Diferencias entre Associação e Fundação

Na nota técnica, o IDIS explica quais são as especificidades, vantagens e desvantagens de se criar uma associação ou fundação, enquanto personalidade jurídica para uma organização social. Confira também que algumas nomenclaturas são consideradas fantasia.

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Sustentabilidade: a Construção de uma Nova Gestão Para as Empresas

As gerentes de Projeto do IDIS, Daniela Saraiva Santos e Mirza Laranja, discutem a constante construção dos termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Há mais de 20 anos, pesquisadores, estudiosos e organizações multilaterais debatem a aplicação dos conceitos na gestão das empresas.

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Roteiro para Orientar o Investimento Social Privado na Comunidade

Baseado em trechos do livro do IDIS “A Empresa na Comunidade: um passo-a-passo para estimular sua participação social”, escrito por Carla Cordery Duprat, este documento discute o papel das empresas no desenvolvimento social e apresenta sete passos considerados fundamentais para estruturar o investimento social empresarial.

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Campanha Anual e Campanha Capital de Captação de Recursos

Campanha Anual e Campanha Capital de Captação de Recursos para organizações sem fins lucrativos são termos muito utilizados na teoria internacional de captação de recursos. Estes termos, bastante comuns no repertório das campanhas americanas e européias, são pouco utilizados no Brasil.Esta nota técnica, elaborada pelo coordenador no Brasil da Aliança Estratégia IDIS/The Resource Alliance, Rodrigo Alvarez, tem o objetivo de conceituar quais são as diferenças principais entre esses dois tipos de Campanhas e dar subsídios para que organizações sem fins lucrativos no Brasil avaliem quaisos benefícios de diferenciar seus esforços de captação de recursos entre Campanhas Anuais e Campanhas Capitais.

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Em Evento Sobre Primeira Infância, Diretora Executiva do IDIS se Torna Líder Global

Participando do World Forum on Early Care and Education (Fórum Mundial sobre Atenção à Primeira Infância), em Porto Rico, a Diretora Executiva do IDIS, Paula Fabiani, foi agraciada com o certificado de Global Leader for Young Children, como resultado das ações do IDIS no Programa Primeira Infância Ribeirinha, na Amazônia.

Uma iniciativa da World Forum Foundation, o World Forum on Early Care and Education foi realizado na cidade San Juan, em Porto Rico, entre os dias 6 e 9 de maio, e contou com a presença de representantes do mundo todo, incluindo o Brasil. Políticas públicas de primeira infância, o investimento social de empresas e sustentabilidade das ações foram alguns dos temas tratados no Fórum.

Segundo Paula Fabiani, Diretora Executiva do IDIS, “foi um evento realmente global, com 843 pessoas de 81 países trocando experiências sobre o desenvolvimento da primeira infância. O Brasil, com uma delegação de 8 Global Leaders, se apresenta como país avançado na legislação para a infância e tendo desafios comuns: implementação de políticas públicas e integração dos dados sobre a criança.”

Sobre o certificado recebido pela Diretora Executiva do IDIS, o programa Líderes Globais para a Primeira Infância é uma iniciativa de incidência política (advocacy) da World Forum Foundation que inspira e empodera novas lideranças. Professionais de primeira infância engajados em todo mundo se reúnem para ser treinados, compartilhar experiências, e colaborar. Globalmente e localmente eles se tornam corajosos, defensores inovadores que se levantam para provocar mudança duradoura com crianças e famílias.

Depois de quatro dias de debates e muita troca dentre os participantes, o World Forum on Early Care and Education foi encerrado com uma reflexão sobre como é possível mudar o mundo a partir das diferenças, deixando inspirados os líderes que vão transformar a realidade mundial.

 

 

Edição 2014 do Global Philanthropy Forum Debateu o Papel Dos Indivíduos na Busca por Transformações Globais

Com o tema “Global Goals, Citizen Solutions”, a edição de 2014 do Global Philantropy Forum reuniu nos dias 23 a 25 de abril, na Califórnia, filantropos do mundo e contou, pela primeira vez, com uma delegação de investidores sociais brasileiros, liderada pelo IDIS e pelo GIFE. Dentre os destaques do evento, palestraram o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, e a ex-primeira-ministra da Noruega e membro do grupo The Elders, Gro Brundtland.

GP2014 Logo

O tema da edição deste ano do Global Philanthropy Forum foi “Global Goals, Citizen Solutions” (“Metas Globais, Soluções Individuais”, em tradução livre). Dentre os palestrantes deste ano destacaram-se o Presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, o Presidente da Fundação Ford, Darren Walker, e a ex-Primeira Ministra da Noruega, e membro do Grupo The Elders, Gro Brundtland. O Brasil também contou com duas palestrantes, Paula Fabiani, Diretora Executiva do IDIS, que falou sobre a nova geração de redes de investidores sociais, e Beatriz Gerdau Johannpeter, que debateu a filantropia comunitária no Brasil.

A delegação de brasileiros conduzida pelo IDIS em parceria com o GIFE visitou, na véspera do evento, dia 22 de abril, o escritório do Google na cidade da Califórnia, onde foi recepcionada por Jacquelinne Fuller, Diretora do Google.org. Jacquelinne apresentou à Delegação a estratégia de filantropia global do Google, que procura investir em projetos que reúnam transformação social de impacto e tecnologia, Da delegação fizeram parte filantropos e membros de organizações como Fundação Roberto Marinho, Fundação Bradesco, Instituto Coca-Cola, Instituto Abramundo, e Instituto Votorantim, dentre outros.

Global Philanthropy Forum é uma iniciativa da World Affairs Council, e no Brasil é representado pelo IDIS, que realiza desde 2012, em parceria com a organização americana, o Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, gratuito e exclusivo para convidados. Segundo João Paulo Vergueiro, que é Gerente de Relações Institucionais do IDIS e está responsável pela edição brasileira do Global Philanthropy Forum, ” a versão realizada nos Estados Unidos, é uma referência importante para que saibamos o que a filantropia mundial está debatendo, suas tendências e inovações. A edição brasileira está bastante alinhada com ela e reúne cento e cinquenta  participantes e uma seleção qualificada de palestrantes internacionais e nacionais para se somar aos filantropos brasileiros que compartilham da sua experiência e inspiração.”

Para saber mais escreva para comunicacao@idis.org.br.

 

 

SP Sedia Encontro Global Sobre Inclusão Das Mulheres na Economia da América Latina

Enquanto os olhos do mundo se voltam para o Brasil às vésperas da Copa, um grupo de líderes globais vai se reunir em São Paulo para debater o papel das mulheres na economia da América Latina, discutir maneiras de aumentar a inclusão feminina e entender a relação entre negócios, deenvolvimento e direitos humanos.

Essas serão algumas das questões abordadas no 3º Women´s Forum Brazil, que vai acontecer em 26 e 27 de maio, em São Paulo, e cujo tema será “Criando uma economia próspera para todos”.

Entre os palestrantes estarão a ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci de Oliveira; a diretora da Clinton Global Initiative, Penny Abeywardena; a CEO do Magazine Luiza, Luiza Trajano; e a vice-presidente executiva do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Julie Katzman.

O evento é um desdobramento do Women’s Forum for the Economy and Society (http://www.womens-forum.com/), uma iniciativa criada em 2005 em Paris e que se tornou uma importante plataforma mundial para as mulheres expressarem suas vozes e seus pontos de vista sobre temas econômicos e sociais relevantes.

As inscrições para o evento, que acontecerá no hotel Grand Hyatt, vão até o dia da abertura do encontro, e podem ser feitas no sitehttp://www.womens-forum.com/meetings/women-s-forum-brazil-2014/13/apply.

Privatização Nutre Fundos Patrimoniais Filantrópicos

Em 2013, o professor Lester M. Salamon, diretor do John Hopkins Center for Civil Society Studies, e associados, expuseram os primeiros resultados de um estudo em curso sobre a formação de fundos patrimoniais filantrópicos a partir de processos de privatização — “Philanthropication Thru Privatization – Building Assets for Social Change”. O estudo, apresentado na Alemanha, e que conta com a participação do presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS, Marcos Kisil, trouxe importantes lições sobre os processos de privatização no mundo e acrescentou ao debate uma pergunta capital: de quem é a propriedade de um bem público – rodovia, porto, aeroporto?

A resposta mais simples considera que os bens são do Estado e, portanto, todo e qualquer recurso arrecadado com seu usufruto, venda, concessão etc, deve ir para o Tesouro Nacional.

A resposta mais abrangente, porém, entende esses bens públicos como pertencentes à sociedade que, por meio de seus impostos e taxas, sustenta as estruturas existentes do Estado. Neste caso, a questão ganha uma nova dimensão, pois os recursos arrecadados podem vir a servir também para o fortalecimento da própria sociedade civil e suas organizações.

Buscando conhecer a fundo processos que seguiram a lógica acima, o estudo apresentou informações de mais de 500 organizações filantrópicas que tiveram fundos patrimoniais (endowments) criados como resultado de privatizações, distribuídas em 20 países. O total de ativos destas organizações sem fins lucrativos alcança um valor impressionante de US$ 127,5 bilhões.

Alguns dos casos mais interessantes detalhados no estudo são:

• A experiência mais antiga apresentada envolve a Fundação Volkswagen, na Alemanha. Quando terminou a II Guerra, a propriedade da empresa, que foi fundada durante o regime nazista e foi parte do esforço de guerra, foi alvo de debate pelo governo local, governo federal e sociedade civil. Em 1960 foi organizada a Fundação Volkswagen para ser a proprietária da empresa, sendo que 60% das ações da montadora pertenceriam à Fundação, 20% ao governo federal alemão e 20% ao governo do Estado da Baixa Saxônia. Em 1973, todas as ações da Fundação tinha sido vendidas ao mercado e os 20% do governo alemão foram vendidos nos anos seguintes. Hoje o governo da Baixa Saxônia detém aproximadamente 16% das ações que são negociadas em bolsa.

A Fundação Volkswagen foi a grande beneficiária da valorização e venda das ações, tendo hoje um capital investido em um fundo patrimonial com ativos na ordem de US$ 3,4 bilhões que são empregados em seu foco programático, Ciência e Tecnologia. Em resumo: a empresa foi privatizada, com a venda de 60% de suas ações ao mercado, em um processo no qual uma alternativa interessante foi desenvolvida para atender a demandas da sociedade civil e do governo local: a Fundação Volkswagen. Atualmente, a Fundação já não tem mais ações da Volkswagen e, portanto, nenhuma relação com a empresa, a não ser o nome.

• Em 30 de julho de 1990, o Parlamento italiano aprovou uma lei que teve grandes e positivas implicações para o desenvolvimento sócio-econômico do país. A lei “Amato-Carli” reformou o sistema bancário italiano como parte da reforma do sistema financeiro, e teve como premissa a criação de fundações que fossem acionistas dos novos bancos criados e que, posteriormente, com o sistema fortalecido, venderiam suas ações montando fundos patrimoniais com os recursos obtidos. No total, foram criadas 88 “fundações bancárias”, cujos ativos totalizaram US$ 65 bilhões. Duas dessas fundações – Cariplo e Companie San Paulo – estão entre as dez maiores do mundo quanto ao total de ativos dos fundos patrimoniais. Fundações originárias de privatizações de bancos também surgiram na Áustria (Sparkasse), Inglaterra (Lloyds TSB) e Nova Zelândia (Community Trusts).

• A República Tcheca destinou 1% dos recursos gerados nos processo de privatização na década de 90 para o estabelecimento de um fundo que financiou a formação de fundos patrimoniais de 74 fundações no país. Esta é uma das experiências que demonstra o potencial impacto desta possível estratégia para um governo preocupado com desenvolvimento sustentável de seu setor sem fins lucrativos.

No estudo, a maior parte das organizações analisadas apresentou desempenho, estrutura de governança e gestão acima dos padrões existentes em instituições semelhantes. No geral, são organizações com interesse comunitário local que colocaram os seus países no centro das discussões sobre o papel da filantropia global e desenvolveram tecnologias sociais de destaque.

O estudo encontrou evidências de que as concessões e privatizações podem ser instrumentos poderosos de estruturação de um setor filantrópico permanente em uma sociedade. A captura de recursos privados e a sua destinação de forma perene para propósitos sociais, culturais e ambientais se apresenta como uma estratégia de sucesso em diversos países. Recomendações para a efetivação deste processo são apresentadas no estudo e poderiam ser consideradas pelo governo brasileiro em suas próximas concessões.

Esta é uma rota que, se adotada, fortaleceria a sustentabilidade de organizações do setor sem fins lucrativos, tema que já faz parte da agenda nacional tanto da sociedade civil como do governo federal, na atuação da Secretaria Geral da Presidência da República.

O próprio Ministério da Fazenda, em apresentação do Ministro Mantega realizada dia 02 de dezembro do ano passado, estima em US$ 595 bilhões o total do investimento no Brasil que virá das concessões em infraestrutura nos próximos dez anos. Com base nisso é possível imaginar que a adoção de política semelhante no Brasil traria um extraordinário impacto no terceiro setor, importante parceiro do governo no desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes.

Os resultados apresentados são encorajadores. A criação de fundos patrimoniais perenes, além de ter o potencial de originar novas estruturas para desenvolvimento de soluções para os problemas sociais e ambientais, garante que as organizações e estratégias tenham sustentabilidade no longo prazo, desafio atual de grande parte das organizações da sociedade civil brasileiras.

Para um governo que nas recentes manifestações recebeu críticas sobre sua incapacidade de prestar serviços que são obrigações constitucionais, como em saúde e educação, a presença de uma sociedade civil forte e atuante, não dependente de recursos governamentais, pode se traduzir em melhores soluções e serviços para a população, bem como em elemento promissor contra a corrupção e uso mais eficiente dos recursos públicos.

Artigo de autoria de Marcos Kisil, diretor presidente do IDIS, e  Paula Jancso Fabiani é diretora executiva do IDIS, publicado no Jornal Valor Econômico no dia 05 de maio.

 

 

Crescimento Econômico Pode Impulsar Doações no Brasil, Avalia Gerente da CAF

O primeiro módulo brasileiro do Foundation School 2014, realizado pelo IDIS em São Paulo, discutiu as oportunidades de crescimento de doações decorrentes da ampliação da classe média e da classe alta no Brasil e no mundo. O encontro, em 27 de maio, incluiu uma apresentação sobre o tema feita pelo gerente de política internacional da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), Adam Pickering.

Ele apresentou dados sobre o crescimento dos dois grupos. Segundo o estudo The Wealth Report, por exemplo, o número de pessoas com mais de US$ 100 milhões vai aumentar em todas as regiões do mundo entre 2011 e 2016, com incrementos expressivos principalmente na Ásia, na América do Norte e na América Latina. O Brasil, segundo o Crédit Suisse, tinha, em 2013, cerca de 220 mil milionários. Em 2018, devem ser 407 mil (um salto de 84%).

Já um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico prevê que, entre 2009 e 2030, haverá um crescimento da classe média de 165%, com destaque, principalmente, para Ásia, Oriente Médio e Norte da África.

A classe média brasileira, segundo as estimativas apresentadas por Pickering, terá gastos de cerca de US$ 1,2 trilhão em 2030. Se os brasileiros se comportarem como os britânicos, que doam 0,4% de sua renda, isso representará U$ 4,9 bilhões direcionados ao investimento social privado apenas por indivíduos. Ou seja, o potencial de fortalecimento do setor social privado brasileiro, para Pickering, é enorme.

Apesar das promessas de um futuro brilhante para as doações individuais brasileiras, existem, segundo Pickering, algumas barreiras muito sérias a serem enfrentadas. Por exemplo, o Brasil tem caído no ranking do World Giving Index (WGI), estudo anual da CAF que avalia a solidariedade social com base em três comportamentos: doar, ajudar um estranho, fazer trabalho voluntário. Em 2009, o Brasil estava na 59ª posição; em 2012, caiu para a 91ª.

Além disso, o Brasil sofre com uma desconfiança da sociedade em relação às organizações não governamentais. A pesquisa Trust Barometer, aplicada em vários países, mostra que as ONGs estão sempre no topo da confiança, seguidas pelas empresas, a mídia e o governo. No Brasil, no entanto, as organizações estão em terceiro lugar, à frente apenas do governo.

Uma das propostas apresentadas por Pickering para mudar essa situação e liberar o potencial donativo no país são os incentivos fiscais à doação. Dividindo as nações em quatro faixas de renda (baixa, baixa e média, alta e média, alta), o palestrante mostrou que em todas elas a doação de dinheiro é maior onde há alguma forma de incentivo.

As discussões propostas nos módulos nacionais do Foundation School este ano estão atreladas à iniciativa Future World Giving, da CAF, organização britânica com a qual o IDIS faz parte de uma aliança global para apoiar a filantropia no mundo.

O objetivo da iniciativa Future World Giving é disseminar a mensagem de que se os governos agirem agora o futuro da filantropia pode ser iluminado, com pessoas no mundo todo se engajando no apoio a uma sociedade civil vibrante e que atendam às necessidades sociais.

Este ano serão publicados três relatórios da iniciativa, e o IDIS traduzirá os três para o português.

 

 

Movimento Arredondar Que Usar Centavos Para Estimular Cultura de Doação

Arredondar para cima o valor de uma compra e doar os centavos para uma organização da sociedade civil parece muito pouco, não? Agora, imagine que os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro emitem, num único dia, 5,9 milhões de faturas de compras, segundo Ari Weinfeld, presidente do Movimento Arredondar. O valor total doado, então, pode ser enorme.

Essa é a ideia da iniciativa. A organização firmou, há três meses, parceria com as primeiras lojas para uma campanha que estimula as pessoas a arredondarem o valor de suas notas fiscais, doando o excedente para a filantropia. Na boca do caixa, o consumidor será questionado se quer elevar o valor da compra e repassar os centavos.

O dinheiro, no entanto, nem é o que mais importa. “A questão da cultura de doação é muito mais importante. Nós gostaríamos de criar nas pessoas o hábito de doar”, diz Weinfeld. Nesse sentido, uma das forças da campanha, avalia o presidente, é a conversa na hora de o cliente pagar a conta – ele terá de lidar com o assunto.

Da concepção à ação, foram três anos. “O período serviu principalmente para nós termos todo o desenho tributário para fazer o arredondamento sem incidir impostos”. No processo, o Movimento Arredondar contou com a ajuda de dois escritórios de advocacia: Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados e Barbosa, Müssnich & Aragão.

A solução foi a seguinte: na hora da compra, saem duas notas, uma com o valor dos produtos, sobre a qual incidem os tributos normais, e outra com os centavos resultantes do arredondamento, que é livre até mesmo das chamadas “taxas de shopping”.

