Pesquisa Revela Situação da Educação Corporativa no Brasil

Os sistemas de educação corporativa (SEC), em geral, são recentes no Brasil, suas ações interagem com as estratégias de negócio das empresas e seu resultado desvincula-se de avaliações de desempenho e da remuneração do funcionário. Porém, ainda há potencial de crescimento na área para as práticas de educação a distância e necessidade de aumentar a conscientização e participação dos líderes locais. Esses são apenas alguns dos resultados preliminares que aponta a Pesquisa Nacional sobre Práticas e Resultados da Educação Corporativa. O estudo, de 2009, foi coordenado pela professora Marisa Éboli, do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). Na sondagem, 54 empresas responderam a um questionário estruturado. O objetivo foi de avaliar o panorama geral da educação corporativa no Brasil e identificar as práticas mais recorrentes nas organizações. A maioria das respondentes foram grandes companhias, com mais de hum mil colaboradores (70%) e faturamento acima de R$ 1 bilhão (57%). O estudo aponta que 70% dos SECs estão sob o comando de mulheres e que 40% das corporações investem entre 1% e 3% da folha de pagamento na prática. Os resultados preliminares foram apresentados durante um simpósio internacional sobre o tema, realizado na capital paulista no dia 27 de novembro de 2009. A pesquisa foi apoiada pela Eletrobrás, Grupo Santander Brasil, Itaú-Unibanco, Nestlé e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A íntegra da apresentação pode ser baixada aqui no Portal do Investimento Social.

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Depois do Impacto, a Reflexão

A partir de uma sondagem qualitativa realizada pelo IDIS durante o segundo semestre de 2009, o artigo discute o impacto da crise econômica sobre o investimento social privado.

O que uma crise econômica tem a ver com o investimento social privado? Simples: uma economia pujante proporciona mais recursos para as empresas e os indivíduos de alto poder aquisitivo investirem em ações socioambientais. Ainda não há uma projeção de quanto a instabilidade financeira mundial de 2008 e 2009 influenciou no corte desses investimentos. Uma análise, porém, é certa. A falta de solidez na economia serviu como um gatilho para as empresas refletirem sobre sua atuação.

Durante o segundo semestre de 2009, o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) realizou uma sondagem qualitativa junto às empresas e institutos. Por questão de sigilo, os nomes não são divulgados.

O objetivo do estudo foi coletar informações sobre o impacto da crise no investimento socioambiental privado. Os setores pesquisados foram varejo, agronegócio, energia, farmacêutico, indústria de papel e de celulose, além de famílias e indivíduos de alto poder aquisitivo.

As entrevistas tiveram perguntas estruturadas, que buscaram respostas em três dimensões dos investimentos socioambientais: o impacto da crise, o valor do tema para a empresa e os planos e as tendências.

As companhias, de forma geral, alegaram perda de recursos financeiros no negócio durante o período de baixa na atividade financeira. Em relação aos investimentos socioambientais, houve manutenção de seus compromissos, não ocorrendo cortes desenfreados, mas a readequação dos orçamentos frente ao cenário econômico. Uma parcela das empresas manteve os mesmos valores destinados a projetos de interesse social e ambiental, sem qualquer aumento em comparação a 2008. Os orçamentos para área em 2010 também não devem ser maiores.

Postura corporativa 

O traço mais importante detectado na pesquisa é a percepção de uma mudança de postura. As empresas investidoras decidiram fazer uma profunda avaliação de suas práticas e do foco do investimento. As análises estão previstas para 2010.

Os principais questionamentos do investidor social são os seguintes:

  • O quanto os projetos e programas apoiados estão sendo eficientes?
  • A empresa é reconhecida por suas ações?
  • Quais os reais impactos que estão sendo gerados?

O momento de crise provocou uma reflexão e estimulou o olhar mais cuidadoso.  Isso reflete tanto a maturidade do setor sobre os seus programas de investimento socioambiental quanto a sua contribuição positiva para a sociedade brasileira e as comunidades onde estão presentes.

A relação entre a cultura de sustentabilidade e a de investimento social privado é direta e a sondagem qualitativa reforça ainda mais esse entendimento. Quanto mais a primeira fizer parte dos valores corporativos, mais forte será a segunda. Além disso, propiciará melhor integração das estratégias de investimento social com as de negócio da empresa, envolvendo toda cadeia de valor e trazendo mais perenidade às iniciativas. Assim, o investimento não é visto apenas como um custo.

Os processos de gestão, muitas vezes aplicados apenas aos negócios, mais que antes passaram a integrar o universo do investimento social privado. Para o futuro, serão as ferramentas que as empresas utilizarão para realinhar o foco e medir o real impacto socioambiental do seu apoio.

Investimento de famílias  e indivíduos

Na sondagem qualitativa, o IDIS verificou que a as doações de famílias e de indivíduos de alto poder aquisitivo (mesmo com a ausência de tradição do país na área), não tiveram seus compromissos e volumes necessariamente afetados pelo humor do mercado.

Com motivações e gestão distintas do universo corporativo, os programas de investimento social de famílias e de indivíduos tendem a ter uma visão de longo prazo, se comparado o ambiente corporativo de planejamento e de orçamentos anuais com revisões trimestrais. Isso traz mais estabilidade para os programas de investimento social nesses momentos de crise.

Na outra ponto do fio

As organizações da sociedade civil, em contrapartida, sentiram o reflexo tanto da redução de recursos financeiros, quanto do aumento do rigor no planejamento, na avaliação e na sustentabilidade dos projetos.

A adoção de uma gestão qualificada e eficiente, com a diversificação das fontes de renda e de financiamento, foi o grande desafio para o setor em 2009 e é o que se espera ocorrer em 2010.

O balanço é de que empresas, investidores sociais e as organizações da sociedade civil foram afetados com a redução dos recursos – e, em alguns casos, até resultou na extinção de programas e de instituições. Apesar de tudo, o setor sai mais fortalecido, buscando mais eficiência e estratégias que tragam mais sustentabilidade para programas e projetos.

 

 

Quinze anos de Investimento Social Privado no Brasil: Conceito e Práticas em Construção

Fernando Nogueira, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Escola de Administração e Empresas de São Paulo (EAESP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e a professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Paula Schommer escrevem, em artigo acadêmico, sobre o surgimento e a construção do conceito de investimento social (ISP) privado no Brasil. Com base em pesquisa documental e bibliográfica, o ex-gerente de Relacionamento do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas discorre sobre os tipos de ISPs presentes e discute os desafios e tendências da construção do termo e das práticas na área. Os autores vêem tendência na diversificação dos modelos e a criação de redes de aprendizagem sobre o assuntos, com o envolvimento de representantes de diversos setores.

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Dez Dicas da Charities Aid Foundation para que o Investimento Social Corporativo se Perpetue

11/8/2009 – Na atual conjuntura econômica, com demissões acontecendo em todo o Reino Unido e ao redor do mundo, seria ingênuo simplesmente dizer aos investidores sociais “doe mais”. O relatório Helping Companies Helping Charities, publicado pela CAF em julho, destacou a necessidade de as instituições praticarem o investimento social sem restrições.

Reprodução: Logomarca da Charities Aid Foundation Doar eficazmente está relacionado a investir bem e, não necessariamente, mais. Existem maneiras simples que as empresas podem fazer para que o orçamento destinado para a comunidade alcance melhores resultados. Neste artigo, a CAF aponta dez dicas principais para isso ser alcançado:

 

1. Garanta que o foco do investimento social faça sentido para o negócio
Alinhar o programa comunitário com o negócio da empresa irá ajudar a garantir a promoção do impacto positivo na comunidade e também beneficiar a companhia.

2. Engaje os colaboradores por meio do programa de doação
O investimento social da empresa pode ser significativamente alavancado se for estimulada a cultura de doação dentro da corporação, ou seja, incentivar os colaboradores a se comprometerem pessoalmente com a causa por meio do voluntariado ou mesmo doações via folha de pagamento. Um exemplo de baixo custo de incentivo é fazer com que os funcionários se envolvam na escolha das organizações sociais parceiras. Isso pode ser uma iniciativa para que eles participem do programa comunitário da empresa e ajudem-na a contribuir mais para o mundo.

Veja como a Friends Provident, empresa de produtos financeiros e serviços, e a Guardian Media Group, companhia do setor da mídia, engajaram seus colaboradores no Give As You Earn, programa de doação dos funcionários que desconta o valor diretamente na folha de pagamento. Os textos estão em inglês.

3. Divulgue as organizações sociais para a cadeia de fornecedores e stakeholders
Ao compartilhar com os principais stakeholders (cadeia de abastecimento e sua rede de contato) a iniciativa de apoio da empresa, o impacto será maior e a promoção da filantropia poderá angariar o apoio de novas empresas doadoras.

“A British Telecom está empenhada em compartilhar as melhores práticas bem como trabalhar com os seus stakeholders. Realizamos eventos corporativos para ChildLine com o objetivo de compartilhar aprendizados, incluindo os benefícios para a empresa de se trabalhar com organizações sociais. Embora reconheçamos que a ChildLine é a melhor opção para falar sobre o seu serviço, quem melhor para falar com as empresas sobre as vantagens empresariais do que um parceiro de negócios? Temos apresentado a ChildLine aos novos adeptos e trabalhado de maneira participativa com os fornecedores e clientes para apoiar a ChildLine. Vemos isto como vencer, vencer, vencer, beneficiando a ChildLine, outras organizações e BT.”
Beth Courtier, presidente do Programa de Filantropia da empresa de telecomunicações do Reino Unido Bristish Telecom (BT)

4. Garanta os benefícios fiscais
Tanto nas doações corporativas (no Reino Unido ou internacionais), como na captação de recursos dos colaboradores via empresa, a empresa pode utilizar-se de leis de incentivo fiscal para criar um programa social ou destinar os valores. Isso representará mais recursos disponíveis para as organizações sociais que precisam do seu apoio e, consequentemente, mais benefícios fiscais para o doador. Veja como a empresa farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) utiliza os benefícios fiscais em suas doações internacionais. O texto está em inglês.

5. Reduza as restrições que envolvem o dinheiro doado para as organizações sociais
Investimento social sem restrições é raro e precioso. Experimente e estabeleça acordos com as organizações sociais sobre os resultados a serem alcançados, sem restringir o uso da doação. Ou, ainda, certifique-se de que o investimento social está de acordo com o verdadeiro custo do projeto, incluindo um limite para as despesas de gestão do projeto que será apoiado, como custos operacionais e salários. Isso irá demonstrar que, trabalhando com a organização parceira, a empresa poderá ajudá-los a produzir de maneira eficaz a sua missão, utilizando os recursos de forma mais flexível, mesmo em momentos de recessão. Tudo contribuirá para aumentar o impacto global do investimento.

6. Reconheça as competências dos colaboradores de sua organização

“Nós vemos que as nossas melhores parcerias são aquelas realizadas com organizações sociais sólidas e estáveis. Naturalmente, a nossa prioridade é sobre a realização dos resultados acordados, mas nós respeitamos as habilidades de nossos parceiros para gerir essa responsabilidade como entenderem. Então nós incentivamos àqueles que apoiamos a utilizar os nossos recursos da maneira mais eficaz que eles puderem, tanto para a entrega dos resultados, quanto para manutenção e crescimento das próprias organizações.”
Matthew Sparkes, gerente de Investimento Global, Linklaters, escritório internacional de advocacia

A pesquisa da CAF mostra que as organizações sociais percebem os setores industriais de forma diferenciada em relação àquilo que têm a oferecer. Sua percepção é construída com base nos pontos fortes e eventuais correções sobre possíveis preconceitos existentes. Ao alavancar os recursos da empresa, a organização social se beneficiará da combinação de competências da companhia que vai além da contribuição em dinheiro. Alguns exemplos: experiência e know-how dos colaboradores, equipamentos de escritório, instalações para reuniões e disponibilidade das empresas para colocarem caixas de coleta de doações.

Um forte programa integrado a objetivos claros significará benefícios para o negócio e para a comunidade, tornando o impacto global do investimento significativamente maior. Veja como os colaboradores da consultoria de finanças UBS ajudaram líderes de ONGs na Índia. O texto está em inglês.

7. Considere a colaboração de outros parceiros
Contribua com instituições que possuem objetivos comunitários similares que ao da empresa – outras companhias, organizações sociais ou grupos comunitários. O esforço conjunto pode promover um impacto social ainda maior e desenvolver competências sem comprometer o resultado. A parceria entre o Banco Macquarie e a Fundação Cripplegate é um excelente exemplo de colaboração de sucesso. O texto está em inglês.

8. Invista tempo em acordos com as organizações sociais
Elaborar acordos que estabelecem a forma como o relacionamento irá funcionar. Incluir as contribuições da sua empresa, de seus colaboradores bem como da organização social. Tudo isso irá permitir que a empresa estabeleça compromissos (fixos e flexíveis) com a organização social, ajudando a administrar as expectativas de todos. O acordo ajudará a direcionar os envolvidos para objetivos comuns e garantir que os recursos da sua empresa estão sendo utilizados da melhor maneira.

9. Meça o impacto da sua doação, em seguida, reveja e ajuste o que for necessário
Medir o que foi alcançado e o que isso significa para a comunidade, para as organizações que trabalham com a companhia e para o próprio negócio é a chave para o sucesso do programa. Utilize essa informação para rever a atividade, comunicar valores, aprender com a experiência e reforçar o foco do investimento social. Veja como a empresa de tecnologia de materiais Johnson Matthey aumentou o impacto de seus programas de doação. O texto está em inglês.

10. Comunique os seus aprendizados e desafios
Incentive outras empresas a aprender com os sucessos e os desafios experimentados pela sua companhia, utilizando uma comunicação pelo site e por meio de eventos.

A CAF tem uma equipe dedicada a ajudar a empresa a tirar o máximo proveito dos seus recursos disponíveis. Podemos ajudá-lo a avaliar sua atividade atual e obter melhores resultados, permitindo-lhe desenhar e executar o programa comunitário com facilidade.
Fonte: Site da CAF

Tradução: IDIS

Desenvolvimento Local no Nordeste

Em coletânea de artigos, consultores de diversas especialidades analisam as práticas construídas pelos dez anos de experiência dos Conjuntos Integrados de Projetos (CIPs), programa da Fundação W. K. Kellogg que reúne seis projetos em seis Estados do Nordeste (Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba e Pernambuco) que visam o desenvolvimento comunitário. O livro Apoio internacional ao desenvolvimento local – Experiências sociais com juventudes no Nordeste traz as análises e é organizado pela antropóloga Leilah Landim e pela jornalista Maria Carolina Trevisan.

Reprodução: Capa do livro Apoio internacional ao desenvolvimento local - Experiências Sociais com juventudes no Nordeste

A obra, de 248 páginas, tem a finalidade registrar as experiências vividas pelos consultores e especialistas junto às comunidades locais na formação de redes e no processo de implantação coletiva das ações planejadas. Os CIPs mobilizaram diferentes atores sociais, como representantes do poder público e instituições públicas e privadas. Os oito artigos trazem reflexões sobre erros e acertos, dilemas e responsabilidades, além dos resultados dos trabalhos realizados.

O papel dos financiadores no desenvolvimento local é um dos temas apresentados, assim como o papel da juventude, a experiência do acompanhamento dos projetos, a importância das alianças intersetoriais, entre outros. O livro é editado pela Editora Peirópolis e está à venda em algumas livrarias e pela Internet.

Documentos em Ordem São Imprescindíveis para Pleitear Financiamento

No artigo, a gerente de projetos do IDIS, Carla Cabrera Duarte, e a diretora Administrativa da instituição, Silvia Benedini Bertoncini, apontam quais os documentos que, geralmente, os investidores sociais solicitam na hora de fechar uma doação. As profissionais também tratam sobre o método que o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social utiliza na avaliação qualitativa da instituição pleiteante.

Uma organização da sociedade civil, além de cumprir com sua missão, deve manter atualizada uma série de documentos administrativos, para demonstrar sua regularidade junto aos órgãos públicos e pleitear financiamento para seus projetos sociais e, assim, legitimar suas ações junto aos apoiadores.

Atualmente, os investidores sociais procuram verificar se a instituição está em dia com as obrigações legais. Eles querem que o investimento social seja revertido em impactos positivos para a sociedade. O fato de manter a documentação atualizada, de dar publicidade à aplicação de seus recursos e de possuir título ou qualificação conferida pelo Estado oferece credibilidade à organização e traz confiança ao doador, sendo um fator decisivo na hora da doação.

Muitos doadores possuem alianças com instituições sem fins lucrativos, que estipulam requisitos básicos para concretizá-los. O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) denomina essa etapa de processo de Validação e a divide em duas análises: uma documental e outra qualitativa.

Análise Documental

A organização social deve sempre manter os documentos administrativos que comprovam a legalidade perante aos órgãos públicos e fiscalizadores competentes, facilitando a condução de futuras oportunidades.
Abaixo, listamos alguns documentos que podem ser exigidos tanto em um edital de seleção de empresa ou de licitação do governo quanto por investidores sociais:

  • Cópia autenticada do estatuto da organização com a última alteração.
  • Cópia autenticada da ata  que contenha  a aprovação da diretoria em exercício,  dos membros dos conselhos Administrativo e Fiscal.
  • Cópia do cartão atualizado do registro de CNPJ.
  • Cópia da certificação (se for o caso): Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), Utilidade Pública (Federal, Estadual ou Municipal) , Entidade Beneficente de Assistência Social e OS – Organização Social. Para Oscip’s, instituições de Utilidade Pública Federal e Organizações Estrangeiras, o prazo de validade da certidão é de um ano. Essas organizações devem estar obrigatoriamente cadastradas e em situação legal junto ao Cadastro Nacional de Entidades do Ministério da Justiça (CNE/MJ). A prestação de contas junto ao MJ é anual e ocorre até 30 de junho para as OSCIPs e até 30 de abril para as UPFs . No site do Ministério da Justiça  encontram-se todas as informações sobre como ela deve ser realizada. A expedição da certidão de renovação de título ou de qualificação federal ocorre apenas por meio do Ministério da Justiça.
  • Balanço patrimonial e demonstrativo do último exercício financeiro. O documento é fornecido pelo contador/escritório de contabilidade contratado pela instituição.
  • Parecer da auditoria sobre os balanços da organização. Para aquelas organizações que possuem título ou qualificação federal, deverá ser observado o valor mínimo exigido.
  • Certidões negativas da Previdência Social (INSS) e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Mesmo que a organização social não tenha funcionários, o documento é necessário para provar que não há necessidade de contribuição ou ainda a inexistência de débitos. A certidão negativa da Previdência Social é válida por seis meses e pode ser solicitada pelo sitewww.previdencia.gov.br. A certidão do FGTS vale por um mês e também pode ser solicitada via Internet, no site da Caixa Econômica Federal.
  • Certidão Negativa de Falência e Concordata. Válida por três meses. Deve ser solicitada junto ao fórum judicial competente da região.
  • Prova de quitação com as fazendas Federal, Estadual e Municipal. Essa certidão refere-se a tributos como o Imposto de Renda, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS (estadual) e o Imposto Sobre Serviços – ISS (municipal). No caso do IR, a Receita Federal oferece o serviço pela Internet. É necessário verificar junto a cada governo estadual e municipal como requerer a quitação. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a prefeitura disponibiliza a emissão dessas notas através de seu site.
  • Dados da conta bancária da organização. Para facilitar a gestão dos recursos financeiros doados a um determinado projeto,  o IDIS aconselha a instituição abrir uma conta corrente específica para a doação. No âmbito governamental, esse é um procedimento obrigatório. Isso facilita a prestação de contas a o investidor que tem maior transparência e visualização dos gastos incorridos.
  • Cópia da inscrição em conselhos municipais, estaduais e federal, caso a organização esteja vinculada a algum. Vale lembrar que aquelas que atuam com crianças e adolescentes são consideradas regulares quando inscritas no respectivo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
  • Cópia do relatório de atividades. Esse documento, em geral, não é obrigatório, mas ajuda o investidor a compreender o histórico da organização. Recomenda-se o fornecimento do relatório de atividades dos dois últimos anos.

Análise Qualitativa

Além da análise documental o IDIS faz uma análise qualitativa da organização. Para essa análise são considerados Instituição, Indivíduos e Idéia (3Is).

Da instituição, são consideradas questões relacionadas à estrutura organizacional. A história da organização, a forma como surgiu, a sua capacidade de mudança decorrente da mudança de contexto, da participação comunitária e da mudança de liderança são reveladores da forma como a organização se posiciona diante de seus desafios.  São observadas também a gestão e a governança da instituição, a sua capacidade de incluir a comunidade na sua gestão, de trocar lideranças e gestores, de organizar seus recursos humanos, de se articular e de se relacionar com parceiros internos e externos à comunidade e de realizar uma boa captação de recursos por meio de uma gestão eficiente.

A ideia da organização, a sua missão, a profundidade da concepção de seu trabalho e dos projetos que realiza, a sua capacidade de inovar e de aprender com a sua prática são outros itens que compõem a análise qualitativa. Aqui, inclui-se também sua capacidade de fazer com que o conhecimento gerado na organização seja um patrimônio imaterial, passível de ser compartilhado.

Uma relação horizontal com a comunidade é pressuposto para que um projeto social gere impacto e o investimento realizado seja eficaz. Na análise, leva-se em conta se os envolvidos com a organização são receptores passivos de um benefício ou atuam como protagonistas participantes da mudança da própria realidade.

Por fim, as lideranças da organização são também observadas. São analisados o nível de motivação e comprometimento dos indivíduos para o trabalho na instituição. A flexibilidade, a permeabilidade e a competência na articulação dos indivíduos na relação com colaboradores, com a comunidade e com parceiros, bem como o profissionalismo e transparência nas relações.

Carla Cabrera Duarte é gerente de projetos do IDIS nas áreas de investimento social na comunidade e de investimento social corporativo. Silvia Benedini Bertoncini é diretora Administrativa do IDIS, com ampla experiência em gestão administrativa e financeira de organizações sociais.

