IDIS realiza a 5º edição do Fórum de Filantropos e Investidores Sociais

idis-evento-66Ao som do quinteto de sopros do Instituto Baccarelli teve início o V Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais em São Paulo no último dia 6 de outubro. O evento reuniu cerca de 200 participantes entre eles a CEO do Global Philanthropy Forum, Jane Wales; o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra; o CEO da Charities Aid Foundation America, Ted Hart; o CEO da Fundação Lemann, Denis Mizne; a gerente executiva do Instituto Ayrton Senna, Inês Miskalo; o criador do #givingtuesday, Henry Timms; entre outros.

O tema escolhido nesta edição foi “A Iniciativa Individual e a Nova Economia” e as plenárias foram norteadas pelo desafio de repensar o atual modelo econômico em busca de alternativas mais inclusivas e ambientalmente sustentáveis. Foram discutidas questões como shared value, o papel da filantropia na agenda social do governo, novos negócios com impacto socioambiental positivo, cases inovadores de empreendedorismo social e o espírito olímpico e a responsabilidade individual.

Para a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, a escolha do tema foi estratégica. “Cada um de nós precisa se colocar à disposição do benefício de todos para encontrarmos saídas para questões como o esgotamento do modelo de consumo e a desigualdade social para que as crianças, que são nosso futuro, tenham seu desenvolvimento pleno assegurado”, explica.

A palestra de abertura, “As Fronteiras do Capitalismo” foi com o economista e escritor Eduardo Giannetti da Fonseca. “Estamos aqui para diminuir a distância entre o mundo ideal e o mundo real. Fazer filantropia é ter uma disposição para ajudar a transformar uma realidade”, disse na abertura dos trabalhos.

Na plenária “A filantropia como valor familiar”, foi anunciada a criação do The Giving Pledge Brasil pelo IDIS com o apoio do fundador da Cyrela, Elie Horn. O programa já existe nos Estados Unidos e foi criado em 2010 por Bill Gates e Warren Buffett para reunir bilionários dispostos a doar parte de suas fortunas ao longo da vida para investir em causas sociais. “Para nós, foi muito importante tornar pública o nosso compromisso com o Giving Pledge. Não quero morrer pobre de ações, temos que sempre fazer o bem. A gente só escolhe na vida entre fazer o bem e o mal”, disse o empresário durante a sessão. Ele e a esposa, Suzy Horn, falaram da experiência e a importância dos valores filantrópicos defendidos pela família. O fundador da Cyrela também anunciou a doação de R$ 2 milhões por ano durante 10 anos para a criação de uma campanha e realização de ações de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes.

Durante o Fórum, foi lançado o livro “Pesquisa Doação Brasil”, que traz dados inéditos e detalhados da pesquisa realizada pelo IDIS/Gallup e parceiros e inclui três análises distintas sobre os resultados que mostram o perfil do doador brasileiro. Outra publicação lançada foi o guia “Investimento de Impacto: uma introdução”. Com o apoio do Instituto Sabin, o IDIS fez a tradução e a publicação deste segundo volume da coleção “Seu Roteiro para Filantropia”, produzida originalmente pela Rockefeller Philantropy Advisors. As publicações estão disponíveis para download no site do IDIS.

O encerramento do Fórum contou com a participação da fundadora do Instituto Esporte & Educação, Ana Moser, e do presidente do Conselho da Fundação Gol de Letra, Raí Souza Vieira de Oliveira em uma plenária que convidou os participantes a refletirem sobre o espírito olímpico e a responsabilidade individual. O Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais é uma iniciativa conjunta do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e do Global Philanthropy Forum (GPF).

Confira o álbum de fotos do evento.

Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais vai discutir “A Iniciativa Individual e a Nova Economia”

LO_SaveDate_4O economista e escritor Eduardo Giannetti, o mega-empresário Elie Horn, fundador e sócio da Cyrela, e os campões Raí e Ana Moser, têm um encontro marcado no próximo dia 6 de outubro, no próximo Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais. Todos eles vão discutir como a filantropia e a chamada Nova Economia podem trabalhar juntas na construção de um modelo econômico mais inclusivo e sustentável, no qual os benefícios da riqueza sejam distribuídos de forma mais equilibrada.

“A Iniciativa Individual e a Nova Economia” é o tema do evento deste ano, que reúne a comunidade filantrópica para troca de experiências e fortalecimento da filantropia estratégica na promoção do desenvolvimento da sociedade brasileira.

Além dos palestrantes já mencionados, o Fórum ainda vai contar com Osmar Terra, ministro do Desenvolvimento Social, Jane Wales, CEO do Global Philanthropy Forum, Ted Hart, CEO da Charities Aid Foundation/EUA e Henry Timms, fundador do Giving Tuesday.

A programação completa do Fórum pode ser consultada em www.idis.org.br/forum. A participação no evento é exclusiva para convidados, mas, posteriormente, todos os vídeos das palestras são disponibilizados na internet.

‘A Iniciativa Individual e a Nova Economia’ será o tema do V Fórum de Filantropos

Negóci14os sociais, bens compartilhados, empresas B, investimentos de impacto… Essas e outras novas expressões e conceitos chegaram ao mercado propondo uma atividade econômica mais inclusiva e sustentável. Como acontece sempre com as novidades, não se sabe se todo o conjunto veio para ficar, mas é indiscutível que as iniciativas buscam humanizar o modelo econômico atual e encontrar um caminho para que os benefícios da riqueza e do patrimônio sejam distribuídos de forma mais equilibrada. É com essas constatações e essas perguntas que o IDIS está organizando o V Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, que vai acontecer no dia 6 de outubro, em São Paulo.

O evento será o palco para discutir de que forma a nova economia encontra a filantropia e como as duas podem se unir para aumentar o impacto das ações de ambas. “Ao mesmo tempo, é importante nos perguntar qual o papel da filantropia, do filantropo e da iniciativa individual dentro desse contexto”, explica diretora de Comunicação e Relações Institucionais do IDIS, Andrea Wolffenbuttel. Até o momento, já estão confirmados os seguintes palestrantes: Américo Mattar (Fundação Telefônica), Eduardo Gianetti (Insper), Elie Horn (Cyrela), Linda Murasawa (Santander), Mozart Neves Ramos (Instituto Ayrton Senna) e Ted Hart (Charities Aid Foundation America).

Em sua quinta edição, o Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais tem como objetivo oferecer um espaço exclusivo para a comunidade filantrópica reunir-se, trocar experiências e aprender com seus pares, fortalecendo a filantropia estratégica para a promoção do desenvolvimento da sociedade brasileira. Nas edições anteriores, o evento reuniu cerca de 650 participantes, entre filantropos, líderes e especialistas nacionais e internacionais. Para mapear e discutir o papel da filantropia para o desenvolvimento do Brasil, o Fórum já contou com a presença de nomes como Jorge Gerdau Johannpeter, Lester M. Salamon, Swanee Hunt, Ana Paula Padrão, José Guimarães Monforte, Jane Wales, Gilberto Carvalho, Rob Garris, Viviane Senna, Peter Eigen, Guilherme Leal, Ana Lúcia Vilela, Carlos Alberto Sardenberg, entre outros. O Fórum é uma iniciativa conjunta do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e do Global Philanthropy Forum (GPF).

Café com Direitos Humanos

IMG_20160608_091921443_HDRO IDIS e a Human Rights Watch Brasil (HRW) realizaram, no início de junho, em São Paulo um café da manhã para discutir direitos humanos e filantropia. O evento contou com a presença do CEO Global da HRW, Kenneth Roth, que visitou o Brasil pela primeira vez desde a abertura do escritório em São Paulo há três anos.

O encontro teve como objetivo sensibilizar os investidores sociais para causas relacionadas aos direitos humanos. “Procuro desmistificar a noção de que quando falamos de direitos humanos estamos nos referindo aos direitos dos criminosos. Defesa dos direitos humanos significa garantir acesso à justiça e a um julgamento justo, mas também garantir acesso à educação, à saúde, aos serviços básicos para todos os que necessitam. Todos os que lutam por essas causas, estão defendendo os direitos humanos.”, destacou Roth, que é considerado uma das principais vozes mundiais em prol de que a Europa adote uma política mais humana diante da crise migratória atual.

A diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, fez a abertura do evento, que contou com a presença de cerca de 15 investidores sociais. “Queremos sensibilizar o olhar dos filantropos para o tema dos direitos humanos e este encontro é uma oportunidade de conversar com uma das pessoas que mais entendem da questão no mundo, em um momento em que o Brasil se encontra em uma situação vulnerável, com casos graves de violações presentes no noticiário cotidiano.” afirmou Paula Fabiani.

A diretora da HRW Brasil, Maria Laura Canineu, também esteve no café da manhã e falou sobre as perspectivas para o trabalho da organização no Brasil diante de um cenário complexo e desafiador no que se refere aos valores e princípios que a organização defende, sobre sua metodologia de atuação e mudança, antecipando que a proteção aos direitos das mulheres e promoção dos direitos relacionados ao envelhecimento são áreas a serem estudadas pela HRW.

CAF na Bolsa de Valores de Londres

untitledA CAF (Charities Aid Foundation) fez sua estreia na Bolsa de Valores de Londres por meio de uma plataforma de varejo que emite títulos negociáveis para instituições filantrópicas e investidores interessados em criar projetos com benefícios sociais.

Apenas na última semana de março, a CAF Retail Charity Bond arrecadou 20 milhões de libras, mostrando que existe uma forte demanda por esse tipo de instrumento de financiamento, fazendo, inclusive, com que o período de oferta dos papéis terminasse antes do prazo previsto, que era o dia 6 de abril. O dinheiro arrecadado irá permitir a CAF expandir os serviços prestados para as instituições filantrópicas e seus doadores.

A CAF é uma fundação britânica que ajuda a conectar doadores à suas causas, tentando motivar a sociedade a doar de forma cada vez mais eficiente. Aqui no Brasil, o IDIS representa a CAF. “A CAF é mais uma vez pioneira ao captar recursos no mercado via um Bond, demostrando o potencial desse instrumento de dívida que é cada vez mais atraente para investidores que buscam impacto social também nas suas aplicações financeiras”, afirma a presidente do IDIS, Paula Fabiani.

Populações em movimento: tema do Global Philanthropy Forum e desafio para toda a humanidade

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A coluna Empreendedor Social, da Folha de S. Paulo, publicou um artigo da diretora presidente do IDIS, Paula Fabiani, fazendo um balanço do Global Philanthopy Forum 2016.

Confira: http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/colunas/2016/04/1758095-populacoes-em-movimento-tema-do-global-philanthropy-forum-e-desafio-para-toda-a-humanidade.shtml

IDIS participa de discussões sobre cultura de doação e avaliação de impacto no Congresso GIFE

IMG_2968Em março, o IDIS foi convidado a relatar suas experiências em dois encontros temáticos realizados dentro da programação aberta do Congresso GIFE. A presidente do IDIS, Paula Fabiani, participou do encontro Retorno financeiro do Investimento social: metodologias para medir impacto para o negócio e para a sociedade ao lado do Instituto Votorantim, Fundação Bunge e da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ). O objetivo da sessão foi apresentar metodologias de avaliação a partir de cases concretos de aplicação e influenciar um novo olhar sobre os impactos no desenvolvimento da sociedade e na tomada de decisão do negócio para suas prioridades de investimento social. Paula Fabiani apresentou o potencial do Retorno Social do Investimento (SROI), uma metodologia trazida para o Brasil pelo IDIS que faz uma avaliação completa dos impactos sociais do projeto sobre todos os envolvidos. “O SROI permite atribuir valores financeiros aos benefícios, de modo a poder comunicar os resultados de uma maneira mais facilmente compreensível para financiadores ligados ao setor privado. É uma ferramenta criteriosa e útil”, aponta Paula.

A diretora de Comunicação e Relações Institucionais do IDIS, Andrea Wolffenbüttel, apresentou os resultados preliminares da Pesquisa Doação Brasil no encontro Culturas de doação: práticas e aprendizados, moderada pelo WINGS e com a participação de outras organizações internacionais. O objetivo foi aprofundar o conhecimento sobre cultura de doação em diversos países dentro de um contexto de mudança de entendimento de Investimento Social Privado (ISP) e filantropia.  Esta sessão faz parte de uma discussão global para identificar tendências e documentar casos, em um esforço conjunto para avançar na compreensão sobre o ISP em suas diferentes formas. “Em parceria com outras organizações, o IDIS está realizando uma pesquisa nacional que vai mapear o comportamento do brasileiro em relação à doação. Os resultados servirão para nortear estratégias para promover a cultura de doação no Brasil”, informa Andrea.

O Congresso GIFE é um encontro sobre investimento social e reúne lideranças de investidores sociais do país, além de dirigentes de organizações da sociedade civil, acadêmicos, consultores e representantes de governos, proporcionando um espaço para aprendizado, relacionamento e troca de experiências. Neste ano, o Congresso foi realizado em São Paulo entre os dias 30 de março a 1º de abril tendo como tema central o sentido público do investimento social privado.

IDIS participa de encontro internacional sobre questões de incentivo à filantropia

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O objetivo do encontro International Meeting on the Enabling Environment for Philanthropy, do qual participaram 27 representantes de organizações de 18 países,  foi discutir formas de fomentar um ambiente propício para a filantropia em todo o mundo. O evento, promovido pelo WINGS (WorldWide Initiatives for Grantmaker Support) e realizado na Calouste Gulbenkian Foundation em Lisboa, Portugal buscou avançar na compreensão e identificar ferramentas e estratégias para responder à tendência mundial de aumento do controle e restrições sobre o financiamento – tanto em ambientes domésticos como transnacionais. As plenárias e atividades traçaram o cenário atual para a filantropia no mundo, bem como as principais barreiras e oportunidades.

A diretora de projetos do IDIS, Raquel Coimbra, participou como palestrante da plenária Elements of Effective Advocacy in Action, compartilhando as ações práticas que o IDIS está liderando para a aprovação da regulação dos fundos patrimoniais para universidades e sociedade civil no Brasil. “As discussões do encontro foram de altíssimo nível. O Brasil felizmente não está na estaca zero como Equador, Honduras e países da região árabe onde não há incentivo fiscal, nem mesmo passando por restrições como a da Rússia, onde o financiamento internacional da sociedade civil foi proibido. Estamos no caminho certo, mas ainda temos que avançar bastante para termos um ambiente filantrópico vibrante”, afirma Raquel.

O Encontro aconteceu nos dias 10 e 11 de março, e além de sessões plenárias e palestras, os participantes trabalharam em grupos para identificar as principais questões relacionadas ao ambiente desfavorável à filantropia, as estratégias para enfrentar esse ambiente desfavorável e os casos de sucesso.

 

 

Entre os diversos projetos para 2016, o IDIS irá realizar ações com foco na cultura de doação e na avaliação de projetos sociais

10492333_1711380795763765_6379095451445460814_nApesar das preocupações com o ano de 2016, o IDIS já tem vários projetos em andamento e outros que serão implantados nos próximos meses. “O ano de 2016 será muito difícil para todos os setores e o setor sem fins lucrativos sofre ainda mais. Apesar deste cenário estamos com diversas frentes em andamento que certamente renderão bons frutos para o setor social”, afirma a diretora presidente do Instituto, Paula Fabiani. Ela conta quais serão as principais novidades em 2016. Confira!

Cultura de Doação

Em abril, será lançada uma pesquisa que vai traçar o perfil do doador e do não-doador brasileiro. Com base nesse estudo, intitulado Pesquisa Doação Brasil, vamos fazer uma campanha para uma cultura de doação. A etapa de “campo” ou quantitativa da pesquisa teve início agora em março. Um time de cerca de 20 profissionais do Instituto Gallup – responsável pelo levantamento de dados – irá entrevistar mil doadores e mil não doares de todo o Brasil e traçar um perfil do comportamento e das motivações de cada um. Ainda com foco no estímulo a uma cultura de doação pretendemos desenvolver também em 2016 uma plataforma de doação via desconto na folha de pagamento.

A pesquisa Doação Brasil é uma iniciativa coordenada pelo IDIS, em parceria com um grupo de especialistas e atores relevantes para o campo da cultura de doação no Brasil. Uma sequência de encontros de trabalho foi realizada envolvendo representantes de organizações da sociedade civil, universidades, mídia, fundações e redes e associações de classe ligadas aos temas de cultura de doação e captação de recursos. O resultado final da pesquisa será difundido abertamente para todos os interessados, com intuito de fortalecer a cultura de doação no país e contribuir na capacitação da sociedade na captação de recursos.

Encontro anual

No segundo semestre vamos realizar a quinta edição do Fórum de Filantropos e Investidores Sociais. O tema para este ano de 2016 é o Novo capitalismo: sonho ou realidade. O Fórum é uma iniciativa conjunta do IDIS e do Global Philanthropy Forum (GPF). O objetivo é oferecer um espaço exclusivo para a comunidade filantrópica reunir-se, trocar experiências e aprender com seus pares, fortalecendo a filantropia estratégica na promoção do desenvolvimento da sociedade brasileira.

Avaliação de projetos sociais

Vamos lançar em breve um manual e iniciar um curso sobre uma metodologia que trouxemos para o Brasil. Internacionalmente reconhecido, o método Social Return On Investment (SROI) determina o retorno social de uma intervenção/organização social através da comparação entre o valor dos recursos nela investidos e o valor do impacto social gerado. O curso será o primeiro no Brasil dessa metodologia.

