Investimento Social Privado Deve Voltar a se Preocupar Com a Invocação, Diz Estudo

O que o sistema nacional de atendimento de emergência dos Estados Unidos – o 911 tão falado nos filmes – e um dos primeiros laboratórios de pesquisa sobre Aids têm em comum? Ambos foram criados com financiamento de recursos filantrópicos. O espírito de inovação por trás desses investimentos, no entanto, parece ter ficado no passado: hoje os filantropos procuram direcionar seus recursos para ações seguras. O desafio é fazer com que parte desse dinheiro volte para projetos mais arriscados, mas com grande capacidade de mudança.

Dois membros do Monitor Institute, iniciativa da consultoria Deloitte, mergulharam fundo nesta questão em um artigo no site da Stanford Social Innovation Review. Gabriel Kasper e Justin Marcoux diagnosticaram o problema, mostraram possíveis soluções para que a filantropia retome seu caráter inovador e abordaram um projeto lançado para recolocar o tema na agenda do investimento social privado.

Para os autores, a radicalização da filantropia estratégica fez com que os investidores procurassem projetos com resultados cada vez mais certos e mensuráveis. “Os financiadores estão às vezes tratando os financiados como empregados, pagos apenas para executar planos pré-definidos”, escrevem. Com isso, os temas complexos são deixados de lado.

O artigo usa um dos cases de maior sucesso nos últimos anos como exemplo: as redes ou véus protetores de cama, distribuídos na África para diminuir a incidência de malária ao afastar o mosquito transmissor. É uma iniciativa muito barata e de retorno quase imediato. Mas, aponta o texto, a Fundação Bill & Melinda Gates está buscando uma solução mais radical e definitiva: uma alteração genética para que os mosquitos não transmitam a doença. É um projeto arriscado e de resultado incerto, mas, se bem-sucedido, terá resultados de grande impacto.

Uma frase citada pelos autores, do ex-diretor da Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas do Departamento de Energia dos Estados Unidos, Eric Toone, representa bem o que está em jogo: “Quando se faz inovação, a primeira questão não é ‘isso vai funcionar?’, mas sim ‘faria diferença se isso funcionasse?’”. Kasper e Marcoux explicam: “Financiadores da inovação trocam a probabilidade de sucesso por um potencial maior de impacto”.

A questão toda passa por uma redefinição da ideia de risco. Para os autores, tanto as empresas quanto o governo têm pouca margem para arriscar-se: os primeiros por deverem explicações a seus acionistas; os segundos, a seus eleitores. Em comparação, investidores sociais têm “discrição extraordinária para experimentar e tentar coisas novas”.

Kasper e Marcoux descrevem em detalhes cinco passos, citando exemplos, para que o investimento social privado possa reencontrar o caminho da inovação: achar novas soluções; selecionar aquelas com maior potencial de transformação; apoiar as selecionadas; medir o impacto; dar escala ao projeto.

O objetivo da inovação, no entanto, não deve ser seguido cegamente. Assim, escrevem os autores, “em questões nas quais já existam soluções funcionando, às vezes é mais importante colocar foco na escala e melhora de abordagens já conhecidas do que experimentar novas abordagens”. Ou seja, não se deve abandonar o que já existe para buscar algo inovador. A rede que afasta o mosquito deve conviver com o projeto para alterar a genética do inseto.

Até por isso, notam Kasper e Marcoux, a inovação não é uma alternativa à filantropia estratégica. “Ao contrário, financiar a inovação é parte da filantropia estratégica.” Ou seja, apenas uma parte dos recursos deve ser destinada à inovação, mantendo o resto em ações comprovadas e seguras.

Cabe a cada organização, portanto, encontrar o equilíbrio entre a quantidade de recursos para financiar inovação e para manter atividades já estabelecidas. E, como concluem os autores, “abraçar a exploração, a experimentação e o risco pode, na verdade, ajudar a filantropia estratégica a encontrar o equilíbrio correto e fazer um trabalho ainda melhor no tratamento dos problemas sociais mais urgentes do mundo”.

Investimento Social Privado Gesta Programas que se Tornam Políticas Públicas

Um dos mais destacados papéis do investimento social privado é servir de laboratório para projetos que tenham potencial de serem adotados por governos. “A consciência de corresponsabilidade pelo desenvolvimento tem levado a um número crescente de políticas públicas baseadas em experiências bem-sucedidas de organizações sociais, empresas, institutos e fundações privadas”, afirmam Helena Monteiro, Marcos Kisil e Márcia Kalvon Woods no livro “Tendências do investimento social privado na América Latina”, coeditado pelo IDIS. “Quando um projeto se transforma em política pública, ganha maior abrangência e, além de beneficiar mais pessoas, ajuda a disseminar ações de sucesso”, acrescentam os autores.