O Que Consta em um Projeto Social?

Confira neste roteiro básico elaborado por Carla Cabrera, gerente de projetos do IDIS, que rubricas e informações devem estar presentes em um projeto desenvolvido por uma organização da sociedade civil. Um projeto é composto de diversos itens que, encadeados, dão sentido, corpo e forma à ideia da organização.

São eles:
1. Identificação e descrição da organização proponente

Apresenta os dados gerais da instituição, como CNPJ, endereço, telefones, site e também um breve histórico da organização, sua missão e principais iniciativas.

2. Identificação dos responsáveis pelo projeto 

Traz nomes, cargos e contatos das pessoas responsáveis pelo projeto.

3. Título

Inclui o nome curto do projeto, que expressa sua finalidade e forma de atuação.

4. Justificativa

Discute o contexto social em que se inserem a organização da sociedade civil e o projeto proposto. Serve para mostrar por que é necessário e prioritário fazer a intervenção proposta pelo projeto.

5. Público-alvo 

Descreve quantos e quem são os beneficiados diretos e indiretos do projeto.

6. Objetivo Geral 

É a razão de ser do projeto. Responde de forma clara e objetiva à questão: “para quem se destina esse projeto e o que ele pretende transformar?”. Este objetivo está diretamente relacionado à justificativa e é genérico. Ele não pode ser assegurado somente pelo sucesso do projeto; depende de outras ações e variáveis. Portanto, expressa o que se quer alcançar em longo prazo, ultrapassando inclusive o tempo de duração do projeto.

7. Objetivos Específicos 

Explica como estarão o público-alvo e o contexto social depois de suas necessidades serem atendidas. Cada objetivo específico retrata uma única mudança na vida do público-alvo. Um objetivo específico é mensurável, atingível num tempo limitado, relacionado às necessidades do público-alvo.

8. Plano de ações 

Mostra o que será feito para que os objetivos específicos se transformem em realidade.

9. Parcerias

Relata se o projeto conta com alianças com o setor público, com a iniciativa privada e/ou com organizações da sociedade civil organizada. Também apresenta o tipo de parceria estabelecida e o papel de cada ator.

10. Avaliação

Apresenta os procedimentos e métodos que serão usados para saber se as atividades estão sendo executadas, consumindo os recursos previstos, e se os objetivos propostos estão sendo atingidos.

11. Cronograma

É a representação gráfica do tempo das ações e das atividades planejadas. Responde quando ocorrerão as atividade previstas no plano de ação durante o período estabelecido para o projeto.

12. Orçamento

Detalha todos os recursos materiais, financeiros e humanos envolvidos no projeto. Pode ser feito mostrando as despesas por tipo ou rubricas tais como, recursos humanos, equipamentos etc. Também podem ser apresentadas por meio de um cronograma físico financeiro que mostra quando as despesas serão efetivadas ao longo do projeto.

13. Equipe

Descreve o grupo de pessoas envolvido no projeto e qual será o papel de cada um.

14. Sustentabilidade (continuidade do projeto)

Pontua as estratégias e os desdobramentos que viabilizarão a continuidade do projeto e de seus resultados.

 

 

Elaboração de Projetos: O Que é e Por Que Realizar?

A elaboração de projetos já foi muito discutida no terceiro setor. No entanto, ainda é uma ferramenta pouco utilizada pela maioria das organizações da sociedade civil. Neste artigo, Carla Cabrera, gerente de projetos do IDIS, apresenta por que esse instrumento ainda é atual e deve ser realizado de forma coletiva.

“Projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades interrelacionadas e coordenadas, com o fim de alcançar objetivos específicos dentro dos limites de tempo e de orçamento dados”.
(APREMAVI, 1999 apud ONU, 1984)

 

 

Um projeto é uma ação organizada. É o resultado obtido ao se “projetar” no papel tudo o que é necessário para o desenvolvimento de um conjunto de atividades: quais são os objetivos, quais os meios para atingi-los, quais os recursos necessários, onde serão obtidos e como serão avaliados os resultados. O projeto social deve responder, de forma positiva, a uma ou mais necessidades implícitas na causa social sobre a qual a organização atua.

A elaboração de um documento do projeto ajuda a sistematizar esse trabalho em etapas a serem cumpridas, a compartilhar a imagem do que se quer alcançar, a identificar as principais deficiências, e a superar e a apontar possíveis falhas durante a execução das atividades previstas.

Quando um projeto é elaborado em grupo, o resultado é mais amplo e profundo do que se alguém o tivesse feito sozinho, pois a troca de ideias no processo gera outras propostas; há aprendizados e uma nova solução pode aparecer. Além disso, nos projetos elaborados de forma participativa, todas as ideias têm permissão para aparecer e são discutidas até se chegar a um consenso. Deste modo, cada participante se apropria do resultado final e tem clareza do que acontecerá, de que maneira e por que será feito da forma previamente discutida. A construção coletiva de um projeto promove o compromisso de todos os participantes, pois se eles ajudaram a idealizá-lo, são também corresponsáveis pelas ideias acordadas.

Por que falar em elaboração de projetos?

O tema da elaboração de projetos se disseminou no terceiro setor nos anos 90. Nessa época, as organizações da sociedade civil (OSCs) passaram a criar formas de sobrevivência em um contexto de concorrência por recursos e no qual a profissionalização e as mudanças sociais relevantes são exigidas pelos financiadores. Capacitações e cursos voltados ao planejamento estratégico, elaboração e avaliação de projetos foram criados por consultorias e pelos próprios financiadores. Assim, ferramentas tradicionalmente usadas pelo setor privado passaram a ser adaptadas à realidade das OSCs.

No entanto, o que se percebe atualmente é que uma “elite” de organizações conquistou a profissionalização. Poucas instituições expandiram sua rede de relações com órgãos governamentais e instituições privadas e conquistaram facilidades para acessar recursos. A maioria se manteve distante desse processo, sendo mantidas por meio de formas tradicionais de captação de recursos, como o apoio da comunidade local, realização de bazares, bingos, jantares e festas, além de doações de pessoas físicas.

Esse afastamento da profissionalização não seria ruim não fossem duas questões. Em primeiro lugar, as maneiras tradicionais de captação já não funcionam com tanta eficácia. As comunidades estão menos coesas e os doadores estão mais exigentes. Em uma recente conversa para a prospecção de parceiros para o programa social de um cliente do IDIS, a liderança de uma organização afirmou que a cada ano diminui o número de doadores e que as pessoas não doam mais como antigamente. A organização tem dificuldade de captar novos doadores – o que denota a mudança no perfil dessas pessoas e a forma como eles desejam atuar socialmente.

A captação, portanto, precisa mudar. Suas ferramentas devem ganhar novas roupagens. As organizações, por exemplo, devem comunicar seus resultados com mais freqüência e por meio de recursos mais modernos. Devem utilizar novos canais de comunicação para mais do que pedir recursos, mobilizar e envolver os doadores de formas inovadoras. Os bazares, por sua vez, podem ser modernizados por meio da produção e venda de peças com design contemporâneo, e do engajamento de parceiros como lojas e restaurantes que produzam eventos mais interessantes. Bons projetos também devem ser desenhados e apresentados para serem financiados pelo setor privado ou público.

Em segundo lugar, a aplicação de ferramentas como planejamento estratégico, elaboração e avaliação de projetos contribui para que as OSCs revejam sua forma de atuação, passando do assistencialismo a uma ação mais transformadora e impactante diante das questões sociais. Esses processos geram reflexões sobre o contexto em que a organização atua e sobre o seu papel diante dele, além de fomentar o aparecimento de soluções mais efetivas, que se transformam em escopo do projeto a ser elaborado.

Por isso, ainda que o tema da elaboração de projetos tenha sido exaustivamente trabalhado na área social, é preciso retomá-lo. Diversas organizações, principalmente as de base comunitária, ainda não se beneficiaram dessa ferramenta. Elas tendem a ganhar com essa discussão sobre sua forma de atuar e sobre como conquistar sua sustentabilidade financeira.

 

 

Cenário Brasileiro do Marketing Relacionado a Causas – Atitudes e comportamentos das OSCs e Empresas

A pesquisa Cenário Brasileiro do Marketing Relacionado a Causas – Atitudes e Comportamentos das OSCs e Empresas mostra a incidência de ações de Marketing Relacionado a Causas (MRC) no mercado brasileiro, além de apontar o comportamento e as atitudes de instituições com e sem fins lucrativos em relação à temática. O levantamento foi realizado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e pela Enfoque, empresa de pesquisa em marketing. Os resultados foram apresentados durante o 3º Seminário de Marketing Relacionado a Causas, promovido pelo IDIS no último trimestre de 2007.

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Edital de Seleção Torna-se Ferramenta no Investimento Social

O artigo trata sobre a importância do uso do edital de seleção como ferramenta transparente e pública para escolha de projetos socioambientais que atendam ao interesse do investidor social. O texto é assinado pela equipe de colaboradores do IDIS: Carla Cabrera, Mirza Laranja e Tatiana Akabane van Eyll, gerentes de Projeto.

Já faz algum tempo que as empresas que realizam investimento social corporativo estão mudando de postura em relação à sua prática. Trata-se de um novo paradigma: a troca do modelo de filantropia tradicional para o modelo de investimento social. Nesse novo contexto, a companhia passa a atuar como um financiador que visa a formar parcerias eficientes para atender a uma causa social. Uma das ferramentas para atingir essa meta é o uso do edital de seleção para financiamento de projetos.

No modelo tradicional, ao fazer doação de recursos, uma empresa reage pontualmente a demandas externas. Atua de forma assistencialista e paternalista, atendendo ao interesse de uma só parte, o que pode gerar uma relação de dependência. Embora tenha boas intenções, seu investimento não garante transformação social. Para isso realmente acontecer, o investimento social privado depende de pesquisa focada, planejamento criativo, estratégias predefinidas, execução cuidadosa e monitoramento dos seus resultados. A alocação não se resume apenas a dinheiro, inclui recursos humanos, técnicos e gerenciais para o bem público.

A escolha de atuação da empresa é definida segundo seu objetivo, recursos disponíveis e contexto:

  • Doadora: coloca recursos segundo a demanda de instituições sociais responsáveis pelo planejamento e execução de projetos próprios
  • Empreendedora: doa ativamente a organizações que executam projetos e ideias propostas pela empresa
  • Operadora: elabora e executa iniciativas por ela desenvolvidas
  • Financiadora: investe recursos tanto de forma ativa quanto reativa a instituições sociais responsáveis pelo planejamento e execução de projetos que sigam a sua linha de interesse.

Em sua estratégia, a empresa pode combinar diferentes modelos de atuação, criando soluções que se mostrem viáveis e eficazes, na busca dos objetivos propostos. Para atuar como financiador, são necessárias algumas competências técnicas, como:

  • identificação de oportunidades estratégicas de investimento social
  • escolha de parceiros competentes para o desenvolvimento e implementação de propostas
  • análise e seleção de propostas
  • monitoramento e mensuração de resultados

Uma ferramenta muito eficiente para financiar propostas que atendam ao interesse do investidor social é utilizar o edital público. O edital exige um planejamento cuidadoso de todas as etapas do financiamento que, por sua vez, ajudará na elaboração e na implementação de um processo que minimiza riscos e potencializa os recursos.

No planejamento, a empresa:

  • define seu foco de investimento
  • cria critérios de seleção das propostas
  • propõe diretrizes para as propostas
  • aponta os pré-requisitos necessários para a organização executora
  • demonstra suas expectativas de resultado e impacto com base em indicadores pré-selecionados
  • torna explícitos quais serão os processos de monitoramento e avaliação

No documento do edital, a companhia também define modelos, roteiros, questionários e formulários, explicando como deve ser apresentado o planejamento, o orçamento e a prestação de contas. Ao torná-lo público, as organizações interessadas enviam as propostas para o financiador, que as analisará e selecionará conforme a maior proximidade das diretrizes e critérios estabelecidos no edital.

Para as corporações, o uso do edital de seleção traz os seguintes benefícios:

  • Compartilhamento e publicidade da estratégia de investimento social
  • Transparência na atuação
  • Criação de banco de dados de organizações sociais que atuam em sua área de interesse
  • Acesso a iniciativas e ideias inovadoras
  • Facilidade na análise dos projetos, uma vez que a estrutura geral para a apresentação das propostas é definida pela empresa no edital
  • Conhecimento mais profundo dos projetos e das organizações sociais com quem estabelece parceria, favorecendo alianças de qualidade e sustentáveis
  • Mais exatidão no monitoramento dos projetos e mensuração dos resultados do investimento
  • Contribuição para o desenvolvimento das instituições sociais envolvidas na seleção

Como se pode perceber, a seleção por meio de edital é um processo que deve ser cuidadosamente planejado, requer disciplina para cumprir adequadamente todas as etapas, além de comunicação clara e eficiente. O esforço traz bons resultados. Foi o que aconteceu com a Nestlé Brasil. Utilizar o edital permitiu à multinacional suíça selecionar de forma pública projetos que estão de acordo com a sua estratégia de atuação social, baseada na nutrição, na saúde e no bem-estar. Desde 1999, a Fundação Nestlé Brasil, braço social da empresa, desenvolve o Programa Nutrir, que leva educação alimentar e incentiva a prática esportiva entre crianças e adolescentes de 4 a 18 anos, moradores de comunidades de baixa renda em todo o país, contribuindo no combate à desnutrição e à obesidade.

Em dez anos, o Programa Nutrir estabeleceu parcerias com organizações sociais, escolas públicas e prefeituras, no intuito de fazer a educação alimentar tornar-se parte da vida dessas crianças. Com a promoção“Nestlé Torce Por Você”, pela primeira vez, selecionou dez propostas de forma pública, com critérios claros, transparentes e num processo que organizações sociais de todo Brasil puderam participar. Cada um dos dez projetos escolhidos recebeu 70 mil reais para a execução. A seleção aconteceu em 2008.

O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) apoiou a Fundação na elaboração do texto do edital, na concepção e desenvolvimento dos modelos do processo de monitoramento dos projetos e realizou a oficina para ajustes nas propostas selecionadas. O Instituto ainda foi responsável por alinhar o contrato, os procedimentos de repasses de recursos e o processo de monitoramento entre a Fundação e as organizações sociais.

Para a Fundação Nestlé Brasil, o grande salto foi conseguir comparar propostas, mobilizar as instituições sociais a apresentar projetos que estivessem alinhados com a sua missão e poder incentivar a troca de experiências entre proposições tão similares que buscam atingir, de certa forma em conjunto, um bem maior.

Livro Aborda Capitalismo Filantrópico

Livro aborda capitalismo filantrópico

O perfil dos investidores sociais mudou. Antes, os filantropos apenas doavam aleatoriamente a organizações sociais ou projetos, sem procurar saber sobre resultados. Hoje, os novos bilionários doadores estão redefinindo a forma de como o investimento social é feito bom base em métodos de negócios, com métricas de análise de impacto, planejamento de metas, entre outros.

Essa é a discussão que traz o livro Philanthropicalism: How the Rich can Save the World (Capitalismo filantrópico: como os ricos podem salvar o mundo, em tradução livre), de Matthew Bishop e Michael Green. A obra, de 298 páginas, foi editada em 2008 pela Bloomsbury Press. Está disponível apenas em inglês.

Os autores apresentam entrevistas com outros grandes filantropos (além de Bill Gates), como George Soros, Bill Clinton, Angelina Jolie e Bono Vox. O editor Matthew Bishop e o economista Michael Green analisam esse novo movimento de filantropia e seus impactos. São doadores que investem em causas que vão desde a situação do clima à cura de doenças. Mias informações e vídeos com entrevistas podem ser encontradas no site Philanthrocapitalism.

 

 

O Papel das Empresas nos Determinantes Sociais Da Saúde

Como as corporações podem atuar junto aos Determinantes Sociais da Saúde (DSS) foi o tema do estudo realizado pelo The Conference Board of Canada, organização da sociedade civil de pesquisa aplicada daquele país. O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) traduziu o sumário executivo, cujo original se encontra em inglês. O relatório Pessoas Saudáveis, Desempenho Saudável, Lucro Saudável aponta como as ações de empregadores e empregados podem influenciar diretamente na qualidade da saúde. Essa nova visão da DSS é interdisciplinar e considera que o bem-estar resulta da influência social, econômica, cultural e política de uma sociedade e não apenas da condição individual de saúde. No sumário-executivo, observa-se que a empresa é um dos atores responsáveis pelo alcance da qualidade da saúde, ao lado do governo e da sociedade. O documento apresenta exemplos de iniciativas de corporações do Canadá e de outras nações que indicam, na prática, como pode ser essa atuação. A íntegra do relatório, em inglês, pode ser acessada no site www.conferenceboard.ca. É necessário cadastrar-se gratuitamente. Aqui no portal do Investimento Social é possível fazer o download da versão em português.

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Processo e Resultado

Publicado originalmente na Rede GIFE online, o artigo de Célia Schlithler fala sobre resultados em projetos de investimento social privado. Para a assistente social especialista em formação de grupos e redes sociais, o processo de desenvolvimento desses projetos já é resultado. Leia o artigo completo.

Nem tudo o que conta é contável. Nem tudo o que é contável conta.
(Albert Einstein)

Célia Schlithler*

A preocupação com a demonstração de resultados é assunto recorrente em encontros de profissionais de empresas, institutos e fundações que fazem investimento social. O mesmo acontece quando Organizações da Sociedade Civil (OSCs), que têm projetos financiados por meio desses investimentos, estão reunidas.

É natural que todo investidor decida onde aplicar seus investimentos baseado nos resultados projetados. Do mesmo modo, a manutenção do investimento está diretamente relacionada aos resultados obtidos. Quando o objetivo de um investimento é o lucro, é fácil aferir os resultados, porque não há dúvida quanto ao que é esperado. Mas, e no caso do investimento social? Como expressar claramente quais são os resultados esperados?

Embora continuem bastante interessados em números, os investidores sociais já sabem que os resultados de projetos sociais nunca são apenas quantitativos. Por este motivo, a definição de indicadores também leva em conta os resultados qualitativos, com a ciência de que a verificação deste tipo de indicador sempre terá um componente subjetivo. O que, aliás, é bastante positivo, pois não se está mensurando a produtividade de robôs ou máquinas (e até eles são operados por seres humanos, o que interfere em seu desempenho).

É fato, também, que os projetos sociais prevêem avaliação ou monitoramento de processo. Entretanto, penso que o que todos nós precisamos entender é que o processo já é resultado.

Há dez anos trabalho com a formação de redes sociais, principalmente as redes de desenvolvimento comunitário, e constato freqüentemente que essa visão sobre o processo ainda não é compartilhada por inúmeras pessoas. As perguntas que me fazem sobre os resultados das redes sempre se referem ao que elas estão realizando e em benefício de quantas pessoas. Sem dúvida estas questões são importantes, pois é essencial que as redes sociais realizem ações colaborativas e projetos coletivos, definidas a partir da contribuição que trarão para o cumprimento dos objetivos da rede os quais, necessariamente, se referem a mudanças sociais.

No entanto, é preciso perceber que o processo de formação de uma rede já é um importantíssimo resultado! Conseguir reunir, e manter unidas, pessoas de diferentes organizações e setores em uma configuração horizontal, multiliderada, participativa e cooperativa é um resultado e tanto. A existência da rede em si provoca, por exemplo, mudanças na qualidade do diálogo entre moradores de uma comunidade e as empresas que dela fazem parte e, também, entre as OSCs e o setor público.

Em vez de reivindicações e, por que não dizer, exigências, decide-se coletivamente o que fazer diante de situações que afetam a todos. As forças existentes na comunidade são potencializadas por meio da união e articulação promovida pela rede. Por conseqüência, ações coletivas e mudanças em políticas públicas são efetivadas, o que poderia demorar anos pelos caminhos “tradicionais”.

Creio que esta mesma visão pode ser compatível com qualquer (bom) projeto social. Em projetos de geração de renda, por exemplo, o resultado no aumento da renda e o impacto na melhoria de qualidade de vida são, obviamente, sempre esperados. No entanto, quem já teve a oportunidade de conversar com moradores de uma comunidade, participantes deste tipo de iniciativa, sabe que raramente é disso que eles falam quando opinam sobre o projeto.

Seus depoimentos falam dos conhecimentos adquiridos, da união da comunidade, da auto-estima resgatada, mesmo quando ainda não houve aumento na renda. Esses resultados fazem parte do processo e são mudanças que permanecerão, pois ninguém poderá tirar o conhecimento adquirido por uma comunidade.

Os projetos de formação para o trabalho de jovens, que incluem a educação integral, também são um ótimo exemplo. Ao longo da formação, os jovens mudam de atitude, passam a ser mais participativos, repensam seus valores, amadurecem. A inserção no mercado de trabalho é apenas um dos resultados que virá depois.

Se considerarmos que o processo é resultado, a própria elaboração dos projetos pode ser mais criteriosa nas escolhas das estratégias e atividades que serão adotadas, de modo a contribuir para um processo muito mais rico para todos os envolvidos.

O Glossário Social do GIFE define impacto social como ”a transformação da realidade de uma comunidade ou região a partir de uma ação planejada, monitorada e avaliada”. E afirma que “só é possível dimensionar o impacto social se a avaliação de resultados detectar que o projeto efetivamente produziu os resultados que pretendia alcançar e afetou a característica da realidade que queria transformar”. Portanto, se o processo for levado em conta com mais atenção, os indicadores de resultados, definidos antes de o projeto ser implantado, serão ampliados.

Quando os financiadores de projetos sociais se apropriarem da visão de que o processo é resultado, certamente haverá muito mais percepção de retorno durante a execução dos projetos. Será possível, também, detectar precocemente que seu investimento não está dando resultados, a tempo de mudar o processo para se obter o impacto esperado em prol do desenvolvimento social.

*Célia R. Belizia Schlithler é assistente social formada pela PUC-SP, com formação e aperfeiçoamento em Coordenação de Grupos Operativos pelo Instituto Pichon-Rivière de São Paulo. De 1998 a 2003, atuou em projetos de formação e desenvolvimento de grupos e redes sociais como consultora de organizações tais como Instituto C&A, GIFE (PTG), Unicef e IDIS.

