WGI: Brasil sobe uma posição em ranking anual de solidariedade, mas perde 36 posições em cinco anos

O World Giving Index (WGI), pesquisa anual sobe a solidariedade no mundo, trouxe uma pequena boa notícia para o Brasil: depois de quatro anos seguidos de queda, o país subiu uma posição no ranking, chegando a 90º entre 135 nações. Ainda assim, perdeu 36 lugares desde 2009, quando o estudo começou a ser feito. A lista é liderada por Estados Unidos e Mianmar.

O indicador faz parte de uma pesquisa global encomendada ao Instituto Gallup pela Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica que trabalha pelo fortalecimento do ambiente para o investimento social privado. O índice baseia-se em três perguntas sobre o comportamento dos entrevistados no mês anterior à sondagem: se doou dinheiro, se ajudou um estranho e se fez voluntariado.

O Brasil só avançou no terceiro quesito: cresceu de 13% para 16% a proporção de entrevistados que disseram ter se engajado em atividades voluntárias. Já a porcentagem dos que responderam ter ajudado alguém que não conheciam recuou de 42% para 40%, e a dos que fizeram doação em dinheiro, de 23% para 22%.

Quando se extrapolam as porcentagens para números absolutos, o país é o 9º em doação de dinheiro, o 8º em voluntariado e o 6º em ajuda a um estranho. “Em números absolutos o Brasil aparece nos três índices entre os dez primeiros colocados por ser um país populoso, mas em termos de percentual da população ainda estamos mais próximos do fim da lista e temos enorme potencial para evoluir”, comentou Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, que representa a CAF no Brasil.

Economia e cultura

A liderança do ranking, dividida entre Estados Unidos e Mianmar, mostra que a cultura importa mais que o tamanho da economia quando se trata de solidariedade. O pobre país asiático está na ponta impulsionado principalmente pelo elevadíssimo índice de doações financeiras (91%).

“Isso é reflexo da forte comunidade budista Theravada, com cerca de 500 mil monges (a maior proporção de monges em relação à população em qualquer país budista) recebendo apoio financeiro de devotos simples. A posição de Mianmar nos lembra quão importante é a cultura de cada país na predisposição de seu povo pela solidariedade”, diz o relatório.

Por outro lado, os norte-americanos não estão acompanhados de outras grandes economias nas primeiras posições do ranking. Apenas cinco países mais bem colocados no WGI faz parte do G20. Como observa o texto do documento, 11 participantes do G20 estão fora do TOP 50 e três, fora do TOP 100.

Mais ainda, a pesquisa mostra que, “dos 15 países que demonstraram maior aumento entre sua pontuação de 2013 e a de cinco anos, somente um é classificado como país de alta renda pelo Banco Mundial, demonstrando com clareza o maior potencial de crescimento nos mercados nascentes”.

Além disso, esporadicamente tragédias naturais desencadeiam uma onda de solidariedade, como mostra o desempenho da Malásia. Em 2013, o país estava em 71º no ranking; em 2014, saltou para o 7º lugar. “A Malásia experimentou um incremento significativo em todas as três formas de doação. Essa mudança de comportamento provavelmente reflete os esforços humanitários após o tufão Hayan no arquipélago vizinho das Filipinas, e está de acordo com os aumentos de doações registrados após outros desastres naturais na China e no Japão”, comenta o relatório.

Mulheres e jovens

Outra tendência apontada depois de cinco anos de pesquisas é que as mulheres são mais inclinadas a doarem dinheiro nos países mais ricos, onde as disparidades de renda entre os gêneros são menores. Já nas nações de renda média ou baixa, os homens a lideram nesse quesito.

No entanto, enquanto a ajuda a estranhos e o voluntariado têm sistematicamente crescido nos últimos cinco anos, a doação apresentou queda substancial na pesquisa mais recente. Isso pode ser explicado, segundo o relatório, pelo alto desemprego entre os jovens.

“A queda geral na doação de dinheiro reflete uma queda na proporção de jovens que disseram sim a este item da pesquisa, particularmente aqueles com idades entre 15 e 29 anos. Nos últimos anos, o desemprego juvenil tem se mantido alto e continua a crescer. Essa tendência, aliada a uma consequente redução na renda disponível, pode ter contribuído para uma participação reduzida na doação de dinheiro entre os jovens”, afirma o texto.

Encontro internacional de investidores sociais aliou inovação social e histórias emocionantes

Tecnologia e estratégias ousadas estão revolucionando a forma como investidores sociais privados alavancam seus recursos para atingir resultados transformadores. A boa e velha emoção, porém, continua sendo uma excelente força motivadora para os filantropos.

O 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), destacou justamente a face mais arrojada do investimento social privado no Brasil e no mundo, mas sem deixar de lado a importância crucial que as histórias inspiradoras têm para o setor. O evento, cujo tema foi “Inovação e impacto do investimento social privado”, aconteceu em São Paulo, em 6 de novembro, e reuniu palestrantes brasileiros e estrangeiros.

Logo na apresentação, a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, afirmou que “a criatividade é um ato individual que exige imaginação, já a inovação é coletiva e demanda transpiração”. Disse que a programação havia sido montada para inspirar reflexão e transformação, de modo que os presentes pensassem “fora da caixa”.

O fórum, cujo objetivo era discutir inovação, começou, no entanto, com o coração. A mesa “Investimento social familiar” trouxe para o centro do palco as motivações de duas das famílias mais socialmente ativas do país.

Beatriz Gerdau Johannpeter e Jorge Gerdau Johannpeter contaram a história do Instituto Gerdau. “O trabalho social é um legado em nossa família, que já está na quinta geração. A criação do instituto foi um marco para garantir a perpetuação de nossos valores”, disse Beatriz, que também expôs as razões pessoais que a fizeram enveredar pelo trabalho social: os problemas de saúde de seu filho.

Sandra Regina Mutarelli Setúbal e José Luiz Egydio Setúbal falaram sobre o trabalho da Fundação José Luiz Egydio Setúbal. “Na nossa família, o investimento social é central. Eu poderia ter participado tanto das ações do Itaú quanto de meus parentes, mas meus irmãos trabalham com educação, e eu queria abordar o tema da saúde”, contou Setúbal, que criou o Instituto Pensi, para pesquisas sobre pediatria.

Se abriu dando espaço à emoção, o fórum fechou mergulhando na inovação. O professor Lester Salamon, da Johns Hopkins, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre um modelo chamado “philanthropication through privatization”, que teria potencial de canalizar bilhões de dólares para a filantropia.

Trata-se da constituição de fundos patrimoniais com parte dos recursos que o Estado recebe pela venda de patrimônio ou concessão de serviços ao setor privado. “Mapeamos 539 casos pelo mundo todo, que garantiram bens num valor total de U$ 139 bilhões para o setor social privado”, disse Salamon.

Recheando o evento, a mesa “Investimento social privado e inovação na Saúde” reuniu a diretora executiva do END Fund, Ellen Agler, a diretora da Fundação AbbVie, Verónica Arroyave, e o secretário adjunto de Estado da Saúde de São Paulo, Wilson Modesto Pollara, para discutir o papel do setor social privado no setor, como o tratamento de doenças negligenciáveis e precariedade do atendimento hospitalar.

Ellen, por exemplo, afirmou que a “filantropia fornece o capital de risco necessário para a inovação, criando projetos pilotos que possam ser adotados por governos”. Já Pollara falou sobre a reorganização hospitalar do estado de São Paulo, que tem no IDIS um parceiro para inovar em uma das áreas mais antigas da filantropia brasileira: criar novos métodos de captação para as santas-casas.

A sessão “Licença social para operar: o impacto do investimento social privado” abordou o tema do ISP comunitário, uma grande tendência do setor nacional. O diretor do Instituto C&A, Paulo Castro, mediou a mesa, que contou com a gerente do Instituto Holcim, Juliana Cassilha Andrigueto, a diretora executiva do Instituto Coca-Cola, Daniela Redondo, e a diretora de sustentabilidade Juliana de Lavor Lopes, da Amaggi, grupo agroindustrial que criou a Fundação André e Lúcia Maggi.

A inovação também deu o tom da mesa “O papel da tecnologia na ampliação do impacto do investimento social”, mediada pela diretora executiva do Wings, Helena Monteiro. O diretor executivo do Instituto Arapyaú, Marcelo Furtado, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto, e o presidente da Fundação Banco do Brasil, José Caetano de Andrade Minchillo, explicaram como o uso da tecnologia impacta o trabalho de suas organizações.

A plenária “Arranjos inovadores para o desenvolvimento sustentável”, capitaneada pela associada sênior para a filantropia global na Rockefeller Philanthropy Advisors, Heather Grady, focou no papel que o investimento social privado terá na agenda mundial pós-2015, quando vencerão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – série de metas que os países da ONU se comprometeram a atingir. Participaram da discussão a representante no Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Daniela Carrera, o diretor do Instituto Votorantim, Cloves Carvalho, e o chefe do grupo de Inovações e Alianças para o Desenvolvimento do Pnud, Marcos Neto.

Um dos momentos mais emocionantes do fórum aconteceu durante a sessão “Em conversa com…”, conduzida por Paula Fabiani. O primeiro convidado a falar sobre seu trabalho foi o músico Peter Buffet, filho do filantropo bilionário Warren Buffet e copresidente da NoVo Foundation, que trabalha com direitos e meninas e mulheres.

A filantropia, disse Peter Buffet, “é uma maneira de ter um propósito na vida para acordar todos os dias”. Ao mesmo tempo, “o melhor mundo seria aquele em que todos tivessem o suficiente e a filantropia não fosse mais necessária”, comentou ele, cuja organização recebeu US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em ações beneficentes.

Na segunda rodada de conversas, Regina Helena Velloso, presidente voluntária do conselho de administração da AACD, contou sua aproximação com o investimento social privado: “Meu pai trabalhou na mesma entidade, e isso foi uma das grandes heranças que ele me deixou”.

Já as falas da norte-americana Swanee Hunt, presidente da Hunt Alternatives e criadora do Women Moving Millions, emocionaram o público. Vinda de uma família humilde que enriqueceu no ramo agrícola, contou que seu pai não valorizava o trabalho solidário. Sua vida mudou quando um de seus irmãos foi diagnosticado como esquizofrênico e sofreu lobotomia, o que a fez trabalhar com doentes mentais.

“Ouço muitas coisas sobre investimento de impacto, jovens falam muito sobre isso. Mas não adianta fazer as coisas se não for visitar os locais. Tem de estar perto das pessoas e olhá-las no olho. A filantropia envolve principalmente amor ao outro, não dinheiro”, disse Hunt, arrancando aplausos da plateia.

Filantropia luta por um mundo em que ela não seja necessária, diz Peter Buffet

Filho do bilionário Warren Buffet, um dos maiores filantropos do mundo, Peter Buffet tornou-se ele mesmo um grande investidor na área ao receber US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em causas sociais. Com a experiência de sua própria atuação, e da atuação de seus familiares, ele sugere que a filantropia se assenta sobre um paradoxo: trabalha para melhorar o mundo, mas “o melhor mundo seria aquele no qual a filantropia não fosse necessária”, disse ele durante evento promovido pelo IDIS em São Paulo.

O norte-americano, presidente da NoVo Foundation, foi um dos participantes da mesa “Em conversa com…”, uma espécie de bate-papo com investidores sociais durante o 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), que aconteceu em 6 de novembro.

Em videoconferência com a diretora-executiva da Worldwide Initiatives for Grantmaking Support (Wings), Helena Monteiro, Buffet afirmou que a ação social “dá um propósito à vida” e que, mesmo que o US$ 1 bilhão doado por seu pai não tivesse obrigatoriamente de ir para a filantropia, alocaria para essa área mesmo assim. “Eu teria feito a mesma coisa, tenho sorte de ter dinheiro e sinto que não preciso de mais”.

Ainda assim, reforçou: “o melhor seria se nada disso existisse. Quero um mundo em que eu não tenha de estar nessa posição de investidor social, e é preciso se lembrar disso”.

O empresário também mostrou uma perspectiva pouco comum ao tratar de um dos temas candentes no setor: a medição de impacto. O bilionário concordou que avaliar os efeitos de um projeto é muito importante, mas destacou que frequentemente programas sociais têm seu próprio prazo. “Falo para as pessoas que trabalham comigo que elas podem estar mortas antes de terem resultados tangíveis.”

Emoção

A segunda parte da mesa “Em conversa com…” foi também a mais emocionante do fórum. Regina Helena Scripilliti Velloso, presidente voluntária do Conselho de Administração da AACD, e Swanee Hunt, presidente da Hunt Initiatives – organização que destinou, desde 1981, mais de US$ 130 milhões para a filantropia –, contaram como se envolveram com trabalhos sociais.
“Meu pai trabalhou na AACD, e essa foi a herança que ele me deixou”, afirmou Regina. Não foi algo forçado. Ao contrário, quando ela mostrou interesse, ele logo alertou: “Quem vai lá ou se apaixona ou nunca mais volta”.

Swanee veio de um ambiente bem diferente. Filha de um agricultor pobre que enriqueceu, seu pai “achava que a contribuição dele era gerar trabalho para os outros”. Ela mesma se dedicou a uma “filantropia mais tradicional” até lidar com a doença mental de um de seus irmãos, o que acabou definindo sua atuação a partir de então.

“Comecei a trabalhar com doentes mentais que não ofereciam riscos para si, e decidi tentar reformar o sistema de saúde de Denver, cidade onde eu morava.” Quando servia como embaixadora dos Estados Unidos na Áustria, engajou-se num trabalho social voltado ao público feminino. “Na época, juntei várias mulheres para discutir a situação humanitária na Guerra dos Bálcãs, que acontecia naquele momento”, disse. “Lidamos com o fato de vivermos num patriarcado e termos de lutar por nosso lugar no mundo.”

Foi a visão de um mundo machista, por sinal, que fez Peter Buffet também voltar sua ação para a melhoria da condição das mulheres. A NoVo Foundation, presidida por ele, tem entre suas metas empoderar adolescentes do sexo feminino.

IDIS e Demarest juntos pelo #DiaDeDoar

O IDIS (Instituto para o Desenvolvimento Social) e o Demarest Advogados estão juntos apoiando o #DiadeDoar.

O #DiadeDoar inspira a filantropia pessoal e encoraja doações maiores, melhores e mais inteligentes durante a época de festas, mostrando que o mundo, de fato, doa da melhor forma possível. O #DiadeDoar não é uma plataforma de doação, mas sim um princípio norteador para encorajar a criatividade e a energia de pessoas no Brasil e no mundo para trabalharem juntas para o bem. Para mais informações, acesse http://www.diadedoar.org.br/.

Em 2014, o #DiadeDoar acontecerá no dia 2 de dezembro, no Brasil todo, e terá, pela primeira vez o apoio do movimento internacional #GivingTuesday, do qual a CAF (à quem o IDIS é afiliado) é um dos maiores incentivadores.

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O IDIS incentivando o #DiadeDoar

Para fazer parte do #DiadeDoar, o IDIS criou em parceria ao Demarest Advogados uma campanha para divulgar a iniciativa a seus parceiros, incentivando que cada um crie a sua forma de contribuir. A campanha inclui uma apresentação que será enviada a seus parceiros e o uso do site e das redes sociais para promover o movimento. Veja aqui o arquivo.

Criar uma ação no dia de doar é uma maneira de trabalhar a interação entre os funcionários, promover uma cultura de doação no grupo de trabalho e destacar a imagem da empresa.

A definição da ação para o Dia de Doar inclui ainda a escolha do projeto, algo que deve ser feito com responsabilidade, possibilitando que as pessoas conheçam o trabalho apoiado e quem sabe possam aumentar o vínculo com os projetos em outras épocas do ano.

Você também pode aproveitar o #DiaDeDoar para promover uma ação que a empresa ou algum funcionário já realiza, trazendo mais visibilidade e melhores resultados à iniciativa!

Para quem não sabe a quem destinar as doações, o Demarest selecionou instituições que foram apoiadas pelo Grupo de Responsabilidade Social RS360º no ano de 2014, pois são iniciativas que conhecem por ter um trabalho sério e responsável (veja detalhes na lista abaixo).

 

Você não precisa ser um líder mundial ou milionário para doar,
#DiadeDoar é sobre pessoas normais se juntando para fazer coisas extraordinárias. Junte-se a nós!

 

Lista das organizações indicadas pelo Demarest:

Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural
http://www.institutoolgakos.org.br/
Bradesco, Agência 0134-1, c/c115306-4, CNPJ 08.745.680/0001-84

Associação das Voluntárias do Hospital Infantil Darcy Vargas
http://voluntarias-amarelinhas.blogspot.com.br/
HSBC 399, Agência 0268, c/c 11 351-46, CNPJ 52.631.033/0001-33

GRAACC
https://www.graacc.org.br/
Bradesco 237, Agência 0548-7, c/c  87087-0 ou 71.000-8, CNPJ 67185694000150

Casa do Pequeno Cidadão Nossa Senhora Aparecida
http://www.casadopequenocidadao.com.br/index.htm
Bradesco, Agência 0313, c/c 108.109-8, CNPJ: 04.436.297/0001-93

Unibes – União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social
http://www.unibes.org.br/
Itaú, Agência 0064, c/c 35.720-5 CNPJ 60.978.723/0001-91
(entre em contato para saber outras possibilidades de depósito)

WORLD GIVING INDEX: BRASIL SOBE UMA POSIÇÃO EM RANKING GLOBAL DE DOAÇÕES

O Brasil subiu uma posição no índice mundial de doações que abrange 135 países ao redor do globo. O país saiu da 91ª para a 90ª posição, de acordo com a pesquisa World Giving Index 2014 divulgada pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, nesta terça-feira, em São Paulo. O estudo, divulgado anualmente desde 2010, é encomendado pela instituição britânica CAF, Charities Aid Foundation, ao instituto de pesquisa Gallup World Pool.

Apesar da 90ª colocação, o país apresentou uma evolução positiva. Porém, desde o início do levantamento, perdeu 36 posições. Os dados mostram que 22% dos brasileiros entrevistados afirmaram ter doado dinheiro para organizações da sociedade civil, 40% ajudaram desconhecidos e 16% fizeram algum tipo de trabalho voluntario.

“Em números absolutos o Brasil aparece nos três índices (doação, voluntariado e ajudar um estranho) entre os 10 primeiros colocados por ser um país populoso. Mas em termos de percentual da população ainda estamos mais próximos do fim da lista e temos enorme potencial para evoluir”, diz a presidente do IDIS, Paula Fabiani.

Em relação aos dados do ano passado, o único ponto em que o Brasil cresceu foi no voluntariado – de 13% para 16%. Por outro lado, a doação caiu de 23% para 22% e o ato de ajudar a um estranho caiu de 42% para 40%.

Estados Unidos e Mianmar compartilham o primeiro lugar no ranking. Os Estados Unidos são o único país a ranquear em números porcentuais no Top 10 nos três tipos de doação. A liderança de Mianmar no ranking se deve principalmente a uma incidência muito alta de doações de dinheiro. Nove em cada dez pessoas em Mianmar seguem a escola Theravada de budismo, com uma forte cultura de solidariedade, o que contribui para que o país esteja na primeira posição em doação de dinheiro. Os países que formam o Top 10 permanecem sendo, em sua maioria, os mesmos relatados em 2013.

A exceção mais evidente foi a Malásia, que em decorrência do Tufão HAYAN subiu da 71ª para a 7ª colocação, reflexo dos esforços humanitários para ajudar a população após o desastre.

Para a presidente do IDIS, Paula Fabiani, o levantamento mostra a necessidade de investir na promoção de uma cultura de doação no país. “No Brasil, sete em cada dez pessoas não fazem doações e oito em cada dez não praticam qualquer ação de voluntariado. Temos que fomentar a cultura de doação no país, seja em dinheiro ou tempo. Os dados mostram que a doação não está apenas relacionada com a questão da riqueza. Uma prova disso são os Estados Unidos e Mianmar que permanecem empatados em primeiro lugar”, afirma.

Na America do Sul, Venezuela é a nação menos generosa, ocupando a posição 134º, situação parecida com a do Equador, em 132º lugar. O país mais solidário do continente é o Chile, em 50° lugar na lista, seguido da Colômbia, em 53°.

Alguns destaques do relatório:
O World Giving Index 2014 traz uma série de recomendações os governos ao redor do mundo. O estudo ressalta a relevância de uma regulamentação das organizações sem fins lucrativos justa, consistente e aberta. Cobra mais facilidade para as pessoas doarem e a importância de oferecer incentivos para a doação. Lembra ainda que é preciso encorajar a doação solidária à medida que as nações desenvolvem suas economias, aproveitando o crescimento das classes médias ao redor do globo.

“Para melhorarmos esse cenário, é necessário trabalhar por uma cultura de doação mais presente e menos assistencialista, investir nas áreas de captação de recursos das organizações e criar um ambiente legal e tributário que incentive a doação, motivando as pessoas a doarem”, complementa Paula Fabiani.

O World Giving Index 2014 está disponível online por meio dos links:
(PORTUGUÊS)
https://www.idis.org.br/wp-content/uploads/2014/11/CAF_WGI2014_PT.pdf

(ORIGINAL, EM INGLÊS):
https://www.idis.org.br/wp-content/uploads/2014/11/CAF_WGI2014_EN.pdf

Encontro internacional de investidores sociais alia inovação social e histórias emocionantes

O 3º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum (GPF), destacou justamente a face mais arrojada do investimento social privado no Brasil e no mundo, sem deixar de lado a importância crucial que as histórias inspiradoras têm para o setor. O evento, cujo tema foi “Inovação e impacto do investimento social privado”, aconteceu em São Paulo, em 6 de novembro, e reuniu alguns dos maiores nomes da filantropia brasileira, além de importantes palestrantes estrangeiros.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Durante as boas-vindas, a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, falou sobre a importância da criatividade (um ato individual que exige imaginação ) e da inovação (algo que é coletivo e demanda trabalho).  “A programação foi montada para inspirar reflexão e transformação. Com isso em mente, eu convido todos vocês a pensarem fora da caixa nesta tarde”, diz Paula. A presidente do GPF, Jane Wales, relembrou o começo do fórum no Brasil e destacou a qualidade do evento, dos palestrantes e dos participantes: “O desenvolvimento do Brasil é rápido, mas não inclusivo. O que faz este grupo memorável é que vocês todos compartilham o comprometimento ao desenvolvimento inclusive neste país maravilhoso”.

