Livro Apresenta Casos Reais Para Discutir Capacidade Transformadora da Filantropia

O livro “Change Philanthropy”, da consultora americana Alicia Epstein Korten, aborda a experiência de dez organizações que desenvolveram estratégias de filantropia eficazes em suas respectivas áreas de atuação.

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Em seu livro, a presidente da consultoria filantrópica ReNual discute como algumas das principais organizações americanas têm alcançado impactos importantes no que se refere à equidade.

Especialista no uso de ferramentas de comunicação, Alicia Korten discorre sobre experiências com foco em melhoria de renda, incremento do orçamento de escolas públicas, desenvolvimento do investimento social, auxílio a organizações de imigrantes e de mulheres, em linguagem direta, franca e não acadêmica. O objetivo do discurso sem rodeios é facilitar o entendimento para iniciantes no setor e também estabelecer vínculos com o leitor. Nada mais natural, visto que o discurso engajado de Alicia funciona mesmo como uma espécie de chamado à ação.

No livro, a autora defende que os ativistas sociais devem ajudar os cidadãos a “transformar sistemas, instituições e culturas para garantir a todos a plena participação social, econômica, espiritual e política na vida de seus países”.

As organizações cujas histórias inspiraram Alicia Korten são o Needmor Fund, Open Society Institute, Global Fund for Women, Gulf Coast Fund for Community Renewal and Ecological Health, e as fundações Ford, Discount, Schott, Liberty Hill, Charles Stewart Mott e Jacobs.

Para mais detalhes sobre o livro “Change Philanthropy: Candid stories of foundations maximizing results through social justice”, clique aqui.

A obra, ainda não traduzida para o português, está disponível em formato tradicional (papel) e também em E-Book.

Caso queira adquirir o livro diretamente da editora, clique aqui.

 

 

Investidores sociais do Amazonas debatem desenvolvimento, doação e filantropia

O IDIS realizou, no dia 29 de maio, o Encontro de Investidores Sociais do Amazonas, reunindo mais de cinquenta participantes que debateram sobre o investimento social privado e políticas públicas, desenvolvimento local, o papel das empresas e as inspirações dos doadores, dentre outros assuntos.

eisamazonas.jpgO Encontro foi realizado no auditório da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) e contou com a presença de especialistas e filantropos na mesas de debate, dentre os quais Denis Minev, investidor social local; Aristarco Martins Neto, do Grupo Simões; Armando Ennes do Vale, da Whirpool Latin America; Wilson Duarte Alecrim, da Secretaria de Saúde do Governo do Amazonas; Leonardo Yanez, da Bernard van Leer Foundation, Marcos Kisil e Paula Fabiani, do IDIS, e Virgilio Viana e Rhamilly Amud, da FAS.

Encontro de Investidores Sociais do Amazonas é uma iniciativa do IDIS que faz parte do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais. Desde 2013, o IDIS realiza três encontros regionais que antecedem o Fórum, e o do Amazonas foi o primeiro de 2014. As duas próximas edições serão no Rio de Janeiro e Cuiabá.

Na edição do Amazonas o IDIS contou com parceria estratégica com o Instituto C&A, parcerias locais com a FIEAM, Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM) e a Fundação Amazonas Sustentável, e apoio financeiro da Fundação Rockefeller. O IDIS é parte da Aliança Global da Charities Aid Foundation (CAF), apoiando filantropos e investidores sociais nos principais países do mundo.

Assista a um curto vídeo sobre o Encontro de Investidores Sociais do Amazonas na nossa página do YouTube, clicando aqui.

 

Não há metodologia de avaliação de impacto de négocios sociais que sirva para todos os casos, dizem especialistas

A avaliação de impacto tornou-se um dos assuntos mais importantes para quem está desenvolvendo negócios sociais. Como saber se uma iniciativa está apresentando os resultados esperados? Ou se as mudanças são de fato decorrentes de um projeto? Não importa qual a questão, a resposta parece ser a mesma: “Não há uma forma padronizada de pensar avaliação de impacto”, afirmou a professora Angélica Rotondaro, representante, no Brasil, da universidade suíça de St. Gallen, cujo escritório brasileiro lida com o tema.

“Há uma geração que se importa mais com os resultados socioambientais das empresas do que com os retornos financeiros, mas existem vários tipos de indicadores e métodos de análise e não há uma crença fixa sobre eles”, disse Angélica, que participou, com outros especialistas, do painel “Avaliando impacto: teoria de mudança e abordagens de avaliação e métricas”, durante o Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, que aconteceu em São Paulo, entre 6 e 7 de maio. O evento foi promovido pelo Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), pela Vox Capital e pela Artemisia.

“Não há bala de prata, uma solução definitiva”, concordou Karim Harji, fundador da canadense Purpose Capital, que assessora o investimento social privado de indivíduos, famílias e fundações. “Há muitas coisas sendo feitas, mas elas estão fragmentadas em diversas regiões e setores”, continuou.

O lado bom dessa dispersão, segundo ele, é a possibilidade de uma “abordagem descentralizada e customizada da análise de impacto, ainda mais porque são necessárias diferentes ferramentas para os diferentes momentos de um negócio social”.

A dificuldade de medir impacto ficou clara na intervenção de Gilberto Ribeiro, sócio da Vox Capital, que investe em negócios sociais. “Nós temos a dor de fazer investimentos sem saber como medir os resultados”, comentou. “Como se compara o benefício de uma criança com um ano a mais de escolaridade e uma família que agora tem uma casa?”, exemplificou. Angélica também ressaltou que “a comparabilidade entre projetos é difícil, ainda que se possam comparar iniciativas dentro de um mesmo segmento”.

Na prática, disse Ribeiro, “para cada projeto há coisas que são mais importantes que outras”. A Vox Capital, de qualquer modo, tem usado uma metodologia chamada Teoria da Mudança. “Pensamos em objetivos de longo prazo e de trás para frente. Pegamos o problema e criamos, ao contrário, um mapa de como atingir a meta de repará-lo.” Harji concordou com o sócio da Vox Capital ao dizer que “avaliar impacto é específico para resultados de longo prazo”.

Quando lançou seu plano de medir impacto, a Amata, que produz madeira certificada, chegou a levantar 75 indicadores. “Já partimos de base existente, pois havia muita gente com coisas feitas sobre o setor”, afirmou o fundador da empresa, Dario Guarita Neto. No entanto, pouco depois decidiu se restringir a 12. “É impossível avaliar e gerir mais indicadores do que isso”, disse Guarita, lembrando que avaliação de impacto demanda mais tempo do que investimento financeiro. Além disso, ele destacou a importância de, para cada indicador, estabelecer metas e pessoas responsáveis por elas, para uma melhor governança do projeto.

 

 

Quem doa dinheiro é mais feliz, aponta pesquisa norte-americana

Quer se sentir feliz? Pois doe dinheiro! Um artigo publicado na revista Current Directions in Psychological Science aponta que os benefícios de ajudar outras pessoas “são evidentes em doadores idosos ou jovens em países ao redor do mundo, e se reflete não só no bem-estar subjetivo, mas também na saúde objetiva”.

texto – assinado pelas psicólogas Elizabeth Dunn e Lara Aknin e pelo professor da Harvard Business School Michael Norton – analisa diversos estudos, alguns conduzidos pelos próprios autores.

Eles começam resumindo uma pesquisa de 2008 que deu U$ 5 ou U$ 10 aos participantes. Alguns foram instruídos a comprar algo para si; outros, a doarem a quantia para alguém. “Naquela tarde, as pessoas que tiveram de gastar seu dinheiro com outra pessoa relataram humores mais alegres no decorrer do dia do que aquelas que tiveram de gastar com elas mesmas”, escreveram os autores.

Outro estudo, de 2012, mostrou que a sensação de felicidade é sentida até por crianças bem pequenas. Na pesquisa, bebês de até dois anos demonstraram mais alegria quando davam um biscoito para um boneco do que quando eles mesmos recebiam a comida.

Uma boa notícia é que alguns dados apontam que a relação entre felicidade e doação não se restringe aos Estados Unidos ou a países ricos. Um estudo da Harvard Business School verificou informações sobre 136 países e constatou “uma relação significativa entre doações e felicidade” em 120 deles, tanto ricos quanto pobres.

Os autores do artigo ressaltam, no entanto, que a ligação entre doar e sentir-se feliz não é automática. Depende de três fatores: relacionamento, competência e autonomia. Em relação ao primeiro, escrevem os autores, “descobrimos que os indivíduos ficam mais felizes com gastos sociais quando a doação dá a oportunidade para que eles se relacionem com outras pessoas”.

O segundo fator significa que as pessoas têm necessidade de mostrar competência, o que ocorre se “conseguem ver como suas ações generosas fizeram diferença”. Já a “necessidade de autonomia é satisfeita quando as pessoas sentem que suas ações são livremente escolhidas”.

Ao fim, os autores concluem que as organizações da sociedade civil que buscam doações podem se beneficiar dos resultados da pesquisa, pois, “quanto mais conseguirem maximizar os benefícios emocionais da doação”, maior a possibilidade de conseguirem recursos.

 

 

Ministro discute tramitação de projeto sobre fundos patrimoniais com comitê de filantropos

Um grupo formado por filantropos organizado pelo IDIS foi a Brasília debater com o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, a tramitação do projeto de lei que regulamenta a criação e o funcionamento de fundos patrimoniais – aplicação de recursos cujo rendimento é importante para custear uma organização social. O relator da proposta, deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), também esteve no encontro.

invista154bNa reunião, em 20 de maio, Carvalho e Teixeira se comprometeram a trabalhar por uma aprovação rápida, se possível antes do recesso parlamentar de julho. A assessora especial da Secretaria-Geral, Laís de Figueiredo Lopes, chegou a ponderar que o diálogo no Congresso Nacional nunca é tão ágil, mas também se comprometeu a apoiar a busca rápida da votação do projeto.

O secretário-executivo da pasta, Diogo Sant’Ana, afirmou que o governo gostaria de incluir na proposta um incentivo fiscal para doações de pessoas físicas. O procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal José Eduardo Sabo, que fez parte do grupo, ponderou que a inclusão do tema poderia gerar resistências em outras instâncias, notadamente na Receita Federal. Carvalho, no entanto, disse que fariam “testes internos e, se percebermos uma resistência da Receita, retiramos essa ampliação do incentivo fiscal”.