O Observatório de Favelas, do Rio de Janeiro, surgiu exatamente para desenvolver programas com possibilidade de aplicação ampla. Como diz a coordenadora de educação da entidade, Patrícia Santos, “um dos grandes objetivos é criar metodologias que fomentem políticas públicas”.

É o caso, por exemplo, do projeto Rede Universitários de Espaços Populares (Ruep), elaborado em 2003. A iniciativa era um programa de extensão voltado para estudantes do ensino superior oriundos de favelas e regiões periféricas, aproximando universidade e comunidades populares.

O Ruep começou na favela da Maré, sede do Observatório. Pouco depois de o Ministério da Educação criar a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), surgiu a oportunidade de uma parceria. O programa foi então renomeado, no final de 2004, como Conexões de Saberes, e passou a ser aplicado em cinco universidades federais: a Fluminense, a do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, de Pernambuco e do Pará.

Apesar de ter sido encampado pelo poder público, o programa continuou sendo acompanhado pelo Observatório. “Nós fazíamos o monitoramento do Conexões junto à Secadi, e havia uma coordenação composta pelo governo, por nós e por professores universitários”, afirma Patrícia.

A coordenadora de educação, no entanto, considera que foi apenas em 2008 que o programa tornou-se de fato uma política pública: “Até 2007, a adesão das universidades ocorria depois de um convite, mas, no ano seguinte, é publicado o primeiro edital do Conexões de Saberes”. Foi também em 2008 que o projeto fez uma parceria com a Secretaria de Educação Superior (Sesu), juntando-se ao Programa de Educação Tutorial (PET), que incentiva a extensão universitária, oferecendo, inclusive, bolsas aos participantes. O PET Conexões é voltado exclusivamente para alunos de baixa condição socioeconômica.

A partir de 2009, diz Patrícia, o Observatório se afastou do Conexões, na medida em que o governo federal o assume de vez como política pública. “Isso é natural, pois existem outras questões com as quais o Observatório tem de lidar e, além disso, há a autonomia universitária. Portanto, era lógico o afastamento.”

Outra ponta
A educação também foi o foco de um projeto do Instituto Ayrton Senna que se tornou política pública. Ao contrário do Conexões de Saberes – que trabalha com universitários –, o Acelera Brasil é voltado a estudantes do ensino fundamental – especificamente, aos que estudam numa série inadequada para a idade que têm.

“Um dos grandes problemas da rede pública é a distorção idade-série, que se torna um entrave para uma educação de qualidade”, diz a coordenadora de projetos do Instituto, Inês Miskalo, explicando a criação, em 1997, do primeiro programa em grande escala da organização. O objetivo é que, em um ano, o aluno com no mínimo dois anos de distorção cumpra todo o conteúdo das séries em defasagem, colocando-o de novo no período correto.

O próprio objetivo do projeto requer um trabalho muito próximo com o poder público. “É importante que os secretários de educação e a gestão pública se comprometam com algumas coisas, como o fornecimento de salas de aula e o comprometimento dos professores – até porque o programa não é do Instituto, mas da rede de ensino”, afirma Inês.

O Acelera Brasil começou em 15 municípios das cinco regiões do País. Já em 1998, os bons resultados do Acelera chamaram a atenção de outros municípios, que buscaram o Instituto. Em 1999, o governo de Goiás procurou a organização para aplicar o programa em toda a rede pública do estado. As administrações do Ceará, do Mato Grosso do Sul, de Pernambuco, do Piauí, do Rio Grande do Sul e do Sergipe igualmente adotaram o Acelera.

As relações entre o Instituto e as redes de ensino variam muito. Em Goiás, o governo estadual comprou o material didático, mas a metodologia e a formação foram fornecidas gratuitamente pela ONG (que tem seu orçamento financiado pela venda de produtos com a marca Ayrton Senna ou por doação de terceiros). Em outros casos, grandes empresas procuram o Instituto para bancar integralmente o Acelera em algum município.

A maior flexibilidade de um ente privado ajuda no funcionamento do programa, avalia Inês, pois é fundamental cumprir 160 dias de aula por ano para que o Acelera funcione, e isso, por vezes, esbarra em barreiras burocráticas que o Instituto consegue vencer. “Você vai fazer uma compra, por exemplo, de material didático e precisa ser via licitação, mas pode haver alguma demora nesse processo, comprometendo o programa. Então há a possibilidade de o Instituto fazer a compra”, declara.

Também ao contrário do que ocorreu com o Conexões de Saberes, a adoção como política pública não afasta o Instituto Ayrton Senna do Acelera Brasil – até porque um dos pilares do projeto é exatamente um sistema de dados mantido pela organização e alimentado pelos gestores públicos.

Outra diferença entre ambos é que, por lidar com um número muito maior de gestores públicos, o Instituto tem problemas de descontinuidade em alguns lugares. “No Brasil, ainda temos uma visão de política partidária, e não cidadã, e a troca de governos é um obstáculo por vezes intransponível”, constata Inês. No entanto, ela vê com otimismo o fato de o Acelera continuar mesmo em alguns casos nos quais a oposição assumiu o poder.