Ao longo dos três anos, também foi desenvolvida a estrutura de tecnologia de informação, o softwares das lojas, “para que a doação fosse fácil, simples, sem nenhum trabalho nem para o lojista nem para o doador”, diz Weinfeld. Trata-se, na verdade, de uma extensão que é instalada no software já usado pela loja em seus caixas.

Antes de iniciar a operação, o Movimento Arredondar fez testes durante um ano em duas lojas da rede de moda infantil Puket. “No período, 70% das pessoas que entraram na loja arredondaram”, conta Weinfeld. Agora, a campanha já está também em lojas da Grifer (uniformes), Crocs (calçados), Malwee (roupas), NK Store (roupas e acessórios) e Track & Field (artigos esportivos). “Agora com 14 lojas, mantivemos o índice de 70% das pessoas arredondando suas compras”, comemora.

Por enquanto, é o Movimento que vai atrás dos estabelecimentos participantes. No futuro, com a expansão da iniciativa, a ideia é de que a organização passe a ser procurada pelas redes de comércio.

Beneficiados

Para onde vai o dinheiro? Hoje, o Movimento Arredondar trabalha com 15 organizações da sociedade civil, escolhidas após processo de seleção que incluiu um grande questionário sobre suas práticas. “Contratamos cinco pessoas de altíssimo nível do terceiro setor para fazer a seleção e criamos o questionário, que não pode ser respondido apenas por uma pessoa, pois suas questões envolvem várias áreas das organizações”, diz Weinfeld. Os oito Objetivos do Milênio da ONU foram os parâmetros usados para definir as entidades que poderiam participar do edital. Elas deveriam se encaixar em no mínimo um dos objetivos.

Foi lançado um edital, e 335 entidades participaram. Trinta passaram pelo crivo, e depois foram divididas em dois grupos de 15 – para que haja um rodízio de organizações beneficiadas. A proposta é investir, em no máximo três anos, o equivalente a 10% do orçamento anual de cada OSC. Quando o percentual for alcançado, ela sai do grupo apoiado e outra entra no lugar. “A rotatividade não é só para não criar dependência, mas para que a gente também possa atender o maior número de ONGs possível”.

A empresa que adere pode optar por destinar os recursos a um Objetivo do Milênio específico. “Temos lojistas de roupa feminina que escolheram os objetivos três e cinco, que falam de mulher, e empresário de esporte que escolheu o sete, que fala de meio ambiente e de padrão de qualidade de vida”, exemplifica Weinfeld. A grande maioria das lojas preferiu aderir a todos os oito Objetivos do Milênio, indistintamente.

Saiba mais: www.arredondar.org.br

 

 

Campanha Para Ricos Doarem Deve ir Além da Redução da Pobreza, Defende CAF de África do Sul

A campanha sul-africana para estimular os ricos a doarem pelo menos 5% de sua renda para a redução da pobreza é bem-vinda. Porém, o projeto lançado recentemente também deveria abranger outros pontos ligados a justiça social, defende Coleen Du Toit, CEO da Charities Aid Foundation (CAF) da África do Sul, organização parceira do IDIS.

Em artigo para o mesmo site em que o projeto foi lançado, o Business Day, Coleen cita uma recente pesquisa da plataforma virtual de ativismo Avaaz que envolveu 116 mil pessoas de 194 países e territórios, apontando que os temas mais importantes para elas são “combater a corrupção política, a injustiça econômica e as catastróficas mudanças ambientais”. Ela questiona se, portanto, não deveriam ser esses os assuntos abordados pela iniciativa sul-africana, chamada Five Plus Project.

Coleen faz questão de destacar que esse questionamento de forma alguma diminui a importância de se doar para aliviar os problemas mais urgentes, ainda mais em um país no qual 26% das pessoas vivem abaixo da linha de pobreza. Mas, escreve ela, “nós também precisamos de engajamento ativo com organizações que defendem a alocação justa dos direitos e benefícios de nossa democracia”.

“De acordo com os princípios de nossa Constituição, este setor [justiça social] luta pelos direitos dos marginalizados, para combater a crescente desigualdade e pelo fim da corrupção e da má administração, agora endêmicas na África do Sul”. No entanto, alerta, “o setor é quase inteiramente sustentado por doadores internacionais, uma situação obviamente insustentável”.

A CEO da CAF Southern Africa lembra que o país tem uma das mais altas taxas de casos de abusos sexuais e violência de gênero, envolvendo, inclusive, crianças. Ainda assim, “organizações que combatem esse problema estão fechando por falta de financiamento”.

Até mesmo um bastião moral da África do Sul como o bispo Desmond Tutu, figura importantíssima da luta antiapartheid, já chamou a atenção para a necessidade de os líderes empresariais destinarem recursos para projetos que combatam injustiças sociais. “É paradoxal que a generosidade e a responsabilidade social dos financiadores privados, das empresas e dos indivíduos quase nunca são aplicados no setor que protege os aspectos mais fundamentais da nossa democracia”, escreve Coleen.

No mesmo tom, Coleen apela para outro bastião moral, Martin Luther King, para fechar seu argumento: “A filantropia pode ser recomendável, mas não deve ignorar as circunstâncias de injustiça econômica que a fazem necessária”.

 

 

Para Estimular Filantropia, Campanha Coleta Depoimentos de Quem Faz Doações

Falar sobre suas ações sociais é fundamental para estimular uma cultura de doação. Ainda assim, muito pouca gente no Brasil expõe publicamente quanto investe nessa área. Uma nova iniciativa pretende mudar isso. “O que a gente quer é estimular que as pessoas venham à frente, coloquem o rosto e mostrem a organização que escolheram, a causa que escolheram e por que doam”, afirma o coordenador da campanha Doe Mais, Doe Melhor, Ricardo Martins.

O pontapé inicial foi dado em 24 de março, com o lançamento de uma plataforma virtual em que há depoimentos de brasileiros e estrangeiros sobre ações sociais. “São histórias curtas, mas que focam na dinâmica emocional por trás do gesto”, afirma Martins. Ele acrescenta que dispõe de um banco de dados com mais de 100 depoimentos, das quais 60 já estão no site.

A internet foi fundamental para ajudar a encontrar pessoas dispostas a falar sobre seu próprio investimento social. O convite para expor histórias foi postado na comunidade do Facebook “Movimento por uma cultura de doação no Brasil”, que estimula debates e projetos que possam promover esse tipo de filantropia. “O Movimento funciona como uma rede de suporte. Então, quando precisei de histórias, coloquei lá e imediatamente houve respostas”, relata Martins.

A ideia da campanha veio de Leonardo Letelier, fundador da Sitawi Finanças do Bem, organização que desenvolve soluções financeiras que tenham impacto socioambiental. “A impressão do Léo é que as pessoas falam pouco de doação, às vezes, têm vergonha de falar, se sentem um pouco pedantes”, diz o coordenador da campanha. O próprio Martins se envolveu com a Doe Mais, Doe Melhor porque participava da comunidade do Facebook.

A iniciativa é recente, mas os objetivos são ambiciosos. “Começamos a pensar no final do ano passado. Com o lançamento, a gente espera receber muito mais histórias, porque eu tenho certeza que tem muita gente interessada em contar, mas ainda não encontrou o canal”, continua Martins.

Há até a possibilidade de a campanha extrapolar o ambiente virtual e chegar à televisão. “Temos algumas conversas, a possibilidade de gravar o vídeo é grande”, afirma o coordenador. O conceito de uma eventual campanha televisiva já começa a ser desenhado. “Queremos visibilidade pública, mas é difícil falar de frente pra câmera, dar entrevista. Por isso, a ideia é que a gente pegue atores ou atrizes que contem a história em primeira pessoa, mesmo que não seja a deles.”

Por fim, o coordenador ressalta que o importante mesmo não é sobre o que se fala, mas apenas falar: “O ponto não é quanto doa, e sim ter uma causa, uma organização para a qual se doa. A gente achou que divulgar histórias de doação seria a melhor forma de estimular as pessoas a contarem as suas e até viverem as suas”.

 

 

IDIS Realiza Encontro de Investidores Sociais do Amazonas

São Paulo, abril de 2014. O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS realizará, em 29 de maio de 2014 (quinta-feira), o Encontro de Investidores Sociais do Amazonas, no auditório da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), em Manaus.

Logo_Regional_AM Versao Pequena.jpgO evento vai acontecer em 29 de maio e tem como objetivo oferecer um espaço exclusivo para trocas de experiências e ideias entre investidores sociais, visando aprendizado e fortalecimento de seu papel estratégico no desenvolvimento da região em que atuam. Também pretende contribuir para a identificação de filantropos e potenciais doadores que, atuando em rede, se associem às prioridades e políticas públicas existentes para benefício da sociedade no Estado do Amazonas e em todo o país.

A programação contempla palestras e debates que vão abordar o Investimento Social Privado (ISP) como agente de desenvolvimento da sociedade nas esferas humana, econômica, comunitária e social e apresentará casos, como o de desenvolvimento da primeira infância, realizado em parceria pelo IDIS com Bernard van Leer Foundation, Fundação Amazonas Sustentável e Secretaria da Saúde do Estado do Amazonas. Dentre os palestrantes já confirmados estão Armando Ennes do Valle Júnior, da Whirlpool Latin America; Antonio Carlos da Silva, do Grupo Simões e Presidente da FIEAM; Leonardo Yanez, da Bernard van Leer Foundation e Renato Paes de Barros, Secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

O evento tem organização do IDIS e conta com parceria da Charities Aid Foundation (CAF), do Instituto C&A, do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM) da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) e da Fundação Amazonas Sustentável, e apoio financeiro da Fundação Rockefeller.

A participação é gratuita, porém restrita a convidados.

Informações Encontro de Investidores Sociais do Amazonas

  • Credenciamento de imprensa: Para o credenciamento de imprensa é necessário enviar para comunicacao@idis.org.br: nome completo, nome do veículo, editoria, número do RG, telefone fixo e celular. O acesso a jornalistas será permitido nas palestras do período da manhã.
  • Data: 29 de maio – quinta-feira
  • Horário: 9 às 17 horas
  • Local: Auditório da FIEAM – Av. Joaquim Nabuco, 1919 – Centro, Manaus

Sobre o IDIS

O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS (www.idis.org.br), fundado em 1999, é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) pioneira no apoio técnico e consultoria ao investidor social no Brasil e na América Latina. Facilita o engajamento de pessoas, famílias, empresas e comunidades em ações sociais estratégicas transformadoras da realidade, contribuindo para a redução das desigualdades sociais no País. Sua missão é apoiar o investimento social privado para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e sustentável. Sua atuação se dá de duas formas: desenvolvendo e disseminando conteúdo e atendendo à demanda, por apoio técnico, de empresas, fundações, institutos e indivíduos.

Norma Para Fundos Patrimoniais Aumenta Segurança Juridica e Abre Espaço Para Isenções Fiscais, Diz Adovago

No começo de fevereiro, a Secretaria-Geral da Presidência recebeu uma proposta de projeto de lei para regulamentar a criação e o funcionamento dos fundos patrimoniais. Já há organizações da sociedade civil que usam esta forma de financiamento, mas o instrumento ainda não é regulamentado. “Um dos grandes objetivos de ter uma legislação é aumentar a segurança do modelo. A partir do momento em que há reconhecimento de quais são os critérios mínimos para ser reconhecido, passa a ter a possibilidade de atribuir incentivos fiscais”, explica, em entrevista ao site do IDIS, o advogado Felipe Sotto-Maior, fundador da Verius (anteriormente chamada Endowments do Brasil), que auxilia entidades que queiram criar um fundo.

proposta difere de um projeto de lei que circula no Congresso, o4.643/2012, da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), que regulamenta a criação de fundos patrimoniais apenas em instituições de ensino e pesquisa. “A proposta de projeto substitutivo prevê uma ampliação grande do escopo. Não tem por que abraçar a causa do fundo patrimonial para cobrir um nicho tão pequeno de instituições”, justifica Sotto-Maior, que participou do grupo de trabalho multidisciplinar que elaborou a nova proposta normativa, liderado pelo IDIS junto com a própria Endowments do Brasil.

O especialista falou também sobre experiências do exterior, discorreu sobre os próximos passos para a proposta. “O momento parece bastante propício e o governo parece bastante interessado.”

IDIS: De onde foi tirado o desenho da proposta?

Felipe Sotto-Maior: A base inicial é o estudo de casos do exterior. Vínhamos estudando isso por causa de projetos que já existem no Brasil. Havia uma bagagem. Este projeto de lei é o produto de um grupo de estudos para o qual a gente abriu convite. Montamos o grupo com diversas instituições, advogados, economistas, gente que trabalha no governo, curadores de fundações. Passamos a discutir em cima do projeto de lei que já existia e com base no conhecimento que cada um trazia do seu trabalho.

IDIS: Já existem fundos patrimoniais no Brasil, mas não existe a figura jurídica?

Felipe Sotto-Maior: Exatamente, não tem nada que proíba. Algumas instituições saem na frente fazendo. Mas também não tem nenhum incentivo e nenhuma lei que reconheça esse formato como sendo uma figura jurídica específica.

IDIS: Considerando que não é proibido, o que a lei traz para quem já tem um fundo ou quer formar um?

Felipe Sotto-Maior: Um dos grandes objetivos de ter uma legislação é aumentar a segurança do modelo. Você padroniza um pouco, mas aumenta a segurança, porque há um reconhecimento de o que é aquilo, em vez de trabalhar com figuras adaptadas. Hoje, você adapta o regimento de uma fundação ou de uma associação, mas não tem nenhum reconhecimento pelo governo, por exemplo, de que aquilo é um fundo patrimonial. O governo enxerga uma fundação, uma associação. Por outro lado, a partir do momento em que há reconhecimento de quais são os critérios mínimos para ser reconhecido, passa a ter a possibilidade de atribuir incentivos fiscais tanto para o doador que contribui para os fundos quanto para o próprio fundo em si ou para a entidade que o mantém. Quando a gente está falando de dinheiro investido em longuíssimo prazo, o imposto de renda periódico, por exemplo, faz uma diferença enorme se não for cobrado.

IDIS: A questão dos incentivos fiscais está prevista na proposta?

Felipe Sotto-Maior: Já está prevista até onde a gente conseguiu. Um dos impostos que gostaríamos de isentar seria o imposto sobre doações, que é estadual. A proposta, como é uma lei federal, não tem como alcançar isso. Mas já previmos os impostos federais que consideramos adequados para ter incentivo ou isenção. Colocamos incentivo no imposto de renda do doador e, se possível, a isenção no imposto de renda da instituição, ou pelo menos no fundo. Tudo isso são sugestões, vamos ver o que vai passar efetivamente no Congresso.

IDIS: O que vocês avançaram em relação ao projeto que já existia?

Felipe Sotto-Maior: A principal diferença é a mudança de escopo. Era muito restrito, e a proposta de projeto substitutivo prevê uma ampliação grande. Até por não ser uma coisa proibida, que já vem sendo feita não só em instituições federais de ensino superior, mas em diversas associações e fundações, não tem por que abraçar a causa do fundo patrimonial agora, dar-se o trabalho de passar isso pelo nosso processo legislativo, para cobrir um nicho e um subgrupo tão pequeno de instituições. Então, o principal objetivo é que, se todo mundo já pode fazer, vamos reconhecer os critérios mínimos, os modelos de todo mundo, e não só os das instituições federais de ensino superior.

IDIS: Quais são os próximos passos?

Felipe Sotto-Maior: O IDIS está organizando um grupo de filantropos de apoio ao projeto de lei, que poderia fazer contribuições significativas para fundos patrimoniais e gostaria de ter um reconhecimento legal do modelo antes de fazer isso. Alguns são pessoas que já estão fazendo, independentemente da lei, e outras são pessoas que gostariam de fazer. A gente está reunindo esse grupo justamente para legitimar o projeto, para se encontrar com o Ministro Gilberto Carvalho para mostrar que existe apoio da sociedade. Precisa achar alguém agora para propor o substitutivo, e então fazer o advocacy, acompanhar a evolução.

IDIS: Vocês já fizeram algum tipo de mapeamento para saber quem poderia ser essa pessoa para propor o projeto de lei?

Felipe Sotto-Maior: Tem algumas sugestões. A gente começou, dentro do próprio grupo, vendo quem conhecia a agenda de deputados, porém, é mais o IDIS que está à frente desse processo agora. Até a última conversa antes do Carnaval, não havia um nome definido, apenas algumas ideias.

IDIS: Qual a expectativa com a criação de fundos patrimoniais?

Felipe Sotto-Maior: A expectativa é que num momento inicial aumente a disponibilidade por ser um modelo novo, uma forma historicamente reconhecida como eficiente para se deixar um legado na instituição, para fazer um legado perene na instituição. No longo prazo, a expectativa é que isso ajude as instituições a serem menos vulneráveis a ciclos de abundância e carência de doação. Se a instituição tem vários sustentáculos, várias pernas para ficar em pé, essa pode ser uma perna nova. Sempre que uma delas encurtar, você tem mais um ponto de apoio para não cair. Passa a ser uma fonte de financiamento nova e própria, a instituição consegue ter um fundo desses com dinheiro próprio – recebido em doação, mas que passa a ser próprio. Ela passa a ter um pouco mais de autonomia.

A gente cita muito o caso da França, porque o ordenamento jurídico de lá é muito semelhante ao nosso e a situação era muito semelhante à nossa. Não tinha endowment, havia associações e fundações, igual ao Brasil. Em 2008, eles aprovaram uma lei que passou a prever o modelo de endowment como uma figura independente, intermediária, em termos de estrutura jurídica, entre a fundação e a associação. Um dos grandes apoiadores desse movimento foi o próprio governo federal, com o intuito de criar um endowment para o Louvre, que é um grande sugador de dinheiro público. A ideia é que esse fundo ajude a aumentar a capacidade do Louvre de, ao longo dos anos, se sustentar cada vez mais sozinho e depender menos de dinheiro público. Era de interesse do governo passar isso lá, e acredito que está sendo visto pelo nosso governo  como um projeto que é um esforço agora para um benefício a prazo.

IDIS: O governo federal foi receptivo à proposta de projeto de lei?

Felipe Sotto-Maior: O momento parece ótimo para avançar a proposta. Inclusive, o governo vem, há alguns anos, estudando o marco legal do terceiro setor, com apoio da sociedade civil. Tem um grupo de trabalho forte para isso. A questão da sustentabilidade e do financiamento são dois temas importantes no grupo, e que estão juntos dentro dos fundos patrimoniais. Quando a gente finalmente chegou a apresentar isso para a Lais de Figueiredo Lopes, que é assessora especial da Casa Civil, ela se mostrou muito interessada no projeto, muito a fim de levar isso para frente. Parece que o ministro-chefe Gilberto Carvalho já se mostrou interessado em fazer esse tema avançar. O momento parece bastante propício e o governo parece bastante interessado em fazer isso.