O encontro sucedeu uma reunião feita em 4 de fevereiro, na qual Marcos Kisil e Paula Fabiani, respectivamente diretor presidente e diretora executiva do IDIS, entregaram o texto da proposta para Sant’Ana e Laís junto com os participantes do Grupo de Estudos de Fundos Patrimoniais André Degensjazn, Maria Lucia de Almeida Prado e Silva, Felipe Sotto-Maior e Priscila Pasqualin. Este Grupo de Estudos elaborou o texto da proposta apresentada. Neste Grupo de Estudos, criado em 2013, participam 90 pessoas incluindo juristas, profissionais e representantes de 35 organizações da sociedade civil, Ministério Público e universidades.

Gilberto Carvalho já havia demonstrado comprometimento com temas relacionados ao investimento social privado. Durante o II Fórum Brasileiro de Filantropos & Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum em 24 de outubro, em São Paulo, ele disse que via “com muita simpatia a busca do IDIS e dos participantes do evento por uma regulação para doações e fundos patrimoniais”.

O ministro ressaltou estar “aberto a receber sugestões para uma regulação legal que organize a generosidade”. Na ocasião, Paula Fabiani respondeu prontamente: “Vamos montar uma comitiva de investidores sociais para esse tema”. O encontro com Gilberto Carvalho é um claro desdobramento daquele evento.

 

 

Presidente do BNDES Defende Criação de Fundos Patrimoniais para Organizações da Sociedade Civil

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, defendeu a criação de fundos patrimoniais – também chamados de endowments – como instrumento para apoiar a sobrevivência financeira das entidades sociais.

“É preciso uma ferramenta mais poderosa para a sustentação das organizações que se destacam por seu alto poder replicativo de projetos”, afirmou durante a mesa que encerrou o primeiro dia do Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, que aconteceu em São Paulo, entre 6 e 7 de maio. O evento foi promovido pelo Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), pela Vox Capital e pela Artemisia.

A sustentabilidade das organizações da sociedade civil, avaliou o presidente do BNDES, é “um desafio”. “As organizações vivem de projetos”, constatou. Investidores sociais quase sempre preferem colocar recursos em iniciativas específicas, em vez de financiar a estrutura das entidades, de forma que elas “se sustentem e cumpram seus objetivos”.

Os endowments ajudariam a mudar esse quadro. Coutinho inclusive disse que o banco federal de fomento está aberto a propostas de criação de fundos de apoio a negócios sociais, empreendimentos que tentam mesclar finalidade lucrativa e filantropia. “Eu batizaria de fundo de investimento social e ambiental, pois esses são dois temas convergentes”, disse ele, que ainda especulou sobre o funcionamento da ferramenta: “Os fundos seriam geridos por instituições financeiras de primeira linha e acreditadas”.

A proposta de Coutinho ocorre pouco tempo depois de o governo federal ter recebido, em 4 de fevereiro, uma proposta de projeto de lei sobre o assunto elaborada por um grupo de trabalho criado pelo IDIS e composto por juristas, representantes de 35 organizações da sociedade civil, Ministério Público e universidades.

Negócios sociais

A mesa “Grandes investimentos levam a grandes transformações: o papel do capital privado e o público”, da qual Coutinho participou, também discutiu a convergência entre diferentes fontes de financiamento para o ainda nascente mercado de negócios sociais no Brasil e na América Latina.

A boa notícia é que grandes bancos de desenvolvimento da região estão criando fundos para esse ramo. Coutinho, por exemplo, disse que recursos do BNDES são os maiores abastecedores de organizações que trabalham com microcrédito – um dos tipos mais clássicos de negócios sociais, que dá acesso ao crédito a populações de baixa renda.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é outra instituição que volta seus olhos para atividades que tentam abranger ação de mercado e resolução de problemas sociais. O gerente do setor de Oportunidades para a Maioria do BID, Luiz Ros, disse que, em 2005, o banco “começou a ver que o setor privado pode complementar o setor público na área social”.

No entanto, foi um desafio abrir uma frente de atuação com o setor privado em uma instituição que tradicionalmente trabalha com entes estatais. O tamanho da oportunidade ajudou a mudar isso. “Há 700 milhões de pessoas na base da pirâmide social na América Latina, e isso representa um potencial enorme. Tem de pensar neles como consumidores e produtores”, disse Ros. O BID atualmente tem um portfólio com 50 iniciativas ligadas a negócios sociais, num investimento de U$ 350 milhões.

Já Randall Kempner, diretor executivo da Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande), rede global que promove o empreendedorismo em países em desenvolvimento, afirmou que “ainda estamos nos estágios iniciais de criar uma indústria”, mas ressaltou que o “Brasil é o maior recebedor de investimento de impacto na América Latina”, e disse estar muito impressionado com o país.

Eliza Erikson, diretora de investimentos da Omidyar Network, fundo filantrópico do criador do site de leilões eBay, Pierre Omidyar, destacou o crescimento das classes C, D e E nos últimos anos no Brasil. Chamou atenção, ainda, para outra característica do país: “Vocês têm uma grande densidade urbana”. Com isso, há muito espaço para o surgimento de negócios sociais que supram demandas por serviços básicos nas cidades.

 

 

Evento Discute Negócios Sociais e Lança Força-tarefa para Potencializar Investimentos de Impacto Social

Ainda incipientes no Brasil, os negócios sociais – empreendimentos que tentam aliar lucratividade e benefícios sociais – começam a chamar a atenção de jovens empreendedores e de grandes veículos de comunicação. Neste contexto, faz todo sentido criar um grupo de trabalho que identifique os entraves para o crescimento desse mercado e sugira iniciativas que possam impulsioná-lo.

A Força-Tarefa Brasileira de Finanças Sociais foi lançada no encerramento do Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, que ocorreu em São Paulo, em 6 e 7 de maio. O evento foi organizado pela Vox Capital, pela Artemisia e pelo instituto de Cidadania Empresarial (ICE).

“Se nós deixarmos o campo andando naturalmente, vai demorar muito”, afirmou Fabio Barbosa, presidente do Grupo Abril e um dos integrantes da força-tarefa. “É preciso comandar o processo para acelerá-lo. Seremos catalisadores do processo. O propósito do grupo é mobilizar mais recursos para as iniciativas de impacto social e acelerar a estruturação de um ecossistema propício”, disse ele, que falou em nome do grupo durante o lançamento.

“Há muitos problemas a serem resolvidos no Brasil e várias soluções; o empreendedorismo é uma delas”, continuou Barbosa. “Não é uma questão de impacto social ou retorno, e sim de impacto social e retorno”.

Ao lançar sua força-tarefa, o Brasil coloca-se na vanguarda das discussões sobre os investimentos de impacto social. O G-8 – que reúne as sete maiores economias do mundo e a Rússia – deflagrou iniciativa semelhante no ano passado. O Reino Unido, país em que o campo está mais desenvolvido, criou seu grupo em 2002.

O mentor do projeto, Ronald Cohen, também falou, por videoconferência, durante o evento. “Nós vimos que as áreas mais pobres eram também as que menos tinham ofertas de serviços básicos. Precisávamos criar investimentos para fundar empresários que trabalhassem nesses locais, que servissem de modelo e ajudassem pessoas”, contou.

Para o inglês, uma das principais mudanças no campo do investimento social privado foi o desenvolvimento de metodologias de medição de impacto. “A filantropia tradicional enfoca mais doação do que resultados. Ficava-se satisfeito em apresentar números, e não mudanças”, disse. No entanto, o foco, tanto em organizações com ou sem fins lucrativos, passou a ser avaliar as reais mudanças de fato decorrentes de seus projetos.

Cohen, que participou da criação dos hoje bilionários mercados de venture capital e private equity, não hesitou, sobre os investimentos de impacto, em cravar: “Estamos no limiar de uma revolução”.

Discussões

Até como uma espécie de preparação para o lançamento da força-tarefa, o fórum trouxe uma série de plenárias que discutiram os principais assuntos relacionados aos investimentos de impacto e aos negócios sociais.

Entre outros temas, palestrantes brasileiros e estrangeiros debateram assuntos como o desenvolvimento de um ecossistema para o setor, modelos de avaliação de impacto, inovações nos mecanismos financeiros para projetos, o equilíbrio entre lucro e impacto, o papel da academia nas discussões e a busca por escala nas iniciativas.

Foram apresentadas ainda “pílulas de inovação”, na qual empreendedores sociais puderam apresentar projetos que oferecem algum tipo de serviço básico para populações de classes mais baixas e, ao mesmo tempo, também conseguem obter retornos financeiros.

 

 

A Participação de Organizações Empresariais em Redes Sociais

Baseado em trecho do livro “Redes de Desenvolvimento Comunitário: Iniciativas para a Transformação Social”, de Célia R. B. Schlithler, a publicação apresenta as diversas formas de empresas e institutos e fundações empresariais atuarem nas redes sociais.

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Como Definir o Foco de Investimento Social Corporativo

A nota técnica explica a importância da definição do foco do investimento social corporativo e seu processo de construção. Também descreve o que a empresa deve observar na hora de estabelecer o foco de um programa de Marketing Relacionado a Causas.

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Os Principais Erros do Investimento Social

A alocação estratégica e voluntária de recursos privados para fins públicos (Investimento Social Privado) está presente na pauta das empresas. Mas estar atento para a questão não significa realizar ações de forma efetiva e impacto positivo. Confira os erros mais comuns, que devem ser evitados.

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Como Incorporar os Valores da Sustentabilidade Corporativa na Empresa?

Publicado pelo IDIS em fevereiro de 2007, o documento apresenta um roteiro simplificado de como inserir os valores da sustentabilidade corporativa na empresa, advertindo que esse processo deve permear todas as atividades da organização e ser revisitado periodicamente, dada sua constante mutação.

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Diferencias entre Associação e Fundação

Na nota técnica, o IDIS explica quais são as especificidades, vantagens e desvantagens de se criar uma associação ou fundação, enquanto personalidade jurídica para uma organização social. Confira também que algumas nomenclaturas são consideradas fantasia.

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Sustentabilidade: a Construção de uma Nova Gestão Para as Empresas

As gerentes de Projeto do IDIS, Daniela Saraiva Santos e Mirza Laranja, discutem a constante construção dos termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Há mais de 20 anos, pesquisadores, estudiosos e organizações multilaterais debatem a aplicação dos conceitos na gestão das empresas.

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Roteiro para Orientar o Investimento Social Privado na Comunidade

Baseado em trechos do livro do IDIS “A Empresa na Comunidade: um passo-a-passo para estimular sua participação social”, escrito por Carla Cordery Duprat, este documento discute o papel das empresas no desenvolvimento social e apresenta sete passos considerados fundamentais para estruturar o investimento social empresarial.