 

 

IDIS Lança Documentário Sobre Investimento Social Privado

No próximo dia 05, quinta-feira, às 9h30, acontece no Itaú Cultural, em São Paulo, o lançamento do documentário “Investimento Social Privado – O Presente é o Futuro”. A produção conta com a participação rica e mobilizadora de 14 figuras emblemáticas do setor filantrópico no Brasil e busca estimular a ampliação e consolidação do investimento social privado no País.

Com direção do jornalista Albino Castro, que tem passagens pela TV Cultura, SBT, TV Gazeta, jornal O Globo e revista Veja, o documentário tem duração de 33 minutos e contou com o patrocínio da Alupar, Cemig e Lojas Renner, através da Lei de Incentivo à Cultura. A Fundação José de Paiva Netto colaborou com a produção e captura de imagens.

Como a ideia é ajudar a divulgar a relevância do investimento social privado brasileiro, a distribuição será ampla. “Além de estar gratuitamente disponível na internet, serão distribuídas no mínimo 500 cópias para organizações, bibliotecas e escolas de todo o País”, diz João Paulo Vergueiro, gerente de comunicação do IDIS.

Interessados em realizar o lançamento do documentário do IDIS em sua cidade, podem entrar em contato conosco pelo e-mail comunicacao@idis.org.br.

Serviço:

Lançamento Oficial: INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO – O PRESENTE É O FUTURO
Data: 5 de dezembro, quinta-feira
Horário: 9h30
Local: Itaú Cultural [Av. Paulista, 149 – São Paulo – SP]
VAGAS LIMITADAS: Garanta seu ingresso cadastrando-se aqui.
Outras informações: comunicação@idis.org.br ou (11)3037.8212.

 

 

Depois do Impacto, a Reflexão

A partir de uma sondagem qualitativa realizada pelo IDIS durante o segundo semestre de 2009, o artigo discute o impacto da crise econômica sobre o investimento social privado.

O que uma crise econômica tem a ver com o investimento social privado? Simples: uma economia pujante proporciona mais recursos para as empresas e os indivíduos de alto poder aquisitivo investirem em ações socioambientais. Ainda não há uma projeção de quanto a instabilidade financeira mundial de 2008 e 2009 influenciou no corte desses investimentos. Uma análise, porém, é certa. A falta de solidez na economia serviu como um gatilho para as empresas refletirem sobre sua atuação.

Durante o segundo semestre de 2009, o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) realizou uma sondagem qualitativa junto às empresas e institutos. Por questão de sigilo, os nomes não são divulgados.

O objetivo do estudo foi coletar informações sobre o impacto da crise no investimento socioambiental privado. Os setores pesquisados foram varejo, agronegócio, energia, farmacêutico, indústria de papel e de celulose, além de famílias e indivíduos de alto poder aquisitivo.

As entrevistas tiveram perguntas estruturadas, que buscaram respostas em três dimensões dos investimentos socioambientais: o impacto da crise, o valor do tema para a empresa e os planos e as tendências.

As companhias, de forma geral, alegaram perda de recursos financeiros no negócio durante o período de baixa na atividade financeira. Em relação aos investimentos socioambientais, houve manutenção de seus compromissos, não ocorrendo cortes desenfreados, mas a readequação dos orçamentos frente ao cenário econômico. Uma parcela das empresas manteve os mesmos valores destinados a projetos de interesse social e ambiental, sem qualquer aumento em comparação a 2008. Os orçamentos para área em 2010 também não devem ser maiores.

Postura corporativa 

O traço mais importante detectado na pesquisa é a percepção de uma mudança de postura. As empresas investidoras decidiram fazer uma profunda avaliação de suas práticas e do foco do investimento. As análises estão previstas para 2010.

Os principais questionamentos do investidor social são os seguintes:

  • O quanto os projetos e programas apoiados estão sendo eficientes?
  • A empresa é reconhecida por suas ações?
  • Quais os reais impactos que estão sendo gerados?

O momento de crise provocou uma reflexão e estimulou o olhar mais cuidadoso.  Isso reflete tanto a maturidade do setor sobre os seus programas de investimento socioambiental quanto a sua contribuição positiva para a sociedade brasileira e as comunidades onde estão presentes.

A relação entre a cultura de sustentabilidade e a de investimento social privado é direta e a sondagem qualitativa reforça ainda mais esse entendimento. Quanto mais a primeira fizer parte dos valores corporativos, mais forte será a segunda. Além disso, propiciará melhor integração das estratégias de investimento social com as de negócio da empresa, envolvendo toda cadeia de valor e trazendo mais perenidade às iniciativas. Assim, o investimento não é visto apenas como um custo.