A mesa “Investimento social familiar” trouxe para o centro do palco as motivações de duas das famílias mais socialmente ativas do país. Beatriz Gerdau Johannpeter e Jorge Gerdau Johannpeter contaram a história do Instituto Gerdau. “O trabalho social é um legado em nossa família, que já está na quinta geração. A criação do instituto foi um marco para garantir a perpetuação de nossos valores”, disse Beatriz, que contou que decidiu seguir pelo trabalho social inspirada pelos problemas de saúde de seu filho.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Na mesma mesa, Sandra Regina Mutarelli Setúbal e José Luiz Egydio Setúbal falaram sobre o trabalho da Fundação José Luiz Egydio Setúbal. “Na nossa família, o investimento social é central. Eu poderia ter participado tanto das ações do Itaú quanto de meus parentes, mas meus irmãos trabalham com educação, e eu queria abordar o tema da saúde”, contou Setúbal, que criou o Instituto Pensi, para pesquisas sobre pediatria.

A programação foi intensa e diversificada. Ao longo do dia, a mesa “Investimento social privado e inovação na Saúde” reuniu a diretora executiva do The End Fund, Ellen Agler, a diretora da Fundação AbbVie, Verónica Arroyave, e o secretário adjunto de Estado da Saúde de São Paulo, Wilson Modesto Pollara, para discutir o papel do setor social privado no setor, como o tratamento de doenças negligenciáveis e precariedade do atendimento hospitalar.

A sessão “Licença social para operar: o impacto do investimento social privado” abordou o tema do Investimento Social Privado na comunidade, uma grande tendência do setor nacional. O diretor do Instituto C&A, Paulo Castro, mediou a mesa, que contou com a gerente do Instituto Holcim, Juliana Cassilha Andrigueto, a diretora executiva do Instituto Coca-Cola, Daniela Redondo, e a diretora de sustentabilidade Juliana de Lavor Lopes, da Amaggi, grupo agroindustrial que criou a Fundação André e Lúcia Maggi.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

A inovação também deu o tom da mesa “O papel da tecnologia na ampliação do impacto do investimento social”, mediada pela diretora executiva do Wings, Helena Monteiro. O diretor executivo do Instituto Arapyaú, Marcelo Furtado, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto, e o presidente da Fundação Banco do Brasil, José Caetano de Andrade Minchillo, explicaram como o uso da tecnologia impacta o trabalho de suas organizações.

A plenária “Arranjos inovadores para o desenvolvimento sustentável”, capitaneada pela associada sênior para a filantropia global na Rockefeller Philanthropy Advisors, Heather Grady, focou no papel que o investimento social privado terá na agenda mundial pós-2015, quando terminam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – série de metas que os países da ONU se comprometeram a atingir. Participaram da discussão a representante no Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Daniela Carrera, o diretor do Instituto Votorantim, Cloves Carvalho, e o chefe do grupo de Inovações e Alianças para o Desenvolvimento do Pnud, Marcos Neto.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Na hora do almoço, os participantes se dividiram em catorze mesas temáticas, conhecendo mais sobre diferentes assuntos relacionados ao investimento social privado.

Logo em seguida, houve um dos momentos mais emocionantes do fórum aconteceu durante a sessão “Em conversa com…”. O primeiro convidado a falar sobre seu trabalho foi o músico Peter Buffet, filho do filantropo bilionário Warren Buffet e copresidente da NoVo Foundation, que trabalha com direitos e meninas e mulheres. Entrevistado por Helena Monteiro, Peter Buffet disse que “a filantropia é uma maneira de ter um propósito na vida para acordar todos os dias”. Ao mesmo tempo, “o melhor mundo seria aquele em que todos tivessem o suficiente e a filantropia não fosse mais necessária”, comentou ele, cuja organização recebeu US$ 1 bilhão de seu pai para aplicar em ações beneficentes.

Na segunda rodada de conversas, Regina Helena Velloso, presidente voluntária do conselho de administração da AACD, e a norte-americana Swanee Hunt, presidente da Hunt Alternatives e criadora do Women Moving Millions contaram como ambas se aproximaram do investimento social privado. Enquanto o pai de Regina era engajado e transmitiu a ela o vírus da solidariedade (“quando era mais nova, meu pai já atuava na AACD e me transmitiu o cargo na entidade como uma das suas maiores heranças”), Hunt veio de uma família humilde que enriqueceu no ramo agrícola e contou que seu pai não valorizava o trabalho solidário. Sua vida mudou quando um de seus irmãos foi diagnosticado como esquizofrênico e sofreu lobotomia, o que a fez trabalhar com doentes mentais. “Ouço muitas coisas sobre investimento de impacto, mas não adianta fazer as coisas se não for visitar os locais. Tem de estar perto das pessoas e olhá-las no olho. A filantropia envolve principalmente amor ao outro, não dinheiro”, disse Hunt, arrancando aplausos da plateia.

III Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais

Para finalizar, o professor Lester Salamon, da Johns Hopkins, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre um modelo chamado “philanthropication through privatization”, que teria potencial de canalizar bilhões de dólares para a filantropia. Trata-se da constituição de fundos patrimoniais com parte dos recursos que o Estado recebe pela venda de patrimônio ou concessão de serviços ao setor privado. “Mapeamos 539 casos pelo mundo todo, que garantiram bens num valor total de U$ 139 bilhões para o setor social privado”, disse Salamon. Para comentar o assunto, estiveram presentes o economista brasileiro José Guimar

Esse é o terceiro Brazilian Philanthropy Forum. Segundo Paula Fabiani, a iniciativa, que possui apoio financeiro do Rockefeller Philanthropy Advisors, “tem se consolidado com um importante espaço de discussão e um passo importante para a criação de uma rede de filantropos no país”.

Com soluções de longo prazo e mais efetividade nas doações, milionários estão mudando a cara da filantropia

Não é de hoje que os donos de grandes fortunas figuram entre os principais doadores de projetos sociais, mas uma nova categoria de milionários está mudando a cara da filantropia mundial: são os indivíduos de alto poder aquisitivo.

Detentores de ativos líquidos no valor de US$ 30 milhões ou mais, estes indivíduos se caracterizam cada vez por investimentos em iniciativas filantrópicas que promovam soluções de longo prazo e pelo uso de seus conhecimentos empresariais para medir a efetividade dos projetos e maximizar seus retornos.

Isso é o que diz o relatório Philanthropy Report 2014, realizado pelas consultorias Wealth-X e Arton Capital com o objetivo de apresentar o perfil dos filantropos de alto poder aquisitivo e mostrar como eles estão impactando o ambiente do investimento social privado.

De acordo com o levantamento, o “ultra wealthy” (como é chamado em inglês) típico tem 64 anos e uma fortuna de cerca de US$ 240 milhões. Suas decisões acompanham a tendência de deixar de lado a filantropia tradicional em prol de um investimento social privado cada vez mais preocupado com seus impactos na sociedade. Nos próximos 30 anos, esses indivíduos devem fazer investimentos sociais privados (ISP) de US$ 300 bilhões.

Normalmente, a escolha de investimentos possui ênfase no empreendedorismo como instrumento de combate a desigualdades socioeconômicas e isso não é por acaso: o estudo aponta que 69% dessas pessoas criaram seus negócios a partir do zero.

“O debate vai além da ideia de ‘ensinar a pescar’ e se estende para garantir a infraestrutura financeira e institucional necessária para apoiar o surgimento de novos empreendedores”, afirma o relatório.

O desenvolvimento de metodologias de avaliação de impacto também teve um efeito importante sobre o novo perfil da filantropia. “Os novos retornos quantificáveis tornaram possíveis novos tipos de ação filantrópica, como a venture philanthropy e os investimentos de impacto.”

Um dos casos estudados pelo relatório é a atuação da Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica de apoio ao setor de investimento social privado representada pelo IDIS no Brasil. “Vários filantropos com os quais trabalhamos querem doar recursos para o fundo de impacto social da CAF, que já investiu em 46 organizações no mundo todo nos últimos dois anos, e cujos recursos retornam aos doadores ou são reinvestidos em outras entidades”, diz o relatório.

IDIS e Gife reúnem investidores e organizações para apresentar o PL de Fundos Patrimoniais Vinculados

A sustentabilidade financeira é um desafio de toda organização social, mas, em países como Estados Unidos, Inglaterra ou França, os Fundos Patrimoniais Vinculados (ou endowments) funcionam como uma das formas de amenizar esse problemas e garantir recursos.

Por acreditar nos benefícios que os fundos patrimoniais podem trazer para as organizações, o IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) é uma das organizações que mais incentiva a criação dos endowments no país e, juntamente com o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), promoveu encontros com instituições do terceiro setor e financiadores para apresentar e debater o projeto de lei 4643/2012, que trata dessa questão e atualmente está tramitando no Congresso.

Originalmente, o projeto, de autoria da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), tinha alcance restrito: previa a criação de endowments  exclusivamente para universidades federais. Um grupo formado por entidades da sociedade civil e membros do Ministério Público sugeriu um texto substitutivo, que foi apresentado pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

“Antes, os fundos seriam apenas para instituições de educação, mas ampliamos o projeto para que ele contemplasse associações e fundações de qualquer tipo”, comentou o advogado Felipe Sotto-Maior, sócio da Vérios Investimentos e um dos participantes do grupo que elaborou o substitutivo.

“O fundo patrimonial é uma estrutura de doação com a condição de que o valor principal seja investido para financiar as atividades de uma organização social com os ganhos do investimento”, explicou a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, acrescentando que um dos principais efeitos desse instrumento é dar mais previsibilidade orçamentária para as organizações da sociedade civil. “As entidades corporativas, por exemplo, dependem do orçamento das empresas a que estão vinculadas e sofreram com a crise de 2008”, relembra.

Algumas organizações brasileiras da sociedade civil, como a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, já têm fundos patrimoniais, mas sem as regras de transparência e investimentos específicas, que dão mais segurança ao investidor e ajudam a garantir a perenidade da organização. Já com o projeto de lei, cria-se uma “figura jurídica autônoma e critérios mínimos de administração, o que significa”, afirmou Sotto-Maior.

A aprovação do projeto de lei, entretanto, não significa que todas as organizações precisem aderir ao novo sistema. “Essa é uma opção a mais”, enfatiza Paula.

Nesse momento, um dos principais empecilhos para os fundos patrimoniais é a questão fiscal. O secretário geral do Gife, André Degenszajn, avisa que as empresas que já têm fundos patrimoniais e queiram adequar-se à nova lei teriam de pagar o tributo de doação para o fundo constituído e que o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) é estadual. “Essa é uma batalha que deve ser travada nos estados. A Assembleia de São Paulo já apresentou uma moção para que haja isenção em doações”, lembrou.

Após as eleições, a tramitação continua. A Secretaria-Geral da Presidência é um dos grandes incentivadores do projeto, que inclui como pontos o fim do título de utilidade pública, ponto defendido por grande parte das organizações. Para acompanhar as novidades, siga as redes sociais do IDIS.

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Doação ainda não é tratada como tema relevante no Brasil, diz Carol Civita

A necessidade de doar para entidades sociais é assunto ignorado no Brasil, avalia a investidora social Carol Civita, conselheira de uma das principais instituições sociais familiares do país, a Fundação Victor Civita, ligada a educação. “A cultura de doação não é uma coisa da qual se fala. Não é assunto em sala de aula, em rodas sociais. Não é uma questão falada, a não ser entre os poucos players que já fazem doação”, afirma ela em entrevista ao site do IDIS.

Entre os obstáculos para tal cultura se disseminar está o fato de que poucos doadores divulgarem que doam. “Quando as pessoas começarem a expor o que fazem, os outros vão entender.” O investimento social privado, no entanto, não depende apenas dos doadores, mas também das entidades, que, muitas vezes, falham na captação. Um dos erros, segundo Carol, é basear a captação em projetos. “Isso de uma organização sair fazendo projeto para conseguir captar é um desperdício e um desespero. Quero que o doador veja o que eu já fiz, e não aquilo que eu vou fazer.”

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

 

IDIS: Como você vê o ambiente para o investimento social privado no Brasil?

Carol Civita: Temos alguns players, e continuam sendo os mesmos há bastante tempo. São muito poucas as pessoas engajadas em fazer doações, ou em se modernizar e fazer um endowment, ou se organizar com uma filantropia focada e direcionada. Continuamos com assistencialismo, caridade, mas muito pouco de doação organizada e focada. São sempre os mesmos players.

IDIS: Por que há esta limitação, a manutenção dos mesmos, sem a entrada de novas pessoas no mundo do investimento social privado?

Carol Civita: Muita gente diz que é porque o campo não é propício para a doação. Você pode, sim, alegar que não existem benefícios estabelecidos em leis. Mas eu não acredito que seja por isso. É muito mais uma questão cultural. Ainda não existe cultura da doação. Em outros países, a questão da doação – e eu não digo apenas financeira, mas também pessoal, o voluntariado, o engajamento com alguma causa – vem desde criança. Há escolas na Europa e nos Estados Unidos nas quais o serviço comunitário é obrigatório. Nós estamos muito longe disso. Não acho que temos de ter serviço comunitário obrigatório nas escolas, mas a cultura de doação não é uma coisa da qual se fala. Não é assunto em sala de aula, em rodas sociais. Não é uma questão falada, a não ser entre os poucos players que já fazem doação e que falam entre si.

IDIS: Existe um receio dos grandes players de exporem suas doações, de se colocarem como exemplo do investimento social privado para atraírem outras pessoas?

Carol Civita: Muita gente confunde a exposição com vaidade, e as pessoas não gostam de se mostrar dessa maneira. Se as pessoas não começarem a expor aquilo que fazem, fica difícil ter escala e seguir exemplos. Quando as pessoas começarem a expor o que fazem, os outros vão entender. Todo mundo quer fazer parte de um time que está ganhando. Se vejo que uma doação ou algum movimento em prol de uma causa está surtindo efeito, vou querer fazer parte disso. Agora, se eu for pensar sempre num projeto, num futuro, numa coisa que pode vir a acontecer, não me sinto tão empolgada com a história. A gente se empolga muito vendo os resultados. As pessoas podem ter receio do fisco, de ser mal interpretadas com as suas doações, mas tudo depende do seu ativismo e do seu discurso. Se tiver medo, não faz nada, porque tudo pode ter várias interpretações.

IDIS: Também falta às organizações “saber pedir”?

Carol Civita: Sem dúvida alguma. Vai cair uma enxurrada de críticas no que eu vou dizer: eu não acredito em projeto. Toda organização foi um projeto que se concretizou e se viabilizou. Isso de uma organização sair fazendo projeto para conseguir captar é um desperdício e um desespero. Quero que o doador veja o que eu já fiz, e não aquilo que eu vou fazer. É muito complicado dizer o que se vai fazer, pois se está oferecendo para a pessoa comprar uma promessa, uma possibilidade. Hoje, o grande problema está nos projetos, especialmente aqueles feitos para agradar ao doador, e não necessariamente para beneficiar a instituição. Outra coisa: pedir não é vergonha. Temos no Brasil a questão de que aquele que está pedindo é um necessitado. Não, aquele que está pedindo é uma pessoa que está vislumbrando melhorias, não está necessitado.

IDIS: Além dos exemplos, que outras iniciativas poderiam ajudar a despertar a cultura de doação no Brasil?

Carol Civita: Muitas vezes, as pessoas captam recursos com dados, números, projetos, mas não envolvem o doador. Conhecer a causa que você abraça é fundamental. O que te move? Pelo que você quer ser lembrado? Qual o seu legado? Tenho muito medo das doações esporádicas e não focadas. A pessoa que doa uma vez para a saúde, depois para educação, outra para o meio ambiente acaba não se envolvendo com a causa. Cedo ou tarde ela para de ser uma doadora. É fundamental conhecer sua causa e ficar com ela, pelo menos por um bom tempo. Mesmo porque, dentro de famílias, quando se abraça uma causa deixa-se para os filhos e para as próximas gerações um legado de ativismo naquilo em que você acredita.

IDIS: Qual seria a diferença entre fazer investimento social como família e pela empresa da família?

Carol Civita: Se você atrela a doação à empresa, ela fatalmente vai ter outro sabor, o de estar ligada ao negócio, e não à causa da família. Quando consegue sentar para conversar sobre a doação como família, você raramente traz à tona algum assunto da empresa. Como empresa, fatalmente alguma coisa vai acontecer: estamos com problemas de caixa nesse mês, não podemos nos envolver nisso porque não combina com a linha de pensamento da empresa. Doar como família é uma excelente razão para juntar os familiares. Assim que as gerações vão passando, os membros vão aumentando, e isso faz com que cada vez menos eles se encontrem. Mas, se eles se encontrarem por uma causa, por uma paixão em comum, a vontade de ir ao encontro familiar é muito maior.

Cresce número de fundações que esgotam os recursos ainda durante a vida dos doadores

Algumas fundações criadas por famílias e indivíduos norte-americanos e as doações feitas por eles têm passado por uma mudança importante nos últimos anos. É cada vez mais comum que, em vez de deixar a administração de seus recursos também para as próximas gerações, eles invistam tudo enquanto estão vivos.

“Há cerca de 50 anos, apenas 5% do total dos recursos das 50 maiores fundações norte-americanas estava previsto para ser integralmente utilizado. Em 2010, a proporção é de 24%”, constata a colunista Veronica Dagher em artigo publicado no The Wall Street Journal.

A articulista cita uma conversa com o consultor financeiro Cassidy Burns, que lhe falou sobre um casal que tentava encontrar um sucessor para seu investimento social privado. “Seus filhos adultos tinha carreiras bem-sucedidas, estavam criando família em diferentes partes do país e simplesmente não tinham interesse nas mesmas causas que moviam seus pais”, escreve Veronica.

Assim, o casal decidiu gastar todos os recursos da fundação. “Eles não queriam que a organização social se tornasse um fardo”, relatou Burns. Mais do que uma história isolada, isto parece estar se tornando uma tendência. O mais famoso – e mais pródigo – casal do mundo filantrópico, Bill e Melinda Gates, é um dos exemplos dessa opção.

A colunista vê no desinteresse dos herdeiros um dos motivos para a mudança comportamental. Além disso, nota um interesse crescente dos filantropos em alcançar maior impacto com seu investimento social privado. “Há o desejo da parte deles de alcançarem mudanças efetivas ainda durante suas vidas.” Um terceiro motivo seria o controle maior que os doadores teriam sobre seus investimentos sociais.

Conselheiros entrevistados por Veronica alertam, porém, que a prática pode acarretar alguns problemas. Organizações que queiram esgotar seus recursos trabalham com um prazo limitado e não têm tempo de aprender com os erros. Tendem, ainda, a ter aversão ao risco, afastando-se de causas em que se leva mais tempo para obter resultados.

As fundações que fazem doações também têm de preparar seus beneficiários para o momento em que não mais poderão contar com os recursos. “Comunicar-se com os beneficiários os ajudaria a se preparar para quando as doações se encerrarem”, diz Veronica.

Essas fundações deveriam ainda se comunicar com outros doadores que possam levar adiante a missão quando aquelas tiverem usado todos os seus recursos.

Especialista sugere a utilização de práticas do Google no trabalho de advocacy

A inovação é um dos grandes temas do momento. Fala-se dela em todo lugar, tenta-se aplicá-la em todas as atividades. O setor social privado, claro, não poderia ficar de fora da onda. No entanto, a inovação ainda está distante de uma das práticas mais importantes do terceiro setor: o advocacy. E qual o melhor lugar para buscar inspiração senão o Google, uma das mais inovadoras empresas da atualidade?

Esta é a sugestão que Duncan Green, conselheiro estratégico da organização internacional de combate à pobreza Oxfam, faz em um texto publicado na página do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

A inovação, escreve Green, está sendo discutida principalmente em áreas como projetos, gestão interna, pensamento inovador no setor privado, no governo e na academia, mas “outra área cada vez mais importante do nosso trabalho – o advocacy – está um pouco ausente de todo este circo da inovação”.

O autor reconhece que já existem algumas práticas muito inovadoras na área – como campanhas em torno de tributos que surgiram depois da crise de 2008 e sites virtuais de campanha, como Avaaz e Change.org – mas levanta a questão de como tornar a inovação algo mais sistemático no trabalho de advocacy de organizações da sociedade civil. Green dá cinco sugestões, quatro delas baseadas em práticas do Google.

A primeira delas, por mais estranho que pareça, é roubar mais. Da mesma forma que o Google está sempre de olho nas startups mais interessantes para comprá-las, as grandes organizações internacionais também deveriam olhar para as práticas de advocacy das menores para copiá-las. “Quando eu estava na Cafod (organização confessional britânica de combate à pobreza), ter minhas ideias roubadas pela Oxfam era um dos meus objetivos”, confessa Green.

O Google também tem a prática de criar suas próprias startups, braços com ideias incrivelmente inovadoras, mas ainda não testadas. A gigante da tecnologia simplesmente coloca tais projetos para funcionar no mundo real, e as deixa seguir livremente o rumo do sucesso ou do fracasso. Essa é outra lição que o setor social privado podia aprender com a empresa norte-americana – derivar ideias ousadas enquanto se mantém a atuação principal.

A aposta no incerto é a base de outra proposta de Green: ele sugere que as organizações mantenham um portfólio de projetos de risco, assim como o Google faz. “Eu temo que, no momento, nós tentemos minimizar os riscos em cada uma de nossas atividades separadas, criando um portfólio geral enviesadamente conservador e com objetivos de pouco risco ou pouco inovadores”, escreve o conselheiro da Oxfam.

Green também prega que as grandes organizações deem tempo de reflexão para seus funcionários. “Às vezes, parece uma medalha de honra estar 120% comprometido com uma causa, mas isso traz o risco de que aqueles que trabalham intensamente com advocacy não tenham tempo para ler, pensar e inovar”, diz Green. E, mais uma vez, a gigante da tecnologia dá o exemplo: “Compare isso com os famosos ‘20% de tempo’ do Google, que permite que todos os funcionários tirem um dia da semana para trabalhar em projetos paralelos”.