Assista o vídeo com a diretora presidente do IDIS, Paula Fabiani:

https://www.facebook.com/IDISNews/videos/1713945398840638/

 

Como se comportam doadores do Brasil e do mundo

Por Paula Fabiani

O tema das doações vem ganhando destaque no Brasil no último ano. A corajosa decisão de Elie Horn, dono da Cyrela, de se juntar ao movimento Giving Pledge e se comprometer a doar 60% (isso mesmo, 60%!) de sua fortuna em vida é realmente uma notícia positiva e um maravilhoso exemplo para indivíduos detentores de grandes fortunas no país. Entramos para o radar do mundo nesta questão como mostra o destaque dado ao Brasil no webinar ‘Analisando as tendências globais de doação’, realizado antes do Carnaval pela WINGS (Worldwide Initiative for Grantmaking Support), uma associação global de organizações que apoiam a filantropia no mundo.

Susan Pinkney, coordenadora de Pesquisas da CAF (Charities Aid Foundation), da Grã-Bretanha, destacou que, no mundo todo, há um crescimento do volume de doações para organizações sociais e das iniciativas individuais de ajuda a estranhos, enquanto o número de pessoas que realizam trabalho voluntário vem caindo. O aspecto cultural que mais chama a atenção é a forte presença dos países de língua inglesa entre os mais generosos do mundo. No ranking do World Giving Index (Índice Global de Solidariedade) aparecem cinco países de língua inglesa entre os seis primeiros colocados. Susan também mostrou que, nem sempre, uma economia rica implica em generosidade. Apenas cinco países do G20 (grupo que reúne os vinte países mais ricos do mundo) constam entre os 20 mais generosos, sendo Mianmar (a antiga Birmânia), país com PIB per capita de US$ 824 (14% do PIB per capita brasileiro) o primeiro colocado! Este país chegou ao topo por influência da religião budista, adotada pela grande maioria da população, que prega a doação como uma das obrigações dos fiéis. Mais de 90% da população realiza doações.

Maria Chertok, diretora da CAF Rússia, relatou que, em seu país não existe a tradição de doação para organizações sociais. Apesar do povo russo ser considerado generoso, o percentual de pessoas que contribuem para organizações sociais é muito baixo, cerca de 9%, contra uma média mundial de 31,5%. Ela explica que o grande obstáculo é a falta de confiança nas instituições e, por isso, os russos preferem doar diretamente para os necessitados, em vez fazê-lo para organizações sociais. Mesmo assim, o volume de doação vem crescendo, ainda que lentamente, e Maria acredita que, na medida em que a população tenha mais acesso a informações sobre os resultados dos projetos e trabalhos das ONGs, esse quadro pode mudar.

Mas e o Brasil? Infelizmente, as informações sobre nosso país não são positivas. O Brasil vem caindo sistematicamente no ranking de países mais solidários e isso, talvez, possa ser atribuído à crise política iniciada há cerca de três anos, fazendo com que os brasileiros temam pelo futuro e passem a pensar mais em si próprios. O único ponto em que o Brasil vem registrando crescimento é na ajuda a estranhos, o que demonstra que, apesar de doar menos recursos financeiros, os brasileiros continuam sensíveis quando percebem alguém em necessidade.

Neste cenário, o que é possível fazer? Em primeiro lugar, tentar entender melhor a nossa realidade. O IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), em parceria com organizações da sociedade civil, está conduzindo uma pesquisa, em escala nacional, para mapear o comportamento do brasileiro em relação à doação. Os resultados desse levantamento vão servir de base para que todos os interessados possam traçar estratégias para promover a cultura de doação no Brasil!

Paula Fabiani é diretora-presidente do IDIS (Instituto pelo Desenvolvimento do Investimento Social) – www.idis.org.br

Artigo publicado na Folha de S. Paulo em fevereiro de 2016

IDIS está organizando delegação brasileira para o Global Philanthropy Forum

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‘People on the move’, isto é, pessoas em movimento, é o tema transversal do Global Philanthropy Forum deste ano, que acontecerá entre os dias 4 e 6 de abril, em Redwood, cidade da Califórnia, EUA.

Considerado um dos mais importantes eventos mundiais da Filantropia, o Fórum vai debater os três principais fatores que influenciam o fenômeno migratório que está transformando o planeta: a busca por segurança, a busca por trabalho e a busca por um sentido na vida.

O tema está em linha com a dura realidade que preocupa quase todas as nações, e o encontro conta a presença de filantropos, internacionais, doadores de fundações familiares e executivos de fundações empresariais, públicas ou privadas com base nos EUA e no exterior.

Saiba mais sobre o Global Philanthropy Forum: http://philanthropyforum.org.

Aprendendo a cuidar bem do dinheiro

Antes de encerrar 2015, o IDIS teve o prazer de comemorar, junto com 31 jovens aprendizes do CEPAC, Associação para Proteção das Crianças e Adolescentes, de Barueri, a conclusão de um projeto de educação financeira, realizado em parceria com a Victoire Brasil Investimentos

Em 2013, a Victoire procurou o IDIS interessada em fazer algum tipo de Investimento Social Privado, mas sem ter um foco definido. Depois de muito trabalho e reflexão, ficou clara a vocação da investidora para compartilhar seu conhecimento sobre gestão de recursos e foi concebido o projeto de educação financeira para jovens que estão entrando na vida profissional, buscando gerar inclusão econômica e social através de práticas de uso consciente do dinheiro e hábitos financeiros saudáveis

No ano antepassado foi feito o projeto-piloto e, em 2015, a capacitação foi realizada diretamente por uma professora especializada, selecionada pelo IDIS, e com o apoio de funcionários da Victoire que foram mentores dos alunos, todos moradores do Parque Imperial, um bairro popular de Barueri, na região metropolitana de São Paulo.

Ao final do curso, que durou quatro semanas, as aulas da professora receberam nota 9,39 por parte dos alunos e todos eles afirmaram que os conteúdos aprendidos contribuirão para suas vidas profissionais. O item mais apreciado foram as dinâmicas desenvolvidas durante as aulas seguidas da Planilha de Orçamento Mensal, que é oferecida. Cem por cento dos pais dos alunos disseram que os filhos apresentaram uma melhora em relação à gestão de suas finanças a partir do início do curso. Já o modelo de mentoria online realizada de forma voluntária pelos funcionários da Victoire, atendeu às expectativas de dois terços do aluno, enquanto o um terço restante esperava mais dessa interação, o que mostra que o modelo ainda precisa ser aprimorado.

Se tudo correr de acordo com o desejo de André Caminada, gestor da Victoire, em 2016, o IDIS terá oportunidade de fazer os ajustes necessários, já que, ao final do projeto, Caminada enviou a seguinte mensagem: “Agradeço ao IDIS e à equipe envolvida, por todo o apoio e pela ajuda para ajustar o projeto ao orçamento que tínhamos. Espero nos vermos em 2016 na continuação desse projeto”.

Paula Fabiani e Heródoto Barbeiro conversam sobre Filantropia

A criação de uma cultura de doação no Brasil vai ganhando espaço na pauta. Um esforço que tem no IDIS um braço importante. A presidente do Instituto, Paula Fabiani, esteve, no final do ano passado na Record News. Num bate papo com o apresentador Heródoto Barbeiro, esse foi um dos temas. Além disso, as doações, os impostos que impactam o setor, o futuro da filantropia, as leis de incentivo e os cases de sucesso foram tema da conversa.

Clique aqui para assistir à entrevista.

 

Heródoto e Paula Fabiani

 

 

Filantropia em tempos de crise

Logo Fórum 2015O IDIS realizou, em novembro deste ano o IV Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, cujo tema transversal foi “Filantropia em tempos de crise”. Um tema atual tratado com um olhar diferente. Tivemos um dia inteiro de discussões sobre como investidores sociais podem usar seus recursos e experiências bem sucedidas para ajudar o Brasil a sair fortalecido do difícil momento que está atravessando.  O sucesso do Fórum e a presença de tantos parceiros e pessoas interessadas em fazer o bem só reforça o nosso desejo de trabalhar, cada vez mais, pelo resgate de valores no país.

Veja aqui a opinião de alguns palestrantes.

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A exceção que virou regra

Logo Fórum 2015A diretora -presidente do IDIS, Paula Fabiani, chamou empresários e filantropos para se unirem contra a crise e por um país mais correto e justo. Paula, no seu discurso de boas-vindas ao IV Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, lembrou que o momento pelo qual passamos requer atenção não apenas pelas questões econômicas, mas pela exposição global de práticas das quais não temos motivos para nos orgulhar. A corrupção endêmica praticamente, é o oposto do que ser quer para o país.

“Hoje a exceção virou regra”, lembrou a presidente, que alertou que os filantropos não podem assistir quietos os agravamentos sociais e as rupturas de valores que estamos presenciando, e que é preciso, mais do que nunca, a união de forças.

 

Assista à mensagem de Paula Fabiani

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Como e o que pensam os jovens filantropos

Logo Fórum 2015O que as novas gerações estão trazendo em termos de transformação para a filantropia brasileira? O que pensam esses jovens que estão hoje à frente de instituições sejam mais antigas ou que surgiram mais recentemente, mas que têm um forte viés familiar? Como mudar e trazer novas ideias e enfrentar os desafios para seguir adiante e ao mesmo tempo resgatar valores importantes que se perderam diante da atual crise que vivemos?

Esses temas foram debatidos no painel “O olhar da próxima geração de filantropos”, durante o IV Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais . O mediador foi o Secretário Geral do GIFE, André Degenszajn, que recebeu Inês Mindlin Lafer, diretora do Instituto Betty e Jacob Lafer, Eduarda Penido Della Vecchia, diretora da Fundação Lúcia e Pelerson Penido e Raphael Klein, fundador do Instituto Samuel Klein.

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Grandes filantropos, grandes palestras

Logo Fórum 2015O tema proposto pelo IDIS neste IV Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, ‘Filantropia em Tempos de Crise’, suscitou muitas discussões sobre o futuro das instituições filantrópicas, sobre o papel das novas gerações de filantropos e o poder de mobilização da sociedade para ajudar mudar o cenário do Brasil em um momento de crise como o atual. Como bem disse a diretora do Global Philanthropy Forum, Suzy Antounian, “…nas crises surgem oportunidades para mudanças estratégicas”.  Aqui estão algumas das questões levantadas durante o encontro para a nossa reflexão e que mostram os desafios que temos pela frente não apenas para superar as adversidades, mas também para buscarmos a consolidação de uma cultura de doação no país.

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Daniel Feffer, vice-presidente da Suzano Holding: “Empresas que estão começando agora dificilmente se preocupam com responsabilidade social. Elas precisam se sustentar primeiro”, diz Feffer.

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Afonso Carrillo, filantropo guatemalteco e fundador do do Movimento MelmportaGuate, se mostrou encantado com o Brasil. “É um grande povo, um país maravilhoso …não podemos esperar por novas crises. É hora de agir, mas sei que não é fácil. Temos que resgatar valores e princípios”.

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Elie Horn, presidente do Instituto Cyrela, falou sobre como promover a filantropia: “Conscientizando os ricos. Sem dinheiro não se faz nada”.

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Guilherme Leal, co-presidente do Conselho da Natura, disse que um dos problemas que enfrentamos, é que o Brasil não estimula você a ser filantropo: “A filantropia é essencial, mas é absolutamente insuficiente”, diz. “O que faz um jovem mudar o rumo da vida? É querer ser milionário. Isso é muito pouco!”.

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1º de dezembro é o Dia de Doar

Cartaz Dia de Doar

 

O primeiro dia do mês de dezembro deste ano será o Dia de Doar. Um dia especialmente dedicado para que as pessoas prestem atenção a todas as possibilidades existentes para se fazer uma doação a alguém ou a alguma organização necessitada. Pode ser doação em dinheiro, pode ser doação de tempo, de atenção, de carinho. O importante é doar algo para transformar a vida do outro e para transformar o entorno em um lugar mais acolhedor para todos.

O site www.diadedoar.org.br tem sugestões de ações para indivíduos, empresas, governo e organizações não governamentais. O IDIS produziu material de divulgação do Dia de Doar e doou boa parte para a Associação Brasileira de Captadores de Recursos, que visitou várias cidades brasileiros convidando todos a aderir à data.

Não deixe o Dia de Doar passar em branco! Ainda dá tempo!

 

 

Vamos fazer uma pesquisa juntos?

 

Cover_Juntos2Desde o dia 8 de setembro está no ar uma campanha de crowdfunding (financiamento coletivo), lançada pelo IDIS, para captar recursos para a realização de uma pesquisa para identificar o perfil do doador brasileiro.

Até hoje, não se sabe quanto os brasileiros doam, para quais causas ou por quais motivos. Sem essas informações básicas, é difícil trabalhar por uma cultura de doação.

A pesquisa também vai tentar descobrir por que as pessoas não doam e o que poderia fazê-las mudar de ideia.

Tudo isso vai nos ajudar a entender como criar um Brasil mais solidário e uma sociedade mais proativa na solução de seus próprios problemas.

Mas para que possamos fazer a pesquisa e descobrir como é o doador brasileiro, precisamos de recursos. Já conseguimos o apoio do Instituto Arapyaú, que está fazendo um matching fund e, para cada real captado na plataforma de crowdfunding, ele vai doar outro real.

Junto conosco, tem muita gente que está construindo esta pesquisa, cada um com um jeito de colaborar: o Instituto C&A, o Movimento por uma Cultura de Doação, a Associação Brasileira dos Captadores de Recursos e o Gife, entre outros.

Você vem com a gente? Você paga para ver a ‘cara’ do doador brasileiro?

Você paga para ver?

Cover_Juntos2Na primeira semana de setembro, o IDIS, com apoio do Movimento por uma Cultura de Doação e do Instituto Arapyaú, lançará uma campanha de crowdfunding com o objetivo de arrecadar fundos para fazer a primeira pesquisa sobre doações realizadas por pessoas físicas no Brasil.

A campanha de crowdfunding é uma espécie de “vaquinha” digital e será realizada através da plataforma juntos.com.vc, que é voltada para projetos sociais.

Esta é a quarta e última etapa de captação para esta pesquisa e a meta é arrecadar R$100 mil para completar os recursos necessários, já que o levantamento vai abranger todo o território nacional. Pretendemos identificar quem são os doadores brasileiros, por que doam e as causas que os sensibilizam. Também vamos conversar com os que não doam, descobrir seus motivos e identificar o que os faria mudar de atitude.

Por isso estamos perguntando aos internautas “Você paga para ver?” as informações que a pesquisa vai revelar.

“Precisamos dessas respostas, entender quem é esse grupo e como pensa, para, com esse mapa completo, criarmos grande campanha pela Cultura de Doação no Brasil, como já existe em outros países”, explica a presidente do IDIS, Paula Fabiani.

A pesquisa, liderada pelo IDIS, é uma iniciativa realizada em parceria com um grupo de especialistas e atores relevantes para o campo da cultura de doação no Brasil. Esse grupo de especialistas e financiadores vem exercendo uma função essencial no fortalecimento da proposta da pesquisa. Seu papel continuará sendo fundamental mesmo após a conclusão da pesquisa, em etapas de validação, bem como na etapa de difusão e aplicação dos resultados.

Especificamente a campanha de crowdfunding conta com o importante apoio do Instituto Arapyaú, que vai fazer a matching donation, ou seja, para cada real doado para a Pesquisa Doação Brasil, o Instituto, vai doar mais um real, até chegar à meta estabelecida.

Os detalhes, valores de doações e suas recompensas, o vídeo da campanha, além de todas as informações serão divulgadas na página da campanha, na plataforma juntos.com.vc.  

 

Paula Fabiani fala sobre cultura de doação na Bandnews FM

Paula 1 _2014A coluna A Política Nossa de Cada De Cada Dia, da rádio BandNews FM, aborda histórias de pessoas e grupos que contribuem para uma sociedade melhor e que vai muito além de exercer o direito do voto.

Na edição do último dia 24 de agosto, a entrevistada da coluna foi Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, que comenta sobre o papel fundamental do setor privado na diminuição das desigualdades.

Apesar dos brasileiros serem considerados solidários, a posição do país ainda está aquém em relação ao hábito de doação para causas sociais, por isso, Paula Fabiani enfatiza a como  é de fundamental importância estabelecer uma cultura de doação no Brasil.

Você pode ouvir a entrevista completa aqui. Confira!

Filho de Warren Buffett combate a guerra com comida

Howard Buffett tem uma teoria: a fome causa conflitos, e conflitos causam fome. Portanto, garantir a segurança alimentar de vastas populações é uma maneira eficaz de se evitá-los. Além da teoria, Buffett também tem uma fundação com seu nome e um orçamento de U$ 3 bilhões, que o filantropo norte-americano está usando para financiar iniciativas que melhorem a produção de alimentos em todo o mundo. Por essa abordagem heterodoxa para a resolução de conflitos, a The Howard G. Buffett Foundation foi escolhida uma das dez mais inovadoras organizações sem fins lucrativos de 2015 pela revista Fast Company.

Em seu livro “40 Chances: Finding hope in a hungry world”, o filho do bilionário norte-americano Warren Buffett argumenta que um agricultor faz, em média, quarenta colheitas anuais em sua vida, então o melhor a se fazer é criar as condições para que que estas sejam quarenta ótimas colheitas.

A fundação tem investido nas mais diferentes iniciativas possíveis, sempre com foco na produção agrícola. Assim, destinou recursos, por exemplo, para financiar pesquisas que aumentem a produtividade de agricultores na África e na América Latina. Além disso, também tem fornecido ajuda legal para que produtores da Nicarágua consigam adquirir o título de propriedade de suas terras.

Organização centenária conquista lugar na lista das mais inovadoras

Com mais de 100 anos de história e um orçamento anual que ultrapassa U$ 100 milhões, não é exagero dizer que a Rockefeller Foundation está entre os principais atores do Investimento Social Privado.

