Trilhando caminhos comuns para fomentar um ambiente favorável para Filantropia na América Latina e Caribe

Por Andrea Hanai*

São Paulo foi palco do segundo encontro regional da WINGS (Worldwide Initiatives for Grantmaker Support) para a América Latina e o Caribe, em outubro de 2019, com uma reunião de dois dias que visava promover aprendizado, construir capacidade regional e definir uma agenda conjunta para fomentar um ambiente regional mais favorável à filantropia. Como co-chair do Latin American and the Caribbean Affinity Group, tive a oportunidade de contribuir para a agenda da reunião e, neste momento, sinto-me lisonjeada por descrever minhas percepções acerca dos encontros e suas principais conclusões.

O encontro foi uma jornada envolvendo a compreensão mútua entre os participantes, a intenção de analisar de forma crítica o campo da filantropia na região e a humildade de questionarmos a nós mesmos, enquanto discutíamos os desafios (e oportunidades) de desenvolver conjuntamente um ambiente regional favorável para a filantropia.

Estes três aspectos – compreensão, intenção e humildade – de forma natural se tornaram os princípios para nosso trabalho coletivo, enunciado na Declaração Coletiva da LAC Affinity Group da WINGS, que convidamos a todos a ler e compartilhar.

Iniciamos a reunião compartilhando visões e buscando tendências em comum no campo do fomento à filantropia e cultura de doação na região. O grupo identificou que articular os três setores em torno do bem comum é uma responsabilidade que as organizações de suporte, como o IDIS, empreendem com crescente dificuldade e este tema foi recorrente em nossas discussões.

No entanto, se as parcerias intersetoriais vêm sendo já há algum tempo o mecanismo mais celebrado para a promoção do desenvolvimento sustentável, por que articulá-las representa um desafio tão grande na América Latina e Caribe?

Surpreendentemente, o grupo concluiu que esse desafio não está tão comumente (como pensaríamos) relacionado à falta de recursos ou soluções, mas sim aos aspectos relacionais de se tentar reunir parceiros tão diversos. As barreiras para a construção de parcerias intersetoriais incluem a dificuldade de combinar as motivações, as linguagens e as culturas dos diversos setores; a competição entre as partes com visões diferentes; o desafio de chegar a um acordo acerca de estratégias de gestão e monitoramento; os obstáculos perenes da política e; a complexidade crescente de encontrar agendas comuns.

Segundo os participantes, o avanço das parcerias intersetoriais requer das organizações de apoio esforços conscientes para a construção de relacionamentos com novos modelos de organizações da sociedade civil, redes, alianças, coalizões, etc. Avançar também demanda que cada setor compreenda seu próprio papel e, sem julgamentos prévios, entenda os papéis dos outros setores, percebendo as diferentes perspectivas e funções como fortalecedoras das parcerias.

Sobre este assunto, o grupo expressou preocupação em relação à falta de compreensão da sociedade civil na América Latina e Caribe acerca de seu próprio papel, o que enfraquece sua representatividade e engajamento nos meios emergentes de cooperação intersetorial.

O grupo concluiu que nós, como organizações de suporte, temos um papel fundamental na simplificação e difusão da narrativa sobre os benefícios sociais de uma sociedade civil ativa e engajada, ao mesmo tempo em que fortalecemos a cultura de doação e solidariedade na região. Vale mencionar que a reunião proporcionou aos participantes ferramentas teóricas e práticas de advocacy e comunicação, que certamente contribuirão para essa missão.

Em conclusão, reconhecendo e acolhendo os diversos perfis, necessidades, interesses e experiências de seus membros, a WINGS foi capaz de promover um encontro no qual essa diversidade, ao invés de representar uma dificuldade para o desenvolvimento de um trabalho coletivo, enriqueceu e aprofundou as conversas e produziu resultados coletivos significativos. Dessa forma, o segundo encontro regional da WINGS para a América Latina e o Caribe não só atingiu seus próprios objetivos, como também serviu como um ótimo exercício de construção de relacionamentos, que teremos que continuar a praticar em níveis locais e regionais, para assim fortalecermos um ambiente favorável para a prosperidade do nosso setor. Com compreensão, intenção e humildade.

*Andrea Hanai é Gerente de Projetos no IDIS

VI Fórum de Filantropos propõe olhar para os sucessos

Todos os brasileiros sabem que estamos atravessando um duro processo de depuração que, ainda que possa render frutos positivos no longo prazo, nos obriga a conviver com um longo período de crise. Exatamente devido ao cenário negativo é que o VI Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais propõe uma mudança de olhar: queremos abrir espaço para aqueles que, apesar das dificuldades, continuam investindo no Brasil, trabalhando duro e colhendo sucessos. Vamos provocar conversas inspiradoras, trocas de conhecimentos, e surgimento de novas ideias para seguir em frente.

Vamos conversar sobre como o sucesso é construído, avaliado e compreendido. Atingir escala é sinônimo de êxito para o investimento social? Ou sucesso só vem junto com políticas públicas? Bons resultados para um investidor familiar é o mesmo que para um investidor corporativo? Alinhamento ao negócio leva ao sucesso? Como perenizar as conquistas? Essas e outras perguntas norteiam a agenda da sexta edição do Fórum, promovido pelo IDIS e considerado o mais importante evento brasileiro voltado à comunidade filantrópica.

As palestras, mesas temáticas e diálogos vão abordar a questão do sucesso a partir das perspectivas do investidor comunitário, familiar e empresarial e também em diferentes abordagens. “Vamos falar de atuação para solucionar problemas sociais complexos, níveis de escala, avaliação de impacto, constituição de fundos patrimoniais e diversos outros assuntos”, explica a diretora de Comunicação e Relações Institucionais do IDIS, Andrea Wolffenbuttel. O Fórum vai levar casos de sucesso no investimento social no Brasil e na América Latina com o intuito de inspirar os filantropos e atores sociais do setor presentes no Fórum.