 

Governo Começa a analisar Proposta de Projeto de Lei Sobre Fundos Patrimoniais

A Secretaria-Geral da Presidência começou a analisar uma proposta de projeto de lei que regulamenta a criação e o funcionamento de fundos patrimoniais. O texto foi elaborado por um grupo de 90 pessoas criado pelo IDIS em novembro de 2013 e que inclui juristas, representantes de 35 organizações da sociedade civil, Ministério Público e universidades.

documento foi entregue em 4 de fevereiro, numa reunião que contou com o secretário-executivo da pasta, Diogo Sant’Ana, a assessora especial Laís de Figueiredo Lopes e, do lado da sociedade civil, Marcos Kisil e Paula Fabiani, respectivamente diretor presidente e diretora executiva do IDIS.

Os Fundos Patrimoniais Vinculados (FPVs) são um instrumento para tentar garantir a sustentabilidade financeira de organizações da sociedade civil, pois permite às entidades separarem um determinado patrimônio, aplicá-lo e beneficiarem-se dos lucros do investimento.

Já existem organizações brasileiras que instituíram fundos, como a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli). Não há, porém, uma figura jurídica que regule esse instrumento, e é isto que a proposta pretende criar.

O texto estipula que, na criação de tais fundos, sejam definidas regras para aplicar e resgatar os recursos. Também estabelece normas de governança e administração e prevê incentivos fiscais para doações aos FPVs.

Já existe um projeto de lei sobre fundos patrimoniais tramitando no Congresso Nacional. O PL 4.643/12, da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), está na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Ele se limita aos fundos patrimoniais em entidades de pesquisa e instituições de ensino federais – inspirado em casos dos Estados Unidos, onde grandes organizações de ensino, como Harvard e Yale, são sustentadas por essas aplicações.

O grupo que elaborou a proposta entregue à Secretaria-Geral entende que os fundos são importantes na área da educação, mas avalia que é possível – mais ainda: desejável – aproveitar as potencialidades desse instrumento para a sustentabilidade de organizações da sociedade civil em geral.

Para se ter uma ideia da influência que pode ter a criação da figura jurídica dos fundos patrimoniais, basta lembrar do caso francês. A lei que os normatizou na França é de 2008. No ano seguinte, foram criadas cerca de 230 aplicações nesses moldes.

A Secretaria-Geral da Presidência tem se mostrado aberta a discutir os assuntos de interesse das organizações da sociedade civil. Foi no âmbito da pasta, por exemplo, que surgiu o projeto de lei do marco regulatório para as parcerias entre poder público e entidades sem fins lucrativos, que também tramita no Congresso. Na mesma linha, o ministro-chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, abriu o 2º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, em outubro de 2013, reforçando seu compromisso com os temas de interesse do setor.

ISP Brasileiro Não Cubre Corte de Recursos Externos Para Entidades de Defensa de Direitos

A sustentabilidade financeira das organizações da sociedade civil (OSCs) é um dos temas mais urgentes do setor, em que os recursos quase sempre vão para projetos, não para manter a estrutura das entidades. A situação é mais grave entre as instituições de defesa de direitos, mais dependentes de recursos internacionais que estão minguando nos últimos anos. “Elas foram muito importantes na redemocratização, mas são as que mais estão sofrendo com mudanças na estrutura do financiamento no Brasil”, disse o consultor Domingos Armani, moderador da mesa “O que a sustentabilidade das organizações da sociedade civil tem a ver com o Investimento Social” – que ocorreu durante o 8º Congresso do Gife, em São Paulo, entre 19 e 21 de março.

“Não houve substituição do financiamento externo pelo investimento social brasileiro, salvo algumas exceções”, concordou outra debatedora, a diretora-executiva do IDIS, Paula Fabiani. A questão ganha contornos mais dramáticos quando se lembra que, como destacou Paula, nos últimos anos houve uma geração enorme de recursos no Brasil, em razão da expansão da economia.

Apenas uma pequena parte do investimento social privado vai para esse grupo de causas. “Essas organizações tratam de temas mais conflitivos, com os quais as empresas nem sempre têm facilidade de lidar – ainda mais por não ser fácil separar sua imagem da causa que apoiam”, comentou a diretora-executiva da Abong, Vera Masagão, também presente na mesa. Mas ela ponderou que às vezes o problema está no lado inverso: “OSCs têm preconceito contra empresas, achando que teriam de mudar sua causa” para obter os recursos.

Armani ressaltou que, por vezes, nem mesmo a opinião pública está do lado das organizações de defesa de direitos. “É difícil defender abertamente esses temas, assim como é difícil ao investimento social privado apoiar essas entidades.” Por isso, elas têm um trabalho mais agudo de “persuadir financiadores de que a defesa de direitos é fundamental para a democracia”. Paula citou alguns casos (raros) de apoio a esse tema no Brasil: Fundação Ford, Instituto Avon e o investimento social da família Lafer.

Desconfiança

Apesar de as organizações de defesa de direitos nem sempre contarem com a simpatia da opinião pública, a desconfiança não recai só sobre elas. “No mundo inteiro, a pesquisa Trust Barometer aponta que as OSCs são as instituições mais confiáveis; no Brasil, elas estão apenas em terceiro lugar, à frente apenas do governo, e atrás da mídia e das empresas”, apontou Vera. “Isso é reflexo de uma sociedade que não acredita em sua capacidade de se mobilizar em prol do interesse público”.

Paula também ressaltou a “falta de confiança nas OSCs” e lembrou que o IDIS faz um processo de validação de organizações para dar mais segurança a quem tem recursos para doar. “O investidor que pode financiar a infraestrutura das entidades não está fazendo isso”, constatou. Ela ainda lembrou que os investidores acabam preferindo operar suas iniciativas a apoiarem organizações “mais próximas de beneficiários e de problemas”.

Uma exceção é o Instituto C&A, cujo diretor-executivo, Paulo Castro, também participou do debate. A estratégia é lidar diretamente com as entidades. “Nós apoiamos organizações para que tenham êxito em sua missão de transformar o contexto social”, declarou. O instituto – ligada à gigante do varejo C&A, mas sem compromisso em se alinhar com os negócios da empresa – tem se notabilizado por financiar outras entidades e buscar iniciativas que fortaleçam o setor.

“Nós estamos falando sobre o fortalecimento da democracia brasileira, e uma sociedade civil vibrante requer organizações fortes para a promoção do interesse público”, concluiu Castro.

 

 

Especialistas Discutem Fim de Fronteras Entre Setor Empresarial e Social

As empresas estão cada vez mais preocupadas em abordar temas de caráter social. A criação de institutos e fundações empresariais, e o investimento cada vez maior de dinheiro corporativo em algumas causas, são um sinal claro dessa mudança. A fronteira entre ação privada e ação social está desaparecendo? Esse foi um dos principais tópicos da plenária Transformações do Investimento Social, que abriu o 8º Congresso do Gife, ocorrido em São Paulo entre 19 e 21 de março.

“A lógica da compartimentação não funciona mais, e as empresas incorporam em seu DNA a resolução de problemas sociais”, afirmou um dos membros da mesa, o professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP Ricardo Abramovay. Já a presidente do conselho do Greenpeace Internacional, Ana Toni, deixou claro que tem ressalvas a esse embaralhamento de fronteiras.

Ana levantou vários questionamentos sobre o posicionamento das empresas em relação a problemas sociais. Elas estariam reagindo à pressão da sociedade? Seria uma percepção interna dos problemas? Para ela, o que importa é que “a natureza das empresas limita seu papel social, e não é necessariamente ruim haver fronteiras”.

De certa forma, Lucy Bernholz, professora da Universidade de Stanford, fez coro à afirmação de Ana ao dizer que haveria desafios para a confusão de limites entre empresas e organizações da sociedade civil. “A democracia deve resguardar espaço privado para a ação civil, e a ruptura da sociedade pelos políticos, pelo dinheiro e pelas empresas pode ser um perigo”, comentou.

Abramovay fez questão de dizer que não se trata de “oferecer imagem acrítica” da atuação das empresas, mas sim de que as fundações com atuação social fazem as companhias pensarem nos impactos de suas inovações. “O debate público é algo ao qual as corporações estiveram imunes no século 20, mas hoje até o Greenpeace cobra uma posição das empresas. Há movimento para reintroduzir valores na ciência econômica”, apontou.

Ana reconheceu que a “voz das companhias é fundamental para alguns temas públicos”, ainda que as empresas mantenham-se longe de algumas questões mais polêmicas, como as referentes a defesa de direitos. Ela ainda disse que o Greenpeace só consegue cobrar uma posição das empresas por ser independente delas e de governos.

Sociedade digital

Parte importante do debate girou em torno da chamada “sociedade civil digital”, definida por Lucy como aquela em que recursos digitais são usados para “organizar, criar, distribuir e financiar benefícios públicos”. Segundo a professora de Stanford, o ambiente virtual muda a “maneira como abordamos problemas comuns, como nos voluntariamos, como nos associamos enquanto cidadãos independentes, e como nos organizamos para mudanças e projetos”.

Outro participante da plenária, Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, lembrou que a era digital muda as formas de governança e o local onde está o conhecimento. “Muita coisa vai ser aprendida com tentativa e erro, o que coloca desafios para o modus operandi das organizações”. Um dos desafios é a rapidez com que as demandas são postas no ambiente digital. “Precisamos de uma institucionalização preparada para responder à velocidade das coisas. A nova geração que está vindo é mais rápida.”.

A alocação de recursos digitais, porém, é desigual, destacou Lucy. O que leva à necessidade de uma discussão importante sobre o ambiente legal em que se dão as novas relações. “Nos Estados Unidos, há um perigo grande de a sociedade civil ser apagada por quem está à frente da regulação do ambiente digital”, disse. Mizne mostrou também preocupações nesse mesmo sentido: “O debate digital passa ao largo da sociedade civil. As empresas estão dominando a discussão”.

A desigualdade se manifesta também entre quem está alfabetizado para usar a rede e quem não está. “A era digital não é uma escolha, ela está aí, e a chance de desigualdade aumentar é enorme”, disse Mizne. Ele apontou quem umas das missões do investimento social privado seria financiar ações nesse campo.

 

 

Senso Moral e Identificação com Causas São Grandes Motivos Que Levam Britânicos a Doar, Aponta Pesquisa; Religião Também é Destaque

O que motiva as pessoas a doar? Foi esta pergunta que norteou a “Why we Give” (Por que doamos), mais recente pesquisa da Charities Aid Foundation (CAF), organização britânica voltada ao incentivo à doação em vários países e parceira do IDIS no Brasil. Fatores como valores pessoais e comprometimento com alguma causa aparecem no topo, mas a religião também tem lugar de destaque entre os moradores do Reino Unido.

estudo, entrevistou 722 pessoas, e incluiu também outros temas relacionados ao investimento social privado no país. O levantamento faz parte de uma campanha maior da CAF (#whywegive) para incentivar as pessoas a compartilhar suas experiências de doação nas mídias sociais.

Na sondagem, as motivações pessoais mostraram-se os principais fatores de incentivo à doação: 97% dos entrevistados mencionaram valores pessoais, 96% citaram seu senso de moralidade ou ética e 75%, a crença em alguma causa em particular. A religião aparece em seguida, com 71%. A intenção de deixar um legado positivo serve de motivo para apenas 38%.

O estudo cita o caso de uma entrevistada, a aposentada Amy Bright, que separa 10% de sua renda – o tradicional dízimo – para sua igreja e instituições sociais cristãs. “Nossa doação é baseada na crença de que tudo o que temos pertence a Deus e que devemos retribuir tanto à Igreja quanto a quem necessita”, disse a aposentada na pesquisa.

O dízimo religioso, por sinal, parece corroborar outro resultado do estudo. Na média, os entrevistados afirmam que os mais ricos deveriam doar 15% de sua renda. Porém, analisando os dados sob a ótica de outras medições estatísticas (moda e mediana), tem-se 10% para ambas. “Isto é um alinhamento com os 10% encorajados por grupos religiosos”, afirma o relatório.

A importância da fé, segundo o documento, é confirmada por uma pesquisa anual da CAF, “que mostra que doações ligadas a religiões e crenças têm atraído a maior média de recursos doados nos últimos três anos”.

O levantamento também questionou os entrevistados sobre o que eles pensam do investimento social privado, e 61% responderam que é fundamental que os mais ricos falem sobre suas doações para ajudar a incrementar esse comportamento no Reino Unido. O resultado deu força à campanha da CAF para que as pessoas falem mais sobre seus investimentos sociais.

Além disso, o estudo identificou um comportamento aparentemente paradoxal. Apesar de 79% dos entrevistados acreditarem que as organizações da sociedade civil têm problemas financeiros, somente 40% afirmaram que vão aumentar suas doações no próximo ano. Segundo o relatório, “isto pode estar ligado a uma falta de confiança na economia do Reino Unido”.

Arrecadar mais

Como captar recursos em um ambiente como esse? Outros resultados da pesquisa indicam alguns caminhos. A maioria (72%) afirma que só doaria para organizações que demonstrassem seu impacto de maneira clara. Questionados sobre como as entidades poderiam aumentar sua arrecadação, 81% dos entrevistados citaram a demonstração do impacto das ações como um fator decisivo. Já 78% cobraram das empresas que elas apoiem mais as ONGs.

A educação também apareceu como um dos fatores capazes de elevar os recursos doados: 62% disseram que “uma cooperação crescente entre escolas e organizações da sociedade civil provavelmente aumentaria as doações” ao incutir nas crianças um comportamento solidário. Outro trabalho da CAF, “Growing up giving”, havia apontado a importância do sistema educacional no encorajamento de um comportamento filantrópico.

Questões tributárias também são importantes. Mais de três quartos dos entrevistados (77%) avaliam que, se os doadores conhecessem melhor os incentivos fiscais existentes, as doações provavelmente cresceriam. Ao mesmo tempo, 76% deles dizem que novos incentivos seriam bem-vindos.

Semelhanças com Brasil

A religião é um fator importante para doadores não só no Reino Unido, mas também no Brasil. Segundo estudo do IDIS e da Ipsos Public Affairs, as instituições religiosas aparecem como as mais beneficiadas pelos doadores brasileiros: 30% dos entrevistados disseram doar para igrejas, porcentagem semelhante àquela dos que disseram doar para pedintes de rua. Apenas 14% dos entrevistados disseram doar para organizações não governamentais.

A grande maioria dos brasileiros (84%) desconhece os mecanismos nacionais de doações dedutíveis do Imposto de Renda. Se os britânicos estiverem certos ao acreditarem que um maior conhecimento sobre incentivos fiscais poderia aumentar o volume de doações, esse é um bom caminho para as entidades do Brasil.

 

 

Investimento Social Privado Deve Voltar a se Preocupar Com a Invocação, Diz Estudo

O que o sistema nacional de atendimento de emergência dos Estados Unidos – o 911 tão falado nos filmes – e um dos primeiros laboratórios de pesquisa sobre Aids têm em comum? Ambos foram criados com financiamento de recursos filantrópicos. O espírito de inovação por trás desses investimentos, no entanto, parece ter ficado no passado: hoje os filantropos procuram direcionar seus recursos para ações seguras. O desafio é fazer com que parte desse dinheiro volte para projetos mais arriscados, mas com grande capacidade de mudança.

Dois membros do Monitor Institute, iniciativa da consultoria Deloitte, mergulharam fundo nesta questão em um artigo no site da Stanford Social Innovation Review. Gabriel Kasper e Justin Marcoux diagnosticaram o problema, mostraram possíveis soluções para que a filantropia retome seu caráter inovador e abordaram um projeto lançado para recolocar o tema na agenda do investimento social privado.

Para os autores, a radicalização da filantropia estratégica fez com que os investidores procurassem projetos com resultados cada vez mais certos e mensuráveis. “Os financiadores estão às vezes tratando os financiados como empregados, pagos apenas para executar planos pré-definidos”, escrevem. Com isso, os temas complexos são deixados de lado.

O artigo usa um dos cases de maior sucesso nos últimos anos como exemplo: as redes ou véus protetores de cama, distribuídos na África para diminuir a incidência de malária ao afastar o mosquito transmissor. É uma iniciativa muito barata e de retorno quase imediato. Mas, aponta o texto, a Fundação Bill & Melinda Gates está buscando uma solução mais radical e definitiva: uma alteração genética para que os mosquitos não transmitam a doença. É um projeto arriscado e de resultado incerto, mas, se bem-sucedido, terá resultados de grande impacto.

Uma frase citada pelos autores, do ex-diretor da Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas do Departamento de Energia dos Estados Unidos, Eric Toone, representa bem o que está em jogo: “Quando se faz inovação, a primeira questão não é ‘isso vai funcionar?’, mas sim ‘faria diferença se isso funcionasse?’”. Kasper e Marcoux explicam: “Financiadores da inovação trocam a probabilidade de sucesso por um potencial maior de impacto”.

A questão toda passa por uma redefinição da ideia de risco. Para os autores, tanto as empresas quanto o governo têm pouca margem para arriscar-se: os primeiros por deverem explicações a seus acionistas; os segundos, a seus eleitores. Em comparação, investidores sociais têm “discrição extraordinária para experimentar e tentar coisas novas”.

Kasper e Marcoux descrevem em detalhes cinco passos, citando exemplos, para que o investimento social privado possa reencontrar o caminho da inovação: achar novas soluções; selecionar aquelas com maior potencial de transformação; apoiar as selecionadas; medir o impacto; dar escala ao projeto.

O objetivo da inovação, no entanto, não deve ser seguido cegamente. Assim, escrevem os autores, “em questões nas quais já existam soluções funcionando, às vezes é mais importante colocar foco na escala e melhora de abordagens já conhecidas do que experimentar novas abordagens”. Ou seja, não se deve abandonar o que já existe para buscar algo inovador. A rede que afasta o mosquito deve conviver com o projeto para alterar a genética do inseto.

Até por isso, notam Kasper e Marcoux, a inovação não é uma alternativa à filantropia estratégica. “Ao contrário, financiar a inovação é parte da filantropia estratégica.” Ou seja, apenas uma parte dos recursos deve ser destinada à inovação, mantendo o resto em ações comprovadas e seguras.

Cabe a cada organização, portanto, encontrar o equilíbrio entre a quantidade de recursos para financiar inovação e para manter atividades já estabelecidas. E, como concluem os autores, “abraçar a exploração, a experimentação e o risco pode, na verdade, ajudar a filantropia estratégica a encontrar o equilíbrio correto e fazer um trabalho ainda melhor no tratamento dos problemas sociais mais urgentes do mundo”.

Setor Privado é Fundamental Para Alcance de Metas Sociais, Diz PNUD

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são um conjunto de oito metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015. Envolvem temas-chave como redução da pobreza, igualdade entre os sexos e universalização do ensino básico. Desde o momento em que foram firmados, há quase 15 anos, ganharam a adesão de boa parte do setor privado. E o Brasil tem tido um importante papel na articulação das empresas em torno das metas.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – responsável capitanear a promoção dos ODM –, na assinatura da Declaração do Milênio, em 2000, já estava claro que não seria possível alcançar os Objetivos sem a participação da iniciativa privada.

