Planejando a sucessão do fundador

Por Andrea Hanai, gerente de projetos no IDIS

Qualquer mudança na liderança de organizações da sociedade civil pode ser um grande desafio, mas quando se trata da sucessão do fundador da instituição, que geralmente desempenha o papel de principal executivo, esse processo pode ser ainda mais complexo, representando muitas vezes um teste à sua sobrevivência.

Por essa razão, cada vez mais organizações vêm buscando o IDIS para apoiá-las no planejamento da sucessão de seus fundadores, baseados em nosso conhecimento no tema da governança de organizações da sociedade civil e inspirados na experiência do processo sucessório do próprio IDIS. Também é comum a questão surgir como uma preocupação durante o processo de planejamento ou revisão estratégica da organização, passando a ser foco do planejamento de curto e médio prazos da instituição.

A estruturação de um plano de sucessão deve ser iniciada a partir de um bom diagnóstico institucional, focado na governança da organização. Nesse trabalho, procura-se mapear os papéis e responsabilidades assumidos pelo fundador e analisar as forças e fraquezas da organização, seus recursos e competências e a efetividade da participação dos demais membros de sua liderança.

Com base nesse diagnóstico, é possível determinar as ações necessárias para viabilizar um processo de transição de liderança que não comprometa o desempenho e impacto da organização. Usualmente essas ações envolvem a reestruturação da governança (e do estatuto social da instituição) com o engajamento de novos membros; a revisão do processo de mobilização de recursos (em geral dependente da rede de relacionamentos construída pelo fundador); e a formulação (ou atualização) das políticas institucionais e operacionais da organização.

É fundamental que este trabalho se desenvolva de forma transparente, com uma comunicação clara para todos os stakeholders. Além disso, a BoardSouce, importante fonte de informações sobre governança de organizações da sociedade civil, recomenda que o processo conte com a assistência de consultores externos à organização, capazes de lidar com sensibilidade com as questões emocionais que comumente envolvem a sucessão do fundador.

IDIS oferece capacitação em Captação de Recursos

 

Aconteceu em maio a oficina de capacitação em captação de recursos aos finalistas e vencedores do Prêmio Empreendedor Social, iniciativa da Folha de São Paulo. Oferecida pelo IDIS, tem o objetivo de fortalecer os projetos e trazer uma visão estratégica a esta área tão relevante para a sustentabilidade das organizações. Estiveram presentes representantes do Mapa Educação, Fast Food da Política, Vai de Courri, Editora Mol e Simbiose Social.

O IDIS é parceiro do Prêmio Empreendedor Social, promovido também pela Fundação Schwab, que busca selecionar, premiar e fomentar os líderes socioambientais mais empreendedores do Brasil, que desenvolvam iniciativas inovadoras, sustentáveis e com impacto socioambiental positivo.

Todos os participantes avaliaram muito bem a capacitação e ao serem perguntados sobre o que mais lhes agradou, afirmaram ser os conceitos abordados, as dicas práticas e a condução da aula.

E quando questionados sobre o que não gostaram, todos disseram que lamentaram que o treinamento tivesse curta duração porque queriam permanecer mais tempo para se aprofundar nos conteúdos.

Além da capacitação, o IDIS oferece para os vencedores a oportunidade de apresentarem seus projetos e organizações no Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, em uma plenária exclusiva.

O IDIS parabeniza a todos os vencedores e finalistas desse prêmio, assim como a Folha de S.Paulo e Fundação Schwab pela iniciativa!

As futuras gerações vão nos julgar

Por Paula Fabiani*

Tudo começou com uma provocação de Kofi Annan, ex- Secretário Geral da ONU: é preciso reestabelecer a confiança para avançarmos e retomarmos a esperança num mundo mais justo. Foi com esse direcionamento que o Global Philanthropy Forum deste ano convocou cada um de nós a tomar parte na construção de um mundo melhor.

O evento, que aconteceu na Califórnia (Estados Unidos), contou com a participação de mais de 400 filantropos e representantes de organizações que buscam impacto social (e nós contribuímos com uma delegação de 10 brasileiros!).

Durante três dias foram apresentados alguns antídotos para a falta de confiança e a desesperança que dificultam o surgimento de soluções para os problemas globais. A tecnologia aliada à imaginação e tenacidade dos jovens é a grande aposta para as transformações na próxima década. Mas a tecnologia poderá ser um aliado ou um inimigo do processo. Ela pode ajudar em muitas frentes, seja na mobilização, seja em soluções efetivas, como em um interessante projeto que usa imagens de satélites para ações comunitárias. Porém, temos os desafios éticos e as ameaças do mau uso da tecnologia, aspectos que exigem uma ação imediata.

Soluções com grande potencial de escala demostram que é possível sonhar com um mundo mais justo para os todos. Novas abordagens para a questão da segurança alimentar, saúde e doenças evitáveis em países menos desenvolvidos chamam a atenção. Um destaque foi a eloquente apresentação de Chris Hughes, que fundou, junto com Zuckerberg e Moskovitz, o Facebook, e está investindo em pesquisas e experimentos com transferência de renda para reduzir a pobreza nos Estados Unidos e promover o desenvolvimento (Economic Security Project). Mas o próprio Facebook também estava no centro do debate que tratou de privacidade e acesso à informação. O papel das mídias sociais e ferramentas digitais nos processos democráticos, os riscos da manipulação da informação e a polarização proposital, foram pontos de grande preocupação dos palestrantes e participantes.

Em muitas plenárias o sentimento que emergiu é de que o futuro já faz parte do presente. E a comunidade filantrópica precisa se transformar para enfrentar os novos desafios. Como um dos palestrantes colocou: “O Fórum reforça uma reflexão sobre nosso papel neste mundo tão injusto e desigual. As futuras gerações vão nos julgar, tentamos mesmo resolver os problemas atuais e fazer a diferença?”.

(*) Paula Fabiani é Diretora-Presidente do IDIS Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – www.idis.org.br

Coalizão lança Nota Pública de apoio à regulamentação dos Fundos Patrimoniais Filantrópicos

 

NOTA PÚBLICA DE APOIO À REGULAMENTAÇÃO DOS FUNDOS PATRIMONIAIS FILANTRÓPICOS

 

Nós, os integrantes da Coalizão pelos Fundos Filantrópicos, grupo multissetorial composto por mais de 40 membros, entre organizações, empresas e pessoas, viemos a público manifestar nosso apoio à edição da Medida Provisória de regulamentação dos Fundos Patrimoniais Filantrópicos no Brasil, causa pela qual vários de nossos integrantes lutam desde 2012.

Lamentamos que a aceleração do processo de regulamentação dos Fundos Patrimoniais Filantrópicos tenha sido provocada por uma tragédia de dimensões incalculáveis para a Cultura e a História do Brasil, como o incêndio que destruiu grande parte do acervo do Museu Nacional. Nos serve de consolo, entretanto, saber que essa mesma tragédia pode trazer algum fruto positivo para o País, e queremos colaborar para que a legislação que regulará os Fundos Patrimoniais Filantrópicos seja a melhor possível, alcançando seu máximo potencial de contribuição para a sociedade.

Para isso, queremos alertar para um ponto que precisa ser incluído na legislação, para que ela tenha os efeitos desejados.

Os Fundos Patrimoniais Filantrópicos são instrumentos que contribuem para a sustentabilidade financeira de organizações sem fins lucrativos que trabalham por causas de interesse público, como educação, saúde, assistência, cultura, meio ambiente e esportes, entre outras.

Não há razão para restringir o tipo de organização que pode ser titular de Fundos Filantrópicos, nem a causa à qual eles se destinam. Organizações privadas sem fins lucrativos (fundações e/ou associações) devem ser incluídas entre as que podem contar com esse mecanismo. Os Fundos Patrimoniais Filantrópicos devem ter como objetivo causas de interesse público, podendo ser vinculados ou não, a instituições públicas ou privadas predeterminadas como universidades, museus e Santas Casas de Misericórdia. Essa é a boa prática adotada no exterior.

Recomendamos também a edição de uma Medida Provisória clara, objetiva e que contemple unicamente o tema dos Fundos Patrimoniais Filantrópicos, de modo a facilitar a criação desses instrumentos tão importantes para a sustentabilidade financeira das organizações sem fins lucrativos.

Com a publicação da Medida Provisória, convocamos os deputados e senadores a, ainda nessa legislatura, refletirem conscientemente sobre a importância da sua transformação em lei, garantindo maior capacidade das instituições se financiarem com o apoio daqueles que acreditam em suas causas, e buscando, assim, evitar tragédias como a do Museu Nacional.

Por fim, nos colocamos à disposição para qualquer contribuição que se faça necessária para concretização de uma legislação clara, abrangente e eficaz para os Fundos Patrimoniais Filantrópicos.

 

São Paulo, 5 de setembro de 2018

COALIZÃO PELOS FUNDOS FILANTRÓPICOS (www.idis.org.br/coalizao)

Quem somos nós

A Coalizão pelos Fundos Filantrópicos é grupo multisetorial composto por 40 membros, entre organizações, empresas e pessoas que apoiam a regulamentação dos Fundos Patrimoniais Filantrópicos no país.

Lançada em junho de 2018, e liderada pelo IDIS, Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, essas organizações brasileiras integram a Coalizão, que é aberta para qualquer pessoa ou entidade que apoie a causa dos Fundos Patrimoniais Filantrópicos.

 

Organizações integrantes da Coalizão pela Fundos Filantrópicos

Coordenação

IDIS Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social

 

Apoio Jurídico

PLKC Advogados

 

Apoio Institucional

APF Associação Paulista de Fundações

Cebraf Confederação Brasileira de Fundações

GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

Humanitas 360

Levisky Negócios e Cultura

 

Participantes

ABCR Associação Brasileira de Captadores de Recursos

ACTC Casa do Coração

Arredondar

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEAP Centro Educacional Assistencial Profissionalizante

CIEDS

Demarest Advogados

Fehosp Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Est. SP

Fundação Darcy Vargas

Fundação Educar DPaschoal

Fundação José Luiz Egydio Setúbal

Fundação Stickel

Instituto Acaia

Instituto Akatu

Instituto Arara Azul

Instituto Ayrton Senna

Instituto Cyrela

Instituto Doar

Instituto Homem Pantaneiro

Instituto Jatobás

Instituto Phi

Instituto Reciclar

Instituto Sabin

Instituto Sol

Instituto SOS Pantanal

ISE Business School

LAB Laboratório de Inovação Financeira

Liga Solidária

Lins de Vasconcelos Advogados Associados

Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. Quiroga Advogados

Onçafari

Rede de Filantropia para a Justiça Social

Santa Marcelina Organização Social de Cultura

Sistema B

Todos pela Educação

Visão Mundial

Wright Capital

 

 

 

 

 

 

Edital reforma refeitório e espaço para brincar

O Instituto Cyrela, que acaba de receber o Prêmio Master Imobiliário, é parceiro do IDIS há  seis anos. Neste mês, mais um edital do Instituto, realizado com apoio técnico do IDIS, foi finalizado com sucesso. O projeto RenovAção Kids teve suas obras concluídas. E as duas organizações vencedoras foram Lar Amor, Luz e Esperança da Criança (LALEC) e Núcleo Educacional da Santa Casa de Diadema, dentre 20 que se candidataram.

O Edital selecionou duas organizações da sociedade civil que promovessem transformação social com foco na infância. Cada uma recebeu R$ 100 mil para realizar a reforma de um espaço já existente ou construção de um novo, tornando os projetos mais eficazes. As obras aconteceram entre setembro do ano passado e junho este ano.

No LALEC foi feita uma reforma no espaço para brincadeiras das crianças, com adição de novos brinquedos e móveis, para tornar mais confortável e aconchegante o dia-a-dia dos pequenos.

Já na Santa Casa de Diadema, a obra foi a ampliação da área construída do refeitório das crianças, possibilitando um ambiente mais agradável e estimulante aos beneficiários do projeto.

Este é o quarto edital que o Instituto Cyrela e o IDIS realizam juntos e é sempre uma grande satisfação ver quanto a transformação do espaço físico contribui para melhorar a qualidade das iniciativas sociais. Para o IDIS é uma honra e privilégio atuar em projetos assim, que transformam a vida das pessoas diariamente.

Novo espaço para brincar do LALEC

 

Refeitório na Santa Casa de Diadema  depois de reformado

Se Liga! é destaque na Folha de S.Paulo

A coluna Empreendedor Social, da Folha de S. Paulo, destacou a mobilização realizada pelo IDIS ‘Se Liga! Vem aí a Campanha por uma Cultura de Doação’. Trata-se de uma chamada para que as ONGs preparem seus sites e seus cadastros para o lançamento da Campanha.

A reportagem trouxe detalhes sobre como a Mobilização Se Liga! funciona, dando destaque ao mapa das Organizações da Sociedade Civil do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Mostrou como ele é importante nessa campanha e precisa ser atualizado pelas organizações cadastradas que queiram ser localizadas por novos doadores.

A coluna destacou ainda: ‘’A ideia é mostrar o poder transformador da doação ao convidar o público a refletir que tipo de transformação ele gostaria de realizar no mundo”, ponderando sobre a importância não só dessa mobilização inicial, mas também da Campanha por uma Cultura de Doação que será lançada pelo IDIS em novembro.

Para ler a reportagem completa, acesse o link: https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2018/08/antes-de-lancar-campanha-instituto-mobiliza-ongs-para-atualizacao-de-mapa.shtml

Já somos 40 organizações na Coalizão pelos Fundos Filantrópicos!

No dia 26 de junho desse ano, o IDIS liderou ao lançamento de uma coalizão que visa a regulamentação dos fundos patrimoniais filantrópicos no país. Hoje, após pouco mais de um mês do lançamento, a coalizão chegou ao expressivo número de 40 participantes.

Um dos apoiadores institucionais da iniciativa, o GIFE, divulgou, em sua newsletter, uma reportagem sobre os fundos patrimoniais filantrópicos. ‘’Nós temos trabalhado para garantir alguns parâmetros. Além de um mecanismo que ofereça estímulo e segurança jurídica, a intenção é que a ferramenta seja ao mesmo tempo pouco burocratizada, a fim de permitir que organizações com perfis diversos possam contar com o mecanismo, e possa servir para quaisquer causas’’ afirmou o secretário-geral do GIFE, José Marcelo Zacchi.
A reportagem contou também com a participação equipe do IDIS, nossa colega, Olivia Castello Branco, que defendeu como a regulamentação é um importante passo para a perenidade das organizações e alcance de maior impacto a partir de suas atividades.

Para ler a reportagem na íntegra, acesse o link: https://gife.org.br/coalizao-defende-regulamentacao-dos-fundos-patrimoniais-filantropicos-no-brasil/?utm_campaign=redegife_1041_30072018__mailing_site_-_cadastro_news&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

E, para mais informações sobre a coalizão e como fazer parte dela, acesse o site oficial: https://www.idis.org.br/coalizao/

IDIS lança campanha “Se liga ONG”

Dia 27 de novembro, o Brasil e o mundo celebram o Dia de Doar. Um dia para sensibilizar cada vez mais a sociedade sobre a importância da doação de recursos para organizações e projetos sociais, culturais, ambientais e esportivos.