Até o momento, já estão confirmados os seguintes palestrantes:

– Alex Seibel, fundador da ARCAH, organização social que resgata moradores de rua por meio de soluções sistêmicas, baseadas na permacultura e na economia circular.
– Ana Maria Diniz, presidente do conselho do Instituto Península, braço social dos negócios de sua família e instituição mantenedora do Singularidades. É uma das fundadoras do movimento Todos Pela Educação e conselheira da ONG Parceiros da Educação.
– Luiz Alberto Oliveira, curador do Museu do Amanhã. Inaugurado em dezembro do ano passado, o Museu do Amanhã foca nas constantes mudanças vividas pela sociedade atual e nos novos caminhos para o futuro.
– Neca Setúbal, doutora em Psicologia da Educação pela PUC-SP e mestre em Ciência Política pela USP é fundadora da Fundação Tide Setubal e do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).
– Roberto Klabin, é vice-presidente da Fundação SOS Mata Atlântica.

E pelo segundo ano consecutivo os vencedores do Prêmio Empreendedor Social, da Folha de S. Paulo, apresentarão os seus empreendimentos exitosos: Carlos Pereira criou o Livox, um aplicativo de comunicação alternativa para tablets e smartphones que permite pessoas com deficiência se comunicarem e se alfabetizarem; Nina Valentini é uma das fundadoras do Instituto Arredondar que atua como uma forma de captação de doações individuais e distribuição para organizações sociais; Jonas Lessa e Lucas Corvacho, do negócio social Retalhar, que oferece serviço de descarte correto de resíduos têxteis.

O Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais é a versão brasileira do Global Philanthropy Forum (GPF). Tem como objetivos formar e fomentar uma comunidade de filantropos no Brasil, trazer novos conhecimentos sobre o tema e abrir um espaço para experiências e novas tendências do setor. O evento é fechado para 200 convidados e será realizado no dia 5 de outubro em São Paulo.

Acompanhe as novidades do Fórum em: idis.org.br/forum

IDIS realiza a 5º edição do Fórum de Filantropos e Investidores Sociais

idis-evento-66Ao som do quinteto de sopros do Instituto Baccarelli teve início o V Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais em São Paulo no último dia 6 de outubro. O evento reuniu cerca de 200 participantes entre eles a CEO do Global Philanthropy Forum, Jane Wales; o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra; o CEO da Charities Aid Foundation America, Ted Hart; o CEO da Fundação Lemann, Denis Mizne; a gerente executiva do Instituto Ayrton Senna, Inês Miskalo; o criador do #givingtuesday, Henry Timms; entre outros.

O tema escolhido nesta edição foi “A Iniciativa Individual e a Nova Economia” e as plenárias foram norteadas pelo desafio de repensar o atual modelo econômico em busca de alternativas mais inclusivas e ambientalmente sustentáveis. Foram discutidas questões como shared value, o papel da filantropia na agenda social do governo, novos negócios com impacto socioambiental positivo, cases inovadores de empreendedorismo social e o espírito olímpico e a responsabilidade individual.

Para a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, a escolha do tema foi estratégica. “Cada um de nós precisa se colocar à disposição do benefício de todos para encontrarmos saídas para questões como o esgotamento do modelo de consumo e a desigualdade social para que as crianças, que são nosso futuro, tenham seu desenvolvimento pleno assegurado”, explica.

A palestra de abertura, “As Fronteiras do Capitalismo” foi com o economista e escritor Eduardo Giannetti da Fonseca. “Estamos aqui para diminuir a distância entre o mundo ideal e o mundo real. Fazer filantropia é ter uma disposição para ajudar a transformar uma realidade”, disse na abertura dos trabalhos.

Na plenária “A filantropia como valor familiar”, foi anunciada a criação do The Giving Pledge Brasil pelo IDIS com o apoio do fundador da Cyrela, Elie Horn. O programa já existe nos Estados Unidos e foi criado em 2010 por Bill Gates e Warren Buffett para reunir bilionários dispostos a doar parte de suas fortunas ao longo da vida para investir em causas sociais. “Para nós, foi muito importante tornar pública o nosso compromisso com o Giving Pledge. Não quero morrer pobre de ações, temos que sempre fazer o bem. A gente só escolhe na vida entre fazer o bem e o mal”, disse o empresário durante a sessão. Ele e a esposa, Suzy Horn, falaram da experiência e a importância dos valores filantrópicos defendidos pela família. O fundador da Cyrela também anunciou a doação de R$ 2 milhões por ano durante 10 anos para a criação de uma campanha e realização de ações de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes.

Durante o Fórum, foi lançado o livro “Pesquisa Doação Brasil”, que traz dados inéditos e detalhados da pesquisa realizada pelo IDIS/Gallup e parceiros e inclui três análises distintas sobre os resultados que mostram o perfil do doador brasileiro. Outra publicação lançada foi o guia “Investimento de Impacto: uma introdução”. Com o apoio do Instituto Sabin, o IDIS fez a tradução e a publicação deste segundo volume da coleção “Seu Roteiro para Filantropia”, produzida originalmente pela Rockefeller Philantropy Advisors. As publicações estão disponíveis para download no site do IDIS.

O encerramento do Fórum contou com a participação da fundadora do Instituto Esporte & Educação, Ana Moser, e do presidente do Conselho da Fundação Gol de Letra, Raí Souza Vieira de Oliveira em uma plenária que convidou os participantes a refletirem sobre o espírito olímpico e a responsabilidade individual. O Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais é uma iniciativa conjunta do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e do Global Philanthropy Forum (GPF).

Confira o álbum de fotos do evento.

CAF na Bolsa de Valores de Londres

untitledA CAF (Charities Aid Foundation) fez sua estreia na Bolsa de Valores de Londres por meio de uma plataforma de varejo que emite títulos negociáveis para instituições filantrópicas e investidores interessados em criar projetos com benefícios sociais.