No Brasil e em outros países, essa participação às vezes se dá em parcerias diretas entre órgãos da ONU e as empresas. No caso brasileiro, o Projeto ODM 2015, por exemplo, foi criado em 2011 e conta com recursos de empresas como Petrobras, Furnas e Banco do Brasil. A finalidade é municipalizar os Objetivos de Milênio, como forma de torná-los mais efetivos.

O projeto é alinhado com uma avaliação do Pnud de que, na média, o Brasil avançou nos Objetivos do Milênio, mas persistem desigualdades significativas. Por exemplo, os objetivos 5 (redução da mortalidade materna) e 7 (que inclui acesso a saneamento básico e água) apresentam resultados bastante diversos entre as regiões.

Outro tipo de parceria é a Aliança para o Desenvolvimento Local, firmada pelo Pnud e pela Fundação Vale, braço social da mineradora brasileira. A ideia é promover o desenvolvimento de municípios afetados pela indústria extrativista, e suas ações se concentram no Pará e no Maranhão.

Depois das metas

O papel fundamental do setor privado nos Objetivos do Milênio é tão reconhecido pela ONU que, no mesmo ano 2000 em que as metas foram traçadas, as Nações Unidas lançaram o Pacto Global, que busca envolver as corporações em torno de dez princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate a corrupção.

O Pacto Global é composto por redes nacionais, e o Brasil tem a quarta maior do mundo, com mais de 600 membros. Até por isso, o Pnud considera que o país é um grande influenciador das outras. Essa influência é especialmente relevante pelo fato de que é por meio do Pacto Global que o setor privado está participando da construção da agenda pós-2015, quando vencerem os Objetivos do Milênio.

A rede brasileira teve importância destacada, segundo o PNUD, no último encontro de líderes do Pacto Global, em setembro de 2013, em Nova York. Durante a conferência, foi lançada a iniciativa Arquitetos de um Mundo Melhor, que, nas palavras do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi projetada para “conduzir e ampliar ações corporativas que, diretamente, possam fazer os objetivos das Nações Unidas avançarem”.

A relação entre as empresas e a ONU só deve aumentar no cenário pós-2015, quando será elaborada uma nova agenda de prioridades. O tema ganhou fôlego durante a Rio+20, em 2012 e, segundo o PNUD, o setor privado surge como ator e parceiro indispensável na construção do novo paradigma de desenvolvimento sustentável, que contemple, simultaneamente, aspectos econômicos, sociais e ambientais.

 

 

Planejamento Estratégico Aumenta Efetividade de Programas de Voluntariado

Muitas das grandes empresas que atuam no Brasil têm programas de voluntariado, mas nem sempre esse tipo de ação atinge os resultados desejados. Para alcançar as metas estipuladas pela empresa é preciso pensar bem o que fazer e como atuar. É para isso que serve o planejamento estratégico, que pode ser aplicado tanto na criação de programas novos quanto no aprimoramento de projetos já existentes.

A Mapfre, gigante espanhola dos seguros, é uma das companhias que se deram conta da importância de aplicar o planejamento estratégico em suas ações sociais. A empresa já tinha um programa de voluntariado no Brasil, mas ele ainda não estava caminhando como esperado, por isso a iniciativa está sendo reformulada. “Nós estávamos desatualizados e recebemos novas diretrizes da Espanha. Como a cultura aqui é muito assistencialista, nosso programa adquiriu esse viés. Envolvíamos muito poucas pessoas, e percebemos que valia a pena atuar de outra forma”, explica Alessandra Gosling, analista de responsabilidade social da Fundación Mapfre, braço social da empresa. Para balizar o “relançamento” do programa de voluntariado, a organização passou por uma reflexão estratégica exclusiva para o tema.

“Quase todas as grandes empresas têm voluntariado, mas geralmente é uma ação sem estratégia, não integrada à empresa”, ressalta Adriana Deróbio, gerente de projetos do IDIS, que assessorou, em 2013, a Fundación Mapfre em seu processo de reavaliação. “Uma reflexão estratégica participativa é uma oportunidade de aprimorar pontos que não estão funcionando bem e fortalecer o que já é bem sucedido”, explica a gerente de projetos.

O planejamento é um processo complexo, que envolve tanto diretores quanto funcionários da empresa, bem como os beneficiários. Ele envolve uma série de procedimentos, como pesquisas, diagnósticos, estabelecimento de objetivos, desenvolvimento de planos de ação e até mesmo a criação de um manual que guie a ação dos voluntários. O objetivo é tornar o voluntariado mais efetivo, pois “os programas corporativos podem ter grande poder de transformação, já que envolvem muitas pessoas e ações para uma causa”, afirma Adriana.
Como a elaboração de um planejamento estratégico depende uma análise aprofundada dos vários elementos envolvidos no projeto, a Fundación Mapfre passou 2013 inteiro reavaliando seu voluntariado, que vai ser relançado este mês, de acordo com Alessandra. “Queremos oferecer uma gama de oportunidades mais permanentes de participação para nossos funcionários; antes, tínhamos apenas ações pontuais”, acrescenta a representante da Mapfre.

O planejamento estratégico, no entanto, não serve apenas para as empresas que querem aprimorar um programa já existente. Ele também é muito útil para quem está partindo do zero. Este é o caso da Fundação André Maggi, que está usando a ferramenta para criar um novo cenário futuro para seus Programas e Projetos. Entre eles, está o voluntariado dentro do Grupo Maggi, que atua em diversos setores, como o elétrico e o agrícola. “Nossos funcionários têm grandes expectativas em implantar um programa”, diz a supervisora social da fundação, Aletéa Rufino. O problema, segundo ela, é que “a empresa tem unidades em vários municípios, e administrar um programa é complicado nessa situação”.

No caso da Fundação André Maggi, que conta no momento também com assessoria do IDIS, a discussão sobre o voluntariado apareceu dentro de um contexto maior, em que toda a entidade estava passando por uma revisão estratégica. Como explica Aletéa, “o que é interessante para Cuiabá não necessariamente vai funcionar em um município menor”. A intenção é colocar diversas propostas para votação interna na empresa até novembro, e implantar um piloto no começo de 2015.

Aletéa, no entanto, admite que a conclusão do planejamento estratégico pode até ser que agora não é a hora de criar um programa de voluntariado. A representante da Fundação André Maggi explica o porquê da cautela: “É todo um trabalho que precisa ser muito bem pensado, por causa das pessoas que estão do outro lado, com as quais queremos trabalhar”.

Para saber mais sobre como o IDIS pode apoiar sua empresa ou organização tanto no planejamento estratégico como no desenho de um programa de voluntariado, entre em contato com comunicacao@idis.org.br.

Investimento Social Privado deve voltar a se preocupar com inovação

O que o sistema nacional de atendimento de emergência dos Estados Unidos – o 911 tão falado nos filmes – e um dos primeiros laboratórios de pesquisa sobre Aids têm em comum? Ambos foram criados com financiamento de recursos filantrópicos. O espírito de inovação por trás desses investimentos, no entanto, parece ter ficado no passado: hoje os filantropos procuram direcionar seus recursos para ações seguras. O desafio é fazer com que parte desse dinheiro volte para projetos mais arriscados, mas com grande capacidade de mudança.

Dois membros do Monitor Institute, iniciativa da consultoria Deloitte, mergulharam fundo nesta questão em um artigo no site da Stanford Social Innovation Review. Gabriel Kasper e Justin Marcoux diagnosticaram o problema, mostraram possíveis soluções para que a filantropia retome seu caráter inovador e abordaram um projeto lançado para recolocar o tema na agenda do investimento social privado.

Para os autores, a radicalização da filantropia estratégica fez com que os investidores procurassem projetos com resultados cada vez mais certos e mensuráveis. “Os financiadores estão às vezes tratando os financiados como empregados, pagos apenas para executar planos pré-definidos”, escrevem. Com isso, os temas complexos são deixados de lado.

O artigo usa um dos cases de maior sucesso nos últimos anos como exemplo: as redes ou véus protetores de cama, distribuídos na África para diminuir a incidência de malária ao afastar o mosquito transmissor. É uma iniciativa muito barata e de retorno quase imediato. Mas, aponta o texto, a Fundação Bill & Melinda Gates está buscando uma solução mais radical e definitiva: uma alteração genética para que os mosquitos não transmitam a doença. É um projeto arriscado e de resultado incerto, mas, se bem-sucedido, terá resultados de grande impacto.

Uma frase citada pelos autores, do ex-diretor da Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas do Departamento de Energia dos Estados Unidos, Eric Toone, representa bem o que está em jogo: “Quando se faz inovação, a primeira questão não é ‘isso vai funcionar?’, mas sim ‘faria diferença se isso funcionasse?’”. Kasper e Marcoux explicam: “Financiadores da inovação trocam a probabilidade de sucesso por um potencial maior de impacto”.

A questão toda passa por uma redefinição da ideia de risco. Para os autores, tanto as empresas quanto o governo têm pouca margem para arriscar-se: os primeiros por deverem explicações a seus acionistas; os segundos, a seus eleitores. Em comparação, investidores sociais têm “discrição extraordinária para experimentar e tentar coisas novas”.

Kasper e Marcoux descrevem em detalhes cinco passos, citando exemplos, para que o investimento social privado possa reencontrar o caminho da inovação: achar novas soluções; selecionar aquelas com maior potencial de transformação; apoiar as selecionadas; medir o impacto; dar escala ao projeto.

O objetivo da inovação, no entanto, não deve ser seguido cegamente. Assim, escrevem os autores, “em questões nas quais já existam soluções funcionando, às vezes é mais importante colocar foco na escala e melhora de abordagens já conhecidas do que experimentar novas abordagens”. Ou seja, não se deve abandonar o que já existe para buscar algo inovador. A rede que afasta o mosquito deve conviver com o projeto para alterar a genética do inseto.

Até por isso, notam Kasper e Marcoux, a inovação não é uma alternativa à filantropia estratégica. “Ao contrário, financiar a inovação é parte da filantropia estratégica.” Ou seja, apenas uma parte dos recursos deve ser destinada à inovação, mantendo o resto em ações comprovadas e seguras.

Cabe a cada organização, portanto, encontrar o equilíbrio entre a quantidade de recursos para financiar inovação e para manter atividades já estabelecidas. E, como concluem os autores, “abraçar a exploração, a experimentação e o risco pode, na verdade, ajudar a filantropia estratégica a encontrar o equilíbrio correto e fazer um trabalho ainda melhor no tratamento dos problemas sociais mais urgentes do mundo”.

Estudos Tentam Desvendar Estímulos Cerebrais Ligados à Doação

A oxitocina é um hormônio considerado fundamental para a criação de laços familiares, como as relações maternais e maritais. Mas também está por trás de atos de doação, a ponto de se poder dizer que doar é como participar de uma “família sintética”.

É isso que mostra o professor de finanças da Texas Tech University, Russell James 3º, no texto “Brain studies and donor decision making: what do we know”, publicado na edição de inverno do periódico Advancing Philantropy, da Association of Fundraising Professionais (a associação norte-americana, canadense e mexicana de captadores de recursos, semelhante à tupiniquim ABCR).

O autor faz, no texto, um apanhado de várias pesquisas neurológicas que tentam explicar atos de caridade. Cita um estudo que usou injeções de oxitocina para mostrar que os mecanismos cerebrais por trás das conexões familiares são os mesmos ligados a atos de doação.

James 3º também menciona pesquisas segundo as quais o toque humano, seguido de um presente, aumenta a presença do oxitocina, também levando a uma maior propensão à doação. Não por acaso, apertos de mão, abraços e prêmios para doadores são técnicas muito usadas em eventos de arrecadação, sugere o texto.

“De uma perspectiva neural”, compara James 3º, “a doação é menos parecida com uma transação comercial e mais semelhante a compartilhar um jantar em família”. Ele ainda sugere: “O entendimento das relações entre um doador e uma organização como uma ‘família sintética’ pode indicar estratégias de captação”.

Nas doações via legado, ou seja, deixadas em testamento, imagens do cérebro feitas por ressonância magnética funcional indicam que o critério de escolha da organização beneficiada não costuma ser a eficiência, mas sim o quanto ela está relacionada com a história de vida do doador. Segundo o professor, esse tipo de ato é “como escrever o capítulo final de sua biografia”.

Outros estudos com imagens cerebrais apontam, no entanto, que deixar os recursos para amigos e familiares ativa mais fortemente áreas do cérebro relacionadas a memórias e emoções do que doar em testamento para organizações. Consequentemente, este último tipo é mais raro. James 3º vê nisso outra oportunidade de captação de recursos.

“Quando uma entidade consegue ligar sua causa a algum amigo ou familiar do doador, há um aumento substancial na possibilidade de receber uma doação via legado”, escreve. Pessoas com casos de câncer na família, por exemplo, seriam mais suscetíveis a deixar recursos para organizações que lidem com esse tema.

Outras descobertas

A primeira pesquisa a usar técnicas de análise cerebral para explicar comportamentos donativos foi publicada no Brasil em 2006, segundo James 3º, e mostrou que a decisão de doar ativava áreas de “recompensa” do cérebro. Mais ainda, indicou similaridades neurológicas entre os atos de dar e de receber dinheiro. “Da perspectiva da felicidade neural instantânea, doar pode ser na verdade uma grande aquisição para o doador”, afirma James, referindo-se ao prazer gerado pelo ato.

Um trabalho do Instituto de Tecnologia da Califórnia sugeriu que, embora o sentimento de realização seja o mesmo, tal sensação tem origens diferentes em cada caso. A doação ativa duas partes do cérebro: uma usada quando se toma a perspectiva de um terceiro pessoa, e a outra relacionada à capacidade de empatia. De certa forma, isso explicaria, segundo o autor, um efeito chamado de “vítima identificável”. “As pessoas tendem consistentemente a doar para beneficiar uma só e identificável vítima do que para milhares de pessoas.”

Há indícios, ainda, de que a doação mobiliza partes do cérebro relacionadas a ligações e reconhecimentos sociais. Até por isso, cientistas japoneses mostraram que os indivíduos sentem-se mais recompensados quando doam publicamente. “A caridade pode ser recompensadora, mas é mais ainda quando outras pessoas percebem o que você está fazendo”, resume James 3º.

Por fim, o professor afirma, após sintetizar uma série de pesquisas, que as novas técnicas de análises cerebrais podem ajudar arrecadadores de recursos. “Em vez de remover a ‘arte’ da captação de recursos, os achados científicos parecem reforçar a importância do lado mais humano das nossas interações”, diz James 3º, que conclui: “No fim, a ciência cerebral parece nos mostrar que a arrecadação é, acima de tudo, uma questão do coração”.

 

 

Pesquisa IDIS/IPSOS Public Affairs: Retrato da Doação no Brasil

Estudo revela novos aspectos do comportamento do brasileiro em relação à doação: a) Brasileiros não se sentem estimulados para doação e voluntariado; b) Brasileiros doam mais para pedintes de rua e igrejas do que para organizações da sociedade civil; c) 84% da população desconhece que pode fazer doações utilizando parte do Imposto de Renda; d) Crianças e idosos são grupos populacionais que mais sensibilizam a população para doações em dinheiro.

São Paulo, fevereiro de 2014 – O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e a Ipsos Public Affairs divulgam os resultados da pesquisa Retrato da Doação no Brasil, em um estudo que traça o perfil do brasileiro em relação às doações e causas sociais.

O levantamento realizado em três etapas e que ouviu mil pessoas em cada fase, em 70 cidades do Brasil, sendo nove regiões metropolitanas, concluiu que o hábito de doar, seja tempo ou recursos, não faz parte da cultura do brasileiro. Um exemplo disso é que 73% não se sentem estimulados pelo seu círculo de convivência (família, comunidade, escola e trabalho) a realizar doações ou trabalho voluntário. “A Copa do Mundo Fifa, que se aproxima, bem como os Jogos Olímpicos, em 2016, são eventos que poderão contribuir para incentivar o voluntariado no País e o governo pode aproveitar este momento para fomentar a cultura de doação junto à sociedade”, analisa Paula Jancso Fabiani, diretora executiva do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.

Em relação à doação em dinheiro, poucos brasileiros tiram a mão do bolso, mas quando o fazem destinam as doações para pedintes (30%), para igrejas (30%) e, em terceiro lugar, para organizações da sociedade civil (14%). “O aumento da renda média da população não parece estar refletida no percentual da população que doa. Um dos motivos que pode explicar essa tendência é a percepção do brasileiro de que o governo está preenchendo essa lacuna, com políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família”, pondera Paula Jancso Fabiani, diretora executiva do IDIS.

1 – Brasileiros ajudam mais pessoas pedintes de rua e igrejas que organizações da sociedade civil:

Ipsos 2014 Graf 1

2 – Os brasileiros da região Nordeste são os mais sensíveis a doar para pedintes, enquanto os da região Norte e Centro-Oeste doam mais para organizações da sociedade civil e igrejas quando comparados com os das outras regiões:

Ipsos 2014 Graf 2

3 – Do total de doações, as classes C, D e E doaram mais para pedintes de rua e para igreja em comparação as classes A e B, que doam em proporção maior para organizações:

Ipsos 2014 Graf 3

4 – Em relação às causas que inspiram os brasileiros a doar, crianças estão em primeiro lugar (33%), seguidas de idosos (18%), saúde (17%) e educação (7%).

5 – Outro ponto que merece atenção é o motivo para poucos brasileiros doarem. Do total de entrevistados, 58% informaram que não têm dinheiro, enquanto 18% afirmaram que não doaram porque ninguém solicitou e 12% porque não confiam nas organizações. A pesquisa também descobriu que 85% dos entrevistados não recebeu nenhum pedido de doação provenientes de organizações nos últimos 12 meses:

Ipsos 2014 Graf 4

“Números indicam que também falta a ‘cultura de pedir’ por parte de quem precisa dos recursos. Esse resultado reforça a percepção de que há muito espaço para o crescimento das doações, a partir de um trabalho de captação estruturado e persistente”, afirma Paula.

6 – Em relação aos mecanismos de doações dedutíveis do Imposto de Renda, o desconhecimento dos brasileiros é grande: 84% disseram não conhecê-los:

Ipsos 2014 Graf 5

Esse percentual é significativo e indica o potencial de crescimento para doações realizadas via incentivos fiscais. Segundo Paula Fabiani, “atualmente a dedução praticamente só pode ser realizada quando a doação é para projetos via leis de incentivos ou Fumcad – Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. O ideal é que haja a ampliação do incentivo fiscal para dar liberdade para o doador beneficiar diretamente as organizações da sociedade civil”.