Este ano, o IDIS vai lançar uma campanha para contribuir com a cultura de doação no Brasil.
A campanha, concebida junto com parceiros, será veiculada em diversos meios de comunicação: jornais, revistas, sites e cinemas; com uma estratégia intensa de mobilização.
Todo mundo tem uma causa. Qual é a sua? Com essa convocação, a campanha irá atrair pessoas para descobrirem qual é a causa delas a partir de um quizz online.

São três passos, apenas:
1. Descubra qual é a sua causa
2. Doe para uma organização social que defende a sua causa – pelo Mapa das OSCs do IPEA (https://mapaosc.ipea.gov.br/)
3. Conte para todo mundo e inspire as pessoas a fazerem o mesmo!

Mas para ser um sucesso e para que as pessoas consigam efetivamente contribuir, as ONGs precisam estar prontas para receber! Por isso, se liga ONG!

Estamos nos preparando e convidamos todas as organizações a se prepararem também!
1. Entre no Mapa das OSCs faça ou atualize o seu cadastro!
2. Cheque se o seu site tem as seguintes informações:
a/ A causa da sua organização
b/ Uma explicação clara do que a sua organização faz pela causa
c/ Os resultados alcançados até agora
d/ Uma chamada / convite para doação

Esteja pronto em novembro para nos ajudar na campanha e receber mais apoio para o seu trabalho!

IDIS, CAF América e Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo lançam parceria educacional para fortalecer organizações da sociedade civil

Ensinar organizações a construir planos de ação transformadores, além de fortalecer suas estratégias para captar fundos e, assim, alcançar e manter a sustentabilidade financeira… Esses foram os objetivos previstos pela CAF América, o IDIS e o Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo para a criação do Programa de Fortalecimento das Organizações da Sociedade Civil.

 

Acreditamos que é necessário um esforço conjunto para suprir a carência de conhecimento a respeito de métodos e ferramentas disponíveis.  Sendo assim, nosso projeto prevê capacitações presenciais e online sobre Planejamento EstratégicoCaptação de Recursos (tanto no Brasil quanto nos EUA para o Brasil) e Estabelecimento de Parcerias. Para isso, foi desenvolvido um programa que permitirá, através de módulos de treinamento, capacitar os representantes das organizações selecionadas.

O programa de Fortalecimento das Organizações da Sociedade Civil é totalmente gratuito e  voltado para organizações da sociedade civil com sede e atuação na região metropolitana de São Paulo.

Para mais informações e inscrições, acesse o Site do Edital

Presidente do Conselho Fiscal do IDIS propõe reflexão entre Governo e iniciativa privada diante do impacto que as mudanças na doação da Nota Fiscal Paulista podem trazer

“Será que não está na hora de os governantes e parlamentares darem um voto de confiança à iniciativa privada para que ela desenvolva o campo tão necessitado quanto o das causas sociais em nosso país? Será que estamos maduros para assumir essa responsabilidade?” (Priscila Pasqualin)

 Em um artigo publicado no Portal Estadão, a advogada Priscila Pasqualin, presidente do Conselho Fiscal do IDIS e sócia da PLKC Advogados, lista os benefícios do programa Nota Fiscal Paulista e alerta para a queda que deve ocorrer nos valores destinados a organizações sociais cadastradas.

A importância do debate vem após a constatação de que o programa trouxe inovação, ganhos e mudança de comportamento. O Governo inovou ao criar uma fonte de recursos para instituições; e ganhou em arrecadação do ICMS e no fortalecimento de organizações da sociedade civil que cumprem parte das funções do Estado ao levar serviços à população. Além disso, nesses anos é possível perceber um nova postura do consumidor, que passou a exigir o cumprimento da lei ao não aceitar desconto para comprar sem nota.

Há dez anos o programa Nota Fiscal Paulista foi criado para fiscalizar o pagamento de impostos e garantir o aumento na arrecadação. O contribuinte recebe até 20% do ICMS recolhido pelo estabelecimento. Mas ele também tem a opção de omitir o CPF e depositar o cupom fiscal na urna colocada ao lado do caixa – os créditos que ele receberia de volta são direcionados para organizações sociais.

A mudança começou em Janeiro e em Outubro poderá ser adotada em caráter definitivo. As doações serão feitas somente por aplicativo. Um estudo do Movimento de Apoio à Cidadania Fiscal aponta que de 2008 a 2016, o Programa distribuiu R$ 16 bilhões a pessoas físicas e organizações da sociedade civil – 84% das doações são procedentes de estabelecimentos parceiros que colocam nas urnas notas fiscais sem CPF.

Para entender mais sobre a questão, basta clicar no artigo Os Benefícios da Nota Fiscal Paulista – Blog Fausto Macedo – Portal Estadão

 

 

 

Programa RenovAção lança edital para beneficiar a 1º Infância

Estão abertas desde 18 de setembro as inscrições para o Programa RenovAção Kids, uma iniciativa do Instituto Cyrela realizada com apoio técnico do IDIS. O edital tem como objetivo transformar os espaços de instituições que atendam crianças de 0 a 6 anos em situação de vulnerabilidade social. O vencedor receberá um prêmio de até R$ 100 mil para a construção ou reforma de espaços. Podem participar organizações da sociedade civil e instituições educacionais públicas (estaduais e municipais) localizadas na Região Metropolitana de São Paulo, que desenvolvem trabalho de relevância e impacto para a educação e/ou desenvolvimento da Primeira Infância (crianças de 0 a 6 anos) e/ou mulheres em pré-natal.

O IDIS é responsável pela elaboração do regulamento do concurso, pelo recebimento das inscrições, pela validação das organizações proponentes e pela organização da banca examinadora de seleção dos finalistas. Posteriormente, fará o monitoramento da aplicação do recurso recebido pela entidade ganhadora.

“O processo de seleção será feito em três etapas”, esclarece a coordenadora de Projetos do IDIS, Marcela Bernardi, “seleção dos semifinalistas, com base na originalidade e impacto dos projetos inscritos; visita técnica aos semifinalistas e seleção de 1 (um) projeto vencedor por meio de Banca Examinadora formada por especialistas do terceiro setor.”

As inscrições podem ser feitas no site do programa: www.programarenovacao.org. Os candidatos deverão realizar os seguintes passos para a inscrição: ler o regulamento do edital do prêmio, preencher o formulário de inscrição, providenciar os documento da instituição solicitados e efetivar a inscrição.

IDIS é reconhecido como uma das cem melhores ONGs do Brasil

O  IDIS foi reconhecido, ao lado de outras 99 organizações, como uma das melhores ONGs do Brasil. Trata-se da primeira edição da #melhoresOngs, uma iniciativa do Instituto Doar e da Revista Época, que teve mais de 1.500 participantes.

No Brasil, hoje, são mais de 300 mil ONGs, entre associações de caridade, organizações da sociedade civil, institutos e fundações filantrópicas. Estar entre as 100 melhores é sinal de competência e de reconhecimento.

O próprio IDIS, por meio da pesquisa “Doação Brasil”, havia revelado que 71% da população entende que as ONGs dependem de doações para obter recursos e funcionar e 44% concorda que essas instituições fazem um trabalho competente. Porém, apenas 26% dos entrevistados acham que a maioria das ONGs é confiável.

“Os brasileiros entendem a importância e valorizam o trabalho das ONGs, mas por conta do clima de escândalos e desconfiança que atinge o Brasil, ficam receosos na hora de doar. Esse prêmio, sem dúvida alguma, é um reconhecimento para as organizações que fazem um trabalho sério, com transparência, que sabem se comunicar e, claro, uma vitrine para os doadores que buscam ONGs confiáveis e que apresentam resultados”, explica a presidente do IDIS, Paula Fabiani.

Para o Instituto Doar, que valoriza os bons exemplos através de um Selo de Qualidade, chegou a hora de criar um estímulo para as ONGs. Organizações exemplares merecem o reconhecimento e o dinheiro de doadores conscientes. É esse o objetivo do Prêmio Melhores ONGs.

Confira a lista com as 100 Melhores ONGs.

Sobre confiança, filantropia e organizações sociais

Por Paula Fabiani*

A confiança, ou melhor, a falta de confiança, é uma preocupação presente ao redor do mundo nos dias atuais. Além do Brasil, países desenvolvidos como os Estados Unidos e a Inglaterra passam por períodos de desconfiança nas instituições e nos governos, o que gera grande ansiedade em relação ao futuro. Estive nas últimas semanas nestes dois países em eventos do universo da filantropia e, enquanto na Inglaterra o clima é mais calmo, apesar de toda a incerteza sobre o futuro, nos Estados Unidos a inquietação é latente.

Na Inglaterra participei de discussões sobre como a tecnologia pode contribuir para o resgate da confiança por meio do aumento da transparência no campo filantrópico. O encontro foi promovido pela Charities Aid Foundation (CAF) para membros da Global Alliance, uma rede de organizações filantrópicas ligadas à CAF, da qual o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS faz parte.

Um dos casos interessantes apresentados foi a tecnologia de block chains, um sistema digital de controle e validação de transações via redes de computadores, que começa a ser aplicado em start ups com foco na melhoria dos processos de doação e monitoramento dos resultados. A Alice é um bom exemplo. Trata-se de uma plataforma que busca reduzir a falta de confiança nas ONGs por meio de um sistema de pagamentos por resultado, que utiliza a tecnologia dos block chains. A doação é comprometida em um contrato, porém os recursos só vão sendo transferidos conforme o resultado é alcançado.

Nos Estados Unidos, o Global Philanthropy Forum, conferência realizada anualmente com participantes das principais instituições filantrópicas de atuação global, teve como temas transversais Confiança e Legitimidade. O evento apresentou caminhos para organizações filantrópicas e da sociedade civil fomentarem processos de reconstrução da coesão social ao redor de questões fundamentais, para o nosso futuro e do planeta.

As palavras dos presidentes do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostraram que os grandes organismos multilaterais também se afligem com o tema porque a falta de confiança torna mais difícil a atuação em parceria, que é fundamental para a promoção do desenvolvimento. Inspirações para agir vieram de indivíduos que, apesar das dificuldades, trabalham pela paz motivados por experiências pessoais traumáticas, como a perda de um familiar para movimentos extremistas na Síria ou por um sequestro pela guerrilha FARC na Colômbia.

Por fim, tanto na Inglaterra como nos EUA, as discussões giraram em torno de como as organizações filantrópicas e os negócios sociais podem contribuir para a recuperação da confiança e o fortalecimento da sociedade civil na construção de um mundo mais justo e sustentável. E nós no Brasil, será que não precisamos nos debruçar nesta discussão com mais atenção, engajando, além do terceiro setor, o governo e as empresas?

(*) Paula Fabiani é diretora-presidente do IDIS.

Artigo publicado na Folha de S. Paulo em abril de 2017: http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/colunas/2017/04/1879087-sobre-confianca-filantropia-e-organizacoes-sociais.shtml

A construção da Campanha por um Cultura de Doação já começou!

Em fevereiro teve início a construção da Campanha por uma Cultura de Doação: foi realizada a primeira reunião com as organizações que formam o grupo de apoio para discutir e planejar a Campanha. O encontro foi sede da Edelman Significa, em São Paulo, agência selecionada para fazer o planejamento da Campanha. Estiveram presentes representantes de diversas organizações, entre elas, Fundação Abrinq, Captamos, Acorde, Greenpeace, Instituto Ayrton Senna, Setor 2 e ½ e Base Colaborativa.

“Sabemos que só conseguiremos conceber um planejamento de qualidade se ouvirmos todas as vozes que serão somadas aos insumos e insights fornecidos pela Pesquisa Doação Brasil, divulgada no ano passado pelo IDIS”, afirmou Andrea Wolffenbüttel, diretora de Comunicação e Relações Institucionais do IDIS. A Pesquisa Doação Brasil foi o primeiro estudo no país sobre o perfil do doador e do não-doador brasileiro. Além de conhecer o pensamento e comportamento da população com relação às doações, a pesquisa identificou fatores que podem facilitar a disseminação da cultura de doar e revelou também as possíveis barreiras.

Os objetivos da reunião na Edelman Significa foram refletir e discutir o conceito da campanha, esclarecer como será essa etapa inicial de planejamento e pensar coletivamente como poderia ser a execução das ações que serão propostas pela campanha. Assim como ocorreu com a Pesquisa Doação Brasil, a Campanha por uma Cultura de Doação será uma construção coletiva liderada pelo IDIS.

Durante a conversa foram debatidos temas tais como objetivo da campanha, público alvo, principais mensagens, metas e quais pontos atacar. A principal conclusão, que conseguiu obter o apoio unânime dos presentes, é que não se trata apenas de uma campanha para aumentar o volume de doações, senão algo mais ambicioso, que pretende mudar a cultura e a forma como o brasileiro entende e pratica a doação.

Por se propor a provocar uma mudança de comportamento, a Campanha terá de cobrir um extenso caminho, durante o qual, outras metas secundárias serão atingidas, tais como a compreensão das pessoas sobre o papel do terceiro setor e o aumento da confiança da sociedade nas organizações sociais.

Como definir indicadores para a captação de recursos?

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Por Paula Fabiani

Todo projeto deve ser avaliado para compreensão de seus resultados em relação às expectativas e objetivo inicial. Não é diferente com planos de captação de recursos. Desde o início, deve ser considerado no plano de captação como serão medidos os resultados alcançados. Com base nas metas que se deseja atingir, devem ser elaborados os indicadores para acompanhamento dessas metas, quem será responsável pela coleta de dados, quais suas atribuições e como será esse processo.

Ter indicadores que qualificam doadores e o atingimento das metas permite às organizações acelerar investimentos em ações bem-sucedidas ou repensar aquelas que não trazem os resultados esperados em relação ao investimento dispendido. Ter bons indicadores é crucial para que esse exercício seja realmente efetivo. Os indicadores devem ser analisados a partir de sua relação custo/benefício e, quando necessário, substituídos por mecanismos de controle mais simples e econômicos. Métricas interessantes para essa análise podem ser custo por real captado (Cost per Dollar Raised) e o retorno do investimento da captação (Fundraising Return On Investment)*.

Os indicadores devem cobrir aspectos gerais da captação (como custo/benefício das ações), das doações (volume, crescimento etc.), dos doadores (número, crescimento etc.) e engajamento deles com a organização (inclusive digital). Dados quantitativos e qualitativos do processo de captação devem ser coletados. Os dados quantitativos são objetivos e servem para conferir se os números esperados foram atingidos e se as atividades planejadas estão sendo realizadas. Como exemplo de indicadores quantitativos podemos citar a taxa de retenção e perda dos doadores e o valor médio das doações. Mas os quantitativos sozinhos não são suficientes. Existe uma curva natural de perda de doadores e é fundamental saber o que motiva e o que não motiva uma pessoa a doar para sua organização e, mais ainda, o que a motiva a se tornar um doador recorrente ou aumentar a doação. Para se conseguir essas informações, em geral, precisamos de um indicador qualitativo que pode variar de acordo com a atividade fim da organização. Os indicadores qualitativos servem para trazer dados subjetivos que demonstram o impacto das atividades realizadas.