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Campanha Anual e Campanha Capital de Captação de Recursos

Campanha Anual e Campanha Capital de Captação de Recursos para organizações sem fins lucrativos são termos muito utilizados na teoria internacional de captação de recursos. Estes termos, bastante comuns no repertório das campanhas americanas e européias, são pouco utilizados no Brasil.Esta nota técnica, elaborada pelo coordenador no Brasil da Aliança Estratégia IDIS/The Resource Alliance, Rodrigo Alvarez, tem o objetivo de conceituar quais são as diferenças principais entre esses dois tipos de Campanhas e dar subsídios para que organizações sem fins lucrativos no Brasil avaliem quaisos benefícios de diferenciar seus esforços de captação de recursos entre Campanhas Anuais e Campanhas Capitais.

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Em Evento Sobre Primeira Infância, Diretora Executiva do IDIS se Torna Líder Global

Participando do World Forum on Early Care and Education (Fórum Mundial sobre Atenção à Primeira Infância), em Porto Rico, a Diretora Executiva do IDIS, Paula Fabiani, foi agraciada com o certificado de Global Leader for Young Children, como resultado das ações do IDIS no Programa Primeira Infância Ribeirinha, na Amazônia.

Uma iniciativa da World Forum Foundation, o World Forum on Early Care and Education foi realizado na cidade San Juan, em Porto Rico, entre os dias 6 e 9 de maio, e contou com a presença de representantes do mundo todo, incluindo o Brasil. Políticas públicas de primeira infância, o investimento social de empresas e sustentabilidade das ações foram alguns dos temas tratados no Fórum.

Segundo Paula Fabiani, Diretora Executiva do IDIS, “foi um evento realmente global, com 843 pessoas de 81 países trocando experiências sobre o desenvolvimento da primeira infância. O Brasil, com uma delegação de 8 Global Leaders, se apresenta como país avançado na legislação para a infância e tendo desafios comuns: implementação de políticas públicas e integração dos dados sobre a criança.”

Sobre o certificado recebido pela Diretora Executiva do IDIS, o programa Líderes Globais para a Primeira Infância é uma iniciativa de incidência política (advocacy) da World Forum Foundation que inspira e empodera novas lideranças. Professionais de primeira infância engajados em todo mundo se reúnem para ser treinados, compartilhar experiências, e colaborar. Globalmente e localmente eles se tornam corajosos, defensores inovadores que se levantam para provocar mudança duradoura com crianças e famílias.

Depois de quatro dias de debates e muita troca dentre os participantes, o World Forum on Early Care and Education foi encerrado com uma reflexão sobre como é possível mudar o mundo a partir das diferenças, deixando inspirados os líderes que vão transformar a realidade mundial.

 

 

Edição 2014 do Global Philanthropy Forum Debateu o Papel Dos Indivíduos na Busca por Transformações Globais

Com o tema “Global Goals, Citizen Solutions”, a edição de 2014 do Global Philantropy Forum reuniu nos dias 23 a 25 de abril, na Califórnia, filantropos do mundo e contou, pela primeira vez, com uma delegação de investidores sociais brasileiros, liderada pelo IDIS e pelo GIFE. Dentre os destaques do evento, palestraram o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, e a ex-primeira-ministra da Noruega e membro do grupo The Elders, Gro Brundtland.

GP2014 Logo

O tema da edição deste ano do Global Philanthropy Forum foi “Global Goals, Citizen Solutions” (“Metas Globais, Soluções Individuais”, em tradução livre). Dentre os palestrantes deste ano destacaram-se o Presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, o Presidente da Fundação Ford, Darren Walker, e a ex-Primeira Ministra da Noruega, e membro do Grupo The Elders, Gro Brundtland. O Brasil também contou com duas palestrantes, Paula Fabiani, Diretora Executiva do IDIS, que falou sobre a nova geração de redes de investidores sociais, e Beatriz Gerdau Johannpeter, que debateu a filantropia comunitária no Brasil.

A delegação de brasileiros conduzida pelo IDIS em parceria com o GIFE visitou, na véspera do evento, dia 22 de abril, o escritório do Google na cidade da Califórnia, onde foi recepcionada por Jacquelinne Fuller, Diretora do Google.org. Jacquelinne apresentou à Delegação a estratégia de filantropia global do Google, que procura investir em projetos que reúnam transformação social de impacto e tecnologia, Da delegação fizeram parte filantropos e membros de organizações como Fundação Roberto Marinho, Fundação Bradesco, Instituto Coca-Cola, Instituto Abramundo, e Instituto Votorantim, dentre outros.

Global Philanthropy Forum é uma iniciativa da World Affairs Council, e no Brasil é representado pelo IDIS, que realiza desde 2012, em parceria com a organização americana, o Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, gratuito e exclusivo para convidados. Segundo João Paulo Vergueiro, que é Gerente de Relações Institucionais do IDIS e está responsável pela edição brasileira do Global Philanthropy Forum, ” a versão realizada nos Estados Unidos, é uma referência importante para que saibamos o que a filantropia mundial está debatendo, suas tendências e inovações. A edição brasileira está bastante alinhada com ela e reúne cento e cinquenta  participantes e uma seleção qualificada de palestrantes internacionais e nacionais para se somar aos filantropos brasileiros que compartilham da sua experiência e inspiração.”

Para saber mais escreva para comunicacao@idis.org.br.

 

 

SP Sedia Encontro Global Sobre Inclusão Das Mulheres na Economia da América Latina

Enquanto os olhos do mundo se voltam para o Brasil às vésperas da Copa, um grupo de líderes globais vai se reunir em São Paulo para debater o papel das mulheres na economia da América Latina, discutir maneiras de aumentar a inclusão feminina e entender a relação entre negócios, deenvolvimento e direitos humanos.

Essas serão algumas das questões abordadas no 3º Women´s Forum Brazil, que vai acontecer em 26 e 27 de maio, em São Paulo, e cujo tema será “Criando uma economia próspera para todos”.

Entre os palestrantes estarão a ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci de Oliveira; a diretora da Clinton Global Initiative, Penny Abeywardena; a CEO do Magazine Luiza, Luiza Trajano; e a vice-presidente executiva do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Julie Katzman.

O evento é um desdobramento do Women’s Forum for the Economy and Society (http://www.womens-forum.com/), uma iniciativa criada em 2005 em Paris e que se tornou uma importante plataforma mundial para as mulheres expressarem suas vozes e seus pontos de vista sobre temas econômicos e sociais relevantes.

As inscrições para o evento, que acontecerá no hotel Grand Hyatt, vão até o dia da abertura do encontro, e podem ser feitas no sitehttp://www.womens-forum.com/meetings/women-s-forum-brazil-2014/13/apply.

Privatização Nutre Fundos Patrimoniais Filantrópicos

Em 2013, o professor Lester M. Salamon, diretor do John Hopkins Center for Civil Society Studies, e associados, expuseram os primeiros resultados de um estudo em curso sobre a formação de fundos patrimoniais filantrópicos a partir de processos de privatização — “Philanthropication Thru Privatization – Building Assets for Social Change”. O estudo, apresentado na Alemanha, e que conta com a participação do presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS, Marcos Kisil, trouxe importantes lições sobre os processos de privatização no mundo e acrescentou ao debate uma pergunta capital: de quem é a propriedade de um bem público – rodovia, porto, aeroporto?

A resposta mais simples considera que os bens são do Estado e, portanto, todo e qualquer recurso arrecadado com seu usufruto, venda, concessão etc, deve ir para o Tesouro Nacional.

A resposta mais abrangente, porém, entende esses bens públicos como pertencentes à sociedade que, por meio de seus impostos e taxas, sustenta as estruturas existentes do Estado. Neste caso, a questão ganha uma nova dimensão, pois os recursos arrecadados podem vir a servir também para o fortalecimento da própria sociedade civil e suas organizações.

Buscando conhecer a fundo processos que seguiram a lógica acima, o estudo apresentou informações de mais de 500 organizações filantrópicas que tiveram fundos patrimoniais (endowments) criados como resultado de privatizações, distribuídas em 20 países. O total de ativos destas organizações sem fins lucrativos alcança um valor impressionante de US$ 127,5 bilhões.

Alguns dos casos mais interessantes detalhados no estudo são:

• A experiência mais antiga apresentada envolve a Fundação Volkswagen, na Alemanha. Quando terminou a II Guerra, a propriedade da empresa, que foi fundada durante o regime nazista e foi parte do esforço de guerra, foi alvo de debate pelo governo local, governo federal e sociedade civil. Em 1960 foi organizada a Fundação Volkswagen para ser a proprietária da empresa, sendo que 60% das ações da montadora pertenceriam à Fundação, 20% ao governo federal alemão e 20% ao governo do Estado da Baixa Saxônia. Em 1973, todas as ações da Fundação tinha sido vendidas ao mercado e os 20% do governo alemão foram vendidos nos anos seguintes. Hoje o governo da Baixa Saxônia detém aproximadamente 16% das ações que são negociadas em bolsa.

A Fundação Volkswagen foi a grande beneficiária da valorização e venda das ações, tendo hoje um capital investido em um fundo patrimonial com ativos na ordem de US$ 3,4 bilhões que são empregados em seu foco programático, Ciência e Tecnologia. Em resumo: a empresa foi privatizada, com a venda de 60% de suas ações ao mercado, em um processo no qual uma alternativa interessante foi desenvolvida para atender a demandas da sociedade civil e do governo local: a Fundação Volkswagen. Atualmente, a Fundação já não tem mais ações da Volkswagen e, portanto, nenhuma relação com a empresa, a não ser o nome.

• Em 30 de julho de 1990, o Parlamento italiano aprovou uma lei que teve grandes e positivas implicações para o desenvolvimento sócio-econômico do país. A lei “Amato-Carli” reformou o sistema bancário italiano como parte da reforma do sistema financeiro, e teve como premissa a criação de fundações que fossem acionistas dos novos bancos criados e que, posteriormente, com o sistema fortalecido, venderiam suas ações montando fundos patrimoniais com os recursos obtidos. No total, foram criadas 88 “fundações bancárias”, cujos ativos totalizaram US$ 65 bilhões. Duas dessas fundações – Cariplo e Companie San Paulo – estão entre as dez maiores do mundo quanto ao total de ativos dos fundos patrimoniais. Fundações originárias de privatizações de bancos também surgiram na Áustria (Sparkasse), Inglaterra (Lloyds TSB) e Nova Zelândia (Community Trusts).

• A República Tcheca destinou 1% dos recursos gerados nos processo de privatização na década de 90 para o estabelecimento de um fundo que financiou a formação de fundos patrimoniais de 74 fundações no país. Esta é uma das experiências que demonstra o potencial impacto desta possível estratégia para um governo preocupado com desenvolvimento sustentável de seu setor sem fins lucrativos.

