faz, no texto, um apanhado de várias pesquisas neurológicas que tentam explicar atos de caridade. Cita um estudo que usou injeções de oxitocina para mostrar que os mecanismos cerebrais por trás das conexões familiares são os mesmos ligados a atos de doação.

James 3º também menciona pesquisas segundo as quais o toque humano, seguido de um presente, aumenta a presença do oxitocina, também levando a uma maior propensão à doação. Não por acaso, apertos de mão, abraços e prêmios para doadores são técnicas muito usadas em eventos de arrecadação, sugere o texto.

“De uma perspectiva neural”, compara James 3º, “a doação é menos parecida com uma transação comercial e mais semelhante a compartilhar um jantar em família”. Ele ainda sugere: “O entendimento das relações entre um doador e uma organização como uma ‘família sintética’ pode indicar estratégias de captação”.

Nas doações via legado, ou seja, deixadas em testamento, imagens do cérebro feitas por ressonância magnética funcional indicam que o critério de escolha da organização beneficiada não costuma ser a eficiência, mas sim o quanto ela está relacionada com a história de vida do doador. Segundo o professor, esse tipo de ato é “como escrever o capítulo final de sua biografia”.

Outros estudos com imagens cerebrais apontam, no entanto, que deixar os recursos para amigos e familiares ativa mais fortemente áreas do cérebro relacionadas a memórias e emoções do que doar em testamento para organizações. Consequentemente, este último tipo é mais raro. James 3º vê nisso outra oportunidade de captação de recursos.

“Quando uma entidade consegue ligar sua causa a algum amigo ou familiar do doador, há um aumento substancial na possibilidade de receber uma doação via legado”, escreve. Pessoas com casos de câncer na família, por exemplo, seriam mais suscetíveis a deixar recursos para organizações que lidem com esse tema.

Outras descobertas

A primeira pesquisa a usar técnicas de análise cerebral para explicar comportamentos donativos foi publicada no Brasil em 2006, segundo James 3º, e mostrou que a decisão de doar ativava áreas de “recompensa” do cérebro. Mais ainda, indicou similaridades neurológicas entre os atos de dar e de receber dinheiro. “Da perspectiva da felicidade neural instantânea, doar pode ser na verdade uma grande aquisição para o doador”, afirma James, referindo-se ao prazer gerado pelo ato.

Um trabalho do Instituto de Tecnologia da Califórnia sugeriu que, embora o sentimento de realização seja o mesmo, tal sensação tem origens diferentes em cada caso. A doação ativa duas partes do cérebro: uma usada quando se toma a perspectiva de um terceiro pessoa, e a outra relacionada à capacidade de empatia. De certa forma, isso explicaria, segundo o autor, um efeito chamado de “vítima identificável”. “As pessoas tendem consistentemente a doar para beneficiar uma só e identificável vítima do que para milhares de pessoas.”

Há indícios, ainda, de que a doação mobiliza partes do cérebro relacionadas a ligações e reconhecimentos sociais. Até por isso, cientistas japoneses mostraram que os indivíduos sentem-se mais recompensados quando doam publicamente. “A caridade pode ser recompensadora, mas é mais ainda quando outras pessoas percebem o que você está fazendo”, resume James 3º.

Por fim, o professor afirma, após sintetizar uma série de pesquisas, que as novas técnicas de análises cerebrais podem ajudar arrecadadores de recursos. “Em vez de remover a ‘arte’ da captação de recursos, os achados científicos parecem reforçar a importância do lado mais humano das nossas interações”, diz James 3º, que conclui: “No fim, a ciência cerebral parece nos mostrar que a arrecadação é, acima de tudo, uma questão do coração”.

Fundação Stickel encerra parcerias: aprendendo com o fracasso

Em artigo, Fernando Stickel, Diretor-Executivo da Fundação Stickel, compartilha experiências e analisa os fatores que levaram ao insucesso duas importantes parcerias da Fundação. O cenário atual, marcado por grandes mudanças, incertezas e sociedades cada vez mais complexas, exige que revisitemos não apenas fórmulas e histórias de sucesso, mas que também busquemos o conhecimento gerado através de situações de fracasso.

Por Fernando Stickel*

A Fundação Stickel  recentemente encerrou parceria com a Casa de Cultura da Brasilândia, equipamento da Prefeitura de São Paulo sob a gerência da Subprefeitura Freguesia-Brasilândia. No mesmo ano de 2012 também encerramos parceria com a Paróquia São José Operário da Igreja Católica, igualmente localizada na Região Episcopal Brasilândia. O fato de encerrar duas parcerias no mesmo ano, o que ocorreu sem a vontade da Fundação, gera a necessidade de uma reflexão, uma vez que todos os projetos desenvolvidos, em ambos os locais, foram de boa qualidade e atenderam à comunidade local. Assim, torna-se inevitável perguntar por que essas parcerias não deram certo. Quais as razões deste aparente fracasso? Onde erramos?

Ao rever todos os documentos relativos a essas parcerias, e recapitular todos os fatos que ocorreram durante o tempo de desenvolvimento dos projetos, concluímos que:

  1. Demos pouca importância em estabelecer um claro documento de parceria que envolvesse as reais autoridades da Subprefeitura e da Igreja Católica. As pessoas que firmaram as parcerias não tinham poder formal para fazê-lo. Assim, qualquer dúvida ou situação criada não tinha responsáveis por dirimir e decidir no âmbito de suas organizações;
  2. Durante o período da parceria, não conseguimos promover um diálogo com lideranças da comunidade que poderiam tomar o projeto desenvolvido como um projeto de seu interesse. A comunidade, por meio de seus líderes naturais, não participou da parceria, e o que é pior, participou da rejeição da presença da Fundação na comunidade;
  3. Em relação à Casa de Cultura, o processo foi similar, pois o convite para que a Fundação operasse lá os seus projetos não partiu de uma liderança local legítima, nem mesmo de um profissional graduado da hierarquia municipal. Como consequência, a Fundação acabou por aceitar uma posição de parceria informal, sem a garantia de contrato, realizando cursos e exposições com pouco interesse da comunidade local. Crises se sucederam, culminando com atitude francamente agressiva por parte dos funcionários públicos alocados na Casa de Cultura, que se colocaram contrários às atividades da Fundação. Isso acabou por gerar níveis de desconforto de tal ordem que a Fundação se viu obrigada a encerrar suas atividades.

Em resumo, aprendemos que a nossa principal falha foi uma total ausência de interlocução, durante o período de parcerias, com uma liderança forte, representativa da comunidade atendida, bem como da instituição parceira. A ausência dessa interlocução em alto nível acabou por minar a legitimidade do trabalho da Fundação.

Este aparente fracasso foi, na verdade, uma excelente oportunidade para a Fundação rever suas práticas de articulação com as comunidades onde atua, bem como de valorizar a importância de instrumentos formais de parcerias que deixam claro as responsabilidades de cada parceiro e as instâncias de solução de eventuais conflitos, o que consideramos natural em um projeto que busca inovar e criar condições para o desenvolvimento sustentável de nossas iniciativas comunitárias.

O desdobramento desse processo de compreensão e amadurecimento consubstanciou-se no estabelecimento de nova parceria no final de 2012, com a Fábrica de Cultura da Vila Nova Cachoeirinha, equipamento do Governo do Estado de São Paulo. Com total alinhamento entre as missões das instituições, e correspondente contrato legal assinado, esta parceria tem vocação para ser sólida e duradoura.

*Diretor-Executivo da Fundação Stickel.

 

Doação de Legado Ainda Engatinha no Brasil

Mesmo trágica, a morte ainda dá uma última oportunidade de fazer o bem: o legado – parte da herança que pode ser destinada, por meio de testamento, da forma que o indivíduo achar melhor. A prática de deixar os recursos para alguma organização da sociedade civil (OSCs) é comum em alguns países desenvolvidos, mas pouco difundida por aqui.

“Na Inglaterra, tem crescido a captação de recursos por meio do legado, já no Brasil não existem muitas experiências”, disse o gestor de captação de recursos da ActionAid, Bruno Benjamim, durante a palestra “Captação de recursos via legado: é possível?”. O debate foi organizado pela ABCR – Associação Brasileira de Captadores de Recursos durante a ONG Brasil, evento de responsabilidade social que aconteceu na Expo Center Norte, em São Paulo, entre 28 e 30 de novembro.

Apenas em 2011, a doação via legado chegou a £ 1,1 bilhão no Reino Unido, segundo a Charities Aid Foundation (CAF). A própria ActionAid, entidade britânica de combate à pobreza presente em várias nações, capta parte de seus recursos dessa maneira, segundo Benjamim. E não só na Inglaterra, mas também na Itália, Holanda e Austrália. “No Brasil, já fomos procurados por dois doadores, mas não sabemos como agir, estamos consultando nosso corpo jurídico”, disse Benjamim.

A questão no Brasil ainda é anterior ao financiamento pelo legado. “A grande dificuldade das OSCs é conseguir doadores”, afirmou o especialista em arrecadação de recursos e fundador do Instituto Doar, Marcelo Estraviz. Ele apresentou uma pirâmide de como se constrói a relação com doadores: começa com doações esporádicas e tem, no topo, a doação do legado.