A idade e o tamanho, contudo, não a tornaram vagarosa. Em vez disso, resultaram em experiência para perceber que, mais do que investir muito, é necessário investir bem e estrategicamente. Não à toa, a entidade foi escolhida uma das dez mais inovadoras iniciativas sem fins lucrativos de 2015 pela revista Fast Company.

A organização norte-americana afirma, em seu site, que seu objetivo é o mesmo desde 1913: promover o bem-estar da humanidade. O modo de fazê-lo, no entanto, mudou muito. Como diz a revista, a Rockefeller tem muito dinheiro para gastar, mas o que a distingue é a maneira como seleciona os (muito poucos) projetos que beneficia.

“Apenas um punhado chega ao estágio de desenvolvimento, quando recebe um investimento teste para ver se alcança um impacto maior”, diz a Fast Company. Por isso, quando a organização financia uma iniciativa, quase certamente o faz por avaliar que ela tem possibilidade de atingir muita gente.

É o caso da Smart Power, desenvolvida na Índia e para a qual a Rockefeller Foundation destinou U$ 75 milhões. O dinheiro parece muito? A ambição é igualmente grande: levar energia elétrica para 290 milhões de indianos que não têm acesso ao recurso. E o impacto pode ser ainda maior, pois há a expectativa de ampliar a experiência para outros países da Ásia e para a África.

A Rockefeller Foundation, por meio de uma parceria, apoia financeiramente o IDIS no Fórum Brasileiro e nos Encontros Regionais de Investidores Sociais.

Uma manhã na Ponta do Farol, na capital do Maranhão

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Descubra como conciliar o social com o investimento: esse foi o convite que atraiu mais de uma centena de empresários e empreendedores sociais para um Encontro de Investidores Sociais, em São Luiz, no Maranhão. Eles se reuniram para ouvir as experiências de três empresas que incorporaram a sustentabilidade social e ambiental em seu cotidiano, e também para entender um pouco melhor o que são negócios sociais e conhecer os que investem nessas iniciativas e os que recebem o financiamento.

Tudo isso aconteceu na manhã do dia 28 de maio, no Hotel Luzeiros, na Ponta do Farol, na capital maranhense. O IDIS e o Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão (ICE-MA), que organizaram o encontro, contavam com cerca de sessenta participantes, mas quando as inscrições chegaram a cem, foi preciso encerrá-las.

O empresário paulistano Ricardo Vacaro (terceiro na foto, da esquerda para a direita), dono da RL Higiene, explicou como conseguiu transformar uma empresa do setor de limpeza em um modelo de sustentabilidade sem sacrificar a operação financeira da companhia. Darci Fontes (quinto na foto), um empresário radicado no Maranhão, contou como levou seu engajamento nas causas sociais para dentro de sua empresa, a Fonmart Tecnologia, e como essa história acabou transformando-o em um empresário-ativista. E Janaína Costa (quarta na foto), da Companhia Energética do Maranhão (CEMAR), falou sobre os desafios de aproveitar a capilaridade e os serviços da empresa para contribuir para o desenvolvimento das populações mais vulneráveis espalhadas pelo estado.

Os depoimentos foram inspiradores e a grande quantidade de perguntas direcionas aos palestrantes mostrou o interesse do público.

Na segunda parte do evento, Rebecca Obara, do fundo Vox Capital, que investe em negócios sociais, contou sua história pioneira e explicou os critérios para que uma iniciativa seja considerada um negócio social e possa receber seu apoio financeiro. Logo depois, falou Maurício Prado (primeiro na foto), sócio do Instituto de Pesquisas Plano CDE, uma das empresas apoiadas pelo Fundo Vox Capital, que se dedica a conhecer melhor o perfil das classes CDE. Maurício aproveitou a ocasião para mostrar uma pesquisa que identificou as principais fortalezas e vulnerabilidades dessas classes sociais.

O resultado positivo do Encontro de Investidores Sociais do Maranhão mostrou como é importante levar a mensagem do Investimento Social Privado para além da região Sudeste e dos grandes centros político-financeiros do país.

O IDIS agradece ao todos os palestrantes que contribuíram voluntariamente para o evento, assim como ao grande parceiro ICE-MA, aos divulgadores Associação Comercial do Maranhão, Associação dos Jovens Empresários do Maranhão e Start-Up Maranhão e ao grande apoio dado pelo Hotel Luzeiros, que acolheu o Encontro.

Fortuna que transforma

Exame

A reportagem de capa da edição do dia 24 de junho da revista Exame, “Bilionários com causa”, surgiu como um raio de luz em meio aos demais veículos, que há meses trazem manchetes desalentadoras sobre os escândalos de corrupção que abalam o país. Apesar de sabermos do papel fundamental da imprensa na investigação e divulgação das irregularidades realizadas por políticos e empresários, faz muito bem ver que uma revista influente como a Exame apostou em uma capa trazendo histórias de pessoas que dedicam parte de suas fortunas a melhorar as condições de vida da população e a construir uma sociedade mais acolhedora.

São dez páginas traçando um panorama do Investimento Social realizado por famílias e explicando suas motivações, foco de atuação e modelo de investimento, além das facilidades e dificuldades desse caminho, A reportagem também traz números de um levantamento realizado pelo IDIS e pelo Gife especialmente para essa publicação, além de um estudo inédito, feito pela Universidade de Harvard.

Vale muito a pena ler a reportagem e lançar um olhar sobre um Brasil mais iluminado.

 

 

 

Com brincadeira na internet, ONG arrecadou US$ 100 milhões em 30 dias

Uma campanha do terceiro setor espalhar-se rapidamente pela internet (“viralizar”) é incomum. Disseminar-se com apoio de celebridades do primeiro escalão – tão diversas como Leonardo DiCaprio, Lady Gaga e Cristiano Ronaldo – é um feito histórico. Não foi por acaso que a ALS Association, responsável pela proeza, está entre as dez iniciativas mais inovadoras do terceiro setor em 2015, segundo a revista de negócios Fast Company.

A ideia era insólita: usar uma brincadeira que rodava a internet – virar um balde de água com gelo sobre a própria cabeça – com objetivo de chamar a atenção para uma doença chamada esclerose lateral amiotrófica (ALS, na sigla em inglês). E convencer as personalidades a fazerem parte da farra, divulgando a entidade.

Deu certo. Muito certo. Atores como Matt Damon, esportistas como o tenista Novak Djokovic e cantoras como Katy Perry divulgaram, nas redes sociais, vídeos em que cumpriam o que ficou conhecido como “desafio do balde de gelo”.

Cada participante, depois de tomar o banho de água gelada, era convidado a intimar mais três pessoas a fazerem o mesmo, ou doar US$ 100 para o combate à doença. E foi justamente esse caráter de desafio que garantiu o grande sucesso da brincadeira. Com isso, a organização, que financia pesquisas e tratamentos para os portadores daquele tipo de esclerose, recebeu US$ 100 milhões em menos de 30 dias.

A iniciativa se tornou uma febre também no Brasil, contando com a participação de nomes como Neymar, Ivete Sangalo, Galvão Bueno, Reynaldo Gianecchini e Eduardo Suplicy.

Doações nos EUA crescem e superam, pela primeira vez, os níveis pré-recessão

Foi lançado nesta terça-feira, nos Estados Unidos, o relatório Giving USA de filantropia de 2015. Feito pelo The Giving Institute, ele também marca o 60º aniversário da publicação, que é a mais antiga e a mais completa em relatar a filantropia no país.

O relatório assinala 2014 como um ano recorde em filantropia. As doações subiram 7,1% em relação a 2013, atingindo o valor de US$ 358,38 bilhões, assim chegando, pela primeira vez, a valores acima dos níveis pré-recessão. Oito setores filantrópicos superaram picos anteriores estabelecidos em 2007, enquanto somente um, que lida com ações internacionais, teve declínio de 2 %.

No geral, este foi o quinto ano consecutivo de crescimento da filantropia nos Estados Unidos. À medida que a economia cresceu, a filantropia também cresceu, porém sempre mais do que o PIB. Em 2014, esse crescimento foi 2,1% acima do PIB americano.

As Mega-Doações continuaram a crescer, sendo responsáveis por um terço do aumento das doações por doadores individuais. Suas motivações continuam a manter um padrão “coração/cabeça”, no sentido que resultam de ações humanitárias de caráter assistencialista, bem como de ações estrategicamente planejadas e executadas para transformar a qualidade de vida de indivíduos e da sociedade.

As campanhas de doação cresceram em popularidade por meio de diferentes formatos, como #GivingTuesday e Ice Bucket Challenge, e pelos exitosos esforços de grandes universidades em assegurar o apoio de doadores em compromissos de múltiplos anos.

As doações on-line continuaram a crescer, porém mostrando, por sua competitividade, que algumas organizações souberam planejar melhor e executar as suas ações de captação de recursos.

As doações às fundações, especialmente comunitárias, também cresceram de maneira importante for meio de fundos designados pelo doador para propósitos específicos, e que garantem sua participação no processo decisório de como e para quem devem ser distribuídas.

Em resumo, os resultados de 2014 nos Estados Unidos nos mostram a importante relação entre o PIB e a doação, bem como o papel estratégico que o ato de doar assumiu na cultura americana como instrumento permanente de apoio à mudança social.

Por Marcos Kisil
Fundador do IDIS

CLIQUE NA IMAGEM PARA VISUALIZAR O INFOGRÁFICO FEITO PELO BENEFACTOR GROUP

 

Social Impact Bonds – ou Títulos de Impacto Social – propõem que governo remunere projetos sociais com impacto comprovado

Historicamente, filantropia e investimentos governamentais são complementares: desde os primórdios do investimento social, os atores privados sempre financiaram iniciativas que visavam preencher lacunas deixadas pelas administrações públicas. Agora, uma nova modalidade de investimento de impacto se propõe a modificar um pouco esta relação e fazer com que o governo remunere os projetos sociais com impacto comprovado.

O mecanismo funciona como se o governo emitisse um título público para captar recursos privados para financiar um projeto social, mas só precisa devolver o dinheiro se a iniciativa der resultado. “Neste modelo, investidores privados colocam capital para financiar um projeto social e os governos só pagam o investidor se um resultado pré-acordado for atingido. Um avaliador independente, então, confirma se o resultado foi alcançado ou não por meio de uma rigorosa avaliação de impacto”, explicam as economistas Emily Gustafsson-Wright e Tamar Manuelyan Atinc em artigo publicado no site do Centro para a Educação Universal do Instituto Brookings, centro de pesquisa norte-americano sediado em Washington, D.C.

Os Títulos de Impacto Social podem ser utilizados para financiar projetos em qualquer área, mas têm uma vocação especial para subsidiar iniciativas voltadas para a primeira infância. Isso porque “uma das principais características de um título de impacto social é financiar programas de prevenção que têm potencial para reduzir ações remediadoras mais caras no futuro”, escrevem as autoras do artigo.

PIR

Essa vocação fez dos Títulos de Impacto Social um dos principais temas da conferência “Financiamento de Impacto para o Desenvolvimento da Primeira Infância”, organizada em abril pelo Centro para a Educação Universal do Instituto Brooking. O evento foi realizado na Fundação Lego, na cidade de Billund, Dinamarca, e contou com a participação da presidente do IDIS, Paula Fabiani. “Os Títulos de Impacto Social representam um novo caminho para o financiamento de programas sociais. Este é um mecanismo que pode aproximar o capital do social e financiar iniciativas inovadoras em que o governo não pode se aventurar”, afirmou após o evento.

Paula foi à Dinamarca falar sobre a participação do IDIS na implantação e avaliação de impacto social do projeto Primeira Infância Ribeirinha (PIR), que visa instituir um programa de políticas públicas voltadas para crianças de comunidades ribeirinhas no estado do Amazonas. A expertise desenvolvida pelo IDIS no PIR habilita o instituto a atuar como avaliador em projetos financiados por meio de Títulos de Impacto Social, o que pode abrir as portas para a implantação desse novo mecanismo de financiamento. “Para o desenvolvimento deste mecanismo no Brasil novas formas de contratualização com o governo serão requeridas, assim como mais rigor com o monitoramento e avaliação dos projetos financiados”, afirma Paula.

Apesar de ainda não ter chegado por aqui, o mecanismo já é utilizado para financiar projetos em países como Austrália, Canadá, Colômbia, Índia, Irlanda, Reino Unido e Estados Unidos. Em todos eles, oferece vantagens para todos os envolvidos. “O governo ganha porque só paga quando o projeto dá certo. O investidor social tem a oportunidade de alcançar um retorno maior do que se fosse uma doação direta e conta com uma estrutura que garante um mínimo de padrão de qualidade. E a entidade que realiza o projeto se beneficia porque, se a iniciativa der certo, o governo vai pagar o investidor e este pode querer reinvestir no projeto”, conclui a gerente financeira do IDIS, Priscila Matuda.

Fórum de Investidores Sociais vai discutir o papel da filantropia em tempos de crise

O tema do IV Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais já está definido e a escolha responde à necessidade clara de discutir qual o papel da Filantropia em um momento no qual o país atravessa uma profunda crise de valores.

Como resgatar a confiança nas instituições? Como estabelecer parcerias? Como atuar em conjunto com o poder público? Essas e outras questões estão presentes no cotidiano de filantropos que atuam no sentido de criar uma sociedade mais justa e acolhedora e, ao mesmo tempo, veem o enfraquecimento de conceitos éticos e morais que deveriam servir de arrimo para essa construção.

Pensar em conjunto, trocar ideias, ouvir a experiência de quem já atuou ou ainda atua em cenários semelhantes, conhecer estratégias que ajudem a reconstruir o arcabouço de valores… Essas são algumas das propostas para o próximo Fórum, que está marcado para o dia 12 de novembro.

O IDIS está trabalhando na organização do evento buscando trazer exemplos instigantes e inspiradores – vindos do Brasil e de fora –, antecipar novas tendências, mostrar a relação entre diferentes gerações de investidores sociais e, como sempre, criar um espaço de diálogo e interação entre os participantes.

Um grande encontro para grandes questões

Por Paula Fabiani, presidente do IDIS

Levamos ao Global Philanthropy Forum uma delegação de doze brasileiros, a maior presente, e trouxemos os principais desafios e tendências do maior encontro mundial de filantropia.

Delegação Brasileira no GPF15

Delegação brasileira no GPF15

A delegação organizada pelo IDIS em parceria com o GIFE levou um importante grupo de brasileiros envolvidos com o investimento social no País para ouvir e compartilhar nossas experiências com filantropos do mundo todo.

“Quando um mundo sem pobreza vai deixar de ser um sonho para começar a ser um projeto?”. Com esta pergunta, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, abriu a 13ª edição do Global Philanthropy Forum (GPF), que aconteceu em Washington, EUA, entre os dias 22 e 24 de abril. A questão colocada pelo médico e antropologista sul-coreano, que está ao comando do Banco desde 2012, transmite a inquietação daqueles que buscam a solução para os grandes problemas sociais e veem seus esforços se diluírem em uma realidade persistentemente desigual.

Os que participaram do GPF – entre eles, três representantes do IDIS – tiveram a oportunidade de assistir a muitas palestras, depoimentos e debates ricos em conteúdo e questionamentos. Registro aqui algumas das mensagens mais significativas do evento, que representam tendências e desafios da filantropia global.

 

Desafio: Precisamos aprender a usar o imenso potencial transformador da internet.

Tendência: “A mudança geracional é grande e só quem entende das novas gerações é a nova geração” – Hadeel Ibrahim, diretora executiva da Mo Ibrahim Foundation.

Alerta: “O alto retorno no capital versus o baixo retorno do trabalho está intensificando a desigualdade social”  Sean Cleary, chairman de Conceitos Estratégicos da Future World Foundation.

Desafio: “Sustentabilidade não é uma maneira de mitigar riscos mas de aumentar os negócios, se colocada como central na condução das atividades da empresa” – Alessandro Carlucci, ex-CEO da Natura.

Alerta: “Onde você tiver pobres marginalizados, pessoas marginalizadas, você terá uma oportunidade para a escravidão”  Stella Dawson, responsável pela área de Governança e Anticorrupção da Thomson Reuters Foundation.

Desafio: As cadeias terceirizadas de produção tornam difícil chegar até quem está na ponta final. O trabalho infantil ainda atinge mais de 2 milhões de crianças no mundo todo e as empresas precisam se comprometer com esse controle.

Tendência: “Que tal lançar um selo ‘produto livre de conflito’?” – Justin Dillon, CEO da Made in a Free World.

Tendência: “Somos pobres pela forma como conduzimos nosso país e administramos nossos recursos… Como mudar isso? Melhorando o governo!” – Mo Ibrahim, fundador e CEO da Mo Ibrahim Foundation, filantropo e empresário que abandonou seu país natal, o Sudão, para progredir nos negócios. Criou um índice para avaliar a qualidade dos governos africanos.

Tendência: “A filantropia tem de parar de evitar o governo. Em vez disso, precisa colaborar com ele para aumentar a capacidade dele de solução dos problemas” – Tony Blair, filantropo e ex-primeiro ministro da Inglaterra.

Desafio: “Precisamos fazer da democracia mais do que apenas eleições. Precisamos conseguir monitorar e avaliar os eleitos” – Tony Blair, filantropo e ex-primeiro ministro da Inglaterra.