Desenvolveu também projetos específicos para entidades sociais, como cursos e seminários de capacitação para trabalho em grupo, e assessoria para coordenadores de equipes.

Em 2004, assumiu a coordenação da área de Investimento Social Comunitário do IDIS, organização que empreende projetos de desenvolvimento comunitário e presta consultoria a empresas, onde permaneceu até setembro de 2008, na função de Diretora de Desenvolvimento Comunitário.

Desde outubro de 2008, voltou a atuar como consultora em desenvolvimento de grupos, redes e comunidades para OSCs, institutos, fundações e empresas. É autora do livro Redes de Desenvolvimento Comunitário – Iniciativas para Transformação Social, da Coleção IDIS de Investimento Social.

Pesquisa Revela Características da Atuação Social Corporativa Norte-America no Brasil

Levantamento em cinqüenta e nove organizações, entre empresas, fundações e institutos, ajuda a traçar panorama sobre o investimento social corporativo realizado por organizações norte-americanas no Brasil.

Empresas como a Coca-Cola, a IBM, e a Microsoft, ou instituições como o Instituto Avon (apoiado pelo IDIS no seu investimento social corporativo e no monitoramento de ações como a Campanha Um Beijo pela Vida), a Fundação Ford, o Instituto Ronald McDonald e o Instituto Wal-Mart realizaram e apoiaram, juntos, mais de 765 ações sociais 2006.

Dessas, 564 foram programas e projetos de filantropia estratégica divididos nas áreas de educação, saúde, meio ambiente e formação para o trabalho e 201 foram ações de voluntariado promovidas pelas corporações.

Realizado pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) por encomenda do Grupo +Unidos – parceria que reúne a Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Câmara de Comércio Americana (AmCham) e 104 companhias norte-americanas que atuam no país –, o relatório Investimento Social Privado dos EUA no Brasil foi lançado em dezembro de 2008. “Uma pesquisa dessa natureza mostra como a responsabilidade social empresarial e o investimento social privado são valorizados pelas empresas norte-americanas”, afirma Fernando Rossetti, secretário-geral do GIFE. “A estratégia conjunta em um país deve servir como inspiração para as empresas brasileiras que estão se globalizando.”

O primeiro mapeamento das ações sociais realizadas pelo grupo revelou a alocação de cerca de 204 milhões de reais  para fins públicos em todos os estados brasileiros.  A maior concentração, porém, ficou na região Sudeste.

O objetivo da pesquisa é dar subsídios para a análise conjunta de tendências e facilitar o planejamento de ações integradas a partir de 2009. Segundo os representantes do Grupo, a agenda comum deve conter iniciativas e tarefas concretas de curto, médio e longo prazos. “Este estudo permitirá uma reflexão profunda sobre os investimentos, identificando pontos fortes e fracos,  e oportunidades de sinergias entre as ações sociais. Como resultado prático, esperamos aumentar o impacto de cada centavo investido pelas empresas americanas no Brasil”, afirma Rodolfo Fücher, diretor de Investimentos Sociais para a América Latina da Microsoft e membro do Comitê +Unidos.

A diversidade do grupo, que reúne companhias de variados portes e diversas áreas, bem como programas de investimento social corporativo em diferentes estágios, deve permitir trocas de experiências entre os participantes e maior abrangência no enfrentamento dos problemas sociais. Entre as principais tendências de ação social do grupo, estão:

  • Investimentos prioritários na área educacional
  • Projetos para prevenção, tratamento de doenças, ações educacionais de nutrição e de higiene, e de combate ao câncer
  • Projetos de preservação de recursos ambientais, com ênfase em conscientização, reflorestamento e reciclagem
  • Ações de apoio à juventude, com projetos de formação para o trabalho
  • Promoção do acesso a novas tecnologias, em especial às de informação e de comunicações
  • Mobilização de grande contingente de mão-de-obra voluntária
  • Utilização de mecanismos de incentivo/renúncia fiscal por menos da metade das empresas
  • Envio de recursos pelas matrizes norte-americanas a 65% das companhias brasileiras destinados a investimento social
  • Dupla estratégia de investimento por mais de 60% das empresas: aplicação simultânea em projetos próprios e projetos de terceiros
  • Utilização de equipes internas para conceber, monitorar e avaliar ações

As ações serão alinhadas aos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, metas criadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) que prevêem desde o combate a doenças como a AIDS e a malária, até a garantia de sustentabilidade ambiental e o ensino básico universal.

Desenvolvimento por meio da educação

As estratégias de investimento das companhias norte-americanas no Brasil passam, necessariamente, pela educação. Entre as 564 ações realizadas, 44% foram focadas em projetos para a educação que vão desde os cuidados da primeira infância até a educação continuada para adultos. São iniciativas como a capacitação de professores, o financiamento de entidades do setor, a adoção de escolas próximas às unidades de negócio e a promoção da participação comunitária. As ações para a saúde, com 153 iniciativas (27%), as de meio ambiente, com 109 programas (19%), e as de formação para o trabalho, compondo 89 ações (16%), foram os segundo, terceiro e quarto maiores grupos, respectivamente.

O relatório também identificou iniciativas que combinam duas ou mais áreas em sua atuação. São projetos de educação em saúde, iniciativas de aprendizagem voltadas para formar jovens para o mercado de trabalho ou de meio ambiente que também colaboram para a geração de trabalho e renda.

Tradição em voluntariado

A 59 organizações estudadas promoveram mais de 200 ações de voluntariado em 2006. “Essa foi uma das características mais marcantes do grupo revelada pela análise”, afirma Rossetti. Pelo menos 80% das companhias afirmaram ter investido em voluntariado em 2006 e 85% em 2007.  Os esforços mobilizaram cerca de 87 mil pessoas, representando 27% do total dos funcionários do +Unidos.

Os modelos de mobilização de voluntários possuíam algumas estratégias comuns:

  • one-to-one match – significa que, a cada valor em dinheiro arrecadado e doado pelos voluntários, a empresa doa igual quantia, fazendo um match ou par de igualdade
  • dollars for doners – empresas destinam quantias em dinheiro a entidades cujos funcionários realizam trabalhos voluntários por um determinado número de horas
  • maratonas de arrecadação e de prestação de serviços – eventos de voluntariado, realizados em períodos definidos, nos quais os funcionários se mobilizam para a arrecadação de itens ou promovem uma série de atividades em prol da comunidade.

Leia o estudo na íntegra.

 

 

Avaliação Permite Medir Efetividade das Ações da Fundação Banco do Brasil

No primeiro artigo que integra a parceria com o Portal do Investimento Social, do IDIS, a Fundação Banco do Brasil (FBB) explica como adotou a metodologia de avaliação de programas e projetos sociais.

Pelo interior do Brasil, serão estabelecidas metas de capacitação presencial para educadores de Estações Digitais. O objetivo é melhorar e ampliar os resultados do Programa de Inclusão Digital da Fundação Banco do Brasil.

Essa iniciativa de melhoria, assim como muitas outras já implementadas em nossos programas, é resultante do empenho da Fundação em mensurar os impactos de suas ações e, com isso, realinhar as que necessitam de ajustes e aprimorar a gestão e a utilização dos recursos aplicados em benefício das comunidades envolvidas.

Repdrodução: Logomarca da Fundação Banco do BrasilDesde 2006, a Fundação BB utiliza sua metodologia de Avaliação de Programas e Projetos Sociais, com o objetivo de medir o potencial transformador das ações empreendidas. O método utilizado conjuga dois tipos de avaliação que se complementam: a de processos e a de impacto.

A primeira promove o levantamento de dados para a tomada de decisões no processo, dos pontos de vista técnico e estrutural, permitindo ajustes necessários para o alcance dos objetivos. Já a avaliação de impacto permite a medição das mudanças produzidas pela intervenção da Fundação nas comunidades. Com isso, tem-se subsídios para a decisão da continuidade da ação, bem como para a prestação de contas das atividades realizadas.

Conceitos como eficácia (ligado às metas), eficiência (relacionado à aplicação dos recursos) e efetividade (referente aos benefícios e mudanças alcançadas) norteiam a metodologia, que se constitui como um pré-requisito de boa gestão.

Avaliar é uma condição indispensável para o gerenciamento de programas e projetos sociais, já que gera conhecimento sobre a ação realizada, fornece dados para verificação da efetividade do caminho escolhido e permite aprimoramento e correção de rumos, quando necessário. A prática possibilita verificar a pertinência, consistência, coerência e viabilidade das ações empreendidas.

Recentemente foi concluído mais processo de avaliação pela  Fundação Getúlio Vargas (FGV). A ação estudada foi o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), nos estados da Bahia, Pernambuco e Paraíba. Desenvolvido pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), em parceria com a Fundação BB e a Petrobras, o programa incentiva técnicas de convivência com o semiárido por meio da implantação de tecnologias sociais que garantem a existência de água para consumo humano, irrigação e uso animal, nos períodos de estiagem.

O “1” significa terra para produção. O “2” corresponde a dois tipos de água – água potável para consumo humano e água para produção de alimentos. Assim, apesar da pouca chuva, as famílias produtoras podem utilizar água de qualidade durante todo ano, tendo segurança alimentar e nutricional e podendo gerar renda.

Segundo levantamentos da FGV, o programa tem como pontos positivos o fato de os agricultores demonstrarem conhecimento sobre o processo de construção e funcionamento das tecnologias empregadas na produção e a observação de que o P1+2 introduziu o cultivo de hortas, fazendo com que as famílias passassem a consumir mais verduras e legumes.

Por outro lado, outras duas constatações sugerem a necessidade de redirecionamento de esforços: no que se refere às tecnologias empregadas, estas se mostraram eficientes na promoção da segurança alimentar, porém não muito eficazes a geração de renda; e quanto à chamada “segunda água”, percebeu-se que tem ocorrido seu direcionamento para o atendimento das demandas domésticas (que deveriam ser supridas pela “primeira água”). Ao final de todo processo de avaliação, a partir das recomendações do relatório final, tem-se a discussão e a implementação de ações corretivas.

Ao todo, já foram produzidos mais de dez relatórios de avaliações, todas realizadas por empresas contratadas pela Fundação Banco do Brasil, culminando em recomendações de melhorias das ações implementadas pela Fundação e parceiros. A realização do trabalho por instituições especializadas e autônomas garante a isenção, a imparcialidade e a transparência da análise.

Além do processo avaliativo, a Fundação mantém núcleos de monitoramento, responsáveis pelo acompanhamento permanente e sistemático das ações implementadas pelas gerências de Educação e Geração de Trabalho e Renda, utilizando-se de indicadores previamente estabelecidos.

Alguns dos processos avaliativos realizados desde 2006:

 

 

Programa Avaliado 

 Consultoria

Ano

Saneamento Básico na Área Rural (Goiás)  Ecoidéia Serviços Ambientais e Tecnologias Sociais 2006/2007
Produção Agroecológica Integrada Sustentável (PAIS) Fundação Getúlio Vargas 2007
Cadeia do Mel (Piauí) Fundação Getúlio Vargas 2007
AABB Comunidade Hoje Hoje EMP Consulting 2007
Projeto P1 + 2 – Uma terra e duas águas Fundação Getúlio Vargas 2008/2009
Mandiocultura (Bahia) Fundação Getúlio Vargas 2008/2009
Inclusão Digital Hoje EMP Consulting  2008/2009

 

 

CAF Aposta em Estratégia Global

O gerente de Projetos do IDIS Osmar Araújo esteve em treinamento na Charities Aid Foundation (CAF) em Londres e conta, em artigo, a importância de escutar cada vez mais (e melhor) as necessidades dos investidores sociais.

A Charities Aid Foundation (CAF) estabeleceu metas ousadas para os próximos anos. Sem fins lucrativos e com sede em Londres, a organização pretende fortalecer sua rede mundial até 2011 para atender a crescente demanda por serviços que gerem soluções globais na atuação dos investidores socioambientais.

O plano é composto por duas linhas básicas. A primeira disponibilizará um sistema de informação e de transferência de recursos online para todos os 8 escritórios e representantes da Rede CAF. A intenção é proporcionar uma ferramenta ágil e confiável aos clientes que desejem investir em outros países, especialmente aqueles que operam a partir de estratégias globais.

A segunda prevê mais integração entre os escritórios por meio do aperfeiçoamento da metodologia de trabalho, da troca sistemática de experiência e do desenvolvimento do relacionamento com clientes de forma integrada. Com isto, será possível entender melhor as necessidades dos investidores e criar soluções dentro da estratégia global de investimento socioambiental, só que refinadas às realidades específicas dos diferentes países.

Stock.xchng: Representação de rede de pessoasIsso é parte do que pude observar durante o primeiro treinamento internacional para equipes gerenciais, realizado pela CAF em novembro de 2009. O pano de fundo do encontro na capital inglesa foi formado por três questões: o fortalecimento da rede internacional, o estímulo à troca de experiências entre os representantes locais e o estabelecimento de processos formais de colaboração entre as unidades. Durante cinco dias, aconteceram workshops para o aprimoramento das consultorias, visitas a clientes e apresentação de casos.

Cada escritório da Rede CAF enviou de um a dois representantes, apenas a unidade da Bulgária não compareceu por incompatibilidade de agenda. Estiveram presentes integrantes do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), que atua no Brasil e na América Latina, o The Centre for Asian Philanthropy, que atua em Cingapura e região, e os escritórios da CAF nos Estados Unidos, na Índia, na Austrália, na África do Sul e na Rússia.

O workshop teve a função de desconstruir as lógicas prontas de muitos consultores. Durante o debate sobre mobilização e desenvolvimento dos clientes, a conversa veio corroborar o que o IDIS já faz no Brasil e que será replicado em outros países: desenvolver soluções mais customizadas na área de investimento socioambiental.

A meta é elaborar propostas que atendam ao universo daquele investidor, sem oferecer modelos padronizados, como caixinhas prontas. O IDIS há anos atua dessa forma, num relacionamento próximo ao cliente, escutando suas necessidades e oferecendo um repertório de serviços, competências e rede de contatos para proporcionar soluções sinérgicas para os investidores socioambientais.

Ao ser espalhada por toda a rede, essa prática vai auxiliar no atendimento mais “artesanal” do cliente no alcance mundial do investimento social. Como? Junto a um sistema de informação integrado, com intercâmbios entre as unidades, será possível disseminar as expertises e até facilitar o fluxo das doações.

Não são raros, por exemplo, casos de investidores norte-americanos que aplicam em causas de países da América Latina ou da África. Com os escritórios da CAF integrados na estratégia internacional de consolidação da rede, o fluxo será agilizado.

Captação

O intercâmbio também serviu para conhecermos mais de perto outras práticas. Uma das mais interessantes é adotada pela CAF Austrália. Os australianos possuem vários modelos para realização de doação online, inclusive um que utiliza cartão de crédito.

Esse tipo de ferramenta não é uma novidade no Brasil, mas ainda é pouco utilizado pelos doadores brasileiros. Além de ser uma maneira fácil para o investidor efetivar suas doações, organizações como a CAF funcionam como um avalista das causas e organizações que receberão os recursos.

Para se ter uma ideia do alcance que pode ter no país, basta observar os dados do comércio eletrônico. Mesmo sob os efeitos da crise econômica, cresceu 27% no primeiro semestre de 2009 se comparado ao mesmo período de 2008, segundo dados da e-bit, empresa especializada no setor. O faturamento foi de R$ 4,8 bilhões. Os números indicam o imenso potencial de utilização de ferramentas online no Brasil.

 

 

A Aderência o Constructo da Sustentabilidade e a Prática das ONGs

Dissertação apresentada por Rosana Kisil à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas propõe um conjunto de critérios para analisar a sintonia entre o constructo da sustentabilidade e a prática de ONGs. Entende-se por constructo um conjunto de conceitos que, juntos, oferecem uma imagem ou idéia que não pode ser diretamente observada, mas, apenas indiretamente, por meio de seus componentes.

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Novos Papéis para as Fundações Corporativas

Publicado originalmente no site do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (www.gife.org.br), o texto de Rodrigo Zavala trata dos novos desafios enfrentados pelas fundações corporativas. O artigo faz referência a discussões levantadas pela CAF sobre a difícil relação entre os interesses das empresas e as necessidades das fundações que estas mantém.

As fundações corporativas começaram a enfrentar novos desafios nos últimos anos, principalmente no que se refere à inter-relação entre Investimento Social Privado (ISP) e Responsabilidade Social Empresarial (RSE). E o assunto está longe de sair da agenda em 2008.

Consideradas a “inteligência social das empresas”, as fundações passaram a incorporar novas responsabilidades trazidas por suas mantenedoras, que vêem nelas a possibilidade impulsionar uma gestão corporativa comprometida com a ética, tal como serem facilitadoras de diálogos entre o setor privado e a sociedade.

A última discussão sobre o assunto veio do Reino Unido, ainda no ano passado, quando a Charities Aid Foundation (CAF) lançou um estudo que explora a difícil relação entre os interesses empresariais e as necessidades das fundações que mantém. Com pouca repercussão no Brasil, as matérias sobre o levantamento pouco se diferiam quanto ao seu teor.

Com o nome de The changing nature of corporate responsibility – what role for corporate foundations? ( algo como, a natureza mutante da responsabilidade corporativa – qual a função das fundações coporativa), o estudo foi desenvolvido a partir de um estudo prévio, feito em 2006, o Revealing the Foundations (revelando as fundações), também realizado pela CAF.

No entanto, ele foi ampliado por meio da realização de entrevistas com empresas e suas fundações européias, especialistas em ISP e 20 ONGs beneficiadas pelas doações de empresas ou fundações.

Com a nova pesquisa, priorizaram-se fundações que não têm fundos patrimoniais, considerando-se que: como elas não tem recursos próprios, são mais dependentes do orçamento aprovado pelo corporate business. Isto é, com pouca autonomia para decidir suas estratégias de atuação.

As conclusões apontaram para um resultado diverso (três, especificamente) quanto ao impacto do diálogo entre RSP e ISP:

Para uma parcela das organizações argüidas, que chamaremos de Grupo A, suas funções em relação ao financiamento de projetos sociais estavam bem-definidas e que, portanto, a responsabilidade da empresa mantenedora tinha pouco impacto em suas atividade.

Já para o Grupo B, a razão original da criação da fundação não existe mais, e a responsabilidade corporativa foi para a empresa uma oportunidade para rever o papel da fundação, procurando integrá-la mais ao negócio.

Enfim, o Grupo C apontou que a responsabilidade corporativa representou uma oportunidade para criar uma fundação com o propósito específico de aproximar a empresa da responsabilidade social.

Com essas considerações de contexto, a pesquisa propõe um novo caminho para a fundação empresarial, que aponta de forma genérica algumas práticas positivas que as empresas e as consideradas “inteligência social das empresas”. No entanto, não se chega a reais propósitos sistematizados que podem direcionar novas posturas.

Esse mesmo problema foi detectado aqui no Brasil em um encontro promovido pela Aliança Capoava – organização composta pela Fundação Avina, Ashoka Empreendedores Sociais, Instituto Ethos e o GIFE. O Evento reuniu, em São Paulo, representantes dos principais institutos e fundações empresariais que atuam no país.

Os convidados foram estimulados a listar as demandas emergentes nos institutos e fundações que representam. Entre as principais conclusões foram apresentadas:

Ser consultor interno para as mais diversas áreas da empresa, promovendo uma coerência entre discurso e prática;

  • facilitador de diálogos entre as empresas e a sociedade civil, conscientizando-a sobre temas como RES, ISP e sustentabilidade;
  • mobilização de recursos, otimizando-os a partir de parcerias intersetoriais com foco no desenvolvimento local;
  • estimular a definição de papéis do Estado, sociedade civil e setor privado;
  • tornar-se indutor/tradutor/mediador das demandas sociais;
  • e ser responsável pela melhoria no processo de gestão do investimento social.

Embora a lista concentre idéias genéricas, ela pode ser entendida por meio da relação histórica entre ISP e RSE no país. Segundo o secretário geral do GIFE, Fernando Rossetti, o boom do terceiro setor na década de 90 mobilizou empresas na criação de seus institutos e fundações no investimento maciço ao fomento de projetos comunitários.

No entanto, a hipercompetitividade global – que exige padrões de governança e sustentabilidade cada vez maiores dos negócios -, somada à profissionalização do terceiro setor, vem impondo novos desafios a essas instituições. “A busca por modelos de gestão coorporativas mais sustentáveis mostrou que responsabilidade social empresarial é muito maior do que um trabalho comunitário. Ao perceberem isso, as empresas acabaram pedindo ajuda às suas fundações e institutos, que antes respondiam apenas pelo investimento social”, explica o secretário.

O que mostra a pesquisa e o encontro é simples. Não apenas o Brasil, como todo o mundo está engatinhando na busca de soluções. Como não há bibliografia, pesquisas ou estudos consistentes para se apoiar, as respostas virão por meio de debates permanentes, que apontarão os rumos para consenso e entendimentos. Daí o tema ser pauta sine qua non na agenda de 2008.

Nesse contexto, o GIFE irá preparar uma mesa especial de debates sobre o tema durante o 5º Congresso GIFE sobre Investimento Social Privado, a ser realizado de 02 a 04 de abril de 2008, em Salvador.

Assumindo Responsabilidade

Publicado originalmente na revista Caritas, o artigo de Shanta Acharya apresenta uma macro visão sobre o papel do investimento socialmente responsável. Shanta é diretora da Initiative on Foundation and Endowment Asset Management da London Business School.

Fluxos de capital globais têm um impacto significativo no desenvolvimento sustentável, no meio-ambiente e, em última instância, no tipo de sociedade que criamos. É crítico examinarmos nossas prioridades quando investimos e compreender os impactos de longo prazo em todos os aspectos da vida na Terra. Se cada um de nós se tornar mais responsável, os efeitos incrementais poderiam, literalmente, mudar o mundo. É verdade que as corporações e os fundos de pensão possuem um enorme poder, mas estas instituições também devem ser responsáveis perante nós, seus acionistas. O ponto de virada pode ser alcançado se os indivíduos compartilharem a agenda sobre o Investimento em Responsabilidade Social (IRS).