O tempo, portanto, é um fator fundamental para que uma pessoa deixe a uma OSC parte de sua herança. “Depois de uma relação de cinco, dez anos, começa a se falar de legado”, disse Estraviz: “Na Espanha, assim como no Brasil, não existe uma cultura de escrever testamentos, mas eles estão fazendo campanhas para que as pessoas escrevam e deixem legados”.

Outro fator que atrai doações de herança, principalmente na área da saúde, é o envolvimento pessoal com a causa. Isso, segundo Benjamim, é o que justifica a organização britânica Cancer Research UK ter recebido, em 2011, legados num valor total de £ 148,9 milhões (mais de 500 milhões de reais). No mesmo ano, outra instituição da área de saúde também levantou cifras milionárias com legado: o British Heart Foundation recebeu £ 54,9 milhões (190 milhões de reais) . “As pessoas que doam têm alguma relação familiar com a causa, por isso, saúde leva muito”, apontou.

Toda essa fortuna, no entanto, não vem de uma postura passiva dessas organizações. “A Cancer Research UK gastou £ 7 milhões (R$ 25 mi) em campanhas”, ressaltou o representante da ActionAid.

O Brasil, com 165 mil milionários, segundo a Forbes, tem grande potencial para crescer na arrecadação de legados, na avaliação de Benjamim. Muitas Santas Casas no país receberam, durante sua história, patrimônios deixados por pessoas no testamento – o que mostra o padrão de doar para a área de saúde também tem força por aqui.

A legislação brasileira permite que se deixe para a posteridade 50% da herança – a outra metade tem de ser, obrigatoriamente, distribuída para os herdeiros que a lei determina (geralmente, filhos e cônjuges).

 

 

Solidariedade é a Principal Característica do Voluntário, Aponta Pesquisa

Levantamento realizado pelo Ibope Inteligência para a Rede Brasil Voluntário revela que 25% da população brasileira já fizeram algum tipo de serviço voluntário, sendo que 11% exercem esse tipo de atividade no momento.
O estudo permitiu conhecer o perfil dos voluntários do País e compreender o que os motiva a doar parte de seu tempo a um trabalho não remunerado. “Ser solidário e ajudar as pessoas” é a motivação mais citada, com 67%, seguida por “fazer a diferença e mudar o mundo”, com 32%,  e “motivações religiosas”, com 22%.

O grau de satisfação de quem desempenha alguma atividade voluntária é alto: 77% dos entrevistados afirmaram que estão totalmente motivados em continuar o trabalho que exercem.

A captação de recursos é uma das principais atividades realizadas no serviço voluntário. Cinquenta e cinco por cento dos entrevistados responderam que captam doações em dinheiro, roupas, brinquedos, alimentos e livros, entre outros, para organizações em que desempenham suas atividades.

Perfil do voluntário

Outra constatação da pesquisa foi que a maioria das pessoas que doa parte de seu tempo ao voluntariado trabalha – em período integral (51%) ou em meio período (14%).

A escolaridade dos voluntários foi outro item analisado na pesquisa: 38% dos entrevistados têm o Ensino Médio completo ou Superior incompleto, 20% possuem o Ensino Superior completo, 18% pararam os estudos entre a 4ª e a 7ª série do Ensino Fundamental, 16% têm o Ensino Fundamental completo ou o Ensino Médio incompleto e 10% têm no máximo até a 3ª série do Ensino Fundamental.

As mulheres realizam mais serviços voluntários do que os homens – 53% e 47%,  respectivamente. A classe C é a que mais se dedica ao trabalho voluntário (43%), seguida das classes AB, com 40%, e das classes DE, com 17%.

A primeira fase da pesquisa, realizada em junho de 2011,  consistia em conhecer a participação da população brasileira em ações de voluntariado. Foram ouvidas 2.002 pessoas. Já a segunda etapa do estudo, feita em novembro de 2011, traçou o perfil dos voluntários brasileiros. Nessa etapa, foram entrevistadas 1.550 pessoas maiores de 16 anos que realizam algum tipo de serviço voluntário.

Para acessar o estudo, clique aqui.

A Rede Brasil Voluntário, criada pelos centros de voluntariado de Curitiba, Florianópolis, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, tem como objetivo reconhecer e expandir o voluntariado no Brasil. Ela apoia cerca de 50 centros de voluntários e incentiva a criação de movimentos organizados e novos centros.

 

 

CPS-FGV – Pesquisa “De Volta ao País do Futuro: Projeções, Crise Europeia e a Nova Classe Média Brasileira”

A pesquisa “De Volta ao País do Futuro: Projeções, Crise Europeia e a Nova Classe Média Brasileira”, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), coordenada por Marcelo Neri, revela que a classe C deverá chegar a 60% em 2014. O estudo aborda a crise europeia, cenários de classes e suas desigualdades, até 2014, a felicidade futura da população mundial – e também os diferenciais de felicidade futura dos brasileiros e das brasileiras.

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Pesquisa: The New Generation of Community Foundations (A Nova Geração de Fundações Comunitárias)

Esta pesquisa, escrita Jenny Hodgson, Barry Knight e Alison Mathie, demonstra como as fundações comunitárias têm crescido nos últimos anos. O surgimento de uma nova geração de organizações da sociedade civil está ocorrendo em um contexto mais amplo no campo da solidariedade, com o aparecimento de formas híbridas de atuação. Publicado pela Global Fund for Community Foundations e pelo Coady International Institute, em março, o documento foi baseado em três fontes de pesquisa: 1) revisão da literatura sobre conceitos relacionados às fundações comunitárias e sua relação com a ampliação da chamada “economia social”; 2) observações empíricas de profissionais do setor; e 3) apresentação dos seguintes estudos de caso: Dalia Association, da Palestina; Waqfeyat al Maadi Community Foundation, do Egito; Amazon Partnerships Foundation, do Equador; Tewa – Nepal Women’s Fund, do Nepal; e Kenya Community Development Foundation, do Quênia.

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Relatório: The Value of Community Philanthropy (o Valor da Filantropia Comunitária)

Este relatório, escrito por Barry Knight, apresenta os resultados de pesquisa realizada pelas organizações americanas Aga Khan Foundation e pela Charles Stewart Mott Foundation em comunidades de Washington, Estados Unidos; Joanesburgo, na África do Sul; e Dhaka, Bangladesh. O estudo explora diferentes formas para estimular e desenvolver a filantropia comunitária como meio de contribuir para a sustentabilidade das organizações da sociedade civil. Também mostra maneiras de transformar a relação entre doadores e beneficiários para melhorar o desenvolvimento da filantropia.

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Livro “Um Dia de Captador” Mostra o Dia a Dia de Professional da Àrea

Livro de Marcelo Estraviz, lançado no Festival Latino-Americano de Captação de Recursos – FLAC 2011, reúne informações técnicas que vão ajudar no cotidiano do captador de recursos.

Livro “Um dia de captador” mostra o dia a dia do profissional da área

O presidente da Associação Brasileira de Captação de Recursos (ABCR) conta na publicação como o profissional da área busca parcerias e financiadores para sua organização. Além de narrar sua rotina, o autor oferece pílulas com informações teóricas e práticas para os captadores de recursos. Segundo ele, “a ideia é que as pessoas se identifiquem com essas questões do cotidiano, para colocarem em ação as sugestões”

Buscar parceiros, participar de eventos de arrecadação e fazer convênios com governos são alguns dos temas tratados no livro. Estraviz descreve as rotinas do captador no contexto da realidade brasileira. “Retratei um dia comum desse profissional em período de campanha de captação para sua entidade. No meio dessa trajetória, separei algumas pílulas muito úteis para o leitor”.

O livro também retrata dificuldades e curiosidades na atividade do captador de recursos. “Uma coisa muito curiosa no cotidiano do captador, é a solidão”, afirma Estraviz. “Às vezes o captador está em uma organização, mas não fala a mesma língua da entidade. Uma parte do livro se dedica a isso, sobre ele se sentir identificado com outras pessoas e captadores.”

Sobre o autor
Empreendedor social, palestrante e escritor. É presidente da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) e da associação de ex-alunos do Colégio Miguel de Cervantes; conselheiro da ONGs Trópis e Descentro; e embaixador da iniciativa The Hub no Brasil. É coautor do livro “Captação de diferentes recursos para organizações da sociedade civil”. Atua na área governamental, ocupando posições de direção em instituições e projetos ligados à Prefeitura de São Paulo, ao Governo do Estado de São Paulo e à União Europeia.

Serviço
Um dia de captador
Preço: R$39,90
Para comprar, clique aqui

 

 

Comunicação: Visibilidade e Captação de Recursos Para Projetos Sociais

Publicação de Marcio Zeppelini foi lançada no Festival Latino-Americano de Captação de Recursos – FLAC 2011. O livro reúne matérias e artigos ligados à comunicação e ao marketing voltados para a área social.

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O livro de Marcio Zeppelini e demais autores convidados, como Ader Assis Jr. e Rodrigo Alvarez, desenvolvido pela Zeppelini Editorial e coeditado em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas- SEBRAE, acaba de ser lançado em um dos maiores eventos de captação de recursos da América Latina, o FLAC 2011.