Por fim, um conselho que parece óbvio, mas que é muito pouco praticado: as pessoas do setor devem sair mais. “É preciso dar um dia por mês para elas visitarem o ‘mundo lá fora’, sem outro objetivo a não ser olhar e aprender”, escreve Green. “Busque pessoas que sejam relevantes, mas diferentes – líderes comunitários, think tanks, líderes religiosos e até organizações de direita, afinal, elas têm feito um ótimo trabalho no negócio de influenciar pessoas”, finaliza o conselheiro da Oxfam.

 

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Organizações sociais familiares também devem ser transparentes, diz especialista

A sucessão de gerações é um desafio no investimento social familiar. O envolvimento dos membros da família é fundamental, mas traz consigo dificuldades para a gestão de projetos, para um consenso entre visões de mundo diferentes e para o convívio pacífico entre os parentes. Nada disso, no entanto, afasta a necessidade de transparência nesse tipo de investimento.

Jean Whitney, membro da Associated Grant Makers e experiente consultora de filantropia familiar, escreveu sobre o assunto no site Family Giving News. Em seu artigo, ela pondera que muitas famílias preferem investir na área social de forma reservada, sem chamar atenção. Por outro lado, existe a necessidade de que todas as organizações da sociedade civil prestem contas ao público, o que obriga a algum grau de abertura.

De acordo com Jean, a discussão interfere até no impacto das ações do investimento social familiar. “Será que uma fundação pode ser confiável, criar parcerias e conseguir seus objetivos sem transparência?”, questiona a autora, que deixa bem clara sua posição: “com os avanços da tecnologia e das mídias sociais, a questão hoje não é ser ou não ser transparente, mas sim como ser transparente”.

No artigo, ela apresenta o site Glasspockets (http://www.glasspockets.org/), que elenca 23 indicadores de transparência para organizações da sociedade civil de perfil familiar e cujo nome vem de uma frase do banqueiro Russell Leffingwell, membro da diretoria da Carnegie Foundation e que afirmava que todas “as fundações deveriam ter bolsos de vidro”, (glasspockets, em inglês).

Relembrando um fórum de que participou recentemente, Jean citou que um dos temas discutidos foi se a transparência deveria envolver os “produtos” das organizações familiares (doações para projetos, resultados das estratégias) ou os “processos” (deliberações da diretoria, forma de tomada de decisões, planejamento interno).

Segundo ela, “muitas organizações familiares diriam que divulgar publicamente muitos de seus processos internos é difícil e desnecessário”. Porém, buscar a transparência pode ser um processo bem mais simples do que se pensa: “deve-se começar criando um site no qual a família conta sua história, fala sobre seus interesses e divide suas inspirações”, diz Jean, lembrando que muitas vezes estas histórias acabam sendo, de fato, muito inspiradoras.

 

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Jogo de dinheiro escondido vira febre nos EUA, mas está longe de ser investimento social

Parece cena de ficção. Num dos municípios mais populosos da Califórnia, São Francisco, uma pessoa esconde dezenas de pacotes de dinheiro com de US$ 20 a US$ 200 e dá pistas do “tesouro” por meio do Twitter. Centenas de internautas saem correndo por ruas e parques, seguindo as dicas postadas na rede social.

Foi assim que começou uma das febres recentes nos Estados Unidos, o @HiddenCash, que já tem mais de 700 mil seguidores. O autor da ideia, logo chamado de “filantropo anônimo” por parte da mídia norte-americana e europeia, repetiu a iniciativa em outras cidades: Sacramento (também na Califórnia), Los Angeles, Nova York, Cidade do México, Londres, Madri.

Sua identidade foi revelada em junho. Trata-se de Jason Buzi, um empresário do setor imobiliário. Durante suas manifestações, anônimas ou não, ele fez diferentes tipos de declarações: já classificou o @HiddenCash como apenas um jogo divertido, como algo que “não substitui o investimento social privado” e como um movimento para estimular outros ricos a fazerem o mesmo. Na página na rede social, a ideia é oficialmente autodenominada “uma experiência social anônima em prol do bem”.

“Retribuir é pelo menos tão recompensador quanto fazer um bom investimento, receber grandes pagamentos ou fazer muito dinheiro”, disse Buzi em entrevista à CNN. Em outro momento da conversa, afirmou: “não tem nada de movimento político, não tem nada de movimento religioso, não tem nada de movimento empresarial. O movimento é distribuir atos de bondade e pôr um sorriso no rosto das pessoas”.

Ainda que a iniciativa tenha sido chamada várias vezes de filantropia anônima, está claro que não se trata disso. “Deixar quantias relativamente pequenas de dinheiro para pessoas aleatórias (que estão no Twitter com tempo de sobra) pode não ser classificado como ‘retribuir’ na avaliação de todos”, escreve a colunista Susan Berfield, da Bloomberg Businessweek. Ela cita, por exemplo, que as pessoas postam no Twitter que gastam o dinheiro com ingressos para jogo de beisebol, pizza com colegas de trabalho ou uma noite num bar.

O professor Richard Marker, da Universidade de Nova York, resumiu bem a questão, explicando que a filantropia envolve três estágios: compaixão, estratégia (em que se pergunta: está dando certo?) e sistematização (em que se pergunta: minha ação está impactando todo o contexto do problema?). “O @HiddenCash está apenas no primeiro estágio”, diz Marker.

 

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O investimento em lideranças é fundamental para o setor social privado

Muitos fatores são cruciais para fortalecer o investimento social privado. Alguns enfatizam a necessidade de mais recursos, outros se voltam para a busca de um melhor apoio na área jurídica. Um ponto fundamental, no entanto, é frequentemente negligenciado: a importância de criar lideranças no setor.

“As pessoas não nascem com aquilo que é necessário para administrar e motivar uma equipe, construir parcerias e liderar as mudanças”, escreve o gestor Ira Hirschfield, presidente do Evelyn and Walter Haas Jr. Fund, entidade norte-americana de promoção de direitos fundamentais.

Em texto intitulado “Investing in leadership to accelerate philanthropic impact”, publicado no site da Stanford Social Innovation Review, ele observa que o setor privado gasta bilhões de dólares no desenvolvimento de lideranças, “pois sabe que líderes preparados são um investimento poderoso”. No setor social, porém, a despesa é relativamente baixa. “Vale questionar se estamos efetivamente capitalizando lideranças.”

A organização presidida por Hirschfield tem atuado nessa área. Ela iniciou, por exemplo, um programa para fomentar líderes na luta por direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT).

Representante do movimento, Rea Carey (diretora-executiva da National Gay and Lesbian Task Force) resume bem a importância de formar lideranças: “é como vitaminar o investimento social privado. Se você quiser que suas doações tenham sucesso, se você quiser que as entidades que você apoia façam o melhor possível para atingir suas metas, é preciso investir em desenvolvimento de lideranças”.

No Brasil, a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), fundada em 2012, faz um caminho um pouco diferente. Forma não propriamente lideranças do terceiro setor, mas que atuem em causas sociais dentro da esfera política. “Nós estimulamos as pessoas a conhecerem e participarem mais das estruturas institucionais existentes e queremos ter uma rede com uma visão compartilhada sobre o desenvolvimento do Brasil”, diz o fundador e diretor executivo da Raps, Marcos Vinícius de Campos.

Entre as características importantes de um líder estão, segundo Campos, ser uma pessoa “mobilizada”, conhecer metodologias de ação e métricas para avaliar resultados e trabalhar com transparência. “O Brasil precisa adensar sua sociedade civil. Temos muitas pessoas talentosas e hoje há muita gente qualificada abrindo mão de altos postos no mercado empresarial e voltando-se para uma atuação voltada ao bem coletivo”.

Um exemplo dessa trajetória do setor empresarial para o terceiro setor pode ser visto dentro do IDIS, com a história de Paula Fabiani, diretora-presidente desde setembro de 2014. “Sou economista por formação. Trabalhei no setor privado, no mercado financeiro, e então fiz um curso de gestão de organizações da sociedade civil na Fundação Getúlio Vargas”, conta Paula, lembrando que não basta uma formação qualificada para se tornar líder na área social: “é preciso gastar um tempo entendendo o setor para então se posicionar”.

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Burocracia, falta de exemplos e de incentivos travam doações no Brasil, dizem investidores sociais

Quais são os principais desafios do investidor social? O site do IDIS fez essa pergunta a duas personalidades da área: Fernando Stickel, diretor da Fundação Stickel, e Denis Minev, um dos fundadores da Fundação Amazonas Sustentável. Entre os pontos mencionados estão burocracia, incentivos legais ainda limitados e falta de doadores que sirvam de exemplo para a sociedade.

Segundo Stickel, faltam incentivos e a questão burocrática é tão grave,  que ele chegou a pensar em desistir do trabalho social depois de dois anos à frente da organização, fundada por seus pais em 1954.  Ele assumiu a entidade em 2004, e avalia que nada mudou nesse sentido desde então.

Já Denis Minev, que faz investimentos sociais variados no Amazonas, estado em que vive, lembra que existem incentivos para temas como cultura, mas faltam ainda normas para estimular, por exemplo, o trabalho voluntário. “Incentivos fiscais são importantes e certamente ajudam um ambiente filantrópico”, comenta.

Stickel diz que é preciso uma legislação que efetivamente fortaleça o investimento social privado. “Tem que implementar várias coisas que são apenas faladas para, assim, mudar o padrão do comportamento”, diz, acrescentando que o projeto de lei para regulamentar os fundos patrimoniais foi um importante passo nessa direção.

Minev ressalta a necessidade de casos que sirvam de modelo para outras pessoas. “A liderança pelo exemplo é, em geral, mais eficiente do que pelo discurso. Precisamos de exemplos de porte como catalisadores. A inclinação geral para doar é baixa.”. Na mesma linha, Stickel diz que as “instituições sérias que recebem doações e conseguem mostrar seu trabalho acabam servindo de exemplo para incentivar a cultura de doação no Brasil”.

Mas ressalta que há problemas também no modo de pensar da elite. “Acredita-se que é suficiente pagar impostos, e o governo deve cuidar do resto”, afirma Minev. “Nossas elites não têm bom conhecimento de nossa própria sociedade. A classe A se isolou, a distância entre as classes é grande e impede a formação de empatia social.”

Stickel, porém, vê alguns avanços importantes. “O terceiro setor tem se movimentado mais, há várias iniciativas interessantes de entidades como o Gife e o IDIS, que estão realizando encontros e também têm pressionado o governo para que se façam mudanças que beneficiem o setor”.

Planejamento estratégico ajuda instituto a definir seu futuro

Há 16 anos, o Instituto da Oportunidade Social (IOS), mantido pela gigante brasileira de software TOTVS, trabalha com a formação e empregabilidade de jovens e pessoas com deficiência. Tanto tempo de estrada, no entanto, exige momentos de parada para repensar os caminhos percorridos e avaliar quais deverão ser tomados.

“Em 2013, ao assumir uma nova gestão, começamos a refletir sobre o que é nosso trabalho e quais os nossos desafios nos próximos três anos”, diz a gerente geral do IOS, Kelly Christine Lopes. A organização sentiu necessidade de um planejamento estratégico que a ajudasse a definir uma visão de futuro. “Buscamos o IDIS para nos ajudar, pois entendemos que o instituto é uma referência no investimento social privado”, continua Kelly.

O primeiro passo foi fazer um diagnóstico, para obter informações precisas sobre o IOS, explica a gerente de projetos do IDIS, Raquel Coimbra, que coordenou o processo. Na etapa de diagnóstico foram feitas entrevistas com diversas pessoas que trabalham no IOS – cerca de 20% dos funcionários, segundo Kelly, participaram dessa fase de conversas.

A etapa de reflexão estratégica também contou com a participação da equipe do IOS. O IDIS utilizou a metodologia do Balanced Scorecard (BSC) adaptado a organizações da sociedade civil e, como resultado, construiu um mapa que apontou quatro grandes frentes estratégicas para o IOS. “Após a construção do mapa, desdobramos as quatro frentes estratégicas em programas e projetos dentro de um plano de ação com metas até 2016 para o IOS”, diz Raquel.

O trabalho do IDIS encerrou-se com a entrega de um relatório final. O documento está servindo de pilar para dois projetos que o IOS vem desenvolvendo. “Para termos ainda mais presença entre nosso público, estamos investindo em um modelo de capacitação por videoaulas”, diz Kelly. No momento, a equipe está avaliando quais são os modelos existentes no mercado e o que desperta o interesse dos jovens.

Além disso, o instituto também tenta transformar seus cursos em modelos de franquias sociais. “Estamos trabalhando com uma equipe jurídica e buscando parcerias com o Ministério do Trabalho, para nos expandirmos e aumentarmos nossa presença”, afirma Kelly. Ela afirma que os dois projetos devem ser implantados no começo de 2015.

Paula Jancso Fabiani comenta os 15 anos do IDIS

Comemorar os 15 anos de aniversário do IDIS é motivo de grande alegria e satisfação para todos que se relacionam ou já se relacionaram com esta organização. Como muitos de vocês testemunharam, foram 15 anos de árduo trabalho para apoiar a qualificação do investimento social privado no Brasil. O IDIS foi pioneiro no debate propositivo de vários temas como filantropia familiar e comunitária, marketing relacionado à causas e, mais recentemente, fundos patrimoniais. Hoje, vocês aqui presentes e muitos outros compreendem que a filantropia deve ser estratégica para contribuir com o desenvolvimento do país. O IDIS, junto com outras organizações do setor, colaborou de forma decisiva para esta evolução. Afinal, esta é a nossa missão: apoiar o investimento social privado para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e sustentável.

O Brasil e o mundo mudaram muito nestes últimos 15 anos e o ecossistema do investimento social privado também. Estamos presenciando a emergência de uma filantropia conectada, aberta e ágil, somando forças com a filantropia tradicional que tem muita experiência acumulada a oferecer. Debatemos como levar projetos à escala, como viabilizar parcerias com empresas e o poder público, como monitorar e avaliar, falamos sobre negócios sociais, crowdfunding e outros mecanismos para a promoção de uma cultura de doação e transformação social. Buscamos novos caminhos para compreender os problemas e desenhar soluções.

Nesse cenário de mudança acelerada, o IDIS segue buscando amplificar seu impacto na sociedade. Esperamos consolidar as parcerias atuais e estabelecer novas parcerias (dentro e fora do Brasil), aumentar nossa inserção digital e continuar batalhando por um ambiente ainda mais favorável para o investidor social. Ao assumir com muita honra e orgulho a liderança desta extraordinária organização, gostaria de reafirmar meu compromisso com o sucesso do IDIS, para que seu futuro possa ser tão admirável quanto sua trajetória até o presente.

Falando de trajetória, gostaria de destacar a inestimável contribuição de Marcos Kisil na construção e desenvolvimento do investimento social privado brasileiro, na criação deste IDIS que conhecemos e no meu desenvolvimento como profissional do setor. Marcos é, e sempre será, um grande estrategista. Sua visão de mundo e de onde podemos chegar sempre me surpreendeu e me inspirou. Levo comigo esta ambição de ir além, de realizar mais do que imaginamos possível. Os 15 anos do IDIS são um legado que assumo com muita responsabilidade e gratidão. Gratidão por ter o Marcos como um mentor que me ensinou a valorizar os seres humanos acima de tudo, a ter perseverança e resiliência na solução de questões difíceis.

Por fim, não posso deixar de agradecer à maravilhosa equipe (passada e a atual) e o Conselho do IDIS, que tem apoiado esta transição e com quem conto para a construção de um futuro ainda mais expressivo para o investimento social privado brasileiro. Convido a todos os nossos leitores do InVista a celebrar estes 15 anos de dedicação na construção de um Brasil mais justo e sustentável.

Aos 15 anos, IDIS lança novo site para marcar o realinhamento estratégico de sua comunicação

Acostumado a auxiliar organizações maduras a avaliarem o trabalho e fazerem ajustes depois de muito tempo de estrada, chegou a hora de o IDIS, ao completar 15 anos, rever sua própria atuação. O processo inclui reformulação da forma de se comunicar.

“Estamos fazendo um processo de revisão estratégica da comunicação e da atuação do IDIS”, afirma a diretora-executiva, Paula Fabiani. “Buscamos formas de nos comunicar de forma mais efetiva.”

A criação de um novo site é peça fundamental nessa etapa, e não se trata apenas de uma troca de roupagem, mas de uma mudança de postura. Afinal, se algo mudou muito nestes 15 anos foram justamente as ferramentas de comunicação, com o crescimento exponencial da internet e das redes sociais. “Vamos realinhar todos os nossos canais. Queremos aumentar a inserção digital do IDIS, utilizar as ferramentas de maneira mais ampla, trazer mais modernidade à comunicação”, explica Paula.

Não foi só o advento da internet e das mídias sociais que pressionou por mudanças na comunicação. O próprio investimento social privado mudou muito nesta década e meia. “Quando o IDIS surgiu, havia pouca informação sobre o tema; agora, há mais informação, queremos focar  nas inovações do setor”, diz Paula.

O instituto agora adota uma postura mais proativa para disseminar. Este posicionamento já havia ficado mais claro com a organização do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, realizado em 2012 e 2013. Além de produzir informação – como publicações, disponíveis no site –, o IDIS passa a discutir os grandes temas do setor.

A organização também tem se lançado com mais intensidade em ações de advocacy, como as voltadas para a aprovação, no Congresso Nacional, de um marco regulatório para criação e manutenção de fundos patrimoniais. Além disso, está envolvida em ações para desenvolver política pública para a primeira infância para populações ribeirinhas da Amazônia.

Outra iniciativa foi desenvolver o Redis, uma rede para colocar em contato direto investidores sociais privados de todo o Brasil. “A comunidade filantrópica brasileira é ainda muito fragmentada, o setor é recente e existem poucos institutos e fundações que trabalham em parceria”, afirma Paula, lembrando que o objetivo é criar uma rede de investidores sociais que colaborem uns com os  outros.

Com este reposicionamento estratégico, o IDIS acompanha as mudanças pelas quais o investimento social privado passou nos últimos anos. Mais ainda: continua a ser um dos impulsionadores do setor, como tem sido até agora.

Investidores sociais do Amazonas debatem desenvolvimento, doação e filantropia

O IDIS realizou, no dia 29 de maio, o Encontro de Investidores Sociais do Amazonas, reunindo mais de cinquenta participantes que debateram sobre o investimento social privado e políticas públicas, desenvolvimento local, o papel das empresas e as inspirações dos doadores, dentre outros assuntos.

eisamazonas.jpgO Encontro foi realizado no auditório da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) e contou com a presença de especialistas e filantropos na mesas de debate, dentre os quais Denis Minev, investidor social local; Aristarco Martins Neto, do Grupo Simões; Armando Ennes do Vale, da Whirpool Latin America; Wilson Duarte Alecrim, da Secretaria de Saúde do Governo do Amazonas; Leonardo Yanez, da Bernard van Leer Foundation, Marcos Kisil e Paula Fabiani, do IDIS, e Virgilio Viana e Rhamilly Amud, da FAS.

Encontro de Investidores Sociais do Amazonas é uma iniciativa do IDIS que faz parte do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais. Desde 2013, o IDIS realiza três encontros regionais que antecedem o Fórum, e o do Amazonas foi o primeiro de 2014. As duas próximas edições serão no Rio de Janeiro e Cuiabá.

Na edição do Amazonas o IDIS contou com parceria estratégica com o Instituto C&A, parcerias locais com a FIEAM, Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM) e a Fundação Amazonas Sustentável, e apoio financeiro da Fundação Rockefeller. O IDIS é parte da Aliança Global da Charities Aid Foundation (CAF), apoiando filantropos e investidores sociais nos principais países do mundo.

Assista a um curto vídeo sobre o Encontro de Investidores Sociais do Amazonas na nossa página do YouTube, clicando aqui.

 

Não há metodologia de avaliação de impacto de négocios sociais que sirva para todos os casos, dizem especialistas

A avaliação de impacto tornou-se um dos assuntos mais importantes para quem está desenvolvendo negócios sociais. Como saber se uma iniciativa está apresentando os resultados esperados? Ou se as mudanças são de fato decorrentes de um projeto? Não importa qual a questão, a resposta parece ser a mesma: “Não há uma forma padronizada de pensar avaliação de impacto”, afirmou a professora Angélica Rotondaro, representante, no Brasil, da universidade suíça de St. Gallen, cujo escritório brasileiro lida com o tema.

“Há uma geração que se importa mais com os resultados socioambientais das empresas do que com os retornos financeiros, mas existem vários tipos de indicadores e métodos de análise e não há uma crença fixa sobre eles”, disse Angélica, que participou, com outros especialistas, do painel “Avaliando impacto: teoria de mudança e abordagens de avaliação e métricas”, durante o Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, que aconteceu em São Paulo, entre 6 e 7 de maio. O evento foi promovido pelo Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), pela Vox Capital e pela Artemisia.

“Não há bala de prata, uma solução definitiva”, concordou Karim Harji, fundador da canadense Purpose Capital, que assessora o investimento social privado de indivíduos, famílias e fundações. “Há muitas coisas sendo feitas, mas elas estão fragmentadas em diversas regiões e setores”, continuou.

O lado bom dessa dispersão, segundo ele, é a possibilidade de uma “abordagem descentralizada e customizada da análise de impacto, ainda mais porque são necessárias diferentes ferramentas para os diferentes momentos de um negócio social”.

A dificuldade de medir impacto ficou clara na intervenção de Gilberto Ribeiro, sócio da Vox Capital, que investe em negócios sociais. “Nós temos a dor de fazer investimentos sem saber como medir os resultados”, comentou. “Como se compara o benefício de uma criança com um ano a mais de escolaridade e uma família que agora tem uma casa?”, exemplificou. Angélica também ressaltou que “a comparabilidade entre projetos é difícil, ainda que se possam comparar iniciativas dentro de um mesmo segmento”.

Na prática, disse Ribeiro, “para cada projeto há coisas que são mais importantes que outras”. A Vox Capital, de qualquer modo, tem usado uma metodologia chamada Teoria da Mudança. “Pensamos em objetivos de longo prazo e de trás para frente. Pegamos o problema e criamos, ao contrário, um mapa de como atingir a meta de repará-lo.” Harji concordou com o sócio da Vox Capital ao dizer que “avaliar impacto é específico para resultados de longo prazo”.