Em geral, a captação de recursos financeiros em organizações sem fins lucrativos se utiliza de indicadores de gestão de doadores e recursos, mas também precisa de informações sobre os beneficiários e as atividades da organização para reportar aos doadores. Os dados coletados sobre a captação e o cumprimento do plano devem ser responsabilidade dos profissionais da área de captação, assim como os dados coletados sobre o impacto da organização e o cumprimento de suas metas devem ser responsabilidade dos profissionais da área de programas e projetos. A direção da organização deve ser envolvida e apoiar ambos os processos. E a interação e troca de informação entre as áreas deve ser constante, pois as informações sobre o impacto da organização alimentam o processo de captação, assim como os resultados da captação reforçam a legitimidade das atividades e o impacto gerado pela organização.

Uma vez realizada a coleta de informações, os dados levantados devem ser sistematizados e analisados. Segundo artigo publicado na Revista da USP sobre o tema recomenda-se a ajuda de especialistas no processo avaliativo. Entretanto, mesmo sem a presença de profissional especializado toda organização deve realizar processos avaliativos. A equipe de avaliação pode possuir alguém da área de captação de recursos e alguém com conhecimento de monitoramento e avaliação. Essa equipe deve apresentar suas conclusões e recomendações na forma de um relatório ou apresentação, se possível analisando a relação entre a captação e o impacto gerado pela organização. O conteúdo desse relatório pode ser incorporado em diversos materiais da organização, de acordo com o público a que se destina o material (público interno, externo, doadores etc.). Para os doadores, por exemplo, é importante ressaltar a destinação dos recursos e eventuais economias ou despesas extras. Além de reportar o impacto das atividades da organização realizadas com o recurso doado, sempre que possível.

A concorrência acirrada por recursos aumenta a importância de se criar mecanismos de captação eficientes e eficazes. E para tanto, bons indicadores são ferramentas muito úteis. Ao reportar de forma objetiva, as organizações facilitam a compreensão e aumentam a consciência dos potenciais doadores sobre a organização, seu impacto e o destino dos recursos recebidos, além de apresentar de forma clara os objetivos e as razões pelas quais o possível apoiador deveria oferecer seus recursos. Dessa forma, as organizações aprimoram o seu relacionamento com os doadores e parceiros, permitindo o desenvolvimento de relações mais duradouras e fortalecendo sua relevância na sociedade.

*Mais informações sobre esses indicadores em http://www.donorsearch.net/nonprofit-fundraising-metrics/ 

Paula Fabiani é diretora-presidente do IDIS 

Projeto Envolver destinará R$ 100 mil para organização da região da Bela Vista, em São Paulo

EnvolverO Instituto Cyrela Commercial Properties (Instituto CPP), com o apoio técnico do IDIS, lançou no último dia 18 o Edital 2017 do Projeto Envolver, com o intuito de premiar projetos de organizações da sociedade civil que promovam a transformação social. Neste ano, o Edital selecionará projetos no entorno do Shopping Cidade São Paulo, empreendimento administrado pela Cyrela Commercial Properties. O shopping fica na Avenida Paulista, região da Bela Vista, no município de São Paulo.

O Instituto CCP é uma organização social sem fins lucrativos, ligada ao Grupo Cyrela, responsável pelo desenvolvimento, comercialização e administração de imóveis. O foco de atuação do Instituto é o desenvolvimento das comunidades próximas aos empreendimentos da CCP.

O período de inscrições do Edital vai de 18 de janeiro a 24 de fevereiro. Podem se inscrever organizações da sociedade civil que atuam na região de entorno do shopping e que promovam melhorias na qualidade de vida das pessoas. Os beneficiários do projeto deverão ser pessoas em situação de vulnerabilidade social (independentemente de idade, gênero, raça etc.).

O projeto vencedor receberá o prêmio de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para potencializar sua atuação em um projeto já existente ou em um projeto inédito durante o prazo de até 12 (doze) meses. Para inscrição ou mais informações é preciso acessar o site do Shopping Cidade São Paulo.

CEO da CAF America falou sobre captação no exterior em evento realizado em SP

14657346_1152782814806973_6855218457344908864_nOs desafios enfrentados pelas organizações sociais no Brasil são os mesmos pelos quais organizações do mundo todo passam: como garantir a sustentabilidade financeira e como captar recursos com regularidade. Esse cenário foi apresentado pelo CEO da Charities Aid Foundation (CAF) America, Ted Hart, durante uma palestra que abordou a captação de recursos no exterior realizada no dia 7 de outubro. O evento foi uma parceria entre o IDIS e o Centro Ruth Cardoso e contou com a presença de cerca de 60 representantes de organizações sociais que atuam em diversas áreas.

A CAF America é uma organização da sociedade civil dedicada ao investimento social privado, com sede no Reino Unido e com mais de 90 anos de experiência. A CAF apoia doadores – indivíduos, grandes doadores e empresas – a obter o maior impacto possível a partir da sua doação. Além da sede no Reino Unido, a CAF também atua na África do Sul, na Austrália, no Brasil, na Bulgária, nos Estados Unidos, na Índia, na Rússia e em Cingapura. No Brasil é o IDIS que atua em nome da CAF, em uma parceria estabelecida em 2005.

“Para convencer uma pessoa ou empresa a doar recursos é preciso fazê-la acreditar em sua causa. E isso vocês já fazem”, disse durante a sua apresentação. De acordo com Hart, o que difere são apenas as legislações vigentes em cada país e esse trabalho de adaptação a regras específicas pode ser conduzido por organizações como a CAF. “Nos EUA, por exemplo, não pode ser realizada doação direta, então fazemos a intermediação. Já no Canadá, é permitido fazer doação apenas para o desenvolvimento de projetos”, explicou.

Na sua opinião, projetos que já existem e têm históricos mensuráveis atraem mais doadores estrangeiros. “Não é necessariamente impossível captar recursos para um projeto inicial ou uma organização social que está começando. Mas, nesses casos, orientamos que faça parceria com outros institutos que já têm uma atuação reconhecida, para que gere mais interesse do doador”, exemplificou.

Em sua palestra Hart abordou também os tipos de doação praticados na CAF. Um deles é a CAF America Friends Fund (Fundo de Amigos), uma alternativa para organizações que buscam ampliar o apoio de doadores dos EUA. Nessa modalidade, as entidades economizam dinheiro, pois não precisam se configurar como uma entidade filantrópica. Mais informações sobre o fundo podem ser encontradas no site da CAF America: www.cafamerica.org.

IDIS lança segunda parte da Pesquisa Doação Brasil

2016-08-18 10.15.01No dia 18 de agosto, o IDIS divulgou novos dados da Pesquisa Doação Brasil em uma Roda de Conversa realizada no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo. O foco foi o relacionamento dos brasileiros com as organizações não governamentais (ONGs). Entre os dados revelados estão que 71% da população entende que as ONGs dependem de doações para obter recursos e funcionar e 44% concorda que essas instituições fazem um trabalho competente. Porém, apenas 26% dos entrevistados acham que a maioria das ONGs é confiável.

A pesquisa mostrou ainda que 64% dos doadores contribui apenas para uma instituição, sendo que 39% dos doadores já visitou pessoalmente a organização para a qual doa. A fidelidade se destaca neste item, já que 70% dos doadores disse que costuma doar sempre para a mesma ONG, ano após ano. Em 2015, as doações individuais dos brasileiros totalizaram R$ 13,7 bilhões – valor que corresponde a 0,23% do PIB do Brasil.

Quase dois terços dos entrevistados (61%) afirmam que as ONGs insistem demais ao pedir doações e 64% acreditam que ao se fazer uma doação, corre-se o risco de ser procurado por outras organizações. O levantamento serve de orientação para o trabalho dessas instituições, já que as pessoas deixaram bem claro rejeitar abordagens em domicílio e locais públicos.

“A pesquisa mostra que os brasileiros entendem a importância e valorizam o trabalho das ONGs, mas elas, como muitas outras instituições, acabaram se contaminando pela onda de escândalos e desconfiança que atinge o Brasil”, avalia Paula Fabiani, presidente do IDIS.

Estiveram presentes na Roda de Conversa cerca de 70 pessoas, representantes de organizações sociais que atuam nas mais diversas áreas. A pesquisa mapeou os hábitos de doação dos indivíduos e foi realizada sob encomenda pelo Instituto Gallup, que conversou com mais de dois mil entrevistados em todo país, com 18 anos ou mais, residentes em áreas urbanas e com renda familiar mensal a partir de um salário mínimo.

A Pesquisa Doação Brasil é uma iniciativa coordenada pelo IDIS, em parceria com um grupo de especialistas e atores relevantes para o campo da cultura de doação no Brasil. Uma sequência de encontros de trabalho foi realizada envolvendo representantes de organizações da sociedade civil, universidades, mídia, fundações e redes e associações de classe ligadas aos temas de cultura de doação e captação de recursos.

A íntegra da Pesquisa Doação Brasil está disponível no site do IDIS, no endereço www.idis.org.br/pesquisadoacaobrasil.

IDIS divulga resultados da Pesquisa Doação Brasil

idis-doacoes-76Ao longo do ano passado, 77% dos brasileiros fizeram algum tipo de doação, sendo que 62% doaram bens, 52% doaram dinheiro e 34% doaram seu tempo para algum trabalho voluntário. Se considerarmos apenas os que doaram dinheiro para organizações sociais, são 46%. No ano de 2015, as doações individuais dos brasileiros totalizaram R$ 13,7 bilhões, valor que corresponde a 0,23% do PIB do Brasil.

Esses resultados integram o mais completo estudo já feito no país sobre o perfil do doador brasileiro. A ideia é que a Pesquisa Doação Brasil se repita com uma frequência entre três e cinco anos para que seja possível acompanhar a evolução da cultura de doação no país. O levantamento, encomendado ao Instituto Gallup, entrevistou 2.230 pessoas em todo país, com 18 anos ou mais, residentes em áreas urbanas e com renda familiar mensal a partir de um salário mínimo.

“A Pesquisa Doação Brasil revela um retrato jamais visto, que servirá de base para uma grande campanha pela cultura de doação no país”, relata Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS – Instituto pelo Desenvolvimento do Investimento Social, que liderou a realização da pesquisa.

Levando em conta as regiões do Brasil, em números absolutos, o Sudeste aparece em primeiro lugar, concentrando 43,5% dos doadores. O Nordeste vem na sequência com 31%. Depois aparecem o Sul, com 13%, Norte com 6,5% e Centro Oeste com 6%. Mais de um terço dos doadores, 36%, fizeram uma doação por mês ao longo do ano passado. Essas doações ficam na faixa de R$20 a R$40 mensais, ou seja, de R$240 a R$480 por ano.

As mulheres doam para organizações com mais frequência que os homens, 49% contra 42%. De acordo com o estudo, o perfil do típico doador brasileiro é mulher com instrução superior, praticante de alguma religião, moradora das regiões Nordeste ou Sudeste, com renda individual e familiar acima de 4 salários mínimos. Três grandes temas sensibilizam o doador em dinheiro: em primeiro lugar é a saúde, com 40% das respostas, crianças ocupam a segunda colocação, com 36%, seguidas por combate à fome e à pobreza, com 29%.

Oitenta por cento dos entrevistados disseram não se deixar levar pela emoção na hora de doar, sendo que apenas 20% admitiram praticar este ato por impulso. “Esse resultado é muito positivo para nós, afinal prova que o brasileiro tem grande consciência na hora de doar”, destaca Paula Fabiani. A principal razão para uma pessoa doar dinheiro é a solidariedade com os mais necessitados, indicando que existe uma forte ligação entre o ato de doar e a gratificação emocional.

A religião também exerce grande influência no hábito de doar dos brasileiros. Entre os que se declaram católicos na pesquisa, 51% praticam a doação em dinheiro. Entre os espiritas, esse porcentual chega a 58%. Entre os evangélicos entrevistados, 45% disseram fazer doação em dinheiro. Não são considerados aqui os pagamentos de dízimos ou mensalidades para associações.

A Pesquisa Doação Brasil mostra não existir uma relação direta entre o tamanho da cidade e a prática de doação em dinheiro, ou seja, mesmo fora das grandes cidades, o brasileiro também doa. Porém, existe uma forte relação entre idade e a prática da doação em dinheiro. Quanto maior a faixa etária, maior a incidência deste tipo de doação. O mesmo acontece em relação ao grau de instrução. Pessoas com nível superior, praticam mais doação em dinheiro.

A Pesquisa Doação Brasil é uma iniciativa coordenada pelo IDIS, em parceria com um grupo de especialistas e atores relevantes para o campo da cultura de doação no Brasil. Uma sequência de encontros de trabalho foi realizada envolvendo representantes de organizações da sociedade civil, universidades, mídia, fundações e redes e associações de classe ligadas aos temas de cultura de doação e captação de recursos.

O resultado final da pesquisa será difundido abertamente para todos os interessados, com intuito de fortalecer a cultura de doação no país e contribuir na capacitação da sociedade na captação de recursos.
* A íntegra da pesquisa Doação Brasil está disponível no site do IDIS, no endereço www.idis.org.br/pesquisadoacaobrasil

Filantropia em tempos de crise

Logo Fórum 2015O IDIS realizou, em novembro deste ano o IV Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, cujo tema transversal foi “Filantropia em tempos de crise”. Um tema atual tratado com um olhar diferente. Tivemos um dia inteiro de discussões sobre como investidores sociais podem usar seus recursos e experiências bem sucedidas para ajudar o Brasil a sair fortalecido do difícil momento que está atravessando.  O sucesso do Fórum e a presença de tantos parceiros e pessoas interessadas em fazer o bem só reforça o nosso desejo de trabalhar, cada vez mais, pelo resgate de valores no país.

Veja aqui a opinião de alguns palestrantes.

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1º de dezembro é o Dia de Doar

Cartaz Dia de Doar

 

O primeiro dia do mês de dezembro deste ano será o Dia de Doar. Um dia especialmente dedicado para que as pessoas prestem atenção a todas as possibilidades existentes para se fazer uma doação a alguém ou a alguma organização necessitada. Pode ser doação em dinheiro, pode ser doação de tempo, de atenção, de carinho. O importante é doar algo para transformar a vida do outro e para transformar o entorno em um lugar mais acolhedor para todos.

O site www.diadedoar.org.br tem sugestões de ações para indivíduos, empresas, governo e organizações não governamentais. O IDIS produziu material de divulgação do Dia de Doar e doou boa parte para a Associação Brasileira de Captadores de Recursos, que visitou várias cidades brasileiros convidando todos a aderir à data.