Os textos que estão na obra foram publicados na Revista Filantropia, especializada em  terceiro setor. São artigos de diversos autores que foram revisados e atualizados e divididos em cinco capítulos, apresentando informações sobre ferramentas de marketing que podem ser utilizadas para promover um projeto social de forma eficiente.

O objetivo do livro é proporcionar aos leitores estratégias de gestão da comunicação que possam incrementar as ações das instituições sociais, levando-as a profissionalização, cada vez mais presente no setor.

“A comunicação foi, é e sempre será o melhor meio de dar visibilidade e credibilidade a um projeto social e, consequentemente, isso contribui para a captação de recursos. É por essa razão que esta publicação traz matérias que já foram veiculadas na Revista Filantropia, ao longo de sua existência, sobre o valor e a atuação da comunicação no terceiro setor. Afinal, como nosso Chacrinha eternizou: “Quem não comunica, se trumbica”’ –  Afirma, Marcio Zeppelini, no texto de apresentação do livro.

A tiragem inicial foi de 3 mil exemplares. Destes, mil exemplares serão distribuídos pelo SEBRAE para bibliotecas de escolas de todo o País, o restante será colocado a venda nas livrarias.

Sobre o autor
Marcio Zeppelini é produtor editorial, jornalista e empreendedor, é editor da Revista Filantropia, diretor executivo da Zeppelini Editorial, diretor da Diálogo Social Treinamentos e apresentador e diretor de Jornalismo da rádio Tom Social. É também palestrante e consultor em comunicação e marketing para o Terceiro Setor e conselheiro da Associação Brasileira de Editores Científicos (Abec).

Serviço
Comunicação: Visibilidade e Captação de Recursos para Projetos Sociais
206 páginas
Preço: R$ 39
Onde comprar: www.zeppelini.com.br

 

 

Guia de Doações do Council on Foundations Tem Versões Impressa e Online

Site do Council on Foundations (COF) disponibiliza ferramenta on-line para orientar financiadores a partir de conteúdos do livro Grantmaking Basics – A Field Guide for Funders, de Barbara D. Kibbe, Fred Setterberg e Colburn S. Wilbur.

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Publicado em conjunto pela Council on Foundations e pela David and Lucile Packard Foudation, o livro é resultado de diversas experiências na área de grantmaking (doações) e dirigido a todo perfil de financiadores, sejam eles de uma comunidade, família, empresa, fundação ou do setor público.

Barbara Kibbe é diretora da David and Lucile Packard Foundation, Fred Setterberg é escritor de livros sobre temáticas do terceiro setor e Colburn S. Wilbur é administrador, ex-presidente e CEO da David e Lucile Packard Foundation.

A base para a produção do livro foram inúmeras entrevistas com profissionais que atuam na área de grantmaking e financiadores seniores americanos. A proposta da publicação é engajar, estimular, provocar e ajudar as pessoas na tarefa cotidiana para fazer do mundo um lugar melhor.

A obra aborda tópicos importantes para o financiador, como o papel e deveres do doador, o que constitui o sucesso no setor filantrópico, formas de monitoramento e avaliação de investimentos, convocação e concessão de doações, além de estratégias e tipos de doação.

Escrito em linguagem acessível para iniciantes, o livro é tanto uma ferramenta como um guia de referência cheio de boas ideias para todos aqueles que estão envolvidos no processo de doação de uma fundação, instituição e empresa. Funciona tanto como um manual para novatos na filantropia, que não tiveram treinamento ou experiência anterior, como um conjunto de recomendações úteis a profissionais experientes para o dia a dia de suas organizações.

O livro pode ser adquirido diretamente no site do COF, custando US$ para associados e US$ 65 para não membros do conselho.

Versão eletrônica – Já a página web Grantmaking Basics Online é uma ferramenta interativa de aprendizagem, que permite aos usuários avançados atualizar seus conhecimentos e aos iniciantes conhecer detalhes do processo de doação.

Este hot site do Council on Foundations é composto de 11 capítulos desenvolvidos a partir de conhecimentos práticos, contendo documentos, dicas, estudos de caso e quizzes, além de um glossário de termos técnicos e links para outros sites de referência.

Membros do COF têm duas modalidades de acesso aos conteúdos: como autodidata, pagando US$ 80, ou se inscrevendo no Mentor Program ao custo de US$ 125. Nesta última, um grantmaker experiente estará disponível para orientação e troca de experiências.

Não membros do COF podem participar do programa online mediante o pagamento de taxa única de US$ 295.

Para mais informações, www.grantmakingbasicsonline.org.

 

 

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Pesquisa Aponta que 1/4 de Brasileiros doa Dinheiro para Organizações Sociais

14/9/2010 – O World Giving Index, o estudo mais abrangente já realizado sobre doação no mundo, publicado hoje pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e Charities Aid Foundation (CAF), aponta que um quarto dos brasileiros doou dinheiro para as organizações sociais no último mês. (pesquisa disponível apenas em inglês)

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O que pode o Filantropo Esperar do Governo?

O diretor-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), Marcos Kisil, escreve sobre a relação entre o investidor social e os governos, especialmente no momento eleitoral pelo qual o Brasil passa. Ele questiona, por exemplo, o que os candidatos teriam a dizer sobre a articulação entre seus planos de governo e a participação da sociedade civil.

Em toda e qualquer sociedade democrática, o Estado em sua relação com a sociedade tem, de tempos em tempos, a mudança periódica de seus governantes. No momento pré-eleitoral que o Brasil está vivendo, seria justo perguntar aos candidatos e seus partidos de que maneira veem a filantropia ou o investimento social privado em seus planos de governo.

Seria uma indagação justa – e aparentemente singela – que permitira aos candidatos descrever como pretendem articular seus planos e metas sociais com a participação da sociedade civil, especialmente o seguimento que já assumiu sua responsabilidade individual e coletiva em favor do bem comum, por meio de doações de recursos. Infelizmente esta não é realidade que vivemos. O tema ainda não desperta o suficiente interesse de candidatos e de suas equipes que preparam seus programas de governo.

Esse descaso deve ser entendido sob diferentes perspectivas. A primeira – e mais importante – é a política. Desde a promulgação da Lei das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OCIPS), em 1999, durante o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, no atual governo Lula, não se aprovou nenhuma legislação que fosse realmente importante para o setor filantrópico, ou mesmo para as organizações da sociedade civil (OSCs).

Essa postura revela uma posição ideológica clara sobre o papel hegemônico e protagonístico do Estado em relação às questões sociais. A isso se soma a conduta utilitária que algumas OSCs se prestam ao receber, sem licitação, recursos de órgãos federais, tornando-se instrumentos de corrupção e de escândalos que envolvem recursos públicos.

Os casos recentemente trazidos à tona pela imprensa envolvendo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) colocam todo o setor em suspeição e descrédito perante a população. Assim, progressivamente, ao contrário do que ocorre em outras democracias, corremos o perigo de assistir ao afastamento da sociedade civil do Estado. Especialmente entre os investidores sociais, que podem deixar de acreditar no Estado como parceiro de interesse estratégico para o desenvolvimento social.

Esse distanciamento pode ser evidenciado em um simples fato: no ultimo congresso do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), realizado em abril de 2010, nenhuma autoridade pública compareceu ou foi convidada a participar de qualquer debate. Embora eu não tenha acompanhado o planejamento do evento, desacredito que os organizadores desejaram deliberadamente afastar os representantes de governos. Avalio que os doadores simplesmente creem mais em seus papéis de agentes independentes do desenvolvimento do que na eventual participação em parcerias governamentais.

Numa feliz oportunidade, pude participar, em julho, do congresso promovido pelo European Foundation Centre, em Bruxelas (Bélgica). A organização é equivalente ao GIFE na Europa.  Das 28 sessões que compunham a agenda do evento, nada menos que 15 contaram com representantes de governos ou da própria Comissão Europeia, incluindo seu próprio presidente, Durão Barroso.

Por que há diferença no tratamento entre lá e cá? Ou seja, quais os motivos para a relação entre filantropos e governos serem valorizadas na Europa e desvalorizadas no Brasil? É possível que os europeus hoje reconheçam a sociedade civil como um espaço estratégico para o avanço social, o que ainda não acontece em terras brasileiras.

Filantropia como caridade 

Além da questão ideológica estatizante, convém exaltar aspectos culturais e  econômicos próprios do setor. Ainda vivemos uma cultura de doações de caráter estritamente paternalista, amadora em muitos aspectos. Ela busca satisfazer necessidades básicas do ser humano, como alimentação, vestimenta e acesso aos cuidados de saúde e à educação básica de qualidade.

Esse tipo de filantropia, com seguidores dentro da sociedade civil, tem sido promovido extensivamente por instituições ligadas a diferentes igrejas. Por representar 2/3 das doações realizadas no Brasil, a cultura da caridade é importante dentro do mundo da filantropia. É interessante reconhecer que essa prática impregna também a destinação de verbas governamentais a diferentes programas de distribuição de renda, que servem para alavancar ambições políticas e de poder de certos políticos. Essas iniciativas pouco contribuem para as transformações sociais ainda necessárias em nosso país.