 

Vale mencionar a última sessão do evento com Peggy Dulany, filha do filantropo David Rockefeller, que morou e fez vários projetos no Brasil. Peggy reforça a importância de consultar os beneficiários, de buscar a solução dos problemas de forma coletiva. E também a atuação de Jane Wales, a incrível condutora deste evento, que consegue juntar nomes tão importante como Jim Yong Kim, do Banco Mundial, e Tony Blair, ex-primeiro ministro da Inglaterra, e que inicia e finaliza o fórum ressaltando que precisamos de todos para realizar a transformação social que buscamos (“it takes us all”): o setor sem fins lucrativos, o governo e o setor privado. O Brasil já possui modelos interessantes de parceria entre os setores, mas como levar à escala estas soluções ainda é uma questão que partilhamos com outros ao redor do mundo.

O GPF inspirou e trouxe conexões com investidores sociais de todo o mundo, com muitas oportunidades de interação e networking, como o “Speed Networking”, uma sessão na qual a cada 6 minutos conversamos com um participante diferente. As experiências musicais ao longo do evento também nos trouxeram mais sensibilidade para conectar com os outros e com os problemas de outras realidades.

As palestras e as histórias nos fizeram pensar como conduzimos nossas ações no Brasil. Além disso, reforçou a importância de refletir sobre qual nosso papel na filantropia global. O País possui um grande potencial de se tornar um celeiro de inovação social, pois possui problemas socioambientais de grande envergadura e a infraestrutura filantrópica para buscar soluções a estes problemas. Construir as parcerias necessárias é o ponto de partida para colocar o Brasil na liderança da filantropia dos países emergentes.

Quem quiser saber mais pode assistir aos vídeos em http://philanthropyforum.org/talks.

 

Membros da delegação brasileira no Global Philanthropy Forum 2015

  1. Adriana Norte – Instituto Estre
  2. Ana Carolina Velasco – GIFE
  3. Antônio Florence – Florence & Advogados
  4. Helena Monteiro – WINGS
  5. Izabel Toro – Editora FTD
  6. Juliana Ramalho – Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados
  7. Marcos Kisil – IDIS
  8. Paula Fabiani – IDIS
  9. Rafael Gioielli – Instituto Votorantim
  10. Raquel Coimbra – IDIS
  11. Vinícios M. Malfatti – Instituto Lojas Renner
  12. Virgílio Vianna – Fundação Amazonas Sustentável

 

 

 

Presidente do IDIS é palestrante no International Grantmaking Symposium, em Washington

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Paula Fabiani, presidente do IDIS, está entre os palestrantes do International Grantmaking Symposium, realizado entre os dias 30 de abril e 1º de maio em Washington. O evento vai reunir especialistas globais em filantropia para dividir experiências sobre como maximizar o impacto das estratégias de doação.

Paula participará do simpósio com o tema “International Grantmaking Best Practices. Overcoming Challenges and Seizing Opportunities” (“Melhores Práticas de Doação Internacional. Superando desafios e aproveitando oportunidades”, em tradução livre). Ela vai falar sobre o papel da doação na construção da sociedade civil, no aumento da transparência e na criação de oportunidades para investimentos estrangeiros. Outro tópico explorado será a importância da medição de impacto dos projetos sociais.

O evento é organizado pela CAF (Charities Aid Foundation of America) em conjunto com a SAIS (The Johns Hopkins University’s Paul H. Nitze School of Advanced International Studies). Entre os principais assuntos tratados, estão: melhores práticas internacionais de doação, desenvolvimento e doação sustentáveis, regulamentação e medição de impacto. O simpósio pretende discutir e esclarecer os mecanismos de doações internacionais, bem como colaborar para a superação dos desafios da filantropia internacional.

Clique aqui para acessar o site do IGS (em inglês).

Clique aqui para conferir a programação detalhada (em inglês).

Presidente do IDIS é palestrante no FIFE 2015

Sem títuloPaula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, foi uma das palestrantes do Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica (FIFE), que aconteceu entre os dias 24 e 27 de março, em Gramado/RS.   O evento reuniu mais de 400 pessoas e contou com mais de 100 atividades e 40 palestrantes, debatendo temas relativos à gestão de organizações sociais.

A presidente do Idis ministrou a palestra “Fundos patrimoniais e investimentos financeiros” e integrou a mesa no debate “Institutos e fundações – como se relacionar e trabalhar em conjunto”, com Ana Carolina Velasco (gerente de relacionamento institucional do GIFE) e mediação de Roberto Ravagnani.

Fabiani se mostrou entusiasmada com o evento: “o Fórum encontra-se apenas em sua segunda edição e já apresenta um expressivo aumento de tamanho, impactando significativamente a melhoria dos processos de gestão nas organizações”.

Saiba mais sobre o FIFE clicando aqui.

Dia Mundial da Justiça Social: Rádio ONU convida o Idis para falar sobre o papel do Investimento Social Privado

As Nações Unidas celebraram o Dia Mundial para Justiça Social neste 20 de fevereiro, com o secretário-geral Ban Ki-moon destacando que todos merecem uma vida digna, com respeito aos direitos humanos.

Mas o que é exatamente justiça social? A Rádio ONU ouviu a diretora-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social: “Envolve pessoas em situação de vulnerabilidade, como a pobreza e até mesmo a falta de saneamento, falta de acesso aos serviços básicos.”
Paula Fabiani foi entrevistada por Leda Letra. A especialista explica ainda a responsabilidade das empresas e do cidadão comum para a justiça social e avalia que o Brasil tem muito espaço para melhorar no setor de investimentos sociais. Ouça a entrevista concedida por Paula Fabiani.

IDIS desenvolve projeto para que Santas Casas conquistem sustentabilidade

Desde o começo do ano o IDIS vem trabalhando num projeto para capacitar representantes de 117 Santas Casas do Estado de São Paulo para captação de recursos e doações. O projeto é feito em parceria com Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes de São Paulo (Fehosp) e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. No total, são 117 Santas Casas ou Hospitais Filantrópicos participantes em todo estado, organizados em 11 grupos, para tornar mais fácil entender a realidade de cada instituição.

A programação das capacitações inclui a realização de 3 oficinas, de 20 horas cada, ministradas por professores convidados e pela equipe do IDIS. Três temas centrais são abordados nos treinamentos: como fazer um diagnóstico da situação de cada hospital e identificar as possíveis pessoas e organizações que podem ser mobilizadas; decidir quais sais as necessidades prioritárias e traçar um plano estratégico para sensibilização da comunidade; e, por fim, como implementar o plano, prevendo os pontos críticos que podem comprometer o sucesso. Entre cada uma das oficinas, cada unidade recebe a visita de equipes do IDIS para um trabalho de coaching que verifica, in loco, como os participantes estão lidando com as ‘lições de casa’ que receberam. A ideia é que cada oficina sirva para retomar e consolidar o conteúdo a partir do que os profissionais encontram na prática.

A primeira rodada de treinamentos começou em janeiro e segue até o fim de março, envolvendo quatro grupos de santas-casas, que se reuniram em quatro municípios: Ourinhos, Votuporanga, São Carlos e Limeira. O segundo grupo receberá capacitação entre os meses de abril e junho, em outros quatro municípios: Araçatuba, Franca, Mogi Guaçu e São José dos Campos. E de julho a setembro, o terceiro grupo, reunindo as cidades de Catanduva, Marília e Marcelina.

Ainda como parte do projeto, será estabelecida uma rede virtual para uso dos hospitais participantes, e para sua interação com a Fehosp. Por meio de uma plataforma, os participantes terão acesso a um espaço virtual para compartilhamento de experiências, documentos de interesse, grupos específicos, realizar fóruns virtuais, postar fotos e vídeos, estabelecer uma sala de bate-papo.

AS SANTAS CASAS HOJE

As Santas Casas e Hospitais Beneficentes são responsáveis por 1/3 do sistema de saúde do País. No Estado de São Paulo, respondem por 33 mil dos 65 mil leitos existentes. Além disso, 70% das unidades estão localizadas em municípios com até 30 mil habitantes, onde, em grande parte, representa a única alternativa de atendimento hospitalar público.

Faz alguns anos que os repasses recebidos do sistema público de Saúde não cobrem as despesas e, diante desta realidade, está cada vez mais difícil para as Santas Casas cumprirem o papel social. Algumas fecharam as portas e muitas estão diminuindo o número de atendimentos para o SUS como forma de atenuar o déficit operacional. A ideia da parceria do IDIS com a Fehosp é criar mecanismos de sustentabilidade para esses hospitais.

Estima-se que as doações no Brasil somam aproximadamente 20 bilhões de reais por ano. A área que mais recebe esse tipo de recurso é a da Educação, e a Saúde aparece em nono lugar, segundo levantamento do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas. Por isso, existe uma oportunidade real de que o setor da Saúde possa ser redescoberto como área de interesse para uma crescente filantropia no Brasil.

Uma das principais fontes de financiamento desses hospitais no passado, e que caracterizaram as Santas Casas como verdadeiros hospitais comunitários, foi o apoio da sociedade local para a sua construção, instalação e operação. “Antes de serem integradas ao SUS, as Santas Casas eram sustentadas pelas comunidades locais, que cobravam sua boa gestão”, diz Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS.

A realidade atual é que o apoio comunitário foi diminuindo na medida em que o SUS avançou como principal fonte compradora de serviços. Se a saúde passou a ser um dever constitucional e universal do governo, já não haveria necessidade da participação da comunidade local em seu financiamento. Porém, a conta não fecha.

Forbes-Insight divulga as principais tendências do investimento social mundial

De acordo com estudo 2015 BNP Paribas Individual Philanthropy Index, encomendado pela Forbes-Insight, braço da famosa revista norte-americana, as cinco principais tendências do investimento social mundial em 2015 são as seguintes.

  1. Impact Investment (apontado por 52% dos entrevistados)
  2. Filantropia colaborativa (51%)
  3. Compartilhamento de dados, práticas e expertises (51%)
  4. Atacar as raízes dos problemas sociais (48%)
  5. Venture philanthropy (45%)

A colaboração e o compartilhamento  estão entre as cinco tendências para o investimento social privado neste ano, citadas por 51% dos entrevistados. Ambas, analisa a Forbes, refletem o ambiente de fragmentação do setor, com pulverização de um grande número de organizações.

Podem ser resumidas numa frase do executivo-chefe Gerry Salole, do European Foundation Centre, citada pela publicação: “Não tenho problema com o grande número de organizações, desde que elas conversem umas com as outras”.

Desde 2012, o IDIS tem tido um papel relevante no incentivo desse diálogo com a realização do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais. O evento anual abre espaço para troca de experiências, discussão de temas pertinentes ao campo e exposição de boas práticas do setor.

Um pouco à frente de colaboração e compartilhamento, a sondagem apontou o investimento de impacto como a tendência mais citada pelos filantropos (52%). Esta é outra área que também tem se expandido no Brasil – e foi um dos temas tratados no primeiro fórum organizado pelo IDIS.

Em quarto lugar, 48% dos entrevistados apontaram a tendência de lidar com as raízes dos problemas, em vez de tratar apenas das consequências. Uma abordagem convencional sobre o sem-teto, por exemplo, seria “fornecer serviços diretos, como contribuir com abrigos ou programas de alimentação”, diz a revista. Já um enfoque de “mudança sistêmica” detectaria o que está levando as pessoas a morar na rua e o que seria preciso fazer para que isso não acontecesse mais.

A quinta tendência, indicada por 45% dos filantropos, é a venture philanthropy, que une os objetivos sociais da filantropia com a estrutura de capital típica dos venture investments, no qual o investidor social se torna sócio de uma parte do projeto. “Este tipo de filantropia pode ser muito efetiva em certas áreas intensivas em capital, como as pesquisas médicas”, afirma a Forbes.

Mário Magalhães Chave: a perda do Mestre

Marcos Kisil*

Sou uma das pessoas que tiveram o privilégio de conhecer, trabalhar, e principalmente ter em Mário um mestre da vida. Seja ela a vida profissional, a vida em sociedade, a vida em família.

O Dr. Mário, como era mais conhecido, faleceu no último sábado dia 28 de fevereiro tendo a família ao seu lado.

Sua formação profissional como Odontólogo (1941) e Médico (1948) ocorreu na antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, na cidade do Rio de Janeiro onde nasceu. Na mesma Universidade viria a completar seu doutoramento em Odontologia (1953) e Livre Docência em Patologia e Terapêutica (1953). Tendo em 1951 concluído a sua primeira especialização na Universidade de Illionois, na área de Farmacologia, volta aos Estados Unidos para seu Mestrado em Saúde Pública na Michigan University (1955). E é nesta área de Saúde Pública, que hoje também pode ser chamada de Medicina Coletiva, que Mário passa a atuar de maneira relevante para o benefício da humanidade.

Como sanitarista trabalhou durante dois anos na Fundação SESP (Serviço Especial de Saúde Pública), doze anos na Organização Pan-Americana da Saúde e na Organização Mundial da Saúde, tendo ocupado postos em Washington, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Genebra. Chefiou o Departamento de Administração de Saúde na antiga Escola Nacional de Saúde Pública, hoje Instituto Presidente Castello Branco. Foi Diretor Adjunto da Associação Latino-americana de Faculdades de Odontologia e da Federação Pan-Americana de Associações de Faculdades de Medicina.

No mesmo período atuava como diretor de programa da Fundação W. K. Kellogg, tendo sob responsabilidade o programa da Fundação na América Latina. Mário emprestou seu talento e tirocínio para disseminar a fluoração da água e do sal como meios preventivos para a cárie bucal, atuou para a criação de um corpo de conhecimento que hoje conhecemos como Medicina Familiar, participou intensamente da criação e desenvolvimento dos Núcleos de Tecnologia para o ensino profissional na área da Saúde (centros conhecidos como NUTES/CLATES), atuou na criação e ativação de entidades como a Associação de Faculdades de Medicina (FEPAFEM, ABEM), Odontologia (ALAFO), Enfermagem (ABEn), Associação de Programas e Departamentos de Medicina Coletiva (ABRASCO), e na Rede UNIDA (Programas de articulação docente/assistência/comunidade). Colaborou no planejamento e implantação de programas acadêmicos em odontologia social e sanitária, entre outros, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Sua intensa atividade acadêmica também se reflete nos livros e artigos que publicou (alguns em co-autoria), sendo seminais e pioneiros na discussão de temas valorosos para o entender e agir no setor da Saúde, e que se tornaram verdadeiros oráculos para os estudiosos do setor, tais como: Manual de odontologia sanitária (1960); Odontologia sanitária (1962); Saúde e sistemas (1972); Saúde, uma estratégia de mudança (1982); Odontologia social (edições de 1977 e 1986); Cambios en la educación medica: un analisis de la integración docente asistencial en América Latina (1884); Perspectivas da integração docente-assistencial (1983); Algumas reflexões sobre IDA: antecedentes do ideário UNI (1994)

Suas ações, profissionais e acadêmica, foram reconhecidas com vários títulos honoríficos, cabendo destacar: Doutor Honoris Causa da Universidade do Brasil (1964) da Universidade Federal da Bahia (1985), Universidad de Buenos Aires (1995), bem como de universidades em Medellín, Colômbia (1965), Lima, Peru (1972), Cochabamba, Bolívia (1978) e Santiago de Los Caballeros, República Dominicana (1986).

Mário ocupou a Cadeira 42 da Academia Brasileira de Odontologia

Também será lembrado pelo estímulo, apoio, e generosidade para com os jovens profissionais, especialmente ao recomendar os candidatos às bolsas de estudo da Fundação Kellogg, permitindo assim que uma liderança acadêmica e profissional fosse formada na América Latina e especialmente no Brasil. Contamos em centenas os agraciados que galgaram posições de liderança na região, seja na Universidade, Ministérios da Saúde, ou na própria carreira internacional dentro do sistema OPS/OMS. Mário, como ex-bolsista, conhecia o poder que esta decisão acarretava na vida de um jovem.

Fui bolsista, consultor, e vim a substituir Mário quando de sua aposentadoria como Diretor da Fundação Kellogg. Tive o privilégio de tê-lo como conselheiro e amigo na concepção e implantação de programas extremamente exitosos para a nossa região, entre os quais destaco a Fluoração do Sal, o Programa UNI para as profissões da saúde, e Kellogg International Leadership Program em liderança.
Mário, por meio dessas ações com a Fundação Kellogg, introduziu e nutriu de maneira antecipatória o que viria a ser uma filantropia estratégica, desenvolvimentista, e voltada à emancipação de seus beneficiários como se propõe atualmente em oposição direta ao assistencialismo e paternalismo de doadores.

Sua paciência, mansidão e entusiasmo eram características que ampliavam a importância de sua sabedoria

Não existiria o IDIS, e toda a transformação proposta para o investimento social privado na América Latina, e especialmente no Brasil, se não fosse o seu denodo em fazer da doação um instrumento de mudança social.

Obrigado, Dr. Mário. Descanse em paz!

(*) Ex-Diretor da Fundação W.K.Kellogg para América Latina e Caribe, Fundador do IDIS

Desigualdade: os mais beneficiados fazem parte da solução, dizem especialistas.

Um relatório recente da Oxfam, organização britânica de combate à pobreza, indicou que 1% da população detém 48% da riqueza mundial – e que a tendência é que essa fatia chegue a 50% em 2016. O paradoxo é que essa pequena elite econômica pode ser parte da solução para reverter a trajetória de concentração.

Uma das maneiras é por meio do investimento social privado (ISP). “O ISP consegue amenizar muito o problema e ter um impacto social brutal, caso os recursos sejam bem manejados”, afirma Marcos Azzi, fundador do Instituto Azzi, organização da sociedade civil especializada no aconselhamento a investimentos sociais de pessoas e famílias de alta renda. “Imagine um bilionário que doe 1% de seus ganhos anuais para a filantropia. É nada em termos do que ele tem, mas é muito em valores absolutos”, comenta Azzi.