Metodologia da pesquisa Public Affairs – A pesquisa Ipsos Public Affairs foi realizada em três etapas: julho, outubro e dezembro de 2013, a partir de entrevistas quantitativas com mil pessoas em cada rodada. A primeira etapa foi probabilística para a seleção dos municípios: 70 municípios do Brasil, sendo nove regiões metropolitanas. Na segunda etapa foram selecionados aleatoriamente setores censitários para compor a amostra e as entrevistas foram realizadas nos domicílios a partir de cotas das variáveis  sexo, idade, ocupação, nível sócio econômico e nível de escolaridade. A margem de erro da pesquisa Ipsos Public Affairs é de 3 pontos porcentuais, com coeficiente de confiança de 95%.

** Percentuais baseados nos entrevistados que utilizaram pelo menos um canal de comunicação para entrar em contato com alguma empresa nos últimos 12 meses.

Informações à imprensa – G4 Solutions
Tamer Comunicação Empresarial
Geyse Alencar – geyse@tamer.com.br
(11) 3031-2388// 9-9940-0128

Especialista Cria Blog Para Ajudar Pequena e Média Empresa a Desenvolver Investimento Social

Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a maioria das grandes corporações desenvolve algum tipo de investimento social privado, a ponto de alguns projetos ficarem bem conhecidos do grande público, como a campanha sobre câncer de mama do Instituto Avon ou o McDia Feliz. Lá (e talvez também aqui) há um enorme grupo de empresas sem atuação social: as pequenas e médias.

É de olho nesse público que a norte-americana Rachel Hutchisson, diretora de cidadania corporativa e filantropia da Blackbaud, Inc. –empresa de tecnologia especializada em soluções para o terceiro setor- criou o blog Business Doing Good, com dicas práticas para que pequenos e médios empresários construam seu investimento corporativo do zero.

Em um post de apresentação do site, a própria Rachel deixa claro que a realidade é diferente dentro da pirâmide social corporativa: “Este blog é para o resto de nós, para aqueles que até podem estar informados sobre o que os ‘caras grandes’ estão fazendo, mas precisam de conselhos práticos para construir projetos nos pequenos e médios negócios em que milhões de pessoas trabalham todos os dias”.

Logo de início, Rachel fez uma série de textos que serve praticamente como um passo a passo para que esse nicho de empresários consiga se familiarize com o investimento social privado. Para mostrar a importância do planejamento, a primeira frase da primeira postagem é: “Doar dinheiro é difícil”.

A especialista lembra que muitas empresas acabam doando esporadicamente, conforme chegam pedidos e de acordo com o gosto de seus donos ou dirigentes. Para ser estratégico e realmente realizar o investimento social privado, no entanto, é preciso agir de maneira diferente. O primeiro passo é levantar o valor de tudo o que sua empresa faz para a comunidade, como doações em dinheiro, em produtos e em apoio a eventos.

As etapas seguintes, descritas de modo muito didático nos textos no site, falam sobre como: escolher uma causa, determinar um orçamento para investimento social, definir a estrutura jurídica dentro da qual se vai investir (uma fundação, um instituto…), usar maneiras não tradicionais de expandir suas doações, criar políticas filantrópicas tanto para dentro quanto para fora da empresa, lidar com pedidos de doações.

Atualmente, o blog também está publicando dicas práticas para pequenos e médios empresários que queiram criar programas de voluntariado em seus negócios.

Além de servir como um guia, o Business Doing Good traz conteúdo para quem se interessa por temas ligados ao investimento social privado empresarial. Por exemplo, o blog periodicamente apresenta exemplos de empresas inovadoras em sua ação social, como a 2 Degrees Food, que doa alimentos ao mesmo tempo em que vende barras de cereais.

Falta de Prestação de Contas é Principal Motivo Para Cancelamento de Títulos de Utilidade Pública; Veja Como Evitar Problemas

Os títulos de Utilidade Pública Federal (UPFs), emitidos pelo Ministério da Justiça, funcionam como um reconhecimento do Governo Federal aos importantes serviços prestados por organizações da sociedade civil (OSCs). Além disso, atestam a credibilidade de uma OSC frente à sociedade e, em certos casos, são um pré-requisito para as entidades firmarem parcerias com o poder público. Se obter o UPF exige trabalho, perdê-lo é bem fácil.

Em 2013, mais de 600 organizações foram descadastradas. “O principal motivo foi elas terem deixado de prestar contas regularmente, em especial em relação aos últimos três anos”, afirma Fernanda Alves dos Santos, diretora do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação da Secretaria Nacional de Justiça, órgão do Ministério responsável pela concessão e controle dos UPFs.

Em entrevista ao site do IDIS, Fernanda falou sobre os procedimentos para obter o título, deu orientações para evitar que o pedido seja denegado e explicou como manter o certificado sem problemas. A boa notícia é que o site do Ministério da Justiça tem informações detalhadas para quem busca a certificação.

IDIS: O que é preciso para pleitear um título de Utilidade Pública Federal?

Fernanda Alves dos Santos: Há alguns requisitos, como a entidade estar formalmente constituída no país, ter personalidade jurídica, estar em funcionamento contínuo, ter existência de no mínimo três anos e não remunerar dirigentes nem distribuir lucros. Para a questão dos três anos de existência, é importante também um relatório bem consubstanciado das atividades que realizou e da contribuição que deu à sociedade nesse período. Também tem de mostrar que vem organizando toda a prestação de contas adequadamente, que publica despesas e receitas, seu balanço atual. Em essência, são esses os documentos.

IDIS: Se a organização não cumprir algum desses requisitos o pedido já é indeferido?

Fernanda Alves dos Santos: Se não apresentar um dos documentos, nós já não conseguimos verificar se a entidade cumpre todos os requisitos previstos na lei. Um ponto para o qual nós sempre chamamos atenção é para que a organização tenha muito cuidado na hora de preparar a documentação para solicitar o título, para que não falte nenhum documento. O maior motivo de indeferimento é a falta de documentação completa. Outro elemento que causa indeferimento é a necessidade de que no estatuto haja uma cláusula prevendo que não se remunere os dirigentes nem distribua lucros.

IDIS: Pode-se entregar depois o documento que faltou?

Fernanda Alves dos Santos: Não se abre a possibilidade de diligência. Tem a análise, e o processo é deferido ou não. A análise é ministerial, inclusive passa pelo próprio ministro. Depois, nós abrimos o prazo para recurso caso o processo seja indeferido. Nessa oportunidade, a entidade pode apresentar a documentação que falta. Nós sempre recomendamos que as organizações entrem no site do Ministério da Justiça, onde há um checklist, modelos de documentos, tudo para tentar fazer com que o pedido seja realizado da forma mais completa possível. Se surgirem dúvidas sobre como prover um documento, há modelos disponíveis no site, para evitar que haja uma denegação de pedido só porque a entidade esqueceu de apresentar alguma documentação necessária. Nós temos também um serviço de atendimento às organizações pelo e-mail sac.dejus@mj.gov.br.

IDIS: Quanto tempo demora o processo de análise até se obter o título?

Fernanda Alves dos Santos: Dentro da nossa unidade, uns 45 dias. A questão é que depois ele sobe para outras instâncias. Este processo leva um pouco mais de tempo porque passa por distintas autoridades. A média tem sido uns 60 dias, passando por toda a cadeia.

IDIS: O título tem de ser renovado?

Fernanda Alves dos Santos: Não há renovação. O que há é uma manutenção do título pela prestação de contas permanente. A organização tem a obrigação de prestar contas anualmente ao Ministério da Justiça. Isso é feito por meio do nosso cadastro nacional, porque essas informações são disponibilizadas para a sociedade monitorar, acompanhar e controlar. As organizações têm de entrar no sistema e prestar contas do exercício anterior. O que acontece é que se a entidade deixa de prestar contas por três anos consecutivos, isso abre a possibilidade de cassação do título. Este é o principal motivo de porque no ano passado nós cassamos títulos de mais de 600 organizações. O que nós fazemos anualmente é liberar, a partir do momento em que se realiza a prestação de contas, uma certidão de regularidade.

IDIS: O principal motivo de cancelamento é a não prestação de contas por três anos?

Fernanda Alves dos Santos: O principal é este, mas é claro que existem outros, como denúncias que são realizadas por meio de representações administrativas. Também verificamos se, depois de um determinado período, a entidade deixou de cumprir algum requisito para que o título seja concedido. E aí entram, em geral, a questão da remuneração de diretores, alguma mudança no estatuto, ou até mesmo alguma decisão judicial, que podem levar à cassação do título.

IDIS: Se a organização perde um período de prestação de contas, ela pode depois prestar essa conta atrasada e regularizar sua situação?

Fernanda Alves dos Santos: Vamos supor que ela vinha prestando contas até 2011. Em 2012, quando deveria ter prestado contas do ano anterior, não prestou. De pronto, ela não vai ter a certidão de regularidade. Agora, se deixa de prestar por três anos consecutivos, isso abre possibilidade para a cassação. A gente faz uma primeira notificação no Diário Oficial, não cassa de imediato. Se a entidade prestar contas neste período, não vamos abrir a cassação. Se mesmo notificada, ela não presta contas, nós abrimos a cassação. Cassado o título, a organização tem de entrar com um pedido para se qualificar de novo. Nós sempre analisamos a informação de que a organização já passou por um cancelamento. Ela vai solicitar uma nova análise e vamos tentar entender porque deixou de prestar contas, porque ficou paralisada. Este é um elemento que é considerado na nossa segunda análise. Tendo conseguido o título, não deixe de prestar contas sob pena de perdê-lo. Essa é uma atividade relevante, porque é quando a organização informa à sociedade, através do nosso cadastro, o que vem realizando, que atividades vem desenvolvendo. É uma informação que o Ministério da Justiça considera extremamente rica e relevante. Vamos também lançar, ainda neste semestre, um novo manual atualizado para organizações, pois nós desburocratizamos alguns procedimentos e atualizamos o texto.

IDIS: Que tipo de procedimento foi desburocratizado?

Fernanda Alves dos Santos: A própria prestação de contas. A organização tinha de imprimir a prestação, assinar e mandar para o Ministério da Justiça. Hoje, fazemos a análise direto no sistema. A organização só tem de enviar algo se por acaso detectarmos alguma informação que precisa ser conferida e validada. É um processo muito mais célere, seguro, e a gente tem inclusive recebido um retorno muito bom a partir dos resultados desses procedimentos, que foram implantados no ano passado.

GIFE Realiza em Março seu Oitavo Congresso e Coloca em Discussão a Capacidade Transformadora do Investimento Social

18/02/2014 – Será realizado em março, em São Paulo, entre os dias 19 e 21, a oitava edição do Congresso GIFE, evento que pretende reunir mais de 1000 pessoas interessadas em discutir as principais questões colocadas sobre o investimento social brasileiro.

A programação oficial do Congresso GIFEacaba de ser lançada e ao longo do Congresso dezenas de palestrantes nacionais e internacionais estarão à frente das plenárias, mesas e atividades abertas. O IDIS participará de uma mesa com a presença da sua Diretora Executiva, Paula Jancso Fabiani.

A oitava edição do Congresso GIFE será norteada por questões como:Quais foram os reais impactos gerados pelo investimento social nos últimos 20 anos? Quais são os atuais desafios estabelecidos para este investimento? O que fazer para que ele seja no futuro cada vez mais transformador da sociedade?

Pamela Ribeiro, coordenadora de conhecimento do GIFE e responsável pela programação do Congresso, destaca que o grande diferencial desta edição do evento – que acontece a cada dois anos desde 2000 – é que ele traz temas mais amplos e urgentes colocados pela sociedade civil, aproximando o investimento social destas questões.

“Procuramos construir o Congresso tendo como base dois cenários atuais. O primeiro é que hoje o investimento social está muito mais dinâmico e heterogêneo e se alinha, cada vez mais, à estratégia de sustentabilidade e negócio das empresas. E, o segundo, ele está inserido dentro de uma sociedade civil e não pode trabalhar de forma isolada. Ele tem que ser pensado e articulado a todos os outros atores sociais que existem. Ou seja, sua relevância passa a estar vinculada à capacidade de fortalecer outras dimensões da atuação social, seja pelo aprofundamento da responsabilidade social empresarial, pela contribuição às políticas públicas ou pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil”, destaca.

Para dar luz a estas questões, a programação foi construída a partir de quatro eixos centrais: inovação, impacto, escala e redes.

Durante todo o Congresso, serão promovidas ainda oficinas, lançamentos de livros e atividades abertas, com ações organizadas por associados e parceiros. A programação aberta tratará de temas atuais do investimento social transformador em diálogo com a programação oficial. Entre as discussões estarão assuntos como transparência e accountability, ampliação da cultura de doação, a relação entre institutos e fundações e suas mantenedoras e as possíveis conexões entre o investimento social privado e políticas públicas.

Para saber mais informações e participar do Congresso, basta acessar a página www.congressogife.org.br.

Fonte: GIFE.

POR QUE OS INVESTIDORES SOCIAIS BRASILEIROS NÃO DIVULGAM O QUANTO DOAM?

O jornal quinzenal “The Chronicle of Philantropy” faz, todo ano, uma lista das maiores doações feitas publicamente por norte-americanos. Considerando apenas as maiores de 1 milhão de dólares, foram doados U$ 9,6 bilhões em 2013. No Brasil esses números são desconhecidos – aqui, não se sabe quanto, ou mesmo se, os detentores de grande fortuna doam a causas sociais. Para entender essa realidade, o IDIS convidou quatro especialistas para comentar. Entre os pontos em comum observados, eles indicam a necessidade de criar uma cultura de doação (ainda incipiente no Brasil, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos) e a importância de falar publicamente sobre doações para inspirar outras pessoas.

Alguns apontaram, no silêncio dos milionários brasileiros, razões de segurança; outros veem um problema mais de fundo, a desigualdade social, que faria a elite viver em uma redoma e, por isso, não ter senso coletivo.

Veja abaixo os principais trechos das respostas.

Joana Mortari, diretora da Associação Acorde:

“Nos Estados Unidos, declarar a doação é algo positivo e valorizado. As pessoas doam para inspirar e também para serem reconhecidas e admiradas. No Brasil, a admiração está apenas no ganhar, e não no doar. Os valores são diferentes.”

“Muitos aqui dizem que o problema é a falta de incentivo fiscal para doação. Mas, se doar fosse um valor e gerasse reconhecimento social (status), as pessoas tirariam do caixa e não ficariam esperando um dinheiro de renúncia fiscal para doar – dinheiro que, aliás, é considerado para muitos como do governo, já que o poder público está abrindo mão de um recolhimento. Incentivo ajuda, mas a falta dele não é o centro do problema.”

“O norte-americano tem um sentimento de construção coletiva da nação, de corresponsabilidade com o governo na construção do país. Já no Brasil nós delegamos ao governo e ponto. Assim, há uma sensação coletiva de que se pagamos os impostos, fizemos nossa parte. Nesse contexto, declarar grandes doações inspira mais críticas do que seguidores. Acrescente a isso que existe um problema de segurança, e pronto: não há nenhum bom motivo mesmo para declarar doações.”

“Precisamos mudar esse sistema de valores ao fomentar a cultura de doação. Quando doar for motivo de orgulho e reconhecimento social, fazer o ranking será o mais fácil.”

Paula Fabiani, diretora-executiva do IDIS:

“Temos poucos dados nessa área. Estudos como o Censo e a Pesquisa de Orçamento Familiar, ambos do IBGE, não abordam de forma direta a questão da doação no país. Os bancos tampouco mapeiam os valores relativos à doação de seus clientes de alto poder aquisitivo. E as informações das declarações de Imposto de Renda também não nos fornecem um bom panorama, pois há poucas possibilidades de utilização de incentivo fiscal (o que não estimula o doador a declarar a doação), a declaração de Imposto de Renda simplificada não permite informar a doação, e o universo de declarações completa se restringe a algo em torno de 10 milhões de brasileiros.”

“Faltam motivadores para a declaração da doação, pois o governo não realiza campanhas nem dá suporte para incentivar esse tipo de atitude.”

“Existem evidências para se pensar que o investidor social privado é relutante em expor os valores de doação. Uma razão importante é o fato de as doações ocorrerem via empresa, para a qual há incentivos fiscais mais abrangentes. Outro motivo reportado por alguns é a questão da segurança. Além disso, a exposição gera um aumento no volume de solicitações de doações.”

“Não existem estudos que demonstram um panorama das grandes doações individuais, como ocorre nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. A inexistência dessa informação dificulta a identificação do tamanho do setor filantrópico e sua evolução ao longo dos anos, assim como a própria ação das organizações da sociedade civil na captação de recursos.”

“Em 2013, assistimos à maior doação individual do ano nos Estados Unidos, e de um indivíduo com menos de 30 anos: Mark Zuckerberg, cofundador do Facebook doou US$ 1 bilhão para a Silicon Valley Community Foundation. Não temos informações dessa natureza para inspirar nossos investidores sociais no Brasil.”

“Os filantropos brasileiros precisam se sentir parte de uma comunidade e, para isso, precisam de informações sobre essa comunidade. É imperativo realizar um mapeamento periódico que permita ao setor e ao governo buscar políticas públicas mais favoráveis e acompanhar o impacto destas no desenvolvimento do setor filantrópico no país.”

Marcos Flávio Azzi, fundador do Instituto Azzi

“O topo de tudo é a falta de senso coletivo, a vida ‘guetizada’ que as pessoas vivem. Pode-se tranquilamente viver num oásis de primeiro mundo, completamente isolado do Brasil como um todo. Disso, derivam todos os problemas.”

“O senso coletivo da classe baixa é maior. Ela vive a realidade, usa os instrumentos públicos, o hospital, a escola, o transporte coletivo, o parque.”

“Aqui, a pessoa não é elogiada por fazer doação nem recriminada por não fazer, e isso já abre um abismo entre a gente e os norte-americanos”

“Ter comportamento altruísta é doar uma parcela relevante do patrimônio, de forma recorrente, com um objetivo específico e impessoal, sem esperar algum tipo de benefício. Aqui, as pessoas de alto poder aquisitivo fazem exatamente o oposto: a doação é esporádica, não é recorrente, é irrelevante em relação ao patrimônio e, geralmente, visando algum benefício – porque um amigo pediu ou tem algum incentivo fiscal”.

“Mais importante do que ter incentivos fiscais é ter desincentivos para não doar. Nos Estados Unidos, as heranças são taxadas em 50%, enquanto em São Paulo são só 4%. Os norte-americanos não doam porque há incentivos, mas sim porque ser filantropo vem de berço – isso é que forçou a criação dos incentivos”.

“Para melhorar a situação do investimento social privado no Brasil, é preciso aproximar cada vez mais a classe alta do coletivo, usando instrumentos que tornem o coletivo mais presente; o incentivo fiscal é importante, claro, mas tem de fazer umas 20 coisas para reverter a situação atual”.