Os processos de gestão, muitas vezes aplicados apenas aos negócios, mais que antes passaram a integrar o universo do investimento social privado. Para o futuro, serão as ferramentas que as empresas utilizarão para realinhar o foco e medir o real impacto socioambiental do seu apoio.

Investimento de famílias  e indivíduos

Na sondagem qualitativa, o IDIS verificou que a as doações de famílias e de indivíduos de alto poder aquisitivo (mesmo com a ausência de tradição do país na área), não tiveram seus compromissos e volumes necessariamente afetados pelo humor do mercado.

Com motivações e gestão distintas do universo corporativo, os programas de investimento social de famílias e de indivíduos tendem a ter uma visão de longo prazo, se comparado o ambiente corporativo de planejamento e de orçamentos anuais com revisões trimestrais. Isso traz mais estabilidade para os programas de investimento social nesses momentos de crise.

Na outra ponto do fio

As organizações da sociedade civil, em contrapartida, sentiram o reflexo tanto da redução de recursos financeiros, quanto do aumento do rigor no planejamento, na avaliação e na sustentabilidade dos projetos.

A adoção de uma gestão qualificada e eficiente, com a diversificação das fontes de renda e de financiamento, foi o grande desafio para o setor em 2009 e é o que se espera ocorrer em 2010.

O balanço é de que empresas, investidores sociais e as organizações da sociedade civil foram afetados com a redução dos recursos – e, em alguns casos, até resultou na extinção de programas e de instituições. Apesar de tudo, o setor sai mais fortalecido, buscando mais eficiência e estratégias que tragam mais sustentabilidade para programas e projetos.

 

 

Quinze anos de Investimento Social Privado no Brasil: Conceito e Práticas em Construção

Fernando Nogueira, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Escola de Administração e Empresas de São Paulo (EAESP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e a professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Paula Schommer escrevem, em artigo acadêmico, sobre o surgimento e a construção do conceito de investimento social (ISP) privado no Brasil. Com base em pesquisa documental e bibliográfica, o ex-gerente de Relacionamento do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas discorre sobre os tipos de ISPs presentes e discute os desafios e tendências da construção do termo e das práticas na área. Os autores vêem tendência na diversificação dos modelos e a criação de redes de aprendizagem sobre o assuntos, com o envolvimento de representantes de diversos setores.

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Processo e Resultado

Publicado originalmente na Rede GIFE online, o artigo de Célia Schlithler fala sobre resultados em projetos de investimento social privado. Para a assistente social especialista em formação de grupos e redes sociais, o processo de desenvolvimento desses projetos já é resultado. Leia o artigo completo.

Nem tudo o que conta é contável. Nem tudo o que é contável conta.
(Albert Einstein)

Célia Schlithler*

A preocupação com a demonstração de resultados é assunto recorrente em encontros de profissionais de empresas, institutos e fundações que fazem investimento social. O mesmo acontece quando Organizações da Sociedade Civil (OSCs), que têm projetos financiados por meio desses investimentos, estão reunidas.

É natural que todo investidor decida onde aplicar seus investimentos baseado nos resultados projetados. Do mesmo modo, a manutenção do investimento está diretamente relacionada aos resultados obtidos. Quando o objetivo de um investimento é o lucro, é fácil aferir os resultados, porque não há dúvida quanto ao que é esperado. Mas, e no caso do investimento social? Como expressar claramente quais são os resultados esperados?

Embora continuem bastante interessados em números, os investidores sociais já sabem que os resultados de projetos sociais nunca são apenas quantitativos. Por este motivo, a definição de indicadores também leva em conta os resultados qualitativos, com a ciência de que a verificação deste tipo de indicador sempre terá um componente subjetivo. O que, aliás, é bastante positivo, pois não se está mensurando a produtividade de robôs ou máquinas (e até eles são operados por seres humanos, o que interfere em seu desempenho).

É fato, também, que os projetos sociais prevêem avaliação ou monitoramento de processo. Entretanto, penso que o que todos nós precisamos entender é que o processo já é resultado.

Há dez anos trabalho com a formação de redes sociais, principalmente as redes de desenvolvimento comunitário, e constato freqüentemente que essa visão sobre o processo ainda não é compartilhada por inúmeras pessoas. As perguntas que me fazem sobre os resultados das redes sempre se referem ao que elas estão realizando e em benefício de quantas pessoas. Sem dúvida estas questões são importantes, pois é essencial que as redes sociais realizem ações colaborativas e projetos coletivos, definidas a partir da contribuição que trarão para o cumprimento dos objetivos da rede os quais, necessariamente, se referem a mudanças sociais.

No entanto, é preciso perceber que o processo de formação de uma rede já é um importantíssimo resultado! Conseguir reunir, e manter unidas, pessoas de diferentes organizações e setores em uma configuração horizontal, multiliderada, participativa e cooperativa é um resultado e tanto. A existência da rede em si provoca, por exemplo, mudanças na qualidade do diálogo entre moradores de uma comunidade e as empresas que dela fazem parte e, também, entre as OSCs e o setor público.