Não deixe o Dia de Doar passar em branco! Ainda dá tempo!

 

 

Missão cumprida em 2015 para o projeto das Santas Casas

Vídeo Santas CasasO presidente da Fehosp (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado do São Paulo), Edson Rogatti, avaliou que a parceria com o IDIS foi positiva e que todas as Santas Casas devem mostrar os resultados do Projeto de Captação de Recursos. Ele fez esta declação em discurso no evento de encerramento do projeto no Hotel Royal Palm, em Campinas, no dia 16 de novembro. Rogatti ponderou que “o projeto trouxe mais um mecanismo para manter os hospitais com as portas abertas”.

A presidente do IDIS Paula Fabiani agradeceu à Fehosp e à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo pelo desenvolvimento do projeto e lembrou que “as áreas de captação de recursos devem sempre repensar, buscar o processo de troca e achar caminhos para o desenvolvimento junto com a comunidade”.

O fundador e consultor estratégico do IDIS Marcos Kisil comentou que a equipe do Instituto percorreu mais de 10 mil quilômetros para atender todas as Santas Casas que participaram do projeto. “O trabalho de logística foi enorme, mas esse é um projeto de capacitação que veio pra ficar. É para a vida de cada hospital”.

De janeiro a outubro, foram realizadas oficinas em 11 municípios onde as Santas Casas respondem mais da metade dos 65 mil leitos existentes. Os consultores do IDIS fizeram 300 visitas para orientar todos os hospitais na elaboração do projeto. A meta total de captação de recurso de todas as instituições envolvidas é de R$ 92.920.600.

Clique aqui e assista aqui ao vídeo que conta um pouco dessa história.

 

Paula Fabiani fala sobre cultura de doação na Bandnews FM

Paula 1 _2014A coluna A Política Nossa de Cada De Cada Dia, da rádio BandNews FM, aborda histórias de pessoas e grupos que contribuem para uma sociedade melhor e que vai muito além de exercer o direito do voto.

Na edição do último dia 24 de agosto, a entrevistada da coluna foi Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, que comenta sobre o papel fundamental do setor privado na diminuição das desigualdades.

Apesar dos brasileiros serem considerados solidários, a posição do país ainda está aquém em relação ao hábito de doação para causas sociais, por isso, Paula Fabiani enfatiza a como  é de fundamental importância estabelecer uma cultura de doação no Brasil.

Você pode ouvir a entrevista completa aqui. Confira!

Escoteiras surpreendem com e-commerce

Girl Scout Cookies

Uma das mais populares organizações sem fins lucrativos dos Estados Unidos, as meninas escoteiras, resolveram usar a internet para revitalizar uma antiga tradição: a venda de cookies para levantar fundos para a entidade.

Desde a década de 1930, uma vez por ano as escoteiras percorrem o país para oferecer biscoitos de porta em porta e arrecadar dinheiro. Em 2014, no entanto, elas decidiram que, em vez de bater perna nas ruas, passariam a vender seus biscoitos pela internet. Assim nasceu o e-commerce Digital Cookie, que foi apontado como uma das 10 iniciativas sem fins lucrativos mais inovadoras de 2015 pela revista Fast Company.

O Digital Cookies não é uma simples tentativa de facilitar a vida das escoteiras, mas sim um projeto que visa capacitar as meninas a trabalhar com negócios on-line. Elas são responsáveis por todo o processo, desde a programação do site até as estratégias de marketing. “As escoteiras não são as primeiras a fazerem e-commerce, mas elas devem ser as primeiras a criar um programa de vendas pela internet totalmente feito por garotas”, diz a revista.

As escoteiras, cujo grupo foi criado nos Estados Unidos em 1912, recebem treinamento em webdesign, marketing online, gestão de negócios e relacionamento com consumidores. Além disso, por causa da faixa etária das garotas, elas também aprendem sobre segurança na internet:os sites só atendem consumidores que tenham sido convidados e não fornecem o endereço de onde moram as participantes.

 

 

De centavo em centavo

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Ari Weinfeld e Nina Valentini, do Movimento Arredondar. Foto: Renata Terepins

Arredondar para cima o valor de uma compra e doar os centavos para uma organização da sociedade civil. Quando falamos em centavos pode parecer pouco, mas quando pensamos em quase 6 milhões de faturas de compras emitidas diariamente apenas pelos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, esse número se torna extremamente significativo.

Essa é a ideia do Movimento Arredondar. O projeto, que começou em escala em abril do ano passado, já conta com mais de 230 lojas ativadas e marcas como Alpargatas, Luigi Bertolli, Cori e Emme, entre outras.

Atualmente, o Arredondar tem dois modelos de apoio para instituições. O primeiro é voltado para organizações que trabalham pelos Objetivos do Milênio da ONU. São 15 organizações do portfólio que foram selecionadas via edital, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e outras 15 que estão na lista de espera.

O segundo e mais novo modelo funciona de forma inversa. A organização social é que traz uma rede varejista de certo porte disposta a arredondar. A equipe faz o processo de validação da organização, verificando documentos e realizando uma visita técnica, para garantir sua idoneidade. A partir daí, a rede varejista poderá arredondar para a organização que a indicou, sendo que, do valor arrecadado (menos as taxas), metade vai para a organização credenciada e o restante para outras organizações do portfólio, para garantir que o dinheiro chegue às mais diversas causas.

“Criamos um mecanismo transparente, fácil e sem custo que pode ser usado por toda rede varejista interessada ou empresas de sistema para o varejo”, avalia Ari Weinfeld, fundador e presidente do Arredondar.

Desde abril de 2014 até agora, foram mais de R$ 125 mil destinados às organizações sociais por meio de mais de 686 mil microdoações. É importante dizer que, além da questão financeira, a iniciativa também busca criar uma cultura de doação no país.

“Acredito muito no potencial do Arredondar de mudar a cultura de doação no Brasil. Estamos crescendo muito, tivemos mais de 600 mil microdoações em um ano.  Com a participação de todos poderemos arredondar por todo o Brasil e ajudar milhares de pessoas”, completa Ari.

Se você gostou da ideia, pode acompanhar os dados sobre a quantidade de doações e valor total arrecadado em tempo real no site: arredondar.org.br.

Tendência: projetos sociais intergeracionais

Crédito: Sheriff Salama

Foto: Sheriff Salama

Nem só crianças, nem só idosos. Há algum tempo as organizações sociais vêm percebendo que o impacto é maior e mais rápido quando os projetos sociais envolvem diferentes gerações. Nessa semana, a Fundação Michael Eisner, criada pelo antigo CEO da Walt Disney Company, anunciou que vai dedicar todo o seu orçamento anual para doações – algo em torno de US$ 8 milhões – para projetos que reúnam pessoas jovens e velhas em busca da solução para problemas sociais.

Quando foi estabelecida, em 1996, a Fundação destinava todo o seu investimento a projetos voltados às crianças, um foco alinhado com a trajetória profissional do fundador. Porém, com o passar dos anos, o próprio Michael Eisner se deu conta que a interação entre diferentes gerações é rica para ambos os lados e traz resultados concretos.

“Não estamos em busca de projetos que atendam jovens e idosos. Queremos projetos nos quais os recursos próprios de cada geração atendam à outra e as duas se beneficiem”, esclarece Trent Stamp, executivo da Fundação Michael Eisner.

Um dos projetos intergeracionais de maior sucesso nos EUA foi criado pela Jumpstart for Young Children, uma organização da Califórnia, que capacitou idosos para que cuidassem, durante alguns períodos por semana, de crianças em creches e pré-escolas em regiões de vulnerabilidade social. A iniciativa diminuiu a demanda de mão-de-obra nas instituições de educação, melhorou a qualidade de vida dos idosos, que se sentiram úteis no trabalho e, de quebra, deu avôs e avós para muitas crianças que vivem em núcleos familiares desestruturados. Tudo isso com um investimento bem menor do que seria necessário para desenvolver um projeto de Educação Infantil e outro de apoio aos idosos.

Leia mais na notícia do The Chronicle of Philanthropy clicando aqui.

A ambulância chegou a tempo?

A chamada big data – coleta massiva de dados – parece ter se tornado uma espécie de mapa do tesouro para quem pretende aumentar a eficiência de suas ações. Afinal, quanto mais se sabe, melhor se pode avaliar se uma atuação está correta ou precisa de ajustes. Produzir informações, no entanto, pode ser muito caro, quase proibitivo para muitas organizações da sociedade civil.

A Acumen – instituição que financia projetos de impacto social em várias partes do mundo – lançou uma nova forma de coleta, barata e com grande capilaridade: o uso de celulares de seus beneficiados, aos quais envia torpedos com perguntas sobre o serviço prestado. Assim, cortou radicalmente o custo de angariar subsídios sobre suas iniciativas. Por isso, foi considerada pela revista Fast Company uma das dez instituições sem fins lucrativos mais inovadoras de 2015.

A estratégia, batizada de Lean Data Initiative, começou em um projeto que a Acumen financia na Índia, um negócio social que oferece serviços baratos de ambulâncias para milhares de pessoas. O desafio era ter certeza de que o atendimento de urgência estava chegando aos mais pobres.

O pilar dessa tática é o fato de que o acesso a celulares hoje é quase universal. Utilizando instrumentos como SMS e mensagens automáticas de voz, o projeto na Índia conseguiu obter respostas de mil pessoas atendidas – e constatou que, de fato, chegava ao mais carentes.

Organização centenária conquista lugar na lista das mais inovadoras

Com mais de 100 anos de história e um orçamento anual que ultrapassa U$ 100 milhões, não é exagero dizer que a Rockefeller Foundation está entre os principais atores do Investimento Social Privado.

A idade e o tamanho, contudo, não a tornaram vagarosa. Em vez disso, resultaram em experiência para perceber que, mais do que investir muito, é necessário investir bem e estrategicamente. Não à toa, a entidade foi escolhida uma das dez mais inovadoras iniciativas sem fins lucrativos de 2015 pela revista Fast Company.

A organização norte-americana afirma, em seu site, que seu objetivo é o mesmo desde 1913: promover o bem-estar da humanidade. O modo de fazê-lo, no entanto, mudou muito. Como diz a revista, a Rockefeller tem muito dinheiro para gastar, mas o que a distingue é a maneira como seleciona os (muito poucos) projetos que beneficia.

“Apenas um punhado chega ao estágio de desenvolvimento, quando recebe um investimento teste para ver se alcança um impacto maior”, diz a Fast Company. Por isso, quando a organização financia uma iniciativa, quase certamente o faz por avaliar que ela tem possibilidade de atingir muita gente.

É o caso da Smart Power, desenvolvida na Índia e para a qual a Rockefeller Foundation destinou U$ 75 milhões. O dinheiro parece muito? A ambição é igualmente grande: levar energia elétrica para 290 milhões de indianos que não têm acesso ao recurso. E o impacto pode ser ainda maior, pois há a expectativa de ampliar a experiência para outros países da Ásia e para a África.

A Rockefeller Foundation, por meio de uma parceria, apoia financeiramente o IDIS no Fórum Brasileiro e nos Encontros Regionais de Investidores Sociais.

Presidente do IDIS é palestrante no FIFE 2015

Sem títuloPaula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, foi uma das palestrantes do Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica (FIFE), que aconteceu entre os dias 24 e 27 de março, em Gramado/RS.   O evento reuniu mais de 400 pessoas e contou com mais de 100 atividades e 40 palestrantes, debatendo temas relativos à gestão de organizações sociais.

A presidente do Idis ministrou a palestra “Fundos patrimoniais e investimentos financeiros” e integrou a mesa no debate “Institutos e fundações – como se relacionar e trabalhar em conjunto”, com Ana Carolina Velasco (gerente de relacionamento institucional do GIFE) e mediação de Roberto Ravagnani.

Fabiani se mostrou entusiasmada com o evento: “o Fórum encontra-se apenas em sua segunda edição e já apresenta um expressivo aumento de tamanho, impactando significativamente a melhoria dos processos de gestão nas organizações”.

Saiba mais sobre o FIFE clicando aqui.

IDIS desenvolve projeto para que Santas Casas conquistem sustentabilidade

Desde o começo do ano o IDIS vem trabalhando num projeto para capacitar representantes de 117 Santas Casas do Estado de São Paulo para captação de recursos e doações. O projeto é feito em parceria com Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes de São Paulo (Fehosp) e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. No total, são 117 Santas Casas ou Hospitais Filantrópicos participantes em todo estado, organizados em 11 grupos, para tornar mais fácil entender a realidade de cada instituição.

A programação das capacitações inclui a realização de 3 oficinas, de 20 horas cada, ministradas por professores convidados e pela equipe do IDIS. Três temas centrais são abordados nos treinamentos: como fazer um diagnóstico da situação de cada hospital e identificar as possíveis pessoas e organizações que podem ser mobilizadas; decidir quais sais as necessidades prioritárias e traçar um plano estratégico para sensibilização da comunidade; e, por fim, como implementar o plano, prevendo os pontos críticos que podem comprometer o sucesso. Entre cada uma das oficinas, cada unidade recebe a visita de equipes do IDIS para um trabalho de coaching que verifica, in loco, como os participantes estão lidando com as ‘lições de casa’ que receberam. A ideia é que cada oficina sirva para retomar e consolidar o conteúdo a partir do que os profissionais encontram na prática.

A primeira rodada de treinamentos começou em janeiro e segue até o fim de março, envolvendo quatro grupos de santas-casas, que se reuniram em quatro municípios: Ourinhos, Votuporanga, São Carlos e Limeira. O segundo grupo receberá capacitação entre os meses de abril e junho, em outros quatro municípios: Araçatuba, Franca, Mogi Guaçu e São José dos Campos. E de julho a setembro, o terceiro grupo, reunindo as cidades de Catanduva, Marília e Marcelina.

Ainda como parte do projeto, será estabelecida uma rede virtual para uso dos hospitais participantes, e para sua interação com a Fehosp. Por meio de uma plataforma, os participantes terão acesso a um espaço virtual para compartilhamento de experiências, documentos de interesse, grupos específicos, realizar fóruns virtuais, postar fotos e vídeos, estabelecer uma sala de bate-papo.

AS SANTAS CASAS HOJE

As Santas Casas e Hospitais Beneficentes são responsáveis por 1/3 do sistema de saúde do País. No Estado de São Paulo, respondem por 33 mil dos 65 mil leitos existentes. Além disso, 70% das unidades estão localizadas em municípios com até 30 mil habitantes, onde, em grande parte, representa a única alternativa de atendimento hospitalar público.

Faz alguns anos que os repasses recebidos do sistema público de Saúde não cobrem as despesas e, diante desta realidade, está cada vez mais difícil para as Santas Casas cumprirem o papel social. Algumas fecharam as portas e muitas estão diminuindo o número de atendimentos para o SUS como forma de atenuar o déficit operacional. A ideia da parceria do IDIS com a Fehosp é criar mecanismos de sustentabilidade para esses hospitais.