Anna Maria Peliano, pesquisadora do Ipea, coordenadora do estudo “Benchmark do investimento social corporativo”

“Há pesquisas sobre empresas, mas não para doações individuais, ainda que o investimento social privado de negócios familiares tenha a ver com as opiniões dos donos. A situação lembra a da filantropia corporativa de duas décadas atrás. O investimento social corporativo na década de 90 também não era divulgado, não se valorizava falar sobre isso”.

“O brasileiro não tem tradição de divulgar doações, diferentemente dos Estados Unidos. É importante falar sobre investimento social privado, principalmente os grandes doadores. Isso estimula os outros a fazerem o mesmo e cria uma cultura de doação”.

“Para melhorar o ambiente do investimento social privado no Brasil, é preciso estruturar, organizar, divulgar. A sociedade começa a valorizar, a ver que não é só promoção individual. Deve-se trazer exemplos, estruturas, práticas.”

 

 

Bilionário Aproveita o Fórum Econômico Mundial em Davos para Estimular Filantropia

“É importante que pessoas que tenham uma quantidade razoável de dinheiro façam algo útil com ele em vez de apenas comprar iates, casas ou coisas do tipo”, disse o bilionário norte-americano David Rubenstein durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. Rubenstein é CEO do Grupo Carlyle, um dos maiores fundos de private equity do mundo.

“Em algum momento da vida, as pessoas percebem a necessidade de fazer algo, de devolver à sociedade”, declarou Rubenstein em entrevista ao canal de televisão Bloomberg. E o CEO faz o que prega: é um dos signatários do The Giving Pledge, iniciativa criada por Bill Gates e Warren Buffet que busca comprometer as pessoas mais ricas do mundo a doarem ao menos metade de seu patrimônio.

Rubenstein afirmou também que um dos objetivos é internacionalizar a lista de pessoas envolvidas com o The Giving Pledge. Atualmente, há cerca de 120 signatários, mas a grande maioria é dos Estados Unidos. “Estamos trabalhando cada vez mais para conseguir pessoas de fora do país”, afirmou ele, que vai promover, junto com Bill Gates, um almoço para reunir quem já se comprometeu e possíveis aderentes à causa. O Fórum Econômico Mundial, que reuniu algumas das pessoas mais ricas do planeta, é, sem dúvida nenhuma, um ótimo lugar para buscar novos membros.

A entrevista também abordou o papel dos doadores enquanto exemplos para os outros. “Se você for um modelo, outras pessoas podem ver alguém que queiram imitar”, disse Rubenstein, que ainda completou: “Se você fala sobre isso e explica o que está fazendo, pode ter algum impacto nas pessoas com quem trabalha”.

O bilionário, no entanto, não alimenta ilusões sobre o poder do investimento social privado e disse que esse tipo de iniciativa não vai resolver a crescente desigualdade social no planeta. “Precisamos nos lembrar, a filantropia não vai resolver todos os problemas do mundo”, afirmou Rubenstein. Ele citou o caso dos Estados Unidos, onde iniciativas filantrópicas representam apenas 2% do PIB – “uma pequena porcentagem”, segundo ele.
Para o CEO, a redução da desigualdade passa necessariamente pela educação. “O problema não pode ser resolvido da noite para o dia, precisamos nos comprometer por algum tempo, mas a educação provavelmente é a chave”, ressaltou Rubenstein.

A filantropia, por fim, não foi o único tema de cunho social tratado no Fórum, um espaço tradicionalmente voltado para a discussão de temas econômicos. Uma breve olhada entre os tópicos mais comentados pelos participantes no twitter mostra a amplitude dos assuntos em pauta. Entre os oito tópicos mais citados há “trabalho”, “crescimento”, “clima” e “mudança”. Assim, não é surpreendente que um dos homens mais ricos tenha trazido a filantropia à tona.

 

Pesquisa Aponta Forte Retomada de Grandes Doações de Pessoas Físicas nos EUA

Um levantamento da The Chronicle of Philantropy, publicação voltada para o setor filantrópico, indica uma forte retomada de grandes doações de pessoas físicas nos Estados Unidos em 2013. Tomando como base apenas valores acima de U$ 100 milhões e doações feitas de maneira pública, a pesquisa mostra que o montante chegou a U$ 3,4 bilhões.

Apenas o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e sua esposa, Priscilla Chan, repassaram quase um terço do valor total. Eles destinaram 18 milhões de ações da empresa de tecnologia, o equivalente a cerca de U$ 990 milhões, para a Silicon Valley Community Foundation. Foi a primeira vez que pessoas com menos de 30 anos lideraram o ranking, segundo olevantamento. No ano passado, o casal já havia ficado em segundo lugar no ranking, doando a mesma quantidade de ações, mas que na época valiam U$ 500 milhões.

Além disso, em 2012, apenas 11 pessoas doaram mais de U$ 100 milhões. No ano passado, foram 16. Isso, segundo a publicação, marcaria uma retomada das grandes doações de pessoas físicas.

No ano retrasado, na verdade, o valor absoluto doado foi maior do que no ano passado: total de U$ 5 bilhões. No entanto, o megainvestidor Warren Buffet ajudou a desequilibrar os números de 2012: sozinho, fez três doações de U$ 1 bilhão para as fundações de seus filhos. Sem a parte de Buffet, os recursos doados por indivíduos (nos parâmetros considerados pela The Chronicle of Philantropy) somaram U$ 2 bilhões. Mesmo com o bom desempenho em 2013, as doações acima de U$ 100 milhões ainda não atingiram as marcas de antes da crise econômica. Em 2007, foi doado um total de U$ 4,1 bilhões.

Ainda assim, a perspectiva é de que o crescimento continue. A editora da The Chronicle of Philantropy, Stacy Palmer, afirmou ao Huffington Post que “as pessoas parecem mais otimistas com a economia, e, certamente, o mercado de ações forte incentivou muitas doações”. Por isso, ela conclui que “parece que teremos um ano melhor”.

Beneficiários

Segundo o estudo, o ensino superior foi quem mais se beneficiou das grandes doações. Das 15 iniciativas que constam da lista, 12 foram para instituições desse setor.

Se Zuckerberg e Priscilla Chan destinaram recursos a uma entidade comunitária, os segundos colocados no ranking investiram forte em pesquisas universitárias. Philip Knight, cofundador da Nike, e sua esposa, Penelope, deram U$ 500 milhões para a Oregon Health and Science University Foundation, voltada a pesquisas sobre câncer.

Já Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova Iorque e fundador de uma empresa de comunicação que leva seu nome, destinou U$ 350 milhões para a Johns Hopkins University, com o objetivo de promover estudos interdisciplinares e dar ajuda financeira para estudantes de graduação.

Metodologia de Medição de Impacto Avalia Reais Mudanças de Projetos Sociais

Em dezembro de 2013, Jennifer Rouse, da New Economics Foundation (NEF) Consulting, e Luis Gorjon Fernandez, da Charities Aid Foundation (CAF) Global Aliance, estiveram no Brasil, e trouxeram na mala uma novidade: a metodologia Social Return on Investment (SROI). Trata-se de uma técnica de medição de impacto que se preocupa em observar mais do que apenas números, como a diferença causada pelos projetos na vida das pessoas.

Com análises meramente quantitativas, segundo Jennifer, “você nunca vai saber o impacto real de apoiar aquelas pessoas, as mudanças reais em suas vidas, ou o impacto no meio ambiente e assim por diante”. Já com o SROI “você consegue entender como está fazendo diferença e, assim, prova que seu projeto funciona, ou então, você descobre que não está fazendo diferença e pode melhorar sua ação”.

O método é novo no Brasil, mas tem sido usado em muitos outros lugares do mundo por empresas, organizações da sociedade civil e até governos. “Esta é uma metodologia mais robusta, porque capta o impacto real e, além disso, ela é facilmente entendida por muito dos stakeholders”, afirma Gorjon.

A dupla, que esteve no Brasil para dar um treinamento sobre o uso da técnica SROI para a equipe do IDIS, que está trazendo a metodologia para o país, conversou com o site sobre a importância da medição de impacto, detalhes da técnica e outros assuntos. Confira abaixo os principais trechos.

IDIS: Qual a importância de se medir o impacto de um investimento social?

Jennifer Rouse: A não ser que você meça o impacto, nunca vai saber o real valor do que faz. Vai estar focado em medidas que lhe dirão quantas pessoas ajudou, ou quanto de investimento financeiro há em um projeto, mas não vai saber o impacto real de apoiar aquelas pessoas, as mudanças reais em suas vidas, ou o impacto no meio ambiente, e assim por diante. Com a medição, prova-se que seu projeto funciona, ou, então, descobre-se que não está fazendo diferença nenhuma e pode melhorar sua ação. Trata-se de provar e melhorar, e não se pode fazer isso sem olhar o impacto do projeto.

Luis Gorjon Fernandez: A medição de impacto é uma ferramenta muito poderosa para o planejamento. Outra coisa importante é o engajamento dos stakeholders, pois dá a oportunidade de se ter um retorno das pessoas que estão participando do projeto. É bom para o pessoal de uma organização se engajar com os stakeholders, entender as mudanças que estão fazendo na vida dos outros. Isso faz o trabalho valer a pena, dá uma sensação de satisfação. É importante que as pessoas que estejam trabalhando e as que estejam financiando um projeto possam ter uma ideia da diferença real que podem fazer. Impacto envolve mais mudanças reais e duradouras na vida das pessoas do que números. Por exemplo, se você tem um programa para melhorar a vida das mulheres, talvez olhar para o número de pessoas que você treina não lhe aponte as verdadeiras mudanças nas vidas delas. Por isso, a SROI é uma ferramenta tão poderosa, pois lhe diz as reais mudanças nas vidas das pessoas.

IDIS: Com funciona a SROI?

Jennifer Rouse: A SROI é uma análise de custos e benefícios, na medida em que você sabe o retorno sobre o dinheiro investido. Mas, em vez de dados apenas sobre retornos financeiros, vê os impactos econômicos, sociais e ambientais. Mede se houve resultados sociais, econômicos e ambientais, e permite que se meça isso financeiramente, pois os resultados [outcomes] são monetizados com técnicas econômicas reconhecidas – caso contrário, eles seriam deixados de fora da análise.

A SROI é baseada em três conceitos principais. Um é o foco nos resultados. Os produtos [outputs] são apenas a evidência de que uma atividade aconteceu. Por exemplo, você diz que 40 pessoas participaram de um programa de profissionalização – isso é um produto. O que significa? Você não sabe se todas essas pessoas conseguiram emprego. Ou, caso tenham conseguido, se é um trabalho que as faz felizes ou que permite que elas paguem uma escola para seus filhos. Resultados são mudanças reais. Se olhamos os resultados de um programa de treinamento profissional, queremos saber se as pessoas se tornaram mais confiantes depois dele, se conseguiram trabalho, se esse emprego melhorou sua situação econômica, se conseguiram mais autonomia por causa disso. Envolve todas as diferentes mudanças que ocorrem no decorrer do projeto. O outro princípio é valor, é avaliar o que não podemos comprar ou vender. Colocamos tudo em uma moeda comum, de modo que coisas que são medidas de formas diferentes vão poder se relacionar de uma maneira econômica. O terceiro é impacto. Num sentido muito específico da palavra, é a mudança que você vê, feita pelo seu projeto, pela sua organização. E você reconhece a contribuição de outros stakeholders que tenham ajudado seus beneficiários, pois algumas mudanças aconteceriam de qualquer forma.

IDIS: Quanto tempo leva para fazer uma avaliação pelo método SROI?

Jennifer Rouse: Depende do tamanho do projeto. É importante dizer que demora mais do que os métodos normais. É uma análise profunda para se chegar à qualidade da missão e ao entendimento da diferença que se faz. Eu diria uma média de 300 dias, incluindo tudo. Mas esse não deve ser o foco, e sim o que se está conseguindo com isso. A informação é muito valiosa para a organização e para seus beneficiários.

IDIS: Por que a CAF escolheu essa metodologia para aplicar com seus parceiros?

Luis Gorjon Fernandez: Nós acreditamos que a SROI é uma técnica muito robusta, e o interesse em usá-la está crescendo. A aspiração da CAF é se tornar uma organização que possa ajudar seus satkeholders ao guiá-los pelas metodologias que existem para melhorar o impacto dos doadores. A SROI capta o impacto real e, além disso, é facilmente entendida por muito dos stakeholders. Nós somos pioneiros em métodos de avaliação na Rússia, por exemplo. Não havia nada por lá no setor não governamental, e a CAF foi pioneira, traduzindo metodologias do inglês para o russo. Estamos sendo pioneiros também com a SROI. O IDIS também está sendo pioneiro no Brasil. Não acho que haja ninguém usando essa metodologia aqui. Estamos vendo pela primeira vez na Rússia. E queremos usar na Índia e na Austrália também, onde já está sendo trabalhada por outras organizações.

IDIS: Vocês também vieram ao Brasil para ensinar a técnica ao pessoal do IDIS?

Jennifer Rouse: Sim, treinei o pessoal do IDIS sobre as ideias em torno dos conceitos de impacto social, e falamos sobre as tendências globais. Foram dias de treinamento na metodologia SROI. As técnicas de avaliação do IDIS já eram excelentes, então foi pegar o que se fazia antes e adaptar para uma nova estrutura.

IDIS: A SROI permite comparar diferentes projetos?

Jennifer Rouse: Se você tiver projetos diferentes em andamento, se utiliza os mesmos recursos e monetiza os retornos qualitativos, pode compará-los. Organizações diferentes, no entanto, vão ter abordagens diversas, o que significa que não dá para comparar os resultados de uma com a outra. O importante é que a relação custo-benefício seja maior do que um para um, mas não importa o quanto se tem de volta. Por exemplo, pode ser mais difícil trabalhar com alguns beneficiários do que com outros. Nesses casos, você pode ter um retorno menor, mas este será mais valioso do que um com proporção financeira maior.

IDIS: Como fazer as empresas e os investidores sociais brasileiros perceberem que é importante medir o impacto de suas ações?

Jennifer Rouse: Há um interesse crescente na medição de impacto, o que é ótimo. O Brasil é um lugar muito empolgante no momento, há muito potencial e muita energia no ar. Acho que o IDIS está fazendo um grande papel ao promover a medição do impacto social. Quanto mais o IDIS e outras organizações conseguirem trabalhar e espalhar essa ideia, ótimo. O impacto social é a grande razão pela qual os projetos privados de investimento fazem o que fazem. Uma organização que queira saber o que sua ação alcançou tem de saber seu impacto social.

IDIS: Como vocês avaliam as experiências de medição de impacto social pelo mundo?

Luis Gorjon Fernandez: Eu fiz muitas pesquisas, não só no mercado brasileiro, mas em todos nos quais operamos. Acho que a medição de impacto é algo realmente novo. Não se estuda medição de impacto na universidade, não existe uma profissão chamada “especialista ou analista em medição de impacto social”. Está começando agora. Na Austrália, há um novo curso no qual se estuda medição de impacto. No Reino Unido, você tem alguns cursos em escolas de administração. O fato de que há trilhões de dólares em investimento de impacto social e que esses investidores sociais estão mais interessados em saber a diferença real que estão fazendo – o que fez com que a medição fosse para o topo da agenda. Por isso, muitas organizações estão interessadas em investir recursos, testar novas metodologias, tentar aprender com a filantropia e com o investimento social. Eu diria que todo mundo está indo em direção a uma medição avançada de impacto, que é uma coisa nova. Mas algumas organizações fazem isso há anos, como o Banco Mundial, que tem sua própria metodologia. A mesma coisa com o Unicef e com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal no Brasil.

Para saber mais sobre SROI, cujo desenvolvimento da metodologia no IDIS está sob responsabilidade da Diretora Executiva Paula Fabiani, entre em contato no e-mail comunicacao@idis.org.br.

Especialistas Criticam “Altruismo Eficaz” Por Fazer Juízo Moral do Investimento Social Privado

O “altruísmo eficaz” – ideia de que as ações solidárias devem privilegiar as causas de impacto – é considerado um conceito nocivo, pois intensifica a disputa por financiamento entre causas e entre beneficiários ao ter a pretensão de apontar onde seria moralmente mais aceitável investir recursos privados.

A crítica é de dois representantes da Charity Navigator, que analise entidades e orienta doadores: o presidente da organização, Ken Berger, e o consultor Robert Penna. Os dois assinam um texto no blog da Stanford Social Innovation Review. Um dos alvos é o defensor mais famoso do altruísmo eficaz, o filósofo australiano Peter Singer. Em um evento público, Singer questionou: o que seria melhor: dar um cão-guia para um cego norte-americano ou curar 2 mil cegos de um país em desenvolvimento? Berger e Penna chamam a atenção para o uso do termo “norte-americano”, que seria uma forma de apelar para o complexo de culpa do público.Eles também criticaram a proposição de um dilema por Eric Friedman, em seu livro “Reinventing Philantropy: A framework for more effective giving”: doar para um hospital dos Estados Unidos ou para um de Angola? Friedman escreve: “Eu provavelmente ficaria muito irritado com doadores que estão continuamente investindo no Hospital Saint Jude e deixando o Hospital Malanje Provincial lamentavelmente subfinanciado. Por que os pacientes do Saint Jude são mais dignos de viver?”.

Os autores argumentam que, “obviamente, vale a pena apoiar ambas as instituições se elas dão resultados que salvem vidas; mas Friedman e outros indicam que se deveria apoiar Malanje, e não Saint Jude, como a ‘melhor’ escolha, e apoiam essa afirmação com nada mais do que uma moralidade distorcida”. Chamam a postura de Friedman de caridade imperialista, “na qual a ‘minha causa’ é justa, e a sua é um desperdício de recursos preciosos”.

Berger e Penna até afirmam que o conceito de “altruísmo eficaz” não seria um problema se estivesse restrito a nichos. No entanto, escrevem eles, a organização GiveWell, criada para orientar doadores, adotou e popularizou esse tipo de critério em suas análises. “A GiveWell está fazendo mais mal do que bem tanto para a comunidade de doadores quanto para aquelas milhares de organizações que fazem um trabalho muito necessário em áreas que esse altruísmo ineficaz considera indignas.”

Os autores concluem que este tipo de abordagem vai fazer com que cada vez mais sejam os especialistas, e não os indivíduos, quem escolherão o destino dos recursos doados. Eles citam mais uma passagem de Friedman: “Ainda que não necessariamente superiores moralmente do que os que fazem o bem, os que fazem melhor são intelectualmente superiores”.

Até por isso, os autores afirmam que os doadores devem escolher tanto com a cabeça quanto com o coração qual seria a melhor forma de destinar seus recursos. Eles não são contra, portanto, um ambiente filantrópico mais informado, mas sim contra uma situação em que se diga que uma causa é melhor do que outra.