Apenas na última semana de março, a CAF Retail Charity Bond arrecadou 20 milhões de libras, mostrando que existe uma forte demanda por esse tipo de instrumento de financiamento, fazendo, inclusive, com que o período de oferta dos papéis terminasse antes do prazo previsto, que era o dia 6 de abril. O dinheiro arrecadado irá permitir a CAF expandir os serviços prestados para as instituições filantrópicas e seus doadores.

A CAF é uma fundação britânica que ajuda a conectar doadores à suas causas, tentando motivar a sociedade a doar de forma cada vez mais eficiente. Aqui no Brasil, o IDIS representa a CAF. “A CAF é mais uma vez pioneira ao captar recursos no mercado via um Bond, demostrando o potencial desse instrumento de dívida que é cada vez mais atraente para investidores que buscam impacto social também nas suas aplicações financeiras”, afirma a presidente do IDIS, Paula Fabiani.

Como se comportam doadores do Brasil e do mundo

Por Paula Fabiani

O tema das doações vem ganhando destaque no Brasil no último ano. A corajosa decisão de Elie Horn, dono da Cyrela, de se juntar ao movimento Giving Pledge e se comprometer a doar 60% (isso mesmo, 60%!) de sua fortuna em vida é realmente uma notícia positiva e um maravilhoso exemplo para indivíduos detentores de grandes fortunas no país. Entramos para o radar do mundo nesta questão como mostra o destaque dado ao Brasil no webinar ‘Analisando as tendências globais de doação’, realizado antes do Carnaval pela WINGS (Worldwide Initiative for Grantmaking Support), uma associação global de organizações que apoiam a filantropia no mundo.

Susan Pinkney, coordenadora de Pesquisas da CAF (Charities Aid Foundation), da Grã-Bretanha, destacou que, no mundo todo, há um crescimento do volume de doações para organizações sociais e das iniciativas individuais de ajuda a estranhos, enquanto o número de pessoas que realizam trabalho voluntário vem caindo. O aspecto cultural que mais chama a atenção é a forte presença dos países de língua inglesa entre os mais generosos do mundo. No ranking do World Giving Index (Índice Global de Solidariedade) aparecem cinco países de língua inglesa entre os seis primeiros colocados. Susan também mostrou que, nem sempre, uma economia rica implica em generosidade. Apenas cinco países do G20 (grupo que reúne os vinte países mais ricos do mundo) constam entre os 20 mais generosos, sendo Mianmar (a antiga Birmânia), país com PIB per capita de US$ 824 (14% do PIB per capita brasileiro) o primeiro colocado! Este país chegou ao topo por influência da religião budista, adotada pela grande maioria da população, que prega a doação como uma das obrigações dos fiéis. Mais de 90% da população realiza doações.

Maria Chertok, diretora da CAF Rússia, relatou que, em seu país não existe a tradição de doação para organizações sociais. Apesar do povo russo ser considerado generoso, o percentual de pessoas que contribuem para organizações sociais é muito baixo, cerca de 9%, contra uma média mundial de 31,5%. Ela explica que o grande obstáculo é a falta de confiança nas instituições e, por isso, os russos preferem doar diretamente para os necessitados, em vez fazê-lo para organizações sociais. Mesmo assim, o volume de doação vem crescendo, ainda que lentamente, e Maria acredita que, na medida em que a população tenha mais acesso a informações sobre os resultados dos projetos e trabalhos das ONGs, esse quadro pode mudar.

Mas e o Brasil? Infelizmente, as informações sobre nosso país não são positivas. O Brasil vem caindo sistematicamente no ranking de países mais solidários e isso, talvez, possa ser atribuído à crise política iniciada há cerca de três anos, fazendo com que os brasileiros temam pelo futuro e passem a pensar mais em si próprios. O único ponto em que o Brasil vem registrando crescimento é na ajuda a estranhos, o que demonstra que, apesar de doar menos recursos financeiros, os brasileiros continuam sensíveis quando percebem alguém em necessidade.

Neste cenário, o que é possível fazer? Em primeiro lugar, tentar entender melhor a nossa realidade. O IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), em parceria com organizações da sociedade civil, está conduzindo uma pesquisa, em escala nacional, para mapear o comportamento do brasileiro em relação à doação. Os resultados desse levantamento vão servir de base para que todos os interessados possam traçar estratégias para promover a cultura de doação no Brasil!

Paula Fabiani é diretora-presidente do IDIS (Instituto pelo Desenvolvimento do Investimento Social) – www.idis.org.br

Artigo publicado na Folha de S. Paulo em fevereiro de 2016

Etapa qualitativa da Pesquisa Doação Brasil aponta tendências

Os brasileiros demonstram menos sensibilidade às causas ambientais. Esta é uma das tendências que indicam os resultados preliminares de uma pesquisa que pretende traçar o perfil do doador brasileiro. Em sua primeira etapa, com dez grupos focais de três cidades distintas, os participantes demonstraram maior simpatia pelas causas envolvendo crianças, idosos, educação, saúde e geração de emprego. Temas como dependência química, proteção aos animas e apoio ao esporte foram recebidos de formas bem diversas. Enquanto alguns participantes rejeitaram fortemente, outros, em sua maioria os que já tiveram algum contato com esse tipo de problema, demonstraram grande apoio. A surpresa maior foi o baixo entusiasmo pelas causas ambientais, exceto pelo grupo mais jovem, os demais não listaram a defesa do meio ambiente como uma de suas causas favoritas. Mas todas essas tendências ainda serão checadas e confirmadas na etapa qualitativa da pesquisa.

 

 

A Pesquisa Doação Brasil é uma iniciativa coordenada pelo IDIS, em parceria com um grupo de especialistas e atores relevantes para o campo da cultura de doação no Brasil. Uma sequência de encontros de trabalho foi realizada envolvendo representantes de organizações da sociedade civil, universidades, mídia, fundações e redes e associações de classe ligadas aos temas de cultura de doação e captação de recursos.