Definições e implementação

Quando nos referimos a IRS, diversas questões surgem com relação às definições e avaliação. O problema das definições – o que nós acreditamos ser ético ou socialmente responsável – é importante porque tais decisões são assuntos para diversas vertentes. Quando um pequeno grupo de trustees de uma organização social ou um grupo de indivíduos (assim como Quakers) concordam sobre o que é ético, ou sabem “qual é a coisa certa a ser feita”, eles também são solicitados para servir o seu grupo de influência sem o compromisso de obter um retorno. Para um grande grupo de investidores, o conceito por si só é frágil com vertentes cognitivas que podem criar armadilhas éticas. Diversos acordos e tratados, alguns internacionais, têm sido estabelecidos, mas o nível de implementação varia. Países desenvolvidos ainda têm que investir adequadamente no monitoramento de questões sobre o IRS. Em países em desenvolvimento, a má gestão e a corrupção freqüentemente resultam no desperdício dos recursos financeiros. A população pobre ao redor do globo não tem participado da criação da riqueza. Ao contrário, a degradação ambiental, a decadência dos serviços públicos e bem-estar social – em muitos casos a inexistência destes serviços – somado à ausência de oportunidades tem afetado a confiança sobre a eficácia do mercado capital global. A história recente tem nos ensinado que a liberalização do mercado pode falhar dramaticamente se o governo responsável, a solidez do mercado financeiro e o papel da lei estão ausentes. Assim que examinamos nosso mundo no século 21, é uma triste realidade que um terço da população ainda viva abaixo da linha de pobreza.

Measurement e valor

Investidores reconhecem a urgente necessidade por uma nova arquitetura ética que se iguale ao novo sistema financeiro global, mas reconhecem a inexistência de um mecanismo eficaz para a implementação e monitoramento. E este é o segundo e mais prejudicial problema: o que não pode ser medido não pode ser gerenciado. A razão pela qual um banqueiro investidor recebe milhões é, simplesmente, devido a sua habilidade para gerar receita para a firma que parece ser mensurável, apesar de que o ponto cego de uma avaliação a curto-prazo tem resultado em erros maciços de julgamento, como a crise a crise sub-prime. Tanto a estrutura de compensação lucrativa relativa na indústria financeira quanto os profissionais exercem influência para agir de maneira não-ética e atrai pessoas com essas tendências de comportamento para auto selecioná-las para entrar nesta indústria. Enquanto uns não podem legislar contra a ganância ou estupidez, nós podemos coletivamente influenciar políticas públicas que não exigem tais comportamentos. Professores, doutores e enfermeiras, entre outros profissionais, têm trabalhado sem expectativa de obter um bônus; mas nós não temos problema em pagar por um gerente de hedg fund 2% a 3% de taxas anuais e 20% a 30% do resultado. Recompensar as pessoas pela sua capacidade de gerar riqueza é significativo; mas recompensar os diretores e presidentes por falhar ou por fazerem o melhor em seus trabalhos é, em minha opinião, um suicídio financeiro. Além de termos sido desapontados pos economistas, acadêmicos, especialistas em investimentos que têm dedicado tempo e dinheiro para desenvolver diferentes estratégias de comércio, nós também não sabemos a melhor maneira de mensurar a contribuição que os professores, enfermeiras, policiais ou bombeiros podem trazer para a sociedade. Nem mesmo sabemos como mensurar uma “boa” empresa. A ausência de informações relevantes representa uma significativa barreira para a nossa habilidade para valorar as coisas. O Produto Interno Bruto (PIB), a mais visível estatística econômica, é a soma das transações econômicas. Mas não é reflexo da saúde financeira, bem-estar social ou questões ambientais. Enquanto alguns países estão produzindo “contas satélites”, medindo o trabalho da casa, o trabalho social e o impacto das atividades no meio ambiente, as evidências são pequenas de que essas estatísticas estão exercendo alguma influência nas políticas públicas. No nível micro, a lista da maioria das folhas do balanço patrimonial  destes pontos cegos é impressionante: eles raramente incluem o valor da marca ou a contabilidade para os recursos intangíveis relacionados a pesquisa e desenvolvimento e ao capital intelectual e, certamente, nunca capitalizaram o valor para os recursos humanos ou para o valor do empreendimento. Relatórios anuais não são suficientes como justificativa para os stakeholders que apóiam a sustentabilidade das empresas a longo prazo como uma entidade econômica e, assim, deixa de revelar a verdadeira fonte do valor da corporação. Transpor a lacuna entre a avaliação das questões sociais e ambientais da análise financeira no processo de investimento é o desafio que os analistas e investidores encaram atualmente. Isto não é para sugerir que pode ser feito. Ao contrário, eu encorajaria investidores “responsáveis” para investir no que eles acreditam: um mercado eficiente depende do crescimento do ativo. Investidores “convictos”, como os gerentes de hedge funds altamente capacitados. E dessa maneira, além de provocar a transformação das atividades de investimento ético em um compromisso sério, também envolverá uma melhor compreensão sobre o que cada um está “engajado”. Como Warren Buffet apontou, nunca invista em algo em que você não tem compreensão. Os investidores reconhecem que há um dividendo da governança corporativa anexa às corporações; eles usualmente comandam um mercado superior de avaliação, têm acesso mais barato ao capital e benefícios de uma base forte de acionistas. O ativismo dos acionistas está se tornando um importante caminho para influenciar as empresas a abordar as questões sociais e de políticas públicas. Desde 2000, fundos de pensão ocupacionais no Reino Unido têm sido responsabilizados pelas suas políticas de ética e de votação assim como pela performance de seus fundos financeiros. A legislação não retira os requisitos para que os trustees tomem decisões para alcançar os melhores interesses para o plano dos beneficiários. A lei endossa a primazia para preservar os interesses financeiros dos beneficiários e as cortes consideram que os trustees das corporações estão sujeitos aos princípios da lei de investimento.

Investimento ético e IRS

Se os investidores optam por marginalizar as corporações indesejadas (como neste caso, por exemplo, com os Comissionários da Igreja que impedem o investimento em companhias cujas receitas são derivadas de negócios associados ao comércio de armas, álcool, tabaco ou jogos) ou engajar ativamente na gestão de companhias que possuem ações em (como é o caso de diversos fundos administrados pelo grupo Hermés, por exemplo), não há razão para não engajar-se ativamente no processo de investimento. Enquanto IRSou investimentos éticos precisam ser diferenciados do “investimento social”, que não é um investimento no sentido financeiro do termo. O Investimento Ético é um investimento no sentido financeiro, e os trustees são obrigados pela lei a atuar adequadamente. O documento de governança de uma organização social geralmente impõe restrições éticas no escopo do poder de investimento da organização. Tais restrições devem, certamente, ser observadas pelos trustees. Usualmente, serão os próprios trustees que decidirão adotar uma política de investimento ética. Ao adotar tal política, a Comissão de Caridade estipulará: “Eles (trustees) precisam ter consciência dos princípios reais que o seu poder de investimento deve ser utilizado para avançar as propostas do conselho e estas propostas serão melhor atendidas buscando o máximo retorno consistente com a prudência comercial. Como o juiz coloca … “A maioria das organizações sociais precisam de dinheiro; e o quanto mais estiver disponível, mais os trustees buscarão realizar”. Uma política de investimento ético é esperada a ser inteiramente consistente com o desejo do investimento de buscar os melhores retornos. Há um ponto de vista que tem crescido de que as companhias que atuam de uma maneira socialmente responsável tem mais chances de oferecer o melhor balanço a longo-prazo entre o risco e o retorno do investimento. Os trustees são livres para adotar qualquer política de investimento ético que eles acreditem que irá resultar em um melhor equilíbrio entre o risco e a recompensa pelo seu trabalho filantrópico. Assim como qualquer outra estratégia de investimento, eles devem ter cuidado ao desempenhar as suas funções; particularmente, eles devem considerar a necessidade em diversificar e devem pedir conselhos quando necessário. Os investidores do setor de filantropia desejam investir os seus recursos de uma maneira responsável refletindo os seus objetivos em um investimento a longo-prazo. Ainda que a insistência em “ser bom” com a garantia de um retorno financeiro pode desnecessariamente confundir a questão. Assim como os hedges funds oferecem riscos atrelados ao retorno, investidores éticos devem ter como objetivo alcançar os aspectos intangíveis e de longo-prazo de serem investidores responsáveis. O risco para um investidor responsável é não ter a coragem da sua convicção ética em desenvolver uma estratégia apropriada de investimento, e não se satisfazer com um baixo retorno se requisitado como o verdadeiro custo para conduzir um negócio de maneira ética.

A Curva da Mudança em Fundações

John Healy esteve no Brasil durante o primeiro módulo do curso Foundation School, promovido pelo IDIS em parceria com a Charities Aid Foundation (CAF) e a C.S. Mott Foundation. Organizado para discutir estratégias de investimento social familiar no Brasil, o seminário trouxe Healy para discutir os conceitos que fundam a filantropia estratégica. Atual professor do Centre for Nonprofit Management na Trinity College Dublin, Healy foi presidente e CEO da The Atlantic Philanthropies entre 2001 e 2007. No seu artigo escrito exclusivamente para o IDIS, o consultor reflete sobre as bases do investimento social e defende a adoção de medidas objetivas para potencializar resultados.

John HealyA base do modelo atual de fundações financiadoras é recente diante da longa história da filantropia. A prática já era comum entre egípcios, gregos e romanos, que investiam em obras como bibliotecas e academias de estudo. Na Idade Média, a este conceito foi introduzida a criação de fundos patrimoniais, que tinham como objetivo garantir existência de longo prazo à instituição.

Paralelo à revolução industrial, o século 19 também assistiu ao crescimento da cultura de filantropia. O Reino Unido, em especial, produziu uma geração de investidores sociais que começaram a estabelecer os primeiros traços de uma filantropia científica. Joseph Rowntree, fundador da Joseph Rowntree Foundation, defendia a necessidade de pesquisar as causas das mazelas sociais, em vez de apenas remediar as manifestações superficiais.

O posicionamento de Rowntree era baseado nos ensinamentos de duas figuras importantes do investimento social. Nos Estados Unidos, os filantropos Andrew Carnegie e John Rockefeller estabeleceram, há pouco mais de cem anos, os primeiros parâmetros de excelência para fundações.

Carnegie, que acumulava a maior fortuna do mundo quando decidiu se aposentar, em 1901, acreditava que o problema da modernidade era a administração da riqueza. As grandes disparidades sociais faziam com os homens se afastassem e a filantropia revertia esta situação. Além disso, seguia uma doutrina que pregava o retorno de grandes fortunas à sociedade como forma de investimento social. “O homem que morre rico morre sem honra”, afirmava.

Ainda em 1889, Carnegie criticava as ações filantrópicas não-estratégicas. Afirmava que para cada mil dólares gastos em caridade, 950 eram desperdiçados. A filantropia científica deste período estabelecia propósitos amplos em causas essenciais, agia em uma escala sem precedentes, financiava projetos ao invés de desenvolver programas próprios, possuía amplo escopo geográfico e fundava organizações com administração profissional e laica.

Em 10 anos, o filantropo investiu 90% de sua fortuna. Em 1911, ele tinha doado mais de 43 milhões de dólares para a edificação de bibliotecas públicas (duas mil foram construídas) e cerca de 110 milhões para educação e paz mundial. Fundado em 1910, o Carnegie Endowment for International Peace é a mais velha instituição de privada norte-americana que se concentra em assuntos de guerra e paz.

As bases lançadas por Carnegie e Rockfeller foram essenciais para o entendimento de filantropia e investimento social contemporâneo. Porém, para atender melhor às necessidades da nossa sociedade, o modelo precisa de ajustes. O escopo amplo e a missão flexível do passado, por exemplo, devem ser substituídos por foco e objetivos mensuráveis.

Isto porque os estudos e conhecimento empírico comprovam que a especialização em áreas determinadas potencializa a eficiência das instituições. Crescer em um eixo vertical e não horizontal é a melhor estratégia de missão e trabalho para fundações financiadoras.

A perpetuidade da organização também é um assunto que provoca debates no setor. A fundação que decide adotar a política de uma vida limitada pode lidar com os problemas de maneira direta e gastar estrategicamente o máximo de dinheiro disponível.

Além disso, estas organizações devem abandonar muito da arrogância herdada das fundações do início do século. Isso porque as fundações financiadoras possuem uma percepção exagerada de seu potencial para mudança social. Essas instituições privadas podem ajudar a acelerar processos em curso e despertar a atenção pública para assuntos cruciais.

 

 

Investimento Social Estratégico: Integrando o Processo e a Visão

Stephen P. Johnson é vice-presidente da The Philanthropic Initiative, uma organização sem fins lucrativos que, há duas décadas, orienta ações em filantropia estratégica. No artigo escrito exclusivamente para o IDIS, Johnson analisa as bases para doar bem.

Stephen Johnson, TPIInvestimento social estratégico – ou, como é mais conhecida nos Estados Unidos, “filantropia estratégica” – tem diversos significados. No The Philanthropic Initiative, Inc. (TPI) nós acreditamos que o investimento social estratégico tenha os seguintes componentes principais:

  • Doação e voluntariado que combinam “cabeça e coração”
  • Doação e voluntariado que é focado, impulsionador e “mão na massa”
  • Doação e voluntariado que tem o objetivo transformações a longo prazo e sistemáticas

Investidores sociais estratégicos tendem a ser exatamente o que o nome se propõe: que se comportam como investidores de qualquer mercado. Estes investidores são direcionados por uma visão e por valores. Eles conhecem suas metas e objetivos. Eles possuem um processo de validação das organizações em que investem. Eles estão interessados em análise de riscos, mas também estão dispostos a assumir riscos para atingir suas metas. Eles estão interessados em medir o retorno de seus investimentos. E eles estão dispostos a assumir diversos papéis além de financiadores para atingir seus objetivos.

TPI é um organização da sociedade civil que presta serviço de consultoria para indivíduos, famílias, fundações e corporações que queiram fazer investimento social. Fundada em 1989, nossa missão é ampliar o impacto do investimento social na sociedade. Nós temos o compromisso de assessorar nossos clientes a desenvolver e implementar abordagens estratégicas de alto impacto para a filantropia. Como apresentado com mais detalhes no site do TPI, os serviços oferecidos para os doadores incluem planejamento estratégico, facilitação, pesquisa e design programático, e implementação e avaliação de iniciativas estratégicas. Durante os últimos 20 anos, nós trabalhamos com mais de 350 clientes, incluindo um número crescente de doadores que possuem interesses internacionais.

Iniciando o Investimento Social

Os doadores com quem o TPI tem trabalhado ao longo dos anos são sérios com relação ao investimento social estratégico. Nós temos um cliente que freqüentemente nos conta que ganhar dinheiro foi fácil – a conseqüência natural de se fazer algo em que ele é bom. Entretanto, doar “bem” era menos intuitivo e mais difícil. Apoiar a sua universidade, a campanha capital do hospital da região, eram escolhas óbvias para destinar suas doações. E escolhas importantes, mas descobrir maneiras de fazer a diferença na sociedade; de como alinhar seus valores e suas paixões com as suas ações de filantropia; e de como criar estratégias que alavancavam suas doações; de como determinar o impacto de seu investimento; e de como e quando envolver a sua família; estas eram desafios muito mais difíceis para ele.

Por que aqueles que doam tão bem, que buscam mudar o mundo ou suas comunidades, decidem se tornar “investidores inovadores”? Como e com quem eles aprendem a como fazer uma boa doação? Quão importante é um missão filantrópica? Metas e estratégias? Quais são os riscos e oportunidades ao envolver esposa e filhos em sua iniciativa? Qual é a forma de atuação correta para as doações? E onde é possível buscar e encontrar conselho suporte necessário para criar e avançar os programas de doação que satisfazem os interesses e são efetivos?

Muito tem sido escrito sobre essas questões, mas assim como muitos assuntos na Era da Informação, o desafio para adquirir conhecimento e habilidades para se tornar um doador de alto-impacto não é a ausência de informação, mas sim o excesso. O que muitos doadores que estão embarcando na odisséia de doações efetivas realmente precisam são dados – ou ao menos um bom norte – para guiá-los no oceano de uma filantropia e investimento inovadores. Esse artigo tem a intenção de proporcionar aos investidores ferramentas básicas de navegação para aventurar no oceano do investimento social estratégico.

Por que doar?

A pergunta “Por que doar?” parece óbvia até que ela venha a ser aparentemente não óbvia. A resposta é única para cada e todo doador. Algumas vezes o cálculo é muito simples – “Minha esposa faleceu de câncer de mama e eu quero ajudar a encontrar a cura e imortalizar a sua vida extraordinária”. Mas com maior freqüência isto tem se tornado complexo, uma rica mistura de motivações, sonhos e objetivos.

Nos vinte anos de trabalho do TPI com indivíduos e famílias de alto poder aquisitivo,  nós já nos deparamos com temos quase todos os motivos para doar, como a quantidade de nossos doadores. Algumas das motivações mais freqüentes incluem:

  • Legado – Entre alguns doadores, o desejo de criar um legado espiritual como uma forma de equilíbrio ou um complemento para o legado material é forte
  • Comunidade – Muitos doadores se sentem abençoados por sua inteligência, educação, cuidado da família, suporte da comunidade, trabalho árduo, sucesso e sorte. Alguns devem se sentir privilegiados por serem capazes de apoiar suas comunidades com uma parte de sua riqueza. Outros devem se sentir moralmente obrigados a “dar um retorno”. Alguns devem sentir ambas as coisas.
  • Cura – Em hebraico há uma bela frase “tikkun olan,” que significa “para curar o mundo em pedaços”. Há muito a ser curado – fome, moradores sem lar, doenças, negligência infantil, degradação do meio ambiente, e infelizmente, a lista não tem fim.
  • Desafios – Entre os empreendedores, o desafio de resolver um vergonhoso e, aparentemente, problema social sem solução, pode ser a motivação para a filantropia criativa.
  • Família – Agora que o negócio da família foi vendido, quais são as oportunidades para se trabalhar com a família? Para muitos, a filantropia pode funcionar como essa plataforma.
  • Honra – Aqueles que patrocinaram uma sinfonia e bibliotecas e laboratórios de pesquisa em memória da família e amigos, assim o fazem para honrar aqueles que amam.
    Reconhecimento – Para alguns, o desejo se ter o reconhecimento da sociedade, ou estar com as “pessoas certas” é uma importante motivação para doar.
  • Tradição – Em algumas famílias, é uma tradição de muitos anos.
  • Satisfação – Talvez a principal motivação para doar seja somente “sentir-se bem”. Doar faz as pessoas se sentirem bem. Satisfaz superar um desafio, causar impacto, mudar o mundo (e, às vezes, a si mesmo) para o melhor.
    Compreender as motivações para doar é importante. A ausência do entendimento do eu motiva as doações, de que forma atuar, em que foco, e decidir a estratégia; nada mais que uma caminhada aleatória onde todos os caminhos são possíveis.

Algumas questões preliminares

Trabalhando com clientes individuais e familiares que pretende melhorar suas doações ou considerando um novo nível de filantropia, TPI geralmente entrevista o doador e faz as seguintes perguntas:

  • Por que doar?
  • Por que você está interessado em filantropia?
  • Quais são seus valores? Seus objetivos filantrópicos? Suas paixões sobre a sociedade e o mundo em que você vive?
  • O que você espera alcançar com a sua doação?
  • É importante que sua família esteja envolvida com a sua filantropia? Por quê? Como você gostaria que eles se envolvessem?

Considerações Financeiras

  • Quanto você pode doar?
  • Quanto você quer doar agora? Quanto mais tarde? Quanto ao morrer?
  • A decisão de como doar é sensível ao tempo?
  • Você precisa de renda no momento, mas gostaria de beneficiar uma organização filantrópica na sua morte?

Quanto tempo você pode investir em suas ações filantrópicas?

  • Você imagina que sua filantropia será principalmente e exclusivamente a doação de dinheiro, ou você imagina investir quantidade significativa de tempo também?
  • Você se encontra em um momento da vida quando pode investir uma considerável quantidade de tempo em suas ações?
  • Se você fosse criar uma fundação privada você teria a disponibilidade para realizar visitas de campo, participar e gerenciar encontros regulares com o conselho?
  • Você acredita no modelo da “filantropia engajda” trazendo seus conhecimentos profissionais assim como seus ativos financeiros para a governança e operação de uma organização.

Quanto “mão na massa” você pretende ser?

  • Você pretende doar para organizações não-governamentais e ser capaz de dirigir os programas contemplados pela sua doação?
  • Você gostaria de conhecer as pessoas que trabalham com a organização para as quais você pretende destinar suas doações? Encontrá-los em suas bases de trabalho?
  • Você é intolerante com relação às funções administrativas e burocracias? Você prefere delegar essas funções para os outros?

Doando Bem – Qualidades de um Investimento Social Efetivo

No decorrer do trabalho com mais de centenas de clientes ao longo dos anos, TPI descobrir que os doadores que provocam maior impacto e que a partir de suas práticas filantrópicas obtém suas maiores realizações e que são caracterizados por alguns – e raramente, por todos – pelas qualidades a seguir. (Aqui, agradeço a meus colegas Leslie Pine, Melinda Marble e Joe Breiteneicher, que prepararam uma versão preliminar da lista abaixo).

Valores-Direcionadores

O investimento social é geralmente dirigida por fortes valores familiares e pessoais, crenças sobre o que é importante para a vida. Estes valores, e paixões pessoais e familiares que geralmente os acompanham, necessitam de uma orientação para doar. Ao trabalhar com famílias e tentar ajudá-las a identificar seus valores nós geralmente fazemos perguntas como:

  • Quais são os seus valores pessoais/ familiares? O que você e/ou a sua família defende?
  • Quais são os valores que guiam as escolhas que você faz na vida?
  • Como os seus valores estão coerentes com o tipo de doador que você gostaria de ser?
  • Quais são as histórias que você conta em sua família sobre a sua família e seus ancestrais? Que valores eles representam?
  • Quais foram os exemplos de valores que basearam suas decisões sobre as doações passadas?