 

 

A Charity Navigator, defendem-se Berger e Penna, não diz qual é a melhor organização, mas sim confiam nas pessoas para que tomem a melhor decisão com base nos dados que são fornecidos. “Isto – e não um Big Brother disfarçado de altruísmo ineficaz – significa a doação informada com que nós acreditamos honrar o espírito altruístico”, finalizam.

Fundadora de Organização Comunitária de Florianópolis Está Entre Finalistas de Prêmio Internacional

A brasileira Lucia Dellagnelo, cofundadora e presidente do conselho deliberativo do Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom), foi anunciada em janeiro como uma das sete finalistas do Olga Alexeeva Memorial Prize, que reconhece iniciativas sociais do mundo inteiro e que chega à sua segunda edição em 2014. O vencedor receberá cinco mil libras, quase 20 mil reais.

O prêmio foi criado pela Alliance Magazine e pela Philantropy Bridge Foundation para homenagear a ativista russa Olga Alexeeva, que trabalhou por 20 anos na Charities Aid Foundation (CAF), tanto na Rússia quando em outros países. Ela faleceu subitamente em 2011, com apenas 42 anos.

“A indicação para o prêmio é, antes de tudo, um reconhecimento para todas as pessoas que contribuíram para criar e desenvolver o ICom”, afirmou Lucia, que foi indicada pelo IDIS para concorrer. Além disso, a presidente do conselho deliberativo da instituição catarinense não descarta a possibilidade de que a atenção estrangeira repercuta na atuação da organização: “Buscamos, acima de tudo, reconhecimento e legitimidade no território onde atuamos, mas o reconhecimento internacional contribui para ampliarmos ainda mais nossa rede de parcerias”.

A organização surgiu em 2005 e é pioneira no Brasil na área de desenvolvimento comunitário, tipo de iniciativa que tem como objetivo mobilizar todos os que atuam em uma determinada comunidade para que eles mesmos identifiquem e busquem soluções para os problemas do lugar onde vivem ou trabalham. “Sempre tivemos claro que deveríamos operar segundo os princípios de uma fundação comunitária, isto é, através de parceria, fortalecimento de ativos locais e colaboração”, explica Lucia.

A fundadora do ICom espera que a indicação possa, inclusive, ajudar a disseminar esse tipo de atuação no Brasil. “Nosso trabalho está mostrando que o conceito de fundação comunitária como organização mobilizadora e articuladora dos ativos de uma comunidade é plenamente aplicável à realidade brasileira”, afirma ela.

A Alliance Magazine está divulgando periodicamente, em seu site, os nomes dos indicados à edição 2014 do prêmio Olga Alexeeva. Além da brasileira, já foram anunciados como finalistas a letã Ruta Dimanta, da Fundação Ziedot; as russas Larisa Avrorina, da CAF Russia, e Natalya Kaminarskaya, da Russian Donors Foundation; e o indiano Dhaval Udani, da GiveIndia.

O Brasil também está presente no júri que irá escolher o vencedor. A brasileira Ana Valéria Araújo, do Fundo Brasil de Direitos Humanos, será uma das cinco juradas. Ela estará acompanhada por Akwasi Aidoo, da iniciativa senegalesa Trust Africa; Shenyu Belsky, da chinesa Rockefeller Brothers Fund; Christopher Harris, consultor norte-americano da área de filantropia; e Kavita Ramdas, da Ford Foundation India.

Em 2013, o prêmio foi para os quenianos Jane Weru e e Kingsley Mucheke. A iniciativa na qual trabalham, o Akiba Mashinani Trust, oferece financiamento para construção de moradias dignas em áreas de favela no Quênia, e, segundo os jurados do Olga Alexeeva Memorial Prize, seus integrantes “representaram melhor os amplos objetivos do prêmio”.

 

 

Com Modelo Inovador e Lucrativo, Empresa Alimenta Crianças Subnutridas ao Vender Seus Productos

A empresa norte-americana 2 Degrees Food adotou um modelo inovador para ajudar quem precisa ao mesmo tempo em que faz negócios lucrativos: a cada barra de cereal saudável que vende, ela doa uma refeição para uma criança subnutrida em algum ponto do mundo.

Fundada em 2011 por Will Hauser e Lauren Walters, a empresa já doou até agora mais de um milhão de refeições, e é a primeira do ramo alimentício a adotar um modelo conhecido como Buy-One-Give-One. “Cada vez que um produto é comprado, isso permite que uma refeição seja doada através de algum parceiro sem fins lucrativos”, explica Walters.

A empresa é destaque no site Business Doing Good, iniciativa pessoal de Rachel Hutchisson, diretora de cidadania corporativa e filantropia na Blackbaud, Inc. – empresa de tecnologia especializada em consultoria para o terceiro setor. O objetivo do site é incentivar práticas de responsabilidade corporativa em pequenos e médios negócios.

Nos Estados Unidos, as refeições doadas pela 2 Degrees Food são distribuídas com ajuda da organização americana Feeding America. Já em países como Malawi, Haiti, Índia, Colômbia e Mianmar, os parceiros do projeto são o Programa Alimentar Mundial, da ONU, e organizações como a indiana Akshaya Patra Foundation e a norte-americana Partners in Health, entre outras.

Como lida com crianças em estado crítico de nutrição, a empresa não doa qualquer tipo de alimento, mas sim refeições especiais com alto valor nutricional e que podem ser consumidas de imediato, sem necessidade de água ou de cozimento. Além disso, sempre que possível o projeto recorre a fornecedores locais para fazer as refeições, incentivando produtores da região onde os alimentos serão distribuídos.

O nome 2 Degrees Food, por sinal, reflete uma vontade de aproximar pessoas que parecem tão distantes. Em português, significa “dois graus”, e indica que consumidor e beneficiário estão a apenas dois graus de separação, apesar de por vezes estarem a alguns milhares de quilômetros de distância. É a empresa de alimentos que conecta uns aos outros.

A 2 Degrees Food faz o bem sem precisar abrir mão dos lucros. Atualmente, seus produtos são comercializados no site da empresa e em mais de dois mil pontos de vendas, incluindo universidades, redes de mercados, hotéis e até mesmo companhias aéreas. Além disso, fazendo jus a seu status empresarial, a 2 Degrees Food está com planos de expansão para 2014: pretende lançar outros produtos, como café e chá, buscando aumentar seu espaço no mercado, mas sempre com um olho voltado para os problemas alimentares de crianças no mundo todo.

 

 

Excesso de Controle Governamental Pode Estrangular Entidades Sociais, Diz Estudo

É inegável que os governos têm de dar parâmetros e traçar linhas de atuação do terceiro setor, mas sua ação pode ter resultados nocivos se criar regras muito rígidas – ainda que bem intencionadas –, estrangulando as iniciativas das organizações da sociedade civil (OSCs). A conclusão é do estudo “Building trust in charitable giving”, lançado mundialmente nesta semana.

Building Trust

estudo é parte do projeto “Future world giving”, da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), no Brasil representada pelo IDIS, e  busca fazer recomendações para garantir a expansão da atuação filantrópica. Além deste, serão publicados mais dois levantamentos: um sobre apoio à sociedade civil e outro sobre motivação para doação.

O primeiro texto da série alerta que alguns governos acreditam ser tarefa deles construir a confiança do terceiro setor – e, a partir dessa crença “equivocada”, criam sistemas regulatórios que demandam registros e prestações de conta em excesso com objetivo de garantir padrões mínimos de confiabilidade. “Isso é contraproducente”, afirma o estudo. “Ainda que os governos tenham o dever de assegurar que as organizações sem fins lucrativos sejam transparentes e prestem contas, não têm de ser os guardiões da sociedade civil”, acrescenta. “A confiança não é construída, é conquistada.”

Em países em que os cidadãos não confiam no poder público, quanto mais o governo controla a relação entre as organizações sem fins lucrativos e a sociedade civil, mais esta vê com maus olhos o processo e as próprias entidades.

Mas mesmo nos países em que as pessoas confiam nos governantes a intervenção pode ter consequências ruins. Tende-se acreditar que a regulação garanta a atuação adequada das entidades. “O efeito é que se torna impossível para as organizações da sociedade civil conquistar confiança. Assim, o sistema se fragiliza: exemplos isolados de má atuação resultam em crise de confiança que afeta o setor como um todo”, argumenta o texto.

Além disso, em países em desenvolvimento, a regulação de organizações da sociedade civil com base em padrões internacionais pode prejudicar estruturas informais de solidariedade já muito enraizadas nas comunidades. Para o estudo, o poder público deveria, nesses casos, ajudar a fortalecer os modelos tradicionais, que já contam com a confiança dos cidadãos, para fortalecer o investimento social privado.

Recomendações

Como o poder público deve atuar, então? O estudo faz recomendações em quatro temas. Em cada um, há três níveis de medidas – o primeiro deveria ser implementado por todos os países, o último refere-se a objetivos de mais longo prazo.

Registro:  é importante para que os governos compreendam melhor o tamanho e a ação da sociedade civil. Além disso, as OSCs se tornam mais confiáveis aos olhos do público quando passam por algum tipo de registro. O processo, porém, não pode ser tão complicado a ponto de desencorajar organizações menores. Além disso, convém que o governo ofereça treinamentos e serviços online para que possíveis criadores de entidade saibam como registrá-la e quais benefícios teria com isso. Por fim, o relatório recomenda que haja níveis de registros diversos para organizações com tamanhos diferentes – e as exigências devem aumentar na mesma medida em que crescem as entidades.

Regulação:  diz respeito diretamente à gestão e à accountability das OSCs. A recomendação básica, aqui, é que sejam exigidos relatórios periódicos na medida da capacidade e da habilidade de cada organização. Uma boa ideia pode ser a existência de protocolos diferenciados para pequenas organizações comunitárias. Como recomendação de longo prazo, sugere-se criar um banco de dados, acessado por todas as entidades reguladoras, de modo que as OSCs não tenham de se reportar para diversos organismos governamentais.

Atribuição de status: trata dos tipos formais de organizações sem fins lucrativos. Formas tradicionais de associações sem fins lucrativos da sociedade civil local devem ser legalmente reconhecidas, por meio de uma regulação simples. A sugestão de longo prazo é que se aloquem recursos para que organizações que trabalhem com o desenvolvimento da infraestrutura do setor filantrópico possam auxiliar as OSCs a se adequarem às normas regulatórias.

Regulação de organizações estrangeiras ou financiadas por capital externo: entidades nacionais devem ter liberdade de associar a parceiros estrangeiros. Devem, também, relatar ao poder público os benefícios dessa associação para o desenvolvimento da sociedade civil. Por fim, sugere-se que os governos permitam análises independentes de seus gastos com ajuda internacional.

Brasil

Segundo uma pesquisa de opinião citada no estudo da CAF (Edelman’s Trust Barometer), as organizações sem fins lucrativos são as instituições consideradas mais confiáveis pelos entrevistados (63% disseram confiar nelas). Em países com problemas de corrupção, no entanto, esse índice tende a cair, sobretudo quando OSCs estão envolvidas em escândalos. E a pesquisa da CAF usa um exemplo muito familiar para nós: o Brasil.

Os escândalos envolvendo as parcerias entre o setor público e organizações da sociedade civil afetaram a confiança geral no setor filantrópico, avalia o texto. Não por acaso, as OSCs brasileiras estão apenas em terceiro lugar na pesquisa local da Edelman, atrás da mídia e das empresas. Mais ainda, outra pesquisa da CAF, o World Giving Index, aponta que, desde 2007, a proporção de pessoas doando para OSCs caiu cinco pontos percentuais no país.

A publicação traz, inclusive, uma declaração de Paula Fabiani, diretora-executiva do IDIS, parceiro da CAF. “Nós gostaríamos que o governo falasse de maneira mais positiva sobre as entidades sem fins lucrativos e melhorasse a regulação, ao mesmo tempo em que trabalhasse com as organizações para melhorar sua governança”, disse Paula.

Leia o estudo na íntegra neste link:https://www.cafonline.org/PDF/Future-World-Giving.pdf.

OSCS Brasileiros Ainda Usam Muito Pouco as Novas Tecnologias

O acesso a computadores e internet é quase universal entre as empresas: 97% estão conectadas à rede mundial de computadores, segundo o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br). O quadro nas organizações sociais brasileiras (OSCs), no entanto, é outro. “Cerca de 30% das entidades que pesquisamos nem computador têm”, relatou o pesquisador Fábio Senne, do Cetic.br, em seminário durante a ONG Brasil, evento de responsabilidade social que aconteceu em São Paulo entre 28 e 30 de novembro.

A pesquisa, chamada “TIC – Organizações sem fins lucrativos”, mapeou pela primeira vez a infraestrutura tecnológica de 3.546 entidades sem fins lucrativos. O estudo foi apresentado no “Seminário Web Social – nós somos as ponto org ponto br”, organizado pelo Instituto Doar.

O resultado mostra que muitas organizações passam pelas redes sociais antes de criarem um site próprio. “Entre a conectividade e o uso expressivo ainda resta um longo caminho a trilhar”, disse Senne. Para ele, faltam planos de ação para “trabalhar a capacidade e a habilidades das OSCs” em lidar com a internet.

Um dos usos da rede ainda negligenciados pelas entidades brasileiras é a chamada telefonia voice over internet protocol (VoIP), ou seja, usar a internet para fazer ligações. “É uma maneira ótima de trabalhar em redes e conferências, e é barata”, afirmou Senne.

“As organizações têm dificuldade de se apropriar da tecnologia”, acrescentou o diretor de operações da Associação Telecentro de Informação e Negócio, Valter Cegal. As entidades, destacou, amargam falta de experiência no uso de tecnologia com baixa capacitação de seus funcionários.

Essa carência tem impacto direto na administração das OSCs. “As tecnologias de informação melhoram a gestão, a contabilidade, o marketing, a comunicação e a realização de projetos”, apontou Cegal.

Planejamento

A gestão foi tema de outras duas falas no seminário. O diretor presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), Roberto Barth, apresentou a pesquisa “Planejamento estratégico em ONGs”. O levantamento mostrou que, das 38 entidades pesquisadas, 70% disseram ter feito planejamento estratégico nos últimos dois anos. “Só que se trata mais de pensamento do que de planejamento”, comentou Barth.

É que, justificou, frequentemente o plano até existe, foi escrito, “mas ninguém sabe onde está, não foi nem colocado no site da entidade”. Segundo Barth, as grandes entidades até estão mais avançadas em termos de planejamento, mas as pequenas e médias ainda têm muito a avançar.

A apresentação do consultor Eleno Gonçalves Júnior abordou a necessidade de as OSCs terem superavit. “Não ter fins lucrativos é diferente de ser deficitário”, resumiu.

O principal problema, avalia, são as despesas com a manutenção da estrutura das entidades. “Investidores querem financiar projetos”, ressaltou. Ele criticou a prática das entidades de sempre colocarem um valor de 10% acima do preço do projeto para conseguir recursos para infraestrutura. Não faz sentido trabalhar com um percentual fixo para todas, argumentou. “Tem de abandonar esse paradigma, parece garçom; 10% pode ser muito ou pouco”.

Gonçalves Júnior defendeu que as organizações construam uma relação diferente com os financiadores, baseada principalmente na transparência, para que se possa negociar recursos com eles.

Novas ferramentas

O seminário também serviu para apresentar novas ferramentas tecnológicas que estão à disposição das OSCs. Graziela Tanaka, por exemplo, falou sobre a Change.org, plataforma de abaixo-assinados que ela dirige. “A coleta de assinaturas complementa táticas tradicionais de mobilização e advocacy, além de ajudar a conquistar apoiadores que podem se tornar doadores.”

Outra forma de atrair doações é o crowdfunding, um microfinanciamento de iniciativas. “A ideia é viabilizar projetos com muitas pessoas doando pouco”, explicou o CEO do Mobilize, André Gabriel. Segundo ele, o crowdfunding é muito baseado em uma relação de confiança entre doador e organização, e é preciso uma mobilização constante das entidades para conseguir os recursos de que necessitam.

 

 

Estudos Derrubam Certezas Sobre Comportamento Solidário

O que faz uma pessoa doar dinheiro a quem precisa? É melhor pensar muito antes de responder. Uma reportagem do The New York Times destacou estudos científicos que questionam alguns dos motivos mais citados como incentivo ao comportamento solidário dos norte-americanos: reconhecimento social, valores morais, bem-estar pessoal… nenhum desses fatores parece ser capaz de oferecer uma boa explicação a essa questão.

texto especula as razões que poderiam mover os doadores nos Estados Unidos – além dos incentivos tributários (a matéria pressupõe que tal estímulo funciona). De início, apresenta um estudo publicado no The Journal of Marketing que aponta que a busca por reconhecimento social move apenas um pequeno grupo de pessoas, que consideram importante expressar seus valores morais para outros.

Uma das autoras do estudo, Karen Winterich, diz em entrevista que indivíduos com valores morais mais internalizados – por causa da religião, por exemplo – não precisam da promessa de um reconhecimento futuro para doar. Em vista disso, “organizações da sociedade civil talvez queiram reconsiderar seus gastos em coisas como jantares de premiação e presentes”, ironiza a especialista.

A reportagem sublinha, porém, que a solidariedade baseada em valores morais não é necessariamente um comportamento desinteressado. O professor de economia James Andreoni, por exemplo, chegou a usar o termo “warm glow” (algo como “calor”, usado como metáfora para sensação de bem-estar), para explicar por que as pessoas doam. Segundo ele, doadores experimentariam um sentimento pessoal de prazer com o ato altruísta. Por isso, doar ao outro envolve também autointeresse.

Mas, como lembra o texto, o próprio Andreoni já disse que “agir com autointeresse não significa necessariamente agir egoisticamente”, e haveria uma tendência natural dos seres humanos a estarem conectados e serem úteis uns aos outros.

Ainda assim, outra pesquisa mostrou que tentar apelar a essa sensação de bem-estar não necessariamente é uma maneira efetiva de conseguir doações. O estudo usou uma campanha de arrecadação de dinheiro para compra de cobertores em Chicago para testar o efeito da teoria.

Em um caso, as pessoas que pediam a doação também diziam que os doadores poderiam mandar um cartão no qual se lia: “Espero que você aproveite esse cobertor”. Já outros arrecadadores só pediam a doação, sem nada extra.

Os resultados surpreenderam, pois mostraram que a opção do cartão não era efetiva. Pessoas que doariam pequenas quantidades (U$ 5) tinham menos probabilidade de fazê-lo quando se deparavam com a opção de preencher o cartão. Para uma das autoras do estudo, isso se deve ao fato de que essas pessoas eram motivadas a doar por pressões sociais, e, ao se apelar a seu altruísmo, elas acabavam não doando. Já quem estava disposto a doar quantidades maiores de dinheiro o fazia sendo ou não submetidas à opção do cartão, o que demonstraria seu altruísmo.