O resultado final da pesquisa será difundido abertamente para todos os interessados, com intuito de fortalecer a cultura de doação no país e contribuir na capacitação da sociedade na captação de recursos.

 

Brasil perde 15 posições no ranking mundial de solidariedade

O estudo anual World Giving Index, da Charities Aid Foundation (CAF), mostra que cada vez menos brasileiros doam dinheiro ou tempo de voluntariado para ajudar boas causas, apesar da quantidade de brasileiros que ajudam pessoas desconhecidas ter registrado um discreto crescimento em 2014, subindo de 40% em 2013 para 41% no ano passado, o que representa um acréscimo de cerca de 2,5 milhões de pessoas.

O World Giving Index, divulgado no Brasil pelo IDIS, é um estudo anual sobre o comportamento global de solidariedade baseado em pesquisas realizadas em 145 países, analisando três indicadores de doação: a porcentagem de pessoas que fizeram doações em dinheiro, dedicaram tempo de voluntariado e ajudaram um desconhecido no último mês anterior à pesquisa. O Brasil caiu 15 posições no índice, saindo da 90ª para a 105ª posição.

Gráfico WGI 2015 Brasil

Para a presidente do IDIS, Paula Fabiani, ainda há um longo caminho a percorrer até que a doação no Brasil alcance níveis de países similares ao nosso. “Em virtude da situação econômica, é provável que as pessoas sintam que têm menos tempo e dinheiro para doar”, diz Paula.

Em 2014, uma em cada cinco pessoas (20%) afirmou ter doado dinheiro no Brasil. Isso é menos do que os 22% de 2013 e é a porcentagem mais baixa registrada nos últimos seis anos. Os brasileiros com 50 anos ou mais continuam sendo os mais propensos a doar, apesar do segmento ter registrado queda no ano passado. Já entre os mais jovens, que são o grupo menos propenso a doar, o percentual de doadores está aumentando.

Clique aqui para acessar a íntegra do relatório World Giving Index 2014-15.

Tendência: projetos sociais intergeracionais

Crédito: Sheriff Salama

Foto: Sheriff Salama

Nem só crianças, nem só idosos. Há algum tempo as organizações sociais vêm percebendo que o impacto é maior e mais rápido quando os projetos sociais envolvem diferentes gerações. Nessa semana, a Fundação Michael Eisner, criada pelo antigo CEO da Walt Disney Company, anunciou que vai dedicar todo o seu orçamento anual para doações – algo em torno de US$ 8 milhões – para projetos que reúnam pessoas jovens e velhas em busca da solução para problemas sociais.

Quando foi estabelecida, em 1996, a Fundação destinava todo o seu investimento a projetos voltados às crianças, um foco alinhado com a trajetória profissional do fundador. Porém, com o passar dos anos, o próprio Michael Eisner se deu conta que a interação entre diferentes gerações é rica para ambos os lados e traz resultados concretos.

“Não estamos em busca de projetos que atendam jovens e idosos. Queremos projetos nos quais os recursos próprios de cada geração atendam à outra e as duas se beneficiem”, esclarece Trent Stamp, executivo da Fundação Michael Eisner.

Um dos projetos intergeracionais de maior sucesso nos EUA foi criado pela Jumpstart for Young Children, uma organização da Califórnia, que capacitou idosos para que cuidassem, durante alguns períodos por semana, de crianças em creches e pré-escolas em regiões de vulnerabilidade social. A iniciativa diminuiu a demanda de mão-de-obra nas instituições de educação, melhorou a qualidade de vida dos idosos, que se sentiram úteis no trabalho e, de quebra, deu avôs e avós para muitas crianças que vivem em núcleos familiares desestruturados. Tudo isso com um investimento bem menor do que seria necessário para desenvolver um projeto de Educação Infantil e outro de apoio aos idosos.

Leia mais na notícia do The Chronicle of Philanthropy clicando aqui.

Conheça 15 obras fundamentais para quem trabalha com Investimento Social Privado

A consolidação do Investimento Social Privado (ISP), no Brasil e no mundo, já resultou em inúmeras obras sobre o assunto. A bibliografia na área se ramifica em abordagens distintas – de compêndios técnicos a textos teóricos, brasileiros e estrangeiros. Mas o que não se pode deixar de ler sobre o tema?

O site do IDIS pediu a alguns dos especialistas brasileiros no campo que indicassem as obras que consideram fundamentais, explicando por que são importantes. O resultado foi bem diverso: nenhum livro ou relatório foi citado duas vezes. Veja abaixo a lista completa.

 

Anna Maria PelianoAnna Maria Peliano, pesquisadora do IPEA, coordenadora da pesquisa Benchmark do Investimento Social Corporativo (BISC)

Giving in Numbers 2014 Corporate Giving Standard, Committee Encourage Corporate Philanthropy. Disponível aqui.

Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC) 2014, Comunitas. Disponível aqui.

Las Fundaciones Empresariales en Colombia: una aproximación a su estructura y dinâmicas, Fundación Promigas e Fundación DIS. Disponível aqui.

As três pesquisas focalizam as características da participação das empresas e das suas relações com a sociedade e buscam oferecer ao leitor um conhecimento prático sobre o tema. A primeira analisa o comportamento das empresas nos Estados Unidos; a segunda, no Brasil; e a terceira, na Colômbia. Os gestores sociais podem extrair elementos para entender o contexto de sua atuação, comparar suas atividades com as de seus pares e conhecer avanços, dificuldades e tendências que se apresentam para os Investimentos Sociais Privados.

Sustentabilidade das ONGs no Brasil : acesso a recursos privados, Associação Brasileira de ONGs (Abong). Disponível aqui.

Corporate-NGO Partnerships Barometer 2014, C&E Advisory Services Limited. Disponível aqui.