Estima-se que as doações no Brasil somam aproximadamente 20 bilhões de reais por ano. A área que mais recebe esse tipo de recurso é a da Educação, e a Saúde aparece em nono lugar, segundo levantamento do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas. Por isso, existe uma oportunidade real de que o setor da Saúde possa ser redescoberto como área de interesse para uma crescente filantropia no Brasil.

Uma das principais fontes de financiamento desses hospitais no passado, e que caracterizaram as Santas Casas como verdadeiros hospitais comunitários, foi o apoio da sociedade local para a sua construção, instalação e operação. “Antes de serem integradas ao SUS, as Santas Casas eram sustentadas pelas comunidades locais, que cobravam sua boa gestão”, diz Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS.

A realidade atual é que o apoio comunitário foi diminuindo na medida em que o SUS avançou como principal fonte compradora de serviços. Se a saúde passou a ser um dever constitucional e universal do governo, já não haveria necessidade da participação da comunidade local em seu financiamento. Porém, a conta não fecha.

Terceiro setor precisa unificar voz na relação com a imprensa

As organizações não governamentais podem, vez ou outra, aparecer com destaque positivo no noticiário – mas não como conjunto. Embora já encarado como um segmento específico da sociedade, a ponto de frequentemente vir agrupado sob a designação de “terceiro setor”, esse universo quase sempre é retratado de maneira fragmentado pela mídia. Quando o enfoque é setorial, a tendência é que seja negativo. Foi o que ocorreu, por exemplo, no escândalo de 2011 envolvendo convênios com o governo: o problema era restrito a poucas organizações da sociedade civil (OSC), mas todo o campo acabou sob suspeita frente à opinião pública.

Para especialistas, esse é um sinal de que passou da hora de as organizações da sociedade civil terem atuação mais coordenada para falar com a imprensa. “O modo fragmentado do noticiário sobre as OSCs tem relação direta com o modo de operação desse setor, e isso precisa ser repensado”, avalia a jornalista Suzana Varjão, gerente de qualificação de mídia da Andi Comunicação e Direitos, instituição que promove um diálogo mais qualificado entre organizações da sociedade civil e imprensa.

Um estudo da própria Andi respalda a fala de Suzana. Em 2014, a entidade publicou a pesquisa A imprensa brasileira e as organizações da sociedade civil, análise da relação entre os dois atores. Uma das conclusões é que a mídia nacional tem uma visão muito compartimentada do setor social privado, pulverizado em uma miríade de instituições.

“Há uma característica determinante nesse tipo de noticiário, que tem implicações boas e ruins: seu modo individualizado de produção, centrado em organizações ou ações/projetos específicos (82,8% dos textos analisados), em detrimento de registros sobre o funcionamento geral do setor, seus desafios e potencialidades – 9,2%”, diz o relatório.

Cursos
Por ser um campo com conceitos próprios, por vezes falta aos jornalistas entendimento sobre como funciona o setor social privado. Por isso, cursos de formação também ajudam a aprimorar a cobertura jornalística. “Criar cursos seria uma coisa interessante, e nós temos a intenção de explorar mais isso, e promover encontros e discussões sobre o setor dentro das redações”, afirma Vera.

Em 2013, o IDIS ofereceu uma formação gratuita para profissionais de mídia. A capacitação, que durou uma semana, abordou alguns aspectos do investimento social privado, como os fundos patrimoniais e o marketing relacionado à causa. Além disso, lideranças do setor também participaram de conversas com os jornalistas.

“Claro que existem profissionais preparados para cobrir o assunto – e tão gabaritados que vêm participando, com as OSCs, desse processo de retomada do capital ético desse setor fundamental da democracia brasileira. Mas é preciso compreender que as notícias são construídas por atores das duas esferas, e que ambas são extensas e complexas. Nessa perspectiva, são sempre necessárias iniciativas de qualificação de seus atores”, comenta Suzana.

Norma Para Fundos Patrimoniais Aumenta Segurança Juridica e Abre Espaço Para Isenções Fiscais, Diz Adovago

No começo de fevereiro, a Secretaria-Geral da Presidência recebeu uma proposta de projeto de lei para regulamentar a criação e o funcionamento dos fundos patrimoniais. Já há organizações da sociedade civil que usam esta forma de financiamento, mas o instrumento ainda não é regulamentado. “Um dos grandes objetivos de ter uma legislação é aumentar a segurança do modelo. A partir do momento em que há reconhecimento de quais são os critérios mínimos para ser reconhecido, passa a ter a possibilidade de atribuir incentivos fiscais”, explica, em entrevista ao site do IDIS, o advogado Felipe Sotto-Maior, fundador da Verius (anteriormente chamada Endowments do Brasil), que auxilia entidades que queiram criar um fundo.

proposta difere de um projeto de lei que circula no Congresso, o4.643/2012, da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), que regulamenta a criação de fundos patrimoniais apenas em instituições de ensino e pesquisa. “A proposta de projeto substitutivo prevê uma ampliação grande do escopo. Não tem por que abraçar a causa do fundo patrimonial para cobrir um nicho tão pequeno de instituições”, justifica Sotto-Maior, que participou do grupo de trabalho multidisciplinar que elaborou a nova proposta normativa, liderado pelo IDIS junto com a própria Endowments do Brasil.

O especialista falou também sobre experiências do exterior, discorreu sobre os próximos passos para a proposta. “O momento parece bastante propício e o governo parece bastante interessado.”

IDIS: De onde foi tirado o desenho da proposta?

Felipe Sotto-Maior: A base inicial é o estudo de casos do exterior. Vínhamos estudando isso por causa de projetos que já existem no Brasil. Havia uma bagagem. Este projeto de lei é o produto de um grupo de estudos para o qual a gente abriu convite. Montamos o grupo com diversas instituições, advogados, economistas, gente que trabalha no governo, curadores de fundações. Passamos a discutir em cima do projeto de lei que já existia e com base no conhecimento que cada um trazia do seu trabalho.

IDIS: Já existem fundos patrimoniais no Brasil, mas não existe a figura jurídica?

Felipe Sotto-Maior: Exatamente, não tem nada que proíba. Algumas instituições saem na frente fazendo. Mas também não tem nenhum incentivo e nenhuma lei que reconheça esse formato como sendo uma figura jurídica específica.

IDIS: Considerando que não é proibido, o que a lei traz para quem já tem um fundo ou quer formar um?

Felipe Sotto-Maior: Um dos grandes objetivos de ter uma legislação é aumentar a segurança do modelo. Você padroniza um pouco, mas aumenta a segurança, porque há um reconhecimento de o que é aquilo, em vez de trabalhar com figuras adaptadas. Hoje, você adapta o regimento de uma fundação ou de uma associação, mas não tem nenhum reconhecimento pelo governo, por exemplo, de que aquilo é um fundo patrimonial. O governo enxerga uma fundação, uma associação. Por outro lado, a partir do momento em que há reconhecimento de quais são os critérios mínimos para ser reconhecido, passa a ter a possibilidade de atribuir incentivos fiscais tanto para o doador que contribui para os fundos quanto para o próprio fundo em si ou para a entidade que o mantém. Quando a gente está falando de dinheiro investido em longuíssimo prazo, o imposto de renda periódico, por exemplo, faz uma diferença enorme se não for cobrado.

IDIS: A questão dos incentivos fiscais está prevista na proposta?

Felipe Sotto-Maior: Já está prevista até onde a gente conseguiu. Um dos impostos que gostaríamos de isentar seria o imposto sobre doações, que é estadual. A proposta, como é uma lei federal, não tem como alcançar isso. Mas já previmos os impostos federais que consideramos adequados para ter incentivo ou isenção. Colocamos incentivo no imposto de renda do doador e, se possível, a isenção no imposto de renda da instituição, ou pelo menos no fundo. Tudo isso são sugestões, vamos ver o que vai passar efetivamente no Congresso.

IDIS: O que vocês avançaram em relação ao projeto que já existia?

Felipe Sotto-Maior: A principal diferença é a mudança de escopo. Era muito restrito, e a proposta de projeto substitutivo prevê uma ampliação grande. Até por não ser uma coisa proibida, que já vem sendo feita não só em instituições federais de ensino superior, mas em diversas associações e fundações, não tem por que abraçar a causa do fundo patrimonial agora, dar-se o trabalho de passar isso pelo nosso processo legislativo, para cobrir um nicho e um subgrupo tão pequeno de instituições. Então, o principal objetivo é que, se todo mundo já pode fazer, vamos reconhecer os critérios mínimos, os modelos de todo mundo, e não só os das instituições federais de ensino superior.

IDIS: Quais são os próximos passos?

Felipe Sotto-Maior: O IDIS está organizando um grupo de filantropos de apoio ao projeto de lei, que poderia fazer contribuições significativas para fundos patrimoniais e gostaria de ter um reconhecimento legal do modelo antes de fazer isso. Alguns são pessoas que já estão fazendo, independentemente da lei, e outras são pessoas que gostariam de fazer. A gente está reunindo esse grupo justamente para legitimar o projeto, para se encontrar com o Ministro Gilberto Carvalho para mostrar que existe apoio da sociedade. Precisa achar alguém agora para propor o substitutivo, e então fazer o advocacy, acompanhar a evolução.

IDIS: Vocês já fizeram algum tipo de mapeamento para saber quem poderia ser essa pessoa para propor o projeto de lei?

Felipe Sotto-Maior: Tem algumas sugestões. A gente começou, dentro do próprio grupo, vendo quem conhecia a agenda de deputados, porém, é mais o IDIS que está à frente desse processo agora. Até a última conversa antes do Carnaval, não havia um nome definido, apenas algumas ideias.

IDIS: Qual a expectativa com a criação de fundos patrimoniais?

Felipe Sotto-Maior: A expectativa é que num momento inicial aumente a disponibilidade por ser um modelo novo, uma forma historicamente reconhecida como eficiente para se deixar um legado na instituição, para fazer um legado perene na instituição. No longo prazo, a expectativa é que isso ajude as instituições a serem menos vulneráveis a ciclos de abundância e carência de doação. Se a instituição tem vários sustentáculos, várias pernas para ficar em pé, essa pode ser uma perna nova. Sempre que uma delas encurtar, você tem mais um ponto de apoio para não cair. Passa a ser uma fonte de financiamento nova e própria, a instituição consegue ter um fundo desses com dinheiro próprio – recebido em doação, mas que passa a ser próprio. Ela passa a ter um pouco mais de autonomia.

A gente cita muito o caso da França, porque o ordenamento jurídico de lá é muito semelhante ao nosso e a situação era muito semelhante à nossa. Não tinha endowment, havia associações e fundações, igual ao Brasil. Em 2008, eles aprovaram uma lei que passou a prever o modelo de endowment como uma figura independente, intermediária, em termos de estrutura jurídica, entre a fundação e a associação. Um dos grandes apoiadores desse movimento foi o próprio governo federal, com o intuito de criar um endowment para o Louvre, que é um grande sugador de dinheiro público. A ideia é que esse fundo ajude a aumentar a capacidade do Louvre de, ao longo dos anos, se sustentar cada vez mais sozinho e depender menos de dinheiro público. Era de interesse do governo passar isso lá, e acredito que está sendo visto pelo nosso governo  como um projeto que é um esforço agora para um benefício a prazo.

IDIS: O governo federal foi receptivo à proposta de projeto de lei?

Felipe Sotto-Maior: O momento parece ótimo para avançar a proposta. Inclusive, o governo vem, há alguns anos, estudando o marco legal do terceiro setor, com apoio da sociedade civil. Tem um grupo de trabalho forte para isso. A questão da sustentabilidade e do financiamento são dois temas importantes no grupo, e que estão juntos dentro dos fundos patrimoniais. Quando a gente finalmente chegou a apresentar isso para a Lais de Figueiredo Lopes, que é assessora especial da Casa Civil, ela se mostrou muito interessada no projeto, muito a fim de levar isso para frente. Parece que o ministro-chefe Gilberto Carvalho já se mostrou interessado em fazer esse tema avançar. O momento parece bastante propício e o governo parece bastante interessado em fazer isso.

 

Governo Começa a analisar Proposta de Projeto de Lei Sobre Fundos Patrimoniais

A Secretaria-Geral da Presidência começou a analisar uma proposta de projeto de lei que regulamenta a criação e o funcionamento de fundos patrimoniais. O texto foi elaborado por um grupo de 90 pessoas criado pelo IDIS em novembro de 2013 e que inclui juristas, representantes de 35 organizações da sociedade civil, Ministério Público e universidades.

documento foi entregue em 4 de fevereiro, numa reunião que contou com o secretário-executivo da pasta, Diogo Sant’Ana, a assessora especial Laís de Figueiredo Lopes e, do lado da sociedade civil, Marcos Kisil e Paula Fabiani, respectivamente diretor presidente e diretora executiva do IDIS.

Os Fundos Patrimoniais Vinculados (FPVs) são um instrumento para tentar garantir a sustentabilidade financeira de organizações da sociedade civil, pois permite às entidades separarem um determinado patrimônio, aplicá-lo e beneficiarem-se dos lucros do investimento.

Já existem organizações brasileiras que instituíram fundos, como a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli). Não há, porém, uma figura jurídica que regule esse instrumento, e é isto que a proposta pretende criar.

O texto estipula que, na criação de tais fundos, sejam definidas regras para aplicar e resgatar os recursos. Também estabelece normas de governança e administração e prevê incentivos fiscais para doações aos FPVs.

Já existe um projeto de lei sobre fundos patrimoniais tramitando no Congresso Nacional. O PL 4.643/12, da deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), está na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Ele se limita aos fundos patrimoniais em entidades de pesquisa e instituições de ensino federais – inspirado em casos dos Estados Unidos, onde grandes organizações de ensino, como Harvard e Yale, são sustentadas por essas aplicações.

O grupo que elaborou a proposta entregue à Secretaria-Geral entende que os fundos são importantes na área da educação, mas avalia que é possível – mais ainda: desejável – aproveitar as potencialidades desse instrumento para a sustentabilidade de organizações da sociedade civil em geral.

Para se ter uma ideia da influência que pode ter a criação da figura jurídica dos fundos patrimoniais, basta lembrar do caso francês. A lei que os normatizou na França é de 2008. No ano seguinte, foram criadas cerca de 230 aplicações nesses moldes.

A Secretaria-Geral da Presidência tem se mostrado aberta a discutir os assuntos de interesse das organizações da sociedade civil. Foi no âmbito da pasta, por exemplo, que surgiu o projeto de lei do marco regulatório para as parcerias entre poder público e entidades sem fins lucrativos, que também tramita no Congresso. Na mesma linha, o ministro-chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, abriu o 2º Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, em outubro de 2013, reforçando seu compromisso com os temas de interesse do setor.