Quando lançou seu plano de medir impacto, a Amata, que produz madeira certificada, chegou a levantar 75 indicadores. “Já partimos de base existente, pois havia muita gente com coisas feitas sobre o setor”, afirmou o fundador da empresa, Dario Guarita Neto. No entanto, pouco depois decidiu se restringir a 12. “É impossível avaliar e gerir mais indicadores do que isso”, disse Guarita, lembrando que avaliação de impacto demanda mais tempo do que investimento financeiro. Além disso, ele destacou a importância de, para cada indicador, estabelecer metas e pessoas responsáveis por elas, para uma melhor governança do projeto.

 

 

Quem doa dinheiro é mais feliz, aponta pesquisa norte-americana

Quer se sentir feliz? Pois doe dinheiro! Um artigo publicado na revista Current Directions in Psychological Science aponta que os benefícios de ajudar outras pessoas “são evidentes em doadores idosos ou jovens em países ao redor do mundo, e se reflete não só no bem-estar subjetivo, mas também na saúde objetiva”.

texto – assinado pelas psicólogas Elizabeth Dunn e Lara Aknin e pelo professor da Harvard Business School Michael Norton – analisa diversos estudos, alguns conduzidos pelos próprios autores.

Eles começam resumindo uma pesquisa de 2008 que deu U$ 5 ou U$ 10 aos participantes. Alguns foram instruídos a comprar algo para si; outros, a doarem a quantia para alguém. “Naquela tarde, as pessoas que tiveram de gastar seu dinheiro com outra pessoa relataram humores mais alegres no decorrer do dia do que aquelas que tiveram de gastar com elas mesmas”, escreveram os autores.

Outro estudo, de 2012, mostrou que a sensação de felicidade é sentida até por crianças bem pequenas. Na pesquisa, bebês de até dois anos demonstraram mais alegria quando davam um biscoito para um boneco do que quando eles mesmos recebiam a comida.

Uma boa notícia é que alguns dados apontam que a relação entre felicidade e doação não se restringe aos Estados Unidos ou a países ricos. Um estudo da Harvard Business School verificou informações sobre 136 países e constatou “uma relação significativa entre doações e felicidade” em 120 deles, tanto ricos quanto pobres.

Os autores do artigo ressaltam, no entanto, que a ligação entre doar e sentir-se feliz não é automática. Depende de três fatores: relacionamento, competência e autonomia. Em relação ao primeiro, escrevem os autores, “descobrimos que os indivíduos ficam mais felizes com gastos sociais quando a doação dá a oportunidade para que eles se relacionem com outras pessoas”.

O segundo fator significa que as pessoas têm necessidade de mostrar competência, o que ocorre se “conseguem ver como suas ações generosas fizeram diferença”. Já a “necessidade de autonomia é satisfeita quando as pessoas sentem que suas ações são livremente escolhidas”.

Ao fim, os autores concluem que as organizações da sociedade civil que buscam doações podem se beneficiar dos resultados da pesquisa, pois, “quanto mais conseguirem maximizar os benefícios emocionais da doação”, maior a possibilidade de conseguirem recursos.

 

 

Ministro discute tramitação de projeto sobre fundos patrimoniais com comitê de filantropos

Um grupo formado por filantropos organizado pelo IDIS foi a Brasília debater com o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, a tramitação do projeto de lei que regulamenta a criação e o funcionamento de fundos patrimoniais – aplicação de recursos cujo rendimento é importante para custear uma organização social. O relator da proposta, deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), também esteve no encontro.

invista154bNa reunião, em 20 de maio, Carvalho e Teixeira se comprometeram a trabalhar por uma aprovação rápida, se possível antes do recesso parlamentar de julho. A assessora especial da Secretaria-Geral, Laís de Figueiredo Lopes, chegou a ponderar que o diálogo no Congresso Nacional nunca é tão ágil, mas também se comprometeu a apoiar a busca rápida da votação do projeto.

O secretário-executivo da pasta, Diogo Sant’Ana, afirmou que o governo gostaria de incluir na proposta um incentivo fiscal para doações de pessoas físicas. O procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal José Eduardo Sabo, que fez parte do grupo, ponderou que a inclusão do tema poderia gerar resistências em outras instâncias, notadamente na Receita Federal. Carvalho, no entanto, disse que fariam “testes internos e, se percebermos uma resistência da Receita, retiramos essa ampliação do incentivo fiscal”.

O encontro sucedeu uma reunião feita em 4 de fevereiro, na qual Marcos Kisil e Paula Fabiani, respectivamente diretor presidente e diretora executiva do IDIS, entregaram o texto da proposta para Sant’Ana e Laís junto com os participantes do Grupo de Estudos de Fundos Patrimoniais André Degensjazn, Maria Lucia de Almeida Prado e Silva, Felipe Sotto-Maior e Priscila Pasqualin. Este Grupo de Estudos elaborou o texto da proposta apresentada. Neste Grupo de Estudos, criado em 2013, participam 90 pessoas incluindo juristas, profissionais e representantes de 35 organizações da sociedade civil, Ministério Público e universidades.

Gilberto Carvalho já havia demonstrado comprometimento com temas relacionados ao investimento social privado. Durante o II Fórum Brasileiro de Filantropos & Investidores Sociais, organizado pelo IDIS e pelo Global Philanthropy Forum em 24 de outubro, em São Paulo, ele disse que via “com muita simpatia a busca do IDIS e dos participantes do evento por uma regulação para doações e fundos patrimoniais”.

O ministro ressaltou estar “aberto a receber sugestões para uma regulação legal que organize a generosidade”. Na ocasião, Paula Fabiani respondeu prontamente: “Vamos montar uma comitiva de investidores sociais para esse tema”. O encontro com Gilberto Carvalho é um claro desdobramento daquele evento.

 

 

Presidente do BNDES Defende Criação de Fundos Patrimoniais para Organizações da Sociedade Civil

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, defendeu a criação de fundos patrimoniais – também chamados de endowments – como instrumento para apoiar a sobrevivência financeira das entidades sociais.

“É preciso uma ferramenta mais poderosa para a sustentação das organizações que se destacam por seu alto poder replicativo de projetos”, afirmou durante a mesa que encerrou o primeiro dia do Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, que aconteceu em São Paulo, entre 6 e 7 de maio. O evento foi promovido pelo Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), pela Vox Capital e pela Artemisia.

A sustentabilidade das organizações da sociedade civil, avaliou o presidente do BNDES, é “um desafio”. “As organizações vivem de projetos”, constatou. Investidores sociais quase sempre preferem colocar recursos em iniciativas específicas, em vez de financiar a estrutura das entidades, de forma que elas “se sustentem e cumpram seus objetivos”.

Os endowments ajudariam a mudar esse quadro. Coutinho inclusive disse que o banco federal de fomento está aberto a propostas de criação de fundos de apoio a negócios sociais, empreendimentos que tentam mesclar finalidade lucrativa e filantropia. “Eu batizaria de fundo de investimento social e ambiental, pois esses são dois temas convergentes”, disse ele, que ainda especulou sobre o funcionamento da ferramenta: “Os fundos seriam geridos por instituições financeiras de primeira linha e acreditadas”.

A proposta de Coutinho ocorre pouco tempo depois de o governo federal ter recebido, em 4 de fevereiro, uma proposta de projeto de lei sobre o assunto elaborada por um grupo de trabalho criado pelo IDIS e composto por juristas, representantes de 35 organizações da sociedade civil, Ministério Público e universidades.

Negócios sociais

A mesa “Grandes investimentos levam a grandes transformações: o papel do capital privado e o público”, da qual Coutinho participou, também discutiu a convergência entre diferentes fontes de financiamento para o ainda nascente mercado de negócios sociais no Brasil e na América Latina.

A boa notícia é que grandes bancos de desenvolvimento da região estão criando fundos para esse ramo. Coutinho, por exemplo, disse que recursos do BNDES são os maiores abastecedores de organizações que trabalham com microcrédito – um dos tipos mais clássicos de negócios sociais, que dá acesso ao crédito a populações de baixa renda.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é outra instituição que volta seus olhos para atividades que tentam abranger ação de mercado e resolução de problemas sociais. O gerente do setor de Oportunidades para a Maioria do BID, Luiz Ros, disse que, em 2005, o banco “começou a ver que o setor privado pode complementar o setor público na área social”.

No entanto, foi um desafio abrir uma frente de atuação com o setor privado em uma instituição que tradicionalmente trabalha com entes estatais. O tamanho da oportunidade ajudou a mudar isso. “Há 700 milhões de pessoas na base da pirâmide social na América Latina, e isso representa um potencial enorme. Tem de pensar neles como consumidores e produtores”, disse Ros. O BID atualmente tem um portfólio com 50 iniciativas ligadas a negócios sociais, num investimento de U$ 350 milhões.

Já Randall Kempner, diretor executivo da Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande), rede global que promove o empreendedorismo em países em desenvolvimento, afirmou que “ainda estamos nos estágios iniciais de criar uma indústria”, mas ressaltou que o “Brasil é o maior recebedor de investimento de impacto na América Latina”, e disse estar muito impressionado com o país.

Eliza Erikson, diretora de investimentos da Omidyar Network, fundo filantrópico do criador do site de leilões eBay, Pierre Omidyar, destacou o crescimento das classes C, D e E nos últimos anos no Brasil. Chamou atenção, ainda, para outra característica do país: “Vocês têm uma grande densidade urbana”. Com isso, há muito espaço para o surgimento de negócios sociais que supram demandas por serviços básicos nas cidades.

 

 

Evento Discute Negócios Sociais e Lança Força-tarefa para Potencializar Investimentos de Impacto Social

Ainda incipientes no Brasil, os negócios sociais – empreendimentos que tentam aliar lucratividade e benefícios sociais – começam a chamar a atenção de jovens empreendedores e de grandes veículos de comunicação. Neste contexto, faz todo sentido criar um grupo de trabalho que identifique os entraves para o crescimento desse mercado e sugira iniciativas que possam impulsioná-lo.

A Força-Tarefa Brasileira de Finanças Sociais foi lançada no encerramento do Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, que ocorreu em São Paulo, em 6 e 7 de maio. O evento foi organizado pela Vox Capital, pela Artemisia e pelo instituto de Cidadania Empresarial (ICE).

“Se nós deixarmos o campo andando naturalmente, vai demorar muito”, afirmou Fabio Barbosa, presidente do Grupo Abril e um dos integrantes da força-tarefa. “É preciso comandar o processo para acelerá-lo. Seremos catalisadores do processo. O propósito do grupo é mobilizar mais recursos para as iniciativas de impacto social e acelerar a estruturação de um ecossistema propício”, disse ele, que falou em nome do grupo durante o lançamento.

“Há muitos problemas a serem resolvidos no Brasil e várias soluções; o empreendedorismo é uma delas”, continuou Barbosa. “Não é uma questão de impacto social ou retorno, e sim de impacto social e retorno”.

Ao lançar sua força-tarefa, o Brasil coloca-se na vanguarda das discussões sobre os investimentos de impacto social. O G-8 – que reúne as sete maiores economias do mundo e a Rússia – deflagrou iniciativa semelhante no ano passado. O Reino Unido, país em que o campo está mais desenvolvido, criou seu grupo em 2002.

O mentor do projeto, Ronald Cohen, também falou, por videoconferência, durante o evento. “Nós vimos que as áreas mais pobres eram também as que menos tinham ofertas de serviços básicos. Precisávamos criar investimentos para fundar empresários que trabalhassem nesses locais, que servissem de modelo e ajudassem pessoas”, contou.

Para o inglês, uma das principais mudanças no campo do investimento social privado foi o desenvolvimento de metodologias de medição de impacto. “A filantropia tradicional enfoca mais doação do que resultados. Ficava-se satisfeito em apresentar números, e não mudanças”, disse. No entanto, o foco, tanto em organizações com ou sem fins lucrativos, passou a ser avaliar as reais mudanças de fato decorrentes de seus projetos.

Cohen, que participou da criação dos hoje bilionários mercados de venture capital e private equity, não hesitou, sobre os investimentos de impacto, em cravar: “Estamos no limiar de uma revolução”.

Discussões

Até como uma espécie de preparação para o lançamento da força-tarefa, o fórum trouxe uma série de plenárias que discutiram os principais assuntos relacionados aos investimentos de impacto e aos negócios sociais.

Entre outros temas, palestrantes brasileiros e estrangeiros debateram assuntos como o desenvolvimento de um ecossistema para o setor, modelos de avaliação de impacto, inovações nos mecanismos financeiros para projetos, o equilíbrio entre lucro e impacto, o papel da academia nas discussões e a busca por escala nas iniciativas.

Foram apresentadas ainda “pílulas de inovação”, na qual empreendedores sociais puderam apresentar projetos que oferecem algum tipo de serviço básico para populações de classes mais baixas e, ao mesmo tempo, também conseguem obter retornos financeiros.

 

 

Em Evento Sobre Primeira Infância, Diretora Executiva do IDIS se Torna Líder Global

Participando do World Forum on Early Care and Education (Fórum Mundial sobre Atenção à Primeira Infância), em Porto Rico, a Diretora Executiva do IDIS, Paula Fabiani, foi agraciada com o certificado de Global Leader for Young Children, como resultado das ações do IDIS no Programa Primeira Infância Ribeirinha, na Amazônia.

Uma iniciativa da World Forum Foundation, o World Forum on Early Care and Education foi realizado na cidade San Juan, em Porto Rico, entre os dias 6 e 9 de maio, e contou com a presença de representantes do mundo todo, incluindo o Brasil. Políticas públicas de primeira infância, o investimento social de empresas e sustentabilidade das ações foram alguns dos temas tratados no Fórum.

Segundo Paula Fabiani, Diretora Executiva do IDIS, “foi um evento realmente global, com 843 pessoas de 81 países trocando experiências sobre o desenvolvimento da primeira infância. O Brasil, com uma delegação de 8 Global Leaders, se apresenta como país avançado na legislação para a infância e tendo desafios comuns: implementação de políticas públicas e integração dos dados sobre a criança.”

Sobre o certificado recebido pela Diretora Executiva do IDIS, o programa Líderes Globais para a Primeira Infância é uma iniciativa de incidência política (advocacy) da World Forum Foundation que inspira e empodera novas lideranças. Professionais de primeira infância engajados em todo mundo se reúnem para ser treinados, compartilhar experiências, e colaborar. Globalmente e localmente eles se tornam corajosos, defensores inovadores que se levantam para provocar mudança duradoura com crianças e famílias.

Depois de quatro dias de debates e muita troca dentre os participantes, o World Forum on Early Care and Education foi encerrado com uma reflexão sobre como é possível mudar o mundo a partir das diferenças, deixando inspirados os líderes que vão transformar a realidade mundial.

 

 

Edição 2014 do Global Philanthropy Forum Debateu o Papel Dos Indivíduos na Busca por Transformações Globais

Com o tema “Global Goals, Citizen Solutions”, a edição de 2014 do Global Philantropy Forum reuniu nos dias 23 a 25 de abril, na Califórnia, filantropos do mundo e contou, pela primeira vez, com uma delegação de investidores sociais brasileiros, liderada pelo IDIS e pelo GIFE. Dentre os destaques do evento, palestraram o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, e a ex-primeira-ministra da Noruega e membro do grupo The Elders, Gro Brundtland.

GP2014 Logo

O tema da edição deste ano do Global Philanthropy Forum foi “Global Goals, Citizen Solutions” (“Metas Globais, Soluções Individuais”, em tradução livre). Dentre os palestrantes deste ano destacaram-se o Presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, o Presidente da Fundação Ford, Darren Walker, e a ex-Primeira Ministra da Noruega, e membro do Grupo The Elders, Gro Brundtland. O Brasil também contou com duas palestrantes, Paula Fabiani, Diretora Executiva do IDIS, que falou sobre a nova geração de redes de investidores sociais, e Beatriz Gerdau Johannpeter, que debateu a filantropia comunitária no Brasil.

A delegação de brasileiros conduzida pelo IDIS em parceria com o GIFE visitou, na véspera do evento, dia 22 de abril, o escritório do Google na cidade da Califórnia, onde foi recepcionada por Jacquelinne Fuller, Diretora do Google.org. Jacquelinne apresentou à Delegação a estratégia de filantropia global do Google, que procura investir em projetos que reúnam transformação social de impacto e tecnologia, Da delegação fizeram parte filantropos e membros de organizações como Fundação Roberto Marinho, Fundação Bradesco, Instituto Coca-Cola, Instituto Abramundo, e Instituto Votorantim, dentre outros.

Global Philanthropy Forum é uma iniciativa da World Affairs Council, e no Brasil é representado pelo IDIS, que realiza desde 2012, em parceria com a organização americana, o Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, gratuito e exclusivo para convidados. Segundo João Paulo Vergueiro, que é Gerente de Relações Institucionais do IDIS e está responsável pela edição brasileira do Global Philanthropy Forum, ” a versão realizada nos Estados Unidos, é uma referência importante para que saibamos o que a filantropia mundial está debatendo, suas tendências e inovações. A edição brasileira está bastante alinhada com ela e reúne cento e cinquenta  participantes e uma seleção qualificada de palestrantes internacionais e nacionais para se somar aos filantropos brasileiros que compartilham da sua experiência e inspiração.”

Para saber mais escreva para comunicacao@idis.org.br.

 

 

SP Sedia Encontro Global Sobre Inclusão Das Mulheres na Economia da América Latina

Enquanto os olhos do mundo se voltam para o Brasil às vésperas da Copa, um grupo de líderes globais vai se reunir em São Paulo para debater o papel das mulheres na economia da América Latina, discutir maneiras de aumentar a inclusão feminina e entender a relação entre negócios, deenvolvimento e direitos humanos.

Essas serão algumas das questões abordadas no 3º Women´s Forum Brazil, que vai acontecer em 26 e 27 de maio, em São Paulo, e cujo tema será “Criando uma economia próspera para todos”.

Entre os palestrantes estarão a ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci de Oliveira; a diretora da Clinton Global Initiative, Penny Abeywardena; a CEO do Magazine Luiza, Luiza Trajano; e a vice-presidente executiva do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Julie Katzman.

O evento é um desdobramento do Women’s Forum for the Economy and Society (http://www.womens-forum.com/), uma iniciativa criada em 2005 em Paris e que se tornou uma importante plataforma mundial para as mulheres expressarem suas vozes e seus pontos de vista sobre temas econômicos e sociais relevantes.

As inscrições para o evento, que acontecerá no hotel Grand Hyatt, vão até o dia da abertura do encontro, e podem ser feitas no sitehttp://www.womens-forum.com/meetings/women-s-forum-brazil-2014/13/apply.

Privatização Nutre Fundos Patrimoniais Filantrópicos

Em 2013, o professor Lester M. Salamon, diretor do John Hopkins Center for Civil Society Studies, e associados, expuseram os primeiros resultados de um estudo em curso sobre a formação de fundos patrimoniais filantrópicos a partir de processos de privatização — “Philanthropication Thru Privatization – Building Assets for Social Change”. O estudo, apresentado na Alemanha, e que conta com a participação do presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS, Marcos Kisil, trouxe importantes lições sobre os processos de privatização no mundo e acrescentou ao debate uma pergunta capital: de quem é a propriedade de um bem público – rodovia, porto, aeroporto?

A resposta mais simples considera que os bens são do Estado e, portanto, todo e qualquer recurso arrecadado com seu usufruto, venda, concessão etc, deve ir para o Tesouro Nacional.

A resposta mais abrangente, porém, entende esses bens públicos como pertencentes à sociedade que, por meio de seus impostos e taxas, sustenta as estruturas existentes do Estado. Neste caso, a questão ganha uma nova dimensão, pois os recursos arrecadados podem vir a servir também para o fortalecimento da própria sociedade civil e suas organizações.

Buscando conhecer a fundo processos que seguiram a lógica acima, o estudo apresentou informações de mais de 500 organizações filantrópicas que tiveram fundos patrimoniais (endowments) criados como resultado de privatizações, distribuídas em 20 países. O total de ativos destas organizações sem fins lucrativos alcança um valor impressionante de US$ 127,5 bilhões.

Alguns dos casos mais interessantes detalhados no estudo são:

• A experiência mais antiga apresentada envolve a Fundação Volkswagen, na Alemanha. Quando terminou a II Guerra, a propriedade da empresa, que foi fundada durante o regime nazista e foi parte do esforço de guerra, foi alvo de debate pelo governo local, governo federal e sociedade civil. Em 1960 foi organizada a Fundação Volkswagen para ser a proprietária da empresa, sendo que 60% das ações da montadora pertenceriam à Fundação, 20% ao governo federal alemão e 20% ao governo do Estado da Baixa Saxônia. Em 1973, todas as ações da Fundação tinha sido vendidas ao mercado e os 20% do governo alemão foram vendidos nos anos seguintes. Hoje o governo da Baixa Saxônia detém aproximadamente 16% das ações que são negociadas em bolsa.

A Fundação Volkswagen foi a grande beneficiária da valorização e venda das ações, tendo hoje um capital investido em um fundo patrimonial com ativos na ordem de US$ 3,4 bilhões que são empregados em seu foco programático, Ciência e Tecnologia. Em resumo: a empresa foi privatizada, com a venda de 60% de suas ações ao mercado, em um processo no qual uma alternativa interessante foi desenvolvida para atender a demandas da sociedade civil e do governo local: a Fundação Volkswagen. Atualmente, a Fundação já não tem mais ações da Volkswagen e, portanto, nenhuma relação com a empresa, a não ser o nome.

• Em 30 de julho de 1990, o Parlamento italiano aprovou uma lei que teve grandes e positivas implicações para o desenvolvimento sócio-econômico do país. A lei “Amato-Carli” reformou o sistema bancário italiano como parte da reforma do sistema financeiro, e teve como premissa a criação de fundações que fossem acionistas dos novos bancos criados e que, posteriormente, com o sistema fortalecido, venderiam suas ações montando fundos patrimoniais com os recursos obtidos. No total, foram criadas 88 “fundações bancárias”, cujos ativos totalizaram US$ 65 bilhões. Duas dessas fundações – Cariplo e Companie San Paulo – estão entre as dez maiores do mundo quanto ao total de ativos dos fundos patrimoniais. Fundações originárias de privatizações de bancos também surgiram na Áustria (Sparkasse), Inglaterra (Lloyds TSB) e Nova Zelândia (Community Trusts).