Na origem dos Investimentos Sociais Privados, destaca-se a preocupação com as questões relacionadas à reputação, à legitimidade e à aproximação das empresas com a sociedade. As pesquisas exploram o tema de forma bastante objetiva. A primeira, da Associação Brasileira de ONGs (Abong), aborda a percepção das suas associadas sobre a experiência de um trabalho conjunto com as empresas. A segunda é uma pesquisa anual realizada na Inglaterra e capta não só a percepção das ONGs sobre essas relações, mas também a das empresas.

 

Marcos Flávio Azzi, fundador do Instituto AzziMarcos Azzi

A Cabeça do Brasileiro, de Antônio Carlos Almeida, Ed. Record. Sinopse aqui.

Com perguntas bem elaboradas e boas tabelas, consegue primorosamente apresentar como nós brasileiros somos diferentes em termos etários, regionais, culturais, sociais

O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro. Companhia das Letras. Sinopse e aquisição aqui.

Obra-prima que conta a história da formação de nossa sociedade ao longo dos anos, facilitando o entendimento da razão de nossas diferenças.

The Heart of Altruism, de Kristen Renwick Monroe, Princeton University Press. Sinopse e aquisição aqui.

Toda a cultura de doação ou a ausência dela passa pelo conhecimento das razões de nos colocarmos ou não no lugar do outro, sentirmos as suas dores. Se após isso agirmos, surge a filantropia. Digo aqui o ato voluntário, recorrente e sem visar a nenhuma consequência.

 

Dr. MarcosMarcos Kisil, consultor estratégico do IDIS

The Foundation: a great American secret, de Joel Fleishman, Public Affairs. Sinopse e aquisição aqui.

O livro faz uma abordagem histórica da filantropia norte-americana e análises de casos práticos. Consegue equilibrar bem uma visão positiva das fundações com críticas construtivas a seu funcionamento, mostrando todo o potencial transformativo que o Investimento Social Privado pode ter.

Money Well Spent: a strategic plan for smart philanthropy, de Paul Brest e Hal Harvey, Bloomberg Press. Aquisição aqui.

Tão importante quanto ter recursos é saber usá-los bem. Este livro é um guia inestimável para criar um plano estratégico que possibilite maximizar os resultados do ISP.

Strategic Giving: the art and science of philanthropy, de Peter Frumkin, University of Chicago Press Books. Sinopse aqui.

Outro livro que aborda com profundidade a importância de se fazer um Investimento Social Privado estratégico. Além disso, traz uma série de conceitos que ajudam muito a entender o campo.

 

Paulo Castro, diretor-executivo do Instituto C&APaulo de Castro

Abertura: desmitificando a transparência de Investidores Sociais, Grant Craft/Gife. Disponível aqui.

A publicação apresenta como e por que os Investidores Sociais podem ser mais transparentes e traz sugestões de caminhos a serem seguidos e ferramentas de apoio.

Financiando a organização de comunidades: a mudança social por meio da participação cidadã, Grant Craft/Gife. Disponível aqui.

Demonstra as vantagens do ISP na organização de pessoas e no estabelecimento de boas parcerias para o desenvolvimento e fortalecimento das sociedades

O momento de os Investidores Sociais seguirem em frente, Grant Craft/Gife. Disponível aqui.

Apresenta as estratégias que Investidores Sociais desenvolvem para fazer uma saída responsável ao encerrarem operações ou finalizarem programas. Mostra a importância de o Investidor Social deixar um legado, de se investir em programas que gerem transformação e autonomia dos beneficiários e do reconhecimento coletivo dessas transformações.

Desenvolvimento de Iniciativas Sociais: da visão inspiradora à ação transformadora, de Christopher Schaefer e Tyno Voors. Ed. Antroposófica/Instituto Fonte. Sinopse e aquisição aqui.

Indicado para aqueles Investidores Sociais Privados que trabalham em parceria com outros e, em especial, com Organizações da Sociedade Civil. O livro propõe o desenvolvimento de instituições em coerência com valores humanos e éticos e com a concretização de iniciativas para uma vida socioeconômica sustentável.

Fundação transforma segurança na internet em causa filantrópica

O desenvolvimento do automóvel revolucionou o transporte e as cidades, mas exigiu a criação de inúmeras regras para tornar o trânsito mais seguro. Do mesmo modo, a internet está pondo de cabeça para baixo muitos meio de produção e hábitos de consumo, e igualmente requer medidas para garantir a privacidade e a segurança das informações.

Foi com essa premissa que a The William and Flora Hewlett Foundation trouxe para o terceiro setor uma preocupação antes restrita a governos e empresas. Criou uma iniciativa para estudar como proteger a intimidade e os dados nos meios on-line. Por isso, foi considerada uma das dez organizações sem fins lucrativos mais inovadoras de 2015 pela revista norte-americana Fast Company.

A entidade decidiu dedicar-se ao assunto por avaliar que os setores público e privado atuam no tema de forma fragmentada e têm dificuldade de olhar para além de seus problemas e interesses imediatos. A Fundação Hewlett comprometeu-se a investir US$ 65 milhões para conceber soluções bem planejadas e de longo prazo para as questões trazidas pela popularização dos meios eletrônicos e da internet, combinando esforços dos três setores. Mais que isso, o objetivo é catalisar novos investimentos, ajudando a ampliar a rede de especialistas no tema.

Com brincadeira na internet, ONG arrecadou US$ 100 milhões em 30 dias

Uma campanha do terceiro setor espalhar-se rapidamente pela internet (“viralizar”) é incomum. Disseminar-se com apoio de celebridades do primeiro escalão – tão diversas como Leonardo DiCaprio, Lady Gaga e Cristiano Ronaldo – é um feito histórico. Não foi por acaso que a ALS Association, responsável pela proeza, está entre as dez iniciativas mais inovadoras do terceiro setor em 2015, segundo a revista de negócios Fast Company.

A ideia era insólita: usar uma brincadeira que rodava a internet – virar um balde de água com gelo sobre a própria cabeça – com objetivo de chamar a atenção para uma doença chamada esclerose lateral amiotrófica (ALS, na sigla em inglês). E convencer as personalidades a fazerem parte da farra, divulgando a entidade.