ISP Brasileiro Não Cubre Corte de Recursos Externos Para Entidades de Defensa de Direitos

A sustentabilidade financeira das organizações da sociedade civil (OSCs) é um dos temas mais urgentes do setor, em que os recursos quase sempre vão para projetos, não para manter a estrutura das entidades. A situação é mais grave entre as instituições de defesa de direitos, mais dependentes de recursos internacionais que estão minguando nos últimos anos. “Elas foram muito importantes na redemocratização, mas são as que mais estão sofrendo com mudanças na estrutura do financiamento no Brasil”, disse o consultor Domingos Armani, moderador da mesa “O que a sustentabilidade das organizações da sociedade civil tem a ver com o Investimento Social” – que ocorreu durante o 8º Congresso do Gife, em São Paulo, entre 19 e 21 de março.

“Não houve substituição do financiamento externo pelo investimento social brasileiro, salvo algumas exceções”, concordou outra debatedora, a diretora-executiva do IDIS, Paula Fabiani. A questão ganha contornos mais dramáticos quando se lembra que, como destacou Paula, nos últimos anos houve uma geração enorme de recursos no Brasil, em razão da expansão da economia.

Apenas uma pequena parte do investimento social privado vai para esse grupo de causas. “Essas organizações tratam de temas mais conflitivos, com os quais as empresas nem sempre têm facilidade de lidar – ainda mais por não ser fácil separar sua imagem da causa que apoiam”, comentou a diretora-executiva da Abong, Vera Masagão, também presente na mesa. Mas ela ponderou que às vezes o problema está no lado inverso: “OSCs têm preconceito contra empresas, achando que teriam de mudar sua causa” para obter os recursos.

Armani ressaltou que, por vezes, nem mesmo a opinião pública está do lado das organizações de defesa de direitos. “É difícil defender abertamente esses temas, assim como é difícil ao investimento social privado apoiar essas entidades.” Por isso, elas têm um trabalho mais agudo de “persuadir financiadores de que a defesa de direitos é fundamental para a democracia”. Paula citou alguns casos (raros) de apoio a esse tema no Brasil: Fundação Ford, Instituto Avon e o investimento social da família Lafer.

Desconfiança

Apesar de as organizações de defesa de direitos nem sempre contarem com a simpatia da opinião pública, a desconfiança não recai só sobre elas. “No mundo inteiro, a pesquisa Trust Barometer aponta que as OSCs são as instituições mais confiáveis; no Brasil, elas estão apenas em terceiro lugar, à frente apenas do governo, e atrás da mídia e das empresas”, apontou Vera. “Isso é reflexo de uma sociedade que não acredita em sua capacidade de se mobilizar em prol do interesse público”.

Paula também ressaltou a “falta de confiança nas OSCs” e lembrou que o IDIS faz um processo de validação de organizações para dar mais segurança a quem tem recursos para doar. “O investidor que pode financiar a infraestrutura das entidades não está fazendo isso”, constatou. Ela ainda lembrou que os investidores acabam preferindo operar suas iniciativas a apoiarem organizações “mais próximas de beneficiários e de problemas”.

Uma exceção é o Instituto C&A, cujo diretor-executivo, Paulo Castro, também participou do debate. A estratégia é lidar diretamente com as entidades. “Nós apoiamos organizações para que tenham êxito em sua missão de transformar o contexto social”, declarou. O instituto – ligada à gigante do varejo C&A, mas sem compromisso em se alinhar com os negócios da empresa – tem se notabilizado por financiar outras entidades e buscar iniciativas que fortaleçam o setor.

“Nós estamos falando sobre o fortalecimento da democracia brasileira, e uma sociedade civil vibrante requer organizações fortes para a promoção do interesse público”, concluiu Castro.

 

 

Falta de Prestação de Contas é Principal Motivo Para Cancelamento de Títulos de Utilidade Pública; Veja Como Evitar Problemas

Os títulos de Utilidade Pública Federal (UPFs), emitidos pelo Ministério da Justiça, funcionam como um reconhecimento do Governo Federal aos importantes serviços prestados por organizações da sociedade civil (OSCs). Além disso, atestam a credibilidade de uma OSC frente à sociedade e, em certos casos, são um pré-requisito para as entidades firmarem parcerias com o poder público. Se obter o UPF exige trabalho, perdê-lo é bem fácil.

Em 2013, mais de 600 organizações foram descadastradas. “O principal motivo foi elas terem deixado de prestar contas regularmente, em especial em relação aos últimos três anos”, afirma Fernanda Alves dos Santos, diretora do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação da Secretaria Nacional de Justiça, órgão do Ministério responsável pela concessão e controle dos UPFs.

Em entrevista ao site do IDIS, Fernanda falou sobre os procedimentos para obter o título, deu orientações para evitar que o pedido seja denegado e explicou como manter o certificado sem problemas. A boa notícia é que o site do Ministério da Justiça tem informações detalhadas para quem busca a certificação.

IDIS: O que é preciso para pleitear um título de Utilidade Pública Federal?

Fernanda Alves dos Santos: Há alguns requisitos, como a entidade estar formalmente constituída no país, ter personalidade jurídica, estar em funcionamento contínuo, ter existência de no mínimo três anos e não remunerar dirigentes nem distribuir lucros. Para a questão dos três anos de existência, é importante também um relatório bem consubstanciado das atividades que realizou e da contribuição que deu à sociedade nesse período. Também tem de mostrar que vem organizando toda a prestação de contas adequadamente, que publica despesas e receitas, seu balanço atual. Em essência, são esses os documentos.

IDIS: Se a organização não cumprir algum desses requisitos o pedido já é indeferido?

Fernanda Alves dos Santos: Se não apresentar um dos documentos, nós já não conseguimos verificar se a entidade cumpre todos os requisitos previstos na lei. Um ponto para o qual nós sempre chamamos atenção é para que a organização tenha muito cuidado na hora de preparar a documentação para solicitar o título, para que não falte nenhum documento. O maior motivo de indeferimento é a falta de documentação completa. Outro elemento que causa indeferimento é a necessidade de que no estatuto haja uma cláusula prevendo que não se remunere os dirigentes nem distribua lucros.

IDIS: Pode-se entregar depois o documento que faltou?

Fernanda Alves dos Santos: Não se abre a possibilidade de diligência. Tem a análise, e o processo é deferido ou não. A análise é ministerial, inclusive passa pelo próprio ministro. Depois, nós abrimos o prazo para recurso caso o processo seja indeferido. Nessa oportunidade, a entidade pode apresentar a documentação que falta. Nós sempre recomendamos que as organizações entrem no site do Ministério da Justiça, onde há um checklist, modelos de documentos, tudo para tentar fazer com que o pedido seja realizado da forma mais completa possível. Se surgirem dúvidas sobre como prover um documento, há modelos disponíveis no site, para evitar que haja uma denegação de pedido só porque a entidade esqueceu de apresentar alguma documentação necessária. Nós temos também um serviço de atendimento às organizações pelo e-mail sac.dejus@mj.gov.br.

IDIS: Quanto tempo demora o processo de análise até se obter o título?

Fernanda Alves dos Santos: Dentro da nossa unidade, uns 45 dias. A questão é que depois ele sobe para outras instâncias. Este processo leva um pouco mais de tempo porque passa por distintas autoridades. A média tem sido uns 60 dias, passando por toda a cadeia.

IDIS: O título tem de ser renovado?

Fernanda Alves dos Santos: Não há renovação. O que há é uma manutenção do título pela prestação de contas permanente. A organização tem a obrigação de prestar contas anualmente ao Ministério da Justiça. Isso é feito por meio do nosso cadastro nacional, porque essas informações são disponibilizadas para a sociedade monitorar, acompanhar e controlar. As organizações têm de entrar no sistema e prestar contas do exercício anterior. O que acontece é que se a entidade deixa de prestar contas por três anos consecutivos, isso abre a possibilidade de cassação do título. Este é o principal motivo de porque no ano passado nós cassamos títulos de mais de 600 organizações. O que nós fazemos anualmente é liberar, a partir do momento em que se realiza a prestação de contas, uma certidão de regularidade.

IDIS: O principal motivo de cancelamento é a não prestação de contas por três anos?

Fernanda Alves dos Santos: O principal é este, mas é claro que existem outros, como denúncias que são realizadas por meio de representações administrativas. Também verificamos se, depois de um determinado período, a entidade deixou de cumprir algum requisito para que o título seja concedido. E aí entram, em geral, a questão da remuneração de diretores, alguma mudança no estatuto, ou até mesmo alguma decisão judicial, que podem levar à cassação do título.

IDIS: Se a organização perde um período de prestação de contas, ela pode depois prestar essa conta atrasada e regularizar sua situação?

Fernanda Alves dos Santos: Vamos supor que ela vinha prestando contas até 2011. Em 2012, quando deveria ter prestado contas do ano anterior, não prestou. De pronto, ela não vai ter a certidão de regularidade. Agora, se deixa de prestar por três anos consecutivos, isso abre possibilidade para a cassação. A gente faz uma primeira notificação no Diário Oficial, não cassa de imediato. Se a entidade prestar contas neste período, não vamos abrir a cassação. Se mesmo notificada, ela não presta contas, nós abrimos a cassação. Cassado o título, a organização tem de entrar com um pedido para se qualificar de novo. Nós sempre analisamos a informação de que a organização já passou por um cancelamento. Ela vai solicitar uma nova análise e vamos tentar entender porque deixou de prestar contas, porque ficou paralisada. Este é um elemento que é considerado na nossa segunda análise. Tendo conseguido o título, não deixe de prestar contas sob pena de perdê-lo. Essa é uma atividade relevante, porque é quando a organização informa à sociedade, através do nosso cadastro, o que vem realizando, que atividades vem desenvolvendo. É uma informação que o Ministério da Justiça considera extremamente rica e relevante. Vamos também lançar, ainda neste semestre, um novo manual atualizado para organizações, pois nós desburocratizamos alguns procedimentos e atualizamos o texto.

IDIS: Que tipo de procedimento foi desburocratizado?

Fernanda Alves dos Santos: A própria prestação de contas. A organização tinha de imprimir a prestação, assinar e mandar para o Ministério da Justiça. Hoje, fazemos a análise direto no sistema. A organização só tem de enviar algo se por acaso detectarmos alguma informação que precisa ser conferida e validada. É um processo muito mais célere, seguro, e a gente tem inclusive recebido um retorno muito bom a partir dos resultados desses procedimentos, que foram implantados no ano passado.

Excesso de Controle Governamental Pode Estrangular Entidades Sociais, Diz Estudo

É inegável que os governos têm de dar parâmetros e traçar linhas de atuação do terceiro setor, mas sua ação pode ter resultados nocivos se criar regras muito rígidas – ainda que bem intencionadas –, estrangulando as iniciativas das organizações da sociedade civil (OSCs). A conclusão é do estudo “Building trust in charitable giving”, lançado mundialmente nesta semana.

Building Trust

estudo é parte do projeto “Future world giving”, da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), no Brasil representada pelo IDIS, e  busca fazer recomendações para garantir a expansão da atuação filantrópica. Além deste, serão publicados mais dois levantamentos: um sobre apoio à sociedade civil e outro sobre motivação para doação.

O primeiro texto da série alerta que alguns governos acreditam ser tarefa deles construir a confiança do terceiro setor – e, a partir dessa crença “equivocada”, criam sistemas regulatórios que demandam registros e prestações de conta em excesso com objetivo de garantir padrões mínimos de confiabilidade. “Isso é contraproducente”, afirma o estudo. “Ainda que os governos tenham o dever de assegurar que as organizações sem fins lucrativos sejam transparentes e prestem contas, não têm de ser os guardiões da sociedade civil”, acrescenta. “A confiança não é construída, é conquistada.”

Em países em que os cidadãos não confiam no poder público, quanto mais o governo controla a relação entre as organizações sem fins lucrativos e a sociedade civil, mais esta vê com maus olhos o processo e as próprias entidades.

Mas mesmo nos países em que as pessoas confiam nos governantes a intervenção pode ter consequências ruins. Tende-se acreditar que a regulação garanta a atuação adequada das entidades. “O efeito é que se torna impossível para as organizações da sociedade civil conquistar confiança. Assim, o sistema se fragiliza: exemplos isolados de má atuação resultam em crise de confiança que afeta o setor como um todo”, argumenta o texto.

Além disso, em países em desenvolvimento, a regulação de organizações da sociedade civil com base em padrões internacionais pode prejudicar estruturas informais de solidariedade já muito enraizadas nas comunidades. Para o estudo, o poder público deveria, nesses casos, ajudar a fortalecer os modelos tradicionais, que já contam com a confiança dos cidadãos, para fortalecer o investimento social privado.

Recomendações

Como o poder público deve atuar, então? O estudo faz recomendações em quatro temas. Em cada um, há três níveis de medidas – o primeiro deveria ser implementado por todos os países, o último refere-se a objetivos de mais longo prazo.

Registro:  é importante para que os governos compreendam melhor o tamanho e a ação da sociedade civil. Além disso, as OSCs se tornam mais confiáveis aos olhos do público quando passam por algum tipo de registro. O processo, porém, não pode ser tão complicado a ponto de desencorajar organizações menores. Além disso, convém que o governo ofereça treinamentos e serviços online para que possíveis criadores de entidade saibam como registrá-la e quais benefícios teria com isso. Por fim, o relatório recomenda que haja níveis de registros diversos para organizações com tamanhos diferentes – e as exigências devem aumentar na mesma medida em que crescem as entidades.

Regulação:  diz respeito diretamente à gestão e à accountability das OSCs. A recomendação básica, aqui, é que sejam exigidos relatórios periódicos na medida da capacidade e da habilidade de cada organização. Uma boa ideia pode ser a existência de protocolos diferenciados para pequenas organizações comunitárias. Como recomendação de longo prazo, sugere-se criar um banco de dados, acessado por todas as entidades reguladoras, de modo que as OSCs não tenham de se reportar para diversos organismos governamentais.

Atribuição de status: trata dos tipos formais de organizações sem fins lucrativos. Formas tradicionais de associações sem fins lucrativos da sociedade civil local devem ser legalmente reconhecidas, por meio de uma regulação simples. A sugestão de longo prazo é que se aloquem recursos para que organizações que trabalhem com o desenvolvimento da infraestrutura do setor filantrópico possam auxiliar as OSCs a se adequarem às normas regulatórias.

Regulação de organizações estrangeiras ou financiadas por capital externo: entidades nacionais devem ter liberdade de associar a parceiros estrangeiros. Devem, também, relatar ao poder público os benefícios dessa associação para o desenvolvimento da sociedade civil. Por fim, sugere-se que os governos permitam análises independentes de seus gastos com ajuda internacional.

Brasil

Segundo uma pesquisa de opinião citada no estudo da CAF (Edelman’s Trust Barometer), as organizações sem fins lucrativos são as instituições consideradas mais confiáveis pelos entrevistados (63% disseram confiar nelas). Em países com problemas de corrupção, no entanto, esse índice tende a cair, sobretudo quando OSCs estão envolvidas em escândalos. E a pesquisa da CAF usa um exemplo muito familiar para nós: o Brasil.