A questão passa, então, por atrair tal público para o investimento social privado. Um trabalho considerável, a julgar pela experiência de Azzi em São Paulo, onde o instituto atua — a cidade abriga o sexto maior número de bilionários no mundo, à frente de Paris, Los Angeles e Genebra, segundo uma pesquisa do banco suíço UBS e da consultoria Wealth-X. “Em geral, é um grupo que se aliena do coletivo, vive numa ilha de bonança”, diz. “É aberto para ouvir, mas acaba ficando meio que por isso mesmo”.

Para a diretora-executiva do IDIS, Paula Fabiani, “o grupo de milionários e bilionários brasileiros é muito heterogêneo; alguns são engajados e outros nem tanto”. Ela avalia que falta, no país, uma cultura de doação consolidada: “Pelo que podemos ver no World Giving Index 2014, publicado pela CAF, o Brasil não tem uma cultura de doação, ocupando a 90ª posição em um ranking de 135 países. É claro que as camadas mais ricas da população também partilham desse mesmo comportamento”.

Além do investimento social privado, há outro modo de o 1% colaborar para reverter a concentração, segundo o diretor da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst: as pessoas de alta renda precisam parar de sustentar políticas que contribuam para a desigualdade. “Elas influenciam indevidamente o processo político-democrático, conseguindo benefícios do poder público, como vantagens tributárias que mantêm um sistema fiscal no qual quem tem mais paga proporcionalmente menos”, diz Simon, ecoando uma parte do relatório da Oxfam, divulgado em janeiro, que fala justamente sobre os grandes gastos com o lobby sobre questões tributárias.

Ticehurst argumenta que o público de alta renda está, na verdade, agindo contra seus interesses ao apoiar medidas que resultam em concentração de renda. “No longo prazo, é de interesse deles também ter um sistema mais igualitário, pois sociedades mais iguais são comprovadamente mais seguras.” Paula reforça: “No Brasil, as pessoas, por mais privilegiadas que sejam, convivem diretamente com os problemas sociais, ao contrário do que acontece em outros países mais desenvolvidos. Em qualquer parte, somos obrigados a olhar nos olhos da pobreza e da injustiça.”

Movimento Arredondar Que Usar Centavos Para Estimular Cultura de Doação

Arredondar para cima o valor de uma compra e doar os centavos para uma organização da sociedade civil parece muito pouco, não? Agora, imagine que os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro emitem, num único dia, 5,9 milhões de faturas de compras, segundo Ari Weinfeld, presidente do Movimento Arredondar. O valor total doado, então, pode ser enorme.

Essa é a ideia da iniciativa. A organização firmou, há três meses, parceria com as primeiras lojas para uma campanha que estimula as pessoas a arredondarem o valor de suas notas fiscais, doando o excedente para a filantropia. Na boca do caixa, o consumidor será questionado se quer elevar o valor da compra e repassar os centavos.

O dinheiro, no entanto, nem é o que mais importa. “A questão da cultura de doação é muito mais importante. Nós gostaríamos de criar nas pessoas o hábito de doar”, diz Weinfeld. Nesse sentido, uma das forças da campanha, avalia o presidente, é a conversa na hora de o cliente pagar a conta – ele terá de lidar com o assunto.

Da concepção à ação, foram três anos. “O período serviu principalmente para nós termos todo o desenho tributário para fazer o arredondamento sem incidir impostos”. No processo, o Movimento Arredondar contou com a ajuda de dois escritórios de advocacia: Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados e Barbosa, Müssnich & Aragão.

A solução foi a seguinte: na hora da compra, saem duas notas, uma com o valor dos produtos, sobre a qual incidem os tributos normais, e outra com os centavos resultantes do arredondamento, que é livre até mesmo das chamadas “taxas de shopping”.

Ao longo dos três anos, também foi desenvolvida a estrutura de tecnologia de informação, o softwares das lojas, “para que a doação fosse fácil, simples, sem nenhum trabalho nem para o lojista nem para o doador”, diz Weinfeld. Trata-se, na verdade, de uma extensão que é instalada no software já usado pela loja em seus caixas.

Antes de iniciar a operação, o Movimento Arredondar fez testes durante um ano em duas lojas da rede de moda infantil Puket. “No período, 70% das pessoas que entraram na loja arredondaram”, conta Weinfeld. Agora, a campanha já está também em lojas da Grifer (uniformes), Crocs (calçados), Malwee (roupas), NK Store (roupas e acessórios) e Track & Field (artigos esportivos). “Agora com 14 lojas, mantivemos o índice de 70% das pessoas arredondando suas compras”, comemora.

Por enquanto, é o Movimento que vai atrás dos estabelecimentos participantes. No futuro, com a expansão da iniciativa, a ideia é de que a organização passe a ser procurada pelas redes de comércio.

Beneficiados

Para onde vai o dinheiro? Hoje, o Movimento Arredondar trabalha com 15 organizações da sociedade civil, escolhidas após processo de seleção que incluiu um grande questionário sobre suas práticas. “Contratamos cinco pessoas de altíssimo nível do terceiro setor para fazer a seleção e criamos o questionário, que não pode ser respondido apenas por uma pessoa, pois suas questões envolvem várias áreas das organizações”, diz Weinfeld. Os oito Objetivos do Milênio da ONU foram os parâmetros usados para definir as entidades que poderiam participar do edital. Elas deveriam se encaixar em no mínimo um dos objetivos.

Foi lançado um edital, e 335 entidades participaram. Trinta passaram pelo crivo, e depois foram divididas em dois grupos de 15 – para que haja um rodízio de organizações beneficiadas. A proposta é investir, em no máximo três anos, o equivalente a 10% do orçamento anual de cada OSC. Quando o percentual for alcançado, ela sai do grupo apoiado e outra entra no lugar. “A rotatividade não é só para não criar dependência, mas para que a gente também possa atender o maior número de ONGs possível”.

A empresa que adere pode optar por destinar os recursos a um Objetivo do Milênio específico. “Temos lojistas de roupa feminina que escolheram os objetivos três e cinco, que falam de mulher, e empresário de esporte que escolheu o sete, que fala de meio ambiente e de padrão de qualidade de vida”, exemplifica Weinfeld. A grande maioria das lojas preferiu aderir a todos os oito Objetivos do Milênio, indistintamente.

Saiba mais: www.arredondar.org.br

 

 

Campanha Para Ricos Doarem Deve ir Além da Redução da Pobreza, Defende CAF de África do Sul

A campanha sul-africana para estimular os ricos a doarem pelo menos 5% de sua renda para a redução da pobreza é bem-vinda. Porém, o projeto lançado recentemente também deveria abranger outros pontos ligados a justiça social, defende Coleen Du Toit, CEO da Charities Aid Foundation (CAF) da África do Sul, organização parceira do IDIS.

Em artigo para o mesmo site em que o projeto foi lançado, o Business Day, Coleen cita uma recente pesquisa da plataforma virtual de ativismo Avaaz que envolveu 116 mil pessoas de 194 países e territórios, apontando que os temas mais importantes para elas são “combater a corrupção política, a injustiça econômica e as catastróficas mudanças ambientais”. Ela questiona se, portanto, não deveriam ser esses os assuntos abordados pela iniciativa sul-africana, chamada Five Plus Project.

Coleen faz questão de destacar que esse questionamento de forma alguma diminui a importância de se doar para aliviar os problemas mais urgentes, ainda mais em um país no qual 26% das pessoas vivem abaixo da linha de pobreza. Mas, escreve ela, “nós também precisamos de engajamento ativo com organizações que defendem a alocação justa dos direitos e benefícios de nossa democracia”.

“De acordo com os princípios de nossa Constituição, este setor [justiça social] luta pelos direitos dos marginalizados, para combater a crescente desigualdade e pelo fim da corrupção e da má administração, agora endêmicas na África do Sul”. No entanto, alerta, “o setor é quase inteiramente sustentado por doadores internacionais, uma situação obviamente insustentável”.

A CEO da CAF Southern Africa lembra que o país tem uma das mais altas taxas de casos de abusos sexuais e violência de gênero, envolvendo, inclusive, crianças. Ainda assim, “organizações que combatem esse problema estão fechando por falta de financiamento”.

Até mesmo um bastião moral da África do Sul como o bispo Desmond Tutu, figura importantíssima da luta antiapartheid, já chamou a atenção para a necessidade de os líderes empresariais destinarem recursos para projetos que combatam injustiças sociais. “É paradoxal que a generosidade e a responsabilidade social dos financiadores privados, das empresas e dos indivíduos quase nunca são aplicados no setor que protege os aspectos mais fundamentais da nossa democracia”, escreve Coleen.

No mesmo tom, Coleen apela para outro bastião moral, Martin Luther King, para fechar seu argumento: “A filantropia pode ser recomendável, mas não deve ignorar as circunstâncias de injustiça econômica que a fazem necessária”.

 

 

Para Estimular Filantropia, Campanha Coleta Depoimentos de Quem Faz Doações

Falar sobre suas ações sociais é fundamental para estimular uma cultura de doação. Ainda assim, muito pouca gente no Brasil expõe publicamente quanto investe nessa área. Uma nova iniciativa pretende mudar isso. “O que a gente quer é estimular que as pessoas venham à frente, coloquem o rosto e mostrem a organização que escolheram, a causa que escolheram e por que doam”, afirma o coordenador da campanha Doe Mais, Doe Melhor, Ricardo Martins.

O pontapé inicial foi dado em 24 de março, com o lançamento de uma plataforma virtual em que há depoimentos de brasileiros e estrangeiros sobre ações sociais. “São histórias curtas, mas que focam na dinâmica emocional por trás do gesto”, afirma Martins. Ele acrescenta que dispõe de um banco de dados com mais de 100 depoimentos, das quais 60 já estão no site.

A internet foi fundamental para ajudar a encontrar pessoas dispostas a falar sobre seu próprio investimento social. O convite para expor histórias foi postado na comunidade do Facebook “Movimento por uma cultura de doação no Brasil”, que estimula debates e projetos que possam promover esse tipo de filantropia. “O Movimento funciona como uma rede de suporte. Então, quando precisei de histórias, coloquei lá e imediatamente houve respostas”, relata Martins.

A ideia da campanha veio de Leonardo Letelier, fundador da Sitawi Finanças do Bem, organização que desenvolve soluções financeiras que tenham impacto socioambiental. “A impressão do Léo é que as pessoas falam pouco de doação, às vezes, têm vergonha de falar, se sentem um pouco pedantes”, diz o coordenador da campanha. O próprio Martins se envolveu com a Doe Mais, Doe Melhor porque participava da comunidade do Facebook.

A iniciativa é recente, mas os objetivos são ambiciosos. “Começamos a pensar no final do ano passado. Com o lançamento, a gente espera receber muito mais histórias, porque eu tenho certeza que tem muita gente interessada em contar, mas ainda não encontrou o canal”, continua Martins.

Há até a possibilidade de a campanha extrapolar o ambiente virtual e chegar à televisão. “Temos algumas conversas, a possibilidade de gravar o vídeo é grande”, afirma o coordenador. O conceito de uma eventual campanha televisiva já começa a ser desenhado. “Queremos visibilidade pública, mas é difícil falar de frente pra câmera, dar entrevista. Por isso, a ideia é que a gente pegue atores ou atrizes que contem a história em primeira pessoa, mesmo que não seja a deles.”

Por fim, o coordenador ressalta que o importante mesmo não é sobre o que se fala, mas apenas falar: “O ponto não é quanto doa, e sim ter uma causa, uma organização para a qual se doa. A gente achou que divulgar histórias de doação seria a melhor forma de estimular as pessoas a contarem as suas e até viverem as suas”.

 

 

Estudos Tentam Desvendar Estímulos Cerebrais Ligados à Doação

A oxitocina é um hormônio considerado fundamental para a criação de laços familiares, como as relações maternais e maritais. Mas também está por trás de atos de doação, a ponto de se poder dizer que doar é como participar de uma “família sintética”.

É isso que mostra o professor de finanças da Texas Tech University, Russell James 3º, no texto “Brain studies and donor decision making: what do we know”, publicado na edição de inverno do periódico Advancing Philantropy, da Association of Fundraising Professionais (a associação norte-americana, canadense e mexicana de captadores de recursos, semelhante à tupiniquim ABCR).

O autor faz, no texto, um apanhado de várias pesquisas neurológicas que tentam explicar atos de caridade. Cita um estudo que usou injeções de oxitocina para mostrar que os mecanismos cerebrais por trás das conexões familiares são os mesmos ligados a atos de doação.

James 3º também menciona pesquisas segundo as quais o toque humano, seguido de um presente, aumenta a presença do oxitocina, também levando a uma maior propensão à doação. Não por acaso, apertos de mão, abraços e prêmios para doadores são técnicas muito usadas em eventos de arrecadação, sugere o texto.

“De uma perspectiva neural”, compara James 3º, “a doação é menos parecida com uma transação comercial e mais semelhante a compartilhar um jantar em família”. Ele ainda sugere: “O entendimento das relações entre um doador e uma organização como uma ‘família sintética’ pode indicar estratégias de captação”.

Nas doações via legado, ou seja, deixadas em testamento, imagens do cérebro feitas por ressonância magnética funcional indicam que o critério de escolha da organização beneficiada não costuma ser a eficiência, mas sim o quanto ela está relacionada com a história de vida do doador. Segundo o professor, esse tipo de ato é “como escrever o capítulo final de sua biografia”.

Outros estudos com imagens cerebrais apontam, no entanto, que deixar os recursos para amigos e familiares ativa mais fortemente áreas do cérebro relacionadas a memórias e emoções do que doar em testamento para organizações. Consequentemente, este último tipo é mais raro. James 3º vê nisso outra oportunidade de captação de recursos.

“Quando uma entidade consegue ligar sua causa a algum amigo ou familiar do doador, há um aumento substancial na possibilidade de receber uma doação via legado”, escreve. Pessoas com casos de câncer na família, por exemplo, seriam mais suscetíveis a deixar recursos para organizações que lidem com esse tema.

Outras descobertas

A primeira pesquisa a usar técnicas de análise cerebral para explicar comportamentos donativos foi publicada no Brasil em 2006, segundo James 3º, e mostrou que a decisão de doar ativava áreas de “recompensa” do cérebro. Mais ainda, indicou similaridades neurológicas entre os atos de dar e de receber dinheiro. “Da perspectiva da felicidade neural instantânea, doar pode ser na verdade uma grande aquisição para o doador”, afirma James, referindo-se ao prazer gerado pelo ato.

Um trabalho do Instituto de Tecnologia da Califórnia sugeriu que, embora o sentimento de realização seja o mesmo, tal sensação tem origens diferentes em cada caso. A doação ativa duas partes do cérebro: uma usada quando se toma a perspectiva de um terceiro pessoa, e a outra relacionada à capacidade de empatia. De certa forma, isso explicaria, segundo o autor, um efeito chamado de “vítima identificável”. “As pessoas tendem consistentemente a doar para beneficiar uma só e identificável vítima do que para milhares de pessoas.”

Há indícios, ainda, de que a doação mobiliza partes do cérebro relacionadas a ligações e reconhecimentos sociais. Até por isso, cientistas japoneses mostraram que os indivíduos sentem-se mais recompensados quando doam publicamente. “A caridade pode ser recompensadora, mas é mais ainda quando outras pessoas percebem o que você está fazendo”, resume James 3º.

Por fim, o professor afirma, após sintetizar uma série de pesquisas, que as novas técnicas de análises cerebrais podem ajudar arrecadadores de recursos. “Em vez de remover a ‘arte’ da captação de recursos, os achados científicos parecem reforçar a importância do lado mais humano das nossas interações”, diz James 3º, que conclui: “No fim, a ciência cerebral parece nos mostrar que a arrecadação é, acima de tudo, uma questão do coração”.

 

 

Bilionário Aproveita o Fórum Econômico Mundial em Davos para Estimular Filantropia

“É importante que pessoas que tenham uma quantidade razoável de dinheiro façam algo útil com ele em vez de apenas comprar iates, casas ou coisas do tipo”, disse o bilionário norte-americano David Rubenstein durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. Rubenstein é CEO do Grupo Carlyle, um dos maiores fundos de private equity do mundo.

“Em algum momento da vida, as pessoas percebem a necessidade de fazer algo, de devolver à sociedade”, declarou Rubenstein em entrevista ao canal de televisão Bloomberg. E o CEO faz o que prega: é um dos signatários do The Giving Pledge, iniciativa criada por Bill Gates e Warren Buffet que busca comprometer as pessoas mais ricas do mundo a doarem ao menos metade de seu patrimônio.

Rubenstein afirmou também que um dos objetivos é internacionalizar a lista de pessoas envolvidas com o The Giving Pledge. Atualmente, há cerca de 120 signatários, mas a grande maioria é dos Estados Unidos. “Estamos trabalhando cada vez mais para conseguir pessoas de fora do país”, afirmou ele, que vai promover, junto com Bill Gates, um almoço para reunir quem já se comprometeu e possíveis aderentes à causa. O Fórum Econômico Mundial, que reuniu algumas das pessoas mais ricas do planeta, é, sem dúvida nenhuma, um ótimo lugar para buscar novos membros.

A entrevista também abordou o papel dos doadores enquanto exemplos para os outros. “Se você for um modelo, outras pessoas podem ver alguém que queiram imitar”, disse Rubenstein, que ainda completou: “Se você fala sobre isso e explica o que está fazendo, pode ter algum impacto nas pessoas com quem trabalha”.