• A República Tcheca destinou 1% dos recursos gerados nos processo de privatização na década de 90 para o estabelecimento de um fundo que financiou a formação de fundos patrimoniais de 74 fundações no país. Esta é uma das experiências que demonstra o potencial impacto desta possível estratégia para um governo preocupado com desenvolvimento sustentável de seu setor sem fins lucrativos.

No estudo, a maior parte das organizações analisadas apresentou desempenho, estrutura de governança e gestão acima dos padrões existentes em instituições semelhantes. No geral, são organizações com interesse comunitário local que colocaram os seus países no centro das discussões sobre o papel da filantropia global e desenvolveram tecnologias sociais de destaque.

O estudo encontrou evidências de que as concessões e privatizações podem ser instrumentos poderosos de estruturação de um setor filantrópico permanente em uma sociedade. A captura de recursos privados e a sua destinação de forma perene para propósitos sociais, culturais e ambientais se apresenta como uma estratégia de sucesso em diversos países. Recomendações para a efetivação deste processo são apresentadas no estudo e poderiam ser consideradas pelo governo brasileiro em suas próximas concessões.

Esta é uma rota que, se adotada, fortaleceria a sustentabilidade de organizações do setor sem fins lucrativos, tema que já faz parte da agenda nacional tanto da sociedade civil como do governo federal, na atuação da Secretaria Geral da Presidência da República.

O próprio Ministério da Fazenda, em apresentação do Ministro Mantega realizada dia 02 de dezembro do ano passado, estima em US$ 595 bilhões o total do investimento no Brasil que virá das concessões em infraestrutura nos próximos dez anos. Com base nisso é possível imaginar que a adoção de política semelhante no Brasil traria um extraordinário impacto no terceiro setor, importante parceiro do governo no desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes.

Os resultados apresentados são encorajadores. A criação de fundos patrimoniais perenes, além de ter o potencial de originar novas estruturas para desenvolvimento de soluções para os problemas sociais e ambientais, garante que as organizações e estratégias tenham sustentabilidade no longo prazo, desafio atual de grande parte das organizações da sociedade civil brasileiras.

Para um governo que nas recentes manifestações recebeu críticas sobre sua incapacidade de prestar serviços que são obrigações constitucionais, como em saúde e educação, a presença de uma sociedade civil forte e atuante, não dependente de recursos governamentais, pode se traduzir em melhores soluções e serviços para a população, bem como em elemento promissor contra a corrupção e uso mais eficiente dos recursos públicos.

Artigo de autoria de Marcos Kisil, diretor presidente do IDIS, e  Paula Jancso Fabiani é diretora executiva do IDIS, publicado no Jornal Valor Econômico no dia 05 de maio.

 

 

Crescimento Econômico Pode Impulsar Doações no Brasil, Avalia Gerente da CAF

O primeiro módulo brasileiro do Foundation School 2014, realizado pelo IDIS em São Paulo, discutiu as oportunidades de crescimento de doações decorrentes da ampliação da classe média e da classe alta no Brasil e no mundo. O encontro, em 27 de maio, incluiu uma apresentação sobre o tema feita pelo gerente de política internacional da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), Adam Pickering.

Ele apresentou dados sobre o crescimento dos dois grupos. Segundo o estudo The Wealth Report, por exemplo, o número de pessoas com mais de US$ 100 milhões vai aumentar em todas as regiões do mundo entre 2011 e 2016, com incrementos expressivos principalmente na Ásia, na América do Norte e na América Latina. O Brasil, segundo o Crédit Suisse, tinha, em 2013, cerca de 220 mil milionários. Em 2018, devem ser 407 mil (um salto de 84%).

Já um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico prevê que, entre 2009 e 2030, haverá um crescimento da classe média de 165%, com destaque, principalmente, para Ásia, Oriente Médio e Norte da África.

A classe média brasileira, segundo as estimativas apresentadas por Pickering, terá gastos de cerca de US$ 1,2 trilhão em 2030. Se os brasileiros se comportarem como os britânicos, que doam 0,4% de sua renda, isso representará U$ 4,9 bilhões direcionados ao investimento social privado apenas por indivíduos. Ou seja, o potencial de fortalecimento do setor social privado brasileiro, para Pickering, é enorme.

Apesar das promessas de um futuro brilhante para as doações individuais brasileiras, existem, segundo Pickering, algumas barreiras muito sérias a serem enfrentadas. Por exemplo, o Brasil tem caído no ranking do World Giving Index (WGI), estudo anual da CAF que avalia a solidariedade social com base em três comportamentos: doar, ajudar um estranho, fazer trabalho voluntário. Em 2009, o Brasil estava na 59ª posição; em 2012, caiu para a 91ª.

Além disso, o Brasil sofre com uma desconfiança da sociedade em relação às organizações não governamentais. A pesquisa Trust Barometer, aplicada em vários países, mostra que as ONGs estão sempre no topo da confiança, seguidas pelas empresas, a mídia e o governo. No Brasil, no entanto, as organizações estão em terceiro lugar, à frente apenas do governo.

Uma das propostas apresentadas por Pickering para mudar essa situação e liberar o potencial donativo no país são os incentivos fiscais à doação. Dividindo as nações em quatro faixas de renda (baixa, baixa e média, alta e média, alta), o palestrante mostrou que em todas elas a doação de dinheiro é maior onde há alguma forma de incentivo.

As discussões propostas nos módulos nacionais do Foundation School este ano estão atreladas à iniciativa Future World Giving, da CAF, organização britânica com a qual o IDIS faz parte de uma aliança global para apoiar a filantropia no mundo.

O objetivo da iniciativa Future World Giving é disseminar a mensagem de que se os governos agirem agora o futuro da filantropia pode ser iluminado, com pessoas no mundo todo se engajando no apoio a uma sociedade civil vibrante e que atendam às necessidades sociais.

Este ano serão publicados três relatórios da iniciativa, e o IDIS traduzirá os três para o português.

 

 

Movimento Arredondar Que Usar Centavos Para Estimular Cultura de Doação

Arredondar para cima o valor de uma compra e doar os centavos para uma organização da sociedade civil parece muito pouco, não? Agora, imagine que os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro emitem, num único dia, 5,9 milhões de faturas de compras, segundo Ari Weinfeld, presidente do Movimento Arredondar. O valor total doado, então, pode ser enorme.

Essa é a ideia da iniciativa. A organização firmou, há três meses, parceria com as primeiras lojas para uma campanha que estimula as pessoas a arredondarem o valor de suas notas fiscais, doando o excedente para a filantropia. Na boca do caixa, o consumidor será questionado se quer elevar o valor da compra e repassar os centavos.

O dinheiro, no entanto, nem é o que mais importa. “A questão da cultura de doação é muito mais importante. Nós gostaríamos de criar nas pessoas o hábito de doar”, diz Weinfeld. Nesse sentido, uma das forças da campanha, avalia o presidente, é a conversa na hora de o cliente pagar a conta – ele terá de lidar com o assunto.

Da concepção à ação, foram três anos. “O período serviu principalmente para nós termos todo o desenho tributário para fazer o arredondamento sem incidir impostos”. No processo, o Movimento Arredondar contou com a ajuda de dois escritórios de advocacia: Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados e Barbosa, Müssnich & Aragão.

A solução foi a seguinte: na hora da compra, saem duas notas, uma com o valor dos produtos, sobre a qual incidem os tributos normais, e outra com os centavos resultantes do arredondamento, que é livre até mesmo das chamadas “taxas de shopping”.

Ao longo dos três anos, também foi desenvolvida a estrutura de tecnologia de informação, o softwares das lojas, “para que a doação fosse fácil, simples, sem nenhum trabalho nem para o lojista nem para o doador”, diz Weinfeld. Trata-se, na verdade, de uma extensão que é instalada no software já usado pela loja em seus caixas.

Antes de iniciar a operação, o Movimento Arredondar fez testes durante um ano em duas lojas da rede de moda infantil Puket. “No período, 70% das pessoas que entraram na loja arredondaram”, conta Weinfeld. Agora, a campanha já está também em lojas da Grifer (uniformes), Crocs (calçados), Malwee (roupas), NK Store (roupas e acessórios) e Track & Field (artigos esportivos). “Agora com 14 lojas, mantivemos o índice de 70% das pessoas arredondando suas compras”, comemora.

Por enquanto, é o Movimento que vai atrás dos estabelecimentos participantes. No futuro, com a expansão da iniciativa, a ideia é de que a organização passe a ser procurada pelas redes de comércio.

Beneficiados

Para onde vai o dinheiro? Hoje, o Movimento Arredondar trabalha com 15 organizações da sociedade civil, escolhidas após processo de seleção que incluiu um grande questionário sobre suas práticas. “Contratamos cinco pessoas de altíssimo nível do terceiro setor para fazer a seleção e criamos o questionário, que não pode ser respondido apenas por uma pessoa, pois suas questões envolvem várias áreas das organizações”, diz Weinfeld. Os oito Objetivos do Milênio da ONU foram os parâmetros usados para definir as entidades que poderiam participar do edital. Elas deveriam se encaixar em no mínimo um dos objetivos.

Foi lançado um edital, e 335 entidades participaram. Trinta passaram pelo crivo, e depois foram divididas em dois grupos de 15 – para que haja um rodízio de organizações beneficiadas. A proposta é investir, em no máximo três anos, o equivalente a 10% do orçamento anual de cada OSC. Quando o percentual for alcançado, ela sai do grupo apoiado e outra entra no lugar. “A rotatividade não é só para não criar dependência, mas para que a gente também possa atender o maior número de ONGs possível”.

A empresa que adere pode optar por destinar os recursos a um Objetivo do Milênio específico. “Temos lojistas de roupa feminina que escolheram os objetivos três e cinco, que falam de mulher, e empresário de esporte que escolheu o sete, que fala de meio ambiente e de padrão de qualidade de vida”, exemplifica Weinfeld. A grande maioria das lojas preferiu aderir a todos os oito Objetivos do Milênio, indistintamente.

Saiba mais: www.arredondar.org.br

 

 

Campanha Para Ricos Doarem Deve ir Além da Redução da Pobreza, Defende CAF de África do Sul

A campanha sul-africana para estimular os ricos a doarem pelo menos 5% de sua renda para a redução da pobreza é bem-vinda. Porém, o projeto lançado recentemente também deveria abranger outros pontos ligados a justiça social, defende Coleen Du Toit, CEO da Charities Aid Foundation (CAF) da África do Sul, organização parceira do IDIS.

Em artigo para o mesmo site em que o projeto foi lançado, o Business Day, Coleen cita uma recente pesquisa da plataforma virtual de ativismo Avaaz que envolveu 116 mil pessoas de 194 países e territórios, apontando que os temas mais importantes para elas são “combater a corrupção política, a injustiça econômica e as catastróficas mudanças ambientais”. Ela questiona se, portanto, não deveriam ser esses os assuntos abordados pela iniciativa sul-africana, chamada Five Plus Project.

Coleen faz questão de destacar que esse questionamento de forma alguma diminui a importância de se doar para aliviar os problemas mais urgentes, ainda mais em um país no qual 26% das pessoas vivem abaixo da linha de pobreza. Mas, escreve ela, “nós também precisamos de engajamento ativo com organizações que defendem a alocação justa dos direitos e benefícios de nossa democracia”.

“De acordo com os princípios de nossa Constituição, este setor [justiça social] luta pelos direitos dos marginalizados, para combater a crescente desigualdade e pelo fim da corrupção e da má administração, agora endêmicas na África do Sul”. No entanto, alerta, “o setor é quase inteiramente sustentado por doadores internacionais, uma situação obviamente insustentável”.

A CEO da CAF Southern Africa lembra que o país tem uma das mais altas taxas de casos de abusos sexuais e violência de gênero, envolvendo, inclusive, crianças. Ainda assim, “organizações que combatem esse problema estão fechando por falta de financiamento”.

Até mesmo um bastião moral da África do Sul como o bispo Desmond Tutu, figura importantíssima da luta antiapartheid, já chamou a atenção para a necessidade de os líderes empresariais destinarem recursos para projetos que combatam injustiças sociais. “É paradoxal que a generosidade e a responsabilidade social dos financiadores privados, das empresas e dos indivíduos quase nunca são aplicados no setor que protege os aspectos mais fundamentais da nossa democracia”, escreve Coleen.

No mesmo tom, Coleen apela para outro bastião moral, Martin Luther King, para fechar seu argumento: “A filantropia pode ser recomendável, mas não deve ignorar as circunstâncias de injustiça econômica que a fazem necessária”.

 

 

Para Estimular Filantropia, Campanha Coleta Depoimentos de Quem Faz Doações

Falar sobre suas ações sociais é fundamental para estimular uma cultura de doação. Ainda assim, muito pouca gente no Brasil expõe publicamente quanto investe nessa área. Uma nova iniciativa pretende mudar isso. “O que a gente quer é estimular que as pessoas venham à frente, coloquem o rosto e mostrem a organização que escolheram, a causa que escolheram e por que doam”, afirma o coordenador da campanha Doe Mais, Doe Melhor, Ricardo Martins.

O pontapé inicial foi dado em 24 de março, com o lançamento de uma plataforma virtual em que há depoimentos de brasileiros e estrangeiros sobre ações sociais. “São histórias curtas, mas que focam na dinâmica emocional por trás do gesto”, afirma Martins. Ele acrescenta que dispõe de um banco de dados com mais de 100 depoimentos, das quais 60 já estão no site.

A internet foi fundamental para ajudar a encontrar pessoas dispostas a falar sobre seu próprio investimento social. O convite para expor histórias foi postado na comunidade do Facebook “Movimento por uma cultura de doação no Brasil”, que estimula debates e projetos que possam promover esse tipo de filantropia. “O Movimento funciona como uma rede de suporte. Então, quando precisei de histórias, coloquei lá e imediatamente houve respostas”, relata Martins.

A ideia da campanha veio de Leonardo Letelier, fundador da Sitawi Finanças do Bem, organização que desenvolve soluções financeiras que tenham impacto socioambiental. “A impressão do Léo é que as pessoas falam pouco de doação, às vezes, têm vergonha de falar, se sentem um pouco pedantes”, diz o coordenador da campanha. O próprio Martins se envolveu com a Doe Mais, Doe Melhor porque participava da comunidade do Facebook.

A iniciativa é recente, mas os objetivos são ambiciosos. “Começamos a pensar no final do ano passado. Com o lançamento, a gente espera receber muito mais histórias, porque eu tenho certeza que tem muita gente interessada em contar, mas ainda não encontrou o canal”, continua Martins.

Há até a possibilidade de a campanha extrapolar o ambiente virtual e chegar à televisão. “Temos algumas conversas, a possibilidade de gravar o vídeo é grande”, afirma o coordenador. O conceito de uma eventual campanha televisiva já começa a ser desenhado. “Queremos visibilidade pública, mas é difícil falar de frente pra câmera, dar entrevista. Por isso, a ideia é que a gente pegue atores ou atrizes que contem a história em primeira pessoa, mesmo que não seja a deles.”

Por fim, o coordenador ressalta que o importante mesmo não é sobre o que se fala, mas apenas falar: “O ponto não é quanto doa, e sim ter uma causa, uma organização para a qual se doa. A gente achou que divulgar histórias de doação seria a melhor forma de estimular as pessoas a contarem as suas e até viverem as suas”.

 

 

IDIS Realiza Encontro de Investidores Sociais do Amazonas

São Paulo, abril de 2014. O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS realizará, em 29 de maio de 2014 (quinta-feira), o Encontro de Investidores Sociais do Amazonas, no auditório da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), em Manaus.

Logo_Regional_AM Versao Pequena.jpgO evento vai acontecer em 29 de maio e tem como objetivo oferecer um espaço exclusivo para trocas de experiências e ideias entre investidores sociais, visando aprendizado e fortalecimento de seu papel estratégico no desenvolvimento da região em que atuam. Também pretende contribuir para a identificação de filantropos e potenciais doadores que, atuando em rede, se associem às prioridades e políticas públicas existentes para benefício da sociedade no Estado do Amazonas e em todo o país.

A programação contempla palestras e debates que vão abordar o Investimento Social Privado (ISP) como agente de desenvolvimento da sociedade nas esferas humana, econômica, comunitária e social e apresentará casos, como o de desenvolvimento da primeira infância, realizado em parceria pelo IDIS com Bernard van Leer Foundation, Fundação Amazonas Sustentável e Secretaria da Saúde do Estado do Amazonas. Dentre os palestrantes já confirmados estão Armando Ennes do Valle Júnior, da Whirlpool Latin America; Antonio Carlos da Silva, do Grupo Simões e Presidente da FIEAM; Leonardo Yanez, da Bernard van Leer Foundation e Renato Paes de Barros, Secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

O evento tem organização do IDIS e conta com parceria da Charities Aid Foundation (CAF), do Instituto C&A, do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM) da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) e da Fundação Amazonas Sustentável, e apoio financeiro da Fundação Rockefeller.

A participação é gratuita, porém restrita a convidados.

Informações Encontro de Investidores Sociais do Amazonas

  • Credenciamento de imprensa: Para o credenciamento de imprensa é necessário enviar para comunicacao@idis.org.br: nome completo, nome do veículo, editoria, número do RG, telefone fixo e celular. O acesso a jornalistas será permitido nas palestras do período da manhã.
  • Data: 29 de maio – quinta-feira
  • Horário: 9 às 17 horas
  • Local: Auditório da FIEAM – Av. Joaquim Nabuco, 1919 – Centro, Manaus

Sobre o IDIS

O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS (www.idis.org.br), fundado em 1999, é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) pioneira no apoio técnico e consultoria ao investidor social no Brasil e na América Latina. Facilita o engajamento de pessoas, famílias, empresas e comunidades em ações sociais estratégicas transformadoras da realidade, contribuindo para a redução das desigualdades sociais no País. Sua missão é apoiar o investimento social privado para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e sustentável. Sua atuação se dá de duas formas: desenvolvendo e disseminando conteúdo e atendendo à demanda, por apoio técnico, de empresas, fundações, institutos e indivíduos.

Norma Para Fundos Patrimoniais Aumenta Segurança Juridica e Abre Espaço Para Isenções Fiscais, Diz Adovago

No começo de fevereiro, a Secretaria-Geral da Presidência recebeu uma proposta de projeto de lei para regulamentar a criação e o funcionamento dos fundos patrimoniais. Já há organizações da sociedade civil que usam esta forma de financiamento, mas o instrumento ainda não é regulamentado. “Um dos grandes objetivos de ter uma legislação é aumentar a segurança do modelo. A partir do momento em que há reconhecimento de quais são os critérios mínimos para ser reconhecido, passa a ter a possibilidade de atribuir incentivos fiscais”, explica, em entrevista ao site do IDIS, o advogado Felipe Sotto-Maior, fundador da Verius (anteriormente chamada Endowments do Brasil), que auxilia entidades que queiram criar um fundo.

proposta difere de um projeto de lei que circula no Congresso, o4.643/2012, da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), que regulamenta a criação de fundos patrimoniais apenas em instituições de ensino e pesquisa. “A proposta de projeto substitutivo prevê uma ampliação grande do escopo. Não tem por que abraçar a causa do fundo patrimonial para cobrir um nicho tão pequeno de instituições”, justifica Sotto-Maior, que participou do grupo de trabalho multidisciplinar que elaborou a nova proposta normativa, liderado pelo IDIS junto com a própria Endowments do Brasil.

O especialista falou também sobre experiências do exterior, discorreu sobre os próximos passos para a proposta. “O momento parece bastante propício e o governo parece bastante interessado.”

IDIS: De onde foi tirado o desenho da proposta?

Felipe Sotto-Maior: A base inicial é o estudo de casos do exterior. Vínhamos estudando isso por causa de projetos que já existem no Brasil. Havia uma bagagem. Este projeto de lei é o produto de um grupo de estudos para o qual a gente abriu convite. Montamos o grupo com diversas instituições, advogados, economistas, gente que trabalha no governo, curadores de fundações. Passamos a discutir em cima do projeto de lei que já existia e com base no conhecimento que cada um trazia do seu trabalho.

IDIS: Já existem fundos patrimoniais no Brasil, mas não existe a figura jurídica?

Felipe Sotto-Maior: Exatamente, não tem nada que proíba. Algumas instituições saem na frente fazendo. Mas também não tem nenhum incentivo e nenhuma lei que reconheça esse formato como sendo uma figura jurídica específica.

IDIS: Considerando que não é proibido, o que a lei traz para quem já tem um fundo ou quer formar um?

Felipe Sotto-Maior: Um dos grandes objetivos de ter uma legislação é aumentar a segurança do modelo. Você padroniza um pouco, mas aumenta a segurança, porque há um reconhecimento de o que é aquilo, em vez de trabalhar com figuras adaptadas. Hoje, você adapta o regimento de uma fundação ou de uma associação, mas não tem nenhum reconhecimento pelo governo, por exemplo, de que aquilo é um fundo patrimonial. O governo enxerga uma fundação, uma associação. Por outro lado, a partir do momento em que há reconhecimento de quais são os critérios mínimos para ser reconhecido, passa a ter a possibilidade de atribuir incentivos fiscais tanto para o doador que contribui para os fundos quanto para o próprio fundo em si ou para a entidade que o mantém. Quando a gente está falando de dinheiro investido em longuíssimo prazo, o imposto de renda periódico, por exemplo, faz uma diferença enorme se não for cobrado.

IDIS: A questão dos incentivos fiscais está prevista na proposta?

Felipe Sotto-Maior: Já está prevista até onde a gente conseguiu. Um dos impostos que gostaríamos de isentar seria o imposto sobre doações, que é estadual. A proposta, como é uma lei federal, não tem como alcançar isso. Mas já previmos os impostos federais que consideramos adequados para ter incentivo ou isenção. Colocamos incentivo no imposto de renda do doador e, se possível, a isenção no imposto de renda da instituição, ou pelo menos no fundo. Tudo isso são sugestões, vamos ver o que vai passar efetivamente no Congresso.

IDIS: O que vocês avançaram em relação ao projeto que já existia?