É inegável que a filantropia é consequência do modelo de uma economia de mercado que visa a acumulação de riqueza. Sem ela, porém, não existe a distribuição voluntária de recursos. Com a disseminação do conceito de Responsabilidade Social Empresarial (RSE), difundiu-se também o papel das corporações em distribuir parte de seus ganhos por meio de programas sociais. A necessidade do investimento social privado resultou num grande número de novos institutos e fundações de caráter empresarial nos últimos 15 anos. Sua importância pode ser evidenciada pelo simples fato de que hoje representam a maioria dos associados do GIFE.

Durante a última crise econômica mundial, iniciada em setembro de 2008, vimos esse investidor social empresarial oscilou. As aplicações de recursos variaram com as circunstancias econômicas. Muitos reduziram drasticamente suas doações, sendo que alguns chegaram a interrompê-las totalmente. São nas fases de crise, porém, que mais há necessidade de recursos para garantir os direitos básicos da cidadania.

Convém lembrar que o número de fundações corporativas dotadas de fundos patrimoniais é uma raridade no contexto brasileiro. A existência de um fundo representa sempre um compromisso de longo prazo e de crença no papel do investimento privado social voluntário.

Acreditamos que todos aqueles que representam lideranças e forças vivas do setor filantrópico e do investimento social devem enxergar na atual fase de campanha eleitoral a oportunidade de participar ativamente, em mobilizar candidaturas que assumam um compromisso político com setor, exigindo tratamento compatível com a sua importância para a consolidação da democracia e dos direitos fundamentais de todo e qualquer cidadão.

 

 

Pesquisa Analisa Sustentabilidade de ONGs Associadas à ABONG

Intitulado Sustentabilidade das ONGs no Brasil: acesso a recursos privados, a pesquisa da Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais (Abong) aponta como as organizações da sociedade civil a ela filiadas estão mantendo a sua sustentabilidade. Apesar de o levantamento qualitativo ter sido feito com 19 ONGs, o estudo indica um cenário em que os recursos da cooperação internacional estão cada vez mais diminuindo. A consequência é a procura por novas fontes financeiras, como os investidores sociais corporativos, familiares e individuais. A íntegra do estudo também está disponível no endereço www.abong.org.br.

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Pesquisa Discute Situação das Fundações Comunitárias e seu Papel no Desenvolvimento Local

Com base em 50 solicitações de apoio financeiro, o Fundo Global para Fundações Comunitárias (GFCF) elaborou um relatório em que retrata a situação das fundações comunitárias no mundo. Denominado Mais do que um Primo Pobre? A Emergência de Fundações Comunitárias como um Paradigma de Desenvolvimento, a diretora-executiva do GFCF, Jenny Hodgson, e o conselheiro do Fundo, Barry Knight, refletem como o investimento social comunitário pode criar um novo paradigma de desenvolvimento local. Eles também refletem sobre a emergência de fundações comunitárias nos últimos 15 anos em países do Sul, como Brasil e África do Sul. A versão em português teve apoio do Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom). A íntegra também está disponível no endereço http://globalfundcommunityfoundations.org/html/documents/more_than_poor_Portuguese.pdf.

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A Democracia e a Participação Como Resultado Da Mobilização Social

“A criação de uma cultura e uma ética democráticas requer a mobilização social, entendida como a convocação livre de vontades”. É com este pensamento que o filósofo colombiano José Bernardo Toro e a especialista em análise econômica, Nísia Werneck, introduzem o livro Mobilização Social – Um Modo de Construir a Democracia e a Participação.

A obra, publicada em 1996, discute o uso da mobilização social como estratégia para a construção do projeto ético já proposto na Constituição Federal do Brasil: a soberania, cidadania e a dignidade baseada nos valores pressupostos pelos direitos humanos.

O objetivo é sugerir e comentar, em pouco menos de 100 páginas, critérios e formas de conceber, planejar e executar esse tipo de convocação pública. O conteúdo, fundamentado na experiência da Fundación Social da Colômbia, divide-se em três partes:

  • Parte I: apresenta os conceitos básicos de mobilização social e debate o contexto ético de sua inserção e os princípios democráticos.
  • Parte II: ensina a estruturar e planejar uma mobilização, desde elencar os atores envolvidos à definição das estratégias e dos modelos de comunicação a serem utilizados.
  • Parte III: traz aspectos que o mobilizador precisa levar em conta de colocar o processo em prática, como preparação de materiais, momentos de convocação, resolução de dificuldades, sistematização e registro, entre outros.

O livro está disponível tanto para a venda quanto também pode ser baixado na íntegra no site da agência de mobilização social Aracati, de Fortaleza. A organização social procura contribuir para o desenvolvimento de uma cultura de participação juvenil no Brasil.

 

 

Lester Salamon analisa o Engajamento Social na América Latina

No novo livro ‘Rethinking Corporate Social Engagement – Lessons from Latin America’ (Repensando o Engajamento Social Corporativo – Lições da América Latina, em tradução livre), o professor da Universidade Johns Hopkins (EUA), Lester Salamon, avalia criticamente o engajamento social na América Latina atualmente, na relação entre comunidades, empresas e sociedade civil.

O diretor do Centro de Estudos da Sociedade Civil do Instituto Johns Hopkins de Políticas Públicas examina as práticas de responsabilidade social de empresas em cinco países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México. Para ele, as comunidades locais e a sociedade civil são capazes de influenciar essa atuação.

Reprodução: Capa do novo livro de Lester Salamon

O livro divide-se em sete capítulos, nos quais o autor trata da profissionalização do setor, a participação, o desenvolvimento de parcerias e a penetração das companhias estrangeiras no engajamento local.

Logo na introdução, Salamon questiona se na região está surgindo a nova Aliança para o Progresso, em referência à política do governo de John Kennedy, de 1961, que visava promover o desenvolvimento econômico local por meio de apoio técnico e financeiro. A iniciativa durou 12 anos.

Disponível apenas em inglês, a obra pode ser encontrada em livrarias internacionais.

 

 

PNUD Analisa Desigualdade Social na América Latina

Novas estimativas do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ajustadas às dimensões da América Latina e Caribe, indicam que a desigualdade é ainda maior quando os países são comparados à realidade da região. O Relatório Regional sobre Desenvolvimento Humano para a América Latina e Caribe 2010 – Atuar sobre o futuro: romper com a transmissão intergeracional da desigualdade, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em julho, mostra que como as políticas públicas devem atuar para quebrar o círculo de perpetuação da pobreza que ocorre de geração para geração. A íntegra da pesquisa, com 209 páginas em espanhol, pode ser acessada no site do IDIS. O material também está disponível no site do Pnud, pelo link http://www.idhalc-actuarsobreelfuturo.org/site/informe.php.

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Fundos Patrimoniais e a Perenização da Ação Filantrópica

A diretora de Administração e Finanças da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), Paula Fabiani, escreve sobre a relação entre fundos patrimoniais e a perpetuação das organizações da sociedade civil. Ela destaca a necessidade do aumento desse tipo de fundo no Brasil. Paula é economista, formada pela Universidade de São Paulo, com MBA na New York University, especialização em Endowment Asset Management pela London Business School e pela Universidade de Yale. Ela integra o Comitê de Governança Corporativa do Terceiro Setor do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.

Fundos patrimoniais (FPs) são estruturas criadas para dar sustentabilidade financeira a uma organização sem fins lucrativos. Em sua maioria, os FPs nascem com a obrigação de preservar perpetuamente o valor doado (chamado de principal), utilizando apenas para sua manutenção e atividades os rendimentos resultantes do investimento desse fundo, de acordo com regras pré-estabelecidas, que podem estar descritas no estatuto da instituição.

Os FPs mais conhecidos são os endowments (espécie de fundo patrimonial) de grandes universidades americanas. Veja os exemplos de duas universidades norte-americanas: Harvard, em Cambridge, Massachussetts, e Yale, em New Heaven, Connecticut. Em 2009, seus fundos patrimoniais eram de, respectivamente, US$ 25 bilhões e US$ 16 bilhões – aproximadamente R$ 45,3 bilhões e R$ 29 bilhões1.

As estratégias de investimento desses patrimônios são acompanhadas com grande interesse pelo mercado financeiro internacional. Uma característica da gestão é o foco no longo prazo e a diversificação dos investimentos (aplicação em vários ativos como bolsa de valores, títulos do tesouro, fundos multimercados, entre outros) e tem apresentado resultados expressivos. Nos últimos anos dez anos, Harvard teve retorno anual de 9% e Yale, de 12% – o investimento em títulos do governo americano de curto prazo, por exemplo, rende atualmente 0,25% ao ano.

Na América Latina, em contrapartida, a maioria dos países não possui uma legislação que promova o estabelecimento de FPs. No Brasil, alguns pontos merecem destaque:

  • A legislação referente a doações não prevê benefícios fiscais para o estabelecimento de fundos patrimoniais nas organizações da sociedade civil (OSCs). Na maioria dos países da Europa e nos Estados Unidos, as doações dessa natureza e os rendimentos dos fundos não sofrem tributação.
  • O sistema bancário brasileiro não prevê a figura do Trustee – figura que administra a propriedade, neste caso o FP, em nome do beneficiário. Na Europa e EUA, os bancos podem atuar como zeladores das regras estabelecidas para os fundos patrimoniais, o que dá segurança ao doador que destina os recursos para utilização perpétua.
  • A cultura do investidor social brasileiro é mais voltada ao curto prazo, sendo pouco comum a preocupação em deixar um legado social que transcenda a geração do doador.
  • A própria definição de fundo patrimonial na legislação brasileira prejudica a ampliação do conceito. Esses recursos são tratados apenas como uma reserva técnica2, um valor suficiente para cobertura das atividades por um período curto, como um ano fiscal. Não se pensa a perpetuidade

Aprimoramento 

O aumento do número de FPs é de grande importância para o fortalecimento do terceiro setor no país. No ano de 2009, uma série de instituições do terceiro setor reduziu suas atividades devido à escassez de recursos privados em virtude da crise financeira, emergida em setembro de 2008.