Os escândalos envolvendo as parcerias entre o setor público e organizações da sociedade civil afetaram a confiança geral no setor filantrópico, avalia o texto. Não por acaso, as OSCs brasileiras estão apenas em terceiro lugar na pesquisa local da Edelman, atrás da mídia e das empresas. Mais ainda, outra pesquisa da CAF, o World Giving Index, aponta que, desde 2007, a proporção de pessoas doando para OSCs caiu cinco pontos percentuais no país.

A publicação traz, inclusive, uma declaração de Paula Fabiani, diretora-executiva do IDIS, parceiro da CAF. “Nós gostaríamos que o governo falasse de maneira mais positiva sobre as entidades sem fins lucrativos e melhorasse a regulação, ao mesmo tempo em que trabalhasse com as organizações para melhorar sua governança”, disse Paula.

Leia o estudo na íntegra neste link:https://www.cafonline.org/PDF/Future-World-Giving.pdf.

Organizações Sofrem Com Alterações Confusas e Arbitrárias das Normas, Diz Procuradora

As organizações da sociedade civil (OSCs) têm sofrido com alterações constantes, confusas e arbitrárias nas regras para o setor. A avaliação é da procuradora e secretária adjunta da Câmara Municipal de São Paulo, Maria Nazaré Lins Barbosa, que também faz parte da Comissão de Terceiro Setor da OAB/SP.

“A legislação tributária brasileira não é simples, e a legislação incidente sobre o terceiro setor é particularmente complicada – também para os estudiosos”, diz ela em entrevista ao site do IDIS. E, em alguns aspectos, a situação tem piorado nos últimos anos. “Estamos assistindo a um estrangulamento por parte do governo.”

A procuradora, porém, não vê o quadro normativo para o investimento social privado de maneira exclusivamente pessimista. “É positiva, por exemplo, a liberdade de associação, ou a caracterização jurídica do trabalho voluntário”, diz Maria Nazaré.

Ela chamou a atenção para a responsabilidade das próprias organizações sociais no fortalecimento do setor: “É importante melhorar, de modo geral, a qualidade das informações prestadas pelas entidades acerca de seu próprio trabalho, e o acesso a elas pelo grande público”.

IDIS: Como você avalia a atual legislação brasileira para o terceiro setor?

Maria Nazaré Lins Barbosa: Vejo uma legislação favorável em alguns aspectos importantes, porém, confusa e arbitrária em outros. É positiva, por exemplo, a liberdade de associação, ou a caracterização jurídica do trabalho voluntário. Os aspectos mais problemáticos, a meu ver, estão nas certificações, na tributação e nos incentivos fiscais.

O que é preciso para avançar a legislação do setor? Há uma movimentação em torno dessa agenda? O governo está disposto a dialogar sobre o tema?

Para avançar, é importante melhorar, de modo geral, a qualidade das informações prestadas pelas entidades acerca de seu próprio trabalho, e o acesso a elas pelo grande público. A mídia poderia ajudar, oferecendo informações com mais qualidade, pois tende a generalizar o universo das ONGs sem a menor seletividade. Quanto ao ambiente político, lamento dizer que não vejo um momento favorável. Nos últimos anos, estamos assistindo a um estrangulamento por parte do governo. As instituições de educação, assistência e saúde – as áreas mais tradicionais – sofrem com alterações normativas veiculadas por decretos que, constantemente, alteram as regras, de modo confuso e arbitrário.

Incentivos fiscais são importantes para desenvolver o setor ou bastaria tirar eventuais barreiras normativas, como o ITCMD [Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos, um tributo estadual que incide sobre donativos para instituições sem fins lucrativos].

Sem dúvida, o incentivo às doações de pessoas físicas e jurídicas a entidades do terceiro setor mereceria uma abordagem mais favorável. A barreira do ITCMD é uma delas, mas não é a única a ser vencida. O incentivo à doação mediante recuperação de parcela do valor doado no pagamento do imposto de renda deveria ser estendido às pessoas físicas e ampliado para as empresas.

O que poderia normativamente ser feito para resolver um dos grandes problemas do setor, que é a sua sustentabilidade financeira?

O incentivo a doações de pessoas físicas, mediante a dedução de parte do valor doado no imposto de renda a pagar, é uma medida simples e importante. Muitas vezes, os investidores financiam projetos específicos, e impõem restrições para o emprego dos recursos doados em despesas de custeio ou de pessoal da entidade. A doação direcionada à organização da sociedade civil, e não a projetos específicos, pode favorecer a sua sustentabilidade, sem prejuízo da transparência na prestação de contas.

projeto do Marco Legal para o Terceiro Setor foi aprovado no Senado e agora vai para apreciação pela Câmara Federal  Ele representa um avanço importante para a área ou seria preciso fazer mais?

O projeto tem muitos méritos, pois traz uma proposta de um “estatuto” mais coerente de legislação.  No entanto, está longe de esgotar o debate. Há um estudo em andamento na FGV sobre um “simples social” para o terceiro setor, que é uma questão importante da agenda.

Você acha que os investidores sociais ainda precisam compreender melhor a legislação do setor? É possível manobrar com o que temos agora?

A legislação tributária brasileira não é simples, e a legislação incidente sobre o terceiro setor é particularmente complicada – também para os estudiosos. Mas há aspectos básicos que podem ser manobrados com segurança: os incentivos para doações de empresas, os incentivos para a área cultural, o acesso a informações sobre instituições sérias de pequeno, médio e grande porte.

 

 

Organizações da Sociedade Civil Precisam Estar Abertas a Mudanças

Já se tornou lugar-comum dizer que uma empresa precisa estar preparada para transformações. O guru da administração Peter Drucker até escreveu – há quase 20 anos! – um livro sobre isso: “Administrando em Tempos de Grandes Mudanças”. O clichê é inevitável também para organizações da sociedade civil (OSCs) – a ponto de o consultor Domingos Armani , especialista em terceiro setor, cravar: “Se uma entidade não passou por algum processo de mudança nos últimos dez anos, isso é muito sério e precisa ser pensado”.

O recado vale tanto para organizações jovens quanto para as quase centenárias. A Liga Solidária, por exemplo, completou 90 anos em 2013 e passou por muitas fases em sua atuação. Recentemente, no entanto, implantou mudanças profundas – até no nome: o novo substitui o tradicional Liga das Senhoras Católicas. “A mudança veio mais pelo ‘Senhoras’ do que pelo ‘Católicas’, pois vários homens que trabalhavam conosco estavam incomodados”, diz a vice-presidente da entidade, Rosalu Queiroz.

A alteração foi um dos pontos culminantes de um processo de modernização e rejuvenescimento da ONG, todo feito dentro da própria Liga Solidária. “Nós trabalhávamos com um público mais velho, e percebíamos que não atingíamos pessoas mais jovens, precisávamos renovar”, afirma Rosalu

Uma transformação dessa magnitude não vem sem custos. “Dividimos nosso público em três grupos: as pessoas com mais de 55 anos conhecem a Liga das Senhoras Católicas, mas não a Liga Solidária; as pessoas abaixo dos 25 conhecem a Liga Solidária, mas não a das Senhoras Católicas; o grupo do meio está perdido, não sabe se a Liga das Senhoras acabou, se há duas organizações ou se não há nenhuma, e isso prejudicou um pouco o processo de captação de recursos”, constata a vice-presidente.

O Instituto Alana é outra organização que sentiu impacto ao modificar seu foco. “Em algumas redes, estão falando que o Alana acabou”, afirma o diretor das áreas de comunicação e educação, Antonio Carneiro. O nome não mudou, mas a causa, sim. A OSC nasceu em 2002 para institucionalizar um trabalho social que os irmãos Ana Lúcia de Mattos Barretto Villela e Alfredo Egydio Arruda Villela Filho já faziam no Jardim Pantanal (zona leste de São Paulo). O objetivo, então, era ajudar a comunidade a superar seus desafios.

Um projeto de 2006, para combater o consumismo entre as crianças, começou a mudar os rumos do Alana. “O instituto descobriu a sua vocação e, em 2011, resolveu escrever que a sua missão é ‘honrar a criança’, uma escolha ligada a crenças e valores de seus fundadores”, lembra Carneiro. A cristalização dos direitos da criança como uma causa levou, porém, a um afastamento cada vez maior de uma atuação comunitária e gestora de projetos.

“Nós estamos diminuindo os projetos de intervenção, apesar de ainda atuarmos na zona leste, pois ficou mais clara a nossa vocação para oadvocacy relacionado aos direitos das crianças”, explica o diretor do Instituto Alana. A organização está em processo de reengenharia, o que implica passar alguns de seus projetos comunitários para parceiros do terceiro setor, do setor público ou mesmo da região.

O caso guarda semelhanças com outro bem conhecido no terceiro setor: o da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, que nasceu em 1965 com trabalho na área de pesquisa em leucemia (tendo firmado inúmeras parcerias com a USP) e, em 2007, passou a priorizar projetos ligados a desenvolvimento infantil – a ponto de virar uma referência nessa área.

Ajuda de fora

Em seu processo de mudança, a Liga Solidária contou com apoio da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC)para criar um novo desenho de gestão, que ainda está sendo implantado. O Instituto Alana não contou com a ajuda de terceiros em suas mudanças, mas Carneiro “recomenda o apoio externo” para o processo. Já Armani aconselha: “Alterações são muito difíceis de serem feitas sem apoio externo, pois quem está de fora vê melhor a integralidade da situação”.

Carneiro descreve a reengenharia do Alana como um momento “duro e dolorido”. “Tivemos de fazer várias rodadas internas de desabafo, pois há coisas que precisam ser desagregadas e deixadas para trás”. Da mesma forma, Roselu diz que, na Liga, “a mudança não está sendo fácil, pois, às vezes, existem resistências dos diretores mais antigos”. É normal que haja certa confusão entre os interesses das organizações e o das pessoas que dela fazem parte.

“É difícil discernir o institucional do pessoal. Às vezes, o melhor para a instituição não é o melhor para a trajetória de uma determinada pessoa, e discernir isso é difícil sem uma ajuda externa”, avalia Armani.

O Instituto Alana até tentou procurar uma consultoria para auxiliar na reengenharia, mas não achou nenhuma com o perfil que julgava adequado. “Fez falta”, admite Carneiro. Mesmo com um processo pouco tranquilo, foi possível definir claramente as quatro competências da organização: “fazer advocacy, gerir projetos, capacidade de se comunicar e conhecimento acumulado sobre assuntos relacionados a crianças”, enumera Carneiro.

Se teve ajuda da consultoria da PwC para um novo organograma administrativo, Rosalu ressalta a falta que fez uma campanha de comunicação após a entidade se tornar a Liga Solidária. “A mudança de nome precisa vir acompanhada de um planejamento de marketing, e infelizmente, não tínhamos dinheiro para fazer isso na época”, comenta.

Agora, no entanto, a campanha vai sair. “Nós ganhamos uma campanha de publicidade da agência Babel, que, utilizando o mote da violência doméstica, vai reforçar a marca da Liga Solidária”, conta Rosalu.

Por fim, Armani alerta que as organizações sociais precisam ter consciência de que o processo de mudança é permanente e que elas têm ciclos que uma hora ou outra têm de ser superados. Por isso, ele recomenda constantes exercícios de reflexão interna nas entidades e conclui: “Não querer mudar é suicídio”.

 

 

Brasil é um Dos Países Com Menos Apoio Governmental Para Organizações da Sociedade Civil, Diz Abong

Os escândalos dos repasses de recursos públicos para algumas organizações da sociedade civil (OSCs) levaram a uma tendência de criminalização de todo o setor. Trouxeram, ainda, a ideia de que muito dinheiro público estava indo para entidades sociais privadas. A realidade, no entanto, é outra, segundo a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong).

“Ao contrário do que se pensa, o Brasil é um dos países em que OSCs menos têm apoio governamental”, afirmou a diretora-executiva da entidade, Vera Masagão, durante a palestra “As parcerias entre Estado e organizações da sociedade civil e o marco regulatório”. O debate foi organizado pela Secretaria-Geral da Presidência da República durante a ONG Brasil, feira que aconteceu em São Paulo entre 28 e 30 de novembro. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, cujos resultados preliminares foram apresentados durante o evento, embasa a queixa da diretora da Abong. Entre 2008 e 2011, apenas 1% das entidades nacionais firmaram parcerias com governo. Além disso, cerca de metade dos convênios envolveram valores menores que R$ 200 mil.

Já pequeno, o apoio minguou após a eclosão dos escândalos. “O governo para o financiamento a todo o setor quando há um problema isolado”, reclamou Vera, observando que isso não acontece, por exemplo, quando se verificam desvios envolvendo empresas privadas. “É fundamental que entidades que atuem no interesse público recebam apoio do governo, algo que acontece em muitos lugares.”

O governo federal busca aprimorar sua relação com o terceiro setor, disse a assessora especial da Secretaria-Geral Lais de Figueiredo Lopes, na mesma palestra. “Nós desenvolvemos uma agenda com três eixos de trabalho interministerial: contratualização, sustentabilidade e certificação.” A presidente Dilma Rousseff, lembrou Lais, comprometeu-se com as demandas das OSCs, que estão sendo tocadas pelo ministro-chefe da Pasta, Gilberto de Carvalho.

Vera Masagão, no entanto, relativizou o comprometimento do governo federal: “Não há um compromisso orgânico. Precisamos de política de governo, não apenas de ações de alguns setores do governo”. Para a diretora da Abong, o poder público federal emite sinais divergentes ao, por um lado, discutir um marco legal para o setor e, por outro, paralisar convênios com as OSCs.

Legislação

O marco legal é peça importante dessa busca por uma relação melhor entre governo e terceiro setor. “A situação atual é de insegurança jurídica, com ausência de uma lei específica para a relação entre governo e OSCs e interpretações distintas das normas existentes por parte dos órgãos de controle”, descreveu Lais. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apresentada pelo pesquisador Félix Lopez, reforçou a ideia de que parte do problema está em quem controla os convênios entre poder estatal e OSCs. A pesquisa foi feita com gestores públicos, que admitiram que a burocracia de controle é muito formalista e emite interpretações divergentes sobre as normas. “O controle anula as potencialidades da sociedade civil, e a prestação de contas é o maior gargalo”, disse Lopes.

Até por isso, uma das propostas do projeto de lei para um novo marco regulatório é facilitar a prestação de contas. “Propomos um modelo mais simples para valores abaixo de R$ 600 mil, no qual se encaixa a grande maioria dos convênios”, afirmou Lais.

 

 

Pesquisa Analisa Sustentabilidade de ONGs Associadas à ABONG

Intitulado Sustentabilidade das ONGs no Brasil: acesso a recursos privados, a pesquisa da Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais (Abong) aponta como as organizações da sociedade civil a ela filiadas estão mantendo a sua sustentabilidade. Apesar de o levantamento qualitativo ter sido feito com 19 ONGs, o estudo indica um cenário em que os recursos da cooperação internacional estão cada vez mais diminuindo. A consequência é a procura por novas fontes financeiras, como os investidores sociais corporativos, familiares e individuais. A íntegra do estudo também está disponível no endereço www.abong.org.br.