Em vez de reivindicações e, por que não dizer, exigências, decide-se coletivamente o que fazer diante de situações que afetam a todos. As forças existentes na comunidade são potencializadas por meio da união e articulação promovida pela rede. Por conseqüência, ações coletivas e mudanças em políticas públicas são efetivadas, o que poderia demorar anos pelos caminhos “tradicionais”.

Creio que esta mesma visão pode ser compatível com qualquer (bom) projeto social. Em projetos de geração de renda, por exemplo, o resultado no aumento da renda e o impacto na melhoria de qualidade de vida são, obviamente, sempre esperados. No entanto, quem já teve a oportunidade de conversar com moradores de uma comunidade, participantes deste tipo de iniciativa, sabe que raramente é disso que eles falam quando opinam sobre o projeto.

Seus depoimentos falam dos conhecimentos adquiridos, da união da comunidade, da auto-estima resgatada, mesmo quando ainda não houve aumento na renda. Esses resultados fazem parte do processo e são mudanças que permanecerão, pois ninguém poderá tirar o conhecimento adquirido por uma comunidade.

Os projetos de formação para o trabalho de jovens, que incluem a educação integral, também são um ótimo exemplo. Ao longo da formação, os jovens mudam de atitude, passam a ser mais participativos, repensam seus valores, amadurecem. A inserção no mercado de trabalho é apenas um dos resultados que virá depois.

Se considerarmos que o processo é resultado, a própria elaboração dos projetos pode ser mais criteriosa nas escolhas das estratégias e atividades que serão adotadas, de modo a contribuir para um processo muito mais rico para todos os envolvidos.

O Glossário Social do GIFE define impacto social como ”a transformação da realidade de uma comunidade ou região a partir de uma ação planejada, monitorada e avaliada”. E afirma que “só é possível dimensionar o impacto social se a avaliação de resultados detectar que o projeto efetivamente produziu os resultados que pretendia alcançar e afetou a característica da realidade que queria transformar”. Portanto, se o processo for levado em conta com mais atenção, os indicadores de resultados, definidos antes de o projeto ser implantado, serão ampliados.

Quando os financiadores de projetos sociais se apropriarem da visão de que o processo é resultado, certamente haverá muito mais percepção de retorno durante a execução dos projetos. Será possível, também, detectar precocemente que seu investimento não está dando resultados, a tempo de mudar o processo para se obter o impacto esperado em prol do desenvolvimento social.

*Célia R. Belizia Schlithler é assistente social formada pela PUC-SP, com formação e aperfeiçoamento em Coordenação de Grupos Operativos pelo Instituto Pichon-Rivière de São Paulo. De 1998 a 2003, atuou em projetos de formação e desenvolvimento de grupos e redes sociais como consultora de organizações tais como Instituto C&A, GIFE (PTG), Unicef e IDIS.

Desenvolveu também projetos específicos para entidades sociais, como cursos e seminários de capacitação para trabalho em grupo, e assessoria para coordenadores de equipes.

Em 2004, assumiu a coordenação da área de Investimento Social Comunitário do IDIS, organização que empreende projetos de desenvolvimento comunitário e presta consultoria a empresas, onde permaneceu até setembro de 2008, na função de Diretora de Desenvolvimento Comunitário.

Desde outubro de 2008, voltou a atuar como consultora em desenvolvimento de grupos, redes e comunidades para OSCs, institutos, fundações e empresas. É autora do livro Redes de Desenvolvimento Comunitário – Iniciativas para Transformação Social, da Coleção IDIS de Investimento Social.

Filantropia 4.0: Rumo ao Investimento Social Privado num Mundo Globalizado

Publicado originalmente em outubro de 2007 no site do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), o artigo de Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, apresenta as sete faces do doador: o devoto, o comunitário, o retribuidor, o herdeiro, o socialite, o altruísta e o investidor.

O desafio que nós, investidores sociais temos, é transformar qualquer motivação de um indivíduo ou empresa em compromisso social permanente. Para isso, no entanto, é importante que conheçamos as sete faces do doador tal como foi proposto por Prince e File: o devoto, o comunitário, o retribuidor, o herdeiro, o socialite, o altruísta e o investidor.

O doador devoto é aquele que acredita que fazer o bem é vontade de Deus. Ele é motivado a apoiar entidades por motivos religiosos e canaliza suas doações – que têm caráter caritativo – a organizações religiosas. Por sua vez, o doador comunitário é aquele que acredita que ser solidário com os problemas da comunidade faz sentido. Normalmente, são donos de estabelecimentos comerciais locais e acreditam que fazer parte de conselhos e de comitês de entidades locais pode ser bom tanto para a comunidade quanto para seu negócio, devido às relações de confiança cultivadas. Geralmente, sua doação não segue nenhum plano estratégico.