Deu certo. Muito certo. Atores como Matt Damon, esportistas como o tenista Novak Djokovic e cantoras como Katy Perry divulgaram, nas redes sociais, vídeos em que cumpriam o que ficou conhecido como “desafio do balde de gelo”.

Cada participante, depois de tomar o banho de água gelada, era convidado a intimar mais três pessoas a fazerem o mesmo, ou doar US$ 100 para o combate à doença. E foi justamente esse caráter de desafio que garantiu o grande sucesso da brincadeira. Com isso, a organização, que financia pesquisas e tratamentos para os portadores daquele tipo de esclerose, recebeu US$ 100 milhões em menos de 30 dias.

A iniciativa se tornou uma febre também no Brasil, contando com a participação de nomes como Neymar, Ivete Sangalo, Galvão Bueno, Reynaldo Gianecchini e Eduardo Suplicy.

Presidente do IDIS participa de debate sobre Primeira Infância na Dinamarca

Paula Fabiani, presidente do IDIS, participará de um debate sobre Financiamento de Impacto para o Desenvolvimento da Primeira Infância em Billund, Dinamarca. O evento é organizado pelo Center for Universal Education (organização voltada para a melhoria na qualidade da educação oferecida nos países em desenvolvimento).

O objetivo é reunir um grupo diversificado de participantes a fim de debater sobre o potencial de Financiamentos de Impacto Sociais e de Desenvolvimento (Social Bonds) no combate aos problemas de países em desenvolvimento, focados especialmente na Primeira Infância.

Fabiani apresentará o projeto Primeira Infância Ribeirinha (PIR), conduzido no Amazonas pelo IDIS em conjunto com a Secretaria de Saúde do Amazonas (SUSAM) e a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e financiamento da Fundação Bernard van Leer. O PIR criou um modelo de promoção ao desenvolvimento na Primeira Infância por meio da visita domiciliar do agente comunitário de saúde, e agora, após realização de piloto em 19 comunidades ribeirinhas pertencentes à Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, procura transpor o modelo para todo o estado do Amazonas por meio da criação de uma política pública.

Programas de Desenvolvimento da Primeira Infância cobrem serviços oferecidos durante a gravidez e os primeiros anos de vida das crianças nas áreas de saúde, nutrição, orientação a pais e proteção social. Tais projetos são extremamente efetivos porque seus impactos favoráveis se estendem por toda a vida adulta, quando bem implementados.

Para saber mais sobre o PIR, assista ao vídeo.

Confiança dos brasileiros nas organizações sociais cresce, e elas voltam ao segundo lugar no ranking

Apesar de terem ocorrido em 2011, os escândalos envolvendo convênios entre organizações não governamentais e poder público tiveram efeito duradouro na opinião pública brasileira, que generalizou os maus feitos de poucos e passou a desconfiar de todo o setor. A boa notícia é que a tendência parece ter se revertido: a confiança nas organizações da sociedade civil voltou a crescer, e elas novamente são a segunda instituição mais confiável do país.

A constatação é da edição 2015 da pesquisa Trust Barometer, da agência de pesquisa de tendências Edelman Significa. O estudo avalia a confiança em quatro instituições: governos, empresas, mídia e ONGs. Desde 2011, estas amargavam um terceiro lugar, atrás da mídia e das empresas – no resto do mundo, sempre estiveram no topo.

“Foi um período difícil, justamente por conta das poucas instituições que serviram como dutos de dinheiro público”, diz o jornalista Rodolfo Araújo, diretor de Pesquisa, Conhecimento e Inovação da Edelman. Ele menciona mais um item que jogou contra o setor: “Em 2010, ocorreu um pico na confiança dos brasileiros e, ao declínio natural, juntaram-se os escândalos”.

Depois de ficar na terceira posição também nas pesquisas referentes a 2012 e 2013, as ONGs finalmente passaram para o segundo lugar em 2014, resultado de um ganho de oito pontos percentuais em relação ao ano anterior. Elas foram citadas como confiáveis por 70% dos entrevistados, pouco abaixo das empresas, que mantiveram a liderança, com 73%. A mídia perdeu sete pontos percentuais e registrou 56%. Já os governos ficaram na lanterna (37%).

As ONGs, segundo Araújo, se beneficiaram do fato de não terem sido registrados novos escândalos desde 2011. “O efeito memória se dissipou, e elas recuperaram a credibilidade por não ter aparecido nada mais contra elas”.

O segundo lugar, lembra Araújo, não é resultado apenas da melhoria na percepção sobre o terceiro setor. A desconfiança em outras duas instituições caiu. “A mídia foi afetada pelo excesso de notícias negativas dadas, enquanto, em outro momento, elas eram equilibradas com notícias positivas. Houve também um desapontamento da sociedade com os governos em relação a questões públicas.”

As organizações da sociedade civil não devem, portanto, acomodar-se com essa situação. “As ONGs precisam ficar atentas para o cumprimento das expectativas da sociedade. Há desafios de eficácia, gestão e profissionalização a serem enfrentados”, comenta o diretor.

Ao colocar as empresas e as ONGs no topo da confiança, a sociedade também está esperando uma ação conjunta desses dois atores, interpreta Araújo. “Os dois estão dividindo responsabilidade, e as organizações da sociedade civil deveriam atuar em parcerias com as empresas.”

Ele alerta que as ONGs continuam com o mesmo problema de comunicação que as impediram de reagir enquanto setor durante os escândalos de 2011. “Elas têm de aparecer mais para o público, e não ficar falando apenas para os iniciados, até para reverter certos estereótipos. Isso passa menos pelas OSCs individualmente e mais por falarem coletivamente.”

Forbes-Insight divulga as principais tendências do investimento social mundial

De acordo com estudo 2015 BNP Paribas Individual Philanthropy Index, encomendado pela Forbes-Insight, braço da famosa revista norte-americana, as cinco principais tendências do investimento social mundial em 2015 são as seguintes.