Felipe Sotto-Maior: A principal diferença é a mudança de escopo. Era muito restrito, e a proposta de projeto substitutivo prevê uma ampliação grande. Até por não ser uma coisa proibida, que já vem sendo feita não só em instituições federais de ensino superior, mas em diversas associações e fundações, não tem por que abraçar a causa do fundo patrimonial agora, dar-se o trabalho de passar isso pelo nosso processo legislativo, para cobrir um nicho e um subgrupo tão pequeno de instituições. Então, o principal objetivo é que, se todo mundo já pode fazer, vamos reconhecer os critérios mínimos, os modelos de todo mundo, e não só os das instituições federais de ensino superior.

IDIS: Quais são os próximos passos?

Felipe Sotto-Maior: O IDIS está organizando um grupo de filantropos de apoio ao projeto de lei, que poderia fazer contribuições significativas para fundos patrimoniais e gostaria de ter um reconhecimento legal do modelo antes de fazer isso. Alguns são pessoas que já estão fazendo, independentemente da lei, e outras são pessoas que gostariam de fazer. A gente está reunindo esse grupo justamente para legitimar o projeto, para se encontrar com o Ministro Gilberto Carvalho para mostrar que existe apoio da sociedade. Precisa achar alguém agora para propor o substitutivo, e então fazer o advocacy, acompanhar a evolução.

IDIS: Vocês já fizeram algum tipo de mapeamento para saber quem poderia ser essa pessoa para propor o projeto de lei?

Felipe Sotto-Maior: Tem algumas sugestões. A gente começou, dentro do próprio grupo, vendo quem conhecia a agenda de deputados, porém, é mais o IDIS que está à frente desse processo agora. Até a última conversa antes do Carnaval, não havia um nome definido, apenas algumas ideias.

IDIS: Qual a expectativa com a criação de fundos patrimoniais?

Felipe Sotto-Maior: A expectativa é que num momento inicial aumente a disponibilidade por ser um modelo novo, uma forma historicamente reconhecida como eficiente para se deixar um legado na instituição, para fazer um legado perene na instituição. No longo prazo, a expectativa é que isso ajude as instituições a serem menos vulneráveis a ciclos de abundância e carência de doação. Se a instituição tem vários sustentáculos, várias pernas para ficar em pé, essa pode ser uma perna nova. Sempre que uma delas encurtar, você tem mais um ponto de apoio para não cair. Passa a ser uma fonte de financiamento nova e própria, a instituição consegue ter um fundo desses com dinheiro próprio – recebido em doação, mas que passa a ser próprio. Ela passa a ter um pouco mais de autonomia.

A gente cita muito o caso da França, porque o ordenamento jurídico de lá é muito semelhante ao nosso e a situação era muito semelhante à nossa. Não tinha endowment, havia associações e fundações, igual ao Brasil. Em 2008, eles aprovaram uma lei que passou a prever o modelo de endowment como uma figura independente, intermediária, em termos de estrutura jurídica, entre a fundação e a associação. Um dos grandes apoiadores desse movimento foi o próprio governo federal, com o intuito de criar um endowment para o Louvre, que é um grande sugador de dinheiro público. A ideia é que esse fundo ajude a aumentar a capacidade do Louvre de, ao longo dos anos, se sustentar cada vez mais sozinho e depender menos de dinheiro público. Era de interesse do governo passar isso lá, e acredito que está sendo visto pelo nosso governo  como um projeto que é um esforço agora para um benefício a prazo.

IDIS: O governo federal foi receptivo à proposta de projeto de lei?

Felipe Sotto-Maior: O momento parece ótimo para avançar a proposta. Inclusive, o governo vem, há alguns anos, estudando o marco legal do terceiro setor, com apoio da sociedade civil. Tem um grupo de trabalho forte para isso. A questão da sustentabilidade e do financiamento são dois temas importantes no grupo, e que estão juntos dentro dos fundos patrimoniais. Quando a gente finalmente chegou a apresentar isso para a Lais de Figueiredo Lopes, que é assessora especial da Casa Civil, ela se mostrou muito interessada no projeto, muito a fim de levar isso para frente. Parece que o ministro-chefe Gilberto Carvalho já se mostrou interessado em fazer esse tema avançar. O momento parece bastante propício e o governo parece bastante interessado em fazer isso.

 

Governo Começa a analisar Proposta de Projeto de Lei Sobre Fundos Patrimoniais

A Secretaria-Geral da Presidência começou a analisar uma proposta de projeto de lei que regulamenta a criação e o funcionamento de fundos patrimoniais. O texto foi elaborado por um grupo de 90 pessoas criado pelo IDIS em novembro de 2013 e que inclui juristas, representantes de 35 organizações da sociedade civil, Ministério Público e universidades.

documento foi entregue em 4 de fevereiro, numa reunião que contou com o secretário-executivo da pasta, Diogo Sant’Ana, a assessora especial Laís de Figueiredo Lopes e, do lado da sociedade civil, Marcos Kisil e Paula Fabiani, respectivamente diretor presidente e diretora executiva do IDIS.

Os Fundos Patrimoniais Vinculados (FPVs) são um instrumento para tentar garantir a sustentabilidade financeira de organizações da sociedade civil, pois permite às entidades separarem um determinado patrimônio, aplicá-lo e beneficiarem-se dos lucros do investimento.

Já existem organizações brasileiras que instituíram fundos, como a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli). Não há, porém, uma figura jurídica que regule esse instrumento, e é isto que a proposta pretende criar.

O texto estipula que, na criação de tais fundos, sejam definidas regras para aplicar e resgatar os recursos. Também estabelece normas de governança e administração e prevê incentivos fiscais para doações aos FPVs.

Já existe um projeto de lei sobre fundos patrimoniais tramitando no Congresso Nacional. O PL 4.643/12, da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), está na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Ele se limita aos fundos patrimoniais em entidades de pesquisa e instituições de ensino federais – inspirado em casos dos Estados Unidos, onde grandes organizações de ensino, como Harvard e Yale, são sustentadas por essas aplicações.

O grupo que elaborou a proposta entregue à Secretaria-Geral entende que os fundos são importantes na área da educação, mas avalia que é possível – mais ainda: desejável – aproveitar as potencialidades desse instrumento para a sustentabilidade de organizações da sociedade civil em geral.

Para se ter uma ideia da influência que pode ter a criação da figura jurídica dos fundos patrimoniais, basta lembrar do caso francês. A lei que os normatizou na França é de 2008. No ano seguinte, foram criadas cerca de 230 aplicações nesses moldes.

A Secretaria-Geral da Presidência tem se mostrado aberta a discutir os assuntos de interesse das organizações da sociedade civil. Foi no âmbito da pasta, por exemplo, que surgiu o projeto de lei do marco regulatório para as parcerias entre poder público e entidades sem fins lucrativos, que também tramita no Congresso. Na mesma linha, o ministro-chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, abriu o 2º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, em outubro de 2013, reforçando seu compromisso com os temas de interesse do setor.

ISP Brasileiro Não Cubre Corte de Recursos Externos Para Entidades de Defensa de Direitos

A sustentabilidade financeira das organizações da sociedade civil (OSCs) é um dos temas mais urgentes do setor, em que os recursos quase sempre vão para projetos, não para manter a estrutura das entidades. A situação é mais grave entre as instituições de defesa de direitos, mais dependentes de recursos internacionais que estão minguando nos últimos anos. “Elas foram muito importantes na redemocratização, mas são as que mais estão sofrendo com mudanças na estrutura do financiamento no Brasil”, disse o consultor Domingos Armani, moderador da mesa “O que a sustentabilidade das organizações da sociedade civil tem a ver com o Investimento Social” – que ocorreu durante o 8º Congresso do Gife, em São Paulo, entre 19 e 21 de março.

“Não houve substituição do financiamento externo pelo investimento social brasileiro, salvo algumas exceções”, concordou outra debatedora, a diretora-executiva do IDIS, Paula Fabiani. A questão ganha contornos mais dramáticos quando se lembra que, como destacou Paula, nos últimos anos houve uma geração enorme de recursos no Brasil, em razão da expansão da economia.

Apenas uma pequena parte do investimento social privado vai para esse grupo de causas. “Essas organizações tratam de temas mais conflitivos, com os quais as empresas nem sempre têm facilidade de lidar – ainda mais por não ser fácil separar sua imagem da causa que apoiam”, comentou a diretora-executiva da Abong, Vera Masagão, também presente na mesa. Mas ela ponderou que às vezes o problema está no lado inverso: “OSCs têm preconceito contra empresas, achando que teriam de mudar sua causa” para obter os recursos.

Armani ressaltou que, por vezes, nem mesmo a opinião pública está do lado das organizações de defesa de direitos. “É difícil defender abertamente esses temas, assim como é difícil ao investimento social privado apoiar essas entidades.” Por isso, elas têm um trabalho mais agudo de “persuadir financiadores de que a defesa de direitos é fundamental para a democracia”. Paula citou alguns casos (raros) de apoio a esse tema no Brasil: Fundação Ford, Instituto Avon e o investimento social da família Lafer.

Desconfiança

Apesar de as organizações de defesa de direitos nem sempre contarem com a simpatia da opinião pública, a desconfiança não recai só sobre elas. “No mundo inteiro, a pesquisa Trust Barometer aponta que as OSCs são as instituições mais confiáveis; no Brasil, elas estão apenas em terceiro lugar, à frente apenas do governo, e atrás da mídia e das empresas”, apontou Vera. “Isso é reflexo de uma sociedade que não acredita em sua capacidade de se mobilizar em prol do interesse público”.

Paula também ressaltou a “falta de confiança nas OSCs” e lembrou que o IDIS faz um processo de validação de organizações para dar mais segurança a quem tem recursos para doar. “O investidor que pode financiar a infraestrutura das entidades não está fazendo isso”, constatou. Ela ainda lembrou que os investidores acabam preferindo operar suas iniciativas a apoiarem organizações “mais próximas de beneficiários e de problemas”.

Uma exceção é o Instituto C&A, cujo diretor-executivo, Paulo Castro, também participou do debate. A estratégia é lidar diretamente com as entidades. “Nós apoiamos organizações para que tenham êxito em sua missão de transformar o contexto social”, declarou. O instituto – ligada à gigante do varejo C&A, mas sem compromisso em se alinhar com os negócios da empresa – tem se notabilizado por financiar outras entidades e buscar iniciativas que fortaleçam o setor.

“Nós estamos falando sobre o fortalecimento da democracia brasileira, e uma sociedade civil vibrante requer organizações fortes para a promoção do interesse público”, concluiu Castro.

 

 

Especialistas Discutem Fim de Fronteras Entre Setor Empresarial e Social

As empresas estão cada vez mais preocupadas em abordar temas de caráter social. A criação de institutos e fundações empresariais, e o investimento cada vez maior de dinheiro corporativo em algumas causas, são um sinal claro dessa mudança. A fronteira entre ação privada e ação social está desaparecendo? Esse foi um dos principais tópicos da plenária Transformações do Investimento Social, que abriu o 8º Congresso do Gife, ocorrido em São Paulo entre 19 e 21 de março.

“A lógica da compartimentação não funciona mais, e as empresas incorporam em seu DNA a resolução de problemas sociais”, afirmou um dos membros da mesa, o professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP Ricardo Abramovay. Já a presidente do conselho do Greenpeace Internacional, Ana Toni, deixou claro que tem ressalvas a esse embaralhamento de fronteiras.

Ana levantou vários questionamentos sobre o posicionamento das empresas em relação a problemas sociais. Elas estariam reagindo à pressão da sociedade? Seria uma percepção interna dos problemas? Para ela, o que importa é que “a natureza das empresas limita seu papel social, e não é necessariamente ruim haver fronteiras”.

De certa forma, Lucy Bernholz, professora da Universidade de Stanford, fez coro à afirmação de Ana ao dizer que haveria desafios para a confusão de limites entre empresas e organizações da sociedade civil. “A democracia deve resguardar espaço privado para a ação civil, e a ruptura da sociedade pelos políticos, pelo dinheiro e pelas empresas pode ser um perigo”, comentou.

Abramovay fez questão de dizer que não se trata de “oferecer imagem acrítica” da atuação das empresas, mas sim de que as fundações com atuação social fazem as companhias pensarem nos impactos de suas inovações. “O debate público é algo ao qual as corporações estiveram imunes no século 20, mas hoje até o Greenpeace cobra uma posição das empresas. Há movimento para reintroduzir valores na ciência econômica”, apontou.

Ana reconheceu que a “voz das companhias é fundamental para alguns temas públicos”, ainda que as empresas mantenham-se longe de algumas questões mais polêmicas, como as referentes a defesa de direitos. Ela ainda disse que o Greenpeace só consegue cobrar uma posição das empresas por ser independente delas e de governos.

Sociedade digital

Parte importante do debate girou em torno da chamada “sociedade civil digital”, definida por Lucy como aquela em que recursos digitais são usados para “organizar, criar, distribuir e financiar benefícios públicos”. Segundo a professora de Stanford, o ambiente virtual muda a “maneira como abordamos problemas comuns, como nos voluntariamos, como nos associamos enquanto cidadãos independentes, e como nos organizamos para mudanças e projetos”.

Outro participante da plenária, Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, lembrou que a era digital muda as formas de governança e o local onde está o conhecimento. “Muita coisa vai ser aprendida com tentativa e erro, o que coloca desafios para o modus operandi das organizações”. Um dos desafios é a rapidez com que as demandas são postas no ambiente digital. “Precisamos de uma institucionalização preparada para responder à velocidade das coisas. A nova geração que está vindo é mais rápida.”.

A alocação de recursos digitais, porém, é desigual, destacou Lucy. O que leva à necessidade de uma discussão importante sobre o ambiente legal em que se dão as novas relações. “Nos Estados Unidos, há um perigo grande de a sociedade civil ser apagada por quem está à frente da regulação do ambiente digital”, disse. Mizne mostrou também preocupações nesse mesmo sentido: “O debate digital passa ao largo da sociedade civil. As empresas estão dominando a discussão”.

A desigualdade se manifesta também entre quem está alfabetizado para usar a rede e quem não está. “A era digital não é uma escolha, ela está aí, e a chance de desigualdade aumentar é enorme”, disse Mizne. Ele apontou quem umas das missões do investimento social privado seria financiar ações nesse campo.

 

 

Senso Moral e Identificação com Causas São Grandes Motivos Que Levam Britânicos a Doar, Aponta Pesquisa; Religião Também é Destaque

O que motiva as pessoas a doar? Foi esta pergunta que norteou a “Why we Give” (Por que doamos), mais recente pesquisa da Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica voltada ao incentivo à doação em vários países e parceira do IDIS no Brasil. Fatores como valores pessoais e comprometimento com alguma causa aparecem no topo, mas a religião também tem lugar de destaque entre os moradores do Reino Unido.

estudo, entrevistou 722 pessoas, e incluiu também outros temas relacionados ao investimento social privado no país. O levantamento faz parte de uma campanha maior da CAF (#whywegive) para incentivar as pessoas a compartilhar suas experiências de doação nas mídias sociais.

Na sondagem, as motivações pessoais mostraram-se os principais fatores de incentivo à doação: 97% dos entrevistados mencionaram valores pessoais, 96% citaram seu senso de moralidade ou ética e 75%, a crença em alguma causa em particular. A religião aparece em seguida, com 71%. A intenção de deixar um legado positivo serve de motivo para apenas 38%.

O estudo cita o caso de uma entrevistada, a aposentada Amy Bright, que separa 10% de sua renda – o tradicional dízimo – para sua igreja e instituições sociais cristãs. “Nossa doação é baseada na crença de que tudo o que temos pertence a Deus e que devemos retribuir tanto à Igreja quanto a quem necessita”, disse a aposentada na pesquisa.

O dízimo religioso, por sinal, parece corroborar outro resultado do estudo. Na média, os entrevistados afirmam que os mais ricos deveriam doar 15% de sua renda. Porém, analisando os dados sob a ótica de outras medições estatísticas (moda e mediana), tem-se 10% para ambas. “Isto é um alinhamento com os 10% encorajados por grupos religiosos”, afirma o relatório.

A importância da fé, segundo o documento, é confirmada por uma pesquisa anual da CAF, “que mostra que doações ligadas a religiões e crenças têm atraído a maior média de recursos doados nos últimos três anos”.

O levantamento também questionou os entrevistados sobre o que eles pensam do investimento social privado, e 61% responderam que é fundamental que os mais ricos falem sobre suas doações para ajudar a incrementar esse comportamento no Reino Unido. O resultado deu força à campanha da CAF para que as pessoas falem mais sobre seus investimentos sociais.

Além disso, o estudo identificou um comportamento aparentemente paradoxal. Apesar de 79% dos entrevistados acreditarem que as organizações da sociedade civil têm problemas financeiros, somente 40% afirmaram que vão aumentar suas doações no próximo ano. Segundo o relatório, “isto pode estar ligado a uma falta de confiança na economia do Reino Unido”.

Arrecadar mais

Como captar recursos em um ambiente como esse? Outros resultados da pesquisa indicam alguns caminhos. A maioria (72%) afirma que só doaria para organizações que demonstrassem seu impacto de maneira clara. Questionados sobre como as entidades poderiam aumentar sua arrecadação, 81% dos entrevistados citaram a demonstração do impacto das ações como um fator decisivo. Já 78% cobraram das empresas que elas apoiem mais as ONGs.

A educação também apareceu como um dos fatores capazes de elevar os recursos doados: 62% disseram que “uma cooperação crescente entre escolas e organizações da sociedade civil provavelmente aumentaria as doações” ao incutir nas crianças um comportamento solidário. Outro trabalho da CAF, “Growing up giving”, havia apontado a importância do sistema educacional no encorajamento de um comportamento filantrópico.

Questões tributárias também são importantes. Mais de três quartos dos entrevistados (77%) avaliam que, se os doadores conhecessem melhor os incentivos fiscais existentes, as doações provavelmente cresceriam. Ao mesmo tempo, 76% deles dizem que novos incentivos seriam bem-vindos.

Semelhanças com Brasil

A religião é um fator importante para doadores não só no Reino Unido, mas também no Brasil. Segundo estudo do IDIS e da Ipsos Public Affairs, as instituições religiosas aparecem como as mais beneficiadas pelos doadores brasileiros: 30% dos entrevistados disseram doar para igrejas, porcentagem semelhante àquela dos que disseram doar para pedintes de rua. Apenas 14% dos entrevistados disseram doar para organizações não governamentais.

A grande maioria dos brasileiros (84%) desconhece os mecanismos nacionais de doações dedutíveis do Imposto de Renda. Se os britânicos estiverem certos ao acreditarem que um maior conhecimento sobre incentivos fiscais poderia aumentar o volume de doações, esse é um bom caminho para as entidades do Brasil.

 

 

Investimento Social Privado Deve Voltar a se Preocupar Com a Invocação, Diz Estudo

O que o sistema nacional de atendimento de emergência dos Estados Unidos – o 911 tão falado nos filmes – e um dos primeiros laboratórios de pesquisa sobre Aids têm em comum? Ambos foram criados com financiamento de recursos filantrópicos. O espírito de inovação por trás desses investimentos, no entanto, parece ter ficado no passado: hoje os filantropos procuram direcionar seus recursos para ações seguras. O desafio é fazer com que parte desse dinheiro volte para projetos mais arriscados, mas com grande capacidade de mudança.

Dois membros do Monitor Institute, iniciativa da consultoria Deloitte, mergulharam fundo nesta questão em um artigo no site da Stanford Social Innovation Review. Gabriel Kasper e Justin Marcoux diagnosticaram o problema, mostraram possíveis soluções para que a filantropia retome seu caráter inovador e abordaram um projeto lançado para recolocar o tema na agenda do investimento social privado.

Para os autores, a radicalização da filantropia estratégica fez com que os investidores procurassem projetos com resultados cada vez mais certos e mensuráveis. “Os financiadores estão às vezes tratando os financiados como empregados, pagos apenas para executar planos pré-definidos”, escrevem. Com isso, os temas complexos são deixados de lado.

O artigo usa um dos cases de maior sucesso nos últimos anos como exemplo: as redes ou véus protetores de cama, distribuídos na África para diminuir a incidência de malária ao afastar o mosquito transmissor. É uma iniciativa muito barata e de retorno quase imediato. Mas, aponta o texto, a Fundação Bill & Melinda Gates está buscando uma solução mais radical e definitiva: uma alteração genética para que os mosquitos não transmitam a doença. É um projeto arriscado e de resultado incerto, mas, se bem-sucedido, terá resultados de grande impacto.

Uma frase citada pelos autores, do ex-diretor da Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas do Departamento de Energia dos Estados Unidos, Eric Toone, representa bem o que está em jogo: “Quando se faz inovação, a primeira questão não é ‘isso vai funcionar?’, mas sim ‘faria diferença se isso funcionasse?’”. Kasper e Marcoux explicam: “Financiadores da inovação trocam a probabilidade de sucesso por um potencial maior de impacto”.

A questão toda passa por uma redefinição da ideia de risco. Para os autores, tanto as empresas quanto o governo têm pouca margem para arriscar-se: os primeiros por deverem explicações a seus acionistas; os segundos, a seus eleitores. Em comparação, investidores sociais têm “discrição extraordinária para experimentar e tentar coisas novas”.

Kasper e Marcoux descrevem em detalhes cinco passos, citando exemplos, para que o investimento social privado possa reencontrar o caminho da inovação: achar novas soluções; selecionar aquelas com maior potencial de transformação; apoiar as selecionadas; medir o impacto; dar escala ao projeto.

O objetivo da inovação, no entanto, não deve ser seguido cegamente. Assim, escrevem os autores, “em questões nas quais já existam soluções funcionando, às vezes é mais importante colocar foco na escala e melhora de abordagens já conhecidas do que experimentar novas abordagens”. Ou seja, não se deve abandonar o que já existe para buscar algo inovador. A rede que afasta o mosquito deve conviver com o projeto para alterar a genética do inseto.

Até por isso, notam Kasper e Marcoux, a inovação não é uma alternativa à filantropia estratégica. “Ao contrário, financiar a inovação é parte da filantropia estratégica.” Ou seja, apenas uma parte dos recursos deve ser destinada à inovação, mantendo o resto em ações comprovadas e seguras.

Cabe a cada organização, portanto, encontrar o equilíbrio entre a quantidade de recursos para financiar inovação e para manter atividades já estabelecidas. E, como concluem os autores, “abraçar a exploração, a experimentação e o risco pode, na verdade, ajudar a filantropia estratégica a encontrar o equilíbrio correto e fazer um trabalho ainda melhor no tratamento dos problemas sociais mais urgentes do mundo”.