No estudo, a maior parte das organizações analisadas apresentou desempenho, estrutura de governança e gestão acima dos padrões existentes em instituições semelhantes. No geral, são organizações com interesse comunitário local que colocaram os seus países no centro das discussões sobre o papel da filantropia global e desenvolveram tecnologias sociais de destaque.

O estudo encontrou evidências de que as concessões e privatizações podem ser instrumentos poderosos de estruturação de um setor filantrópico permanente em uma sociedade. A captura de recursos privados e a sua destinação de forma perene para propósitos sociais, culturais e ambientais se apresenta como uma estratégia de sucesso em diversos países. Recomendações para a efetivação deste processo são apresentadas no estudo e poderiam ser consideradas pelo governo brasileiro em suas próximas concessões.

Esta é uma rota que, se adotada, fortaleceria a sustentabilidade de organizações do setor sem fins lucrativos, tema que já faz parte da agenda nacional tanto da sociedade civil como do governo federal, na atuação da Secretaria Geral da Presidência da República.

O próprio Ministério da Fazenda, em apresentação do Ministro Mantega realizada dia 02 de dezembro do ano passado, estima em US$ 595 bilhões o total do investimento no Brasil que virá das concessões em infraestrutura nos próximos dez anos. Com base nisso é possível imaginar que a adoção de política semelhante no Brasil traria um extraordinário impacto no terceiro setor, importante parceiro do governo no desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes.

Os resultados apresentados são encorajadores. A criação de fundos patrimoniais perenes, além de ter o potencial de originar novas estruturas para desenvolvimento de soluções para os problemas sociais e ambientais, garante que as organizações e estratégias tenham sustentabilidade no longo prazo, desafio atual de grande parte das organizações da sociedade civil brasileiras.

Para um governo que nas recentes manifestações recebeu críticas sobre sua incapacidade de prestar serviços que são obrigações constitucionais, como em saúde e educação, a presença de uma sociedade civil forte e atuante, não dependente de recursos governamentais, pode se traduzir em melhores soluções e serviços para a população, bem como em elemento promissor contra a corrupção e uso mais eficiente dos recursos públicos.

Artigo de autoria de Marcos Kisil, diretor presidente do IDIS, e  Paula Jancso Fabiani é diretora executiva do IDIS, publicado no Jornal Valor Econômico no dia 05 de maio.

 

 

Crescimento Econômico Pode Impulsar Doações no Brasil, Avalia Gerente da CAF

O primeiro módulo brasileiro do Foundation School 2014, realizado pelo IDIS em São Paulo, discutiu as oportunidades de crescimento de doações decorrentes da ampliação da classe média e da classe alta no Brasil e no mundo. O encontro, em 27 de maio, incluiu uma apresentação sobre o tema feita pelo gerente de política internacional da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), Adam Pickering.

Ele apresentou dados sobre o crescimento dos dois grupos. Segundo o estudo The Wealth Report, por exemplo, o número de pessoas com mais de US$ 100 milhões vai aumentar em todas as regiões do mundo entre 2011 e 2016, com incrementos expressivos principalmente na Ásia, na América do Norte e na América Latina. O Brasil, segundo o Crédit Suisse, tinha, em 2013, cerca de 220 mil milionários. Em 2018, devem ser 407 mil (um salto de 84%).

Já um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico prevê que, entre 2009 e 2030, haverá um crescimento da classe média de 165%, com destaque, principalmente, para Ásia, Oriente Médio e Norte da África.

A classe média brasileira, segundo as estimativas apresentadas por Pickering, terá gastos de cerca de US$ 1,2 trilhão em 2030. Se os brasileiros se comportarem como os britânicos, que doam 0,4% de sua renda, isso representará U$ 4,9 bilhões direcionados ao investimento social privado apenas por indivíduos. Ou seja, o potencial de fortalecimento do setor social privado brasileiro, para Pickering, é enorme.

Apesar das promessas de um futuro brilhante para as doações individuais brasileiras, existem, segundo Pickering, algumas barreiras muito sérias a serem enfrentadas. Por exemplo, o Brasil tem caído no ranking do World Giving Index (WGI), estudo anual da CAF que avalia a solidariedade social com base em três comportamentos: doar, ajudar um estranho, fazer trabalho voluntário. Em 2009, o Brasil estava na 59ª posição; em 2012, caiu para a 91ª.

Além disso, o Brasil sofre com uma desconfiança da sociedade em relação às organizações não governamentais. A pesquisa Trust Barometer, aplicada em vários países, mostra que as ONGs estão sempre no topo da confiança, seguidas pelas empresas, a mídia e o governo. No Brasil, no entanto, as organizações estão em terceiro lugar, à frente apenas do governo.

Uma das propostas apresentadas por Pickering para mudar essa situação e liberar o potencial donativo no país são os incentivos fiscais à doação. Dividindo as nações em quatro faixas de renda (baixa, baixa e média, alta e média, alta), o palestrante mostrou que em todas elas a doação de dinheiro é maior onde há alguma forma de incentivo.

As discussões propostas nos módulos nacionais do Foundation School este ano estão atreladas à iniciativa Future World Giving, da CAF, organização britânica com a qual o IDIS faz parte de uma aliança global para apoiar a filantropia no mundo.

O objetivo da iniciativa Future World Giving é disseminar a mensagem de que se os governos agirem agora o futuro da filantropia pode ser iluminado, com pessoas no mundo todo se engajando no apoio a uma sociedade civil vibrante e que atendam às necessidades sociais.

Este ano serão publicados três relatórios da iniciativa, e o IDIS traduzirá os três para o português.

 

 

Movimento Arredondar Que Usar Centavos Para Estimular Cultura de Doação

Arredondar para cima o valor de uma compra e doar os centavos para uma organização da sociedade civil parece muito pouco, não? Agora, imagine que os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro emitem, num único dia, 5,9 milhões de faturas de compras, segundo Ari Weinfeld, presidente do Movimento Arredondar. O valor total doado, então, pode ser enorme.

Essa é a ideia da iniciativa. A organização firmou, há três meses, parceria com as primeiras lojas para uma campanha que estimula as pessoas a arredondarem o valor de suas notas fiscais, doando o excedente para a filantropia. Na boca do caixa, o consumidor será questionado se quer elevar o valor da compra e repassar os centavos.

O dinheiro, no entanto, nem é o que mais importa. “A questão da cultura de doação é muito mais importante. Nós gostaríamos de criar nas pessoas o hábito de doar”, diz Weinfeld. Nesse sentido, uma das forças da campanha, avalia o presidente, é a conversa na hora de o cliente pagar a conta – ele terá de lidar com o assunto.

Da concepção à ação, foram três anos. “O período serviu principalmente para nós termos todo o desenho tributário para fazer o arredondamento sem incidir impostos”. No processo, o Movimento Arredondar contou com a ajuda de dois escritórios de advocacia: Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados e Barbosa, Müssnich & Aragão.

A solução foi a seguinte: na hora da compra, saem duas notas, uma com o valor dos produtos, sobre a qual incidem os tributos normais, e outra com os centavos resultantes do arredondamento, que é livre até mesmo das chamadas “taxas de shopping”.

Ao longo dos três anos, também foi desenvolvida a estrutura de tecnologia de informação, o softwares das lojas, “para que a doação fosse fácil, simples, sem nenhum trabalho nem para o lojista nem para o doador”, diz Weinfeld. Trata-se, na verdade, de uma extensão que é instalada no software já usado pela loja em seus caixas.

Antes de iniciar a operação, o Movimento Arredondar fez testes durante um ano em duas lojas da rede de moda infantil Puket. “No período, 70% das pessoas que entraram na loja arredondaram”, conta Weinfeld. Agora, a campanha já está também em lojas da Grifer (uniformes), Crocs (calçados), Malwee (roupas), NK Store (roupas e acessórios) e Track & Field (artigos esportivos). “Agora com 14 lojas, mantivemos o índice de 70% das pessoas arredondando suas compras”, comemora.

Por enquanto, é o Movimento que vai atrás dos estabelecimentos participantes. No futuro, com a expansão da iniciativa, a ideia é de que a organização passe a ser procurada pelas redes de comércio.

Beneficiados

Para onde vai o dinheiro? Hoje, o Movimento Arredondar trabalha com 15 organizações da sociedade civil, escolhidas após processo de seleção que incluiu um grande questionário sobre suas práticas. “Contratamos cinco pessoas de altíssimo nível do terceiro setor para fazer a seleção e criamos o questionário, que não pode ser respondido apenas por uma pessoa, pois suas questões envolvem várias áreas das organizações”, diz Weinfeld. Os oito Objetivos do Milênio da ONU foram os parâmetros usados para definir as entidades que poderiam participar do edital. Elas deveriam se encaixar em no mínimo um dos objetivos.

Foi lançado um edital, e 335 entidades participaram. Trinta passaram pelo crivo, e depois foram divididas em dois grupos de 15 – para que haja um rodízio de organizações beneficiadas. A proposta é investir, em no máximo três anos, o equivalente a 10% do orçamento anual de cada OSC. Quando o percentual for alcançado, ela sai do grupo apoiado e outra entra no lugar. “A rotatividade não é só para não criar dependência, mas para que a gente também possa atender o maior número de ONGs possível”.

A empresa que adere pode optar por destinar os recursos a um Objetivo do Milênio específico. “Temos lojistas de roupa feminina que escolheram os objetivos três e cinco, que falam de mulher, e empresário de esporte que escolheu o sete, que fala de meio ambiente e de padrão de qualidade de vida”, exemplifica Weinfeld. A grande maioria das lojas preferiu aderir a todos os oito Objetivos do Milênio, indistintamente.

Saiba mais: www.arredondar.org.br

 

 

Campanha Para Ricos Doarem Deve ir Além da Redução da Pobreza, Defende CAF de África do Sul

A campanha sul-africana para estimular os ricos a doarem pelo menos 5% de sua renda para a redução da pobreza é bem-vinda. Porém, o projeto lançado recentemente também deveria abranger outros pontos ligados a justiça social, defende Coleen Du Toit, CEO da Charities Aid Foundation (CAF) da África do Sul, organização parceira do IDIS.

Em artigo para o mesmo site em que o projeto foi lançado, o Business Day, Coleen cita uma recente pesquisa da plataforma virtual de ativismo Avaaz que envolveu 116 mil pessoas de 194 países e territórios, apontando que os temas mais importantes para elas são “combater a corrupção política, a injustiça econômica e as catastróficas mudanças ambientais”. Ela questiona se, portanto, não deveriam ser esses os assuntos abordados pela iniciativa sul-africana, chamada Five Plus Project.