A existência de um FP diminui a variabilidade das receitas de uma organização, promove o planejamento de longo prazo e fortalece a viabilidade da instituição do ponto de vista operacional3. É um veículo que garante a sustentabilidade, especialmente para as instituições cujos propósitos que requerem projetos de prazos extensos para apresentar resultados. A prática ainda pereniza a ação do investidor social privado que busca deixar um legado para a sociedade.

O Brasil precisa de novos mecanismos para resgatar a credibilidade e impulsionar seu terceiro setor. As discussões sobre o Marco Legal do Terceiro Setor devem abranger melhorias no sistema tributário e regras mais claras para o estabelecimento de FPs.

Investidores sociais e governantes que pensem estrategicamente no longo prazo devem assumir o papel de protagonistas na construção de novas estruturas que fortaleçam o papel do capital privado no processo de mudança social e ambiental do país. Cabe à sociedade civil, em especial aos investidores sociais privados e os receptores dos recursos, cobrarem do poder público um maior debate sobre o tema.

Fontes: 

1) Harvard Management Company Endowment Report 2009 e The Yale Endowment Report 2009
2) Paes, José Eduardo Sabo. Fundações, Associações e Entidades de Interesse Social. Forense, 2010
3) Swensen, David S.. Pioneering Portfolio Management – An unconventional Approach to Institutional Investment. Free Press, 2000

CO-FUNDING, UMA ESTRATÉGIA DE SINERGIA NO INVESTIMENTO SOCIAL

Em artigo, Marcos Kisil, presidente do IDIS, apresenta o co-funding, uma nova forma de contribuir para a transformação social, em que investidores sociais se unem para atuar de maneira estratégica e sinérgica.

Marcos KisilA realidade social brasileira é complexa, as demandas sociais são muitas e os recursos privados destinados a atendê-las são limitados. Diante desse cenário, a criação de parcerias sustentáveis para tornar os investimentos sociais mais eficientes é urgente. Um dos mecanismos para isso é o co-funding, uma forma de fazer de investimento social, que começa a ser adotada no Brasil, com o objetivo de aglutinar recursos e esforços, de forma inteligente, em prol de projetos comunitários.

Mecanismos

Existem três maneiras de realizar co-funding. No primeiro caso, duas ou mais organizações decidem alocar recursos em uma mesma comunidade, mas com objetivos distintos. Assim, por exemplo, uma instituição está preocupada em apoiar os idosos e a outra, as crianças. O fato de existirem dois projetos na comunidade permite uma sinergia local. Os programas podem incitar ações como valorizar a participação comunitária, o desenvolvimento da liderança local ou melhorar o relacionamento entre as organizações que estão recebendo dinheiro. Isso não quer dizer mais ou menos recursos para cada uma delas. É uma oportunidade de se travar um diálogo entre elas para desenvolver as ideias de forma complementar e gerar benefícios sociais decorrentes de oportunidades conjuntas de desenvolvimento, embora com objetivos diferentes.

O segundo tipo de co-funding acontece quando existem dois projetos com foco de atuação similar, mas com preocupações finais diferentes. Para exemplificar, podem-se imaginar duas entidades interessadas em crianças com idades entre 4 e 5 anos, sendo que uma deseja melhorar sua infraestrutura física e outra a qualidade da educação por meio da capacitação dos profissionais. Apesar de serem projetos financiados e gerenciados por grupos distintos, eles se somam no interesse da criança: um novo espaço para uma nova escola de qualidade.

O terceiro movimento ocorre quando duas organizações estão de acordo com o mesmo projeto e, portanto, juntam esforços para realizá-lo. Trata-se da mesma comunidade, do mesmo grupo etário e da mesma proposta de mudança. Nessa situação, existe uma boa simbiose entre os dois doadores. As organizações desde o início trabalham juntas para a fase de diagnóstico situacional, planejamento, desenvolvimento da proposta de trabalho, preparação de orçamento (que contempla claramente o papel de cada um no financiamento das ações), ou no todo do projeto, quando somam seus recursos.

Fruto do acaso

Em geral, quando uma dessas três situações ocorre no Brasil, ela é fruto de um processo casuístico, não planejado. Isso porque a maioria das organizações que atuam como investidores sociais tem o hábito de desenvolver seus próprios projetos – e, especialmente, se elas têm origem empresarial. É comum ver a entidade “A” financiar sua ação, conforme suas necessidades e para apoiar sua imagem institucional. O problema desse tipo de iniciativa é que é facilmente descontinuada. Quem vai querer continuar o financiamento de um programa ou projeto que está ligado à imagem de outra empresa que o apoiou financeiramente antes?

Quando duas organizações trabalham juntas, por outro lado, não existe a “propriedade” do projeto. Como decorrência, as chances de que a ideia seja sustentável e consiga obter novos financiamentos são ampliadas.

Bons exemplos

Algumas experiências de sucesso no co-funding começam a despontar no cenário nacional. O caso mais comum é quando entidades unem-se em torno de uma determinada causa. Aí, existe um conjunto de doadores que não aparecem individualmente, pois estão reunidos não para projetar seu nome ou bandeira de interesse, mas para fazer da causa objeto da sociedade.

Uma área que vem aglutinando múltiplos atores é a educação. O Movimento Todos pela Educação, por exemplo, tem o apoio do Banco Real, da Dpaschoal, da Odebrecht, da Fundação Itaú Social, da Gerdau, do Instituto Camargo Corrêa, da Fundação Bradesco e da Suzano, entre outros. O Fundo Juntos pela Educação, por sua vez, foi criado em 2004, pelo Vitae, Instituto C&A e Instituto Arcor Brasil. Nesse caso, o interessante é que o Vitae saiu da iniciativa, mas os outros dois continuaram, comprovando a sustentabilidade do projeto.

3 passos para o co-funding

Para pensar em co-funding é necessário identificar investidores sociais que estão atuando com o mesmo foco, com especificidades comuns (seja a causa, a área geográfica ou a forma de intervenção) e com o interesse genuíno em ações colaborativas e em parceria. São 3 os passos para uma ação efetiva:

1) Acordar o objectivo: é fundamental definir os propósitos do investimento. Eles devem ser amplos o suficiente para angariar apoiadores, mas específicos o suficiente para ter ações concretas. É importante que as ações estejam alinhadas e claras para o parceiros para que os resultados esperados sejam alcançados.

2) Buscar escala para cumprir os objetivos: é preciso considerar que impacto se está buscando e os fatores críticos de sucesso, avaliar a capacidade de financiamento dos parceiros e, se não for suficiente, avaliar o que pode ser feito.

3) Medir o successo: estabelecer mecanismos para mensurar o êxito da iniciativa em relação aos objetivos propostos, incluindo medidas intermediárias de processo que irão indicar se o projeto está ou não na rota correta. É importante também avaliar como se desenvolve a parceria por meio do co-funding. Os investidores devem apresentar uma posição comum em relação à entidade receptora dos recursos de ambas.
Alguns fatores críticos de sucesso são:

  • Objetivos, métodos e valores comuns e claros;
  • Honestidade em relação ao interesse dos diferentes doadores, da entidade receptora dos recursos, da comunidade a ser atendida em suas necessidades e em todo o processo decisório.
  • Tempo suficiente para acordar a logística e funcionamento da iniciativa;
  • Disponibilidade para comprometer recursos;
  • Persistência na implantação;
  • Relacionamento e fortalecimento das relações pessoais;
  • Comunicação constante e clara.

 
Tendo todos os esses processos e elementos em mente na hora de fazer co-funding, a probabilidade de provocar uma transformação social positiva nas comunidades é alta. Estão todos convidados a tentar!

 

 

Aliança por Recursos

O coordenador no Brasil da Aliança Estratégica The Resource Alliance/Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), Rodrigo Alvarez, demonstra alguns dos caminhos a serem percorridos para se aumentar a disponibilidade de recursos para o investimento social no país. No artigo, ele explica como a aliança entre a The Resource Alliance e o IDIS chega para potencializar a mudança. O especialista possui 14 anos de carreira no setor.

Como aumentar o volume de doações no Brasil e atuar estrategicamente para gerar impacto profundo e contínuo no setor social? Para tentar atender a essa demanda iminente e responder à questão, o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social e a The Resource Alliance estabeleceram uma aliança no país.

Há poucas estatísticas que indiquem a quantidade de recursos que os investidores sociais brasileiros aplicam em projetos socioambientais. De acordo com o cruzamento de dados de pesquisas da Universidade John Hopkins e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), empresas e indivíduos doaram ao chamado terceiro setor R$ 7 bilhões, o que representa meros 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a quantidade de riqueza produzida.