Setor Privado é Fundamental Para Alcance de Metas Sociais, Diz PNUD

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são um conjunto de oito metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015. Envolvem temas-chave como redução da pobreza, igualdade entre os sexos e universalização do ensino básico. Desde o momento em que foram firmados, há quase 15 anos, ganharam a adesão de boa parte do setor privado. E o Brasil tem tido um importante papel na articulação das empresas em torno das metas.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – responsável capitanear a promoção dos ODM –, na assinatura da Declaração do Milênio, em 2000, já estava claro que não seria possível alcançar os Objetivos sem a participação da iniciativa privada.

No Brasil e em outros países, essa participação às vezes se dá em parcerias diretas entre órgãos da ONU e as empresas. No caso brasileiro, o Projeto ODM 2015, por exemplo, foi criado em 2011 e conta com recursos de empresas como Petrobras, Furnas e Banco do Brasil. A finalidade é municipalizar os Objetivos de Milênio, como forma de torná-los mais efetivos.

O projeto é alinhado com uma avaliação do Pnud de que, na média, o Brasil avançou nos Objetivos do Milênio, mas persistem desigualdades significativas. Por exemplo, os objetivos 5 (redução da mortalidade materna) e 7 (que inclui acesso a saneamento básico e água) apresentam resultados bastante diversos entre as regiões.

Outro tipo de parceria é a Aliança para o Desenvolvimento Local, firmada pelo Pnud e pela Fundação Vale, braço social da mineradora brasileira. A ideia é promover o desenvolvimento de municípios afetados pela indústria extrativista, e suas ações se concentram no Pará e no Maranhão.

Depois das metas

O papel fundamental do setor privado nos Objetivos do Milênio é tão reconhecido pela ONU que, no mesmo ano 2000 em que as metas foram traçadas, as Nações Unidas lançaram o Pacto Global, que busca envolver as corporações em torno de dez princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate a corrupção.

O Pacto Global é composto por redes nacionais, e o Brasil tem a quarta maior do mundo, com mais de 600 membros. Até por isso, o Pnud considera que o país é um grande influenciador das outras. Essa influência é especialmente relevante pelo fato de que é por meio do Pacto Global que o setor privado está participando da construção da agenda pós-2015, quando vencerem os Objetivos do Milênio.

A rede brasileira teve importância destacada, segundo o PNUD, no último encontro de líderes do Pacto Global, em setembro de 2013, em Nova York. Durante a conferência, foi lançada a iniciativa Arquitetos de um Mundo Melhor, que, nas palavras do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi projetada para “conduzir e ampliar ações corporativas que, diretamente, possam fazer os objetivos das Nações Unidas avançarem”.

A relação entre as empresas e a ONU só deve aumentar no cenário pós-2015, quando será elaborada uma nova agenda de prioridades. O tema ganhou fôlego durante a Rio+20, em 2012 e, segundo o PNUD, o setor privado surge como ator e parceiro indispensável na construção do novo paradigma de desenvolvimento sustentável, que contemple, simultaneamente, aspectos econômicos, sociais e ambientais.

 

 

Planejamento Estratégico Aumenta Efetividade de Programas de Voluntariado

Muitas das grandes empresas que atuam no Brasil têm programas de voluntariado, mas nem sempre esse tipo de ação atinge os resultados desejados. Para alcançar as metas estipuladas pela empresa é preciso pensar bem o que fazer e como atuar. É para isso que serve o planejamento estratégico, que pode ser aplicado tanto na criação de programas novos quanto no aprimoramento de projetos já existentes.

A Mapfre, gigante espanhola dos seguros, é uma das companhias que se deram conta da importância de aplicar o planejamento estratégico em suas ações sociais. A empresa já tinha um programa de voluntariado no Brasil, mas ele ainda não estava caminhando como esperado, por isso a iniciativa está sendo reformulada. “Nós estávamos desatualizados e recebemos novas diretrizes da Espanha. Como a cultura aqui é muito assistencialista, nosso programa adquiriu esse viés. Envolvíamos muito poucas pessoas, e percebemos que valia a pena atuar de outra forma”, explica Alessandra Gosling, analista de responsabilidade social da Fundación Mapfre, braço social da empresa. Para balizar o “relançamento” do programa de voluntariado, a organização passou por uma reflexão estratégica exclusiva para o tema.

“Quase todas as grandes empresas têm voluntariado, mas geralmente é uma ação sem estratégia, não integrada à empresa”, ressalta Adriana Deróbio, gerente de projetos do IDIS, que assessorou, em 2013, a Fundación Mapfre em seu processo de reavaliação. “Uma reflexão estratégica participativa é uma oportunidade de aprimorar pontos que não estão funcionando bem e fortalecer o que já é bem sucedido”, explica a gerente de projetos.

O planejamento é um processo complexo, que envolve tanto diretores quanto funcionários da empresa, bem como os beneficiários. Ele envolve uma série de procedimentos, como pesquisas, diagnósticos, estabelecimento de objetivos, desenvolvimento de planos de ação e até mesmo a criação de um manual que guie a ação dos voluntários. O objetivo é tornar o voluntariado mais efetivo, pois “os programas corporativos podem ter grande poder de transformação, já que envolvem muitas pessoas e ações para uma causa”, afirma Adriana.
Como a elaboração de um planejamento estratégico depende uma análise aprofundada dos vários elementos envolvidos no projeto, a Fundación Mapfre passou 2013 inteiro reavaliando seu voluntariado, que vai ser relançado este mês, de acordo com Alessandra. “Queremos oferecer uma gama de oportunidades mais permanentes de participação para nossos funcionários; antes, tínhamos apenas ações pontuais”, acrescenta a representante da Mapfre.

O planejamento estratégico, no entanto, não serve apenas para as empresas que querem aprimorar um programa já existente. Ele também é muito útil para quem está partindo do zero. Este é o caso da Fundação André Maggi, que está usando a ferramenta para criar um novo cenário futuro para seus Programas e Projetos. Entre eles, está o voluntariado dentro do Grupo Maggi, que atua em diversos setores, como o elétrico e o agrícola. “Nossos funcionários têm grandes expectativas em implantar um programa”, diz a supervisora social da fundação, Aletéa Rufino. O problema, segundo ela, é que “a empresa tem unidades em vários municípios, e administrar um programa é complicado nessa situação”.

No caso da Fundação André Maggi, que conta no momento também com assessoria do IDIS, a discussão sobre o voluntariado apareceu dentro de um contexto maior, em que toda a entidade estava passando por uma revisão estratégica. Como explica Aletéa, “o que é interessante para Cuiabá não necessariamente vai funcionar em um município menor”. A intenção é colocar diversas propostas para votação interna na empresa até novembro, e implantar um piloto no começo de 2015.

Aletéa, no entanto, admite que a conclusão do planejamento estratégico pode até ser que agora não é a hora de criar um programa de voluntariado. A representante da Fundação André Maggi explica o porquê da cautela: “É todo um trabalho que precisa ser muito bem pensado, por causa das pessoas que estão do outro lado, com as quais queremos trabalhar”.

Para saber mais sobre como o IDIS pode apoiar sua empresa ou organização tanto no planejamento estratégico como no desenho de um programa de voluntariado, entre em contato com comunicacao@idis.org.br.

Investimento Social Privado deve voltar a se preocupar com inovação

O que o sistema nacional de atendimento de emergência dos Estados Unidos – o 911 tão falado nos filmes – e um dos primeiros laboratórios de pesquisa sobre Aids têm em comum? Ambos foram criados com financiamento de recursos filantrópicos. O espírito de inovação por trás desses investimentos, no entanto, parece ter ficado no passado: hoje os filantropos procuram direcionar seus recursos para ações seguras. O desafio é fazer com que parte desse dinheiro volte para projetos mais arriscados, mas com grande capacidade de mudança.

Dois membros do Monitor Institute, iniciativa da consultoria Deloitte, mergulharam fundo nesta questão em um artigo no site da Stanford Social Innovation Review. Gabriel Kasper e Justin Marcoux diagnosticaram o problema, mostraram possíveis soluções para que a filantropia retome seu caráter inovador e abordaram um projeto lançado para recolocar o tema na agenda do investimento social privado.

Para os autores, a radicalização da filantropia estratégica fez com que os investidores procurassem projetos com resultados cada vez mais certos e mensuráveis. “Os financiadores estão às vezes tratando os financiados como empregados, pagos apenas para executar planos pré-definidos”, escrevem. Com isso, os temas complexos são deixados de lado.

O artigo usa um dos cases de maior sucesso nos últimos anos como exemplo: as redes ou véus protetores de cama, distribuídos na África para diminuir a incidência de malária ao afastar o mosquito transmissor. É uma iniciativa muito barata e de retorno quase imediato. Mas, aponta o texto, a Fundação Bill & Melinda Gates está buscando uma solução mais radical e definitiva: uma alteração genética para que os mosquitos não transmitam a doença. É um projeto arriscado e de resultado incerto, mas, se bem-sucedido, terá resultados de grande impacto.

Uma frase citada pelos autores, do ex-diretor da Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas do Departamento de Energia dos Estados Unidos, Eric Toone, representa bem o que está em jogo: “Quando se faz inovação, a primeira questão não é ‘isso vai funcionar?’, mas sim ‘faria diferença se isso funcionasse?’”. Kasper e Marcoux explicam: “Financiadores da inovação trocam a probabilidade de sucesso por um potencial maior de impacto”.

A questão toda passa por uma redefinição da ideia de risco. Para os autores, tanto as empresas quanto o governo têm pouca margem para arriscar-se: os primeiros por deverem explicações a seus acionistas; os segundos, a seus eleitores. Em comparação, investidores sociais têm “discrição extraordinária para experimentar e tentar coisas novas”.

Kasper e Marcoux descrevem em detalhes cinco passos, citando exemplos, para que o investimento social privado possa reencontrar o caminho da inovação: achar novas soluções; selecionar aquelas com maior potencial de transformação; apoiar as selecionadas; medir o impacto; dar escala ao projeto.

O objetivo da inovação, no entanto, não deve ser seguido cegamente. Assim, escrevem os autores, “em questões nas quais já existam soluções funcionando, às vezes é mais importante colocar foco na escala e melhora de abordagens já conhecidas do que experimentar novas abordagens”. Ou seja, não se deve abandonar o que já existe para buscar algo inovador. A rede que afasta o mosquito deve conviver com o projeto para alterar a genética do inseto.

Até por isso, notam Kasper e Marcoux, a inovação não é uma alternativa à filantropia estratégica. “Ao contrário, financiar a inovação é parte da filantropia estratégica.” Ou seja, apenas uma parte dos recursos deve ser destinada à inovação, mantendo o resto em ações comprovadas e seguras.

Cabe a cada organização, portanto, encontrar o equilíbrio entre a quantidade de recursos para financiar inovação e para manter atividades já estabelecidas. E, como concluem os autores, “abraçar a exploração, a experimentação e o risco pode, na verdade, ajudar a filantropia estratégica a encontrar o equilíbrio correto e fazer um trabalho ainda melhor no tratamento dos problemas sociais mais urgentes do mundo”.

Estudos Tentam Desvendar Estímulos Cerebrais Ligados à Doação

A oxitocina é um hormônio considerado fundamental para a criação de laços familiares, como as relações maternais e maritais. Mas também está por trás de atos de doação, a ponto de se poder dizer que doar é como participar de uma “família sintética”.

É isso que mostra o professor de finanças da Texas Tech University, Russell James 3º, no texto “Brain studies and donor decision making: what do we know”, publicado na edição de inverno do periódico Advancing Philantropy, da Association of Fundraising Professionais (a associação norte-americana, canadense e mexicana de captadores de recursos, semelhante à tupiniquim ABCR).

O autor faz, no texto, um apanhado de várias pesquisas neurológicas que tentam explicar atos de caridade. Cita um estudo que usou injeções de oxitocina para mostrar que os mecanismos cerebrais por trás das conexões familiares são os mesmos ligados a atos de doação.

James 3º também menciona pesquisas segundo as quais o toque humano, seguido de um presente, aumenta a presença do oxitocina, também levando a uma maior propensão à doação. Não por acaso, apertos de mão, abraços e prêmios para doadores são técnicas muito usadas em eventos de arrecadação, sugere o texto.

“De uma perspectiva neural”, compara James 3º, “a doação é menos parecida com uma transação comercial e mais semelhante a compartilhar um jantar em família”. Ele ainda sugere: “O entendimento das relações entre um doador e uma organização como uma ‘família sintética’ pode indicar estratégias de captação”.

Nas doações via legado, ou seja, deixadas em testamento, imagens do cérebro feitas por ressonância magnética funcional indicam que o critério de escolha da organização beneficiada não costuma ser a eficiência, mas sim o quanto ela está relacionada com a história de vida do doador. Segundo o professor, esse tipo de ato é “como escrever o capítulo final de sua biografia”.

Outros estudos com imagens cerebrais apontam, no entanto, que deixar os recursos para amigos e familiares ativa mais fortemente áreas do cérebro relacionadas a memórias e emoções do que doar em testamento para organizações. Consequentemente, este último tipo é mais raro. James 3º vê nisso outra oportunidade de captação de recursos.

“Quando uma entidade consegue ligar sua causa a algum amigo ou familiar do doador, há um aumento substancial na possibilidade de receber uma doação via legado”, escreve. Pessoas com casos de câncer na família, por exemplo, seriam mais suscetíveis a deixar recursos para organizações que lidem com esse tema.

Outras descobertas

A primeira pesquisa a usar técnicas de análise cerebral para explicar comportamentos donativos foi publicada no Brasil em 2006, segundo James 3º, e mostrou que a decisão de doar ativava áreas de “recompensa” do cérebro. Mais ainda, indicou similaridades neurológicas entre os atos de dar e de receber dinheiro. “Da perspectiva da felicidade neural instantânea, doar pode ser na verdade uma grande aquisição para o doador”, afirma James, referindo-se ao prazer gerado pelo ato.

Um trabalho do Instituto de Tecnologia da Califórnia sugeriu que, embora o sentimento de realização seja o mesmo, tal sensação tem origens diferentes em cada caso. A doação ativa duas partes do cérebro: uma usada quando se toma a perspectiva de um terceiro pessoa, e a outra relacionada à capacidade de empatia. De certa forma, isso explicaria, segundo o autor, um efeito chamado de “vítima identificável”. “As pessoas tendem consistentemente a doar para beneficiar uma só e identificável vítima do que para milhares de pessoas.”

Há indícios, ainda, de que a doação mobiliza partes do cérebro relacionadas a ligações e reconhecimentos sociais. Até por isso, cientistas japoneses mostraram que os indivíduos sentem-se mais recompensados quando doam publicamente. “A caridade pode ser recompensadora, mas é mais ainda quando outras pessoas percebem o que você está fazendo”, resume James 3º.

Por fim, o professor afirma, após sintetizar uma série de pesquisas, que as novas técnicas de análises cerebrais podem ajudar arrecadadores de recursos. “Em vez de remover a ‘arte’ da captação de recursos, os achados científicos parecem reforçar a importância do lado mais humano das nossas interações”, diz James 3º, que conclui: “No fim, a ciência cerebral parece nos mostrar que a arrecadação é, acima de tudo, uma questão do coração”.

 

 

Pesquisa IDIS/IPSOS Public Affairs: Retrato da Doação no Brasil

Estudo revela novos aspectos do comportamento do brasileiro em relação à doação: a) Brasileiros não se sentem estimulados para doação e voluntariado; b) Brasileiros doam mais para pedintes de rua e igrejas do que para organizações da sociedade civil; c) 84% da população desconhece que pode fazer doações utilizando parte do Imposto de Renda; d) Crianças e idosos são grupos populacionais que mais sensibilizam a população para doações em dinheiro.

São Paulo, fevereiro de 2014 – O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e a Ipsos Public Affairs divulgam os resultados da pesquisa Retrato da Doação no Brasil, em um estudo que traça o perfil do brasileiro em relação às doações e causas sociais.

O levantamento realizado em três etapas e que ouviu mil pessoas em cada fase, em 70 cidades do Brasil, sendo nove regiões metropolitanas, concluiu que o hábito de doar, seja tempo ou recursos, não faz parte da cultura do brasileiro. Um exemplo disso é que 73% não se sentem estimulados pelo seu círculo de convivência (família, comunidade, escola e trabalho) a realizar doações ou trabalho voluntário. “A Copa do Mundo Fifa, que se aproxima, bem como os Jogos Olímpicos, em 2016, são eventos que poderão contribuir para incentivar o voluntariado no País e o governo pode aproveitar este momento para fomentar a cultura de doação junto à sociedade”, analisa Paula Jancso Fabiani, diretora executiva do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.

Em relação à doação em dinheiro, poucos brasileiros tiram a mão do bolso, mas quando o fazem destinam as doações para pedintes (30%), para igrejas (30%) e, em terceiro lugar, para organizações da sociedade civil (14%). “O aumento da renda média da população não parece estar refletida no percentual da população que doa. Um dos motivos que pode explicar essa tendência é a percepção do brasileiro de que o governo está preenchendo essa lacuna, com políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família”, pondera Paula Jancso Fabiani, diretora executiva do IDIS.

1 – Brasileiros ajudam mais pessoas pedintes de rua e igrejas que organizações da sociedade civil:

Ipsos 2014 Graf 1

2 – Os brasileiros da região Nordeste são os mais sensíveis a doar para pedintes, enquanto os da região Norte e Centro-Oeste doam mais para organizações da sociedade civil e igrejas quando comparados com os das outras regiões:

Ipsos 2014 Graf 2

3 – Do total de doações, as classes C, D e E doaram mais para pedintes de rua e para igreja em comparação as classes A e B, que doam em proporção maior para organizações:

Ipsos 2014 Graf 3

4 – Em relação às causas que inspiram os brasileiros a doar, crianças estão em primeiro lugar (33%), seguidas de idosos (18%), saúde (17%) e educação (7%).

5 – Outro ponto que merece atenção é o motivo para poucos brasileiros doarem. Do total de entrevistados, 58% informaram que não têm dinheiro, enquanto 18% afirmaram que não doaram porque ninguém solicitou e 12% porque não confiam nas organizações. A pesquisa também descobriu que 85% dos entrevistados não recebeu nenhum pedido de doação provenientes de organizações nos últimos 12 meses:

Ipsos 2014 Graf 4

“Números indicam que também falta a ‘cultura de pedir’ por parte de quem precisa dos recursos. Esse resultado reforça a percepção de que há muito espaço para o crescimento das doações, a partir de um trabalho de captação estruturado e persistente”, afirma Paula.

6 – Em relação aos mecanismos de doações dedutíveis do Imposto de Renda, o desconhecimento dos brasileiros é grande: 84% disseram não conhecê-los:

Ipsos 2014 Graf 5

Esse percentual é significativo e indica o potencial de crescimento para doações realizadas via incentivos fiscais. Segundo Paula Fabiani, “atualmente a dedução praticamente só pode ser realizada quando a doação é para projetos via leis de incentivos ou Fumcad – Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. O ideal é que haja a ampliação do incentivo fiscal para dar liberdade para o doador beneficiar diretamente as organizações da sociedade civil”.

Metodologia da pesquisa Public Affairs – A pesquisa Ipsos Public Affairs foi realizada em três etapas: julho, outubro e dezembro de 2013, a partir de entrevistas quantitativas com mil pessoas em cada rodada. A primeira etapa foi probabilística para a seleção dos municípios: 70 municípios do Brasil, sendo nove regiões metropolitanas. Na segunda etapa foram selecionados aleatoriamente setores censitários para compor a amostra e as entrevistas foram realizadas nos domicílios a partir de cotas das variáveis  sexo, idade, ocupação, nível sócio econômico e nível de escolaridade. A margem de erro da pesquisa Ipsos Public Affairs é de 3 pontos porcentuais, com coeficiente de confiança de 95%.

** Percentuais baseados nos entrevistados que utilizaram pelo menos um canal de comunicação para entrar em contato com alguma empresa nos últimos 12 meses.

Informações à imprensa – G4 Solutions
Tamer Comunicação Empresarial
Geyse Alencar – geyse@tamer.com.br
(11) 3031-2388// 9-9940-0128

Especialista Cria Blog Para Ajudar Pequena e Média Empresa a Desenvolver Investimento Social

Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a maioria das grandes corporações desenvolve algum tipo de investimento social privado, a ponto de alguns projetos ficarem bem conhecidos do grande público, como a campanha sobre câncer de mama do Instituto Avon ou o McDia Feliz. Lá (e talvez também aqui) há um enorme grupo de empresas sem atuação social: as pequenas e médias.

É de olho nesse público que a norte-americana Rachel Hutchisson, diretora de cidadania corporativa e filantropia da Blackbaud, Inc. –empresa de tecnologia especializada em soluções para o terceiro setor- criou o blog Business Doing Good, com dicas práticas para que pequenos e médios empresários construam seu investimento corporativo do zero.

Em um post de apresentação do site, a própria Rachel deixa claro que a realidade é diferente dentro da pirâmide social corporativa: “Este blog é para o resto de nós, para aqueles que até podem estar informados sobre o que os ‘caras grandes’ estão fazendo, mas precisam de conselhos práticos para construir projetos nos pequenos e médios negócios em que milhões de pessoas trabalham todos os dias”.

Logo de início, Rachel fez uma série de textos que serve praticamente como um passo a passo para que esse nicho de empresários consiga se familiarize com o investimento social privado. Para mostrar a importância do planejamento, a primeira frase da primeira postagem é: “Doar dinheiro é difícil”.

A especialista lembra que muitas empresas acabam doando esporadicamente, conforme chegam pedidos e de acordo com o gosto de seus donos ou dirigentes. Para ser estratégico e realmente realizar o investimento social privado, no entanto, é preciso agir de maneira diferente. O primeiro passo é levantar o valor de tudo o que sua empresa faz para a comunidade, como doações em dinheiro, em produtos e em apoio a eventos.

As etapas seguintes, descritas de modo muito didático nos textos no site, falam sobre como: escolher uma causa, determinar um orçamento para investimento social, definir a estrutura jurídica dentro da qual se vai investir (uma fundação, um instituto…), usar maneiras não tradicionais de expandir suas doações, criar políticas filantrópicas tanto para dentro quanto para fora da empresa, lidar com pedidos de doações.