Coleen faz questão de destacar que esse questionamento de forma alguma diminui a importância de se doar para aliviar os problemas mais urgentes, ainda mais em um país no qual 26% das pessoas vivem abaixo da linha de pobreza. Mas, escreve ela, “nós também precisamos de engajamento ativo com organizações que defendem a alocação justa dos direitos e benefícios de nossa democracia”.

“De acordo com os princípios de nossa Constituição, este setor [justiça social] luta pelos direitos dos marginalizados, para combater a crescente desigualdade e pelo fim da corrupção e da má administração, agora endêmicas na África do Sul”. No entanto, alerta, “o setor é quase inteiramente sustentado por doadores internacionais, uma situação obviamente insustentável”.

A CEO da CAF Southern Africa lembra que o país tem uma das mais altas taxas de casos de abusos sexuais e violência de gênero, envolvendo, inclusive, crianças. Ainda assim, “organizações que combatem esse problema estão fechando por falta de financiamento”.

Até mesmo um bastião moral da África do Sul como o bispo Desmond Tutu, figura importantíssima da luta antiapartheid, já chamou a atenção para a necessidade de os líderes empresariais destinarem recursos para projetos que combatam injustiças sociais. “É paradoxal que a generosidade e a responsabilidade social dos financiadores privados, das empresas e dos indivíduos quase nunca são aplicados no setor que protege os aspectos mais fundamentais da nossa democracia”, escreve Coleen.

No mesmo tom, Coleen apela para outro bastião moral, Martin Luther King, para fechar seu argumento: “A filantropia pode ser recomendável, mas não deve ignorar as circunstâncias de injustiça econômica que a fazem necessária”.

 

 

Para Estimular Filantropia, Campanha Coleta Depoimentos de Quem Faz Doações

Falar sobre suas ações sociais é fundamental para estimular uma cultura de doação. Ainda assim, muito pouca gente no Brasil expõe publicamente quanto investe nessa área. Uma nova iniciativa pretende mudar isso. “O que a gente quer é estimular que as pessoas venham à frente, coloquem o rosto e mostrem a organização que escolheram, a causa que escolheram e por que doam”, afirma o coordenador da campanha Doe Mais, Doe Melhor, Ricardo Martins.

O pontapé inicial foi dado em 24 de março, com o lançamento de uma plataforma virtual em que há depoimentos de brasileiros e estrangeiros sobre ações sociais. “São histórias curtas, mas que focam na dinâmica emocional por trás do gesto”, afirma Martins. Ele acrescenta que dispõe de um banco de dados com mais de 100 depoimentos, das quais 60 já estão no site.

A internet foi fundamental para ajudar a encontrar pessoas dispostas a falar sobre seu próprio investimento social. O convite para expor histórias foi postado na comunidade do Facebook “Movimento por uma cultura de doação no Brasil”, que estimula debates e projetos que possam promover esse tipo de filantropia. “O Movimento funciona como uma rede de suporte. Então, quando precisei de histórias, coloquei lá e imediatamente houve respostas”, relata Martins.

A ideia da campanha veio de Leonardo Letelier, fundador da Sitawi Finanças do Bem, organização que desenvolve soluções financeiras que tenham impacto socioambiental. “A impressão do Léo é que as pessoas falam pouco de doação, às vezes, têm vergonha de falar, se sentem um pouco pedantes”, diz o coordenador da campanha. O próprio Martins se envolveu com a Doe Mais, Doe Melhor porque participava da comunidade do Facebook.

A iniciativa é recente, mas os objetivos são ambiciosos. “Começamos a pensar no final do ano passado. Com o lançamento, a gente espera receber muito mais histórias, porque eu tenho certeza que tem muita gente interessada em contar, mas ainda não encontrou o canal”, continua Martins.

Há até a possibilidade de a campanha extrapolar o ambiente virtual e chegar à televisão. “Temos algumas conversas, a possibilidade de gravar o vídeo é grande”, afirma o coordenador. O conceito de uma eventual campanha televisiva já começa a ser desenhado. “Queremos visibilidade pública, mas é difícil falar de frente pra câmera, dar entrevista. Por isso, a ideia é que a gente pegue atores ou atrizes que contem a história em primeira pessoa, mesmo que não seja a deles.”

Por fim, o coordenador ressalta que o importante mesmo não é sobre o que se fala, mas apenas falar: “O ponto não é quanto doa, e sim ter uma causa, uma organização para a qual se doa. A gente achou que divulgar histórias de doação seria a melhor forma de estimular as pessoas a contarem as suas e até viverem as suas”.

 

 

IDIS Realiza Encontro de Investidores Sociais do Amazonas

São Paulo, abril de 2014. O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS realizará, em 29 de maio de 2014 (quinta-feira), o Encontro de Investidores Sociais do Amazonas, no auditório da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), em Manaus.

Logo_Regional_AM Versao Pequena.jpgO evento vai acontecer em 29 de maio e tem como objetivo oferecer um espaço exclusivo para trocas de experiências e ideias entre investidores sociais, visando aprendizado e fortalecimento de seu papel estratégico no desenvolvimento da região em que atuam. Também pretende contribuir para a identificação de filantropos e potenciais doadores que, atuando em rede, se associem às prioridades e políticas públicas existentes para benefício da sociedade no Estado do Amazonas e em todo o país.

A programação contempla palestras e debates que vão abordar o Investimento Social Privado (ISP) como agente de desenvolvimento da sociedade nas esferas humana, econômica, comunitária e social e apresentará casos, como o de desenvolvimento da primeira infância, realizado em parceria pelo IDIS com Bernard van Leer Foundation, Fundação Amazonas Sustentável e Secretaria da Saúde do Estado do Amazonas. Dentre os palestrantes já confirmados estão Armando Ennes do Valle Júnior, da Whirlpool Latin America; Antonio Carlos da Silva, do Grupo Simões e Presidente da FIEAM; Leonardo Yanez, da Bernard van Leer Foundation e Renato Paes de Barros, Secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

O evento tem organização do IDIS e conta com parceria da Charities Aid Foundation (CAF), do Instituto C&A, do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM) da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) e da Fundação Amazonas Sustentável, e apoio financeiro da Fundação Rockefeller.

A participação é gratuita, porém restrita a convidados.

Informações Encontro de Investidores Sociais do Amazonas

  • Credenciamento de imprensa: Para o credenciamento de imprensa é necessário enviar para comunicacao@idis.org.br: nome completo, nome do veículo, editoria, número do RG, telefone fixo e celular. O acesso a jornalistas será permitido nas palestras do período da manhã.
  • Data: 29 de maio – quinta-feira
  • Horário: 9 às 17 horas
  • Local: Auditório da FIEAM – Av. Joaquim Nabuco, 1919 – Centro, Manaus

Sobre o IDIS

O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS (www.idis.org.br), fundado em 1999, é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) pioneira no apoio técnico e consultoria ao investidor social no Brasil e na América Latina. Facilita o engajamento de pessoas, famílias, empresas e comunidades em ações sociais estratégicas transformadoras da realidade, contribuindo para a redução das desigualdades sociais no País. Sua missão é apoiar o investimento social privado para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e sustentável. Sua atuação se dá de duas formas: desenvolvendo e disseminando conteúdo e atendendo à demanda, por apoio técnico, de empresas, fundações, institutos e indivíduos.

Norma Para Fundos Patrimoniais Aumenta Segurança Juridica e Abre Espaço Para Isenções Fiscais, Diz Adovago

No começo de fevereiro, a Secretaria-Geral da Presidência recebeu uma proposta de projeto de lei para regulamentar a criação e o funcionamento dos fundos patrimoniais. Já há organizações da sociedade civil que usam esta forma de financiamento, mas o instrumento ainda não é regulamentado. “Um dos grandes objetivos de ter uma legislação é aumentar a segurança do modelo. A partir do momento em que há reconhecimento de quais são os critérios mínimos para ser reconhecido, passa a ter a possibilidade de atribuir incentivos fiscais”, explica, em entrevista ao site do IDIS, o advogado Felipe Sotto-Maior, fundador da Verius (anteriormente chamada Endowments do Brasil), que auxilia entidades que queiram criar um fundo.

proposta difere de um projeto de lei que circula no Congresso, o4.643/2012, da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), que regulamenta a criação de fundos patrimoniais apenas em instituições de ensino e pesquisa. “A proposta de projeto substitutivo prevê uma ampliação grande do escopo. Não tem por que abraçar a causa do fundo patrimonial para cobrir um nicho tão pequeno de instituições”, justifica Sotto-Maior, que participou do grupo de trabalho multidisciplinar que elaborou a nova proposta normativa, liderado pelo IDIS junto com a própria Endowments do Brasil.

O especialista falou também sobre experiências do exterior, discorreu sobre os próximos passos para a proposta. “O momento parece bastante propício e o governo parece bastante interessado.”

IDIS: De onde foi tirado o desenho da proposta?

Felipe Sotto-Maior: A base inicial é o estudo de casos do exterior. Vínhamos estudando isso por causa de projetos que já existem no Brasil. Havia uma bagagem. Este projeto de lei é o produto de um grupo de estudos para o qual a gente abriu convite. Montamos o grupo com diversas instituições, advogados, economistas, gente que trabalha no governo, curadores de fundações. Passamos a discutir em cima do projeto de lei que já existia e com base no conhecimento que cada um trazia do seu trabalho.

IDIS: Já existem fundos patrimoniais no Brasil, mas não existe a figura jurídica?

Felipe Sotto-Maior: Exatamente, não tem nada que proíba. Algumas instituições saem na frente fazendo. Mas também não tem nenhum incentivo e nenhuma lei que reconheça esse formato como sendo uma figura jurídica específica.

IDIS: Considerando que não é proibido, o que a lei traz para quem já tem um fundo ou quer formar um?

Felipe Sotto-Maior: Um dos grandes objetivos de ter uma legislação é aumentar a segurança do modelo. Você padroniza um pouco, mas aumenta a segurança, porque há um reconhecimento de o que é aquilo, em vez de trabalhar com figuras adaptadas. Hoje, você adapta o regimento de uma fundação ou de uma associação, mas não tem nenhum reconhecimento pelo governo, por exemplo, de que aquilo é um fundo patrimonial. O governo enxerga uma fundação, uma associação. Por outro lado, a partir do momento em que há reconhecimento de quais são os critérios mínimos para ser reconhecido, passa a ter a possibilidade de atribuir incentivos fiscais tanto para o doador que contribui para os fundos quanto para o próprio fundo em si ou para a entidade que o mantém. Quando a gente está falando de dinheiro investido em longuíssimo prazo, o imposto de renda periódico, por exemplo, faz uma diferença enorme se não for cobrado.