Na América Latina, o nível de aplicação comparado à riqueza local chega a 0,4%. No mundo, é de 0,8%. Pela sua importância no cenário econômico latino-americano e mundial, o Brasil tem alto potencial.

Se analisarmos a evolução das doações, vemos o abismo entre a quantidade de recursos aplicados por empresas e por indivíduos. Ainda segundo as mesmas fontes de dados, as empresas, em 1995, investiram R$ 1 bilhão, enquanto em 2007 o valor saltou para R$ 6 bilhões – aumento de 16% ao ano. Entre os indivíduos, manteve-se sempre no mesmo patamar: R$ 1 bilhão anual.

Uma possível explicação seria o fato de a elite brasileira, detentora em sua maioria de grupos empresariais familiares, canalizarem seus investimentos sociais pelas suas corporações. O cenário legal do país também não é muito favorável à prática: nos Estados Unidos, as heranças direcionadas a fundações familiares ou individuais não pagam imposto sobre a transmissão – se o direcionamento for parental, a taxação é de 50%. Isso talvez ajude a explicar a existência de 75 mil fundações norte-americanas, sendo apenas 3,3% delas corporativas e 90% classificadas como independentes, segundo a organização norte-americana Foundation Center.

No Brasil, o cenário é diferente:

  • De 10% a 20% do total de doações utiliza incentivo fiscal.
  • 75% das doações deduzidas do imposto de renda direcionam-se à cultura, por meio de lei de incentivo.
  • Se os indivíduos usufruíssem plenamente dos incentivos, de acordo com informações da Rceita Federal, estima-se que os recursos vindos desse público passariam de R$ 1 bilhão para R$ 3,9 bilhões por ano.

Assim como o perfil do filantropo evoluiu nas últimas duas décadas – e tende a se aprimorar ainda mais enquanto investidor social –, as organizações da sociedade civil (OSCs) precisam mudar antigas práticas e paradigmas para se perpetuar na nova realidade mundial.

Segundo Mapeamento das Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos (Fasfil), de 2002, das 276 mil OSCs existentes no Brasil, 62% nasceram durantes os anos 90, sendo financiadas prioritariamente pelo Estado, por empresas e pela cooperação internacional.

A partir de 2000, acontece a reviravolta: as grandes empresas passam a ser cada vez mais investidoras sociais privadas, ou seja, encaram a doação como elemento estratégico para o seu negócio e se preocupam cada vez mais em planejar, avaliar impacto e focar resultados. As organizações deixam de receber meras doações e patrocínios e ingressam como parceiras e prestadoras de serviço, executoras de um planejamento pré-determinado.

Os governos, por sua vez, passaram a ser cada vez mais seletivos, exigindo capacidades e habilidades complexas dessas instituições enquanto prestadoras de serviço. A cooperação internacional dá cada vez mais sinais de que diminuirá sua atuação no país, buscando nações mais prioritárias para investimento, como as da África.

Tudo isso leva a crer que uma nova onda de desenvolvimento do terceiro setor se inicia na segunda década do século XXI e, certamente as OSCs terão que reinventar – ou começar a inventar – a forma como mobilizam os recursos para suas causas.

De olho nos fatos, o IDIS e a Resource Alliance direcionam seus esforços para colaborar com a profissionalização da captação de recursos, aliando as necessidades do investidor social às capacidades de atendimento e execução das instituições. Três temas são prioritários: capacitação das OSCs, com oferecimento de cursos de curta e longa duração; fomento ao desenvolvimento de pesquisas sistemáticas; prestação de consultorias; e produção e disseminação de conteúdo sobre o tema.

Onde avançar

Das 276 mil organizações socioambientais brasileiras, apenas 2% possuem mais de 50 funcionários e 77% não remuneram seus profissionais. A Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), por exemplo, conta com 500 associados – a maioria trabalha parcialmente na captação de recursos ou está iniciando na área.  AAssociation of Fundraising Professionals (AFP), similar norte-americana, possui cerca de 35 mil filiados.

Na questão da plataforma de intermediários, precisa-se avançar no desenvolvimento de um mercado de fornecedores de serviços para o setor social. Por exemplo, desenvolvimento de consultorias especializadas, formação de profissionais de comunicação e criação de inteligência em marketing direto para potencializar as doações são demandas urgentes e reais para se constituir um mercado ainda incipiente.

Outro ponto é atingir as pessoas em larga escala. Doadores individuais representam de 70% a 80% das doações para o terceiro setor em diversos países. No Brasil, esse montante não chega a 15%.  É possível contar pouco mais de 20 organizações brasileiras realizando campanhas de massa arrecadação de recursos. Mais uma vez, é a capacitação dos profissionais de captação que pode dar início ao fomento desse mercado.

Por esses motivos, nosso foco está em fortalecer a capacidade das instituições como estratégia prioritária e central da parceria. Acreditamos haver um tremendo potencial a ser aproveitado. E cremos que profissionais de mobilização de recursos são os agentes estratégicos capazes de fazer a diferença.

 

 

Pesquisa Analisa Grau de Avaliação dos Projetos Sociais de Empresas

Apenas 16% das empresas avaliam seus projetos sociais (de um universo de 95 mil estabelecimentos) e aquelas que o fazem, realizam com o objetivo de conhecer os resultados dos investimentos sociais, de aprimorar a gestão e de impulsionar os programas e projetos. Essas são algumas das conclusões da pesquisa Cultivando os Frutos Sociais – A Importância da Avaliação nas Ações das Empresas, conduzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), com apoio da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). A investigação integra a Pesquisa Ação Social das Empresas, uma série de análises sobre o comportamento do investimento social corporativo. A terceira edição aprofunda o conhecimento sobre as práticas de avaliação das empresas. A amostra baseou-se no levantamento de 2006, somada à pesquisa de campo realizada entre 2007 e 2008. A íntegra do estudo pode ser baixada do site do IDIS ou acessada no site http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/livros/2009/Livro_Cultivando_Frutos_Sociais.pdf.

Clique aqui para obter o arquivo

 

 

IPEA Divulga 4º Relatório de Acompanhamento dos ODMS

Em março, o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) publicou a 4ª edição do Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), em conjunto com a Presidência da República. O documento, de 182 páginas, mostra como o país tem evoluído no cumprimento das metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas. A maior parte dos dados baseia-se levantamentos de 2007 e 2008. É possível constatar, por exemplo, que o Brasil atingiu a metas de combater a doenças como Aids e malária, e está prestes a reduzir a mortalidade infantil em dois terços, além de poder conseguir acabar com a extrema pobreza. A íntegra do estudo também está disponível no site www.ipea.gov.br/sites/000/2/ftp/RelatorioODM-final.pdf.

Clique aqui para obter o arquivo

 

 

A Importância das Pequenas Doações em um País Grande (Tradução Livre)

Em artigo (disponível apenas em inglês), a diretora de Educação do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), Helena Monteiro, destaca o potencial das pequenas doações (individuais ou não) em um país tão grande como o Brasil. Nos últimos 20 anos, a nação tem crescido e desenvolvido mais o seu investimento social. O artigo foi originalmente publicado na revista Alliance, em março de 2010. A Alliance, em parceria com a Avina e o Instituto de Comunicación y Desarrollo (ICD), oferece assinaturas eletrônicas gratuitas para profissionais que atuam no setor na América Latina. Para mais informações e cadastro visite: http://www.alliancemagazine.org/en/content/free-electronic-subscriptions-latin-america-0.

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Marketing Social: um Caminho para o Investidor Social

A diretora de Desenvolvimento Institucional do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), Marcia Kalvon Woods, explica por que o marketing social pode ser uma ferramenta para investidores sociais alavancarem uma causa, além de colaborar para a conscientização da sociedade.

Esclarecer. Convencer. Mudar o comportamento. O marketing social é uma gestão de processos de marketing e de comunicação capaz de levar um público à adoção de novas posturas, criando ou aprimorando a consciência social sobre uma determinada causa. Não se trata apenas de utilizar a ferramenta como forma de persuasão para a venda de um produto ou de um novo modismo. Vai muito além.

Stock.xchng: Não fumeO marketing social é uma tática bastante utilizada pelos governos para mobilizar pessoas. Um exemplo é imunização de 91 milhões de pessoas no Brasil contra a gripe A. Sem campanhas de esclarecimento sobre a vacinação, propaganda em diversos meios de comunicação e divulgação em postos de saúde e junto à imprensa, certamente o Ministério da Saúde seria pouco eficaz.

Empresas e organizações da sociedade civil também fazem uso da estratégia. A Avon lançou em 2009, por meio de seu instituto, a campanha Fale Sem Medo – Não à Violência Doméstica, para divulgar a Lei Maria da Penha, de combate à violência doméstica contra as mulheres. Um problema que atinge uma em cada três mulheres no mundo, de acordo com estimativa da Anistia Internacional e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Alto Impacto 

A ferramenta é de grande utilidade junto a desafios socioambientais, cujas soluções envolvem grandes transformações. No Brasil, causas não faltam: alto índice de gravidez na adolescência (uma em cada cinco mulheres grávidas possui entre 10 e 19 anos); tabagismo (responsável pela morte de 200 mil pessoas por ano – ou 23 por hora), preservação do restante da extensão original da Mata Atlântica (5%), entre outras.