O bilionário, no entanto, não alimenta ilusões sobre o poder do investimento social privado e disse que esse tipo de iniciativa não vai resolver a crescente desigualdade social no planeta. “Precisamos nos lembrar, a filantropia não vai resolver todos os problemas do mundo”, afirmou Rubenstein. Ele citou o caso dos Estados Unidos, onde iniciativas filantrópicas representam apenas 2% do PIB – “uma pequena porcentagem”, segundo ele.
Para o CEO, a redução da desigualdade passa necessariamente pela educação. “O problema não pode ser resolvido da noite para o dia, precisamos nos comprometer por algum tempo, mas a educação provavelmente é a chave”, ressaltou Rubenstein.

A filantropia, por fim, não foi o único tema de cunho social tratado no Fórum, um espaço tradicionalmente voltado para a discussão de temas econômicos. Uma breve olhada entre os tópicos mais comentados pelos participantes no twitter mostra a amplitude dos assuntos em pauta. Entre os oito tópicos mais citados há “trabalho”, “crescimento”, “clima” e “mudança”. Assim, não é surpreendente que um dos homens mais ricos tenha trazido a filantropia à tona.

 

Conversa é a Melhor Maneira de Incentivar Filantropia Entre Jovens, Aponta Pesquisa

Conversar com as crianças e os jovens é a melhor forma de engajá-los em um comportamento filantrópico, concluiu o estudo Women Give 2013, realizado pela Lilly Family School of Philanthropy, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa, o diálogo é até mais eficiente do que os pais praticarem filantropia e servirem de modelo para os filhos.

relatório baseia-se num acompanhamento de 903 pessoas nos Estados Unidos, nascidas entre 1980 e 2000 (a geração chamada deMillenials), com idade média de 15,7 anos – à época em que foram entrevistadas. As conversas aconteceram em dois momentos diferentes: entre 2002 e 2003 e entre 2007 e 2008.

Uma das conclusões do levantamento é que, mantendo iguais os outros fatores, há uma forte correlação entre a conversa dos pais sobre filantropia e o engajamento dos filhos: 0,765 (quanto mais próximo de 1, maior a correlação). Quando a questão não é discutida em casa, o número cai para 0,640. O comportamento filantrópico dos pais não afeta as probabilidades.

Women Give 2013 detectou ainda que a conversa funciona tanto com filhos quanto com filhas e independe do perfil racial, da idade e da renda dos entrevistados. Ou seja, falar sobre o tema funciona sempre como o melhor incentivo.

Ao que parece, os pais já perceberam. As respostas às questões sobre comportamento filantrópico mostram que 87% dos jovens conversaram sobre ação social com seus responsáveis, nos dois períodos pesquisados. Mais uma vez, há homogeneidade entre as diversas classes sociais: 87% dos jovens de famílias de alta renda afirmaram ter falado sobre o tema com os pais, a mesma porcentagem verificada entre os de renda mais baixa e muito parecida com a dos entrevistados de renda média (89%).

Comportamento
O estudo analisou ainda o comportamento dos entrevistados em relação a atitudes filantrópicas, e os resultados foram positivos. Segundo os dados, 9 em cada 10 jovens dos Estados Unidos doaram para projetos sociais. Mais ainda: esse é um comportamento recorrente: 55% dos entrevistados afirmam ter doado tanto entre 2002 e 2003 quanto entre 2007 e 2008.

A prática é comum nos dois gêneros: entre os garotos, 87% disseram ter doado ao menos uma vez no período pesquisado, proporção semelhante ao de garotas (88%). Os números também foram bem homogêneos em relação às diversas faixas de renda. Entre os entrevistados de alta renda, 90% disseram ter feito doações nos períodos pesquisados, apenas um pouco mais que os de renda baixa (87%) e média (86%).

Por todos esses dados, o estudo traz uma conclusão bem otimista: “Os resultados significativos do Women Give 2013 demonstram ótima perspectiva para o futuro da filantropia”.

Embora no Brasil não haja estudos semelhantes, os números do Women Give 2013 oferecem boas indicativas de como as organizações sociais podem – e devem – estruturar suas estratégicas de captação de recursos. Por isso, é um importante instrumento para a filantropia e o investimento social também no nosso país.

Para conhecer mais sobre o estudo, acesse o relatório na íntegra (em inglês) aqui.

 

 

Fundos Patrimoniais e a Perenização da Ação Filantrópica

A diretora de Administração e Finanças da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), Paula Fabiani, escreve sobre a relação entre fundos patrimoniais e a perpetuação das organizações da sociedade civil. Ela destaca a necessidade do aumento desse tipo de fundo no Brasil. Paula é economista, formada pela Universidade de São Paulo, com MBA na New York University, especialização em Endowment Asset Management pela London Business School e pela Universidade de Yale. Ela integra o Comitê de Governança Corporativa do Terceiro Setor do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.

Fundos patrimoniais (FPs) são estruturas criadas para dar sustentabilidade financeira a uma organização sem fins lucrativos. Em sua maioria, os FPs nascem com a obrigação de preservar perpetuamente o valor doado (chamado de principal), utilizando apenas para sua manutenção e atividades os rendimentos resultantes do investimento desse fundo, de acordo com regras pré-estabelecidas, que podem estar descritas no estatuto da instituição.

Os FPs mais conhecidos são os endowments (espécie de fundo patrimonial) de grandes universidades americanas. Veja os exemplos de duas universidades norte-americanas: Harvard, em Cambridge, Massachussetts, e Yale, em New Heaven, Connecticut. Em 2009, seus fundos patrimoniais eram de, respectivamente, US$ 25 bilhões e US$ 16 bilhões – aproximadamente R$ 45,3 bilhões e R$ 29 bilhões1.

As estratégias de investimento desses patrimônios são acompanhadas com grande interesse pelo mercado financeiro internacional. Uma característica da gestão é o foco no longo prazo e a diversificação dos investimentos (aplicação em vários ativos como bolsa de valores, títulos do tesouro, fundos multimercados, entre outros) e tem apresentado resultados expressivos. Nos últimos anos dez anos, Harvard teve retorno anual de 9% e Yale, de 12% – o investimento em títulos do governo americano de curto prazo, por exemplo, rende atualmente 0,25% ao ano.

Na América Latina, em contrapartida, a maioria dos países não possui uma legislação que promova o estabelecimento de FPs. No Brasil, alguns pontos merecem destaque:

  • A legislação referente a doações não prevê benefícios fiscais para o estabelecimento de fundos patrimoniais nas organizações da sociedade civil (OSCs). Na maioria dos países da Europa e nos Estados Unidos, as doações dessa natureza e os rendimentos dos fundos não sofrem tributação.
  • O sistema bancário brasileiro não prevê a figura do Trustee – figura que administra a propriedade, neste caso o FP, em nome do beneficiário. Na Europa e EUA, os bancos podem atuar como zeladores das regras estabelecidas para os fundos patrimoniais, o que dá segurança ao doador que destina os recursos para utilização perpétua.
  • A cultura do investidor social brasileiro é mais voltada ao curto prazo, sendo pouco comum a preocupação em deixar um legado social que transcenda a geração do doador.
  • A própria definição de fundo patrimonial na legislação brasileira prejudica a ampliação do conceito. Esses recursos são tratados apenas como uma reserva técnica2, um valor suficiente para cobertura das atividades por um período curto, como um ano fiscal. Não se pensa a perpetuidade

Aprimoramento 

O aumento do número de FPs é de grande importância para o fortalecimento do terceiro setor no país. No ano de 2009, uma série de instituições do terceiro setor reduziu suas atividades devido à escassez de recursos privados em virtude da crise financeira, emergida em setembro de 2008.

A existência de um FP diminui a variabilidade das receitas de uma organização, promove o planejamento de longo prazo e fortalece a viabilidade da instituição do ponto de vista operacional3. É um veículo que garante a sustentabilidade, especialmente para as instituições cujos propósitos que requerem projetos de prazos extensos para apresentar resultados. A prática ainda pereniza a ação do investidor social privado que busca deixar um legado para a sociedade.

O Brasil precisa de novos mecanismos para resgatar a credibilidade e impulsionar seu terceiro setor. As discussões sobre o Marco Legal do Terceiro Setor devem abranger melhorias no sistema tributário e regras mais claras para o estabelecimento de FPs.

Investidores sociais e governantes que pensem estrategicamente no longo prazo devem assumir o papel de protagonistas na construção de novas estruturas que fortaleçam o papel do capital privado no processo de mudança social e ambiental do país. Cabe à sociedade civil, em especial aos investidores sociais privados e os receptores dos recursos, cobrarem do poder público um maior debate sobre o tema.

Fontes: 

1) Harvard Management Company Endowment Report 2009 e The Yale Endowment Report 2009
2) Paes, José Eduardo Sabo. Fundações, Associações e Entidades de Interesse Social. Forense, 2010
3) Swensen, David S.. Pioneering Portfolio Management – An unconventional Approach to Institutional Investment. Free Press, 2000

A Curva da Mudança em Fundações

John Healy esteve no Brasil durante o primeiro módulo do curso Foundation School, promovido pelo IDIS em parceria com a Charities Aid Foundation (CAF) e a C.S. Mott Foundation. Organizado para discutir estratégias de investimento social familiar no Brasil, o seminário trouxe Healy para discutir os conceitos que fundam a filantropia estratégica. Atual professor do Centre for Nonprofit Management na Trinity College Dublin, Healy foi presidente e CEO da The Atlantic Philanthropies entre 2001 e 2007. No seu artigo escrito exclusivamente para o IDIS, o consultor reflete sobre as bases do investimento social e defende a adoção de medidas objetivas para potencializar resultados.

John HealyA base do modelo atual de fundações financiadoras é recente diante da longa história da filantropia. A prática já era comum entre egípcios, gregos e romanos, que investiam em obras como bibliotecas e academias de estudo. Na Idade Média, a este conceito foi introduzida a criação de fundos patrimoniais, que tinham como objetivo garantir existência de longo prazo à instituição.

Paralelo à revolução industrial, o século 19 também assistiu ao crescimento da cultura de filantropia. O Reino Unido, em especial, produziu uma geração de investidores sociais que começaram a estabelecer os primeiros traços de uma filantropia científica. Joseph Rowntree, fundador da Joseph Rowntree Foundation, defendia a necessidade de pesquisar as causas das mazelas sociais, em vez de apenas remediar as manifestações superficiais.

O posicionamento de Rowntree era baseado nos ensinamentos de duas figuras importantes do investimento social. Nos Estados Unidos, os filantropos Andrew Carnegie e John Rockefeller estabeleceram, há pouco mais de cem anos, os primeiros parâmetros de excelência para fundações.

Carnegie, que acumulava a maior fortuna do mundo quando decidiu se aposentar, em 1901, acreditava que o problema da modernidade era a administração da riqueza. As grandes disparidades sociais faziam com os homens se afastassem e a filantropia revertia esta situação. Além disso, seguia uma doutrina que pregava o retorno de grandes fortunas à sociedade como forma de investimento social. “O homem que morre rico morre sem honra”, afirmava.

Ainda em 1889, Carnegie criticava as ações filantrópicas não-estratégicas. Afirmava que para cada mil dólares gastos em caridade, 950 eram desperdiçados. A filantropia científica deste período estabelecia propósitos amplos em causas essenciais, agia em uma escala sem precedentes, financiava projetos ao invés de desenvolver programas próprios, possuía amplo escopo geográfico e fundava organizações com administração profissional e laica.

Em 10 anos, o filantropo investiu 90% de sua fortuna. Em 1911, ele tinha doado mais de 43 milhões de dólares para a edificação de bibliotecas públicas (duas mil foram construídas) e cerca de 110 milhões para educação e paz mundial. Fundado em 1910, o Carnegie Endowment for International Peace é a mais velha instituição de privada norte-americana que se concentra em assuntos de guerra e paz.

As bases lançadas por Carnegie e Rockfeller foram essenciais para o entendimento de filantropia e investimento social contemporâneo. Porém, para atender melhor às necessidades da nossa sociedade, o modelo precisa de ajustes. O escopo amplo e a missão flexível do passado, por exemplo, devem ser substituídos por foco e objetivos mensuráveis.

Isto porque os estudos e conhecimento empírico comprovam que a especialização em áreas determinadas potencializa a eficiência das instituições. Crescer em um eixo vertical e não horizontal é a melhor estratégia de missão e trabalho para fundações financiadoras.

A perpetuidade da organização também é um assunto que provoca debates no setor. A fundação que decide adotar a política de uma vida limitada pode lidar com os problemas de maneira direta e gastar estrategicamente o máximo de dinheiro disponível.

Além disso, estas organizações devem abandonar muito da arrogância herdada das fundações do início do século. Isso porque as fundações financiadoras possuem uma percepção exagerada de seu potencial para mudança social. Essas instituições privadas podem ajudar a acelerar processos em curso e despertar a atenção pública para assuntos cruciais.

 

 

Investimento Social Estratégico: Integrando o Processo e a Visão

Stephen P. Johnson é vice-presidente da The Philanthropic Initiative, uma organização sem fins lucrativos que, há duas décadas, orienta ações em filantropia estratégica. No artigo escrito exclusivamente para o IDIS, Johnson analisa as bases para doar bem.

Stephen Johnson, TPIInvestimento social estratégico – ou, como é mais conhecida nos Estados Unidos, “filantropia estratégica” – tem diversos significados. No The Philanthropic Initiative, Inc. (TPI) nós acreditamos que o investimento social estratégico tenha os seguintes componentes principais:

  • Doação e voluntariado que combinam “cabeça e coração”
  • Doação e voluntariado que é focado, impulsionador e “mão na massa”
  • Doação e voluntariado que tem o objetivo transformações a longo prazo e sistemáticas

Investidores sociais estratégicos tendem a ser exatamente o que o nome se propõe: que se comportam como investidores de qualquer mercado. Estes investidores são direcionados por uma visão e por valores. Eles conhecem suas metas e objetivos. Eles possuem um processo de validação das organizações em que investem. Eles estão interessados em análise de riscos, mas também estão dispostos a assumir riscos para atingir suas metas. Eles estão interessados em medir o retorno de seus investimentos. E eles estão dispostos a assumir diversos papéis além de financiadores para atingir seus objetivos.

TPI é um organização da sociedade civil que presta serviço de consultoria para indivíduos, famílias, fundações e corporações que queiram fazer investimento social. Fundada em 1989, nossa missão é ampliar o impacto do investimento social na sociedade. Nós temos o compromisso de assessorar nossos clientes a desenvolver e implementar abordagens estratégicas de alto impacto para a filantropia. Como apresentado com mais detalhes no site do TPI, os serviços oferecidos para os doadores incluem planejamento estratégico, facilitação, pesquisa e design programático, e implementação e avaliação de iniciativas estratégicas. Durante os últimos 20 anos, nós trabalhamos com mais de 350 clientes, incluindo um número crescente de doadores que possuem interesses internacionais.

Iniciando o Investimento Social

Os doadores com quem o TPI tem trabalhado ao longo dos anos são sérios com relação ao investimento social estratégico. Nós temos um cliente que freqüentemente nos conta que ganhar dinheiro foi fácil – a conseqüência natural de se fazer algo em que ele é bom. Entretanto, doar “bem” era menos intuitivo e mais difícil. Apoiar a sua universidade, a campanha capital do hospital da região, eram escolhas óbvias para destinar suas doações. E escolhas importantes, mas descobrir maneiras de fazer a diferença na sociedade; de como alinhar seus valores e suas paixões com as suas ações de filantropia; e de como criar estratégias que alavancavam suas doações; de como determinar o impacto de seu investimento; e de como e quando envolver a sua família; estas eram desafios muito mais difíceis para ele.

Por que aqueles que doam tão bem, que buscam mudar o mundo ou suas comunidades, decidem se tornar “investidores inovadores”? Como e com quem eles aprendem a como fazer uma boa doação? Quão importante é um missão filantrópica? Metas e estratégias? Quais são os riscos e oportunidades ao envolver esposa e filhos em sua iniciativa? Qual é a forma de atuação correta para as doações? E onde é possível buscar e encontrar conselho suporte necessário para criar e avançar os programas de doação que satisfazem os interesses e são efetivos?

Muito tem sido escrito sobre essas questões, mas assim como muitos assuntos na Era da Informação, o desafio para adquirir conhecimento e habilidades para se tornar um doador de alto-impacto não é a ausência de informação, mas sim o excesso. O que muitos doadores que estão embarcando na odisséia de doações efetivas realmente precisam são dados – ou ao menos um bom norte – para guiá-los no oceano de uma filantropia e investimento inovadores. Esse artigo tem a intenção de proporcionar aos investidores ferramentas básicas de navegação para aventurar no oceano do investimento social estratégico.

Por que doar?

A pergunta “Por que doar?” parece óbvia até que ela venha a ser aparentemente não óbvia. A resposta é única para cada e todo doador. Algumas vezes o cálculo é muito simples – “Minha esposa faleceu de câncer de mama e eu quero ajudar a encontrar a cura e imortalizar a sua vida extraordinária”. Mas com maior freqüência isto tem se tornado complexo, uma rica mistura de motivações, sonhos e objetivos.