Pró-atividade

Doadores eficazes são freqüentemente doadores pró-ativos. Suas doações são destinadas de acordo com suas visões e paixões, e não a partir de pedidos dos outros. Esses filantropos decidem o que eles têm interesse em investir, quais as questões e causas a serem combatidas, e depois desenhar estruturas para direcionar esses objetivos.

Focado

TPI uma vez foi descrito pelos membros do seus próprio conselho como os “propagandistas para o foco”. Se é ou não uma “propaganda”, trata-se de um credo. O foco para o investimento social cria a capacidade de concentrar recursos. Ajuda a definir e clarear objetivos filantrópicos. Ter foco possibilita ao doador adquirir conhecimento e inteligência sobre uma questão particular e a avaliar e para avaliar oportunidades de financiamento tendo como pano de fundo este conhecimento. Além disso, foco também ajuda o doador a dizer “não” para os pedidos que não do seu interesse.

O foco vem de diversas maneiras. Pode ser:

  • Programático. Exemplo: erradicando doenças; ajudar os moradores de rua; preservação das florestas
  • Geográfica. Exemplo: a comunidade que foi base para os negócios da família durante gerações
  • Minorias. Exemplo: mulheres, mães solteiras
  • Valores específicos. Exemplo: organizações comprometidas com a preservação das famílias
  • Estratégica. Exemplo: construindo infra-estrutura e capacidade das não-governamentais

Orientado por Meta/ Resultado

Muitos doadores eficazes têm clareza sobre suas metas e resultados esperados, e pedem aos seus parceiros o mesmo. Quando possível, o filantropo desenvolve indicadores concretos e mensuráveis de sucesso para a sua filantropia. Por exemplo, um financiador interessado em promover oportunidades econômicas para a população local deve medir o impacto do financiamento a partir de informações como criação de novas oportunidades de trabalho, crescimento salarial, ou, menos tangível, mas ainda mensurável, desenvolvimento de novos conhecimentos entre os residentes da comunidade.

Baseado em Pesquisa e  Contexto Social

A filantropia mais eficaz envolve uma combinação da “cabeça com o coração”. Enquanto as questões sobre as áreas e objetivos podem ser direcionadas de acordo com a visão e valores, a filantropia estratégica envolve uma pesquisa rigorosa e a análise, por exemplo, das lacunas dos serviços, necessidades, oportunidades, melhores práticas, abordagens eficazes. Equipado com essas ferramentas, os doadores podem determinar a maneira mais eficaz de direcionar os seus recursos para fazer a diferença.

Estratégias e Papéis claramente definidos

Uma vez que a visão está clara e que o foco e os objetivos estão definidos, o próximo passo é selecionar as estratégias que contribuirão para alcançar os objetivos do doador. Ainda, que papéis que o doador gostaria de ter em suas ações filantrópicas? Alguns papéis incluem:

  • Melhoria da Capacidade e infra-estrutura (de organizações, vizinhança, ou até mesmo de campos de interesse)
  • Inovador/ incubador (de novas idéias, programas ou organizações)
  • Disseminador/ replicador (de modelos efetivos e melhores práticas)
  • Agente transformador (da estrutura cultural, social e legal, ou de expectativas, direcionando causas subjacentes e sistemas)
  • Desenvolvimento Comunitário (desenvolver capital humano, social ou físico na área)
  • Crítico ou advogado (de políticas públicas ou sociais)
  • “Venture philanthropist” (apoiar empresários sociais que estão começando ou construindo organizações, ou tentando novas abordagens)
  • Desenvolvimento de líderes (de organizações, escolas ou comunidades)

Os papéis que os financiadores escolhem influenciam a forma que eles vão ativar e que ferramentas vão utilizar: financiamento a projetos, capacitação técnica, articulação de doadores que pensam da mesma maneira, empréstimo para organizações sociais, e/ou mobilização da mídia.

Processo de Validação

Assim como um investidor financeiro, o investidor social prudente condiciona o financiamento de projetos significativos a um processo de validação apropriado, por exemplo, acessar as habilidades da organização para qual a doação será destinada assim como o projeto específico a ser financiado. O processo de validação deve incluir, por exemplo, revisão cuidadosa da proposta, visita de campo, e conferir referências.

Conclusão

Tomar boas decisões sobre as doações é como tomar boas decisões sobre qualquer outro investimento – parte arte, parte ciência. Não existe um processo mágico que garantirá o sucesso de todas as doações ou financiamentos. Mas para aqueles doadores que obtém sucesso no casamento de sua visão e valores com um pensamento provocativo, pesquisa, e processo de validação; o impacto de suas doações pode ser virtualmente ilimitado.

Tornar-se um sábio doador pode levar tempos. Demanda um trabalho árduo, persistência, paciência, disponibilidade para experimentar e, algumas vezes, para falhar. Mas também deve e pode ser divertido – “divertido” não no sentido leviano, mas “divertido” como proveitoso e capaz de trazer alegria. A filantropia, enquanto trabalho sério, não deveria ser tão séria a ponto de se tornar um peso. Se o trabalho parecer opressivo em alguns momentos, não hesite em buscar pares ou parceiros, e ajuda externa.

Talvez o mais importante de tudo, lembre-se: os investidores sociais têm a permissão para sonhar grande sobre o que é importante para o futuro que buscamos para nossos filhos e os filhos de nossos filhos. Estes sonhos, seguidos de maneira ponderada e criativa, são oportunidades reais de filantropia, e eventualmente sua essência. Dinheiro bem investido pode transformar o mundo, e algumas vezes, apenas uma vida por vez.

O Futuro da Arrecadação de Recursos

Consciente do interesse que as organizações sem fins lucrativos possuem em ferramentas para arrecadar recursos, o centro de pesquisa da Charities Aid Foundation (CAF) monitora inovações em ferramentas neste campo. O New Media Fundraising: 21st Century Innovations é uma fonte de informação sobre rotas de financiamento disponíveis a partir de novas tecnologias.

Ainda no prefácio do documento, o CEO da CAF, John Low afirma que as ferramentas de arrecadação de recursos passam por profundas mudanças caracterizadas por inovação e diversificação desde que a filantropia foi formalizada na Inglaterra, em 1601.

Segundo ele, o horizonte de possibilidades foi ampliado ainda mais nas últimas décadas, quando novas mídias – como a Internet, a televisão digital e a telefonia celular – passaram a oferecer oportunidades de interação eletrônica e online. Como resultado, Low aponta que as organizações estão constantemente adaptando suas técnicas de obtenção de dinheiro a estas tecnologias.

De acordo com o documento, a Internet é o formato com mais potencial e alcance para arrecadação de recursos. Na Inglaterra, a CAF identificou que as doações online dobraram, passando de 3,3 milhões para 6,8 milhões de libras entre 2003 e 2004. Nos Estados Unidos, o processo é semelhante: o The Chronicle of Philanthropy, que monitora doações no país desde 1999, apontou um aumento de 37% em investimento social privado realizado pela internet em 2006.

Para aproveitar as facilidades que o meio oferece – a Internet está à disposição dos doadores 24 horas por dia –, muitas organizações sem fins lucrativos criaram seus próprios websites. Eles facilitam doações online, oferecem funcionalidades de arrecadação de recursos, recebem inscrições de novos membros e até aceitam doações por meio do cartão de crédito. O comércio virtual de produtos relacionados à filantropia também é uma tendência. O site eBay for Charity, por exemplo, conseguiu arrecadar mais de 5 milhões de libras em dois anos de funcionamento.

O papel das redes virtuais também é apontado no estudo. Ao mesmo tempo em que oferece uma boa oportunidade de conscientização sobre o trabalho de organizações sem fins lucrativos, as comunidades virtuais reúnem interessados no assunto e oferecem um conjunto de potenciais doadores.

Iniciativas como MySpace, Facebook e Second Life já promovem atividades relacionadas à arrecadação de dinheiro para filantropia. Um novo website, chamado My Charity Page, que estreou em 2008, foi desenhado para facilitar o processo de arrecadação virtual. Ainda na Internet, o estudo revela a utilização de ferramentas de pesquisa e sites de compartilhamento de vídeos, como o Everyclick.com e o  Youtube, para a obtenção de verbas.

Grande e direcionada

Além das iniciativas desenvolvidas para o público em geral, as organizações sem fins lucrativos também criam ferramentas para a captação de recursos em grande escala de poucos indivíduos. É o interesse nos Ultra High Net Worth Individuals (UHNWIs), pessoas com ativo financeiro superior a 30 milhões de dólares. Um exemplo é o projeto The Big Give, da Reed Foundation, que fornece mais de 250 opções de investimento social individual ou familiar entre 100 mil e 10 milhões de libras.

As doações por meio de mensagens de telefone, de canais de televisão digital dedicados ao terceiro setor, de máquinas que arrecadam moedas e por meio de caixas eletrônicos também são estudados pelo documento em suas potencialidades e limitações. Leia aqui o texto completo, em inglês.

 

 

The Early Development Instrument: A Tool for Monitoring Children´s Development and Readiness for School

Em seu artigo The Early Development Instrument: A Tool for Monitoring Children’s Development and Readiness for School (O Instrumento de Desenvolvimento: uma ferramenta para monitorar o desenvolvimento de crianças e seu preparo para a escola), a professora da Mcmaster University (Canadá) Magdalena Janus apresenta indicadores que ajudam a medir o desenvolvimento infantil.

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Livro Apresenta Metodologia Que Utiliza a Memória Como Ativo Local

Identificar o potencial das histórias individuais e coletivas como aliadas do desenvolvimento local é a proposta do Projeto Memória Social, criado pelo Senac São Paulo em parceria com o Museu da Pessoa. A primeira edição da iniciativa resultou no livro Memória Social – Uma Metodologia que Conta Histórias de Vida e o Desenvolvimento Local.

Capa do Livro Memória Social

O livro reúne conceitos e ferramentas metodológicas desenvolvidas pelo Museu da Pessoa e aplicadas para a formação de 20 multiplicadores das redes sociais fomentadas pelo Senac em dez municípios paulistas. Foram duas pessoas de cada localidade: um representante da comunidade, e um funcionário local do Senac, chamado de mediador.

Agora o projeto está sendo implantado em 35 locais onde o Senac São Paulo atua e deve atingir as 57 unidades da instituição até o início de 2009. A metodologia foi construída pelo Museu da Pessoa, que trabalha com registros individuais. “Em parceria com o Museu, nós inovamos ao criar uma narrativa de memórias coletivas”, afirma Jorge Duarte, gestor da área de Desenvolvimento Social do Senac São Paulo.

Durante seis meses e mesclando encontros presenciais e acompanhamento on-line, foram realizadas atividades divididas em três fases:

  • Construção – produção de registros (entrevistas, fotos objetos) que se tornam fontes da história.
  • Organização – estabelecimento de conexões ( pela classificação, processamento e preservação) entre os conteúdos
  • Socialização – troca e difusão do conteúdo produzido

A definição de atividades, recursos, resultados e objetivos em todas as fases garante que a iniciativa ganhe consistência e não seja interrompida. Esse trabalho de monitoramento constante deve ocorrer paralelo à criação de uma visão de futuro, com estratégias de longo prazo que colaborem para o processo de desenvolvimento social.

Do individual para o coletivo

Segundo a metodologia do Museu da Pessoa, a proposta de resgatar, preservar e divulgar a história de comunidades passa necessariamente pela valorização de experiências pessoais. Desta forma, os participantes de um projeto de memória são estimulados a construir uma cronologia individual. A comparação entre as várias experiências permite identificar semelhanças e a criar vínculos.

Mais tarde, parte-se da abordagem pessoal para a construção de uma linha do tempo do grupo. Quanto mais pessoas diferentes do grupo participam, maior é a possibilidade do projeto se tornar uma prática permanente na organização ou na comunidade. “O conjunto de narrativas contribui para que as pessoas possam construir uma visão de futuro coletiva”, afirma Duarte.

Depois de registradas e organizadas, as memórias devem ser disponibilizadas para o público. A etapa final do projeto abre a possibilidade de interação com toda a comunidade e permite que a iniciativa ganhe escala.

O processo de disseminação também passa pelo Senac. A instituição está se preparando para tornar pública a própria metodologia no seu site. “Isso faz parte de um compromisso de responsabilidade social do Senac São Paulo de compartilhar metodologia e conhecimento com a sociedade”, revela o gestor.

Leia o livro na íntegra aqui.

 

 

Atuação de Países Emergentes

O escritório brasileiro da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou o livro Países Emergentes e Novos Caminhos para a Modernidade.

Resultado do trabalho da Cátedra Unesco em Economia Global e  Desenvolvimento Sustentável, a obra foi coordenada por Theotônio dos Santos e organizada por Carlos Eduardo Martins e Mônica Bruckmann.

O livro analisa o papel desempenhado pelos países emergentes no desenvolvimento de uma nova ordem onde a regulamentação do movimento de capitais e serviços, o comércio mundial e o fluxo de mão-de-obra local serão prioridade. Segundo os autores, este movimento deverá se basear no desenvolvimento de uma comunidade global pluralista, democrática e apoiada nos direitos humanos.

A publicação está divida em três eixos: Sistema Mundial e alternativas de desenvolvimento, Cultura e modernidades alternativas e Movimentos sociais e novos caminhos para a modernidade.

Convergência de Valores Éticos

Como desenvolver um código de conduta baseado em valores de sustentabilidade? Beno Reicher, que atua em projetos corporativos no IDIS, discute ética corporativa, tema de debate entre o filósofo e educador Mário Sérgio Cortella, o chefe executivo do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), George Kell, e o presidente da AccountAbility, Simon Zadek, durante a última edição da Conferência Ethos.

Guiada por uma série de princípios, a ética é resultado de uma construção coletiva consciente e inconsciente que estabelece os parâmetros de todas as relações humanas. Nas últimas décadas, o desenvolvimento de um conjunto de valores sustentáveis coloca o homem responsável por seu lugar no mundo, mas ainda exige processos de mudanças mais profundos.

A apropriação desta percepção pelas empresas inaugurou o movimento de responsabilidade social corporativa, que estabelece critérios alinhados ao desenvolvimento sustentável para toda a cadeia de negócios. A função desempenhada é mesma do antigo condutor da biga dos imperadores romanos que retornavam vitoriosos de uma batalha. A cada 500 jardas de desfile de comemoração pela cidade, o motorista sussurrava no ouvido do imperador: lembra-te que és mortal!

A mortalidade ratifica a idéia de que nossas ações devem ter limites. Neste sentido, Mário Sérgio Cortella, filósofo, mestre e doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), defende que o valor ético fundamental para a disseminação da sustentabilidade é a humildade, ou seja, a adoção da postura de que não temos o planeta como direito. Ao adotarmos esta postura de cuidado, de proteção, de zelo, a vida fica mais engraçada. Graça, do latim gratia e do grego charis, significa proteção, vitalidade.

A humildade também parece ser um valor importante na prática do investimento social privado, como manifestação da sustentabilidade corporativa. Somente com este valor as empresas podem destinar voluntariamente recursos de seu orçamento para promover benefícios públicos.

Cortella completa que cada cultura possui uma relação própria com a sustentabilidade baseada, por exemplo, na percepção do tempo. Ele exemplifica com a decisão dos chineses de comprar 400 pianos para assegurar que o país tenha os melhores pianistas do mundo em 2100. “Para os brasileiros, médio prazo é o mês seguinte”, comparou.

Já dirigente do Pacto Global da ONU George Kell relativizou a opinião de Cortella. Segundo ele, embora com origens diferentes, os povos convergem no desejo de paz e cooperação. Essa postura viabilizou a criação da Organização das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Kell reforçou a discussão sobre o posicionamento das empresas ao defender que os aspectos ambientais e sociais passem a pautar, de fato, as regras do mercado. Para tanto, é preciso conectar os novos valores às lógicas já estabelecidas. Além disso, argumentou que as organizações são resultado das experiências e das escolhas das pessoas que as compõem.

Um bom exemplo desta relação foi a mudança que Ray Anderson realizou, a partir de 1994, na Interface Inc., empresa de origem britânica líder mundial em produção de tapetes e carpetes. Anderson conta que a empresa, então com 21 anos e 35 unidades espalhadas pelo mundo, passou por um processo de reinvenção da maioria de seus processos.

Segundo o chairman, o sucesso econômico ignorava dados como os que acusavam que a empresa consumia, anualmente, a energia necessária para iluminar e aquecer uma cidade; ou que apenas uma de suas fábricas despejava, por dia, seis toneladas de sobras de carpete nos aterros da região.

A mudança ocorreu quando Anderson leu A Ecologia do Comércio, de Paul Hawken, que alertava sobre a devastação dos recursos naturais causada pela indústria. Além de redefinir seus hábitos pessoais (o empresário possui uma casa que funciona 100% com energia solar), ele transformou toda a cadeia produtiva da Interface.

O primeiro passo foi substituir a matéria-prima, quase toda derivada de petróleo, por produtos recicláveis. Desenvolveu processos de monitoramento de emissão de gases, potencializou as iniciativas de eliminar resíduos e reduziu em 80% o volume de água utilizada para a fabricação de seus produtos. Como resultado, menos de 15 anos depois, a Interface está a 40% de atingir a meta de eliminar sua herança ecológica negativa.

Além do efeito positivo que a postura sustentável despertou no público (o valor das ações da empresa multiplicou por dez em quatro anos), a iniciativa teve vantagens competitivas objetivas. Anderson revela que a empresa economizou 372 milhões de dólares ao cortar desperdícios durante 13 anos.

Livro Apresenta Ferramentas Inovadoras de Arrecadação de Fundos

A Global Exchange for Social Investment (GEXSI), em parceria com a Association of Charity Lotteries in the European Union (ACLEU), reeditaram, em 2008, o livro “Financing Future – innovative funding models at work” (“Financiando o Futuro – modelos inovadores de financiamento”, em tradução livre).

Organizado por Maritta Koch-Weserg, CEO da GEXSI, e Tatiana van Lier, diretora executiva da ACLEU, o livro traz depoimentos de investidores sociais, CEOs e diretores de empresas, que desenvolveram formas criativas de arrecadar recursos para causas sociais. Entre os exemplos citados estão a doação por meio de loterias, cartões de créditos e via SMS.

Um caso mencionado é o da holandesa Repay International. A empresa, em parceria com a Visa, criou um cartão de crédito que compensa as emissões de gás carbônico das compras de seus usuários. O dinheiro obtido é revertido para projetos de reflorestamento e de energias renováveis.

Outra experiência de destaque é a da organização sem fins lucrativos Kiva, que é uma plataforma americana de Internet. A organização promove empréstimos entre indivíduos de países desenvolvidos para pequenos empreendedores de nações em desenvolvimento.

A primeira edição do livro foi lançada em 2007. Mais informações estão disponíveis no site do ACLEU. Para comprar o livro, é necessário enviar um pedido ao e-mail info@acleu.eu

 

 

Livro Traça Panorama Sobre Políticas de Juventudes no Brasil e no Mundo

Lançado durante o 5° Congresso Gife sobre Investimento Social, o livro “Juventude: tempo presente ou tempo futuro” analisa a trajetória da juventude brasileira, latino-americana e mundial.

Juventude: tempo presente ou tempo futuro?

A publicação foi produzida pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), em parceria com a Fundação Avina, o Instituto Unibanco e a Secretaria Nacional da Juventude. O propósito é contribuir para a ampliação do debate e analisar modelos de políticas de juventude.

Para tanto, os professores, pesquisadores e consultores em políticas públicas, Mary Garcia Castro, Miriam Abramovay e Alessandro de Leon realizaram uma análise comparativa doRelatório de desenvolvimento mundial de 2007: o desenvolvimento e a próxima geração, organizado pelo Banco Mundial, e do documento Política Nacional de Juventude: diretrizes e perspectivas, publicado pelo Conselho Nacional da Juventude (Conjuve).

O objetivo é traçar um panorama mundial sobre políticas de juventude e identificar pontos estratégicos que colaborem para a eficiência de iniciativas do setor empresarial e da sociedade civil.

O livro não está sendo comercializado, mas distribuído entre associados e parceiros do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e representantes do governo. Mais informações com Cláudia Cândido pelo email crpb@gife.org.br.

 

 

Diaspora Giving: Imigrantes que Promovem o Desenvolvimento de Seus Países Natais

Estudo realizado pela The Philanthropic Initiative (TPI) e pela Global Equitity Initiative (GEI), da Harvard University, estuda o crescimento de doações de imigrantes para seus países de origem. As transferências, que sempre ocorreram com fins privados (para uso da família ou investimento pessoal), cada vez mais visam a promoção do benefício público.

A pesquisa Diaspora Philanthropy: Influences, Initiatives and Issues aponta a evolução de práticas de filantropia estratégica nesse setor. A ação, chamada de filantropia de diáspora (diaspora giving, em inglês), está se tornando um importante ator no desenvolvimento de comunidades locais. Além de traçar um panorama do cenário global,  o estudo analisa casos nas Filipinas, Vietnã, Quênia e Colômbia.

A transferência de recursos de residentes de um país em direção a suas nações de origem aumentou rapidamente nas últimas duas décadas. O Banco Mundial estima que, em 2006, as remessas dessa natureza tenham atingido os 275 bilhões de dólares (206 bilhões foram direcionados a países em desenvolvimento). A maior parte foi enviada para as famílias ou para investimentos pessoais. Porém, uma porção das transferências foi realizada com fins públicos.

As doações oriundas de comunidades de imigrantes (também chamadas de comunidades de diáspora) tradicionalmente beneficiam programas relacionados à educação e infra-estrutura ou são repostas a calamidades.