  1. Impact Investment (apontado por 52% dos entrevistados)
  2. Filantropia colaborativa (51%)
  3. Compartilhamento de dados, práticas e expertises (51%)
  4. Atacar as raízes dos problemas sociais (48%)
  5. Venture philanthropy (45%)

A colaboração e o compartilhamento  estão entre as cinco tendências para o investimento social privado neste ano, citadas por 51% dos entrevistados. Ambas, analisa a Forbes, refletem o ambiente de fragmentação do setor, com pulverização de um grande número de organizações.

Podem ser resumidas numa frase do executivo-chefe Gerry Salole, do European Foundation Centre, citada pela publicação: “Não tenho problema com o grande número de organizações, desde que elas conversem umas com as outras”.

Desde 2012, o IDIS tem tido um papel relevante no incentivo desse diálogo com a realização do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais. O evento anual abre espaço para troca de experiências, discussão de temas pertinentes ao campo e exposição de boas práticas do setor.

Um pouco à frente de colaboração e compartilhamento, a sondagem apontou o investimento de impacto como a tendência mais citada pelos filantropos (52%). Esta é outra área que também tem se expandido no Brasil – e foi um dos temas tratados no primeiro fórum organizado pelo IDIS.

Em quarto lugar, 48% dos entrevistados apontaram a tendência de lidar com as raízes dos problemas, em vez de tratar apenas das consequências. Uma abordagem convencional sobre o sem-teto, por exemplo, seria “fornecer serviços diretos, como contribuir com abrigos ou programas de alimentação”, diz a revista. Já um enfoque de “mudança sistêmica” detectaria o que está levando as pessoas a morar na rua e o que seria preciso fazer para que isso não acontecesse mais.

A quinta tendência, indicada por 45% dos filantropos, é a venture philanthropy, que une os objetivos sociais da filantropia com a estrutura de capital típica dos venture investments, no qual o investidor social se torna sócio de uma parte do projeto. “Este tipo de filantropia pode ser muito efetiva em certas áreas intensivas em capital, como as pesquisas médicas”, afirma a Forbes.

Novo consumidor espera engajamento social também de pequenas empresas

Cada vez mais, o investimento social privado deixa de ser apenas uma opção nas grandes empresas e passa a ser necessidade. Os consumidores, sobretudo os mais jovens, esperam que as companhias se engajem em iniciativas que realmente resultem em melhorias socioeconômicas, aponta uma pesquisa da consultoria inglesa Trendwatching. Em um relatório sobre as dez principais tendências de consumo para 2015, a empresa colocou o “branded government” entre elas.

“Atuar nessa área é agir quase como governo, perceber onde o poder público não está atuando e fazer parcerias para ajudar as pessoas”, diz a pesquisadora da Trendwatching no Brasil, Rebeca de Moraes. Mas tais mudanças, frisa o estudo, têm de ser palpáveis.

O estudo menciona dados de um levantamento do MSLGroup – que trabalha com relações públicas – segundo os quais 73% das pessoas nascidas entre 1980 e 2000 (geração chamada de millennials) “não acreditam que o governo consiga resolver sozinho todos os problemas, e 83% deles querem que as empresas se envolvam mais”.

A expectativa de que o setor privado participe mais de questões socioeconômicas de certa forma reflete o fato de que as companhias e as organizações da sociedade civil são mais bem vistas que os governos em pesquisas que captam credibilidade da população. Por exemplo: no Trust Barometer de 2014, índice global da consultoria de relações públicas Edelman Significa, as ONGs ficaram em primeiro lugar, seguidas das empresas e da mídia. O setor público ficou em quarto e último.

No Brasil, segundo a mesma pesquisa, as empresas gozam de ainda mais confiança (primeiro lugar), à frente da mídia e das organizações da sociedade civil. O governo, novamente, está em último. “Esses dados dão espaço para os negócios agirem”, comenta Rebeca.

A atuação social do setor privado, porém, não precisa estar ligada a grandes temas. Mais interessante é detectar problemas atuais que estão impactando a vida das pessoas. “As marcas devem ler jornais para entender quais questões afetam diretamente a sociedade”, continua Rebeca.

Assim, ela ressalta, a ação social não fica restrita apenas aos grandes grupos: “É preciso trabalhar coisas mais visíveis e propor ações pequenas. Não precisa ser a Coca-Cola e ter um departamento enorme: as marcas menores também podem fazer iniciativas localizadas impactantes”.

E impacto é fundamental nesse caso. O público percebe quando um projeto é só publicidade, avalia a pesquisadora. “Se as pessoas veem que o trabalho é apenas marketing e que não causa impacto nenhum na sociedade, as empresas serão malvistas e mal faladas”, diz. A percepção tende a ser mais ou menos esta, como resume o texto da Trendwatching: “Se parece um golpe de relações públicas, é provável que seja mesmo”.

Isso não significa que a empresa não possa se beneficiar de sua ação. O relatório cita um caso da montadora Volvo, que fez parceria com a agência nacional de transportes da Suécia para criar estruturas de abastecimento de veículos elétricos. O projeto inclui um sistema sem fio que alimenta baterias da frota de ônibus elétricos da cidade de Gotemburgo, no sudoeste do país. “A empresa ganha, claro, mas não era prioridade do governo criar o sistema. As pessoas veem com olhos positivos a iniciativa da fabricante”, aponta Rebeca. O estudo faz referência também a um projeto do aplicativo Waze, que fechou acordo de compartilhamento de dados de tráfego com prefeituras para ajudar a melhorar as condições de trânsito.

Falar sobre questões mais imediatas e cotidianas, no entanto, exige ousadia. A pesquisadora da Trendwatching lembra, por exemplo, que os “rolezinhos” de jovens em shoppings de alguns municípios brasileiros, no ano passado, tinham por trás uma identificação forte com marcas de roupas e calçados. Ainda assim, várias delas não tiveram coragem de falar sobre o tema, conforme reportagens registraram na época.