Nos vinte anos de trabalho do TPI com indivíduos e famílias de alto poder aquisitivo,  nós já nos deparamos com temos quase todos os motivos para doar, como a quantidade de nossos doadores. Algumas das motivações mais freqüentes incluem:

  • Legado – Entre alguns doadores, o desejo de criar um legado espiritual como uma forma de equilíbrio ou um complemento para o legado material é forte
  • Comunidade – Muitos doadores se sentem abençoados por sua inteligência, educação, cuidado da família, suporte da comunidade, trabalho árduo, sucesso e sorte. Alguns devem se sentir privilegiados por serem capazes de apoiar suas comunidades com uma parte de sua riqueza. Outros devem se sentir moralmente obrigados a “dar um retorno”. Alguns devem sentir ambas as coisas.
  • Cura – Em hebraico há uma bela frase “tikkun olan,” que significa “para curar o mundo em pedaços”. Há muito a ser curado – fome, moradores sem lar, doenças, negligência infantil, degradação do meio ambiente, e infelizmente, a lista não tem fim.
  • Desafios – Entre os empreendedores, o desafio de resolver um vergonhoso e, aparentemente, problema social sem solução, pode ser a motivação para a filantropia criativa.
  • Família – Agora que o negócio da família foi vendido, quais são as oportunidades para se trabalhar com a família? Para muitos, a filantropia pode funcionar como essa plataforma.
  • Honra – Aqueles que patrocinaram uma sinfonia e bibliotecas e laboratórios de pesquisa em memória da família e amigos, assim o fazem para honrar aqueles que amam.
    Reconhecimento – Para alguns, o desejo se ter o reconhecimento da sociedade, ou estar com as “pessoas certas” é uma importante motivação para doar.
  • Tradição – Em algumas famílias, é uma tradição de muitos anos.
  • Satisfação – Talvez a principal motivação para doar seja somente “sentir-se bem”. Doar faz as pessoas se sentirem bem. Satisfaz superar um desafio, causar impacto, mudar o mundo (e, às vezes, a si mesmo) para o melhor.
    Compreender as motivações para doar é importante. A ausência do entendimento do eu motiva as doações, de que forma atuar, em que foco, e decidir a estratégia; nada mais que uma caminhada aleatória onde todos os caminhos são possíveis.

Algumas questões preliminares

Trabalhando com clientes individuais e familiares que pretende melhorar suas doações ou considerando um novo nível de filantropia, TPI geralmente entrevista o doador e faz as seguintes perguntas:

  • Por que doar?
  • Por que você está interessado em filantropia?
  • Quais são seus valores? Seus objetivos filantrópicos? Suas paixões sobre a sociedade e o mundo em que você vive?
  • O que você espera alcançar com a sua doação?
  • É importante que sua família esteja envolvida com a sua filantropia? Por quê? Como você gostaria que eles se envolvessem?

Considerações Financeiras

  • Quanto você pode doar?
  • Quanto você quer doar agora? Quanto mais tarde? Quanto ao morrer?
  • A decisão de como doar é sensível ao tempo?
  • Você precisa de renda no momento, mas gostaria de beneficiar uma organização filantrópica na sua morte?

Quanto tempo você pode investir em suas ações filantrópicas?

  • Você imagina que sua filantropia será principalmente e exclusivamente a doação de dinheiro, ou você imagina investir quantidade significativa de tempo também?
  • Você se encontra em um momento da vida quando pode investir uma considerável quantidade de tempo em suas ações?
  • Se você fosse criar uma fundação privada você teria a disponibilidade para realizar visitas de campo, participar e gerenciar encontros regulares com o conselho?
  • Você acredita no modelo da “filantropia engajda” trazendo seus conhecimentos profissionais assim como seus ativos financeiros para a governança e operação de uma organização.

Quanto “mão na massa” você pretende ser?

  • Você pretende doar para organizações não-governamentais e ser capaz de dirigir os programas contemplados pela sua doação?
  • Você gostaria de conhecer as pessoas que trabalham com a organização para as quais você pretende destinar suas doações? Encontrá-los em suas bases de trabalho?
  • Você é intolerante com relação às funções administrativas e burocracias? Você prefere delegar essas funções para os outros?

Doando Bem – Qualidades de um Investimento Social Efetivo

No decorrer do trabalho com mais de centenas de clientes ao longo dos anos, TPI descobrir que os doadores que provocam maior impacto e que a partir de suas práticas filantrópicas obtém suas maiores realizações e que são caracterizados por alguns – e raramente, por todos – pelas qualidades a seguir. (Aqui, agradeço a meus colegas Leslie Pine, Melinda Marble e Joe Breiteneicher, que prepararam uma versão preliminar da lista abaixo).

Valores-Direcionadores

O investimento social é geralmente dirigida por fortes valores familiares e pessoais, crenças sobre o que é importante para a vida. Estes valores, e paixões pessoais e familiares que geralmente os acompanham, necessitam de uma orientação para doar. Ao trabalhar com famílias e tentar ajudá-las a identificar seus valores nós geralmente fazemos perguntas como:

  • Quais são os seus valores pessoais/ familiares? O que você e/ou a sua família defende?
  • Quais são os valores que guiam as escolhas que você faz na vida?
  • Como os seus valores estão coerentes com o tipo de doador que você gostaria de ser?
  • Quais são as histórias que você conta em sua família sobre a sua família e seus ancestrais? Que valores eles representam?
  • Quais foram os exemplos de valores que basearam suas decisões sobre as doações passadas?

Pró-atividade

Doadores eficazes são freqüentemente doadores pró-ativos. Suas doações são destinadas de acordo com suas visões e paixões, e não a partir de pedidos dos outros. Esses filantropos decidem o que eles têm interesse em investir, quais as questões e causas a serem combatidas, e depois desenhar estruturas para direcionar esses objetivos.

Focado

TPI uma vez foi descrito pelos membros do seus próprio conselho como os “propagandistas para o foco”. Se é ou não uma “propaganda”, trata-se de um credo. O foco para o investimento social cria a capacidade de concentrar recursos. Ajuda a definir e clarear objetivos filantrópicos. Ter foco possibilita ao doador adquirir conhecimento e inteligência sobre uma questão particular e a avaliar e para avaliar oportunidades de financiamento tendo como pano de fundo este conhecimento. Além disso, foco também ajuda o doador a dizer “não” para os pedidos que não do seu interesse.

O foco vem de diversas maneiras. Pode ser:

  • Programático. Exemplo: erradicando doenças; ajudar os moradores de rua; preservação das florestas
  • Geográfica. Exemplo: a comunidade que foi base para os negócios da família durante gerações
  • Minorias. Exemplo: mulheres, mães solteiras
  • Valores específicos. Exemplo: organizações comprometidas com a preservação das famílias
  • Estratégica. Exemplo: construindo infra-estrutura e capacidade das não-governamentais

Orientado por Meta/ Resultado

Muitos doadores eficazes têm clareza sobre suas metas e resultados esperados, e pedem aos seus parceiros o mesmo. Quando possível, o filantropo desenvolve indicadores concretos e mensuráveis de sucesso para a sua filantropia. Por exemplo, um financiador interessado em promover oportunidades econômicas para a população local deve medir o impacto do financiamento a partir de informações como criação de novas oportunidades de trabalho, crescimento salarial, ou, menos tangível, mas ainda mensurável, desenvolvimento de novos conhecimentos entre os residentes da comunidade.

Baseado em Pesquisa e  Contexto Social

A filantropia mais eficaz envolve uma combinação da “cabeça com o coração”. Enquanto as questões sobre as áreas e objetivos podem ser direcionadas de acordo com a visão e valores, a filantropia estratégica envolve uma pesquisa rigorosa e a análise, por exemplo, das lacunas dos serviços, necessidades, oportunidades, melhores práticas, abordagens eficazes. Equipado com essas ferramentas, os doadores podem determinar a maneira mais eficaz de direcionar os seus recursos para fazer a diferença.

Estratégias e Papéis claramente definidos

Uma vez que a visão está clara e que o foco e os objetivos estão definidos, o próximo passo é selecionar as estratégias que contribuirão para alcançar os objetivos do doador. Ainda, que papéis que o doador gostaria de ter em suas ações filantrópicas? Alguns papéis incluem:

  • Melhoria da Capacidade e infra-estrutura (de organizações, vizinhança, ou até mesmo de campos de interesse)
  • Inovador/ incubador (de novas idéias, programas ou organizações)
  • Disseminador/ replicador (de modelos efetivos e melhores práticas)
  • Agente transformador (da estrutura cultural, social e legal, ou de expectativas, direcionando causas subjacentes e sistemas)
  • Desenvolvimento Comunitário (desenvolver capital humano, social ou físico na área)
  • Crítico ou advogado (de políticas públicas ou sociais)
  • “Venture philanthropist” (apoiar empresários sociais que estão começando ou construindo organizações, ou tentando novas abordagens)
  • Desenvolvimento de líderes (de organizações, escolas ou comunidades)

Os papéis que os financiadores escolhem influenciam a forma que eles vão ativar e que ferramentas vão utilizar: financiamento a projetos, capacitação técnica, articulação de doadores que pensam da mesma maneira, empréstimo para organizações sociais, e/ou mobilização da mídia.

Processo de Validação

Assim como um investidor financeiro, o investidor social prudente condiciona o financiamento de projetos significativos a um processo de validação apropriado, por exemplo, acessar as habilidades da organização para qual a doação será destinada assim como o projeto específico a ser financiado. O processo de validação deve incluir, por exemplo, revisão cuidadosa da proposta, visita de campo, e conferir referências.

Conclusão

Tomar boas decisões sobre as doações é como tomar boas decisões sobre qualquer outro investimento – parte arte, parte ciência. Não existe um processo mágico que garantirá o sucesso de todas as doações ou financiamentos. Mas para aqueles doadores que obtém sucesso no casamento de sua visão e valores com um pensamento provocativo, pesquisa, e processo de validação; o impacto de suas doações pode ser virtualmente ilimitado.

Tornar-se um sábio doador pode levar tempos. Demanda um trabalho árduo, persistência, paciência, disponibilidade para experimentar e, algumas vezes, para falhar. Mas também deve e pode ser divertido – “divertido” não no sentido leviano, mas “divertido” como proveitoso e capaz de trazer alegria. A filantropia, enquanto trabalho sério, não deveria ser tão séria a ponto de se tornar um peso. Se o trabalho parecer opressivo em alguns momentos, não hesite em buscar pares ou parceiros, e ajuda externa.

Talvez o mais importante de tudo, lembre-se: os investidores sociais têm a permissão para sonhar grande sobre o que é importante para o futuro que buscamos para nossos filhos e os filhos de nossos filhos. Estes sonhos, seguidos de maneira ponderada e criativa, são oportunidades reais de filantropia, e eventualmente sua essência. Dinheiro bem investido pode transformar o mundo, e algumas vezes, apenas uma vida por vez.

A Crise Ambiental da Filantropia

Publicado na revista Alliance Brasil, o artigo de Bernard Mercer aponta a carência de investimentos sociais em questões ambientais. Segundo Mercer, a preocupação dos investidores sociais contemporâneos não se reflete em apoio financeiro às organizações com escopo ambiental. O artigo foi baseado na pesquisa “Green Philanthropy: funding charitable solutions to environmental problems”, do mesmo autor.

A mudança climática e a perda de recursos naturais e da biodiversidade são dois dos maiores desafios do século XXI, embora sejam ignorados pela maioria das fundações estabelecidas, pelos novos “filantrocapitalistas” e pelos financiadores governamentais. Parece que a crise ambiental da filantropia é tanto cultural quanto financeira, uma vez que tem sua origem de uma falta de conexão entre mudança climática e outras questões ambientais e os problemas que são considerados questões “humanas”.

“Por favor, entendam, nós não somos protetores de árvores”, disse recentemente um importante banqueiro de investimentos, quando apresentou em um jantar o novo relatório da empresa sobre as ameaças da mudança climática aos negócios. Na mesma semana, um importante gestor de fundo de hedge, comentando a sua filantropia, disse “Nós podemos escolher. Podemos ajudar as pessoas ou podemos ajudar os animais.”

Praticamente ao mesmo tempo, o Departamento de Desenvolvimento Internacional do governo do Reino Unido (DFID) foi fustigado pelo Comitê Parlamentar de Auditoria Ambiental devido a uma “total falta de integração das prioridades ambientais na política de ajuda e desenvolvimento do Reino Unido”.

O que acontece com o meio ambiente que causa tanta confusão e mal-entendidos? Por que a crescente preocupação com a extensão e a gravidade dos desafios ambientais globais não se reflete no apoio financeiro para as organizações ambientais? Essas são algumas das questões levantadas em Green Philanthropy: Funding charitable solutions to environmental problems, um novo relatório da New Philanthropy Capital (NPC), baseado em 18 meses de pesquisas e mais de 130 entrevistas com os principais financiadores, organizações filantrópicas e especialistas em meio ambiente.

Financiamento inadequado das organizações ambientais

Descobrimos que menos de 2 por cento dos financiamento anuais das 100 maiores organizações filantrópicas do Reino Unido, £18,1 milhões em um orçamento de £1,1 bilhão, é alocado a causas ambientais. As prioridades do público no Reino Unido são similares: apenas 5 por cento dos doadores privados contribuem para o meio ambiente. Esses números estão alinhados com outro recente relatório, produzido pelo Environmental Funders Network do Reino Unido, Where the Green Grants Went 3: Patterns of UK funding for environmental and conservation work.1

Um artigo recente da Stanford Social Innovation Review2 mostra tendências similares na filantropia americana: no geral, apenas 5% dos gastos das fundações americanas vai para o meio ambiente. O autor do artigo, Charles Conn, observa também que a nova onda do “filantrocapitalismo” tem ficado longe das questões ambientais. Os dados relativos ao resto do mundo não estão disponíveis, mas parece provável que as tendências sejam similares às do Reino Unido e dos Estados Unidos.

No setor público, os orçamentos ambientais do Reino Unido e de outros membros da Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) são substanciais no contexto doméstico, mas os recursos para o trabalho internacional são mínimos, especialmente nos países tropicais e subtropicais, mais vulneráveis à mudança climática e onde estão os patrimônios naturais mais ameaçados e mais valiosos. Apenas 2% do orçamento de ajuda de £2,1 bilhões do governo do Reino Unido vão para a proteção ambiental.

Por que o financiamento para a mudança climática e outros problemas ambientais é tão inadequado?

Existem vários motivos para isso. Até recentemente, devido às dificuldades na obtenção de dados convincentes sobre a gravidade dos problemas ambientais, havia uma incerteza sobre a necessidade de ação. A pobreza é visível agora, mas a degradação ambiental é geralmente vista como remota, cujas conseqüências só serão sentidas no futuro.

Isso está mudando. Relatórios marcantes do Painel Internacional sobre a Mudança Climática (2001 e 2007) e a Millennium Ecosystem Assessment (2005) indicam que a comunidade científica conseguiu um nível sem precedentes de consenso sobre os problemas ambientais e está fornecendo ao público evidências abrangentes sobre o estado atual do planeta.

A falta de informações sobre o “mercado” filantrópico, especialmente quanto ao desempenho e os resultados das organizações, inibe os doadores em qualquer setor. A NPC descobriu que isso é ampliado no setor ambiental. Muitos doadores, incluindo os filantropos mais novos, querem doar para organizações ambientais, mas são impedidos pela incerteza quanto à forma mais eficaz de fazê-lo.

O que os doadores e financiadores podem fazer para ajudar?

São necessários mais financiadores. Um maior número de fontes de financiamento diluiria os riscos e aumentaria o valor dos financiamentos. As organizações que trabalham com a mudança climática e com outros problemas ambientais estão excessivamente dependentes de alguns poucos financiadores. Essas organizações não podem ter a segurança de que as inovações e as ambições terão um apoio crescente se não houver ninguém para fornecê-lo.

Mostrar paciência e compromisso – A solução de problemas ambientais leva tempo, mas as fontes de financiamento são escassas. Pode ser necessário que os novos financiadores forneçam fundos por prazos longos, até mesmo por dez anos, para maximizar o impacto de sua contribuição. O apoio à infra-estrutura das organizações e à atividade-fim trará uma melhoria no desempenho do setor.

Fomentar a colaboração – É preciso fortalecer o compartilhamento de conhecimentos e o diálogo entre os financiadores e entre os financiadores e as organizações. O incentivo e o financiamento para redes e fóruns bem organizados deve ajudar no compartilhamento do conhecimento e na maior colaboração nos objetivos e agendas comuns.

Ser ambicioso – Existe espaço para que os financiadores apóiem novas iniciativas tratem de algumas das lacunas no cenário das organizações. Neste setor, o risco de duplicação de esforços é pequeno.

Prioridades de financiamento

Financiamento inicial – Nossa pesquisa descobriu uma necessidade urgente de financiamento inicial. Como a mudança climática é um problema novo, as soluções estão apenas começando a emergir. Isso coloca um alto prêmio na inovação, na energia empreendedora e nas idéias. No entanto, existe atualmente uma lacuna entre o reconhecimento do desafio e a aplicação de recursos para a ação. Para muitas organizações e projetos novos, o acesso a fundos no intervalo de £10.000–£100.000 fará uma diferença muito significativa.

Escala e replicação – Outro requisito é que o financiamento amplie e replique iniciativas bem-sucedidas. Levará décadas para enfrentar a mudança climática, e dar apoio às organizações nos estágios iniciais é apenas o primeiro passo. Uma vez que os modelos e enfoques tenham sido comprovados, as organizações bem-sucedidas precisarão de apoio para ampliação e replicação. Isso exige que os financiadores – fundos e fundações filantrópicas que podem se comprometer com programas de financiamento de três a cinco anos – assumam compromissos de longo prazo para enfrentar o problema.

Fornecimento de melhores informações

A ausência de dados, evidências e análises inibe o progresso. Mesmo quando existem dados primários, a falta de energia, confiança e vontade impede que eles sejam usados para o desenvolvimento de uma boa orientação política. Os financiadores poderiam mudar essa situação em poucos anos dando apoio a organizações que coletam e analisam os resultados para levar a mudanças.

Evitar erros

Talvez não seja intuitivo, mas evitar os erros será tão valioso quanto produzir soluções efetivas. Existe um perigo real de que o tratamento da mudança climática se torne uma corrida do outro, com o progresso real na redução das emissões se tornando mais e mais intangível. A devastação da floresta da Indonésia para a produção de óleo para biocombustíveis é um exemplo atual. A melhor maneira de lidar com essa questão é obter e disseminar evidências sobre o que funciona e o que não funciona.