Organizações facilitadoras

Várias fundações e instituições (como a American India Foundation, a Give2Asia e a Brazil Foundation) criaram mecanismos dedicados à transmissão de contribuições de comunidades de diáspora para programas e projetos de suas comunidades originais. Esses intermediários criam canais eficientes para as doações, ao mesmo tempo em que servem como fontes de informações confiáveis sobre causas legítimas que precisam de recursos.

Nesse sentido, a parceria entre organizações internacionais e os grupos de promoção da diáspora tem aparecido como uma tendência. Em 2006, o Banco Interamericano de Desenvolvimento criou o Promoting Diaspora and Local Support for Productive Initiatives. O objetivo é dar suporte a projetos de desenvolvimento local, facilitando parcerias entre comunidades de diáspora de países como Argentina,  República Dominicana, El Salvador, Guatemala, México e Nicarágua.

Embora a maioria das pesquisas no setor estude transferências monetárias, o voluntariado e a transferência de conhecimento podem ser tão ou mais importantes em alguns países. Com base nessa constatação, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) desenvolveu o programa Transfer of Knowledge Through Expatriate Nationals (Tokten), que facilita a assistência e a consultoria de curto-prazo de profissionais qualificados a seus países de origem. Até 2007, o programa já tinha mobilizado mais de 5 mil pessoas em 49 países.

 

 

Gestão de Redes Sociais

Consultora em desenvolvimento de grupos, redes e comunidades, Célia Schlithler aborda os principais elementos para a gestão de redes sociais. A especialista destaca a função dos facilitadores e analisa como algumas ferramentas podem potencializar socialização e resultados. O documento foi a base teórica da sétima oficina de formação das Redes Pela Educação Infantil (REDINS).

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Investimento Social é Assunto de Família

Diretora de Empresas e Famílias do IDIS, Juliana Gazzotti Schneider discute o engajamento social de indivíduos de alto poder aquisitivo. Segundo ela, o planejamento estratégico da filantropia familiar garante resultados positivos e fortalece os valores dos membros da família.

“Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
e quer construir um país”
Burguesia, de Cazuza

Quando Cazuza lançou, em 1989, uma de suas canções de protesto mais conhecidas e polêmicas – Burguesia – quis ressaltar, em curtos versos, que não se pode generalizar as críticas. Quase vinte anos depois, a crescente disposição por parte das famílias ricas em colaborar com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável mostra que aquele cuidado do compositor não foi em vão.

Esse comportamento vem sendo observado desde 1999 no cotidiano de trabalho do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), que presta apoio técnico a famílias, empresas e indivíduos que desejam realizar seu investimento social forma estratégica e assertiva.

O 11º relatório Riqueza Mundial produzido pelas empresas Merrill Lynch e Capgemini e publicado em junho de 2007 apontou que, no Brasil, em 2006, havia 120 mil pessoas com patrimônio acima de um milhão de dólares investido em ativos. Um crescimento de 10,1% em relação a 2005, acima da média mundial (8,3%). Esses números evidenciam o crescimento da riqueza acumulada no País e a intensificação da desigualdade social.

Cientes de seu papel como cidadãos, as famílias de alto poder aquisitivo vêm engajando-se em questões sociais. Mas como nem sempre sabem aplicar seus recursos de maneira estratégica nessa área, contentam-se com a realização de ações de forma aleatória, pontual e assistencialista, como a doação de bens para creches, asilos, escolas etc.

Embora essa preocupação com a redistribuição de recursos seja louvável, é imprescindível que as famílias passem a se debruçar na destinação inteligente de seus recursos, como a que ocorre no caso de ações de investimento social bem-feitas. Esse processo é importante porque é capaz de ampliar os impactos positivos da doação e contribuir para uma efetiva transformação social.

Quando o investimento social da família é pensado de forma eficiente e eficaz, garante-se que o dinheiro investido seja empregado corretamente, beneficiando o público-alvo. Possibilita-se também que a família controle e monitore os resultados do investimento, como faz com suas aplicações financeiras. E criam-se condições para dar continuidade ao desejo da família de doar, pois, nesse processo de estruturação do investimento, ela tem a oportunidade de estreitar as relações entre seus membros, fortalecer e preservar seus valores, além de desenvolver e deixar um legado familiar de responsabilidade social.

Por ser um trabalho complexo, que parte de princípios como definição de um foco de atuação com a qual seus membros da família se identificam, avaliação conjunta do valor do patrimônio a ser revertido, e estabelecimento da maneira de empregar o recurso, a iniciativa pode ser árdua e exigir da família um apoio profissional.

Num tempo em que a área social está amplamente em evidência, surgem cada vez mais estratégias para eliminar as desigualdades do país. Nesse sentido, é necessário reconhecer o papel da família brasileira e apoiá-la para que ela possa contribuir de maneira eficiente a mudar esse quadro.

 

Juliana Gazzotti Schneider é Diretora de Empresas e Famílias do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.

Desfios de Escala: Fator para Desenvolvimento Comunitário

No artigo, Célia Schlithler, diretora de Desenvolvimento Comunitário do IDIS, fala sobre o desafio de dar escala aos investimentos sociais privados. Um tema que deve entrar na agenda de discussões de representantes dos três setores da sociedade.

O volume de recursos alocados por institutos e fundações empresariais em ações sociais já é significativo e vem crescendo nos últimos anos. O estudo Ação Social das Empresas, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que 69% das empresas brasileiras (quase 600 mil) destinaram cerca de 4,7 bilhões de reais (0,27% do PIB) para fins públicos em 2004. Porém, a demanda social do país ainda é enorme, por isso é essencial que representantes do setor público, privado e terceiro setor desenvolvam estratégias para potencializar os efeitos de iniciativas bem-sucedidas.

Nesse cenário, a criação de tecnologias sociais facilmente reaplicáveis pode ser encarada como um caminho a ser traçado, inclusive com a contribuição da comunidade acadêmica. Mas é preciso salientar que o processo de multiplicação não pode ser a simples duplicação mecânica de uma metodologia em diversas localidades, ou replicação das soluções. Para alcançar bons resultados, as iniciativas devem ser adaptadas às características de cada comunidade em que elas serão implantadas.

Como afirmou Jacques Pena, presidente da Fundação Banco do Brasil, durante o 5º Congresso Gife sobre Investimento Social Privado, o monitoramento de milhares de iniciativas pontuais é difícil e caro. A melhor alternativa é a instituição oferecer produtos, técnicas e metodologias reaplicáveis a outras pessoas e organizações. Isso estimula a apropriação dessas ferramentas por diversas comunidades e gera a escala pretendida. Andrés Thompson, diretor de programas da Fundação Kellogg para América Latina e Caribe, vai além. Para ele, a consciência da mudança é mais importante do que a tecnologia social em si. Por isso, defende que idéias sejam disseminadas, não apenas projetos ou tecnologias sociais.

Exemplos a seguir

Duas organizações que estão obtendo bons resultados com a reaplicação de suas metodologias são o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e própria a Fundação Banco do Brasil. Por meio do programa 1 Milhão de Cisternas, o Unicef, com a organização da sociedade civil Articulação do Semi-árido Brasileiro (ASA), construiu 222 mil cisternas no Nordeste, até o final de 2007. Esses equipamentos beneficiaram mais de 1 milhão pessoas em 1.031 municípios. A organização pretende implantar um milhão de cisternas, beneficiando 5 milhões de pessoas até 2010.

Já a Fundação Banco do Brasil usou a estratégia para aplicar 146 milhões de reais no Nordeste brasileiro entre 2003 e 2007. As tecnologias dos programas Água Doce (dessalinizadores de água e técnicas sustentáveis no semi-árido), Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (práticas de agricultura sustentáveis), Uma Terra e Duas Águas (alternativas de captação de água) e Saneamento Básico Rural (substituição de fossas negras por fossas sépticas biodigestoras, que produzem adubo orgânico) foram reaplicadas nos estados da região.

Quando uma instituição deseja reaplicar sua metodologia, o mais recomendado é que ela pense no assunto durante o planejamento da ação. Nesse momento, é mais fácil encaminhar a iniciativa rumo à criação de uma tecnologia social. Isso não significa, porém, que seja impossível extrair uma tecnologia de uma metodologia já existente.

Um bom exemplo disso é a experiência do IDIS com o programa de Formação de Redes para a Educação Infantil (REDINs). A iniciativa nasceu de um projeto piloto, realizado em Belo Horizonte em 2003. Depois, ele foi expandido, reaplicado e aprimorado em outros municípios graças ao financiamento de parceiros. Hoje, o programa rende ao instituto uma metodologia consolidada de formação de redes intersetoriais em prol do desenvolvimento comunitário. Mas a iniciativa ainda não se apresenta como um modelo de reaplicação autônoma, isto é, que funcione sem a orientação direta do IDIS.

O esforço do IDIS agora vai no sentido de transformar o conhecimento adquirido em metodologia de fácil apropriação e aplicação em quaisquer comunidades. Serão criadas propostas que unam simplicidade de reaplicação e participação comunitária.

 

 

Livro Mostra Como Emprendedores Sociais Mudam o Mundo

Como empreendedores podem resolver problemas econômicos, sociais e ambientais e, ao mesmo tempo, criar mercados promissores? O livro “The power of unreasonable people: How Social Entrepreneurs create markets that change the world”, de John Elkington, diretor e fundador da consultoria internacional SustainAbility, e Pamela Hartigan, diretora da Schwab Foundation, mostra exemplos bem-sucedidos e não-convencionais de empreendimentos sociais.

The power of unreasonable people: How Social Entrepreneurs create markets that change the worldO livro, publicado em fevereiro de 2008 pela editora da Universidade de Harvard (Estados Unidos) e distribuído no Fórum Econômico Mundial, explora o conceito de empreendimento social, um movimento que, segundo os autores, vem ganhando força nos Estados Unidos e no resto do mundo. A prática é encarada como a busca por oportunidades para criar padrões de mudança social.

O conceito nasceu a partir da comparação com outras organizações do setor social. Enquanto muitas dessas concentram esforços na redução dos efeitos de um problema, os empreendedores sociais buscam a solução para o problema. Segundo os especialistas, as novas figuras do terceiro setor desenvolvem teorias sobre as causas dos problemas sociais, criam organizações para eliminá-las e adaptam estratégias a partir dos resultados obtidos.

Os autores revelam que os empreendedores sociais bem-sucedidos adicionam um novo ponto de vista ao mercado ao criar negócios que levam em consideração múltiplas dimensões: econômica, social e ambiental. Elkington e Hartigan continuam. Segundo eles, o trabalho desses líderes vai ajudar a moldar oportunidades de mercado nos próximos anos. A publicação traz exemplos em diversas áreas: finanças, saúde, tecnologia, indústria ambiental, engenharia e educação.

Combate a deficiência visual na Índia

Um capítulo é dedicado à organização indiana Aravind Eye Care System. Criado há mais de 30 anos pelo Dr. Venkataswamy, o sistema de atendimento no interior do país combate doenças oftalmológicas.

A Aravind foi pioneira em um modelo de funcionamento sustentável que segue princípios de serviços em grande volume, alta qualidade e centrados em várias comunidades. A combinação resulta em baixo custo e viabilidade em longo prazo. O atendimento à população pobre ainda é garantida por meio da cobrança proporcional à riqueza do paciente: os mais ricos pagam mais e os mais pobres, menos. Por ano, a Aravind atende mais de 2 milhões de pacientes e, desde que iniciou atividades, realizou quase 3 milhões de cirurgias.

Cerca de 37 milhões de pessoas no mundo possuem deficiência visual total. Estimativas apontam que quase 12 milhões delas estejam na Índia. Além disso, 60% desse número é decorrência de catarata, doença quase sempre curável. O peso econômico da deficiência visual é estimado em cerca de 50 bilhões de reais por ano.

Caminhos para Empresas Sustentáveis

22/2/2008 – Escrito por Márcia Woods, diretora de Desenvolvimento Institucional do IDIS, o artigo discute experiências em sustentabilidade apresentadas na Conferência 2008 do Business in the Community.

Em uma de suas inúmeras viagens de negócios, o acaso fez com que Stephen Howard se sentasse ao lado de Madre Teresa de Calcutá. O encontro, que por si só representaria uma data memorável, foi decisivo para o então alto executivo de uma multinacional. Após poucos minutos de conversa, a missionária provocou “– O que você faz da vida?”. E ele, que já era sensível à necessidade de mudanças de comportamento no meio corporativo, decidiu que era hora de se dedicar a questões relativas à sustentabilidade.

Atualmente, Howard é managing director do Business in the Community(BiTC), uma organização inglesa com mais de 800 empresas cujo objetivo é promover a responsabilidade social empresarial. Sua experiência é a mesma de muitos outros executivos de grandes corporações. Responsáveis pela direção de importantes empresas, em algum momento de suas vidas, eles se encontraram em encruzilhadas nas quais deviam optar por práticas empresariais mais ou menos sustentáveis.

E foi justamente esse o propósito da última edição da conferência anual do BiTC. O encontro discutiu iniciativas bem-sucedidas de negócios pautados na lógica do triple bottom line (economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente justa). E foi realizado no Reino Unido, que segundo o relatório “O estado de competitividade responsável 2007 – fazendo a sustentabilidade ser levada em conta no mercado global”, elaborado pela AccountAbility e Fundação Dom Cabral, ocupa a 5ª posição num ranking de 108 países que adotam estratégias e práticas sustentáveis nos negócios.

Bom exemplo

Uma das iniciativas apresentadas no evento foi o “Plano A”, da empresa Marks & Spencer (M&S). A loja de departamentos inglesa possui mais de 570 unidades no Reino Unido, 70 mil funcionários, 2 mil fornecedores e cerca de 16 milhões de clientes. Segundo Stuart Rose, CEO da empresa, o “Plano A” é um programa de cinco anos, que estabelece 100 medidas objetivas de mudança de comportamento empresarial. São compromissos que serão implantados pela empresa em todas as suas esferas de atuação, e que estão espalhados por cinco áreas: mudança climática; lixo; materiais sustentáveis; negócios éticos com fornecedores; e saúde.

As propostas são ousadas. Até 2012, a empresa pretende neutralizar a emissão de carbono em suas operações na Irlanda e no Reino Unido, além de evitar que roupas ou embalagens da marca terminem em depósitos de lixo. “Nós chamamos esse programa de Plano A porque é a única maneira de fazer negócios. Não há plano B”, esclarece o site da iniciativa.

Os resultados do primeiro ano de operação já estão disponíveis. Entre abril e dezembro de 2007, a Marks & Spencer conseguiu reduzir em 37 milhões o número de sacolas plásticas distribuídas entre os clientes. A medida foi simples: primeiro, ela distribuiu a Free Bag for Life, uma sacola reutilizável. Quatro semanas depois, passou a cobrar 5 centavos por cada sacola plástica utilizada. A verba arrecadada com a venda foi encaminhada para projetos de conservação ambiental. Na Irlanda no Norte, a redução no uso dessas sacolas chegou a 66%.

Muito do trabalho da M&S está focado no engajamento do cliente, o que revela outra característica do posicionamento dos líderes em sustentabilidade. A empresa utiliza o vínculo que possui com o consumidor como ativo, ou seja, como oportunidade de imprimir maior alcance a suas proposições de mudança.

Ocupando 4,3% do mercado alimentício no Reino Unido, a empresa é responsável pela emissão anual de 3.3 mt de CO2. Além de propor mudanças em suas unidades, a empresa trabalhou com fornecedores do Sri Lanka e da China para a construção de fábricas sustentáveis. Os projetos foram avaliados pelo Leadership in Energy and Environmental Design (LEED).

Outras iniciativas

Outro trabalho destacado na conferência foi a parceria entre a empresaGlaxoSmithKline com o Scottish Crop Research Institute. Há cerca de cinco anos, o aquecimento global e a conseqüente suavização dos rigorosos invernos ingleses passaram a gerar impactos negativos na produção de cassis, uma fruta utilizada como matéria-prima para a Ribena (bebida fabricada há 70 anos pela empresa).

Para manter a cadeia original de fornecedores – 95% da matéria-prima era comprada de produtores ingleses – a GlaxoSmithKline investiu no aprimoramento genético da espécie, tornando-a resistente às inconstâncias climáticas e aos ambientes mais quentes.

A opção da empresa destoa de práticas comuns no meio corporativo. Há algumas décadas, o natural seria, pela avaliação estritamente econômica, sair em busca lugares mais frios para viabilizar o plantio. A escolha por manter os fornecedores mostrou zelo pela relação com antigos parceiros e visão do impacto social causado por uma eventual saída da empresa.

Novos desafios

O investimento em pesquisa e tecnologia que concorram para a criação e manutenção de negócios sustentáveis é uma tendência no meio corporativo. Mas nem sempre as soluções encontradas são financiáveis. Por isso, não são implantadas. O desafio, portanto, é transformar as inovações em ferramentas viáveis de aplicação em grande escala.

Na Conferência 2008 do Business in the Community, ficou evidente que as empresas líderes no futuro tratarão a sustentabilidade como uma questão competitiva. É a incorporação da filosofia de que não existe empresa forte dentro de uma comunidade destruída.

A Crise Ambiental da Filantropia

Publicado na revista Alliance Brasil, o artigo de Bernard Mercer aponta a carência de investimentos sociais em questões ambientais. Segundo Mercer, a preocupação dos investidores sociais contemporâneos não se reflete em apoio financeiro às organizações com escopo ambiental. O artigo foi baseado na pesquisa “Green Philanthropy: funding charitable solutions to environmental problems”, do mesmo autor.

A mudança climática e a perda de recursos naturais e da biodiversidade são dois dos maiores desafios do século XXI, embora sejam ignorados pela maioria das fundações estabelecidas, pelos novos “filantrocapitalistas” e pelos financiadores governamentais. Parece que a crise ambiental da filantropia é tanto cultural quanto financeira, uma vez que tem sua origem de uma falta de conexão entre mudança climática e outras questões ambientais e os problemas que são considerados questões “humanas”.

“Por favor, entendam, nós não somos protetores de árvores”, disse recentemente um importante banqueiro de investimentos, quando apresentou em um jantar o novo relatório da empresa sobre as ameaças da mudança climática aos negócios. Na mesma semana, um importante gestor de fundo de hedge, comentando a sua filantropia, disse “Nós podemos escolher. Podemos ajudar as pessoas ou podemos ajudar os animais.”

Praticamente ao mesmo tempo, o Departamento de Desenvolvimento Internacional do governo do Reino Unido (DFID) foi fustigado pelo Comitê Parlamentar de Auditoria Ambiental devido a uma “total falta de integração das prioridades ambientais na política de ajuda e desenvolvimento do Reino Unido”.

O que acontece com o meio ambiente que causa tanta confusão e mal-entendidos? Por que a crescente preocupação com a extensão e a gravidade dos desafios ambientais globais não se reflete no apoio financeiro para as organizações ambientais? Essas são algumas das questões levantadas em Green Philanthropy: Funding charitable solutions to environmental problems, um novo relatório da New Philanthropy Capital (NPC), baseado em 18 meses de pesquisas e mais de 130 entrevistas com os principais financiadores, organizações filantrópicas e especialistas em meio ambiente.

Financiamento inadequado das organizações ambientais

Descobrimos que menos de 2 por cento dos financiamento anuais das 100 maiores organizações filantrópicas do Reino Unido, £18,1 milhões em um orçamento de £1,1 bilhão, é alocado a causas ambientais. As prioridades do público no Reino Unido são similares: apenas 5 por cento dos doadores privados contribuem para o meio ambiente. Esses números estão alinhados com outro recente relatório, produzido pelo Environmental Funders Network do Reino Unido, Where the Green Grants Went 3: Patterns of UK funding for environmental and conservation work.1

Um artigo recente da Stanford Social Innovation Review2 mostra tendências similares na filantropia americana: no geral, apenas 5% dos gastos das fundações americanas vai para o meio ambiente. O autor do artigo, Charles Conn, observa também que a nova onda do “filantrocapitalismo” tem ficado longe das questões ambientais. Os dados relativos ao resto do mundo não estão disponíveis, mas parece provável que as tendências sejam similares às do Reino Unido e dos Estados Unidos.

No setor público, os orçamentos ambientais do Reino Unido e de outros membros da Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) são substanciais no contexto doméstico, mas os recursos para o trabalho internacional são mínimos, especialmente nos países tropicais e subtropicais, mais vulneráveis à mudança climática e onde estão os patrimônios naturais mais ameaçados e mais valiosos. Apenas 2% do orçamento de ajuda de £2,1 bilhões do governo do Reino Unido vão para a proteção ambiental.

Por que o financiamento para a mudança climática e outros problemas ambientais é tão inadequado?

Existem vários motivos para isso. Até recentemente, devido às dificuldades na obtenção de dados convincentes sobre a gravidade dos problemas ambientais, havia uma incerteza sobre a necessidade de ação. A pobreza é visível agora, mas a degradação ambiental é geralmente vista como remota, cujas conseqüências só serão sentidas no futuro.

Isso está mudando. Relatórios marcantes do Painel Internacional sobre a Mudança Climática (2001 e 2007) e a Millennium Ecosystem Assessment (2005) indicam que a comunidade científica conseguiu um nível sem precedentes de consenso sobre os problemas ambientais e está fornecendo ao público evidências abrangentes sobre o estado atual do planeta.

A falta de informações sobre o “mercado” filantrópico, especialmente quanto ao desempenho e os resultados das organizações, inibe os doadores em qualquer setor. A NPC descobriu que isso é ampliado no setor ambiental. Muitos doadores, incluindo os filantropos mais novos, querem doar para organizações ambientais, mas são impedidos pela incerteza quanto à forma mais eficaz de fazê-lo.

O que os doadores e financiadores podem fazer para ajudar?

São necessários mais financiadores. Um maior número de fontes de financiamento diluiria os riscos e aumentaria o valor dos financiamentos. As organizações que trabalham com a mudança climática e com outros problemas ambientais estão excessivamente dependentes de alguns poucos financiadores. Essas organizações não podem ter a segurança de que as inovações e as ambições terão um apoio crescente se não houver ninguém para fornecê-lo.