Atualmente, o blog também está publicando dicas práticas para pequenos e médios empresários que queiram criar programas de voluntariado em seus negócios.

Além de servir como um guia, o Business Doing Good traz conteúdo para quem se interessa por temas ligados ao investimento social privado empresarial. Por exemplo, o blog periodicamente apresenta exemplos de empresas inovadoras em sua ação social, como a 2 Degrees Food, que doa alimentos ao mesmo tempo em que vende barras de cereais.

Falta de Prestação de Contas é Principal Motivo Para Cancelamento de Títulos de Utilidade Pública; Veja Como Evitar Problemas

Os títulos de Utilidade Pública Federal (UPFs), emitidos pelo Ministério da Justiça, funcionam como um reconhecimento do Governo Federal aos importantes serviços prestados por organizações da sociedade civil (OSCs). Além disso, atestam a credibilidade de uma OSC frente à sociedade e, em certos casos, são um pré-requisito para as entidades firmarem parcerias com o poder público. Se obter o UPF exige trabalho, perdê-lo é bem fácil.

Em 2013, mais de 600 organizações foram descadastradas. “O principal motivo foi elas terem deixado de prestar contas regularmente, em especial em relação aos últimos três anos”, afirma Fernanda Alves dos Santos, diretora do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação da Secretaria Nacional de Justiça, órgão do Ministério responsável pela concessão e controle dos UPFs.

Em entrevista ao site do IDIS, Fernanda falou sobre os procedimentos para obter o título, deu orientações para evitar que o pedido seja denegado e explicou como manter o certificado sem problemas. A boa notícia é que o site do Ministério da Justiça tem informações detalhadas para quem busca a certificação.

IDIS: O que é preciso para pleitear um título de Utilidade Pública Federal?

Fernanda Alves dos Santos: Há alguns requisitos, como a entidade estar formalmente constituída no país, ter personalidade jurídica, estar em funcionamento contínuo, ter existência de no mínimo três anos e não remunerar dirigentes nem distribuir lucros. Para a questão dos três anos de existência, é importante também um relatório bem consubstanciado das atividades que realizou e da contribuição que deu à sociedade nesse período. Também tem de mostrar que vem organizando toda a prestação de contas adequadamente, que publica despesas e receitas, seu balanço atual. Em essência, são esses os documentos.

IDIS: Se a organização não cumprir algum desses requisitos o pedido já é indeferido?

Fernanda Alves dos Santos: Se não apresentar um dos documentos, nós já não conseguimos verificar se a entidade cumpre todos os requisitos previstos na lei. Um ponto para o qual nós sempre chamamos atenção é para que a organização tenha muito cuidado na hora de preparar a documentação para solicitar o título, para que não falte nenhum documento. O maior motivo de indeferimento é a falta de documentação completa. Outro elemento que causa indeferimento é a necessidade de que no estatuto haja uma cláusula prevendo que não se remunere os dirigentes nem distribua lucros.

IDIS: Pode-se entregar depois o documento que faltou?

Fernanda Alves dos Santos: Não se abre a possibilidade de diligência. Tem a análise, e o processo é deferido ou não. A análise é ministerial, inclusive passa pelo próprio ministro. Depois, nós abrimos o prazo para recurso caso o processo seja indeferido. Nessa oportunidade, a entidade pode apresentar a documentação que falta. Nós sempre recomendamos que as organizações entrem no site do Ministério da Justiça, onde há um checklist, modelos de documentos, tudo para tentar fazer com que o pedido seja realizado da forma mais completa possível. Se surgirem dúvidas sobre como prover um documento, há modelos disponíveis no site, para evitar que haja uma denegação de pedido só porque a entidade esqueceu de apresentar alguma documentação necessária. Nós temos também um serviço de atendimento às organizações pelo e-mail sac.dejus@mj.gov.br.

IDIS: Quanto tempo demora o processo de análise até se obter o título?

Fernanda Alves dos Santos: Dentro da nossa unidade, uns 45 dias. A questão é que depois ele sobe para outras instâncias. Este processo leva um pouco mais de tempo porque passa por distintas autoridades. A média tem sido uns 60 dias, passando por toda a cadeia.

IDIS: O título tem de ser renovado?

Fernanda Alves dos Santos: Não há renovação. O que há é uma manutenção do título pela prestação de contas permanente. A organização tem a obrigação de prestar contas anualmente ao Ministério da Justiça. Isso é feito por meio do nosso cadastro nacional, porque essas informações são disponibilizadas para a sociedade monitorar, acompanhar e controlar. As organizações têm de entrar no sistema e prestar contas do exercício anterior. O que acontece é que se a entidade deixa de prestar contas por três anos consecutivos, isso abre a possibilidade de cassação do título. Este é o principal motivo de porque no ano passado nós cassamos títulos de mais de 600 organizações. O que nós fazemos anualmente é liberar, a partir do momento em que se realiza a prestação de contas, uma certidão de regularidade.

IDIS: O principal motivo de cancelamento é a não prestação de contas por três anos?

Fernanda Alves dos Santos: O principal é este, mas é claro que existem outros, como denúncias que são realizadas por meio de representações administrativas. Também verificamos se, depois de um determinado período, a entidade deixou de cumprir algum requisito para que o título seja concedido. E aí entram, em geral, a questão da remuneração de diretores, alguma mudança no estatuto, ou até mesmo alguma decisão judicial, que podem levar à cassação do título.

IDIS: Se a organização perde um período de prestação de contas, ela pode depois prestar essa conta atrasada e regularizar sua situação?

Fernanda Alves dos Santos: Vamos supor que ela vinha prestando contas até 2011. Em 2012, quando deveria ter prestado contas do ano anterior, não prestou. De pronto, ela não vai ter a certidão de regularidade. Agora, se deixa de prestar por três anos consecutivos, isso abre possibilidade para a cassação. A gente faz uma primeira notificação no Diário Oficial, não cassa de imediato. Se a entidade prestar contas neste período, não vamos abrir a cassação. Se mesmo notificada, ela não presta contas, nós abrimos a cassação. Cassado o título, a organização tem de entrar com um pedido para se qualificar de novo. Nós sempre analisamos a informação de que a organização já passou por um cancelamento. Ela vai solicitar uma nova análise e vamos tentar entender porque deixou de prestar contas, porque ficou paralisada. Este é um elemento que é considerado na nossa segunda análise. Tendo conseguido o título, não deixe de prestar contas sob pena de perdê-lo. Essa é uma atividade relevante, porque é quando a organização informa à sociedade, através do nosso cadastro, o que vem realizando, que atividades vem desenvolvendo. É uma informação que o Ministério da Justiça considera extremamente rica e relevante. Vamos também lançar, ainda neste semestre, um novo manual atualizado para organizações, pois nós desburocratizamos alguns procedimentos e atualizamos o texto.

IDIS: Que tipo de procedimento foi desburocratizado?

Fernanda Alves dos Santos: A própria prestação de contas. A organização tinha de imprimir a prestação, assinar e mandar para o Ministério da Justiça. Hoje, fazemos a análise direto no sistema. A organização só tem de enviar algo se por acaso detectarmos alguma informação que precisa ser conferida e validada. É um processo muito mais célere, seguro, e a gente tem inclusive recebido um retorno muito bom a partir dos resultados desses procedimentos, que foram implantados no ano passado.

GIFE Realiza em Março seu Oitavo Congresso e Coloca em Discussão a Capacidade Transformadora do Investimento Social

18/02/2014 – Será realizado em março, em São Paulo, entre os dias 19 e 21, a oitava edição do Congresso GIFE, evento que pretende reunir mais de 1000 pessoas interessadas em discutir as principais questões colocadas sobre o investimento social brasileiro.

A programação oficial do Congresso GIFEacaba de ser lançada e ao longo do Congresso dezenas de palestrantes nacionais e internacionais estarão à frente das plenárias, mesas e atividades abertas. O IDIS participará de uma mesa com a presença da sua Diretora Executiva, Paula Jancso Fabiani.

A oitava edição do Congresso GIFE será norteada por questões como:Quais foram os reais impactos gerados pelo investimento social nos últimos 20 anos? Quais são os atuais desafios estabelecidos para este investimento? O que fazer para que ele seja no futuro cada vez mais transformador da sociedade?

Pamela Ribeiro, coordenadora de conhecimento do GIFE e responsável pela programação do Congresso, destaca que o grande diferencial desta edição do evento – que acontece a cada dois anos desde 2000 – é que ele traz temas mais amplos e urgentes colocados pela sociedade civil, aproximando o investimento social destas questões.

“Procuramos construir o Congresso tendo como base dois cenários atuais. O primeiro é que hoje o investimento social está muito mais dinâmico e heterogêneo e se alinha, cada vez mais, à estratégia de sustentabilidade e negócio das empresas. E, o segundo, ele está inserido dentro de uma sociedade civil e não pode trabalhar de forma isolada. Ele tem que ser pensado e articulado a todos os outros atores sociais que existem. Ou seja, sua relevância passa a estar vinculada à capacidade de fortalecer outras dimensões da atuação social, seja pelo aprofundamento da responsabilidade social empresarial, pela contribuição às políticas públicas ou pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil”, destaca.

Para dar luz a estas questões, a programação foi construída a partir de quatro eixos centrais: inovação, impacto, escala e redes.

Durante todo o Congresso, serão promovidas ainda oficinas, lançamentos de livros e atividades abertas, com ações organizadas por associados e parceiros. A programação aberta tratará de temas atuais do investimento social transformador em diálogo com a programação oficial. Entre as discussões estarão assuntos como transparência e accountability, ampliação da cultura de doação, a relação entre institutos e fundações e suas mantenedoras e as possíveis conexões entre o investimento social privado e políticas públicas.

Para saber mais informações e participar do Congresso, basta acessar a página www.congressogife.org.br.

Fonte: GIFE.

POR QUE OS INVESTIDORES SOCIAIS BRASILEIROS NÃO DIVULGAM O QUANTO DOAM?

O jornal quinzenal “The Chronicle of Philantropy” faz, todo ano, uma lista das maiores doações feitas publicamente por norte-americanos. Considerando apenas as maiores de 1 milhão de dólares, foram doados U$ 9,6 bilhões em 2013. No Brasil esses números são desconhecidos – aqui, não se sabe quanto, ou mesmo se, os detentores de grande fortuna doam a causas sociais. Para entender essa realidade, o IDIS convidou quatro especialistas para comentar. Entre os pontos em comum observados, eles indicam a necessidade de criar uma cultura de doação (ainda incipiente no Brasil, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos) e a importância de falar publicamente sobre doações para inspirar outras pessoas.

Alguns apontaram, no silêncio dos milionários brasileiros, razões de segurança; outros veem um problema mais de fundo, a desigualdade social, que faria a elite viver em uma redoma e, por isso, não ter senso coletivo.

Veja abaixo os principais trechos das respostas.

Joana Mortari, diretora da Associação Acorde:

“Nos Estados Unidos, declarar a doação é algo positivo e valorizado. As pessoas doam para inspirar e também para serem reconhecidas e admiradas. No Brasil, a admiração está apenas no ganhar, e não no doar. Os valores são diferentes.”

“Muitos aqui dizem que o problema é a falta de incentivo fiscal para doação. Mas, se doar fosse um valor e gerasse reconhecimento social (status), as pessoas tirariam do caixa e não ficariam esperando um dinheiro de renúncia fiscal para doar – dinheiro que, aliás, é considerado para muitos como do governo, já que o poder público está abrindo mão de um recolhimento. Incentivo ajuda, mas a falta dele não é o centro do problema.”

“O norte-americano tem um sentimento de construção coletiva da nação, de corresponsabilidade com o governo na construção do país. Já no Brasil nós delegamos ao governo e ponto. Assim, há uma sensação coletiva de que se pagamos os impostos, fizemos nossa parte. Nesse contexto, declarar grandes doações inspira mais críticas do que seguidores. Acrescente a isso que existe um problema de segurança, e pronto: não há nenhum bom motivo mesmo para declarar doações.”

“Precisamos mudar esse sistema de valores ao fomentar a cultura de doação. Quando doar for motivo de orgulho e reconhecimento social, fazer o ranking será o mais fácil.”

Paula Fabiani, diretora-executiva do IDIS:

“Temos poucos dados nessa área. Estudos como o Censo e a Pesquisa de Orçamento Familiar, ambos do IBGE, não abordam de forma direta a questão da doação no país. Os bancos tampouco mapeiam os valores relativos à doação de seus clientes de alto poder aquisitivo. E as informações das declarações de Imposto de Renda também não nos fornecem um bom panorama, pois há poucas possibilidades de utilização de incentivo fiscal (o que não estimula o doador a declarar a doação), a declaração de Imposto de Renda simplificada não permite informar a doação, e o universo de declarações completa se restringe a algo em torno de 10 milhões de brasileiros.”

“Faltam motivadores para a declaração da doação, pois o governo não realiza campanhas nem dá suporte para incentivar esse tipo de atitude.”

“Existem evidências para se pensar que o investidor social privado é relutante em expor os valores de doação. Uma razão importante é o fato de as doações ocorrerem via empresa, para a qual há incentivos fiscais mais abrangentes. Outro motivo reportado por alguns é a questão da segurança. Além disso, a exposição gera um aumento no volume de solicitações de doações.”

“Não existem estudos que demonstram um panorama das grandes doações individuais, como ocorre nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. A inexistência dessa informação dificulta a identificação do tamanho do setor filantrópico e sua evolução ao longo dos anos, assim como a própria ação das organizações da sociedade civil na captação de recursos.”

“Em 2013, assistimos à maior doação individual do ano nos Estados Unidos, e de um indivíduo com menos de 30 anos: Mark Zuckerberg, cofundador do Facebook doou US$ 1 bilhão para a Silicon Valley Community Foundation. Não temos informações dessa natureza para inspirar nossos investidores sociais no Brasil.”

“Os filantropos brasileiros precisam se sentir parte de uma comunidade e, para isso, precisam de informações sobre essa comunidade. É imperativo realizar um mapeamento periódico que permita ao setor e ao governo buscar políticas públicas mais favoráveis e acompanhar o impacto destas no desenvolvimento do setor filantrópico no país.”

Marcos Flávio Azzi, fundador do Instituto Azzi

“O topo de tudo é a falta de senso coletivo, a vida ‘guetizada’ que as pessoas vivem. Pode-se tranquilamente viver num oásis de primeiro mundo, completamente isolado do Brasil como um todo. Disso, derivam todos os problemas.”

“O senso coletivo da classe baixa é maior. Ela vive a realidade, usa os instrumentos públicos, o hospital, a escola, o transporte coletivo, o parque.”

“Aqui, a pessoa não é elogiada por fazer doação nem recriminada por não fazer, e isso já abre um abismo entre a gente e os norte-americanos”

“Ter comportamento altruísta é doar uma parcela relevante do patrimônio, de forma recorrente, com um objetivo específico e impessoal, sem esperar algum tipo de benefício. Aqui, as pessoas de alto poder aquisitivo fazem exatamente o oposto: a doação é esporádica, não é recorrente, é irrelevante em relação ao patrimônio e, geralmente, visando algum benefício – porque um amigo pediu ou tem algum incentivo fiscal”.

“Mais importante do que ter incentivos fiscais é ter desincentivos para não doar. Nos Estados Unidos, as heranças são taxadas em 50%, enquanto em São Paulo são só 4%. Os norte-americanos não doam porque há incentivos, mas sim porque ser filantropo vem de berço – isso é que forçou a criação dos incentivos”.

“Para melhorar a situação do investimento social privado no Brasil, é preciso aproximar cada vez mais a classe alta do coletivo, usando instrumentos que tornem o coletivo mais presente; o incentivo fiscal é importante, claro, mas tem de fazer umas 20 coisas para reverter a situação atual”.

Anna Maria Peliano, pesquisadora do Ipea, coordenadora do estudo “Benchmark do investimento social corporativo”

“Há pesquisas sobre empresas, mas não para doações individuais, ainda que o investimento social privado de negócios familiares tenha a ver com as opiniões dos donos. A situação lembra a da filantropia corporativa de duas décadas atrás. O investimento social corporativo na década de 90 também não era divulgado, não se valorizava falar sobre isso”.

“O brasileiro não tem tradição de divulgar doações, diferentemente dos Estados Unidos. É importante falar sobre investimento social privado, principalmente os grandes doadores. Isso estimula os outros a fazerem o mesmo e cria uma cultura de doação”.

“Para melhorar o ambiente do investimento social privado no Brasil, é preciso estruturar, organizar, divulgar. A sociedade começa a valorizar, a ver que não é só promoção individual. Deve-se trazer exemplos, estruturas, práticas.”

 

 

Bilionário Aproveita o Fórum Econômico Mundial em Davos para Estimular Filantropia

“É importante que pessoas que tenham uma quantidade razoável de dinheiro façam algo útil com ele em vez de apenas comprar iates, casas ou coisas do tipo”, disse o bilionário norte-americano David Rubenstein durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. Rubenstein é CEO do Grupo Carlyle, um dos maiores fundos de private equity do mundo.

“Em algum momento da vida, as pessoas percebem a necessidade de fazer algo, de devolver à sociedade”, declarou Rubenstein em entrevista ao canal de televisão Bloomberg. E o CEO faz o que prega: é um dos signatários do The Giving Pledge, iniciativa criada por Bill Gates e Warren Buffet que busca comprometer as pessoas mais ricas do mundo a doarem ao menos metade de seu patrimônio.

Rubenstein afirmou também que um dos objetivos é internacionalizar a lista de pessoas envolvidas com o The Giving Pledge. Atualmente, há cerca de 120 signatários, mas a grande maioria é dos Estados Unidos. “Estamos trabalhando cada vez mais para conseguir pessoas de fora do país”, afirmou ele, que vai promover, junto com Bill Gates, um almoço para reunir quem já se comprometeu e possíveis aderentes à causa. O Fórum Econômico Mundial, que reuniu algumas das pessoas mais ricas do planeta, é, sem dúvida nenhuma, um ótimo lugar para buscar novos membros.

A entrevista também abordou o papel dos doadores enquanto exemplos para os outros. “Se você for um modelo, outras pessoas podem ver alguém que queiram imitar”, disse Rubenstein, que ainda completou: “Se você fala sobre isso e explica o que está fazendo, pode ter algum impacto nas pessoas com quem trabalha”.

O bilionário, no entanto, não alimenta ilusões sobre o poder do investimento social privado e disse que esse tipo de iniciativa não vai resolver a crescente desigualdade social no planeta. “Precisamos nos lembrar, a filantropia não vai resolver todos os problemas do mundo”, afirmou Rubenstein. Ele citou o caso dos Estados Unidos, onde iniciativas filantrópicas representam apenas 2% do PIB – “uma pequena porcentagem”, segundo ele.
Para o CEO, a redução da desigualdade passa necessariamente pela educação. “O problema não pode ser resolvido da noite para o dia, precisamos nos comprometer por algum tempo, mas a educação provavelmente é a chave”, ressaltou Rubenstein.

A filantropia, por fim, não foi o único tema de cunho social tratado no Fórum, um espaço tradicionalmente voltado para a discussão de temas econômicos. Uma breve olhada entre os tópicos mais comentados pelos participantes no twitter mostra a amplitude dos assuntos em pauta. Entre os oito tópicos mais citados há “trabalho”, “crescimento”, “clima” e “mudança”. Assim, não é surpreendente que um dos homens mais ricos tenha trazido a filantropia à tona.

 

Pesquisa Aponta Forte Retomada de Grandes Doações de Pessoas Físicas nos EUA

Um levantamento da The Chronicle of Philantropy, publicação voltada para o setor filantrópico, indica uma forte retomada de grandes doações de pessoas físicas nos Estados Unidos em 2013. Tomando como base apenas valores acima de U$ 100 milhões e doações feitas de maneira pública, a pesquisa mostra que o montante chegou a U$ 3,4 bilhões.

Apenas o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e sua esposa, Priscilla Chan, repassaram quase um terço do valor total. Eles destinaram 18 milhões de ações da empresa de tecnologia, o equivalente a cerca de U$ 990 milhões, para a Silicon Valley Community Foundation. Foi a primeira vez que pessoas com menos de 30 anos lideraram o ranking, segundo olevantamento. No ano passado, o casal já havia ficado em segundo lugar no ranking, doando a mesma quantidade de ações, mas que na época valiam U$ 500 milhões.

Além disso, em 2012, apenas 11 pessoas doaram mais de U$ 100 milhões. No ano passado, foram 16. Isso, segundo a publicação, marcaria uma retomada das grandes doações de pessoas físicas.

No ano retrasado, na verdade, o valor absoluto doado foi maior do que no ano passado: total de U$ 5 bilhões. No entanto, o megainvestidor Warren Buffet ajudou a desequilibrar os números de 2012: sozinho, fez três doações de U$ 1 bilhão para as fundações de seus filhos. Sem a parte de Buffet, os recursos doados por indivíduos (nos parâmetros considerados pela The Chronicle of Philantropy) somaram U$ 2 bilhões. Mesmo com o bom desempenho em 2013, as doações acima de U$ 100 milhões ainda não atingiram as marcas de antes da crise econômica. Em 2007, foi doado um total de U$ 4,1 bilhões.

Ainda assim, a perspectiva é de que o crescimento continue. A editora da The Chronicle of Philantropy, Stacy Palmer, afirmou ao Huffington Post que “as pessoas parecem mais otimistas com a economia, e, certamente, o mercado de ações forte incentivou muitas doações”. Por isso, ela conclui que “parece que teremos um ano melhor”.

Beneficiários

Segundo o estudo, o ensino superior foi quem mais se beneficiou das grandes doações. Das 15 iniciativas que constam da lista, 12 foram para instituições desse setor.

Se Zuckerberg e Priscilla Chan destinaram recursos a uma entidade comunitária, os segundos colocados no ranking investiram forte em pesquisas universitárias. Philip Knight, cofundador da Nike, e sua esposa, Penelope, deram U$ 500 milhões para a Oregon Health and Science University Foundation, voltada a pesquisas sobre câncer.

Já Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova Iorque e fundador de uma empresa de comunicação que leva seu nome, destinou U$ 350 milhões para a Johns Hopkins University, com o objetivo de promover estudos interdisciplinares e dar ajuda financeira para estudantes de graduação.