Já o doador retribuidor, acredita que a doação é uma devolução, uma retribuição ao que já recebeu. Se já se beneficiou pessoalmente de uma faculdade ou de um centro médico, apóia, por exemplo, a mesma instituição em função de lealdade ou por um sentimento de obrigação.

Há também o doador herdeiro, para o qual fazer o bem é uma tradição familiar. Sua motivação filantrópica originou-se na sua criação. A família sempre teve o investimento social como valor. A tendência é que novas gerações busquem formas diferentes de investimento social daquelas que seus pais fizeram. Outro doador característico é o socialite, para o qual os eventos beneficentes são divertidos. Ele é membro de círculos sociais exclusivos e seleciona organizações dirigidas por parentes ou por amigos para apoiar e para colaborar em atividades de mobilização de recursos. Sua preocupação está mais voltada a criar eventos sociais do que a participar do dia-a-dia das organizações.

Também existe o doador altruísta, para o qual a doação o faz se sentir bem. Ele doa em função da bondade e da empatia por causas urgentes. Prefere, na maioria dos casos, ficar anônimo. Ele doa por uma questão moral, que o ajuda a crescer e a evoluir espiritualmente. Mais do que qualquer outro grupo, o altruísta direciona sua doação a causas sociais.

O último perfil é o do doador-investidor, que é o indivíduo de alto poder aquisitivo, que doa com um olho na causa social e o outro no impacto que pode causar. É inovador e transformador. Tem preocupação com o planejamento estratégico, com a gestão da doação e com a avaliação de seus resultados e de seus impactos. O investidor busca o profissionalismo em suas ações e procura fechar parcerias. O perfil desse investidor é o que chama a atenção: são pessoas jovens, públicas e possuem um currículo que inclui voluntariado e filantropia. São pessoas como Sergei Brin, Larry Page, Bill Gates.

Segundo a revista Forbes, há 946 bilionários no mundo, com 3,5 trilhões de dólares em ativos consolidados. O que surpreende, no entanto, é que da lista da Forbes das cem pessoas mais ricas no mundo, 33 bilionários são de países fora do eixo EUA-Europa Ocidental e 17 deles têm menos que 50 anos. Hoje há 14 bilionários na Rússia, oito na Índia, sete no Oriente Médio, três em Hong-Kong e um na América Latina.

E o que eles querem? Eles querem ver a transformação social acontecer enquanto estão vivos. São pessoas que conseguiram enriquecer durante sua vida profissional. Não são herdeiros de fortunas. Para eles, o tempo é agora. Suas decisões são baseadas em valores humanos. Percebem que o investimento social é um bom negócio tanto para aliar credibilidade a sua marca quanto para promover mudanças sociais.

É nesse contexto que surge o conceito de filantropia 4.0, criado pela russa Olga Alexeeva, diretora da CAF Global Trustees. Ela propõe um entendimento da evolução da filantropia similar ao entendimento da evolução de programas de software que progressivamente são apresentados em novas versões. A filantropia 4.0 é a evolução de uma filantropia tradicional. Assim, a filantropia 1.0 representa a filantropia dos primeiros doadores que buscavam contemplar a sociedade com uma infra-estrutura que atendesse as necessidades de escolas, universidades, museus, bibliotecas. A filantropia 2.0 representa a filantropia introduzida pelos grandes doadores do início do Século XX, onde fundos patrimoniais foram alocados para cobrir as necessidades sociais presentes e futuras que estivessem no foco de atuação de uma fundação. Ela teria permanência no tempo e fundos para garantir a sua sustentabilidade futura.

A filantropia 3.0 é uma filantropia feita pelas mesmas organizações doadoras descritas no item anterior, e que decidem assumir uma face mais global, internacionalizando suas operações para países ou regiões do mundo, porém com o viés de ser uma atuação do Norte para o Sul. A filantropia 4.0, que está no título deste artigo, é uma filantropia que se caracteriza não mais pelo fluxo de fundos de países desenvolvidos para o Sul Global, mas pelo desenvolvimento da filantropia autóctone dos países em desenvolvimento, gerando modelos e transformações sociais que podem ser úteis numa escala global.

Nós, do Sul Global, temos os recursos; não somos mais apenas receptores. As economias dos países em desenvolvimento estão crescendo. Mas, ao mesmo tempo, as diferenças sociais também. No Brasil, por exemplo, dados do imposto de renda mostram que o número de milionários aumentou dez vezes mais rápido do que o crescimento da população. O rendimento dos 20% mais ricos é 33 vezes maior que o rendimento dos 20% mais pobres. Por isso, não podemos mais esperar.

Precisamos criar uma filantropia que resulte do envolvimento dessa parcela mais rica da população em melhor usar seus próprios recursos para investir no social. E, nesse cenário, a parceria com os beneficiários é fundamental, já que devem participar das decisões que afetam sua qualidade de vida.