Mostrar paciência e compromisso – A solução de problemas ambientais leva tempo, mas as fontes de financiamento são escassas. Pode ser necessário que os novos financiadores forneçam fundos por prazos longos, até mesmo por dez anos, para maximizar o impacto de sua contribuição. O apoio à infra-estrutura das organizações e à atividade-fim trará uma melhoria no desempenho do setor.

Fomentar a colaboração – É preciso fortalecer o compartilhamento de conhecimentos e o diálogo entre os financiadores e entre os financiadores e as organizações. O incentivo e o financiamento para redes e fóruns bem organizados deve ajudar no compartilhamento do conhecimento e na maior colaboração nos objetivos e agendas comuns.

Ser ambicioso – Existe espaço para que os financiadores apóiem novas iniciativas tratem de algumas das lacunas no cenário das organizações. Neste setor, o risco de duplicação de esforços é pequeno.

Prioridades de financiamento

Financiamento inicial – Nossa pesquisa descobriu uma necessidade urgente de financiamento inicial. Como a mudança climática é um problema novo, as soluções estão apenas começando a emergir. Isso coloca um alto prêmio na inovação, na energia empreendedora e nas idéias. No entanto, existe atualmente uma lacuna entre o reconhecimento do desafio e a aplicação de recursos para a ação. Para muitas organizações e projetos novos, o acesso a fundos no intervalo de £10.000–£100.000 fará uma diferença muito significativa.

Escala e replicação – Outro requisito é que o financiamento amplie e replique iniciativas bem-sucedidas. Levará décadas para enfrentar a mudança climática, e dar apoio às organizações nos estágios iniciais é apenas o primeiro passo. Uma vez que os modelos e enfoques tenham sido comprovados, as organizações bem-sucedidas precisarão de apoio para ampliação e replicação. Isso exige que os financiadores – fundos e fundações filantrópicas que podem se comprometer com programas de financiamento de três a cinco anos – assumam compromissos de longo prazo para enfrentar o problema.

Fornecimento de melhores informações

A ausência de dados, evidências e análises inibe o progresso. Mesmo quando existem dados primários, a falta de energia, confiança e vontade impede que eles sejam usados para o desenvolvimento de uma boa orientação política. Os financiadores poderiam mudar essa situação em poucos anos dando apoio a organizações que coletam e analisam os resultados para levar a mudanças.

Evitar erros

Talvez não seja intuitivo, mas evitar os erros será tão valioso quanto produzir soluções efetivas. Existe um perigo real de que o tratamento da mudança climática se torne uma corrida do outro, com o progresso real na redução das emissões se tornando mais e mais intangível. A devastação da floresta da Indonésia para a produção de óleo para biocombustíveis é um exemplo atual. A melhor maneira de lidar com essa questão é obter e disseminar evidências sobre o que funciona e o que não funciona.

Muitas organizações podem colocar os objetivos ambientais no topo de suas agendas e elas estão em posição de garantir que não cometamos erros desastrosos. No entanto, para desenvolver informações e análise adequadas e com credibilidade, elas precisam de financiamento adequado.

O desafio cultural

É necessário realismo na busca de soluções para a mudança climática. Não sabemos que enfoques levarão aos melhores resultados, o sucesso será provavelmente resultado de liderança, criatividade e determinação, em vez de resultado de qualquer modelo.

Como em qualquer mercado emergente, é difícil indicar com antecedência quem serão os vencedores. Isso é um argumento a favor de estratégias de financiamento que tão abertas e ágeis quanto for possível, descartando noções preconcebidas sobre o valor do trabalho comunitário versus o lobby político, ou sobre as vantagens de eventos públicos sobre o agenciamento e negociação a portas fechadas.

No entanto, o maior desafio para a filantropia orientada à mudança climática seja a necessidade de entender que os problemas ambientais e os problemas do bem-estar humano são interconectados. No Chifre da África, a pobreza é exacerbada pela deterioração do ambiente natural, trazida pelo desflorestamento e pela mudança climática.

Quando as várzeas da Indonésia são queimadas, elas destroem a biodiversidade e os “serviços do ecossistema”, como fontes de água, empobrecendo a vida dos habitantes locais e liberando grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera. A proteção ao meio ambiente tem sido inibida no passado pela visão de que o mundo natural é separado e distante dos outros problemas sociais. Não desejamos repetir esses erros no futuro. As estratégias de redução das mudanças climáticas precisam incluir ações para preservar os recursos naturais e a biodiversidade, além da redução nas emissões resultantes da geração de energia e de outras atividades industriais e urbanas.

 

1 – 176 fundos de caridade engajados no financiamento de ações ambientais forneceram £33,6 milhões em financiamentos, apenas 1,6 por cento dos £2,04 bilhões doados por 498 dos maiores fundos de financiamento do Reino Unido.

– C Conn, “Robbing the Grandchildren: Foundations, shortsightedness is jeopardizing the planets future”, in Stanford Social Innovation Review, Verão de 2007.

 

Bernard Mercer foi CEO Fundador da New Philanthropy Capital. Ele é o autor de Green Philanthropy. E-mail:bmercer@mercerenvironment.net.

 

Fonte: http://www.gife.org.br/alliancebrasil/

 

Saiba Mais

Leia o artigo Green Philanthropy: Funding charitable solutions to environmental problems completo, em inglês.

Ação na Comunidade: Cartilha do BITC Orienta Empresas a Intervirem nas Localidades Onde Atuam

Publicação divulgada em dezembro de 2007 pelo Business in The Community (BiTC) dá dicas de como ser um bom investidor social na comunidade.

Cada vez mais as companhias percebem que, se quiserem se destacar num mercado competitivo, devem conhecer e corresponder às expectativas de seus empregados, consumidores e das comunidades em que atuam.

Reconhecendo a função estratégica que o investimento social corporativo desempenha, a cartilha “Community Impact” disponibiliza informações gerais para os interessados no assunto. A publicação é divida em três partes:Knowledge and expertise; Measurement and recognition; e Programmes for colaborative action.

Para potencializar os efeitos de suas ações, cada empresa deve adotar uma estratégia diferente. Os objetivos delimitados variam de acordo com o papel que ela cumpre na localidade. Porém, independentemente do tamanho ou da natureza da empresa, as características centrais para se tornar um bom investidor permanecem constantes.

A boa convivência com os diversos públicos de relacionamento é um dos termômetros da eficiência da atuação social da empresa. Entender os benefícios para a comunidade e para a própria companhia, além de identificar os assuntos em que é possível intervir são os pontos de partida.

Educação e trabalho e geração de renda foram identificados como os principais temas de investimento social corporativo. Nos primeiros, as empresas auxiliam jovens a alcançarem seus potenciais, por meio de parcerias com escolas. Já os projetos de trabalho e geração de renda, não só agem diretamente sobre a vida da população, como criam novos postos de trabalho, constroem economias locais e ajudam a recuperar áreas carentes.

Uma vez identificado o âmbito de atuação social, os pesquisadores do BiTC orientam as empresas a investirem recursos proporcionais ao tamanho de seu negócio. A cartilha aconselha a alinhar o foco do investimento social à função comercial da empresa.

De acordo com o documento, a intervenção social deve se tornar parte da cultura organizacional da empresa. Para tanto, é preciso capacitar e engajar os funcionários em atividades comunitárias. O estímulo também pode ser estendido aos consumidores e fornecedores.

O intercâmbio de experiências é bem-vindo. Para tanto, é recomendável estar atento às iniciativas filantrópicas de clientes e fornecedores, além de estabelecer parcerias com governos e com o terceiro setor.

Finalmente, monitorar, medir e avaliar os efeitos das ações na comunidade são alguns dos novos desafios das empresas. Somente a partir da avaliação é possível determinar em que sentido o projeto se alinha aos propósitos do investidor. Sem contar que dados objetivos sobre metas e conquistas são informações estratégicas.

Segundo a cartilha, “78% do público em geral quer ouvir sobre os compromissos assumidos pelas empresas em relação a seus consumidores, empregados, comunidades e meio ambiente”.

 

 

Gestão de Conhecimento em Investimento Social é Ferramenta para o Desenvolvimento

A grande quantidade de recursos que instituições dos três setores aplicam em investimento social muitas vezes não surte o efeito pretendido. Segundo Nelson Casarotto Filho e Liana Bettina Alves, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o problema não está na parte técnica da gestão dos projetos, mas na falta de informações em relação aos vetores de desenvolvimento.

No artigo “Sistema compartilhado em gestão do investimento social local: gestão do conhecimento em redes interorganizacionais”, os autores propõem a criação de redes de conhecimento entre os atores filantrópicos, por meio de um sistema tecnológico de computadores em rede. Esse sistema permitiria o compartilhamento de informações entre os diversos atores sociais, o que eles consideram como a base da atuação conjunta em investimento social.

Para Nelson e Liana, a cooperação permite às instituições tornar mais eficiente suas ações, ao alocar recursos de maneira mais estratégica, evitando desperdícios ou esforços duplicados. Segundo o artigo, o sistema de gestão de conhecimento deve conter informações sobre a realidade social, sobre a atuação das organizações sociais, sobre os investimentos que são realizados e sobre os resultados desses investimentos.

Tal mecanismo, que é uma adaptação dos sistemas de gestão do primeiro e segundo setores, seria útil tanto para as empresas, durante a avaliação dos investimentos em responsabilidade social, quanto para a atuação das organizações da sociedade civil.

No artigo, os autores citam o conceito de “Engenharia das Intervenções Regionais”, desenvolvido por Sergio Boisier, pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas (Ipea), e que é de grande serventia para a criação de uma rede horizontal de articulação. O conceito engloba elementos como: conhecimento de gestão de redes, mecanismos de desenvolvimento local, gestão de projetos, engenharia econômica, avaliação de projetos sociais e sistemas de informação.

De acordo com Nelson e Liana, já existe a tecnologia que permite um sistema compartilhado de gestão de conhecimento do investimento social. O maior empecilho reside na criação de mecanismos de articulação e gestão desse sistema. Nivelamento de informações, acesso a indicadores oficiais e uniformização de conceitos são as primeiras medidas que eles julgam fundamentais.

Os sistemas de cooperação, após implementados, devem ser colocados à disposição da sociedade. “Pois do contrário, estariam sendo criados apenas novos núcleos de poder político, quando é preciso que todos os processos que envolvem o desenvolvimento social estejam abertos à participação”, defendem os autores.

O trabalho foi apresentado no Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) 2006. Leia aqui o texto na íntegra.

 

 

CAF Lança Pesquisa Sobre Como o Diálogo Com os Públicos de Relacionamento da Empresa Influencia o Investimento Social Corporativo

No último 3 de dezembro, a Charities Aid Foundation (CAF) lançou uma pesquisa intitulada “The role of stakeholder engagement in Corporate Community Investment”. O estudo, realizado em parceria com o International Centre for Corporate Responsibility da Escola de Negócios da Universidade de Nottingham, Inglaterra, propõe-se a entender como e por que as empresas decidem dialogar com seus públicos de relacionamento, analisando os efeitos desse diálogo no investimento social corporativo.

De acordo com o levantamento, são muitos os benefícios do contato entre as empresas e seus stakeholders durante o desenvolvimento e implantação do investimento social corporativo. Essa aproximação pode diferenciar a empresa de seus concorrentes; promover soluções mais inovadoras para seus desafios e potencializar o resultado da iniciativa.

O estudo é um desdobramento do trabalho anterior da instituição, An evaluation of Corporate Community Investment in UK: Current developments, future challenges. Lançado em 2006, esse estudo avaliou a evolução do investimento social no Reino Unido e constatou que os melhores resultados vieram das empresas que valorizavam a troca de informações e experiências com seus públicos de relacionamento.

O novo trabalho foi realizado a partir da análise das iniciativas de doze empresas britânicas: BT; Cadbury Trebor Bassett; Anglo American; Sainsbury’s; Rolls-Royce; Lloyd’s; TSB; GlaxoSmithKline; British American Tobacco; British Airways; Marks& Spencer; Boots and Barclays.

Clique aqui para ler a íntegra da pesquisa em inglês.

 

 

É Hora de Atualizar Nossa Visão de Mundo

Publicado originalmente na revista Alliance Brasil, o artigo de Ben Tuxworth, diretor de comunicações do Forum for the Future, defende que fundações e organizações da sociedade civil renovem sua forma de pensar e passem a enfrentar o desafio da sustentabilidade global. Para ele, é necessário rever as estratégias de doação, dando um enfoque conjunto para as questões ambientais, sociais e econômicas.

Parece que os cientistas e os grupos de pressão finalmente venceram a discussão: mesmo entre os que antes negavam nos EUA, existe uma aceitação relutante de que as mudanças climáticas pode não ser apenas mais um item em uma longa lista de causas duvidosas, mas sim o desafio definitivo para a humanidade no século 21. Como os grandes desafios humanitários e sociais do século passado, a falta de tratamento das mudanças climáticas minará inteiramente qualquer progresso social ou econômico de possamos ter. Essa é a maior de todas as falhas do mercado, e infelizmente ela se apresenta em uma época em que a economia baseada no mercado é a única que existe.

Certamente, portanto, os grandes fundos e fundações vão colocar todos os recursos nessa questão. Qual é a vantagem de se microgerenciar os resultados de grupos de desprovidos aqui e ali se a base da sobrevivência universal está ameaçada? É como mover as cadeiras do convés do Titanic.

No entanto, a mudança climática, como outros desafios da sustentabilidade global, não parece emergir como uma grande prioridade para muitas fundações. Ela realmente não se encaixa. Resultado do relacionamento entre pessoas, economia e natureza, ela não pode ser enquadrada como uma questão ambiental, uma vez que suas causas são tudo menos ambientais. O trabalho para tratá-la não se encaixa nas estruturas convencionais de financiamento e não obtém imediatamente o tipo de resultados que os filantropos, velhos e novos, estão cada vez mais buscando. Ao se envolverem no desafio da mudança climática, como em outras questões de sustentabilidade, as fundações precisam renovar sua forma de pensar, seus objetivos e suas estruturas.

Felizmente, existe uma estrutura teórica perfeitamente adequada para o pensamento sobre questões como a mudança climática. O desenvolvimento sustentável tem sido considerado ao longo de pelo menos vinte anos e um número cada vez maior de organizações o usam como uma forma de tratar simultaneamente de questões sociais, econômicas e ambientais.

Eu sugiro que as organizações filantrópicas precisam urgentemente atualizar sua visão de mundo para levar em conta os desafios da sustentabilidade global. Sem esse tipo de enfoque conjunto, as fundações correm diversos riscos. Entre eles está o risco de serem marginalizadas por novos filantropos que não têm uma agenda passada e podem se movimentar com mais rapidez, e o risco de ter suas estratégias de doações minadas pelas suas próprias estratégias de investimento.

No entanto, aplicar os princípios do desenvolvimento sustentável oferece também às fundações a chance de aprimorar radicalmente sua eficácia no tratamento das causas da desigualdade em sua origem, em vez de enfrentar apenas as suas conseqüências sociais.

A primeira etapa deve ser atualizar a missão e o objetivo dos fundos para levar em conta a mudança climática e outros desafios da sustentabilidade global. Essas novas prioridades precisam ser refletidas na revisão das estratégias de doação, com um enfoque conjunto para as questões ambientais, sociais e econômicas. A mudança climática é agora uma prioridade tão premente que defendo uma posição de financiamento que declare que “se este projeto não contribuir para aliviar a mudança climática, nós não o financiaremos”.

As estratégias de investimento também devem ser alinhadas. É relativamente fácil encontrar fundos que têm responsabilidade social e ambiental, e que competem bem com fundos “convencionais” (ou seja, irresponsáveis). Por que então não usá-los? Essa pode ser a maior alavanca que as fundações têm para tratar de seus objetivos filantrópicos. No mínimo, elas poderiam ter certeza de que não estariam levantando dinheiro para combater a pobreza em um país através da criação de pobreza em outro.

Com esses “fatores higiênicos” tratados, a próxima etapa seria alocar parcelas significativas de recursos para tratar explicitamente de estratégias de redução e adaptação para a mudança climática.

Penso que as fundações deveriam agregar seus esforços em uma estrutura compartilhada baseada nos princípios do desenvolvimento sustentável. O Woburn Place Collaborative, no Reino Unido, é um experimento interessante na união de agendas dessa maneira. Embora ainda não tenha tratado da urgência das questões de sustentabilidade, existe potencial para que um grupo de corpos financiadores tenha um enfoque compartilhado no qual mapeiem o desafio e, então, cada um faça contribuições distintas, com um efeito coletivo muito maior.

Com esses blocos construtivos posicionados, acredito que um setor filantrópico rejuvenescido pode ter um papel crucial de liderança em nossa resposta coletiva à mudança climática, iniciando o trabalho vital que nos permitirá encontrar um caminho para o progresso humano.
E-mail: b.tuxworth@forumforthefuture.org.uk.
Fonte:http://www.gife.org.br/alliancebrasil/

Filantropia 4.0: Rumo ao Investimento Social Privado num Mundo Globalizado

Publicado originalmente em outubro de 2007 no site do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), o artigo de Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, apresenta as sete faces do doador: o devoto, o comunitário, o retribuidor, o herdeiro, o socialite, o altruísta e o investidor.

O desafio que nós, investidores sociais temos, é transformar qualquer motivação de um indivíduo ou empresa em compromisso social permanente. Para isso, no entanto, é importante que conheçamos as sete faces do doador tal como foi proposto por Prince e File: o devoto, o comunitário, o retribuidor, o herdeiro, o socialite, o altruísta e o investidor.

O doador devoto é aquele que acredita que fazer o bem é vontade de Deus. Ele é motivado a apoiar entidades por motivos religiosos e canaliza suas doações – que têm caráter caritativo – a organizações religiosas. Por sua vez, o doador comunitário é aquele que acredita que ser solidário com os problemas da comunidade faz sentido. Normalmente, são donos de estabelecimentos comerciais locais e acreditam que fazer parte de conselhos e de comitês de entidades locais pode ser bom tanto para a comunidade quanto para seu negócio, devido às relações de confiança cultivadas. Geralmente, sua doação não segue nenhum plano estratégico.

Já o doador retribuidor, acredita que a doação é uma devolução, uma retribuição ao que já recebeu. Se já se beneficiou pessoalmente de uma faculdade ou de um centro médico, apóia, por exemplo, a mesma instituição em função de lealdade ou por um sentimento de obrigação.

Há também o doador herdeiro, para o qual fazer o bem é uma tradição familiar. Sua motivação filantrópica originou-se na sua criação. A família sempre teve o investimento social como valor. A tendência é que novas gerações busquem formas diferentes de investimento social daquelas que seus pais fizeram. Outro doador característico é o socialite, para o qual os eventos beneficentes são divertidos. Ele é membro de círculos sociais exclusivos e seleciona organizações dirigidas por parentes ou por amigos para apoiar e para colaborar em atividades de mobilização de recursos. Sua preocupação está mais voltada a criar eventos sociais do que a participar do dia-a-dia das organizações.

Também existe o doador altruísta, para o qual a doação o faz se sentir bem. Ele doa em função da bondade e da empatia por causas urgentes. Prefere, na maioria dos casos, ficar anônimo. Ele doa por uma questão moral, que o ajuda a crescer e a evoluir espiritualmente. Mais do que qualquer outro grupo, o altruísta direciona sua doação a causas sociais.

O último perfil é o do doador-investidor, que é o indivíduo de alto poder aquisitivo, que doa com um olho na causa social e o outro no impacto que pode causar. É inovador e transformador. Tem preocupação com o planejamento estratégico, com a gestão da doação e com a avaliação de seus resultados e de seus impactos. O investidor busca o profissionalismo em suas ações e procura fechar parcerias. O perfil desse investidor é o que chama a atenção: são pessoas jovens, públicas e possuem um currículo que inclui voluntariado e filantropia. São pessoas como Sergei Brin, Larry Page, Bill Gates.

Segundo a revista Forbes, há 946 bilionários no mundo, com 3,5 trilhões de dólares em ativos consolidados. O que surpreende, no entanto, é que da lista da Forbes das cem pessoas mais ricas no mundo, 33 bilionários são de países fora do eixo EUA-Europa Ocidental e 17 deles têm menos que 50 anos. Hoje há 14 bilionários na Rússia, oito na Índia, sete no Oriente Médio, três em Hong-Kong e um na América Latina.

E o que eles querem? Eles querem ver a transformação social acontecer enquanto estão vivos. São pessoas que conseguiram enriquecer durante sua vida profissional. Não são herdeiros de fortunas. Para eles, o tempo é agora. Suas decisões são baseadas em valores humanos. Percebem que o investimento social é um bom negócio tanto para aliar credibilidade a sua marca quanto para promover mudanças sociais.

É nesse contexto que surge o conceito de filantropia 4.0, criado pela russa Olga Alexeeva, diretora da CAF Global Trustees. Ela propõe um entendimento da evolução da filantropia similar ao entendimento da evolução de programas de software que progressivamente são apresentados em novas versões. A filantropia 4.0 é a evolução de uma filantropia tradicional. Assim, a filantropia 1.0 representa a filantropia dos primeiros doadores que buscavam contemplar a sociedade com uma infra-estrutura que atendesse as necessidades de escolas, universidades, museus, bibliotecas. A filantropia 2.0 representa a filantropia introduzida pelos grandes doadores do início do Século XX, onde fundos patrimoniais foram alocados para cobrir as necessidades sociais presentes e futuras que estivessem no foco de atuação de uma fundação. Ela teria permanência no tempo e fundos para garantir a sua sustentabilidade futura.

A filantropia 3.0 é uma filantropia feita pelas mesmas organizações doadoras descritas no item anterior, e que decidem assumir uma face mais global, internacionalizando suas operações para países ou regiões do mundo, porém com o viés de ser uma atuação do Norte para o Sul. A filantropia 4.0, que está no título deste artigo, é uma filantropia que se caracteriza não mais pelo fluxo de fundos de países desenvolvidos para o Sul Global, mas pelo desenvolvimento da filantropia autóctone dos países em desenvolvimento, gerando modelos e transformações sociais que podem ser úteis numa escala global.