Para o investidor social, a ferramenta pode ser uma aliada no ganho de escala da causa abraçada. Mas, para isso, sua aplicação precisa ser planejada, definida, implantada e avaliada, como ocorre com o investimento social. O resultado pode variar. Portanto, é necessário ter claro o efeito desejado: informação, ação, mudança de comportamento ou modificação de valores.

No planejamento, um dos primeiros passos é segmentar o público que se pretende atingir, utilizando características sociodemográficas, psicológicas e comportamentais. Em seguida, é importante determinar o problema ou a oportunidade para a mudança de foco, definindo os objetivos. Aqui é importante agir como um “advogado do diabo”, questionando a validade do que é proposto. A mensagem possui apelo junto à sociedade ou ao público-alvo? As pessoas estão dispostas a mudar o próprio comportamento?

Também é fundamental identificar os grupos capazes de apoiar a campanha. Se o público-alvo é criança, há de se considerar os pais, por exemplo. Com base em tudo isso, deve-se definir as estratégias e os canais.

Além da comunicação 

Quando se fala da adoção de um novo comportamento, dependendo da profundidade da mudança a ser provocada, a estratégia deve ir além da comunicação. Pode ser necessário envolver uma intervenção interpessoal ou até alterar leis e promover mudanças econômicas.

Stock.xchng: Proibido beberPara citar um exemplo, pode-se pensar na “Lei Seca”, medida nacional que pune severamente quem dirige após ingerir bebidas alcoólicas. Em São Paulo, um levantamento da Secretaria de Estado da Saúde apontou que o número de atendimentos a vítimas de acidentes de trânsito nos hospitais estaduais paulistas foi 49,2% menor nos dois primeiros meses após entrar em vigor (em junho de 2008), quando comparado ao período imediatamente anterior. A estatística não informa com exatidão se a redução refere-se a acidentes provocados por motoristas embriagados.

A aparente mudança do comportamento foi garantida pelo aprimoramento da legislação e das fiscalizações policiais e exames de bafômetro. Isso vai bem além de inserir a mensagem “se beber não dirija” nas campanhas de comunicação de produtos alcoólicos.

Na estratégia de marketing social, é essencial elencar todos os meios necessários e disponíveis para a veiculação da mensagem, de forma que todos os custos enquadrem-se ao orçamento. Em marketing social deve-se calcular também a economia que representa a mudança do comportamento, para analisar criticamente os investimentos necessários.

Depois de implementada, a ação deve ser monitorada e avaliada. A etapa é fundamental para analisar o quanto o apelo está sendo efetivo e, se necessário, corrigir desvios.

Na atual sociedade da informação, o bombardeio de mensagens é constante e vem de todos os lados. Direcionar corretamente e atuar com parcimônia podem ser caminhos para garantir a efetividade de uma ação de marketing social. E, assim, promover a transformação social.

 

 

Mais de 90% das Organizações Avaliam Projetos, Aponta Levantamento

Pesquisa do Instituto Fonte com a Fundação Itaú Social indica que, nos últimos 5 anos, 91% das organizações brasileiras da sociedade civil que atuam com projetos sociais utilizaram a avaliação como ferramentas de análise de suas iniciativas.

O estudo A Avaliação de Programas e Projetos Sociais de ONGs no Brasil foi realizado pelo Instituto Paulo Montenegro e pelo Ibope Inteligência entre os meses de julho e setembro de 2009 junto a 363 instituições.

O objetivo foi de mapear quanto e como as organizações brasileiras avaliam seus projetos e conhecer motivações, desafios e tendências no setor. A amostra abrange todas as regiões do país e seu perfil foi selecionado com base nos critérios da pesquisa Fundações e Associações Privadas sem Fins Lucrativos no Brasil (Fasfil), de 2005, e na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do governo federal.

As instituições responderam a um questionário estruturado de autopreenchimento pela Internet, dividido em dois blocos: o primeiro com perguntas gerais e o segundo com questões para as instituições que afirmaram ter feito ao menos avaliação de um projeto – formando uma base de 574 projetos analisados.

A maioria das organizações (53%) do universo pesquisado concentra-se na região Sudeste, possui até 9 colaboradores (63%) e 76% se formaram a partir de 1991. Mais da metade (58%) são apenas executores de projetos.

O estudo mostra que 80% das instituições consideram a avaliação uma ferramenta muito importante e que 96% pretendem utilizá-la para realizar análises futuras de seus projetos. No questionário, a maioria (79%) considerou que um dos atributos da avaliação é ser parte essencial do processo de planejamento estratégico, além de ajudar a melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo projeto (77%).

Contudo, a análise dos dados indica que 33% dos pesquisados ainda usufruem do modelo apenas como uma ferramenta de promoção dos projetos – para promovê-los positivamente ou empregar os resultados para atrair financiadores e recursos.

Porém, o número não é tão distante do total de instituições que a utilizam como ferramenta estratégica: 26% procuram usar os resultados da avaliação como meio para tomar decisões e melhorar a qualidade dos serviços.

A partir de todas as informações, os analistas concluem que mesmo não sendo mais necessário advogar sobre a importância de se avaliar projetos sociais, é significativo observar que sua finalidade vai além. Quando o foco é no processo, a avaliação potencializa o compartilhamento de saberes entre toda a equipe, que, posteriormente, poderá aplicar os aprendizados em potenciais mudanças. É uma mudança de postura.

A íntegra do relatório da pesquisa está disponível nos sites do Instituto Fonte e da Fundação Itaú Social.

Fundação DD Lança Guia das Melhores Practicas de Governança Voltado para o Terceiro Setor

Em seu terceiro texto institucional no Portal do Investimento Social, a Fundação Banco do Brasil (FBB) destaca nova publicação, Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais, feito em parceria com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Divulgação: Logomarca da Fundação Banco do BrasilA expansão do investimento social privado no Brasil ampliou o número de institutos e fundações empresariais dedicados à questão. Com a parceria da Fundação Odebrecht e Instituto Camargo Corrêa, a Fundação Banco do Brasil acaba de lançar o Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE).

A publicação tem o objetivo de oferecer aos dirigentes de fundações e institutos empresariais uma referência para a adoção das melhores práticas de Governança em suas organizações, consolidando as orientações do IBGC e as práticas do GIFE sobre o tema.

O Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC é uma referência para o mundo corporativo. No entanto, devido às peculiaridades do terceiro setor, tornou-se necessário um guia específico para as organizações do segmento e o guia veio para atender a essa demanda.

Reprodução: Capa do Guia de Melhores Práticas de GovernançaOs princípios básicos da Governança Corporativa, como transparência, equidade, responsabilidade corporativa e prestação de contas, podem ser aplicados no mundo corporativo e nas organizações do terceiro setor. Ainda assim, é necessário um olhar mais específico para que organizações não governamentais possam adotar as melhores práticas de Governança.

A obra destaca o crescimento da sociedade civil organizada, nas últimas décadas, o que engajou empresas no papel tanto de financiadoras como de realizadoras de investimento social  privado. Além disso, ressalta que as práticas de Governança assumiram um importante instrumento de autorregulação em todos os setores. O download do arquivo em PDF da publicação pode ser feito no portal da Fundação.

 

 

Retorno Econômico de Projetos Sociais Corporativos: Limites de Avaliação

A consultora e professora de avaliação de projetos sociais corporativos Maria Cecília Prates Rodrigues analisa o quanto pode ser frágil a metodologia de avaliar os projetos sociais corporativos sob a perspectiva do retorno financeiro, uma vez que os impactos nem sempre podem ser traduzidos em dados monetários confiáveis. Maria Cecília é autora dos livros Ação social das empresas: como avaliar resultados? (FGV, 2005) e Projetos sociais corporativos: como avaliar e tornar essa estratégia eficaz (Atlas, 2010).

Frequentemente vejo as empresas argumentarem que deveriam adotar para os seus projetos sociais a mesma lógica de avaliação utilizada em seus projetos econômicos. Essa lógica baseia-se no fluxo de caixa entre receitas e despesas.

A justificativa para o argumento estaria na objetividade do critério custo-benefício (retorno econômico) que, ao monetizar os impactos sociais, ou benefícios, do projeto e compará-los a seus custos, possibilitaria uma análise sem subjetivismos e “sem paixões”. Uma razão bem ao gosto do setor privado e dos potenciais investidores sociais.

Particularmente, não defendo essa abordagem por um motivo essencial: em projetos sociais, o uso do critério de eficiência, baseado na análise do custo-benefício, só é viável mediante a adoção de uma série de hipóteses. Evidentemente que se deve levar em consideração as experiências e o bom senso do avaliador. Mas há de se reconhecer que, por mais competente que ele seja, existem pressupostos estatisticamente “fortes” e com razoável margem de erro.

Arquivo pessoal: Maria Cecília Prates RodriguesAssim, questiono o grau de confiabilidade da estimativa do retorno econômico, devido à sequência de hipóteses que são necessárias para o seu cálculo e a possibilidade de potencialização de erros em cadeia.

Isso pode ser ilustrado com um exemplo bastante simples. Imagine um projeto de reforço escolar para adolescentes que estão no Ensino Médio de uma escola pública, com dificuldade de aprendizagem. Numa avaliação do impacto social entre o público alvo, constatou-se que, em média, os jovens participantes tinham 12% a mais de chance de ingressar na universidade em relação àqueles que não participavam.