IDIS: A questão dos incentivos fiscais está prevista na proposta?

Felipe Sotto-Maior: Já está prevista até onde a gente conseguiu. Um dos impostos que gostaríamos de isentar seria o imposto sobre doações, que é estadual. A proposta, como é uma lei federal, não tem como alcançar isso. Mas já previmos os impostos federais que consideramos adequados para ter incentivo ou isenção. Colocamos incentivo no imposto de renda do doador e, se possível, a isenção no imposto de renda da instituição, ou pelo menos no fundo. Tudo isso são sugestões, vamos ver o que vai passar efetivamente no Congresso.

IDIS: O que vocês avançaram em relação ao projeto que já existia?

Felipe Sotto-Maior: A principal diferença é a mudança de escopo. Era muito restrito, e a proposta de projeto substitutivo prevê uma ampliação grande. Até por não ser uma coisa proibida, que já vem sendo feita não só em instituições federais de ensino superior, mas em diversas associações e fundações, não tem por que abraçar a causa do fundo patrimonial agora, dar-se o trabalho de passar isso pelo nosso processo legislativo, para cobrir um nicho e um subgrupo tão pequeno de instituições. Então, o principal objetivo é que, se todo mundo já pode fazer, vamos reconhecer os critérios mínimos, os modelos de todo mundo, e não só os das instituições federais de ensino superior.

IDIS: Quais são os próximos passos?

Felipe Sotto-Maior: O IDIS está organizando um grupo de filantropos de apoio ao projeto de lei, que poderia fazer contribuições significativas para fundos patrimoniais e gostaria de ter um reconhecimento legal do modelo antes de fazer isso. Alguns são pessoas que já estão fazendo, independentemente da lei, e outras são pessoas que gostariam de fazer. A gente está reunindo esse grupo justamente para legitimar o projeto, para se encontrar com o Ministro Gilberto Carvalho para mostrar que existe apoio da sociedade. Precisa achar alguém agora para propor o substitutivo, e então fazer o advocacy, acompanhar a evolução.

IDIS: Vocês já fizeram algum tipo de mapeamento para saber quem poderia ser essa pessoa para propor o projeto de lei?

Felipe Sotto-Maior: Tem algumas sugestões. A gente começou, dentro do próprio grupo, vendo quem conhecia a agenda de deputados, porém, é mais o IDIS que está à frente desse processo agora. Até a última conversa antes do Carnaval, não havia um nome definido, apenas algumas ideias.

IDIS: Qual a expectativa com a criação de fundos patrimoniais?

Felipe Sotto-Maior: A expectativa é que num momento inicial aumente a disponibilidade por ser um modelo novo, uma forma historicamente reconhecida como eficiente para se deixar um legado na instituição, para fazer um legado perene na instituição. No longo prazo, a expectativa é que isso ajude as instituições a serem menos vulneráveis a ciclos de abundância e carência de doação. Se a instituição tem vários sustentáculos, várias pernas para ficar em pé, essa pode ser uma perna nova. Sempre que uma delas encurtar, você tem mais um ponto de apoio para não cair. Passa a ser uma fonte de financiamento nova e própria, a instituição consegue ter um fundo desses com dinheiro próprio – recebido em doação, mas que passa a ser próprio. Ela passa a ter um pouco mais de autonomia.

A gente cita muito o caso da França, porque o ordenamento jurídico de lá é muito semelhante ao nosso e a situação era muito semelhante à nossa. Não tinha endowment, havia associações e fundações, igual ao Brasil. Em 2008, eles aprovaram uma lei que passou a prever o modelo de endowment como uma figura independente, intermediária, em termos de estrutura jurídica, entre a fundação e a associação. Um dos grandes apoiadores desse movimento foi o próprio governo federal, com o intuito de criar um endowment para o Louvre, que é um grande sugador de dinheiro público. A ideia é que esse fundo ajude a aumentar a capacidade do Louvre de, ao longo dos anos, se sustentar cada vez mais sozinho e depender menos de dinheiro público. Era de interesse do governo passar isso lá, e acredito que está sendo visto pelo nosso governo  como um projeto que é um esforço agora para um benefício a prazo.

IDIS: O governo federal foi receptivo à proposta de projeto de lei?

Felipe Sotto-Maior: O momento parece ótimo para avançar a proposta. Inclusive, o governo vem, há alguns anos, estudando o marco legal do terceiro setor, com apoio da sociedade civil. Tem um grupo de trabalho forte para isso. A questão da sustentabilidade e do financiamento são dois temas importantes no grupo, e que estão juntos dentro dos fundos patrimoniais. Quando a gente finalmente chegou a apresentar isso para a Lais de Figueiredo Lopes, que é assessora especial da Casa Civil, ela se mostrou muito interessada no projeto, muito a fim de levar isso para frente. Parece que o ministro-chefe Gilberto Carvalho já se mostrou interessado em fazer esse tema avançar. O momento parece bastante propício e o governo parece bastante interessado em fazer isso.

 

Governo Começa a analisar Proposta de Projeto de Lei Sobre Fundos Patrimoniais

A Secretaria-Geral da Presidência começou a analisar uma proposta de projeto de lei que regulamenta a criação e o funcionamento de fundos patrimoniais. O texto foi elaborado por um grupo de 90 pessoas criado pelo IDIS em novembro de 2013 e que inclui juristas, representantes de 35 organizações da sociedade civil, Ministério Público e universidades.

documento foi entregue em 4 de fevereiro, numa reunião que contou com o secretário-executivo da pasta, Diogo Sant’Ana, a assessora especial Laís de Figueiredo Lopes e, do lado da sociedade civil, Marcos Kisil e Paula Fabiani, respectivamente diretor presidente e diretora executiva do IDIS.

Os Fundos Patrimoniais Vinculados (FPVs) são um instrumento para tentar garantir a sustentabilidade financeira de organizações da sociedade civil, pois permite às entidades separarem um determinado patrimônio, aplicá-lo e beneficiarem-se dos lucros do investimento.

Já existem organizações brasileiras que instituíram fundos, como a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli). Não há, porém, uma figura jurídica que regule esse instrumento, e é isto que a proposta pretende criar.

O texto estipula que, na criação de tais fundos, sejam definidas regras para aplicar e resgatar os recursos. Também estabelece normas de governança e administração e prevê incentivos fiscais para doações aos FPVs.

Já existe um projeto de lei sobre fundos patrimoniais tramitando no Congresso Nacional. O PL 4.643/12, da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), está na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Ele se limita aos fundos patrimoniais em entidades de pesquisa e instituições de ensino federais – inspirado em casos dos Estados Unidos, onde grandes organizações de ensino, como Harvard e Yale, são sustentadas por essas aplicações.

O grupo que elaborou a proposta entregue à Secretaria-Geral entende que os fundos são importantes na área da educação, mas avalia que é possível – mais ainda: desejável – aproveitar as potencialidades desse instrumento para a sustentabilidade de organizações da sociedade civil em geral.

Para se ter uma ideia da influência que pode ter a criação da figura jurídica dos fundos patrimoniais, basta lembrar do caso francês. A lei que os normatizou na França é de 2008. No ano seguinte, foram criadas cerca de 230 aplicações nesses moldes.

A Secretaria-Geral da Presidência tem se mostrado aberta a discutir os assuntos de interesse das organizações da sociedade civil. Foi no âmbito da pasta, por exemplo, que surgiu o projeto de lei do marco regulatório para as parcerias entre poder público e entidades sem fins lucrativos, que também tramita no Congresso. Na mesma linha, o ministro-chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, abriu o 2º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, em outubro de 2013, reforçando seu compromisso com os temas de interesse do setor.

ISP Brasileiro Não Cubre Corte de Recursos Externos Para Entidades de Defensa de Direitos

A sustentabilidade financeira das organizações da sociedade civil (OSCs) é um dos temas mais urgentes do setor, em que os recursos quase sempre vão para projetos, não para manter a estrutura das entidades. A situação é mais grave entre as instituições de defesa de direitos, mais dependentes de recursos internacionais que estão minguando nos últimos anos. “Elas foram muito importantes na redemocratização, mas são as que mais estão sofrendo com mudanças na estrutura do financiamento no Brasil”, disse o consultor Domingos Armani, moderador da mesa “O que a sustentabilidade das organizações da sociedade civil tem a ver com o Investimento Social” – que ocorreu durante o 8º Congresso do Gife, em São Paulo, entre 19 e 21 de março.

“Não houve substituição do financiamento externo pelo investimento social brasileiro, salvo algumas exceções”, concordou outra debatedora, a diretora-executiva do IDIS, Paula Fabiani. A questão ganha contornos mais dramáticos quando se lembra que, como destacou Paula, nos últimos anos houve uma geração enorme de recursos no Brasil, em razão da expansão da economia.

Apenas uma pequena parte do investimento social privado vai para esse grupo de causas. “Essas organizações tratam de temas mais conflitivos, com os quais as empresas nem sempre têm facilidade de lidar – ainda mais por não ser fácil separar sua imagem da causa que apoiam”, comentou a diretora-executiva da Abong, Vera Masagão, também presente na mesa. Mas ela ponderou que às vezes o problema está no lado inverso: “OSCs têm preconceito contra empresas, achando que teriam de mudar sua causa” para obter os recursos.

Armani ressaltou que, por vezes, nem mesmo a opinião pública está do lado das organizações de defesa de direitos. “É difícil defender abertamente esses temas, assim como é difícil ao investimento social privado apoiar essas entidades.” Por isso, elas têm um trabalho mais agudo de “persuadir financiadores de que a defesa de direitos é fundamental para a democracia”. Paula citou alguns casos (raros) de apoio a esse tema no Brasil: Fundação Ford, Instituto Avon e o investimento social da família Lafer.

Desconfiança

Apesar de as organizações de defesa de direitos nem sempre contarem com a simpatia da opinião pública, a desconfiança não recai só sobre elas. “No mundo inteiro, a pesquisa Trust Barometer aponta que as OSCs são as instituições mais confiáveis; no Brasil, elas estão apenas em terceiro lugar, à frente apenas do governo, e atrás da mídia e das empresas”, apontou Vera. “Isso é reflexo de uma sociedade que não acredita em sua capacidade de se mobilizar em prol do interesse público”.

Paula também ressaltou a “falta de confiança nas OSCs” e lembrou que o IDIS faz um processo de validação de organizações para dar mais segurança a quem tem recursos para doar. “O investidor que pode financiar a infraestrutura das entidades não está fazendo isso”, constatou. Ela ainda lembrou que os investidores acabam preferindo operar suas iniciativas a apoiarem organizações “mais próximas de beneficiários e de problemas”.