Clique aqui para obter o arquivo

 

 

 

Elaboração de Projetos: O Que é e Por Que Realizar?

A elaboração de projetos já foi muito discutida no terceiro setor. No entanto, ainda é uma ferramenta pouco utilizada pela maioria das organizações da sociedade civil. Neste artigo, Carla Cabrera, gerente de projetos do IDIS, apresenta por que esse instrumento ainda é atual e deve ser realizado de forma coletiva.

“Projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades interrelacionadas e coordenadas, com o fim de alcançar objetivos específicos dentro dos limites de tempo e de orçamento dados”.
(APREMAVI, 1999 apud ONU, 1984)

 

 

Um projeto é uma ação organizada. É o resultado obtido ao se “projetar” no papel tudo o que é necessário para o desenvolvimento de um conjunto de atividades: quais são os objetivos, quais os meios para atingi-los, quais os recursos necessários, onde serão obtidos e como serão avaliados os resultados. O projeto social deve responder, de forma positiva, a uma ou mais necessidades implícitas na causa social sobre a qual a organização atua.

A elaboração de um documento do projeto ajuda a sistematizar esse trabalho em etapas a serem cumpridas, a compartilhar a imagem do que se quer alcançar, a identificar as principais deficiências, e a superar e a apontar possíveis falhas durante a execução das atividades previstas.

Quando um projeto é elaborado em grupo, o resultado é mais amplo e profundo do que se alguém o tivesse feito sozinho, pois a troca de ideias no processo gera outras propostas; há aprendizados e uma nova solução pode aparecer. Além disso, nos projetos elaborados de forma participativa, todas as ideias têm permissão para aparecer e são discutidas até se chegar a um consenso. Deste modo, cada participante se apropria do resultado final e tem clareza do que acontecerá, de que maneira e por que será feito da forma previamente discutida. A construção coletiva de um projeto promove o compromisso de todos os participantes, pois se eles ajudaram a idealizá-lo, são também corresponsáveis pelas ideias acordadas.

Por que falar em elaboração de projetos?

O tema da elaboração de projetos se disseminou no terceiro setor nos anos 90. Nessa época, as organizações da sociedade civil (OSCs) passaram a criar formas de sobrevivência em um contexto de concorrência por recursos e no qual a profissionalização e as mudanças sociais relevantes são exigidas pelos financiadores. Capacitações e cursos voltados ao planejamento estratégico, elaboração e avaliação de projetos foram criados por consultorias e pelos próprios financiadores. Assim, ferramentas tradicionalmente usadas pelo setor privado passaram a ser adaptadas à realidade das OSCs.

No entanto, o que se percebe atualmente é que uma “elite” de organizações conquistou a profissionalização. Poucas instituições expandiram sua rede de relações com órgãos governamentais e instituições privadas e conquistaram facilidades para acessar recursos. A maioria se manteve distante desse processo, sendo mantidas por meio de formas tradicionais de captação de recursos, como o apoio da comunidade local, realização de bazares, bingos, jantares e festas, além de doações de pessoas físicas.

Esse afastamento da profissionalização não seria ruim não fossem duas questões. Em primeiro lugar, as maneiras tradicionais de captação já não funcionam com tanta eficácia. As comunidades estão menos coesas e os doadores estão mais exigentes. Em uma recente conversa para a prospecção de parceiros para o programa social de um cliente do IDIS, a liderança de uma organização afirmou que a cada ano diminui o número de doadores e que as pessoas não doam mais como antigamente. A organização tem dificuldade de captar novos doadores – o que denota a mudança no perfil dessas pessoas e a forma como eles desejam atuar socialmente.

A captação, portanto, precisa mudar. Suas ferramentas devem ganhar novas roupagens. As organizações, por exemplo, devem comunicar seus resultados com mais freqüência e por meio de recursos mais modernos. Devem utilizar novos canais de comunicação para mais do que pedir recursos, mobilizar e envolver os doadores de formas inovadoras. Os bazares, por sua vez, podem ser modernizados por meio da produção e venda de peças com design contemporâneo, e do engajamento de parceiros como lojas e restaurantes que produzam eventos mais interessantes. Bons projetos também devem ser desenhados e apresentados para serem financiados pelo setor privado ou público.

Em segundo lugar, a aplicação de ferramentas como planejamento estratégico, elaboração e avaliação de projetos contribui para que as OSCs revejam sua forma de atuação, passando do assistencialismo a uma ação mais transformadora e impactante diante das questões sociais. Esses processos geram reflexões sobre o contexto em que a organização atua e sobre o seu papel diante dele, além de fomentar o aparecimento de soluções mais efetivas, que se transformam em escopo do projeto a ser elaborado.

Por isso, ainda que o tema da elaboração de projetos tenha sido exaustivamente trabalhado na área social, é preciso retomá-lo. Diversas organizações, principalmente as de base comunitária, ainda não se beneficiaram dessa ferramenta. Elas tendem a ganhar com essa discussão sobre sua forma de atuar e sobre como conquistar sua sustentabilidade financeira.

 

 

É Hora de Atualizar Nossa Visão de Mundo

Publicado originalmente na revista Alliance Brasil, o artigo de Ben Tuxworth, diretor de comunicações do Forum for the Future, defende que fundações e organizações da sociedade civil renovem sua forma de pensar e passem a enfrentar o desafio da sustentabilidade global. Para ele, é necessário rever as estratégias de doação, dando um enfoque conjunto para as questões ambientais, sociais e econômicas.

Parece que os cientistas e os grupos de pressão finalmente venceram a discussão: mesmo entre os que antes negavam nos EUA, existe uma aceitação relutante de que as mudanças climáticas pode não ser apenas mais um item em uma longa lista de causas duvidosas, mas sim o desafio definitivo para a humanidade no século 21. Como os grandes desafios humanitários e sociais do século passado, a falta de tratamento das mudanças climáticas minará inteiramente qualquer progresso social ou econômico de possamos ter. Essa é a maior de todas as falhas do mercado, e infelizmente ela se apresenta em uma época em que a economia baseada no mercado é a única que existe.

Certamente, portanto, os grandes fundos e fundações vão colocar todos os recursos nessa questão. Qual é a vantagem de se microgerenciar os resultados de grupos de desprovidos aqui e ali se a base da sobrevivência universal está ameaçada? É como mover as cadeiras do convés do Titanic.

No entanto, a mudança climática, como outros desafios da sustentabilidade global, não parece emergir como uma grande prioridade para muitas fundações. Ela realmente não se encaixa. Resultado do relacionamento entre pessoas, economia e natureza, ela não pode ser enquadrada como uma questão ambiental, uma vez que suas causas são tudo menos ambientais. O trabalho para tratá-la não se encaixa nas estruturas convencionais de financiamento e não obtém imediatamente o tipo de resultados que os filantropos, velhos e novos, estão cada vez mais buscando. Ao se envolverem no desafio da mudança climática, como em outras questões de sustentabilidade, as fundações precisam renovar sua forma de pensar, seus objetivos e suas estruturas.

Felizmente, existe uma estrutura teórica perfeitamente adequada para o pensamento sobre questões como a mudança climática. O desenvolvimento sustentável tem sido considerado ao longo de pelo menos vinte anos e um número cada vez maior de organizações o usam como uma forma de tratar simultaneamente de questões sociais, econômicas e ambientais.

Eu sugiro que as organizações filantrópicas precisam urgentemente atualizar sua visão de mundo para levar em conta os desafios da sustentabilidade global. Sem esse tipo de enfoque conjunto, as fundações correm diversos riscos. Entre eles está o risco de serem marginalizadas por novos filantropos que não têm uma agenda passada e podem se movimentar com mais rapidez, e o risco de ter suas estratégias de doações minadas pelas suas próprias estratégias de investimento.

No entanto, aplicar os princípios do desenvolvimento sustentável oferece também às fundações a chance de aprimorar radicalmente sua eficácia no tratamento das causas da desigualdade em sua origem, em vez de enfrentar apenas as suas conseqüências sociais.

A primeira etapa deve ser atualizar a missão e o objetivo dos fundos para levar em conta a mudança climática e outros desafios da sustentabilidade global. Essas novas prioridades precisam ser refletidas na revisão das estratégias de doação, com um enfoque conjunto para as questões ambientais, sociais e econômicas. A mudança climática é agora uma prioridade tão premente que defendo uma posição de financiamento que declare que “se este projeto não contribuir para aliviar a mudança climática, nós não o financiaremos”.

As estratégias de investimento também devem ser alinhadas. É relativamente fácil encontrar fundos que têm responsabilidade social e ambiental, e que competem bem com fundos “convencionais” (ou seja, irresponsáveis). Por que então não usá-los? Essa pode ser a maior alavanca que as fundações têm para tratar de seus objetivos filantrópicos. No mínimo, elas poderiam ter certeza de que não estariam levantando dinheiro para combater a pobreza em um país através da criação de pobreza em outro.

Com esses “fatores higiênicos” tratados, a próxima etapa seria alocar parcelas significativas de recursos para tratar explicitamente de estratégias de redução e adaptação para a mudança climática.

Penso que as fundações deveriam agregar seus esforços em uma estrutura compartilhada baseada nos princípios do desenvolvimento sustentável. O Woburn Place Collaborative, no Reino Unido, é um experimento interessante na união de agendas dessa maneira. Embora ainda não tenha tratado da urgência das questões de sustentabilidade, existe potencial para que um grupo de corpos financiadores tenha um enfoque compartilhado no qual mapeiem o desafio e, então, cada um faça contribuições distintas, com um efeito coletivo muito maior.

Com esses blocos construtivos posicionados, acredito que um setor filantrópico rejuvenescido pode ter um papel crucial de liderança em nossa resposta coletiva à mudança climática, iniciando o trabalho vital que nos permitirá encontrar um caminho para o progresso humano.
E-mail: b.tuxworth@forumforthefuture.org.uk.
Fonte:http://www.gife.org.br/alliancebrasil/

Princípios e Premissas de Programas de MRC de Sucesso

A partir de documentos e artigos produzidos pelo Business in The Community (BiTC) e pelo IDIS, os integrantes do Comitê de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) de Marketing Relacionado a Causas construíram dez princípios e premissas de um programa bem-sucedido de MRC, apresentados neste documento.

MRC

 

 

O Diálogo dos Investidores Sociais com as Organizações da Sociedade Civil

14/12/2006 – Escrito por Célia Schlithler, especialista em redes sociais e coordenadora da iniciativa de investimento social na comunidade do IDIS, o texto apresenta os desafios da relação entre investidores sociais e organizações sociais, apontando possíveis caminhos para melhorar o diálogo entre eles.

O investimento social que faz jus ao nome, ou seja, que gera dividendos sociais, é um fenômeno relativamente recente. Cerca de vinte anos atrás, as entidades sociais pediam doações às empresas por meio de “ofícios”. E a entrega do cheque encerrava o relacionamento.

Com o advento do terceiro setor, as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) tiveram de aprender a elaborar outros tipos de proposta. O investimento social privado realizado por empresas, institutos e fundações, por meio de parcerias e financiamento de projetos, tem gerado inúmeras oportunidades de capacitação, ampliação de atendimento, adequação de instalações e melhorias de equipamentos.

É fácil constatar que esses investimentos resultaram em gestões mais profissionais e em expressivas mudanças na qualidade do trabalho realizado com os beneficiários em várias OSCs. No entanto, outras conseqüências precisam ser discutidas e analisadas. Hoje, as OSCs precisam canalizar energias e recursos para a gestão da implementação dos projetos aprovados e a elaboração de novas propostas. É preciso dar conta de reuniões internas e externas, leitura de textos e livros, participação em capacitações, elaboração de relatórios…

Toda parceria tem intenção de provocar mudanças, porém, toda mudança precisa ser administrada porque gera resistências. Sempre haverá membros da organização social que relutam em mudar, sejam eles dirigentes, funcionários, voluntários ou familiares dos beneficiários. Em muitos casos, a equipe precisa ser modificada, porque as mudanças na linha de trabalho demandam novas competências, habilidades e atitudes. As tensões internas são inevitáveis e, por conseguinte, o atendimento pode ficar comprometido. De fato, algumas vezes parece que o beneficiário acaba ficando quase esquecido em meio a tanta coisa pra fazer e gerir.

Em workshop promovido dia 17 de outubro pelo Centro de Competência Mercosul para a Responsabilidade Social Empresarial – da Câmara Brasil-Alemanha – com a participação de 11 organizações sociais (de atendimento direto ou não, como é o caso do IDIS), as experiências com a realização de projetos sociais, em parceria ou com o apoio de empresas, foram amplamente debatidas.

Em termos de ganhos provenientes das parcerias foram mencionados “aprendizados e trocas riquíssimos”, tais como:

  • Fortalecimento organizacional, por meio de apoio à gestão, melhorias na infra-estrutura e divulgação da organização;
  • Solidificação de programas e viabilização de estratégias;
  • Desenvolvimento de novas metodologias sociais dissemináveis;
  • Formação e desenvolvimento de redes e de comunidades;
  • Aprendizado de negociação, relação profissional, planejamento, material adequado e funcional (documentos, relatórios, valorização de práticas).

Mas as dificuldades encontradas no relacionamento com os investidores também foram abordadas, destacando-se:

  • Impessoalidade e burocracia;
  • Excesso de demandas;
  • Limitada visão do trabalho social;
  • Pressão por resultados em curto prazo;
  • Valorização dos resultados quantitativos em detrimento dos qualitativos;
  • Falta de participação mais ativa no desenvolvimento do projeto;
  • Falta de apoio para a gestão de mudanças;
  • Exigência de auto-sustentabilidade;
  • Impossibilidade de incluir no orçamento recursos para a gestão do projeto (reuniões, elaboração de relatórios, leituras, etc.);
  • Ansiedades e expectativas (das empresas) em relação ao impacto dos projetos.

Os ganhos mencionados indicam que as parcerias das empresas com as OSCs já estão trazendo resultados muito consistentes. No entanto, as dificuldades advertem para a necessidade de se ampliar as oportunidades de diálogo entre financiadores e financiados, para que seu relacionamento amadureça. Como resultado desse amadurecimento, novas formas de parcerias podem ser estabelecidas para gerar o que é almejado por todos: impactos sociais significativos.

Esse diálogo pode acontecer de várias formas:

  • Deixar claro os critérios que as empresas utilizarão na hora de escolher os projetos a serem financiados, e ser transparente em relação a que tipo de atividade receberá ou não recursos;
  • Criar um processo de constante conversa entre o financiador e o financiado durante a implantação do projeto; e
  • Estabelecer um fórum para a troca de experiências, que reúna diversos financiadores e organizações sociais apoiadas.