Muitas organizações podem colocar os objetivos ambientais no topo de suas agendas e elas estão em posição de garantir que não cometamos erros desastrosos. No entanto, para desenvolver informações e análise adequadas e com credibilidade, elas precisam de financiamento adequado.

O desafio cultural

É necessário realismo na busca de soluções para a mudança climática. Não sabemos que enfoques levarão aos melhores resultados, o sucesso será provavelmente resultado de liderança, criatividade e determinação, em vez de resultado de qualquer modelo.

Como em qualquer mercado emergente, é difícil indicar com antecedência quem serão os vencedores. Isso é um argumento a favor de estratégias de financiamento que tão abertas e ágeis quanto for possível, descartando noções preconcebidas sobre o valor do trabalho comunitário versus o lobby político, ou sobre as vantagens de eventos públicos sobre o agenciamento e negociação a portas fechadas.

No entanto, o maior desafio para a filantropia orientada à mudança climática seja a necessidade de entender que os problemas ambientais e os problemas do bem-estar humano são interconectados. No Chifre da África, a pobreza é exacerbada pela deterioração do ambiente natural, trazida pelo desflorestamento e pela mudança climática.

Quando as várzeas da Indonésia são queimadas, elas destroem a biodiversidade e os “serviços do ecossistema”, como fontes de água, empobrecendo a vida dos habitantes locais e liberando grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera. A proteção ao meio ambiente tem sido inibida no passado pela visão de que o mundo natural é separado e distante dos outros problemas sociais. Não desejamos repetir esses erros no futuro. As estratégias de redução das mudanças climáticas precisam incluir ações para preservar os recursos naturais e a biodiversidade, além da redução nas emissões resultantes da geração de energia e de outras atividades industriais e urbanas.

 

1 – 176 fundos de caridade engajados no financiamento de ações ambientais forneceram £33,6 milhões em financiamentos, apenas 1,6 por cento dos £2,04 bilhões doados por 498 dos maiores fundos de financiamento do Reino Unido.

– C Conn, “Robbing the Grandchildren: Foundations, shortsightedness is jeopardizing the planets future”, in Stanford Social Innovation Review, Verão de 2007.

 

Bernard Mercer foi CEO Fundador da New Philanthropy Capital. Ele é o autor de Green Philanthropy. E-mail:bmercer@mercerenvironment.net.

 

Fonte: http://www.gife.org.br/alliancebrasil/

 

Saiba Mais

Leia o artigo Green Philanthropy: Funding charitable solutions to environmental problems completo, em inglês.

Filantropia 4.0: Rumo ao Investimento Social Privado num Mundo Globalizado

Publicado originalmente em outubro de 2007 no site do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), o artigo de Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, apresenta as sete faces do doador: o devoto, o comunitário, o retribuidor, o herdeiro, o socialite, o altruísta e o investidor.

O desafio que nós, investidores sociais temos, é transformar qualquer motivação de um indivíduo ou empresa em compromisso social permanente. Para isso, no entanto, é importante que conheçamos as sete faces do doador tal como foi proposto por Prince e File: o devoto, o comunitário, o retribuidor, o herdeiro, o socialite, o altruísta e o investidor.

O doador devoto é aquele que acredita que fazer o bem é vontade de Deus. Ele é motivado a apoiar entidades por motivos religiosos e canaliza suas doações – que têm caráter caritativo – a organizações religiosas. Por sua vez, o doador comunitário é aquele que acredita que ser solidário com os problemas da comunidade faz sentido. Normalmente, são donos de estabelecimentos comerciais locais e acreditam que fazer parte de conselhos e de comitês de entidades locais pode ser bom tanto para a comunidade quanto para seu negócio, devido às relações de confiança cultivadas. Geralmente, sua doação não segue nenhum plano estratégico.

Já o doador retribuidor, acredita que a doação é uma devolução, uma retribuição ao que já recebeu. Se já se beneficiou pessoalmente de uma faculdade ou de um centro médico, apóia, por exemplo, a mesma instituição em função de lealdade ou por um sentimento de obrigação.

Há também o doador herdeiro, para o qual fazer o bem é uma tradição familiar. Sua motivação filantrópica originou-se na sua criação. A família sempre teve o investimento social como valor. A tendência é que novas gerações busquem formas diferentes de investimento social daquelas que seus pais fizeram. Outro doador característico é o socialite, para o qual os eventos beneficentes são divertidos. Ele é membro de círculos sociais exclusivos e seleciona organizações dirigidas por parentes ou por amigos para apoiar e para colaborar em atividades de mobilização de recursos. Sua preocupação está mais voltada a criar eventos sociais do que a participar do dia-a-dia das organizações.

Também existe o doador altruísta, para o qual a doação o faz se sentir bem. Ele doa em função da bondade e da empatia por causas urgentes. Prefere, na maioria dos casos, ficar anônimo. Ele doa por uma questão moral, que o ajuda a crescer e a evoluir espiritualmente. Mais do que qualquer outro grupo, o altruísta direciona sua doação a causas sociais.

O último perfil é o do doador-investidor, que é o indivíduo de alto poder aquisitivo, que doa com um olho na causa social e o outro no impacto que pode causar. É inovador e transformador. Tem preocupação com o planejamento estratégico, com a gestão da doação e com a avaliação de seus resultados e de seus impactos. O investidor busca o profissionalismo em suas ações e procura fechar parcerias. O perfil desse investidor é o que chama a atenção: são pessoas jovens, públicas e possuem um currículo que inclui voluntariado e filantropia. São pessoas como Sergei Brin, Larry Page, Bill Gates.

Segundo a revista Forbes, há 946 bilionários no mundo, com 3,5 trilhões de dólares em ativos consolidados. O que surpreende, no entanto, é que da lista da Forbes das cem pessoas mais ricas no mundo, 33 bilionários são de países fora do eixo EUA-Europa Ocidental e 17 deles têm menos que 50 anos. Hoje há 14 bilionários na Rússia, oito na Índia, sete no Oriente Médio, três em Hong-Kong e um na América Latina.

E o que eles querem? Eles querem ver a transformação social acontecer enquanto estão vivos. São pessoas que conseguiram enriquecer durante sua vida profissional. Não são herdeiros de fortunas. Para eles, o tempo é agora. Suas decisões são baseadas em valores humanos. Percebem que o investimento social é um bom negócio tanto para aliar credibilidade a sua marca quanto para promover mudanças sociais.

É nesse contexto que surge o conceito de filantropia 4.0, criado pela russa Olga Alexeeva, diretora da CAF Global Trustees. Ela propõe um entendimento da evolução da filantropia similar ao entendimento da evolução de programas de software que progressivamente são apresentados em novas versões. A filantropia 4.0 é a evolução de uma filantropia tradicional. Assim, a filantropia 1.0 representa a filantropia dos primeiros doadores que buscavam contemplar a sociedade com uma infra-estrutura que atendesse as necessidades de escolas, universidades, museus, bibliotecas. A filantropia 2.0 representa a filantropia introduzida pelos grandes doadores do início do Século XX, onde fundos patrimoniais foram alocados para cobrir as necessidades sociais presentes e futuras que estivessem no foco de atuação de uma fundação. Ela teria permanência no tempo e fundos para garantir a sua sustentabilidade futura.

A filantropia 3.0 é uma filantropia feita pelas mesmas organizações doadoras descritas no item anterior, e que decidem assumir uma face mais global, internacionalizando suas operações para países ou regiões do mundo, porém com o viés de ser uma atuação do Norte para o Sul. A filantropia 4.0, que está no título deste artigo, é uma filantropia que se caracteriza não mais pelo fluxo de fundos de países desenvolvidos para o Sul Global, mas pelo desenvolvimento da filantropia autóctone dos países em desenvolvimento, gerando modelos e transformações sociais que podem ser úteis numa escala global.

Nós, do Sul Global, temos os recursos; não somos mais apenas receptores. As economias dos países em desenvolvimento estão crescendo. Mas, ao mesmo tempo, as diferenças sociais também. No Brasil, por exemplo, dados do imposto de renda mostram que o número de milionários aumentou dez vezes mais rápido do que o crescimento da população. O rendimento dos 20% mais ricos é 33 vezes maior que o rendimento dos 20% mais pobres. Por isso, não podemos mais esperar.

Precisamos criar uma filantropia que resulte do envolvimento dessa parcela mais rica da população em melhor usar seus próprios recursos para investir no social. E, nesse cenário, a parceria com os beneficiários é fundamental, já que devem participar das decisões que afetam sua qualidade de vida.

Hoje, parte da riqueza gerada pelos países em desenvolvimento deve ser investida nesses próprios países. É isso que é a filantropia 4.0: é o investimento social global, na qual recursos do Sul Global são investidos na própria região e que a maior troca entre o Sul e o Norte é a de conhecimento. É a globalização da economia gerando a globalização do conhecimento e, em conseqüência, a globalização da filantropia.

1. Prince, R.A and Maru, K.M. The seven faces of philanthopy: A new approach in cultivating major donors. Jossey-Bass, 2001.

 

*Marcos Kisil é diretor-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social Privado (IDIS)

Generosidade: Valor Intrínseco ao Investimento Social

Escrito por Marcos Kisil, diretor-presidente do IDIS, o artigo foi apresentado pelo autor, em novembro de 2006, durante o Encontro Ibero-americano do Terceiro Setor, realizado no México.

Ouvimos neste encontro por diversas vezes as palavras filantropia, investimento social privado, justiça social. Mas como se coloca a generosidade no interior dessas palavras, conceitos e interpretações? Acredito que a generosidade é a virtude, que está por trás de uma decisão que nos impele a atuar como voluntários de ações sociais, a decidir investir um percentual do faturamento de nossa empresa em projetos socialmente responsáveis, ou ainda a colocar os próprios talentos em benefício do outro.

Tal como é definida nos dicionários, generosidade é a ”virtude daquele que se dispõe a sacrificar os seus próprios interesses em benefício de outrem”. A ela podem juntar-se outras palavras com significado próximo: magnanimidade (Aristóteles), caridade (teologia cristã), benevolência (Spaemann).

Segundo Yves de La Taille, a generosidade contempla pelo menos três atributos: o altruísmo (no ato generoso, o outro é o beneficiário da ação); o sacrifício (a pessoa possuidora de algo deixa de ser seu possuidor); e doação ao outro de algo que não lhe cabe por direito, mas que corresponde a uma necessidade concreta que deva ser atendida.

Além disso, o autor pondera que, nos debates filosóficos, as reflexões sobre a generosidade quase sempre visam a situá-las em relação ao conceito de justiça. Para Aristóteles, a justiça ocupa o topo da hierarquia das virtudes morais. Adam Smith, em “A Teoria dos Sentimentos Morais” (1759), observa que a falta da generosidade não é sancionada por nenhum castigo; já o ato injusto recebe tal sanção. Isso aconteceria porque enquanto a ausência de generosidade não acarreta por ela mesma nenhum mal, o ato injusto traz um mal à pessoa injustiçada.

Yves de La Taille detalha três diferenças básicas entre a generosidade e a justiça. Em primeiro lugar, a generosidade é intrinsecamente altruísta, isto é, direcionada ao outro, enquanto a justiça pode ser objeto de reivindicação pessoal. Assim, se uma pessoa tem o direito de exigir que ela mesma ou o outro sejam tratados de forma justa, não pode exigir ser tratada de forma generosa; pode apenas desejar que isso aconteça. Além disso, como a justiça visa sempre o bem-comum, inclui também o bem da própria pessoa que reivindica a justiça. Logo, tanto o auto-interesse quanto o interesse pelo outro estão presentes na justiça. Já na generosidade, somente o interesse pelo outro está em jogo.

Em segundo lugar, a generosidade pressupõe um sacrifício, ou um “dom de si”. Enquanto o ser justo não implica obrigatoriamente em privação, o ser generoso sempre se desfaz de algo que é possuidor. Para concluir, o autor agrega que a dimensão do direito corresponde ao terceiro diferencial entre esses dois conceitos. Se a justiça refere-se ao “sujeito de direito” – e, portanto, “todos os seres humanos” -, a generosidade contempla o “sujeito singular”.

Outro autor que discute a generosidade é André Comte-Sponville. Em “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, no capítulo sobre a generosidade, ele aponta essa virtude como a consciência da própria liberdade e a firme resolução de bem usá-la. “Ser generoso é saber-se livre para agir bem e querer-se assim. O homem generoso não é prisioneiro de seus afetos, nem de si; ao contrário, é senhor de si e, por isso, não tem desculpas nem as procura. À vontade lhe basta. A virtude lhe basta. (…) Ser generoso é ser livre de si, das próprias pequenas covardias, pequenas posses, pequenas cóleras, pequenos ciúmes…”, afirma.

E completa que a generosidade, como a maioria das virtudes, obedece ao primeiro mandamento evangélico: “Amar ao próximo como a si mesmo”, expresso em formas similares em religiões não-cristãs. “Por exemplo, se você amasse um estranho com quem se defronta e que sofre ou que tem fome, você ficaria sem fazer nada para ajudá-lo? Se você amasse esse miserável, você lhe recusaria o socorro que ele lhe pede? Se você o amasse como a você mesmo, o que faria? A resposta, que é de uma simplicidade cruel e louca, é a resposta moral e o que exige – ou exigiria – a virtude”, defende.

E assim chegamos a uma palavra importante para os cristãos: misericórdia. Mas não estamos falando de ações de misericórdia que conhecemos, e que muitas vezes assumem o papel de assistencialismo puro.

Vivi minha vida acadêmica durante os anos pesados de ditadura militar no Brasil e, como uma liderança estudantil, pude assistir ao mais completo desrespeito aos direitos humanos. Porém, também experimentei a presença de uma Igreja Católica solidária, e com misericórdia para com a situação vigente. No caso da Igreja Católica, ela desempenhou um importante papel de resistência ao regime militar, especialmente através de uma corrente mais progressista existente dentro da Igreja. Esta corrente inspirada pela Teologia da Libertação, e em atendimento a uma política de Direitos Humanos, apoiou o surgimento e desenvolvimento de um Movimento Eclesial de Base da Igreja Católica.

Assim, grupos comunitários, influenciados e criados pela Igreja passaram a apoiar o movimento sindical e outros movimentos sociais de diversas origens. Progressivamente, passaram da resistência ao regime militar a grupos reivindicatórios de atendimento às necessidades sociais, mas também da redemocratização do país. Influenciaram a própria Igreja a organizar-se através de diferentes pastorais com finalidades bastante concretas, tais como Pastoral da Terra (reforma agrária), o Conselho Indigenista Missionário (direitos da população indígena), a Pastoral da Criança (direitos da criança) ou as Comissões Diocesanas de Direitos Humanos.

A Igreja assumiu uma posição de vanguarda no processo de mudança do regime, seja denunciando abusos, defendendo os direitos dos excluídos ou organizando grupos sociais. Nesse mister destacaram-se líderes da Igreja, como o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, e bispos, como Ivo Lorscheider, Luciano Mendes de Almeida, Helder Câmara e Pedro Casaldáliga. Esses líderes religiosos progressistas deram o tom da Igreja, sobrepujando os conservadores.

Como bem descreve Jon Sobrino, esse momento da Igreja permite entender melhor o “princípio misericórdia” . Assim, ele demanda de cada ser humano uma ação, ou mais exatamente, uma “re-ação” diante do sofrimento alheio, ação essa motivada única e exclusivamente por esse sofrimento. É uma expressão do amor que está na origem de um processo, mas que, além disso, permanece presente e ativo ao longo dele, dá-lhe uma determinada direção e configura os diversos elementos dentro do processo.

Esse “princípio misericórdia” deveria orientar todo e qualquer ser humano, buscando alterar estruturas, e criando condições para o desenvolvimento pleno de cada ser. Isso implica numa mudança profunda de comportamento da Igreja, que passa a busca e a apoiar ações que transformam a sociedade.

A Igreja foi generosa no Brasil, ao apoiar movimentos pela doação de recursos coletados na Europa e dos Estados Unidos. Assim, gostaria de chamar atenção para o fato de, num encontro como este, não termos a participação da Igreja. Sabemos que ela recebe 2/3 das doações nos Estados Unidos, e aproximadamente 60% no Brasil. Sabemos que ela trabalha com as virtudes. Inclusive com as teologais: fé, esperança e caridade. E tem muito a dizer sobre caridade.

Gostaria de terminar, lembrando que, em minha experiência com a filantropia na América Latina, encontrei três tipos de motivação para os doadores:

Doadores por convicção: neles a generosidade, tal como descrevemos acima, o altruísmo e a misericórdia estão sempre presentes em qualquer ato de uso de seu tempo, talentos e recursos financeiros.

Doadores por conveniência: aqueles que doam porque é simpático fazê-lo. Ser tomado como um benfeitor da humanidade traz prestígio e oculta as mazelas realizadas em seu progresso econômico social, por isso eles doam.

Doadores por coerção: doam por exigência do mercado, dos colaboradores da empresa, das comunidades em que estão situadas e onde não atuam minimamente como cidadão, deixando de se responsabilizar pelos danos ambientais e sociais decorrentes de sua atuação.

Infelizmente, a maioria dos doadores atua ou por conveniência ou por coerção. Ainda são poucos o que atuam por convicção. Necessitamos atuar urgentemente para que os conceitos de Responsabilidade Social, individual ou coletiva, pessoal ou empresarial, não banalizem a conveniência e a coerção. Necessitamos atuar de maneira decidida, valorizando a convicção em torno de valores e virtudes. Temos que valorizar o altruísmo, a generosidade, a solidariedade. Temos que amar ao próximo.