Uma exceção é o Instituto C&A, cujo diretor-executivo, Paulo Castro, também participou do debate. A estratégia é lidar diretamente com as entidades. “Nós apoiamos organizações para que tenham êxito em sua missão de transformar o contexto social”, declarou. O instituto – ligada à gigante do varejo C&A, mas sem compromisso em se alinhar com os negócios da empresa – tem se notabilizado por financiar outras entidades e buscar iniciativas que fortaleçam o setor.

“Nós estamos falando sobre o fortalecimento da democracia brasileira, e uma sociedade civil vibrante requer organizações fortes para a promoção do interesse público”, concluiu Castro.

 

 

Especialistas Discutem Fim de Fronteras Entre Setor Empresarial e Social

As empresas estão cada vez mais preocupadas em abordar temas de caráter social. A criação de institutos e fundações empresariais, e o investimento cada vez maior de dinheiro corporativo em algumas causas, são um sinal claro dessa mudança. A fronteira entre ação privada e ação social está desaparecendo? Esse foi um dos principais tópicos da plenária Transformações do Investimento Social, que abriu o 8º Congresso do Gife, ocorrido em São Paulo entre 19 e 21 de março.

“A lógica da compartimentação não funciona mais, e as empresas incorporam em seu DNA a resolução de problemas sociais”, afirmou um dos membros da mesa, o professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP Ricardo Abramovay. Já a presidente do conselho do Greenpeace Internacional, Ana Toni, deixou claro que tem ressalvas a esse embaralhamento de fronteiras.

Ana levantou vários questionamentos sobre o posicionamento das empresas em relação a problemas sociais. Elas estariam reagindo à pressão da sociedade? Seria uma percepção interna dos problemas? Para ela, o que importa é que “a natureza das empresas limita seu papel social, e não é necessariamente ruim haver fronteiras”.

De certa forma, Lucy Bernholz, professora da Universidade de Stanford, fez coro à afirmação de Ana ao dizer que haveria desafios para a confusão de limites entre empresas e organizações da sociedade civil. “A democracia deve resguardar espaço privado para a ação civil, e a ruptura da sociedade pelos políticos, pelo dinheiro e pelas empresas pode ser um perigo”, comentou.

Abramovay fez questão de dizer que não se trata de “oferecer imagem acrítica” da atuação das empresas, mas sim de que as fundações com atuação social fazem as companhias pensarem nos impactos de suas inovações. “O debate público é algo ao qual as corporações estiveram imunes no século 20, mas hoje até o Greenpeace cobra uma posição das empresas. Há movimento para reintroduzir valores na ciência econômica”, apontou.

Ana reconheceu que a “voz das companhias é fundamental para alguns temas públicos”, ainda que as empresas mantenham-se longe de algumas questões mais polêmicas, como as referentes a defesa de direitos. Ela ainda disse que o Greenpeace só consegue cobrar uma posição das empresas por ser independente delas e de governos.

Sociedade digital

Parte importante do debate girou em torno da chamada “sociedade civil digital”, definida por Lucy como aquela em que recursos digitais são usados para “organizar, criar, distribuir e financiar benefícios públicos”. Segundo a professora de Stanford, o ambiente virtual muda a “maneira como abordamos problemas comuns, como nos voluntariamos, como nos associamos enquanto cidadãos independentes, e como nos organizamos para mudanças e projetos”.

Outro participante da plenária, Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, lembrou que a era digital muda as formas de governança e o local onde está o conhecimento. “Muita coisa vai ser aprendida com tentativa e erro, o que coloca desafios para o modus operandi das organizações”. Um dos desafios é a rapidez com que as demandas são postas no ambiente digital. “Precisamos de uma institucionalização preparada para responder à velocidade das coisas. A nova geração que está vindo é mais rápida.”.

A alocação de recursos digitais, porém, é desigual, destacou Lucy. O que leva à necessidade de uma discussão importante sobre o ambiente legal em que se dão as novas relações. “Nos Estados Unidos, há um perigo grande de a sociedade civil ser apagada por quem está à frente da regulação do ambiente digital”, disse. Mizne mostrou também preocupações nesse mesmo sentido: “O debate digital passa ao largo da sociedade civil. As empresas estão dominando a discussão”.

A desigualdade se manifesta também entre quem está alfabetizado para usar a rede e quem não está. “A era digital não é uma escolha, ela está aí, e a chance de desigualdade aumentar é enorme”, disse Mizne. Ele apontou quem umas das missões do investimento social privado seria financiar ações nesse campo.

 

 

Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

O Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais tem o objetivo renovado de oferecer um espaço exclusivo para a comunidade filantrópica reunir-se, trocar experiências e aprender com seus pares, fortalecendo a filantropia estratégica na promoção do desenvolvimento da sociedade brasileira.

O evento é uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social em parceria com o GPF – Global Philanthropy Forum, duas instituições que, por acreditarem no poder dos investidores sociais para promover o desenvolvimento estratégico da sociedade, investem esforços em eventos como o Fórum, proporcionando assim espaços exclusivos para a comunidade de investidores sociais se reunir, trocar experiências e aprender uns com os outros. Dessa forma, pode-se buscar a formação de uma comunidade de pares que fortaleça práticas de investimento social.

A primeira edição aconteceu em 2012, a partir de uma parceria entre o IDIS e o Global Philanthropy Forum (GPF). A conferência reuniu mais de 150 participantes, entre filantropos, líderes e experts nacionais e internacionais para mapear e discutir o papel da filantropia para o desenvolvimento do Brasil. Logo na estreia, o Fórum já contou com a presença de nomes como Ana Paula Padrão, Eduardo Giannetti, Jacques Marcovitch, Jane Wales, Miguel Nicolelis, Ricardo Paes de Barros, Rob Garris, Viviane Senna, e outros grandes especialistas e investidores sociais.

O GPF é um projeto do World Affairs Council, criado para construir uma comunidade de doadores e investidores sociais comprometidos com causas internacionais. Também busca estruturar, potencializar e aprimorar o caráter estratégico do investimento social privado. Por meio de uma conferência anual, um seminário de verão, eventos especiais e teleconferências, o GPF conecta doadores a causas, a estratégias eficazes, a potenciais parceiros de cofinanciamento e a emblemáticos agentes de mudança de todo o mundo.

O Fórum acontece anualmente, sempre no segundo semestre (setembro ou outubro).

Veja o site e saiba mais: https://www.idis.org.br/forum

Brasileiro investe pouco em projetos sociais – Valor Econômico

Investir em prol de uma causa ainda é algo distante para grande parte dos brasileiros. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), em parceria com a Ipsos Public Affairs, com 3 mil pessoas em 70 cidades brasileiras, 73% dos entrevistados não se sentem estimulados a realizar doações ou desenvolver trabalho voluntário. Um dos motivos para não doar é a falta de dinheiro (58%), seguido pela ausência de informação (18%) e de confiança nas organizações (12%).

Entre as classes mais altas, o investimento social vem ganhando mais fôlego, de acordo com Paula Jancso Fabiani, diretora-executiva do IDIS. “Nós notamos um aumento no número de famílias que abrem fundações. E dentro do universo de empresas familiares, há casos de empresários que desenvolvem trabalhos sociais com a comunidade, e isso é passado de geração para geração”, diz. De acordo com o levantamento, as classes A e B costumam destinar recursos preferencialmente para entidades, como ONGs ou outras instituições sem fins lucrativos. Enquanto isso, as classes mais baixas doam mais para moradores de rua e instituições religiosas.

“Muitos de nossos clientes têm atividades filantrópicas importantes”, conta Luiz Felipe Andrade, sócio-gestor da gestora de patrimônio Pragma. Ainda não existe a cultura como nos Estados Unidos, diz, mas as ações que têm como objetivo apoiar projetos sociais estão se tornando mais comuns entre os clientes. “Há a filantropia pessoal, que a pessoa doa para alguma entidade, e também existem clientes que aportam recursos maiores para montar fundações e institutos”, afirma.

Andrade explica que os clientes já separam uma fatia do patrimônio para essas atividades. “A pessoa sabe que a ação vai custar R$ 5 milhões por ano, assim já separa o ‘endowment’”, exemplifica. Ele conta, ainda, que a preocupação social dos investidores também é vista pela aplicação em fundos que apostam em projetos que trazem retorno financeiro, mas também resultado positivo para comunidades.

“Fazer investimento social é um interesse crescente das pessoas de alta renda, mas ainda falta melhorar os mecanismos de doação no Brasil”, destaca Paula. Há uma dificuldade de conseguir informações, diz. Na visão dela, os private bankers também poderiam aconselhar mais os clientes em relação à importância das doações. “Assim como as ONGs precisam se estruturar melhor para dar retorno ao investidor, que quer saber como estão os projetos em que ele apostou”, complementa.

Brasil pouco generoso

O último estudo britânico “World Giving Index – Uma visão global das tendências de doação”, feito pelo instituto de pesquisa Gallup World Pool, mostrou que o Brasil ocupa o 91º lugar entre as nações que fazem mais doações. O país caiu de posição em relação ao levantamento anterior, em que ocupava o 83º lugar.

A pesquisa indicou que 23% dos brasileiros afirmaram ter doado dinheiro para organizações sociais, além de que 42% ajudaram desconhecidos. Na pesquisa, foram ouvidas 155 mil pessoas de 135 países, considerando três indicadores de doação: o percentual de pessoas que tipicamente doa dinheiro para organizações, realiza atividade voluntária ou apoia financeiramente desconhecidos.

Publicado por: Danylo Martins
Fonte: Valor Econômico S.A.
Ver matéria: http://www.valor.com.br/financas/3445178/brasileiro-investe-pouco-em-projetos-sociais

Senso Moral e Identificação com Causas São Grandes Motivos Que Levam Britânicos a Doar, Aponta Pesquisa; Religião Também é Destaque

O que motiva as pessoas a doar? Foi esta pergunta que norteou a “Why we Give” (Por que doamos), mais recente pesquisa da Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica voltada ao incentivo à doação em vários países e parceira do IDIS no Brasil. Fatores como valores pessoais e comprometimento com alguma causa aparecem no topo, mas a religião também tem lugar de destaque entre os moradores do Reino Unido.

estudo, entrevistou 722 pessoas, e incluiu também outros temas relacionados ao investimento social privado no país. O levantamento faz parte de uma campanha maior da CAF (#whywegive) para incentivar as pessoas a compartilhar suas experiências de doação nas mídias sociais.