É sempre bom lembrar que estimativas como essas já estão sujeitas a alguns erros quase impossíveis de serem tratados estatisticamente. O principal é o fato de que as características dos adolescentes que compõem o “universo do experimento” são, de antemão, distintas daquelas do “universo do controle”. E, nesse caso, não há como julgar com margem de precisão razoável até que ponto foram as características individuais e/ou familiares do conjunto dos adolescentes participantes do projeto que, na realidade, explicaram a sua entrada  na universidade – e não propriamente o projeto de reforço escolar, ao qual foi imputado efeito positivo de 12%.

Como se vê, as avaliações sociais de impacto já convivem com uma (primeira) hipótese metodologicamente “forte”: a de que se consegue controlar as diferenças do pré-projeto entre os grupos do experimento e de controle. Mas outros pressupostos ainda devem ser acrescidos para viabilizar a estimativa do retorno financeiro. Voltemos ao exemplo.

Custo-benefício

Baseado em pesquisas de âmbito nacional, a segunda hipótese trata da elevação da renda desses adolescentes que tiveram 12% a mais de chance de ingressar na universidade depois de passar pelo curso de reforço escolar. No Brasil de hoje, quem completa o Ensino Superior recebe, em média, rendimentos três vezes maior do que a pessoa que completa apenas o Ensino Médio.

Considerando que a região em que o projeto foi desenvolvido era relativamente pouco dinâmica, essa hipótese foi adaptada, supondo que o rendimento médio dos jovens com grau universitário seria duas vezes superior ao daqueles com o Ensino Médio. De antemão, não se pode esquecer também dos fatores limitadores desse pressuposto, pois o nível de escolaridade é apenas um dos aspectos que explicam os diferenciais de renda. Outros devem ser considerados, como as conjunturas local e setorial, a formação profissionalizante, as características individuais e as redes de contatos.

Para poder estimar o fluxo de caixa desse projeto social, outras duas suposições devem ser incluídas. A terceira diz respeito à trajetória do benefício: como se daria o recebimento da renda mais elevada por aqueles beneficiários do projeto que completaram a universidade? Para fins de estimativa, foi necessário admitir que isso ocorreria ao longo de toda a vida produtiva do participante, em torno de 35 anos.

Também aqui entram em cena os fatores limitadores de antes. Como garantir que aquele diferencial inicial de renda é capaz de se sustentar ao longo dos 35 anos? Sem falar que o poder de influência da ação social tende a perder força ao longo do tempo, frente a tantos outros fatores circunstanciais na vida das pessoas.

Se, por um lado, os ganhos de rendimento propiciados pelo projeto social estariam distribuídos em 35 anos, por outro, os seus custos de implantação e operacionalização ficaram concentrados na fase inicial, possivelmente nos seus primeiros dois anos. Portanto, para viabilizar a comparação entre as rendas e as despesas geradas, todos os valores foram deslocados para uma única data, de modo a estimar o Valor Presente Líquido (VLP) do projeto. Decorre daí a quarta hipótese, referente ao valor da taxa de desconto adotada (de 6% ao ano) para estimar o fluxo de caixa da ação social.

No exemplo em questão, a expectativa seria de que, ao final da análise, o VPL (ou o retorno econômico) do projeto social ficasse positivo, indicando que os benefícios gerados foram maiores do que os custos incorridos.

Se na análise o VPL ficasse negativo, a primeira medida cautelar dos especialistas seria a de rever os pressupostos adotados para a estimativa do retorno financeiro. Seria possível questionar:

  • Os impactos sociais do projeto não foram devidamente quantificados (hipótese 1)?
  • Os critérios adotados para a monetização dos impactos subestimaram os benefícios gerados (hipóteses 2 e 3)?
  • A taxa de desconto utilizada foi mais elevada do que deveria, penalizando o balanço do projeto (hipótese 4)?

Já no caso de VPL positivo, não seria também o caso de questionar se as hipóteses adotadas não foram por demais generosas, “maquiando” o fluxo final de caixa do projeto?

Diante de todo esse quadro duvidoso, pergunta-se qual a alternativa de avaliação mais adequada. Defendo que, na avaliação de projetos sociais corporativos, o critério da eficácia – baseado na avaliação de impacto ou de outros métodos de aferição dos resultados – consegue propiciar uma visão bastante abrangente sobre as mudanças provocadas junto ao público alvo.

Vale lembrar que a análise de impacto, por si só, já pressupõe procedimentos estatísticos complexos e a adoção de hipóteses “fortes” para contornar os aspectos que podem causar confusão na identificação do impacto.

No exemplo, procurei mostrar que, quando se parte para avaliar o retorno financeiro do projeto com base no critério do custo-benefício, é preciso adotar tantas outras hipóteses para viabilizar a estimativa que, ao final, a margem de erro é muito grande. A confiabilidade na estimativa torna-se tão baixa que o avaliador chega a ganhar “carta branca” para revisar a cadeia dos pressupostos. O alegado argumento da objetividade do critério, então, cai por terra.

Por isso, na avaliação da eficiência dos projetos sociais corporativos – demanda bastante legítima das empresas e dos agentes financiadores –, sugiro a adoção do critério do custo-efetividade, por ser bem mais compatível com a lógica da avaliação social. Pois, nesse caso, não há a necessidade de monetizar os resultados sociais atingidos. O que é feito é comparar os custos unitários incorridos em projetos com objetivos finais e níveis de eficácia semelhantes. A possibilidade de erro torna-se  muito menor.
Texto de exclusiva responsabilidade da autora. O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) abre espaço para a pluralidade de ideias, mas as opiniões expostas não refletem, obrigatoriamente, o pensamento da instituição e de sua equipe.

 

 

As Tecnologias Sociais e o Cenário Internacional

O presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, conta como as tecnologias sociais aplicadas no Brasil são capazes de ganhar capilaridade junto a outros países, inclusive em situações extremas, como o Haiti. O artigo faz parte da parceria entre a fundação e o Portal do Investimento Social, do IDIS.

Nos últimos 10 anos o Brasil vem se apresentando como um país que se envolve em questões globais, demonstrando interesse em oferecer apoio aos às nações que enfrentam problemas socioambientais. Essa aparição geralmente surge com a oferta de soluções que foram aplicadas aqui e que obtiveram resultados positivos no enfrentamento de entraves para o desenvolvimento, como a desigualdade social, o acesso à educação de qualidade e oportunidades de trabalho.

Divulgação: Logomarca da Fundação Banco do BrasilOs avanços no Brasil se devem a um fenômeno interessante e importante de ser observado – uma série de iniciativas feitas pelas próprias comunidades e, às vezes, com o conhecimento técnico de universidades ou outros centros de pesquisa, para beneficiar pequenos grupos de famílias, mas que se expandiram e melhoraram as condições de vida de centenas de pessoas e reforçaram as políticas públicas.

Esses projetos se tornaram cada vez mais completos e complexos, tendo em vista a necessidade de se organizarem para abarcar o grande número de mazelas sociais. Os projetos evoluíram para uma dinâmica diferente chamada Tecnologia Social, que considera que produtos, técnicas ou metodologias sejam desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social e possam ser reaplicadas em escala.

Exemplo dessa evolução de tecnologias sociais, destacamos o Banco de Tecnologias Sociais (BTS), disponível na Internet. O BTS, idealizado e mantido pela Fundação Banco do Brasil (FBB), reúne mais de 500 tecnologias sociais de diversas fontes e categorias e serve como um pólo disseminador de soluções práticas e de reaplicação fácil para toda a sociedade.

Essas tecnologias são de fácil aplicação e baixo custo, o que as tornam eficazes em cenários de extrema pobreza ou aqueles afetados por desequilíbrios ambientais. O recente episódio do Haiti reacendeu o debate sobre a forma como o Brasil pode ajudar a reconstruir aquele país e as tecnologias sociais se mostraram a forma mais adequada. Tecnologias Sociais como a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais) – reaplicada em mais de 6 mil unidades, em 19 estados, pela Fundação Banco do Brasil em conjunto com diversos parceiros como Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobras, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e governos –  surgem nesse mesmo contexto, apresentando alternativas de segurança alimentar em um país que sofre com a falta de alimentos.

O Pais promove um sistema de produção orgânica de hortaliças, frutas e pequenos animais, tendo como pressupostos a racionalização de recursos e o manejo ecológico da terra. Toda a produção acontece sem o uso de agrotóxicos, propiciando alimentos saudáveis e livres de quaisquer interferências químicas. Já a irrigação é feita por meio de um sistema de gotejamento, o que evita o desperdício de água e possibilita a implantação do modelo inclusive em regiões com poucas reservas hídricas, como é o caso do Haiti.

Moçambicanos e salvadorenhos também já demonstraram interesse em conhecer as tecnologias sociais brasileiras. Eles querem saber o que as suas comunidades vêm fazendo para mudar suas realidades. A Fundação Banco do Brasil faz do incentivo à estas tecnologias sua contribuição para o desenvolvimento do nosso país e acredita que elas podem, sim, fazer a transformação social de milhares de pessoas.