“É muito difícil ver marcas que se pronunciem sobre questões polêmicas: elas têm medo de afastar seus consumidores. Mas há problemas que simplesmente não podem ser ignorados e que devem, na verdade, até mesmo ser abraçados”, defende Rebeca, mencionando as crises de abastecimento de água e energia elétrica e a corrupção.

Movimento Arredondar Que Usar Centavos Para Estimular Cultura de Doação

Arredondar para cima o valor de uma compra e doar os centavos para uma organização da sociedade civil parece muito pouco, não? Agora, imagine que os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro emitem, num único dia, 5,9 milhões de faturas de compras, segundo Ari Weinfeld, presidente do Movimento Arredondar. O valor total doado, então, pode ser enorme.

Essa é a ideia da iniciativa. A organização firmou, há três meses, parceria com as primeiras lojas para uma campanha que estimula as pessoas a arredondarem o valor de suas notas fiscais, doando o excedente para a filantropia. Na boca do caixa, o consumidor será questionado se quer elevar o valor da compra e repassar os centavos.

O dinheiro, no entanto, nem é o que mais importa. “A questão da cultura de doação é muito mais importante. Nós gostaríamos de criar nas pessoas o hábito de doar”, diz Weinfeld. Nesse sentido, uma das forças da campanha, avalia o presidente, é a conversa na hora de o cliente pagar a conta – ele terá de lidar com o assunto.

Da concepção à ação, foram três anos. “O período serviu principalmente para nós termos todo o desenho tributário para fazer o arredondamento sem incidir impostos”. No processo, o Movimento Arredondar contou com a ajuda de dois escritórios de advocacia: Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados e Barbosa, Müssnich & Aragão.

A solução foi a seguinte: na hora da compra, saem duas notas, uma com o valor dos produtos, sobre a qual incidem os tributos normais, e outra com os centavos resultantes do arredondamento, que é livre até mesmo das chamadas “taxas de shopping”.

Ao longo dos três anos, também foi desenvolvida a estrutura de tecnologia de informação, o softwares das lojas, “para que a doação fosse fácil, simples, sem nenhum trabalho nem para o lojista nem para o doador”, diz Weinfeld. Trata-se, na verdade, de uma extensão que é instalada no software já usado pela loja em seus caixas.

Antes de iniciar a operação, o Movimento Arredondar fez testes durante um ano em duas lojas da rede de moda infantil Puket. “No período, 70% das pessoas que entraram na loja arredondaram”, conta Weinfeld. Agora, a campanha já está também em lojas da Grifer (uniformes), Crocs (calçados), Malwee (roupas), NK Store (roupas e acessórios) e Track & Field (artigos esportivos). “Agora com 14 lojas, mantivemos o índice de 70% das pessoas arredondando suas compras”, comemora.

Por enquanto, é o Movimento que vai atrás dos estabelecimentos participantes. No futuro, com a expansão da iniciativa, a ideia é de que a organização passe a ser procurada pelas redes de comércio.

Beneficiados

Para onde vai o dinheiro? Hoje, o Movimento Arredondar trabalha com 15 organizações da sociedade civil, escolhidas após processo de seleção que incluiu um grande questionário sobre suas práticas. “Contratamos cinco pessoas de altíssimo nível do terceiro setor para fazer a seleção e criamos o questionário, que não pode ser respondido apenas por uma pessoa, pois suas questões envolvem várias áreas das organizações”, diz Weinfeld. Os oito Objetivos do Milênio da ONU foram os parâmetros usados para definir as entidades que poderiam participar do edital. Elas deveriam se encaixar em no mínimo um dos objetivos.

Foi lançado um edital, e 335 entidades participaram. Trinta passaram pelo crivo, e depois foram divididas em dois grupos de 15 – para que haja um rodízio de organizações beneficiadas. A proposta é investir, em no máximo três anos, o equivalente a 10% do orçamento anual de cada OSC. Quando o percentual for alcançado, ela sai do grupo apoiado e outra entra no lugar. “A rotatividade não é só para não criar dependência, mas para que a gente também possa atender o maior número de ONGs possível”.

A empresa que adere pode optar por destinar os recursos a um Objetivo do Milênio específico. “Temos lojistas de roupa feminina que escolheram os objetivos três e cinco, que falam de mulher, e empresário de esporte que escolheu o sete, que fala de meio ambiente e de padrão de qualidade de vida”, exemplifica Weinfeld. A grande maioria das lojas preferiu aderir a todos os oito Objetivos do Milênio, indistintamente.

Saiba mais: www.arredondar.org.br

 

 

CPS-FGV – Pesquisa “De Volta ao País do Futuro: Projeções, Crise Europeia e a Nova Classe Média Brasileira”

A pesquisa “De Volta ao País do Futuro: Projeções, Crise Europeia e a Nova Classe Média Brasileira”, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), coordenada por Marcelo Neri, revela que a classe C deverá chegar a 60% em 2014. O estudo aborda a crise europeia, cenários de classes e suas desigualdades, até 2014, a felicidade futura da população mundial – e também os diferenciais de felicidade futura dos brasileiros e das brasileiras.

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Quinze anos de Investimento Social Privado no Brasil: Conceito e Práticas em Construção

Fernando Nogueira, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Escola de Administração e Empresas de São Paulo (EAESP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e a professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Paula Schommer escrevem, em artigo acadêmico, sobre o surgimento e a construção do conceito de investimento social (ISP) privado no Brasil. Com base em pesquisa documental e bibliográfica, o ex-gerente de Relacionamento do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas discorre sobre os tipos de ISPs presentes e discute os desafios e tendências da construção do termo e das práticas na área. Os autores vêem tendência na diversificação dos modelos e a criação de redes de aprendizagem sobre o assuntos, com o envolvimento de representantes de diversos setores.

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