Hoje, parte da riqueza gerada pelos países em desenvolvimento deve ser investida nesses próprios países. É isso que é a filantropia 4.0: é o investimento social global, na qual recursos do Sul Global são investidos na própria região e que a maior troca entre o Sul e o Norte é a de conhecimento. É a globalização da economia gerando a globalização do conhecimento e, em conseqüência, a globalização da filantropia.

1. Prince, R.A and Maru, K.M. The seven faces of philanthopy: A new approach in cultivating major donors. Jossey-Bass, 2001.

 

*Marcos Kisil é diretor-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social Privado (IDIS)

Generosidade: Valor Intrínseco ao Investimento Social

Escrito por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, o artigo foi apresentado pelo autor, em novembro de 2006, durante o Encontro Ibero-americano do Terceiro Setor, realizado no México.

Ouvimos neste encontro por diversas vezes as palavras filantropia, investimento social privado, justiça social. Mas como se coloca a generosidade no interior dessas palavras, conceitos e interpretações? Acredito que a generosidade é a virtude, que está por trás de uma decisão que nos impele a atuar como voluntários de ações sociais, a decidir investir um percentual do faturamento de nossa empresa em projetos socialmente responsáveis, ou ainda a colocar os próprios talentos em benefício do outro.

Tal como é definida nos dicionários, generosidade é a ”virtude daquele que se dispõe a sacrificar os seus próprios interesses em benefício de outrem”. A ela podem juntar-se outras palavras com significado próximo: magnanimidade (Aristóteles), caridade (teologia cristã), benevolência (Spaemann).

Segundo Yves de La Taille, a generosidade contempla pelo menos três atributos: o altruísmo (no ato generoso, o outro é o beneficiário da ação); o sacrifício (a pessoa possuidora de algo deixa de ser seu possuidor); e doação ao outro de algo que não lhe cabe por direito, mas que corresponde a uma necessidade concreta que deva ser atendida.

Além disso, o autor pondera que, nos debates filosóficos, as reflexões sobre a generosidade quase sempre visam a situá-las em relação ao conceito de justiça. Para Aristóteles, a justiça ocupa o topo da hierarquia das virtudes morais. Adam Smith, em “A Teoria dos Sentimentos Morais” (1759), observa que a falta da generosidade não é sancionada por nenhum castigo; já o ato injusto recebe tal sanção. Isso aconteceria porque enquanto a ausência de generosidade não acarreta por ela mesma nenhum mal, o ato injusto traz um mal à pessoa injustiçada.

Yves de La Taille detalha três diferenças básicas entre a generosidade e a justiça. Em primeiro lugar, a generosidade é intrinsecamente altruísta, isto é, direcionada ao outro, enquanto a justiça pode ser objeto de reivindicação pessoal. Assim, se uma pessoa tem o direito de exigir que ela mesma ou o outro sejam tratados de forma justa, não pode exigir ser tratada de forma generosa; pode apenas desejar que isso aconteça. Além disso, como a justiça visa sempre o bem-comum, inclui também o bem da própria pessoa que reivindica a justiça. Logo, tanto o auto-interesse quanto o interesse pelo outro estão presentes na justiça. Já na generosidade, somente o interesse pelo outro está em jogo.

Em segundo lugar, a generosidade pressupõe um sacrifício, ou um “dom de si”. Enquanto o ser justo não implica obrigatoriamente em privação, o ser generoso sempre se desfaz de algo que é possuidor. Para concluir, o autor agrega que a dimensão do direito corresponde ao terceiro diferencial entre esses dois conceitos. Se a justiça refere-se ao “sujeito de direito” – e, portanto, “todos os seres humanos” -, a generosidade contempla o “sujeito singular”.

Outro autor que discute a generosidade é André Comte-Sponville. Em “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, no capítulo sobre a generosidade, ele aponta essa virtude como a consciência da própria liberdade e a firme resolução de bem usá-la. “Ser generoso é saber-se livre para agir bem e querer-se assim. O homem generoso não é prisioneiro de seus afetos, nem de si; ao contrário, é senhor de si e, por isso, não tem desculpas nem as procura. À vontade lhe basta. A virtude lhe basta. (…) Ser generoso é ser livre de si, das próprias pequenas covardias, pequenas posses, pequenas cóleras, pequenos ciúmes…”, afirma.

E completa que a generosidade, como a maioria das virtudes, obedece ao primeiro mandamento evangélico: “Amar ao próximo como a si mesmo”, expresso em formas similares em religiões não-cristãs. “Por exemplo, se você amasse um estranho com quem se defronta e que sofre ou que tem fome, você ficaria sem fazer nada para ajudá-lo? Se você amasse esse miserável, você lhe recusaria o socorro que ele lhe pede? Se você o amasse como a você mesmo, o que faria? A resposta, que é de uma simplicidade cruel e louca, é a resposta moral e o que exige – ou exigiria – a virtude”, defende.