Se (ainda) não há resposta certa para aquela questão inicial, e se por enquanto sobram dúvidas e faltam certezas nas pesquisas científicas sobre o assunto, o melhor que as organizações da sociedade civil podem fazer – sugere a própria reportagem do New York Times – é testar várias estratégias de captação. “No fim das contas, a verdadeira natureza do altruísmo é uma questão para os filósofos”, conclui o texto.

Investimento Social de Empresas ‘Dribla’ Economia Fraca e Cresce 18% no Brasil

Os investimentos sociais de empresas no Brasil cresceram 18% entre 2011 e 2012, apesar do fraco desempenho da economia no período. Os dados são da pesquisa Benchmark do Investimento Social Corporativo (Bisc), realizada pela Comunitas, organização da sociedade civil fundada por Ruth Cardoso e voltada à gestão e à pesquisa em responsabilidade corporativa. O volume de recursos somou R$ 2,5 bilhões – o maior desde que o levantamento começou a ser feito, em 2008. Em 2011, o valor havia sido de R$ 2,1 bilhões.

Os investimentos sociais de empresas no Brasil cresceram 18% entre 2011 e 2012, apesar do fraco desempenho da economia no período. Os dados são da pesquisa Benchmark do Investimento Social Corporativo(Bisc), realizada pela Comunitas, organização da sociedade civil fundada por Ruth Cardoso e voltada à gestão e à pesquisa em responsabilidade corporativa. O volume de recursos somou R$ 2,5 bilhões – o maior desde que o levantamento começou a ser feito, em 2008. Em 2011, o valor havia sido de R$ 2,1 bilhões.

Os dados foram colhidos de 224 empresas, 30 fundações empresariais, um instituto independente e uma federação de empresas. Além de contrastar com a economia fraca do período, o aumento superou as expectativas das próprias entidades pesquisadas: 81% investiram mais do que previam na edição anterior da pesquisa.

O bom desempenho “reflete a continuidade de um processo de maior envolvimento das empresas com os investimentos sociais, que se manifesta na menor sensibilidade dos valores aplicados a oscilações anuais no ciclo econômico”, avalia o relatório.

O documento também afirma que os projetos se estendem por um período maior do que o calendário anual, o que significa que os aportes frequentemente se mantêm para dar continuidade à ação social. “Uma vez iniciado, o ritmo do projeto pode exigir a continuidade das aplicações, caso contrário, a paralisação das obras ou a interrupção dos serviços prejudicaria as comunidades e comprometeria o relacionamento das empresas com elas”.

Outro ponto positivo apontado pelo texto é que a proporção do investimento social das empresas no Brasil, em relação ao lucro bruto, permanece acima da registrada por companhias norte-americanas. Em 2012, a porcentagem chegou a 1,37%. Nos Estados Unidos, a fatia é de 1%, segundo o Committee Encouraging Corporate Philantropy. Os números nacionais superam os norte-americanos desde 2009, mas a diferença vem crescendo desde então. Isso ocorre mesmo entre as companhias de pequeno ou médio porte (1,39%).

Os motivos mais citados para injetar recursos na área social são a aproximação com as comunidades (70%), o fortalecimento da imagem e da reputação da empresa (65%) e a melhoria na qualidade de vida dos beneficiários (61%).

Perfil do investimento

Educação e cultura continuam sendo as áreas campeãs de investimentos sociais das empresas analisadas pela pesquisa. Em 2012, 44% dos recursos foram para os dois campos. A educação, sozinha, recebeu R$ 679 milhões – 15% a mais do que em 2008.

A participação dos incentivos fiscais nos investimentos sociais chegou a um patamar histórico, mas ainda se restringe a 25% do total investido pelas organizações pesquisadas. Parte significativa das entidades (30%) não usa incentivo fiscal algum para financiar projetos. Por isso, o relatório conclui que os benefícios tributários “não sustentam os investimentos privados nos volumes observados”. A cultura continua a ser a área que mais recebe apoio público, basicamente em razão da Lei Rouanet, responsável por 59% da verba proveniente de incentivo.

Voluntariado

Parte do relatório debruçou-se sobre os programas de voluntariado das empresas. A maioria delas (73%) afirmou que o principal motivo para incentivar essa prática é engajar os funcionários e fornecedores na linha social definida pela corporação. As companhias entrevistadas disseram que o voluntariado fortalece o espírito de equipe dos colaboradores (88%), faz com que eles se identifiquem com a cultura da corporação (88%) e melhora as relações das empresas com as comunidades (81%).

A principal forma de estímulo a essa prática continuam sendo as “atividades em grupo propostas pelas empresas”: 93% das entrevistadas adotavam essa estratégia. Mas a iniciativa de liberar horas de trabalho para que os empregados se dediquem ao voluntariado cresceu muito: 60% adotam programas desse tipo (eram 35% em 2010 e 37% em 2011).

Também surpreendeu o aumento das doações casadas – em que as empresas doam recursos financeiros na medida em que seus funcionários doam horas para trabalho voluntário: 53% usam essa estratégia (eram 35% em 2010 e 26% em 2011).

 

 

Organizações Sofrem Com Alterações Confusas e Arbitrárias das Normas, Diz Procuradora

As organizações da sociedade civil (OSCs) têm sofrido com alterações constantes, confusas e arbitrárias nas regras para o setor. A avaliação é da procuradora e secretária adjunta da Câmara Municipal de São Paulo, Maria Nazaré Lins Barbosa, que também faz parte da Comissão de Terceiro Setor da OAB/SP.

“A legislação tributária brasileira não é simples, e a legislação incidente sobre o terceiro setor é particularmente complicada – também para os estudiosos”, diz ela em entrevista ao site do IDIS. E, em alguns aspectos, a situação tem piorado nos últimos anos. “Estamos assistindo a um estrangulamento por parte do governo.”

A procuradora, porém, não vê o quadro normativo para o investimento social privado de maneira exclusivamente pessimista. “É positiva, por exemplo, a liberdade de associação, ou a caracterização jurídica do trabalho voluntário”, diz Maria Nazaré.

Ela chamou a atenção para a responsabilidade das próprias organizações sociais no fortalecimento do setor: “É importante melhorar, de modo geral, a qualidade das informações prestadas pelas entidades acerca de seu próprio trabalho, e o acesso a elas pelo grande público”.

IDIS: Como você avalia a atual legislação brasileira para o terceiro setor?

Maria Nazaré Lins Barbosa: Vejo uma legislação favorável em alguns aspectos importantes, porém, confusa e arbitrária em outros. É positiva, por exemplo, a liberdade de associação, ou a caracterização jurídica do trabalho voluntário. Os aspectos mais problemáticos, a meu ver, estão nas certificações, na tributação e nos incentivos fiscais.

O que é preciso para avançar a legislação do setor? Há uma movimentação em torno dessa agenda? O governo está disposto a dialogar sobre o tema?

Para avançar, é importante melhorar, de modo geral, a qualidade das informações prestadas pelas entidades acerca de seu próprio trabalho, e o acesso a elas pelo grande público. A mídia poderia ajudar, oferecendo informações com mais qualidade, pois tende a generalizar o universo das ONGs sem a menor seletividade. Quanto ao ambiente político, lamento dizer que não vejo um momento favorável. Nos últimos anos, estamos assistindo a um estrangulamento por parte do governo. As instituições de educação, assistência e saúde – as áreas mais tradicionais – sofrem com alterações normativas veiculadas por decretos que, constantemente, alteram as regras, de modo confuso e arbitrário.

Incentivos fiscais são importantes para desenvolver o setor ou bastaria tirar eventuais barreiras normativas, como o ITCMD [Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos, um tributo estadual que incide sobre donativos para instituições sem fins lucrativos].

Sem dúvida, o incentivo às doações de pessoas físicas e jurídicas a entidades do terceiro setor mereceria uma abordagem mais favorável. A barreira do ITCMD é uma delas, mas não é a única a ser vencida. O incentivo à doação mediante recuperação de parcela do valor doado no pagamento do imposto de renda deveria ser estendido às pessoas físicas e ampliado para as empresas.

O que poderia normativamente ser feito para resolver um dos grandes problemas do setor, que é a sua sustentabilidade financeira?

O incentivo a doações de pessoas físicas, mediante a dedução de parte do valor doado no imposto de renda a pagar, é uma medida simples e importante. Muitas vezes, os investidores financiam projetos específicos, e impõem restrições para o emprego dos recursos doados em despesas de custeio ou de pessoal da entidade. A doação direcionada à organização da sociedade civil, e não a projetos específicos, pode favorecer a sua sustentabilidade, sem prejuízo da transparência na prestação de contas.

projeto do Marco Legal para o Terceiro Setor foi aprovado no Senado e agora vai para apreciação pela Câmara Federal  Ele representa um avanço importante para a área ou seria preciso fazer mais?

O projeto tem muitos méritos, pois traz uma proposta de um “estatuto” mais coerente de legislação.  No entanto, está longe de esgotar o debate. Há um estudo em andamento na FGV sobre um “simples social” para o terceiro setor, que é uma questão importante da agenda.

Você acha que os investidores sociais ainda precisam compreender melhor a legislação do setor? É possível manobrar com o que temos agora?

A legislação tributária brasileira não é simples, e a legislação incidente sobre o terceiro setor é particularmente complicada – também para os estudiosos. Mas há aspectos básicos que podem ser manobrados com segurança: os incentivos para doações de empresas, os incentivos para a área cultural, o acesso a informações sobre instituições sérias de pequeno, médio e grande porte.

 

 

Organizações da Sociedade Civil Precisam Estar Abertas a Mudanças

Já se tornou lugar-comum dizer que uma empresa precisa estar preparada para transformações. O guru da administração Peter Drucker até escreveu – há quase 20 anos! – um livro sobre isso: “Administrando em Tempos de Grandes Mudanças”. O clichê é inevitável também para organizações da sociedade civil (OSCs) – a ponto de o consultor Domingos Armani , especialista em terceiro setor, cravar: “Se uma entidade não passou por algum processo de mudança nos últimos dez anos, isso é muito sério e precisa ser pensado”.

O recado vale tanto para organizações jovens quanto para as quase centenárias. A Liga Solidária, por exemplo, completou 90 anos em 2013 e passou por muitas fases em sua atuação. Recentemente, no entanto, implantou mudanças profundas – até no nome: o novo substitui o tradicional Liga das Senhoras Católicas. “A mudança veio mais pelo ‘Senhoras’ do que pelo ‘Católicas’, pois vários homens que trabalhavam conosco estavam incomodados”, diz a vice-presidente da entidade, Rosalu Queiroz.

A alteração foi um dos pontos culminantes de um processo de modernização e rejuvenescimento da ONG, todo feito dentro da própria Liga Solidária. “Nós trabalhávamos com um público mais velho, e percebíamos que não atingíamos pessoas mais jovens, precisávamos renovar”, afirma Rosalu

Uma transformação dessa magnitude não vem sem custos. “Dividimos nosso público em três grupos: as pessoas com mais de 55 anos conhecem a Liga das Senhoras Católicas, mas não a Liga Solidária; as pessoas abaixo dos 25 conhecem a Liga Solidária, mas não a das Senhoras Católicas; o grupo do meio está perdido, não sabe se a Liga das Senhoras acabou, se há duas organizações ou se não há nenhuma, e isso prejudicou um pouco o processo de captação de recursos”, constata a vice-presidente.

O Instituto Alana é outra organização que sentiu impacto ao modificar seu foco. “Em algumas redes, estão falando que o Alana acabou”, afirma o diretor das áreas de comunicação e educação, Antonio Carneiro. O nome não mudou, mas a causa, sim. A OSC nasceu em 2002 para institucionalizar um trabalho social que os irmãos Ana Lúcia de Mattos Barretto Villela e Alfredo Egydio Arruda Villela Filho já faziam no Jardim Pantanal (zona leste de São Paulo). O objetivo, então, era ajudar a comunidade a superar seus desafios.

Um projeto de 2006, para combater o consumismo entre as crianças, começou a mudar os rumos do Alana. “O instituto descobriu a sua vocação e, em 2011, resolveu escrever que a sua missão é ‘honrar a criança’, uma escolha ligada a crenças e valores de seus fundadores”, lembra Carneiro. A cristalização dos direitos da criança como uma causa levou, porém, a um afastamento cada vez maior de uma atuação comunitária e gestora de projetos.

“Nós estamos diminuindo os projetos de intervenção, apesar de ainda atuarmos na zona leste, pois ficou mais clara a nossa vocação para oadvocacy relacionado aos direitos das crianças”, explica o diretor do Instituto Alana. A organização está em processo de reengenharia, o que implica passar alguns de seus projetos comunitários para parceiros do terceiro setor, do setor público ou mesmo da região.

O caso guarda semelhanças com outro bem conhecido no terceiro setor: o da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, que nasceu em 1965 com trabalho na área de pesquisa em leucemia (tendo firmado inúmeras parcerias com a USP) e, em 2007, passou a priorizar projetos ligados a desenvolvimento infantil – a ponto de virar uma referência nessa área.

Ajuda de fora

Em seu processo de mudança, a Liga Solidária contou com apoio da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC)para criar um novo desenho de gestão, que ainda está sendo implantado. O Instituto Alana não contou com a ajuda de terceiros em suas mudanças, mas Carneiro “recomenda o apoio externo” para o processo. Já Armani aconselha: “Alterações são muito difíceis de serem feitas sem apoio externo, pois quem está de fora vê melhor a integralidade da situação”.

Carneiro descreve a reengenharia do Alana como um momento “duro e dolorido”. “Tivemos de fazer várias rodadas internas de desabafo, pois há coisas que precisam ser desagregadas e deixadas para trás”. Da mesma forma, Roselu diz que, na Liga, “a mudança não está sendo fácil, pois, às vezes, existem resistências dos diretores mais antigos”. É normal que haja certa confusão entre os interesses das organizações e o das pessoas que dela fazem parte.

“É difícil discernir o institucional do pessoal. Às vezes, o melhor para a instituição não é o melhor para a trajetória de uma determinada pessoa, e discernir isso é difícil sem uma ajuda externa”, avalia Armani.

O Instituto Alana até tentou procurar uma consultoria para auxiliar na reengenharia, mas não achou nenhuma com o perfil que julgava adequado. “Fez falta”, admite Carneiro. Mesmo com um processo pouco tranquilo, foi possível definir claramente as quatro competências da organização: “fazer advocacy, gerir projetos, capacidade de se comunicar e conhecimento acumulado sobre assuntos relacionados a crianças”, enumera Carneiro.

Se teve ajuda da consultoria da PwC para um novo organograma administrativo, Rosalu ressalta a falta que fez uma campanha de comunicação após a entidade se tornar a Liga Solidária. “A mudança de nome precisa vir acompanhada de um planejamento de marketing, e infelizmente, não tínhamos dinheiro para fazer isso na época”, comenta.

Agora, no entanto, a campanha vai sair. “Nós ganhamos uma campanha de publicidade da agência Babel, que, utilizando o mote da violência doméstica, vai reforçar a marca da Liga Solidária”, conta Rosalu.

Por fim, Armani alerta que as organizações sociais precisam ter consciência de que o processo de mudança é permanente e que elas têm ciclos que uma hora ou outra têm de ser superados. Por isso, ele recomenda constantes exercícios de reflexão interna nas entidades e conclui: “Não querer mudar é suicídio”.

 

 

Brasil Realiza Dia de Doar Para Incentivar a Cultura da Doação

O fim de ano é marcado por dois comportamentos opostos: consumismo e solidariedade. Para o primeiro, surgiram nos Estados Unidos a Black Friday, com grandes descontos em lojas físicas, e a Cyber Monday, com promoções em lojas virtuais. Para o segundo, há dois anos foi criada a Giving Tuesday, uma espécie de resposta social às outras duas datas.

O Brasil já havia importado as promoções, com maior ênfase nas vendas on-line, e passa a ter também seu Dia de Doar, para estimular uma cultura de doação no país. A primeira edição ocorreu em 30 de novembro, quando também foi lançado o portal diadedoar.net (http://www.diadedoar.net/), cujo objetivo é trazer relatos de pessoas que praticam a doação e criar um ambiente para troca de experiências sobre o assunto.

“Eu acho mais marcante concentrar a campanha em um dia do que fazer coisas soltas durante o ano”, comenta o diretor do Instituto Doar, Marcelo Estraviz, um dos responsáveis pela articulação em torno da data.

A estreia da data no Brasil não coincidiu com o Giving Tuesday, que caiu em 3 de dezembro. Isso aconteceu, basicamente, para aproveitar a estrutura da ONG Brasil, maior evento de responsabilidade social da América Latina, realizado em São Paulo entre 28 e 30 de novembro. “Foi uma opção de ganha-ganha: a ONG Brasil se beneficiou e nós também, pois havia 500 entidades presentes e todas sabiam da celebração”, afirma Estraviz.

Há outra diferença entre a iniciativa norte-americana e a brasileira. Lá, o foco é a doação de dinheiro; aqui também se quer incentivar outros tipos de doação, como a de tempo (por meio de voluntariado). E tenta-se “qualificar a ação donativa”, como declara Estraviz: convencer um voluntário ocasional a tornar-se colaborador mais frequente e doar objetos em bom estado. “Se vai doar agasalho, que doe um bom agasalho”, resume.Até por isso, uma das táticas daqui para frente é associar o Dia de Doar a outras datas de incentivos a diversos tipos de doação. “No decorrer do ano, vamos contribuir com várias datas, como os dias de doação de sangue, de medula, de órgãos, ajudando a quem já faz bem feito e os ters conosco na próxima data nacional”, explica.

Em 2014, haverá novamente o Dia de Doar, mas ainda não se estipulou uma data. “Estamos vendo se nos aliamos ao Giving Tuesday ou se mantemos o dia 30 de novembro. Vamos ter um ano para planejar bem a ação”, comenta Estraviz.

Nesse processo, a data pode até ganhar um aliado de peso. A Secretaria-Geral da Presidência da República estava presente na ONG Brasil e se interessou por transformar o Dia de Doar em uma data oficial. “O governo comprou a ideia, vamos conversar melhor, mas a celebração acontecerá independentemente do apoio governamental”, garantiu Estraviz.

Repercussão

O primeiro Dia de Doar superou as expectativas. “A Abrinq e a WWF colocaram banners em seus sites, várias plataformas de doação online estavam conosco e até um shopping em Maceió entrou na campanha”, relatou Estraviz.

Ele não sabe contabilizar se houve um aumento de doações durante a data, mas relatou um acréscimo de 50% do público no último dia da ONG Brasil (quando foi celebrado o Dia de Doar) em comparação com o ano passado. “Não acho que o aumento foi todo por nossa causa, mas contribuímos um pouco”.

Nos Estados Unidos, a iniciativa tem tido grande impacto. “Em 2012, houve um aumento de 40% nas doações online durante o Giving Tuesday”, exemplificou Estraviz.