Nós, do Sul Global, temos os recursos; não somos mais apenas receptores. As economias dos países em desenvolvimento estão crescendo. Mas, ao mesmo tempo, as diferenças sociais também. No Brasil, por exemplo, dados do imposto de renda mostram que o número de milionários aumentou dez vezes mais rápido do que o crescimento da população. O rendimento dos 20% mais ricos é 33 vezes maior que o rendimento dos 20% mais pobres. Por isso, não podemos mais esperar.

Precisamos criar uma filantropia que resulte do envolvimento dessa parcela mais rica da população em melhor usar seus próprios recursos para investir no social. E, nesse cenário, a parceria com os beneficiários é fundamental, já que devem participar das decisões que afetam sua qualidade de vida.

Hoje, parte da riqueza gerada pelos países em desenvolvimento deve ser investida nesses próprios países. É isso que é a filantropia 4.0: é o investimento social global, na qual recursos do Sul Global são investidos na própria região e que a maior troca entre o Sul e o Norte é a de conhecimento. É a globalização da economia gerando a globalização do conhecimento e, em conseqüência, a globalização da filantropia.

1. Prince, R.A and Maru, K.M. The seven faces of philanthopy: A new approach in cultivating major donors. Jossey-Bass, 2001.

 

*Marcos Kisil é diretor-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social Privado (IDIS)

MRC é Estratégica para Aliar Ativos Empresariais à Geração de Impacto Social

10/01/2007 – Escrito por Ana Biglione*, o artigo apresenta como as empresas podem usar seus recursos, expertise e conhecimento gerencial para apoiar organizações sociais e as vantagens do Marketing Relacionado a Causas (MRC), uma parceria entre empresa e organização social, que gera benefício para as duas partes e para a sociedade.

Ao olharmos para o cenário econômico mundial, um dado impressiona: das 100 maiores entidades econômicas, 51 são empresas e 49 são países [1]. O poder das empresas é cada vez mais significativo e seu papel na sociedade é cada vez mais cobrado para a geração de um desenvolvimento sustentável, que prioriza, além do desempenho econômico, o impacto ambiental e a atuação social.Não é à toa que, na edição de dezembro de 2006 da Harvard Business Review, os professores Michael Porter (especialista em estratégias de competitividade) e Mark Kramer (especialista em responsabilidade social) afirmam que, quando uma empresa bem-gerida aplica recursos, expertise e conhecimento gerencial em questões sociais em que ela compreende e tem interesse, pode vir a gerar maior impacto social do que qualquer organização da sociedade civil.

É neste contexto que o Marketing Relacionado a Causas (MRC) figura como uma produtiva ferramenta para as empresas inserirem a atuação social em seu negócio. Quando falamos de MRC, falamos de parcerias de benefício mútuo entre empresas e organizações da sociedade civil, nas quais a empresa entra com grandes ativos – como sua estrutura comercial e de marketing -, e a organização com sua maior especialidade: o conhecimento sobre a causa.

Além de ser uma grande oportunidade das empresas expressarem aos seus consumidores e à sociedade seus valores sócio-ambientais, um programa bem estruturado de Marketing Relacionado a Causas costuma gerar um enorme impacto social. Um bom exemplo é o programa implementado pela Avon que, ao desenvolver a Campanha Um Beijo pela Vida, de apoio à prevenção ao câncer de mama, envolve suas mais de 1 milhão de revendedoras na disseminação de informações sobre detecção precoce da doença – uma base de voluntárias que pouquíssimas organizações da sociedade civil têm acesso.

No Brasil, uma estratégia de MRC bastante utilizada é a venda de produtos específicos que apóiam causas sociais, como é o caso da Havaianas IPÊ ou da Coleção Flores Online Doutores da Alegria. Nesse caso, a empresa utiliza, além de sua estrutura comercial e de marketing, sua estrutura de produção, para criar ou redesenhar um produto. Dentre outros benefícios, muitas vezes, esse procedimento faz com que ela repense seu processo produtivo, implementando um olhar mais atento ao desenvolvimento sustentável – um grande ganho social.

Mesmo em se tratando de um licenciamento para uso de imagem, como é o caso da parceria entre a Tilibra e a Associação Rodrigo Mendes, pode-se perceber o ganho social, na medida em que a empresa disponibiliza sua rede de distribuidores para revender os cadernos ilustrados com as obras dos alunos da Associação, gerando renda para a organização e para os artistas.

Por meio desse tipo de parceria, que está intimamente atrelado à estratégia de negócios da empresa – seu core business -, as empresas brasileiras deixam para trás a visão assistencialista de atuação social e passam a exercer seu investimento social de maneira mais estratégica e sustentável no longo prazo.

No Brasil, de acordo com pesquisas feitas pelo IDIS e Enfoque [2], 27% das empresas já utilizam o MRC, mas há ainda um grande espaço de crescimento, já que 88% dos consumidores consideram importante que as empresas comuniquem o que estão fazendo pelo social e o MRC é uma estratégia inovadora para que essa comunicação beneficie, ao mesmo tempo, a empresa e a sociedade.

Vale aqui ressaltar que os programas de MRC terão maior impacto conforme a legitimidade das práticas de desenvolvimento sustentável e responsabilidade social da empresa, pois é assim que acontece a efetiva geração de valor para a sociedade.
[1] Fonte: David Grayson & Adrian Hodges
[2] Pesquisa IDIS/Enfoque 2005 – Cenário Brasileiro do Marketing Relacionado a Causas – Atitudes e Comportamento do Consumidor e Pesquisa IDIS/Enfoque 2003 – Cenário Brasileiro do Marketing Relacionado a Causas – Atitudes e Comportamento das Empresas.

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* Ana Biglione é especialista em Marketing Relacionado a Causas e atua na iniciativa de MRC do IDIS. Formada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, atuou anteriormente na Hedging-Griffo Asset Management quando participou do processo de formação do Instituto Hedging-Griffo e redirecionou sua carreira para a área social, trabalhando em organizações como FICAS e Ashoka.

Generosidade: Valor Intrínseco ao Investimento Social

Escrito por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, o artigo foi apresentado pelo autor, em novembro de 2006, durante o Encontro Ibero-americano do Terceiro Setor, realizado no México.

Ouvimos neste encontro por diversas vezes as palavras filantropia, investimento social privado, justiça social. Mas como se coloca a generosidade no interior dessas palavras, conceitos e interpretações? Acredito que a generosidade é a virtude, que está por trás de uma decisão que nos impele a atuar como voluntários de ações sociais, a decidir investir um percentual do faturamento de nossa empresa em projetos socialmente responsáveis, ou ainda a colocar os próprios talentos em benefício do outro.

Tal como é definida nos dicionários, generosidade é a ”virtude daquele que se dispõe a sacrificar os seus próprios interesses em benefício de outrem”. A ela podem juntar-se outras palavras com significado próximo: magnanimidade (Aristóteles), caridade (teologia cristã), benevolência (Spaemann).

Segundo Yves de La Taille, a generosidade contempla pelo menos três atributos: o altruísmo (no ato generoso, o outro é o beneficiário da ação); o sacrifício (a pessoa possuidora de algo deixa de ser seu possuidor); e doação ao outro de algo que não lhe cabe por direito, mas que corresponde a uma necessidade concreta que deva ser atendida.

Além disso, o autor pondera que, nos debates filosóficos, as reflexões sobre a generosidade quase sempre visam a situá-las em relação ao conceito de justiça. Para Aristóteles, a justiça ocupa o topo da hierarquia das virtudes morais. Adam Smith, em “A Teoria dos Sentimentos Morais” (1759), observa que a falta da generosidade não é sancionada por nenhum castigo; já o ato injusto recebe tal sanção. Isso aconteceria porque enquanto a ausência de generosidade não acarreta por ela mesma nenhum mal, o ato injusto traz um mal à pessoa injustiçada.

Yves de La Taille detalha três diferenças básicas entre a generosidade e a justiça. Em primeiro lugar, a generosidade é intrinsecamente altruísta, isto é, direcionada ao outro, enquanto a justiça pode ser objeto de reivindicação pessoal. Assim, se uma pessoa tem o direito de exigir que ela mesma ou o outro sejam tratados de forma justa, não pode exigir ser tratada de forma generosa; pode apenas desejar que isso aconteça. Além disso, como a justiça visa sempre o bem-comum, inclui também o bem da própria pessoa que reivindica a justiça. Logo, tanto o auto-interesse quanto o interesse pelo outro estão presentes na justiça. Já na generosidade, somente o interesse pelo outro está em jogo.

Em segundo lugar, a generosidade pressupõe um sacrifício, ou um “dom de si”. Enquanto o ser justo não implica obrigatoriamente em privação, o ser generoso sempre se desfaz de algo que é possuidor. Para concluir, o autor agrega que a dimensão do direito corresponde ao terceiro diferencial entre esses dois conceitos. Se a justiça refere-se ao “sujeito de direito” – e, portanto, “todos os seres humanos” -, a generosidade contempla o “sujeito singular”.

Outro autor que discute a generosidade é André Comte-Sponville. Em “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, no capítulo sobre a generosidade, ele aponta essa virtude como a consciência da própria liberdade e a firme resolução de bem usá-la. “Ser generoso é saber-se livre para agir bem e querer-se assim. O homem generoso não é prisioneiro de seus afetos, nem de si; ao contrário, é senhor de si e, por isso, não tem desculpas nem as procura. À vontade lhe basta. A virtude lhe basta. (…) Ser generoso é ser livre de si, das próprias pequenas covardias, pequenas posses, pequenas cóleras, pequenos ciúmes…”, afirma.

E completa que a generosidade, como a maioria das virtudes, obedece ao primeiro mandamento evangélico: “Amar ao próximo como a si mesmo”, expresso em formas similares em religiões não-cristãs. “Por exemplo, se você amasse um estranho com quem se defronta e que sofre ou que tem fome, você ficaria sem fazer nada para ajudá-lo? Se você amasse esse miserável, você lhe recusaria o socorro que ele lhe pede? Se você o amasse como a você mesmo, o que faria? A resposta, que é de uma simplicidade cruel e louca, é a resposta moral e o que exige – ou exigiria – a virtude”, defende.

E assim chegamos a uma palavra importante para os cristãos: misericórdia. Mas não estamos falando de ações de misericórdia que conhecemos, e que muitas vezes assumem o papel de assistencialismo puro.

Vivi minha vida acadêmica durante os anos pesados de ditadura militar no Brasil e, como uma liderança estudantil, pude assistir ao mais completo desrespeito aos direitos humanos. Porém, também experimentei a presença de uma Igreja Católica solidária, e com misericórdia para com a situação vigente. No caso da Igreja Católica, ela desempenhou um importante papel de resistência ao regime militar, especialmente através de uma corrente mais progressista existente dentro da Igreja. Esta corrente inspirada pela Teologia da Libertação, e em atendimento a uma política de Direitos Humanos, apoiou o surgimento e desenvolvimento de um Movimento Eclesial de Base da Igreja Católica.

Assim, grupos comunitários, influenciados e criados pela Igreja passaram a apoiar o movimento sindical e outros movimentos sociais de diversas origens. Progressivamente, passaram da resistência ao regime militar a grupos reivindicatórios de atendimento às necessidades sociais, mas também da redemocratização do país. Influenciaram a própria Igreja a organizar-se através de diferentes pastorais com finalidades bastante concretas, tais como Pastoral da Terra (reforma agrária), o Conselho Indigenista Missionário (direitos da população indígena), a Pastoral da Criança (direitos da criança) ou as Comissões Diocesanas de Direitos Humanos.

A Igreja assumiu uma posição de vanguarda no processo de mudança do regime, seja denunciando abusos, defendendo os direitos dos excluídos ou organizando grupos sociais. Nesse mister destacaram-se líderes da Igreja, como o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, e bispos, como Ivo Lorscheider, Luciano Mendes de Almeida, Helder Câmara e Pedro Casaldáliga. Esses líderes religiosos progressistas deram o tom da Igreja, sobrepujando os conservadores.

Como bem descreve Jon Sobrino, esse momento da Igreja permite entender melhor o “princípio misericórdia” . Assim, ele demanda de cada ser humano uma ação, ou mais exatamente, uma “re-ação” diante do sofrimento alheio, ação essa motivada única e exclusivamente por esse sofrimento. É uma expressão do amor que está na origem de um processo, mas que, além disso, permanece presente e ativo ao longo dele, dá-lhe uma determinada direção e configura os diversos elementos dentro do processo.

Esse “princípio misericórdia” deveria orientar todo e qualquer ser humano, buscando alterar estruturas, e criando condições para o desenvolvimento pleno de cada ser. Isso implica numa mudança profunda de comportamento da Igreja, que passa a busca e a apoiar ações que transformam a sociedade.

A Igreja foi generosa no Brasil, ao apoiar movimentos pela doação de recursos coletados na Europa e dos Estados Unidos. Assim, gostaria de chamar atenção para o fato de, num encontro como este, não termos a participação da Igreja. Sabemos que ela recebe 2/3 das doações nos Estados Unidos, e aproximadamente 60% no Brasil. Sabemos que ela trabalha com as virtudes. Inclusive com as teologais: fé, esperança e caridade. E tem muito a dizer sobre caridade.

Gostaria de terminar, lembrando que, em minha experiência com a filantropia na América Latina, encontrei três tipos de motivação para os doadores:

Doadores por convicção: neles a generosidade, tal como descrevemos acima, o altruísmo e a misericórdia estão sempre presentes em qualquer ato de uso de seu tempo, talentos e recursos financeiros.

Doadores por conveniência: aqueles que doam porque é simpático fazê-lo. Ser tomado como um benfeitor da humanidade traz prestígio e oculta as mazelas realizadas em seu progresso econômico social, por isso eles doam.

Doadores por coerção: doam por exigência do mercado, dos colaboradores da empresa, das comunidades em que estão situadas e onde não atuam minimamente como cidadão, deixando de se responsabilizar pelos danos ambientais e sociais decorrentes de sua atuação.

Infelizmente, a maioria dos doadores atua ou por conveniência ou por coerção. Ainda são poucos o que atuam por convicção. Necessitamos atuar urgentemente para que os conceitos de Responsabilidade Social, individual ou coletiva, pessoal ou empresarial, não banalizem a conveniência e a coerção. Necessitamos atuar de maneira decidida, valorizando a convicção em torno de valores e virtudes. Temos que valorizar o altruísmo, a generosidade, a solidariedade. Temos que amar ao próximo.

Riovoluntário Lança Pesquisa Sobre Perfil do Voluntariado Empresarial

As empresas parecem estar cada vez mais preocupadas com o desenvolvimento de bons programas de voluntariado corporativo, segundo mostra a pesquisa “Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil”, recém-lançada pela organização da sociedade civil Riovoluntário. Das 89 empresas (de todos os portes e setores, que atuam em território nacional, sendo 61% delas na região sudeste) que responderam ao questionário, 45% possuem programas de voluntariado institucionalizado, com planejamento e orçamento anuais.

A seriedade com que o voluntariado empresarial vem sendo encarado pelas empresas reflete-se num maior engajamento dos colaboradores nessas ações. Segundo o estudo, as empresas que apresentam níveis de mobilização de seus funcionários acima dos 10% têm programas institucionalizados. Mas para as empresas, o principal fator responsável por aumentar o grau de participação dos colaboradores no serviço voluntário é a presença do profissional comunicação interna comprometido com o programa (79%).

Outro fator que contribui para o incremento da participação dos colaboradores, na avaliação dos entrevistados é o engajamento da diretoria. Para 84% deles, a existência de uma diretoria participativa está fortemente vinculada ao sucesso de um programa de voluntariado empresarial. No entanto, somente 25% das empresas declararam que seus diretores participavam maciçamente das ações de voluntariado incentivadas pela empresa.

A fim de promover a participação dos colaboradores em ações voluntárias, as empresas: estimulam a atuação em programas sociais da própria empresa (73%); oferecem recursos para os projetos em que os voluntários atuam (63%); apóiam a formação de grupos de voluntários (63%); divulgam oportunidades de serviços voluntários (61%); e premiam e/ou divulgam a atuação de voluntários em eventos e publicações (54%).

44% das empresas respondentes disseram que preferem planejar as ações de voluntariado durante o horário de trabalho, e realizá-las fora desse horário. Apesar desse dado, o estudo revela que 43% das empresas pesquisadas dispensam funcionários durante o expediente para a realização de serviço voluntário. O levantamento ainda indica que 18% das empresas valorizam a experiência em serviço voluntário na hora de contratar novos funcionários.

Independente do grau de institucionalização dos programas, as campanhas de doação são as que mobilizam um maior número de pessoas (71%), bem como as ações pontuais (51%). As ações continuadas, nas quais o voluntário pode desenvolver todas as suas potencialidades e experimentar o trabalho em equipe, com recursos escassos, mobilizam apenas 36% dos colaboradores. Isso, de acordo com a pesquisa, mostra que o voluntariado social não é uma cultura consolidada na sociedade brasileira.

O que mais motiva as empresas a desenvolverem programas de voluntariado é o desejo de atender as necessidades sociais das comunidades que estão em seu entorno (38%) e de fortalecer o relacionamento com essas comunidades (27%). Como era de se esperar, a maioria dos programas incentiva ações de voluntariado voltadas para a área da educação (72%), com público-alvo prioritário em crianças e adolescentes (79%). Mas surpreendentemente, ações voltadas para o meio ambiente têm grande atenção das empresas (54%), aparecendo à frente de áreas como saúde, esporte, lazer, assistência social e cultura. E ações voltadas para idosos aparecem em segundo lugar no ranking dos públicos-alvos prioritários, à frente do atendimento à família e adultos em geral. As atividades administrativas, nas quais o voluntariado empresarial poderia contribuir muito, aparecem como a última opção de ação voluntária a ser incentivada pelas empresas, com apenas 19% das citações.

Embora 28% da amostra não tenham um orçamento anual pré-fixado para ações de voluntariado, 19% das empresas investem mais de R$ 200 mil anuais nessas ações. 49% das empresas analisadas possuem uma equipe com duas ou mais pessoas dedicadas à promoção do voluntariado. 18% das empresas afirmaram contabilizar as horas dedicadas fora do horário de trabalho como investimento social da empresa. Mas apenas 43% delas afirmam possuir indicadores de avaliação do voluntariado.

Além de trazer dados quantitativos, a pesquisa apresenta textos de Joana Garcia, Fernando Rossetti, Paulo Haus Martins e Paulo Itacarambi sobre voluntariado empresarial e 29 casos desenvolvidos no Brasil.

Clique aqui para ler a íntegra da pesquisa.

 

 

Livro Conta História de Executivo que Deixou a Microsoft para Estimular a Leitura em Países Emergentes

Sair do segundo posto mais importante da unidade chinesa da Microsoft para criar uma organização da sociedade civil voltada à construção de escolas e bibliotecas em países em desenvolvimento da Ásia e África pode parecer loucura para muita gente, mas foi exatamente isso que John Wood decidiu fazer após uma viagem de férias ao Nepal.
John Wood

Com a intenção de afastar o estresse do dia a dia, o alto-executivo decidiu subir o Himalaia, em 1999. Mas acabou conhecendo diversas partes do Nepal. O que mais lhe sensibilizou nessa trajetória foi a falta de recursos que encontrou nas escolas locais, onde não havia nem livros para estudar. Foi nesse momento que ele descobriu seu verdadeiro objetivo de vida: incentivar a leitura nas comunidades de baixa renda.

Aproveitando sua experiência de nove anos na Microsoft, John Wood montou, em 2000, a organização Room to Read, que atualmente está presente no Nepal, Vietnã, Camboja, Índia, Sri Lanka, Laos e África do Sul. A organização trabalha engajando comunidades locais na construção, reforma e manutenção de escolas e bibliotecas. Também incentiva a produção de livros no idioma local e oferece bolsas de estudo de longo prazo para meninas que não poderiam estudar de outra forma.

Em sete anos de existência, a organização estabeleceu 287 escolas, 3600 bibliotecas e distribuiu mais de 2,8 milhões de livros nesses países. Em 2008, pretende instalar-se em algum país da América Latina.

No ano passado, o ex-executivo decidiu contar sua trajetória em um livro, que no último dia 25 foi lançado no Brasil, em português. Em 240 páginas, “Saí da Microsoft para Mudar o Mundo” mostra como Jonh Wood aliou sua experiência corporativa a seu sonho de vida. O livro pode ser encontrado nas principais livrarias do país.

Leia Mais

Leia a resenha do livro “Saí da Microsoft para Mudar o Mundo”, escrita por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, e originalmente publicada na edição de agosto da Revista Update – uma publicação mensal da Câmara Americana de Comércio.

 

 

Como Definir o Foco do Investimento Social Corporativo

Publicada em maio de 2007, a nota técnica explica a importância da definição do foco do investimento social corporativo e seu processo de construção. Também descreve o que a empresa deve observar na hora de estabelecer o foco de um programa de Marketing Relacionado a Causas.

Foco investimento social corporativo

 

 

A participação de Organizações Empresariais em Redes Sociais

Diversas empresas estão construindo seus códigos de Ética e de Conduta, isto é, documentos públicos que explicitam seu compromisso com a orientação ética do negócio. Mas daí a fazer com que esses valores sejam realmente introjetados, passando a fazer parte da cultura da empresa, há um longo caminho. O processo de construção e implementação desses códigos influencia a forma como eles são absorvidos por todos dentro da empresa. Conheça, neste documento, para que servem os códigos, quais suas diferenças e confira algumas dicas de como implementá-los na empresa.

A participação de organizações empresariais em redes sociais

 

Princípios e Premissas de Programas de MRC de Sucesso

A partir de documentos e artigos produzidos pelo Business in The Community (BiTC) e pelo IDIS, os integrantes do Comitê de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) de Marketing Relacionado a Causas construíram dez princípios e premissas de um programa bem-sucedido de MRC, apresentados neste documento.

MRC