E assim chegamos a uma palavra importante para os cristãos: misericórdia. Mas não estamos falando de ações de misericórdia que conhecemos, e que muitas vezes assumem o papel de assistencialismo puro.

Vivi minha vida acadêmica durante os anos pesados de ditadura militar no Brasil e, como uma liderança estudantil, pude assistir ao mais completo desrespeito aos direitos humanos. Porém, também experimentei a presença de uma Igreja Católica solidária, e com misericórdia para com a situação vigente. No caso da Igreja Católica, ela desempenhou um importante papel de resistência ao regime militar, especialmente através de uma corrente mais progressista existente dentro da Igreja. Esta corrente inspirada pela Teologia da Libertação, e em atendimento a uma política de Direitos Humanos, apoiou o surgimento e desenvolvimento de um Movimento Eclesial de Base da Igreja Católica.

Assim, grupos comunitários, influenciados e criados pela Igreja passaram a apoiar o movimento sindical e outros movimentos sociais de diversas origens. Progressivamente, passaram da resistência ao regime militar a grupos reivindicatórios de atendimento às necessidades sociais, mas também da redemocratização do país. Influenciaram a própria Igreja a organizar-se através de diferentes pastorais com finalidades bastante concretas, tais como Pastoral da Terra (reforma agrária), o Conselho Indigenista Missionário (direitos da população indígena), a Pastoral da Criança (direitos da criança) ou as Comissões Diocesanas de Direitos Humanos.

A Igreja assumiu uma posição de vanguarda no processo de mudança do regime, seja denunciando abusos, defendendo os direitos dos excluídos ou organizando grupos sociais. Nesse mister destacaram-se líderes da Igreja, como o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, e bispos, como Ivo Lorscheider, Luciano Mendes de Almeida, Helder Câmara e Pedro Casaldáliga. Esses líderes religiosos progressistas deram o tom da Igreja, sobrepujando os conservadores.

Como bem descreve Jon Sobrino, esse momento da Igreja permite entender melhor o “princípio misericórdia” . Assim, ele demanda de cada ser humano uma ação, ou mais exatamente, uma “re-ação” diante do sofrimento alheio, ação essa motivada única e exclusivamente por esse sofrimento. É uma expressão do amor que está na origem de um processo, mas que, além disso, permanece presente e ativo ao longo dele, dá-lhe uma determinada direção e configura os diversos elementos dentro do processo.

Esse “princípio misericórdia” deveria orientar todo e qualquer ser humano, buscando alterar estruturas, e criando condições para o desenvolvimento pleno de cada ser. Isso implica numa mudança profunda de comportamento da Igreja, que passa a busca e a apoiar ações que transformam a sociedade.

A Igreja foi generosa no Brasil, ao apoiar movimentos pela doação de recursos coletados na Europa e dos Estados Unidos. Assim, gostaria de chamar atenção para o fato de, num encontro como este, não termos a participação da Igreja. Sabemos que ela recebe 2/3 das doações nos Estados Unidos, e aproximadamente 60% no Brasil. Sabemos que ela trabalha com as virtudes. Inclusive com as teologais: fé, esperança e caridade. E tem muito a dizer sobre caridade.

Gostaria de terminar, lembrando que, em minha experiência com a filantropia na América Latina, encontrei três tipos de motivação para os doadores:

Doadores por convicção: neles a generosidade, tal como descrevemos acima, o altruísmo e a misericórdia estão sempre presentes em qualquer ato de uso de seu tempo, talentos e recursos financeiros.

Doadores por conveniência: aqueles que doam porque é simpático fazê-lo. Ser tomado como um benfeitor da humanidade traz prestígio e oculta as mazelas realizadas em seu progresso econômico social, por isso eles doam.

Doadores por coerção: doam por exigência do mercado, dos colaboradores da empresa, das comunidades em que estão situadas e onde não atuam minimamente como cidadão, deixando de se responsabilizar pelos danos ambientais e sociais decorrentes de sua atuação.

Infelizmente, a maioria dos doadores atua ou por conveniência ou por coerção. Ainda são poucos o que atuam por convicção. Necessitamos atuar urgentemente para que os conceitos de Responsabilidade Social, individual ou coletiva, pessoal ou empresarial, não banalizem a conveniência e a coerção. Necessitamos atuar de maneira decidida, valorizando a convicção em torno de valores e virtudes. Temos que valorizar o altruísmo, a generosidade, a solidariedade. Temos que amar ao próximo.

Diretrizes Para a Avaliação de Projetos e Programas de Investimento Social Privado

A tese de Eduardo Marino, concluída em 2003, apresenta um estudo da aplicabilidade dos Standards de Avaliação de Programas definidos pelo The Joint Comittee of Standards for Educational Evaluation em programas e projetos de investimento social privado nacionais. O documento apresenta 30 parâmetros, a maioria deles aceita como aplicáveis nos projetos brasileiros.

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