Na sondagem, as motivações pessoais mostraram-se os principais fatores de incentivo à doação: 97% dos entrevistados mencionaram valores pessoais, 96% citaram seu senso de moralidade ou ética e 75%, a crença em alguma causa em particular. A religião aparece em seguida, com 71%. A intenção de deixar um legado positivo serve de motivo para apenas 38%.

O estudo cita o caso de uma entrevistada, a aposentada Amy Bright, que separa 10% de sua renda – o tradicional dízimo – para sua igreja e instituições sociais cristãs. “Nossa doação é baseada na crença de que tudo o que temos pertence a Deus e que devemos retribuir tanto à Igreja quanto a quem necessita”, disse a aposentada na pesquisa.

O dízimo religioso, por sinal, parece corroborar outro resultado do estudo. Na média, os entrevistados afirmam que os mais ricos deveriam doar 15% de sua renda. Porém, analisando os dados sob a ótica de outras medições estatísticas (moda e mediana), tem-se 10% para ambas. “Isto é um alinhamento com os 10% encorajados por grupos religiosos”, afirma o relatório.

A importância da fé, segundo o documento, é confirmada por uma pesquisa anual da CAF, “que mostra que doações ligadas a religiões e crenças têm atraído a maior média de recursos doados nos últimos três anos”.

O levantamento também questionou os entrevistados sobre o que eles pensam do investimento social privado, e 61% responderam que é fundamental que os mais ricos falem sobre suas doações para ajudar a incrementar esse comportamento no Reino Unido. O resultado deu força à campanha da CAF para que as pessoas falem mais sobre seus investimentos sociais.

Além disso, o estudo identificou um comportamento aparentemente paradoxal. Apesar de 79% dos entrevistados acreditarem que as organizações da sociedade civil têm problemas financeiros, somente 40% afirmaram que vão aumentar suas doações no próximo ano. Segundo o relatório, “isto pode estar ligado a uma falta de confiança na economia do Reino Unido”.

Arrecadar mais

Como captar recursos em um ambiente como esse? Outros resultados da pesquisa indicam alguns caminhos. A maioria (72%) afirma que só doaria para organizações que demonstrassem seu impacto de maneira clara. Questionados sobre como as entidades poderiam aumentar sua arrecadação, 81% dos entrevistados citaram a demonstração do impacto das ações como um fator decisivo. Já 78% cobraram das empresas que elas apoiem mais as ONGs.

A educação também apareceu como um dos fatores capazes de elevar os recursos doados: 62% disseram que “uma cooperação crescente entre escolas e organizações da sociedade civil provavelmente aumentaria as doações” ao incutir nas crianças um comportamento solidário. Outro trabalho da CAF, “Growing up giving”, havia apontado a importância do sistema educacional no encorajamento de um comportamento filantrópico.

Questões tributárias também são importantes. Mais de três quartos dos entrevistados (77%) avaliam que, se os doadores conhecessem melhor os incentivos fiscais existentes, as doações provavelmente cresceriam. Ao mesmo tempo, 76% deles dizem que novos incentivos seriam bem-vindos.

Semelhanças com Brasil

A religião é um fator importante para doadores não só no Reino Unido, mas também no Brasil. Segundo estudo do IDIS e da Ipsos Public Affairs, as instituições religiosas aparecem como as mais beneficiadas pelos doadores brasileiros: 30% dos entrevistados disseram doar para igrejas, porcentagem semelhante àquela dos que disseram doar para pedintes de rua. Apenas 14% dos entrevistados disseram doar para organizações não governamentais.

A grande maioria dos brasileiros (84%) desconhece os mecanismos nacionais de doações dedutíveis do Imposto de Renda. Se os britânicos estiverem certos ao acreditarem que um maior conhecimento sobre incentivos fiscais poderia aumentar o volume de doações, esse é um bom caminho para as entidades do Brasil.

 

 

Investimento Social Privado Deve Voltar a se Preocupar Com a Invocação, Diz Estudo

O que o sistema nacional de atendimento de emergência dos Estados Unidos – o 911 tão falado nos filmes – e um dos primeiros laboratórios de pesquisa sobre Aids têm em comum? Ambos foram criados com financiamento de recursos filantrópicos. O espírito de inovação por trás desses investimentos, no entanto, parece ter ficado no passado: hoje os filantropos procuram direcionar seus recursos para ações seguras. O desafio é fazer com que parte desse dinheiro volte para projetos mais arriscados, mas com grande capacidade de mudança.

Dois membros do Monitor Institute, iniciativa da consultoria Deloitte, mergulharam fundo nesta questão em um artigo no site da Stanford Social Innovation Review. Gabriel Kasper e Justin Marcoux diagnosticaram o problema, mostraram possíveis soluções para que a filantropia retome seu caráter inovador e abordaram um projeto lançado para recolocar o tema na agenda do investimento social privado.

Para os autores, a radicalização da filantropia estratégica fez com que os investidores procurassem projetos com resultados cada vez mais certos e mensuráveis. “Os financiadores estão às vezes tratando os financiados como empregados, pagos apenas para executar planos pré-definidos”, escrevem. Com isso, os temas complexos são deixados de lado.

O artigo usa um dos cases de maior sucesso nos últimos anos como exemplo: as redes ou véus protetores de cama, distribuídos na África para diminuir a incidência de malária ao afastar o mosquito transmissor. É uma iniciativa muito barata e de retorno quase imediato. Mas, aponta o texto, a Fundação Bill & Melinda Gates está buscando uma solução mais radical e definitiva: uma alteração genética para que os mosquitos não transmitam a doença. É um projeto arriscado e de resultado incerto, mas, se bem-sucedido, terá resultados de grande impacto.

Uma frase citada pelos autores, do ex-diretor da Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas do Departamento de Energia dos Estados Unidos, Eric Toone, representa bem o que está em jogo: “Quando se faz inovação, a primeira questão não é ‘isso vai funcionar?’, mas sim ‘faria diferença se isso funcionasse?’”. Kasper e Marcoux explicam: “Financiadores da inovação trocam a probabilidade de sucesso por um potencial maior de impacto”.

A questão toda passa por uma redefinição da ideia de risco. Para os autores, tanto as empresas quanto o governo têm pouca margem para arriscar-se: os primeiros por deverem explicações a seus acionistas; os segundos, a seus eleitores. Em comparação, investidores sociais têm “discrição extraordinária para experimentar e tentar coisas novas”.

Kasper e Marcoux descrevem em detalhes cinco passos, citando exemplos, para que o investimento social privado possa reencontrar o caminho da inovação: achar novas soluções; selecionar aquelas com maior potencial de transformação; apoiar as selecionadas; medir o impacto; dar escala ao projeto.

O objetivo da inovação, no entanto, não deve ser seguido cegamente. Assim, escrevem os autores, “em questões nas quais já existam soluções funcionando, às vezes é mais importante colocar foco na escala e melhora de abordagens já conhecidas do que experimentar novas abordagens”. Ou seja, não se deve abandonar o que já existe para buscar algo inovador. A rede que afasta o mosquito deve conviver com o projeto para alterar a genética do inseto.

Até por isso, notam Kasper e Marcoux, a inovação não é uma alternativa à filantropia estratégica. “Ao contrário, financiar a inovação é parte da filantropia estratégica.” Ou seja, apenas uma parte dos recursos deve ser destinada à inovação, mantendo o resto em ações comprovadas e seguras.

Cabe a cada organização, portanto, encontrar o equilíbrio entre a quantidade de recursos para financiar inovação e para manter atividades já estabelecidas. E, como concluem os autores, “abraçar a exploração, a experimentação e o risco pode, na verdade, ajudar a filantropia estratégica a encontrar o equilíbrio correto e fazer um trabalho ainda melhor no tratamento dos problemas sociais mais urgentes do mundo”.

Setor Privado é Fundamental Para Alcance de Metas Sociais, Diz PNUD

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são um conjunto de oito metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015. Envolvem temas-chave como redução da pobreza, igualdade entre os sexos e universalização do ensino básico. Desde o momento em que foram firmados, há quase 15 anos, ganharam a adesão de boa parte do setor privado. E o Brasil tem tido um importante papel na articulação das empresas em torno das metas.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – responsável capitanear a promoção dos ODM –, na assinatura da Declaração do Milênio, em 2000, já estava claro que não seria possível alcançar os Objetivos sem a participação da iniciativa privada.

No Brasil e em outros países, essa participação às vezes se dá em parcerias diretas entre órgãos da ONU e as empresas. No caso brasileiro, o Projeto ODM 2015, por exemplo, foi criado em 2011 e conta com recursos de empresas como Petrobras, Furnas e Banco do Brasil. A finalidade é municipalizar os Objetivos de Milênio, como forma de torná-los mais efetivos.

O projeto é alinhado com uma avaliação do Pnud de que, na média, o Brasil avançou nos Objetivos do Milênio, mas persistem desigualdades significativas. Por exemplo, os objetivos 5 (redução da mortalidade materna) e 7 (que inclui acesso a saneamento básico e água) apresentam resultados bastante diversos entre as regiões.

Outro tipo de parceria é a Aliança para o Desenvolvimento Local, firmada pelo Pnud e pela Fundação Vale, braço social da mineradora brasileira. A ideia é promover o desenvolvimento de municípios afetados pela indústria extrativista, e suas ações se concentram no Pará e no Maranhão.

Depois das metas

O papel fundamental do setor privado nos Objetivos do Milênio é tão reconhecido pela ONU que, no mesmo ano 2000 em que as metas foram traçadas, as Nações Unidas lançaram o Pacto Global, que busca envolver as corporações em torno de dez princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate a corrupção.

O Pacto Global é composto por redes nacionais, e o Brasil tem a quarta maior do mundo, com mais de 600 membros. Até por isso, o Pnud considera que o país é um grande influenciador das outras. Essa influência é especialmente relevante pelo fato de que é por meio do Pacto Global que o setor privado está participando da construção da agenda pós-2015, quando vencerem os Objetivos do Milênio.

A rede brasileira teve importância destacada, segundo o PNUD, no último encontro de líderes do Pacto Global, em setembro de 2013, em Nova York. Durante a conferência, foi lançada a iniciativa Arquitetos de um Mundo Melhor, que, nas palavras do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi projetada para “conduzir e ampliar ações corporativas que, diretamente, possam fazer os objetivos das Nações Unidas avançarem”.

A relação entre as empresas e a ONU só deve aumentar no cenário pós-2015, quando será elaborada uma nova agenda de prioridades. O tema ganhou fôlego durante a Rio+20, em 2012 e, segundo o PNUD, o setor privado surge como ator e parceiro indispensável na construção do novo paradigma de desenvolvimento sustentável, que contemple, simultaneamente, aspectos econômicos, sociais e ambientais.